segunda-feira, 8 de março de 2010

Elvis Presley - Elvis e o Karatê

Ao seu modo, Elvis Aaron Presley dedicou-se ao KARATE como apenas o fez à sua carreira. Durante muito tempo, aventei que, não fora o mito e todas as benesses e doações concedidas às associações e instituições afins, talvez não tivesse chegado aonde chegou; logrado tamanho êxito. Ou lhe tivessem retirado o DAN maior com o tempo, em função dos rumos tomados por seu próprio viver. Jamais saberemos ao certo.

A prática das ARTES MARCIAIS exige disciplina, alimentação adequada, respiração trabalhada, isenção dos impulsos egóicos do ser, treinamento diário, dedicação máxima, aprimoramento continuado de sentimentos e valores existenciais, abstinências; abandono de hábitos, vícios e químicas. Isso, em nível de mestre e monge; o patamar que lhe imputaram, supremo e professoral.

Elvis esteve muito longe de tudo isso. Mas aplicou-se. Se formos avaliar empenho, ao invés de resultados, como preconizava a cultura grega - e oriental - na Antiguidade, é merecedor de todas as glórias e homenagens.

Não podemos ser anacrônicos, olhar para ontem com os olhos de hoje. O KARATE exportado em sua época era lacônico em filosofia, estilo SHOTO-KAN, pouco enfático em ética e transcendência; muito histriônico e espetacular; e voltado para o embate, show e catarse. Mormente o KARATE presente no sul dos Estados Unidos, em meados dos anos 60, estava longe de ser um princípio e filosofia de vida como hoje se preconiza; aliás, muito por influência do ZEN BUDISMO.

Ao meu ver, Elvis, se falhou em quase todos os aspectos também como karateca, aprendeu, de maneira irrefutável, o imprescindível: que a prática deve ser centrada em busca de aprimoramento pessoal e utilizada, exclusivamente, para defesa pessoal; devendo ser disseminada, propagada e cultuada por esta vertente. Sob esse aspecto, essencial, Elvis foi um campeão.

Consideremos alguns dados biográficos. O primeiro contato de Elvis com ARTES MARCIAIS se deu em Fort Hood, no Texas, quando em escala para Alemanha, onde serviria o exército, ainda em 1958. Assistiu torneios de JUDÔ e JIU-JITSU e ficou impressionado. Iniciaria seu treinamento ainda em 1958, na Alemanha, com o Professor JUERGEN SEYDAL, expert em exatamente em SHOTO-KAN. Em Paris, 1959, em sua breve passagem pelo território francês, treinou com instrutores vietnamitas.

Orientado por HANK SLEMANSKY, um artista em SHITO-RYU - uma modalidade já mais "espiritualizada" do que o SHOTO-KAN -, dedicou- se à prática na Alemanha como jamais voltaria a fazê-lo; forma de sublimar, através da arte (marcial), a dor de dois lutos: o do falecimento, então recente, de sua mãe; e o do afastamento circunstancial de sua carreira e de sua condição de ASTRO-REI.

Ao retornar aos EUA, conquistou sua FAIXA PRETA com DAN INOSANTO, em 1960. Apesar do esmero e excelência apresentados, houve controvérsias por parte dos que julgaram aproximadamente 20 meses de treinamentos como insuficientes para tamanha concessão e honraria.

Na capa de seu LP HIS HAND IN MINE, gospel, lançado em 1961 e, posteriormente, agraciado com o GRAMMY; Elvis, ao piano, porta um broche; insígnia da qualificação alçada. HANK SLEMANSKY morreria no Vietnam e Elvis, pessoalmente, passaria a treinador de toda sua equipe, orientado por ED PARKER – que o introduziria ao KENPO, uma terceira modalidade, ainda mais refinada.

Ed Parker viria a escrever um livro medíocre nos anos 70; ufanista e, desnecessariamente, bajulador. O leitor, se fã ingênuo, toma Elvis por um super-herói. Se sensato, questionará seus méritos, realmente amplificados. Fazer justiça é uma coisa. Bajular é outra; desmerecer, ainda que às avessas.

Em 1970, Elvis interessou-se por TAEKWONDO e passou a treinar com KANG RHEE. Com Priscilla Beaulieu Presley, conheceu Mike Stone, por intermédio de Ed Parker, em um torneio no Havaí. Cilla ficaria interessadíssima pelo KARATE a partir de então e iniciaria lições particulares com o campeão; por sugestão do próprio Elvis.

O fim de seu casamento em 1972 - e as vicissitudes decorrentes do desenlace - o faria abandonar quase que totalmente os treinamentos em 1973. Porém, a antológica e surreal invasão de seu palco, em Vegas, pelos espectadores sul-americanos alcoolizados, o levaria a motivar-se novamente. Elvis e Red West demonstraram o que aprenderam em anos de treinamento, anulando os agressores déspotas, sem, entretanto, massacrá-los. Demonstração de ética e autocontrole; ainda que a imprensa, o público e, posteriormente, a literatura, discorram sobre a fúria quase indomável de Elvis.

Pouco depois, na qualidade de contratado exclusivo do HILTON HOTEL, Elvis quase se viu em problemas judiciais, ao comparecer a um campeonato de KARATE nos arredores de Los Angeles; onde seu nome fora, inadvertidamente, colocado em destaque; próximo de uma nova estréia, em Lãs Vegas. Problemas contratuais.

Elvis passaria a vida quebrando telhas, ladrilhos e toras. E estourando os dedos e as articulações, tratadas às escondidas – e, mais tarde, com muita Acupuntura. Constata-se que sua tendência à autoflagelação, posteriormente acentuada e consentida, já se manifestava então; ainda que sob o disfarce de treinamento obstinado - onde, aliás, qualquer dor era dissimulada. Quando a platéia de fãs privilegiados e de amigos menos íntimos partia, urrava! – conta-se.

Dentre as circunstâncias mais preocupantes aos empresários, diretores e produtores, por exemplo, filmou G. I. BLUES sob o efeito de fortes analgésicos e antiinflamatórios e com as mãos, totalmente edemaciadas, maquiadas. Em FLAMING STAR, rompeu um tendão do braço de Red West, seu principal companheiro de treinamento.

O KARATE lhe marcaria a vida e a carreira e sua estética estaria também em filmes como WILD IN THE COUNTRY, BLUE HAWAII, FOLLOW THAT DREAM, KID GALAHAD, ROUSTABOUT, HARUM SCARUM, DOUBLE TROUBLE e outros. KATAS estilizados estiveram presentes em seu especial de televisão de 1968 e seriam freqüentes em espetáculos ao vivo, a partir de 1969.

Durante os anos 60, Elvis conquistou o segundo, terceiro e quarto DAN (gradação), como Mestre. Em 1971 viria o quinto; em 1973, o sexto e sétimo e, em 1974, o oitavo DAN, dado por Ed Parker, como homenagem e estímulo. Ed, apontado como oportunista por alguns autores, não tinha qualquer parentesco com Tom Andrew Parker. Ou melhor, Andreas Cornelis van Kuijk.

Em 1974, Elvis viu fracassar sua idéia de realizar um semidocumentário independente intitulado TIGER. Seu personagem, Billy Eastern, seria um agente do FBI; ironicamente, adversário do submundo do narcotráfico internacional.

Os últimos anos de Elvis foram muito difíceis; particularmente, os dezoito meses que precederam sua morte, em 16 de agosto de 1977. Ainda assim, daria continuidade aos estudos teóricos sobre os meandros do TAEKWONDO, até 1976.

Segundo BILL WALLACE, expoente mundial dos mais expressivos nas ARTES MARCIAIS, "Elvis foi um dos primeiros mestres não asiáticos em seu país e um dos mais versáteis até hoje, abraçando o KARATE em suas múltiplas vertentes; não raramente, bastante distintas. Portanto, um notável e eclético embaixador nos EUA, onde a prática começaria a ser popularizada apenas em meados dos anos 70".

Quando ELVIS: THAT'S THE WAY IT IS (ELVIS É ASSIM) estreou no Rio de Janeiro, no final de 1971, escreveu o crítico José Carlos Monteiro, em O GLOBO: "É bom e surpreendente rever Elvis em tão boa forma. Quem não gostar do ídolo, entretanto, se deliciará com o show de Karate e contorcionismo apresentado!".

Artigo escrito por Nilson Calasans, fã desde 1966, fundador do GRUPO-INFORMATIVO THE PELVIS (1973- 1979) e membro da GANG´ ELVIS (1973 – 2003).


Um comentário:

  1. Elvis Presley - Elvis e o Karatê
    Publicado originalmente no site EPHP
    Pablo Aluísio.

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