Data: 26 de junho de 1977 / fonte: "Elvis Presley the final years" / Texto: Lu Gomes e Pablo Aluísio / Jumpsuit: Mexican Sundial suit / Photo: Bob Heis / Local: Market Square Arena, Indianapolis.
Indianapolis, 1977 - fim de jogo - A única coisa que tirava Elvis de sua interminável crise existencial era a necessidade de cumprir seus contratos e voltar à estrada. Dificilmente Elvis parecia ter condições de cumprir uma série de shows pelos Estados Unidos. Tão gordo ele estava que até suas famosas roupas de 10 mil dólares, adornadas com pedras preciosas do Brasil, ficavam apertadas e não lhe serviam mais. De repente o sangue lhe sobe à cabeça e um caríssimo relógio de ouro Piaget, decorado com opalinas e rubis, explode contra a parede do banheiro. Seu pobre pai abaixa-se para catar os pedaços, mas Elvis o impede, murmurando com desdém: "- Deixa pra lá, Daddy...isso é só dinheiro." Trajando um roupão com capuz, óculos escuros, pijama de náilon preto e botas de vaqueiro Vossa Majestade desce lentamente as escadas, degrau por degrau. Dois volumes de cada lado de seu tórax indicam que ele está usando seus revólveres Colt 45 com cabos de marfim, que pertenceram ao general Patton na II Guerra Mundial.
Elvis despede-se de sua querida avó e se dirige para fora de seu palácio, imediatamente Al Strada sai em disparada e abre a porta traseira da limousine escura. Nada mais do que a maior Mercedes já fabricada, feita especialmente para Elvis. Seu valete real toma o volante e segue em direção ao portão musical onde um bando de admiradores esteve de vigília a noite toda. Assim que a limusine sai para a rua, uma fila de carros se põe em seu encalço, só pelo prazer de acompanhar o rei do rock até o aeroporto, criando uma verdadeira procissão atrás do carro real. Assim que o comandante do avião recebe a mensagem, acende as luzes traseiras do jato, iluminando a cauda onde está pintado a sigla "TCB". Vossa Majestade, devidamente escoltado, sobe à bordo e cumprimenta a tripulação. Enquanto o majestoso avião cruza os céus dos Estados Unidos em direção à Indianapolis, os controladores de tráfego aéreo dos aeroportos vão saudando o Rei do Rock: -"Alô oito oitenta eco papa!... Como gostaríamos de estar aí com vocês!... Diga a Elvis que nós o amamos!"
No final de sua vida Elvis Presley fora abençoado ainda mais pela fama e acabou se transformando numa espécie de santidade. Embora o homem estivesse moribundo o mito estava incrivelmente vivo. Elvis poderia morrer pronunciando as mesmas palavras de César em seu momento final: - "Sinto que estou me transformando em um Deus". Uma pequena multidão espera Elvis no aeroporto de Indianapolis; para evitar maiores confusões Presley desce de seu palácio voador pela porta de trás e imediatamente segue em direção ao Market Square Arena, agora totalmente lotado esperando pela visita real. No camarim, com Elvis só de tanga e sentado numa cadeira estofada, Hamburguer James inicia seu trabalho. Primeiro gruda dois grandes band aids em cada um dos joelhos, protegendo-os em seguida com um par de joelheiras elásticas, para amortecer o choque quando Elvis se apoiar em apenas um dos joelhos, durante uma daquelas famosas saudações de sua majestade imperial.
Depois James coloca um band aid comum em cada um dos dedos das mãos de Elvis, para proteger sua pele e segurar melhor os anéis que ele pretende distribuir durante o show. É chegado o grande momento e Elvis veste sua roupa de show, no caso a famosa Jumpsuit Mexican Sundial, que traz a reprodução de um antigo calendário Azteca, não esquecendo de colocar uma pequena pistola em uma das botas; depois de anos sendo ameaçado de morte, Vossa Majestade sempre entra armado no palco durante essa fase de sua vida. Red West relembra: "Elvis nunca seria assassinado como John Lennon, pois ele sempre estava armado, sabia usar uma arma e confiava nelas, tinha servido o exército, ele mataria o cara antes dele tentar fazer alguma coisa, além disso ele era faixa preta oitavo grau em Karatê, sabia desarmar uma pessoa". Finalmente é colocada a capa e depois de alguns retoques no cabelo Elvis está pronto para entrar! Ele se olha no espelho por alguns minutos, conferindo se tudo está certo.
A movimentação é intensa fora dos camarins, com uma grande quantidade de seguranças, policiais e até agentes do FBI, amigos do Rei. Todos o acompanham no caminho para o palco, lançando boas vibrações sobre Elvis. Mesmo depois de todos esses anos Presley ainda se sente muito nervoso antes de um show. Ele caminha lentamente e encara a grande cortina, enquanto os acordes da orquestra anunciam sua entrada. Elvis olha para seus ajudantes, faz um pequeno sinal de ok e vai em direção a milhares de fãs que esperam ver o maior cantor de rock de todos os tempos. Era 20:30hs da noite em Indiana, uma noite mais quente do que o normal, com ginásio lotado. Elvis faz uma apresentação memorável. As pessoas presentes, sem saber, tiveram a última oportunidade de assistir ao superstar ao vivo. No final da apresentação o Rei do Rock fez uma saudação imperial e se dirigiu aos seus leais súditos se despedindo de uma maneira que nunca tinha feito antes: "Adios", foram suas últimas palavras em um palco. Nunca mais Elvis Presley pisaria em um palco novamente e nunca mais uma legião de fãs do cantor ao redor do planeta teria a oportunidade de assistir ao show do maior cantor de rock da história.
O fato de ter sido o último local a assistir ao concerto de Elvis Presley ainda é um grande orgulho para os moradores da cidade. Logo na entrada de Indianapolis o visitante se depara com uma grande placa: "Indianapolis, a cidade que disse adeus a Elvis Presley" O conceito de "nunca mais" é algo presente em muitos momentos de nossas vidas, mesmo que seja difícil aceitar essa realidade. Mas grandes pessoas e momentos sempre deixarão saudade, para sempre. E assim fica a saudade de todos mesmo sabendo a grande verdade dita pelo próprio Elvis no crepúsculo de sua vida: "Na vida não voltamos para um bis".
Fotos do mês Elvis Presley (Pablo Aluísio)
contato: pabloaluisio@yahoo.com - Abril de 2003
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