sábado, 30 de dezembro de 2017

The Beatles - Abbey Road (1969)

The Beatles - Abbey Road (1969) - Muitos ainda pensam que "Let It Be" foi o último disco dos Beatles. De fato ele foi lançado depois, porém gravado antes de "Abbey Road". Esse álbum traz as últimas gravações dos Beatles, antes da separação que iria ocorrer poucos meses depois. As filmagens de "Let It Be" deixaram os Beatles exaustos e desanimados. Não foi uma boa experiência e nem resultou em boa música, como disse Lennon depois. Assim quando retornaram ao estúdio Abbey Road eles procuraram renovar sua sonoridade, voltar ao básico, dar o melhor de si. O resultado foi essa obra prima, um dos grandes discos da banda. Elogiado desde que chegou nas lojas pela crítica, o disco também foi um enorme sucesso comercial, se tornando, para surpresa dos próprios Beatles, em seu disco mais vendido! Quem diria... De qualquer forma a qualidade de "Abbey Road" não se discute. Ainda hoje impressiona por sua originalidade, criatividade e sonoridade única. Abaixo comento faixa a faixa esse grande momento da discografia dos Beatles.

1. Come Together (John Lennon / Paul McCartney) - Eu considero "Come Together" a última grande música de John Lennon nos Beatles. Ela foi lançada no disco "Abbey Road" que de certa maneira era uma colcha de retalhos composta e organizada por Paul McCartney. Havia literalmente um monte de pedaços de canções, letras inacabadas e melodias pela metade. Paul foi genial e com esse material em mãos criou uma verdadeira obra prima, principalmente no lado B do álbum que seguia uma linha bem inovadora, com várias composições de John, Paul e George que se entrelaçavam, quase como se não houvesse uma separação entre elas. Já "Come Together" fugia um pouco dessa linha. Era uma composição cem por cento John Lennon e que havia sido criada de forma independente ao conceito que Paul havia criado para "Abbey Road". A letra de John Lennon era na realidade um jogo de palavras. Isso já havia se tornado uma característica de John desde os tempos de "Revolver". Ele decidira romper com a velha fórmula de canções sobre amor, paixões de adolescente e afins. Para John isso não tinha mais nenhuma importância. Ele supostamente descreve um sujeito nada convencional, fora dos padrões, mas isso é apenas a espinha dorsal de sua composição. Lennon, inspirado por Dylan, não queria mais soar previsível ou convencional. Assim ele procurava sempre romper barreiras, tanto em termos de letra como melodia. Essa música tem um estilo estranho, com tensão em cada linha escrita. O ouvinte fica esperando pelo clímax que parece nunca chegar. Curiosamente ela seria regravada por Michael Jackson e Aerosmith alguns anos depois, mas nada supera realmente a beleza e a originalidade dessa gravação de Abbey Road. Realmente uma grande faixa que marcou a despedida de Lennon dos melhores anos de sua vida artística.

2. Something (Harrison) - Durante anos George Harrison viveu à sombra da dupla John Lennon e Paul McCartney. Em entrevistas John Lennon costumava dizer que o grupo sempre deixava um espaço nos álbuns dos Beatles para que George cantasse ou até mesmo encaixasse uma composição própria dentro do repertório. Além de ser mais jovem do que os colegas de banda, George ainda tinha que conviver com a genialidade deles na composição de dezenas de obras primas. Mesmo assim Harrison foi se aperfeiçoando com o tempo. Para muitos a canção "Something" foi a prova definitiva de seu talento como compositor, a sua melhor canção. Pena que ela veio um pouco tarde demais pois quando foi lançada no álbum "Abbey Road" de 1969 os Beatles já estavam separados. Composta por volta de 1968 George esperou alguns meses para levar a música para o estúdio. Queria trabalhar melhor nela. Uma demo crua, apenas com ele e sua guitarra, foi gravada pelo próprio George e em cima dela os demais Beatles e o produtor George Martin começaram a trabalhar nos arranjos. Logo no começo George Harrison percebeu que apenas uma guitarra seria insuficiente para criar a sonoridade que queria. Por isso tocou várias delas, de diferentes modelos, para que depois fossem unidas na edição da gravação original. O curioso é que John Lennon se ofereceu para tocar a guitarra base, mas George achou por bem ele mesmo tocar todas elas sozinho, dando sua própria marca registrada para cada detalhe da canção. Assim Lennon acabou indo para os teclados onde fez um trabalho apenas básico para o fundo instrumental da melodia. Os demais Beatles foram para seus instrumentos tradicionais, com Paul McCartney no baixo e Ringo Starr na bateria. Para a parte instrumental George Martin criou um arranjo envolvendo violinos, violoncelos e violões. Tudo foi acrescentado bem depois, na sala de edição de Abbey Road. O resultado ficou realmente ótimo, embora alguns críticos tenham reclamado do arranjo que para alguns se tornou excessivo. Ao longo dos anos "Something" (que foi lançada como single ao lado de "Come Together") se tornou um dos maiores sucessos dos Beatles sendo regravada por alguns grandes cantores, entre eles Frank Sinatra e Elvis Presley (que lançou sua versão ao vivo no álbum "Aloha From Hawaii"). Em suma, essa é provavelmente a maior obra prima da carreira de George Harrison. Uma prova de que ele não era apenas mais um nos Beatles.

3. Maxwell's Silver Hammer (John Lennon / Paul McCartney) - Essa é uma das músicas mais interessantes do álbum "Abbey Road" dos Beatles. Essa canção foi uma das mais perfeitas, do ponto de vista técnico, da discografia do grupo. Essa perfeição porém teve seu preço. Os demais membros do grupo começaram a se irritar com Paul McCartney porque a gravação parecia nunca ter fim... Paul sempre aparecia querendo lapidar ainda mais a faixa, acrescentar algum detalhe, alguma novidade em sua sonoridade. O preciosismo absurdo de Paul irritou tanto os outros que Lennon simplesmente sumiu do estúdio por duas semanas apenas para não se envolver mais na gravação dessa faixa. Para ele "Maxwell's Silver Hammer" era de uma chatice indescritível. Depois que John foi embora, George Harrison também começou a criticar a música de Paul, dizendo que ela era uma coisa velha, ultrapassada, Parecia a música que Paul estava fazendo para seu avô - por causa da sonoridade anos 1920 que McCartney queria trazer para a faixa. Tentando amenizar tudo Ringo Starr (sempre ele, o conciliador) afirmou que havia um exagero na rabugice de John e George. Ok, a música tinha um timing envelhecido, de tempos antigos, mas também era verdade que ela resultou em uma gravação absurdamente perfeita, cheia de inovações sonoras, que não eram comuns em discos de banda de rock dos anos 60. Mais uma inovação sem precedentes dos Beatles nesse aspecto.

4. Oh! Darling (John Lennon / Paul McCartney) - Depois ouvimos a bela canção romântica "Oh Darling!". Que Paul McCartney sempre foi um grande compositor de baladas, isso provavelmente todo mundo já sabe. O que poucos conhecem é que nos bastidores dos Beatles sempre havia uma disputa surda envolvendo Paul e John. Enquanto McCartney estava sempre lapidando suas criações românticas, John ficava pegando em seu pé, dizendo que ele estava sempre fazendo canções piegas. O próprio John chegou a declarar sobre isso em uma entrevista: "Eu estava sempre surgindo nos estúdios com rocks pesados, enquanto Paul surgia como o poeta romântico dos Beatles. Eu ficava perplexo com isso porque queria contrabalancear nos discos dos Beatles e como Paul só parecia surgir com músicas de amor eu tinha que me virar criando rocks! Quando os Beatles se separaram eu até mesmo fiquei em dúvida se ainda conseguiria compor alguma música romântica depois de anos de pauleira". Pois é, não foi fácil para John aguentar por anos e anos as intermináveis declarações de amor de Paul em forma de notas musicais... De qualquer forma, indiferente com as críticas de John, Paul surgiu no estúdio Abbey Road com essa nova faixa romântica "Oh Darling!" - aliás mais do que isso, uma das mais sinceras e ternas melodias de sua carreira. A inspiração de Paul veio de velhas músicas americanas dos anos 50, com todos aqueles refrãos pegajosos e ultra românticos. Para gravar seus vocais Paul também decidiu que iria chegar mais cedo no Abbey Road para chegar no tipo de vocalização que considerava a ideal. Ele acreditava que sua voz ficava particularmente mais bonita nas primeiras horas da manhã. Assim mal o estúdio era aberto às sete da manhã e lá estava Paul gravando sozinho, sem os demais Beatles que só apareciam muitas horas depois. Depois que Paul finalmente gravou seus vocais o resto da banda contribuiu com a parte instrumental. John foi para o piano tirar algumas notas evocativas daquele espírito rock romântico dos 50´s. George criou um bonito solo de guitarra e Ringo fez o feijão com arroz com sua bateria. Até Billy Preston (que havia trabalhado em "Let It Be") deu uma pequena canja tocando seu sintetizador (embora na versão oficial Paul tenha eliminado essa parte). Então é isso, uma canção despudoradamente apaixonada, como tem que ser. Afinal grandes amores sempre são melhores quando são loucamente vividos.

5. Octopus's Garden (Starkey) - A canção "Octopus's Garden" tem algumas características bem próprias. Essa música foi composta por Richard Starkey, ou melhor dizendo, Ringo. Desde os primeiros discos dos Beatles sempre uma faixa era separada para ser cantada por Ringo. Segundo John as músicas mais simples eram escolhidas por ele e Paul para o baterista soltar a voz. Em um momento pouco feliz de sua tagarelice, John chegou a debochar do baterista durante uma entrevista nos anos 70 dizendo que ele definitivamente "não era o melhor cantor do mundo!". Não deveria ter dito algo assim. De qualquer maneira era tradicional abrir esse espaço para o bom e velho Ringo. A novidade era que "Octopus's Garden" era uma criação própria de Ringo e não apenas uma música composta por Lennon e McCartney e interpretada por ele. De certa maneira causou até mesmo uma surpresa entre John e Paul o fato de Ringo surgir no estúdio com uma canção nova, feita apenas por ele! Não era algo que eles esperavam acontecer durante aquelas sessões. Desde o momento em que ele mostrou uma demo bem crua para os demais, Paul, John e o produtor George Martin decidiram que ali deveria haver muitos efeitos sonoros, tal como havia acontecido com "Yellow Submarine". Aliás para muitos críticos e especialistas da obra dos Beatles essa canção era mesmo uma espécie de sequência daquela famosa música do álbum "Revolver". Paul e John sentaram no estúdio e escreveram alguns efeitos que deveriam aparecer na gravação. Embora não tenham sido creditados na autoria da canção o fato é que a participação deles foi essencial para que "Octopus's Garden" tivesse aquela sonoridade bem conhecida, diferente de todas as outras músicas desse disco.

6. I Want You (She's so Heavy) (John Lennon / Paul McCartney) - Já  "I Want You (She's So Heavy)" era uma composição inteiramente feita por John Lennon. Na verdade eram duas músicas diferentes, sobre temas diversos que Lennon resolveu unir em uma só para ser lançada no álbum "Abbey Road". A primeira chamada "I Want You" foi composta para Yoko Ono. John dizia que em relação a ela tinha que compor versos primários mesmo, pois sua paixão pela japonesa era algo primal, praticamente visceral. Por essa razão a maioria das letras falando de seu romance com Yoko eram de uma sinceridade e singeleza que chegavam a incomodar. Essa linha seria seguida por John Lennon em praticamente todos os seus discos da carreira solo que invariavelmente também tinha um só tema: seu amor por Yoko Ono. Por outro lado "She´s So Heavy" era bem mais pesada. O "She" (Ela) da letra não se referia a uma mulher, mas sim a uma droga. Na época em que a criou John estava afundado em um pesado vício na heroína, uma droga da pesada que causava forte dependência em seus usuários. John já tinha tido problemas antes em escrever letras sobre drogas, principalmente no que dizia respeito a boicotes em rádios inglesas e americanas. Aqui as coisas foram mais amenizadas pois como a música foi unida a outra criou-se a (falsa) impressão que toda a letra dizia somente respeito a Yoko Ono. No estúdio John também resolveu inovar. Criou uma parede sonora, bem pesada, que anos depois seria associada ao Rock Progressivo. Também resolveu fazer um corte abrupto no final da faixa, o que fez alguns compradores voltarem às lojas dizendo que seus discos estavam com defeito! Não era defeito de fabricação, mas sim um jeito inovador que Lennon resolveu criar na sala de edição do produtor George Martin.

7. Here Comes the Sun (Harrison) - Durante muitos anos "Something" foi considerada a grande música de George Harrison no álbum "Abbey Road". Não havia nada de errado nisso. Realmente é um grande clássico e provavelmente o auge da fase criativa de Harrison nos Beatles. Acontece que esse disco trazia também outra obra prima do repertório de George, a linda "Here Comes The Sun". Ela abria o lado B do vinil original e era realmente um primor. O curioso é que as origens dessa música trazem um claro paradoxo por parte de Harrison. A música, como podemos notar em sua letra e melodia, tem clara inspiração no movimento hippie. A letra evocando amor, natureza e bucolismo, se encaixa perfeitamente bem nesse sentido. A questão é que o próprio George não tinha uma opinião muito favorável sobre esse mesmo movimento. Em mais de uma vez ele criticou os hippies. Em certa ocasião George foi convidado para participar de um encontro hippie na Califórnia. Ele prontamente aceitou o convite pois achou que iria encontrar pessoas comprometidas em criar um novo mundo, baseado na difundida mensagem da paz e do amor. Mas ao chegar lá George encontrou algo completamente diferente. Em suas próprias palavras: "Quando cheguei no encontro tudo o que encontrei foi um bando de jovens drogados... drogados e sujos, ralando pela lama. Ninguém ali queria discutir filosofia, paz ou amor, mas sim tomar drogas...". Apesar da decepção com os hippies, George acabou compondo e gravando essa canção que para muitos é a maior canção hippie já feita. Contraditório? Sim, mas isso fazia parte da personalidade complexa do Beatle.

8. Because (John Lennon / Paul McCartney) - "Because" é mais uma obra prima desse álbum. Para entender bem essa canção é interessante saber de onde ela veio e que movimentos musicais acabaria inspirando. O rock progressivo ficou muito associado a uma característica básica: a união entre o rock, música popular por excelência, e o clássico, com sua erudição. Isso é bem demonstrado em álbuns de grupos como Pink Floyd e Yes. O auge do progressivo aconteceu justamente na década de 1970, quando os Beatles já não existiam mais. Isso porém não significa que o grupo não tenha explorado essa linha mais erudita. Um dos maiores exemplos vem nessa faixa do Abbey Road chamada "Because". Aqui os Beatles usaram um arranjo vocal bem de acordo com sua linha tradicional acompanhados de uma orquestração que nos faz lembrar das peças escritas pelo grande Mozart. O uso de instrumentos clássicos, nada comuns de se encontrar em discos de rock, acentua ainda mais esse aspecto. Nem é complicado entender em gravações como essa a importância de George Martin na produção dos discos dos Beatles. Vou mais além, em minha opinião Lennon e McCartney deveriam ter dado a coautoria da música para Martin pois foi ele, com seus conhecimentos de maestro, que criou toda a sonoridade que aqui ouvimos. Um toque de gênio, com certeza. Ainda insistindo um pouco mais na questão do arranjo vocal penso que esse foi um dos melhores de toda a carreira do grupo. Existe uma versão apenas com as vozes de John, Paul e George, completamente isoladas da parte instrumental, que é de arrepiar. Desde que começaram a cantar, ainda nos tempos de colegiais, sempre seguindo a linha de grupos como The Everly Brothers, os Beatles procuravam a melhorar a cada ano. Pois foi justamente em Abbey Road, nessa canção "Because", que eles atingiram o seu auge de perfeição. Perfeitamente sincronizados e com uma afinação de fazer qualquer amante de boa música, bater palmas, essa faixa e sua execução vocal está certamente entre os grandes momentos do conjunto. "Because" é outro momento desse álbum que pode ser chamado, sem favor algum, de obra prima da música. Um verdadeiro primor musical.

9. You Never Give Me Your Money (John Lennon / Paul McCartney) - Música de Paul McCartney que traz em sua letra uma clara mensagem para Alain Klein que estava passando a mão nos bolsos dos Beatles quando ele se tornou o responsável pela Apple. Obviamente Lennon entendeu o recado de Paul, mas resolveu bancar a provocação. Como se sabe foi John quem trouxe Klein para a Apple, brigou para que ele se tornasse o responsável pelos negócios dos Beatles, mesmo contra a opinião de Paul, e depois acabou sendo processado pelo desonesto agente. Se tivesse ouvido seu companheiro de banda nada disso teria acontecido.... Na parte musical houve algumas pequenas inovações dentro dos estúdios: Paul tocou piano e baixo; John ficou na guitarra; George Harrison no piano, pandeiro e em duas guitarras e finalmente Ringo criou algumas variações em sua bateria. George Martin ainda arranjou espaço para acrescentar um segundo piano para melhorar a harmonia da gravação.

10. Sun King (John Lennon / Paul McCartney) - John Lennon gostava de passar suas férias na Espanha, nas praias que banhavam a costa do mar Mediterrâneo. Foi justamente numa dessas viagens que ele compôs "Sun King". Ele inclusive decidiu colocar algumas palavras em espanhol na letra original(que depois contaria com a preciosa colaboração de Paul que sabia mais algumas frases na língua espanhola). Embora seja um bom momento do disco não há como negar que se trata de mais um pedaço de música inacabada por John que acabou sendo encaixada no lado B do álbum. Como havia muitos trechos como esse, Paul teve a brilhante ideia de juntá-las todas, como se fizessem parte de um grande medley.

11. Mean Mr Mustard (John Lennon / Paul McCartney) - Essa composição era mais uma contribuição de John. Ele havia escrito poucas linhas do que viria a se tornar a canção quando estava na Índia. De certa forma era uma sobra das gravações do "White Album" que John resolveu resgatar. O curioso é que anos depois ele destruiu a música ao comentar sobre ela durante uma entrevista. Ele próprio reconheceu que a composição era "Um lixo que ele havia escrito em algum pedaço de papel quando estava na Índia". Como se pode ver John não deixava pedra sobre pedra com seu estilo mordaz de criticar não apenas os outros, como também a si próprio.

12. Polythene Pam (John Lennon / Paul McCartney) - Depois de Paul era a vez de John apresentar uma nova canção nos estúdios chamada "Polythene Pam". A palavra "nova" deve ser encarada em termos. Embora essa canção tenha sido lançada no álbum "Abbey Road", ela quase entrou no "White Album". Lennon só não a colocou naquele disco porque ele não a considerava ainda finalizada. Uma bobagem já que na verdade a composição nunca foi terminada por John. Assim quando os Beatles gravavam seu último LP John concordou com Paul McCartney em colocá-la no meio do medley do lado B - o que acabou virando uma das marcas registradas desse maravilhoso trabalho do grupo. Anos depois o próprio John iria esclarecer que "Polythene Pam" havia sido composta na Índia, quando os Beatles estavam por lá para meditar e aprender aspectos da religião hindu. Nessa época a rotina de John era fumar muito maconha, assistir as palestras de seu guru (que depois iria se revelar um picareta) e compor, com seu violão nas horas vagas. Assim a música foi criada, de forma bem despretensiosa e sem muita sofisticação. No "Abbey Road" temos uma versão bem básica, praticamente inacabada, servindo apenas como um link entre as diversas faixas. Pelo visto o próprio John cansou da música e nem sequer se preocupou muito em finalizá-la adequadamente. De qualquer maneira o bom solo de guitarra e a garra da gravação já valem a pena por si só.

13. She Came in Through the Bathroom Window (John Lennon / Paul McCartney) - Durante uma entrevista nos anos 70 John Lennon aceitou fazer uma espécie de bate-bola onde o entrevistador ia citando algumas músicas dos Beatles e ele ia respondendo sobre elas, de forma rápida e simples, dizendo o que primeiro lhe vinha a cabeça. Quando surgiu o nome de "She Came in Through the Bathroom Window" do álbum Abbey Road, John disparou: "Essa música é completamente de Paul. Não tenho a menor ideia do que se trata! Provavelmente Linda tenha entrado pela janela do banheiro, não sei, alguém entrou pela janela do banheiro...". Pois é, a origem dessa canção segue sendo um mistério Beatle. Na verdade a música em si não passava de um pequeno refrão sem importância que havia sido ensaiada durante os trabalhos de "Get Back" (que depois iria se transformar no filme e álbum "Let It Be"). Nada sem muita importância, nada muito bem trabalhado por Paul. Alguns boatos dizem que a tal pessoa que entrou pela janela do banheiro foi a filha de Linda, durante um dia em que Paul estava tão drogado que não conseguia nem abrir a porta de seu apartamento, fazendo com que a garotinha pulasse pela janela para abrir a porta por dentro. Quem sabe o que realmente teria acontecido? Acredito que nessa altura do campeonato nem mesmo Paul saiba mais explicar a origem da letra. De qualquer maneira a faixa é um bom momento do super Medley que Paul havia concebido para fazer parte do disco. Sua fusão com o rock "Polythene Pam" de John funciona muito bem. De uma coisa ninguém duvidava: Paul era realmente um mestre de estúdio, fazendo o melhor dentro de Abbey Road ao lado de George Martin. Coisa fina.

14. Golden Slumbers (John Lennon / Paul McCartney) - Paul McCartney tirou a ideia da canção de uma obra infantil, um conto de fadas. Depois escreveu o arranjo como se fosse uma velha canção de ninar. Para a letra Paul usou a obra do poeta Thomas Dekker. Mesmo com tantas fontes de inspiração Paul não se sentiu muito confortável com o resultado final. Para ele ainda estava faltando algo, pois a gravação original realmente tinha ficado bem curta. Assim ele resolveu unir esse trecho com "Carry That Weight", outra de suas composições que ele trazia para o álbum.

15. Carry that Weight (John Lennon / Paul McCartney) - John Lennon ficou um pouco irritado após ouvir a primeira demonstração dessa música por Paul dentro do estúdio porque a letra era obviamente outra indireta contra Allen Klein, o sujeito que John havia trazido para ser o novo empresário dos Beatles. Paul havia ficado muito irritado com essa escolha pois ele queria que seu sogro se tornasse o novo homem de negócios do grupo. John porém passou por cima de Paul, colocando Klein no comando. A troca de farpas entre eles dentro dos estúdios Abbey Road assim se tornou bem óbvia. John inclusive cogitou mais uma vez sabotar a criação de seu colega de banda, colocando todos os tipos de problemas para tocar na gravação. Sua má vontade tinha se tornado bem clara para todos.

16. The End (john Lennon / Paul McCartney) - É um desfecho, a última faixa a ser creditada na contracapa do álbum original de 1969. Nela Paul canta um verso que ficou bem conhecido dos fãs:  "E no fim, todo o amor que você recebe é igual ao amor que você deu". Como a baladinha "Her Majesty" não foi creditada, muitos pensaram na época que ela era na verdade "The End", mas são músicas diferentes, que até hoje confundem os ouvintes.

17. Her Majesty (john Lennon / Paul McCartney) - O que muitos pensam ser "The End" na verdade é "Her Majesty". Depois de uma longa pausa Paul surge repentinamente tocando seu violão, numa baladinha com poucos versos. Essa gravação nem mesmo iria aparecer no disco, mas de última hora Paul achou que seria divertido causar uma "surpresa" aos ouvintes. Quando todos pensavam que o álbum havia terminado eis que surgia do nada Paul e seu violão para um recadinho final.

The Beatles - Abbey Road (1969) - John Lennon (vocais, guitarra, violão e piano) / Paul McCartney (vocais, baixo, violão e piano) / George Harrison (vocais, violão e guitarra) /  Ringo Starr (vocais, bateria e percussão) / Produção: George Martin / Local de gravação: Abbey Road Studios, Londres / Data de gravação: 22 de fevereiro a 20 de agosto de 1969 / Data de Lançamento: Setembro de 1969 / Selo: Apple Records - Emi Odeon / Melhor Posição nas paradas: #1 (Estados Unidos), #1 (Reino Unido).

Pablo Aluísio.

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