domingo, 7 de março de 2010

Elvis Presley - Cinemin Nostalgia

Elvis Presley - Cinemin Nostalgia
Reprodução exata da reportagem publicada no "Star Album" de agosto de 1957 - Em 1956, eu estudava no Colégio em Andrews, em Botafogo, onde cursava a segunda Série do Curso Clássico. Certo dia, li no jornal que aparecera um novo ídolo na música popular norte-americana e que seu sucesso era tão grande quanto o de Frank Sinatra, muitos anos antes. Seu nome: Elvis Presley. A notícia deve ter me impressionado realmente, porque, dias depois, o professor de Inglês, Prof. Dante, nos fez ditado de um artigo do Time, semanário norte-americano, sobre o novo ídolo. E me lembro perfeitamente de que, na hora, o nome de Elvis Presley — citado como Elvis "the Pelvis" Presley — me soou conhecido e logo me recordei da nota que tinha lido no jornal.

O artigo do Time era meio irônico, querendo levar na troça o novo ídolo que surgia; segundo a revista, ele rebolava e miava. Seu rebolado (era mesmo assim?) influenciou todas as gerações posteriores de cantores de rock, iê-iê-iê e música pop. Foi, portanto, um rebolado que deixou rastro. Quanto a se dizer que Presley miava, não era exatamente assim: sua gravação do clássico Blue Moon provou aos das gerações mais velhas que ele poderia perfeitamente cantar canções românticas, com muito sentimento, além das baladas "cheias de gritos, ais, uis e miados"; com Blue Moon, Presley conseguiu a simpatia e a admiração dos que o xingavam. Em 1957, quando eu ainda não trabalhava aqui, a Editora Brasil-América lançou duas edições de Star Album dedicadas ao fenômeno, as de nº 4 ("Elvis Presley, o Rei do Rock'n'Roll") e nº5 ("Elvis Presley — Especial").

As duas edições fizeram enorme sucesso. Hoje, quando muitos choram a morte de seu ídolo, falecido em 16 de agosto de 1977, resolvemos homenageá-lo com esta edição especial de Cinemin. Reunimos as duas edições e selecionamos o que havia de melhor nelas. De novidade, apenas esta apresentação e a atualização, que sai, na terceira capa. Confesso que não fui um dos mais ardorosos seguidores de sua carreira. As vezes, lia reportagens sobre ele, mas muitas me escaparam.

Volta e meia, recebíamos visitas de leitores para ver nossas edições, esgotadas há muito. Como a visita de uma menina muito rica que era a maior fã de Elvis Presley e que queria, a qualquer custo, exemplares das nossas duas revistas. Como não encontrássemos um único, a garota nos informou que queria que imprimíssemos um exemplar exclusivamente para ela; diante de nossa informação de ser impossível isso, uma vez que as máquinas só podem imprimir milhares de exemplares, ela nos saiu com esta resposta: "Meu pai paga toda a tiragem, eu quero!".

De vez em quando, eu lia notícias sobre ele — uma das últimas me impressionou demais: aquele ídolo estava gordo, balofo, refugiava-se na comida, não queria sair de casa, com medo de agressões. Em resumo: aquele homem que alucinava milhões de pessoas estava alucinado, cheio de manias, fobias, fugas, tensões e temores. Mas eu não podia imaginar que a vida e a carreira de Elvis Presley estavam chegando ao fim — fim causado pela morte em plena glória (o melhor para um ídolo) e não por esquecimento dos fãs (este, sim, o fim trágico).

Roberto Carlos afirmou que sua carreira sofreu forte influência de Elvis Presley e acrescentou que a primeira música que cantou na televisão foi Tutti Frutti, um de seus principais sucessos. E finalizou: "Elvis morreu, mas sua arte é eterna". Rita Lee também fala dele: "Elvis quebrou muitos preconceitos com suas atitudes, com as loucuras que fazia no palco. (...) Quando tudo no mundo era tradicional, Elvis destacou-se como uma exceção. Confesso que tentei assimilar o que ele fazia em suas apresentações." Quando um ídolo merece palavras assim de dois outros ídolos de gerações posteriores, é porque ele merece também uma homenagem nossa.

Um pouco da vida de Elvis Presley – Seu amor pela musica se manifestou aos dois anos de idade – Como se explica o aparecimento das celebres costeletas – O primeiro grande emprego – Arremetida para o alto. Elvis Presley nasceu no dia 8 de janeiro de 1935, numa fazendola desprovida de instalações modernas, situada logo ao sair de um povoado pobre chamado Tupelo, no Mississippi. Pouco depois de Elvis nascer, um violento "tornado" devastou a região, destruindo casas e plantações ao mesmo tempo que ceifava centenas de vidas. Tupelo tinha na época de seu nascimento 12 mil habitantes, a maioria dos quais ainda lutava para se recuperar de dois golpes sofridos: a depressão econômica e o "tornado". Os pais de Elvis não eram melhores que os demais habitantes de Tupelo até que se mudaram para Memphis, Tennessee, a cem milhas de distância. Vernon Elvis Presley. o pai de Presley, era filho de um agricultor pobre e sua infância foi das mais difíceis.

Teve que trabalhar arduamente è nunca foi além da quinta série da escola primária. Casou-se aos 17 anos com Gladys Smith, que morava nas proximidades e tinha 15 anos. Ela mesma afirma: "Creio que devíamos continuar freqüentando a escola, mas em vez disso fugimos para nos casar". Vernon teve que enfrentar muitas dificuldades para sustentar a esposa menina. Por algum tempo plantou algodão como meeiro e depois se tornou carpinteiro e capataz. Finalmente, sendo diligente, pôde, com a ajuda do pai, construir uma casa modesta para ele e Gladys.

Elvis foi um dos gêmeos a que o casal Presley decidiu dar os nomes de Elvis Aron e Jesse Garon, por gostarem de rimas. Acontece, porém, que Elvis foi o único a sobreviver, pois seu irmão gêmeo faleceu ao nascer. Vernon era membro de um grupo de bombeiros voluntários da localidade. Certo dia, acompanhando o pai a um incêndio e vendo-o entrar e sair da casa sinistrada carregando móveis, desandou a chorar e só a mãe pôde acalmá-lo. Vernon nunca espancou o filho. Somente a mãe o castigava. Ela era rigorosa e terna ao mesmo tempo e parece que se deve pelo menos em parte a esse rigor e ternura o sentimento que hoje impregna as canções de Elvis. Ele não declara seu amor por uma moça. Pede, suplica. Suas canções são um queixume... "Não Sejas Cruel". "Ama-me com Ternura". Elvis Presley aprendeu da mãe a ser asseado e seu divertimento predileto, a natação, é ele próprio um ato de limpeza. Em muitas coisas Elvis ainda depende dos pais. Sempre que pode, vai visitá-los em Memphis, na casa moderna e confortável que ele mandou construir, com uma bela piscina no quintal, inclusive.

Dizem os Presleys que o amor do filho pela música se manifestou aos dois anos, logo depois de ele começar a andar. Os três iam todos os domingos a uma igreja local da Primeira Assembléia de Deus e, sempre que o coro se levantava para cantar, o pequeno Elvis não se continha. Debatia-se no colo da mãe e libertando-se por fim, corria para a plataforma dos cantores, onde ficava tentando imitá-los, balanceando o corpo numa aproximação do ritmo. Seu hino favorito era "Não terei que atravessar sozinho o Jordão".

Vernon não conheceu prosperidade durante a infância de Elvis. Com a eclosão da 2º Guerra Mundial as firmas industriais em volta de Memphis começaram a se expandir e Vernon achou que era chegada a ocasião para uma melhoria de vida. Era necessária uma separação. Vendo o pai se preparando para partir, agarrou-se a ele, chorando. Vernon arranjou logo emprego numa fabrica de material de guerra e tentou encontrar uma casa para sua família, o que não conseguiu, dadas as dificuldades de locação. Depois, habituando-se à vida da grande cidade, não quis mais voltar à pacata Tupelo.

Vencendo a relutância da esposa, Vernon se mudou em definitivo para Memphis e com Gladys e Elvis viveu algum tempo num quarto pequeno, substituído mais tarde por uma casa mais confortável, mas de aluguel elevado. Gladys teve então que trabalhar para ajudar as despesas da família. Elvis tinha 14 anos na época da mudança, mas já mostrava interesse pela carreira que ia seguir e que teve inicio, talvez, aos 11 anos de idade, quando ele venceu um concurso de canto na feira de Tupelo. Também foi antes de deixar Tupelo que conseguiu seu primeiro violão. Ele desejava uma bicicleta, mas Gladys, receosa de algum desastre, protelava sempre o cumprimento de sua promessa.

Acontece que a mesma loja que vendia bicicletas, também eram vendidos violões e um dia Elvis propôs à sua mãe adquirir-lhe o instrumento, que custava 12 dólares e 95 centavos, garantindo que passaria mais um ano sem exigir a bicicleta. Foi um alivio para os Presleys. Alivio e vantagem, pois a bicicleta custava 50 dólares e, alem disso, Elvis não corria o risco de se machucar com o violão. Foi aos 16 anos que Elvis Presley deixou crescer suas já celebérrimas costeletas. E assim ele explica: "Quando criança eu pensava que costeletas e um bigode me fariam parecer mais velho. Ora, como o bigode custou a aparecer, decidi-me pelas costeletas. Agora não as aprecio tanto como antigamente, mas, o que fazer?". A propósito, comenta um amigo: "As costeletas foram a declaração de independência de Elvis, sua rejeição ao ambiente que o cercava". Dedicado á família, Elvis logo que começou a se fazer gente não quis continuar com um fardo pesado para os pais.

Entremeava os estudos com algumas horas de trabalho em fabricas, casas de diversões e outras funções, ganhando desse modo mais alguns dólares para reforço do orçamento domestico. Mas seu primeiro grande emprego, que lhe rendeu o polpudo salário de 40 dólares por semana, foi o de motorista de caminhão da "Crown Electric Company" que conseguiu logo após concluir o curso secundário. Este, pode-se dizer, foi o inicio de sua arremetida para o alto, para a posição de relevo que hoje ocupa na constelação artística dos Estados Unidos.

Rock'n'Roll, a música que Elvis Presley engrandeceu - Os primeiros passos do cantor na estrada da fama — Disputado pelos grandes empresários — 50 mil dólares por um só espetáculo de televisão — Hollywood. "Acho que não darei para outra coisa senão cantar!" — afirmou Elvis Presley ao ver despedido de um emprego, quando ainda cursava a escola secundária. E tinha razão, pois foi nessa mesma escola que ele deu os passos decisivos de sua carreira, ao ingressar num "show" de alunos. Suas possibilidades vocais e artísticas foram logo reconhecidas.

Diziam alguns de seus colegas que ele cantava tão bem como os melhores cantores de Nashvilhe, cidade que se tornara o terceiro centro musical do pais e era invadida na época por um ritmo novo conhecido por "country music", "mountain music", "hillbilly musíc" ou "backwoods jazz". Foi no começo da guerra e mesmo os editores de Nova York, que a princípio zombavam dessa "música montanhesa", notaram que o ritmo se expandia e fazia furor, não só no Sul mas em toda a Nação. Cantores conhecidos como Johnnie Ray, Frankie Lane, Patti Paige e mesmo Jo Stafford adotaram com sucesso o "estilo de Nashville"... logo após batizado de "rock'n'roll". A maioria dos cantores do novo ritmo era constituida de madurões e, embora agradassem, o certo é que a mocidade esperava por alguém mais jovem, para transformá-lo em seu ídolo.

Elvis ainda não se apercebia disso. Tudo que sabia era que gostava de cantar a "hillbilly music" enquanto dirigia o caminhão da "Crown Eletric Company" e diante do escritório da firma. Seu público começou a aparecer e então alguém lhe sugeriu que ele "talvez pudesse ganhar a vida apenas com a voz". Depois de pensar por algum tempo, Elvis decidiu mudar de vida e deu um primeiro passo... a gravação de um disco com que homenagearia sua mãe no dia do aniversário dela e que lhe permitiria saber se a sua voz gravada soava tão bem como a dos ídolos de Nashville. Dirigindo-se a uma empresa gravadora de Memphis, a "Sun Records", ele gaguejou o que desejava... Explicaram-lhe ali que a gravação ficava um tanto cara, 3 dólares para um lado e 4 para os dois. Elvis não se impressionou com o preço e decidiu gravar as duas faces do disco; Mas, ficando nervoso, perguntou se ficaria alguém mais no estúdio enquanto ele cantasse.

"Ele parecia muito nervoso" — recorda Sam Philips, diretor da "Sun" — "como se não estivesse seguro de suas possibilidades, o que aliás acontece ainda hoje". Sempre que tem de aparecer no palco, Elvis fica nervoso, coberto de suor. Phillips gostou da voz de Elvis e disse, na ocasião, que ainda haveriam de fazer juntos uma gravação comercial. Elvis pensou que ele estivesse brincando, mas um ano depois Sam Phillips provou que falara a sério. Mandou chamar Elvis, treinou-o com o auxílio de Scotty Moore, violonista, e de Bill Black tocador de baixo, fazendo-o adotar também os movimentos ritmados de um cantor "colored" chamado Big Boy Crudup.

Feita a primeira gravação prometedora, constante dos melódicos "That's All Right (Mamma)" e "Blúe Moon of Kentucky", anteriormente levados à cera por Crudup. Mas surgiu um problema: Os discotecários negros decerto não haveriam de querer um disco feito por um branco e os brancos tampouco o aceitariam. Phillips resolveu o caso fazendo com que o disco fosse tocado em duas emissoras diferentes, na mesma noite. O sucesso foi estrondoso. Os telefones das duas estações não cessavam de tocar e o diretor de um dos programas, Dewey Phillips, ligou para a residência de Elvis: "Estou quase enlouquecendo! Não posso responder a tantos telefonemas! Quero por o Elvis no ar!".

Presley tinha ido a um cinema e os pais correram a procurá-lo. Depois de esquadrinhar a platéia, localizaram-no por fim, e ele, pálido e nervoso, quase teve que ser arrastado para a estação de rádio. "Foi este o começo" — diz hoje Samuel Phillips — "Nunca vi coisa igual. Dois dias depois já tínhamos seis mil encomendas para aquele disco, coisa que nunca vimos antes e com que nem mesmo sonhávamos." Philips fez Elvis assinar imediatamente ..um contrato de exclusividade para gravações e pouco depois ele era também contratado por Bob Neal, para aparecer em público. Sua fama cresceu rapidamente. Cartas de fãs solicitando fotos chegavam à razão de 64 a 75 por dia!

Também aumentavam os protestos de alguns pais impressionados com os seus excessos. EIvis Presley procurava se explicar: "Querem saber por que não deixo de me mexer quando canto. Os que assistem aos meus números também batem com os pés, estalam os dedos, balançam-se para diante e para trás. É alguma coisa que está fora de nós, que não sabemos o que é!" O prestígio de Elvis Presley aumentou quando Bob Neal vendeu seus direitos de exclusividade ao Coronel Tom Parker, empresário da velha guarda, que ainda segue a tradição dos grandes dias de Barnum e dos Irmãos Ringling. As críticas feitas ao estilo de Elvis não impressionaram o Coronel, que adquiriu sem discutir e por um preço não revelado os direitos de Neal.

Nada diz melhor da decisão feliz do Coronel Parker do que este comentário de George Durgom, um dos "bigs" do programa de TV de Jackie Gleason, por ocasião da estréia de Elvis na televisão: "Este foi um dos melhores negócios de sua vida, Coronel. O garoto promete ser um grande astro!" Gleason teve o privilégio do ser o lançador de Elvis Presley na televisão, lembra que foi Jack Philbin, um de seus auxiliares, quem lhe trouxe uma foto de um dos discos por ele gravados para a "Sun". "Jackie"- disse Philbin – "aqui tem um garoto que está causando furor no Sul. Seus discos são vendidos assombrosamente. Pensei que, talvez..." Gleasom estudava a foto, uma pose característica de Elvis cantando o "rock'n'roll", quando Phiibin voltou à carga: "Não se importe em apresentar o disco... Apresente o garoto da foto!"

Philbim empreendeu as negociações com a "William Morris Agency", que representava Elvis e o Corenel Parker, ficando ajustado um primeiro contrato de 1.250 dólares por espetáculo. Contrato modesto se considerarmos que bem pouco tempo depois o mesmo Presley era convidado a aparecer no "Show" de Ed Sullivan, ganhando 50 mil dólares por alguns instantes de programa. Presley seguiu o caminho natural de todos os grandes nomes do "Show business"de Tio Sam... o caminho que leva a Hollywood. Seu primeiro filme, "Ama-me com Ternura", da 20th Century Fox, foi um sucesso. Outros virão, sem duvida, logo que ele cumpra o serviço militar. É inevitável.

Até quando Manterá Elvis Presley sua popularidade? – É indiscutível que o menino pobre de Tupelo nasceu sob o signo de boa fortuna. Tem muito talento, é verdade, mas grande parte de seu êxito ele o deve ao destino amigo que lhe propiciou o domínio de um ritmo novo e avassalante, que conquistou os Estados Unidos e o mundo. Mas, até quando durará esse domínio? Elvis encara o futuro com otimismo. É novo, cheio de vida, tem boa voz e, sobretudo, vontade de manter os louros conquistados. Outros venceram e dominaram por muitos anos... Al Jolson, Bing Crosby, Sinatra... Por que não desfrutará ele de um reinado idêntico duradouro? Acham alguns que essa popularidade é fugaz. Que a febre do "rock'n'roll" cessará em breve e com ela, naturalmente, sua expressão mais legitima: Elvis Presley. Há a possibilidade de o vaticínio não se confirmar. Outras musicas populares, a valsa, o fox, o tango, o samba, a rumba, o baião e tantas mais nasceram, criaram força e se firmaram. Por que não pode acontecer o mesmo com o "hillbilly music" do Tennessee? O tempo dará a resposta que todos desejam saber. Enquanto isso, Elvis pode continuar cantando e amealhando dólares, feliz e despreocupado.

Elvis é assim – Um espírito pensativo e apaixonado – Embora Elvis Presley provoque efeitos tão explosivos sobre as multidões, ele próprio detesta permanecer no meio do povaréu. Quando não está no palco, prefere ficar sozinho. Quer esteja numa estação à espera do trem, quer na solidão de um quarto vazio, ele pressente a multidão e procura maior isolamento. E quando consegue isolar-se emprega a maior parte do tempo pensando, meditando. Entretanto, vendo-se em companhia de outras pessoas, é alegre e sorridente.

Sempre Atencioso - Ousado e por vezes quase brutal no palco, Elvis é, na realidade, um rapaz meigo e polido, muito calmo, obsequioso com os que o entrevistam e atencioso com os que com ele trabalham. Qualquer personalidade em ascensão nos meios artísticos pode ser ensinada a pontilhar suas conversas de "sim, senhor", "não, senhor", "tenha a bondade", "faça o obséquio", etc, mas somente um camarada sincero pode fazer as regras de cortesia parecerem tão genuínas como Elvis o faz. Apesar de sua intimidade com os conselheiros comerciais, agentes e diretores de empresas de gravação de discos, ele invariavelmente se dirige a cada um deles tratando-os de "Senhor" e toma ainda a Iiberdade de os chamar pelos primeiros nomes.

Sempre Sensível - Elvis sempre se preocupou em saber o que mais apreciam nele. Quando gravou o primeiro disco para a "Sun", a canção "That's All Right Mama", correu a se esconder na noite em que tocaram o disco pela primeira vez. Ele estava nervoso e deveras embaraçado, por pensar que todos os garotos, seus conhecidos, iriam rir dele. Para fugir da vista dos amiguinhos e para evitar, ele próprio, de ouvir a gravação, se meteu num cinema, até que os pais foram retirá-lo de lá, para a primeira arrancada para a glória. Ernbora a partir de então. tenha adquirido mais confiança em si mesmo, Elvis ainda pondera bem o que diz e faz, mesmo quando em presença dos amigos. Com outras pessoas fica quase sempre na defensiva e se esforça muito por agradar, não importa com quem converse.

Constantemente Sentimental - Para um rapaz que tem causado sérias preocupações aos pais de mocinhas, Elvis é um filho cônscio de seus deveres e pensa sempre com ternura nos pais que estão em Memphis. Nada diz melhor do que afirmamos, do que a esta frase, que ele costuma repetir com orgulho: "A primeira coisa que fiz quando o dinheiro começou a entrar foi comprar uma casa nova para meus pais" e acrescenta: "Meu pai era motorista de caminhão".

Elvis, um personagem Discutido - Mas o que dizem de bom ou de mal a seu respeito não afeta sua verdadeira personalidade. São poucas as pessoas que já ouviram Presley e ficaram neutras com relação á sua arte. Ou o admiram em excesso ou o olham com desdém. Alguns dos seus críticos mais ferrenhos chegaram, mesmo, a acusá-lo de não possuir qualquer talento musical. Um desses críticos, John Crosby, de Nova York, assim se referiu a Elvis: "É um barulhento... que não canta, berra! E parece atacado de uma espécie de doença de São Vito... um candidato a um hospital de espasmódicos." Tem havido uma constante barragem de denuncias, boatos e comentários desfavoráveis da imprensa desde que Elvis Presley começou sua fantástica ascensão. É natural que um cantor jovem como ele fique perturbado com publicidade tão adversa e tenha, muitas vezes, expressado seu ponto de vista a respeito. Ele diz que, por mais que procure agir as direitas, sempre aparece alguma reação contrária. Se olha inocentemente para uma garota, os repórteres dizem logo que há um romance serio. Se, com sinceridade, responde com um "não" a qualquer pergunta em que os repórteres desejariam um "sim", proclamam logo aos quatro ventos que não gosta de cooperar com a imprensa. Elvis fica chocado, o que é compreensível, pois, como ele bem o diz, o que deseja é ser amigo de todos.

Morre o Rei do Rock'n'Roll - A noticia causou impacto e surpresa, praticamente o mesmo impacto e a mesma surpresa que marcaram o surgimento no cenário artístico americano e mundial de quem seria inicialmente cognominado de "The Hill Billy Cat" (O Caipira) e que em uma década se transformaria no "Rei do Rock'n'Roll". Morreu para o mundo como nasceu para a fama — repentinamente. Marcou uma época, deixando atrás de si um rastro que ainda hoje se faz presente na novíssima geração de intérpretes da música popular do mundo inteiro. Seu timbre de voz reconhecidamente incomum, seus meneios de corpo tão contundentemente criticados e condenados na primeira fase de sua carreira, os trajes espalhafatosos com que se apresentava, até mesmo o seu penteado tão em desacordo com o que se usava na época, fizeram escola. E muito mais: abriram novos rumos, permitindo aos cantores que a ele se seguiram se libertarem dos velhos padrões de interpretação e empregarem novas formas de expressão e comunicação, usando para tanto até mesmo o próprio corpo numa linguagem mais livre e direta, material de consumo mais imediato, enfim. De modesto motorista de caminhão no princípio da década de 50, com uma renda semanal de 35 dólares, atingiu os quarenta anos com rendimentos que ascendiam à casa dos 5 milhões de dólares. Predestinação? Fenômeno? Sinal dos tempos? Como saber? A realidade aí está: vinte anos após seu espetacular surgimento, a morte prematura, e, em reação, uma verdadeira corrida às estantes e prateleiras das lojas de discos.

Ao que se diz, não sobrou um único disco seu para contar a história! A fama de Elvis Presley sempre suscitou os comentários mais controvertidos. Aquela bossa muito sua de se apresentar e que levava os auditórios às raias da histeria, em meio a gritinhos e desmaios sensacionais, era por muitos considerada quase que obscena. Mas, por trás de tudo, aliado ao real valor do jovem cantor, erguia-se uma máquina promocional muito bem montada, inteligentemente apoiada em dados certos, exatos. O sucesso era garantido porque nele tudo era previsto e mios de mestre moviam os cordéis — principalmente as de Tom Parker, ex-vendedor de cachorro-quente e primeiro empresário e ultimamente mentor de Elvis Presley, que farejou a mina de ouro que tinha pela frente, e foi o responsável quase exclusivo de sua sempre crescente renda mensal. Até a convocação de Elvis para o serviço militar foi aproveitada de forma prática e objetiva. Tanto assim que, em 1958, chegada a hora, todos os compromissos artísticos foram cancelados e, metido no seu uniforme militar, lá se foi o famoso cantor atender ao chamamento da Pátria. Vida militar exemplar.

Resultado: à sua volta, as últimas resistências à sua carreira haviam caído. E ele conquistava o público que antes não o aceitava e que agora nele via apenas um americano 100 %, feito só de virtudes e qualidades. Mas se por essa nada realizou no setor artístico, as gravações anteriormente lhe garantiram direitos de mais 1,3 milhões de dólares. E após a dispensa, um dos seus primeiros espetáculos, de seis minutos apenas como convidado de Frank Sinatra, lhe valeu 125 mil dólares! E sem tardar mais, retomou as suas atividades normais. Em 1960, aconselhado por Tom Parker, ingressou no cinema. Em vez de discos, trilhas sonoras! De 1961 a 1968 protagonizou 21 filmes, numa média de 3 filmes por ano. Em fins da década de 60 já era o ator mais bem pago da história do cinema: 1 milhão de dólares por filme, além de 50 % dos lucros e os direitos sobre os discos gravados a partir das trilhas sonoras. Filme em que apareceu era recorde de bilheteria na certa. Um deles, "G.I. Blues", foi apresentado simultaneamente em 500 cinemas, e só nos Estados Unidos e Canadá rendeu 4 milhões e 300 mil dólares, verdadeiro recorde na época. Foi nessa ocasião que recebeu a indicação para cinco prêmios da National Academy of Recording Arts and Science. Seus discos nunca vendiam menos de 1 milhão de cópias.

Em dez anos os lucros do cantor e do empresário atingiam a soma de 135 milhões de dólares. Mas já em fins da década de 60 o cantor engordara muito e sentia certo decréscimo de popularidade, e, apesar dos crescentes lucros com suas gravações, resolveu se retirar para a mansão de Memphis, Graceland, a essa altura já casado com Priscilla Ann-Beaulieu desde 1967, após sete anos de vida em comum, e com quem já tinha uma filha, Lisa Marie. Mas em 1972 retornava à vida artística. E veio o grande sucesso, aquele que derrubou de vez o resto das barreiras de seus opositores mais tradicionalistas: a sua gravação de "O Sole Mio" ("It's Now or Never!"). Em 1973 Elvis e Priscilla resolveram se separar, e ele torna a se dedicar aos seus discos, ao cinema, à televisão e aos seus espetaculares shows, ficando famoso aquele ao qual compareceram mais de 100 mil pessoas de todas as idades no Madison Square Garden de Nova Iorque.

As preocupações com a saúde e a aparência pessoal, porém, fizeram-no recorrer várias vezes ao Hospital Batista de Memphis. Boa parte do último mês de abril ele passou internado, seguindo-se, logo após, bem sucedida tournée pelos Estados Unidos. Sempre às voltas com regimes de emagrecer, temendo agressões e viagens aéreas e, segundo muitos de seus amigos, comendo demais, ele se recolheu, a partir da sua volta, à sua mansão, passando a viver exclusivamente do fabuloso faturamento de seus discos.

Finalmente, no dia 16 de agosto deste ano, com apenas 42 anos de idade, seu amigo Joe Esposito encontrou-o caído inconsciente no chão de sua residência. Levou-o ao Hospital Batista, mas, apesar de todos os esforços, Elvis Presley veio a falecer. A repercussão de sua morte prematura provou que o ostracismo que o cantor costumou se impor de dez anos para cá, receoso de qualquer abalo no seu prestígio junto aos fãs do mundo todo devido ao seu corpo não tão esbelto como antes, de sua aparência de quarentão preocupadíssimo com os quilos a mais e os cabelos brancos que teimavam em aparecer, realmente não se justificou. Elvis Presley foi de verdade um marco na música popular internacional — esta a realidade que sua simples morte física jamais afetará.

Agradecimentos a Sérgio Capuzzo.

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