Em 1975, Elvis, o coronel e o produtor Felton Jarvis se reuniram em Graceland, onde Elvis se recuperava de mais um problema de saúde. Elvis expôs a Felton seu descontentamento com a RCA Victor e seu método de trabalho. Elvis criticou particularmente as "maratonas" impostas pelo estúdio em que eram gravadas muitas canções em um pequeno espaço de tempo. Citou ao produtor as sessões de junho de 1970 e as de maio de 1971 em que tudo foi feito e gravado em uma correria incrível. Para Elvis isso prejudicava muito os resultados artísticos das músicas. Por fim Elvis falou a Felton Jarvis que ele deveria marcar uma nova sessão de gravação, se possível em um estúdio melhor do que o de Nashville. Elvis deu como exemplo o fato de que muitas das canções que foram gravadas em 70 e 71 sequer tinham a banda presente no estúdio, muitas vezes apenas com Elvis e um pianista e que isso estava destruindo sua inspiração. Felton explicou que essa era uma atitude padrão da gravadora.
O cantor não gostou nada da posição e dos argumentos do produtor. Elvis encerrou a conversa mostrando muito desapontamento com tudo e se retirou bastante aborrecido da reunião. Em Nova Iorque o produtor levou as queixas aos executivos da RCA e recebeu a seguinte instrução: "Pelo amor de Deus, faça tudo o que Elvis Presley quiser". E assim Felton Jarvis resolveu tomar todas as providências que Elvis exigiu. De ínício escolheu os estúdios C da RCA em Hollywood, pois Elvis mantinha uma casa em Los Angeles e sua localização iria facilitar as gravações. Marcou cinco dias de gravação mas... Elvis não apareceu. Uma nova data foi marcada em fevereiro e nada de Elvis. Isso tudo ocorreu em uma situação em que a gravadora exigia um disco de estúdio de Elvis, pois já fazia mais de um ano que Presley não entrava em estúdio para gravar.
Tudo isso contribuiu ainda mais para que a tensão entre o cantor e a gravadora aumentasse a cada dia. Finalmente em março Elvis apareceu nos dias 10, 11 e 12 e gravou o disco. Apenas 10 músicas, nada mais. "Sem maratonas" como disse o próprio Elvis no estúdio (esse trecho pode ser encontrado em alguns discos piratas dos anos 80). A equipe foi a mesma da estrada e Elvis gravou todas as canções de forma impecável. Essas são as músicas de "Elvis Today" ou seria "Elvis Yesterday"?:
Destaques do disco:
T-R-O-U-B-L-E (Jerry Chesnut) - Uma das coisas mais significativas sobre a carreira de Elvis Presley nos anos 70 era a ausência de rocks em seus discos. Os críticos sempre perguntavam onde estavam os rocks nos trabalhos do "Rei do Rock" durante esta fase. A resposta é simples: Elvis evoluiu como artista, talvez não fosse mais tão importante para ele gravar apenas um tipo de música. Além disso ele sempre se queixou da falta de material de qualidade deste gênero durante os anos 70. Sua visão era simples, ele queria mudar e como ele mesmo afirmou: "Não quero ser um cantor de 40 anos cantando Hound Dog". Outro fator importante era a forma como Elvis usava a música para exorcizar seus dramas pessoais. E nada estava mais longe do estado de espírito de Presley neste período do que rocks. De qualquer forma sempre surgia uma canção como essa e "Promised Land" para deixar claro que Elvis era sim o "Rei do Rock", cujo trono aliás não tem sucessor.
And I Love You So (Don McLean) - Uma das provas mais contundentes do que afirmei antes. Estaria Elvis se dirigindo a Priscilla para realçar seu amor por ela, ao afirmar que ainda a amava tanto? Na minha opinião, sem dúvida. Muitas das músicas retratavam o homem Elvis com perfeição transparente, eis um exemplo cabal disso. A canção é linda, dispensa maiores comentários. Apenas junte-se a Elvis neste momento de mais uma declaração de amor na sua carreira. Em tempo: No "Elvis in Concert" está uma versão ótima deste canção ao vivo. Imperdível.
Pieces of my Life (Troy Seals) - Bela canção de amor. O destaque fica com o arranjo primoroso. A banda de Elvis está afinadíssima. A canção começa de forma intimista e vai crescendo até se tornar apoteótica, voltando a seu ritmo inicial. De muito bom gosto, sem dúvida. Foi lançada como single com outra verdadeira pérola da carreira de Elvis: "Bringing It Back". O vocal de Elvis está ótimo, principalmente na parte falada, algo que ele não usava desde 1960 com "Are You Lonesome Tonight?" Destaque final: o acompanhamento da orquestra e a bateria de Ronnie Tutt. Ótima.
Green Green Grass of Home (Claude Putman, Jr) - Essa foi escolhida especialmente por Elvis, sendo a que ele dispensou os maiores cuidados em termos de arranjo e gravação, pois sem dúvida era uma de suas preferidas. O tema, que louva o estilo sulista de ser, foi gravada pela primeira vez por Tom Jones. Mas vamos deixar o próprio Elvis Presley refletir, em suas palavras, o significado dessa música em sua vida: "Quando Green Green Grass Of Home foi lançada com Tom, eu e os rapazes retornávamos a Memphis no nosso grande ônibus vermelho. Ouvimos a canção pelo rádio e começamos a chorar. Sua letra significava muito para nós do sul". O resultado final não poderia ser outro, como foi gravada com um sentimento muito presente por parte de Elvis ela se tornou uma das mais belas músicas da carreira do cantor.
Pablo Aluísio.
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