segunda-feira, 10 de março de 2008

Livros sobre a Rainha Maria Antonieta

Aqui vai uma dica de leitura para quem gosta de história, um livro que li recentemente e de que gostei bastante. Trata-se da biografia da Rainha Maria Antonieta escrita por Zweig Stefan. Não é um livro novo e nem recente. Na verdade a primeira edição foi lançada em 1932. O tempo porém só lhe fez bem. O estilo de escrita de Zweig Stefan é um primor, uma verdadeira aula de como se deve escrever uma biografia de forma interessante, prazerosa, que capture a atenção da primeira à última página. Aqui o autor leva seu leitor para dentro da vida da Rainha, é como se estivéssemos nos aposentos reais do Palácio de Versalhes. Não se trata de um tratado de história, com inúmeras referências a cada página, o que tornaria a leitura pesada e muitas vezes chata. Nada disso. É escrito em estilo de romance, com a diferença de que não se trata de mera ficção, mas de algo que realmente aconteceu.

A protagonista é essa arquiduquesa austríaca, da dinastia dos Habsburgs, que é dada em casamento ao Delfim da França, um garoto que iria no futuro se tornar o Rei Luís XVI. Filha da imperatriz Maria Teresa da Áustria, Maria Antonieta sabia bem que ela e suas irmãs estavam destinadas a terem um casamento arranjado, pois era tradição na casa de Habsburg esse tipo de situação. As arquiduquesas eram criadas para se tornarem esposas de monarcas e nobres por toda a Europa, consolidando assim uma política de alianças por todo o continente. Aliás a primeira imperatriz do Brasil, Maria Leopoldina, que era inclusive sobrinha neta de Maria Antonieta, teve o mesmo destino, vindo a se casar com Dom Pedro I. 

Na França Maria Antonieta se deu conta que sua vida não seria muito fácil. Seu casamento demorou a se consumar, por causa da hesitação do príncipe. Com a morte de Luís XV, ela e seu marido subiram ao trono muito jovens, sem experiência para lidar com as transformações que estavam acontecendo dentro da França. A obsessão da Rainha pelo luxo e extravagância, com vestidos e penteados absurdos também não ajudou em nada. Enquanto o povo francês sofria na fome e na miséria, a corte de Versalhes desfilava riqueza, em situações que de certa maneira afrontava o próprio povo que sustentava a monarquia.

O resultado dessa situação todos sabemos. A Revolução Francesa eclodiu e o absolutismo monárquico europeu sofreu o primeiro grande golpe de sua história. Não é um livro de final feliz, ainda mais porque Zweig Stefan cria uma simpatia do leitor com a Rainha, mesmo com todos os erros que ela cometeu. O livro também demonstra que uma campanha de calúnia e difamação se espalhou pelo reino, divulgando mentiras e boatos maldosos sobre o comportamento da Rainha, que não era tão má pessoa como faziam parecer os revolucionários. No final de tudo é um livro tão bom que dá vontade de reler assim que chegamos ao final. E para quem gosta de curiosidades aqui vai uma informação final mais que interessante: o escritor Zweig Stefan, que assim como Maria Antonieta, era austríaco de nascimento, passou seus últimos anos de vida no Brasil. Ele tinha origem judaica e por essa razão precisou ir embora da Europa quando o nazismo começou a tomar de assalto os países europeus. Acabou morrendo em Petrópolis, aos 60 anos de idade.
  
Nesses últimos dias terminei de ler o livro "Rainha da moda: Como Maria Antonieta se vestiu para a Revolução". A autora Caroline Weber se propôs a escrever uma biografia diferente da rainha da França. Ao invés de focar apenas nos eventos históricos propriamente ditos, ela procurou mostrar como a moda de Maria Antonieta, seus vestidos, seus penteados e roupas magníficas influenciaram nos eventos políticos que deram origem à revolução francesa. É uma boa ideia, certamente interessará aos estudiosos de moda e costumes, tudo na mais perfeita ordem.

A questão porém é que em termos de história o livro também se desnuda muito superficial. Claro que o vestuário em termos de Maria Antonieta ganha ares de profunda importância em sua história, porém a rainha também não se resumiu a apenas isso. Alguns momentos marcantes da vida da monarca por essa razão passam quase em brancas nuvens.

Isso fica bem claro nos momentos finais antes de Maria Antonieta ser levada à guilhotina ou então em seu julgamento. Tudo é visto pela autora de maneira muito superficial e raso. Eu apenas bato palmas para a coragem de Caroline Weber em se lançar na elaboração de um livro sob esse enfoque. A revolução francesa foi tão brutal que nenhum vestido de Maria Antonieta sobreviveu aos séculos. Tudo foi roubado ou destruído pelos revolucionários. O que sobrou do luxo de sua vida está nas pinturas, nos retratos que mostram os vestidos mais marcantes da rainha ou seus penteados ao estilo poof, também reproduzidos em pequenas aquarelas ou gravuras que eram vendidas em Paris.

O pano original, o tecido real, tudo foi perdido. De Maria Antonieta sobraram apenas algumas espartilhas, pequenos sapatinhos, etc. Assim fazer um filme sobre a moda da época sem ter o objeto de estudo em mãos já é pelo menos um ato de coragem da escritora. No final de tudo o que poderia recomendar em termos de literatura é mesmo o maravilhoso livro escrito por Zweig Stefan. Essa sim é uma obra espetacular. Já esse "Rainha da Moda" serviria apenas como um complemento de luxo ao livro principal. Faça essa dobradinha literária que será bem agradável.

Pablo Aluísio.

domingo, 9 de março de 2008

Ludwig van Beethoven - Verdades e Mentiras

Com que idade  Beethoven começou a ficar surdo?
Os biógrafos não conseguiram chegar a uma idade certa pois o compositor escondia seus problemas de saúde. O que se pode dizer com certeza é que ele começou a apresentar os primeiros sintomas de surdez antes dos 30 anos de idade, uma vez que existe uma carta escrita por ele a um amigo em que relata seu problema. Ele tinha 27 anos quando escreveu essa carta.

Beethoven continuou a compor depois de surdo?
Uma das maiores provas de sua genialidade vem do fato de que o maestro continuou a criar suas sinfonias mesmo após ficar surdo. Ele tinha tal domínio em escrever partituras que o som havia se tornado um mero detalhe, dispensável. Quando começou a ficar surdo o mestre ainda tentou colocar os ouvidos na tampa de madeira do piano para sentir as vibrações, mas depois dispensou essa ajuda. O fato impressionante é que ele nunca chegou a ouvir algumas de suas maiores criações musicais!

Beethoven foi um musico pobre?
Como todo gênio musical de seu tempo, Beethoven também passou por dificuldades financeiras. Em várias de suas cartas que sobreviveram ao tempo ele confessa seus problemas com dinheiro, chegando ao ponto de pedir alguma ajuda a amigos para pagar seu aluguel. Além disso ele cuidava de dois irmãos que viviam desempregados. Vindos de uma família pobre e desestruturada, não havia nenhum tipo de suporte financeiro para ele que tinha que literalmente ganhar a vida dando aulas de piano em seu pequeno quartinho em Viena. Foi uma vida dura nesse aspecto. E assim como Mozart ele também morreu pobre, sendo enterrado em um túmulo simples.

Beethoven admirava Napoleão Bonaparte?
Um aspecto curioso sobre Beethoven é que ele tinha uma admiração pelo imperador francês, mas tinha que esconder isso de todos. Acontece que seus principais financiadores eram membros da realeza europeia, do antigo regime, absolutistas em sua maioria. Napoleão era considerado a escória por esses reis, princesas e rainhas. Para ele era melhor ficar de boca fechada sobre suas inclinações políticas.

Como era a personalidade de Beethoven? 
Ele era uma pessoa conhecida por seu mau humor. Seu local de trabalho era sempre desorganizado, com partituras musicais por todos os lados. Também vivia resmungando e criticando as pessoas ao redor. Suas explosões de raiva e fúria também eram bem conhecidas de amigos, familiares, etc. Curiosamente não era um homem vaidoso como muitos outros compositores de sua época. Geralmente se vestia mal e nunca penteava seus cabelos que estavam sempre longos demais para as cortes cheias de nobres de sangue azul que frequentava. Era por isso muitas vezes considerado um gênio excêntrico.

Como Ludwig van Beethoven via Mozart? 
Ele chegou a conhecer Mozart pessoalmente, quando ainda era jovem. Com os anos passou a ser comparado com Mozart, comparação essa que o irritava profundamente. Mozart era um gênio absoluto em sua opinião e muitas vezes se via dizendo que apenas Mozart poderia tocar determinada  peça musical ao piano. Como de certa forma se sentia inferiorizado a Mozart demorou muito mais do que o esperado para compor sua primeira sinfonia, pois tinha receios de ser comparado ao grande músico austríaco. No final de sua vida chegou a dizer: "Nenhum músico será tão grandioso como Mozart"

Pablo Aluísio.

Augusto

Quando Jesus Cristo nasceu o imperador que reinava em Roma era Augusto, o divino! Claro que na realidade ele não era divino coisa nenhuma, porém Augusto foi considerado um administrador tão capaz do Império que acabou sendo aclamado como uma divindade, com direito a um lugar no panteão romano dos deuses, algo que era aceito naturalmente dentro da religião politeísta do povo romano. O próprio título que lhe foi atribuído, Augusto, significava justamente isso, o de um ser humano que ao morrer se tornou um Deus glorioso!

O mais interessante é que Augusto foi de certa maneira um imperador improvável. Ele era um patrício de família nobre, mas nada em sua infância e juventude poderia antecipar que um dia ele se tornaria um imperador romano com tanto poder! Na realidade quando nasceu Caio Otávio (seu nome real) nem sequer existiam imperadores em Roma, já que seu nascimento se deu na fase da República romana. Sua única ligação com o poder era o fato de ser o sobrinho do grande general, orador e político Júlio César. Amado pelos seus soldados e pela plebe (a grande massa empobrecida do império), Júlio César acabou centralizando praticamente todo o poder de uma Roma em seu auge. Quando se deu conta ele praticamente havia se tornado um verdadeiro rei - algo que dava arrepios no senado romano. Assim para conter sua sede de poder ele acabou sendo morto brutalmente por senadores que o esfaquearam em pleno senado nos idos de março.

A morte de Júlio César mudou a vida de Otávio para sempre. Poucos sabiam, mas ele acabou sendo nomeado o herdeiro de César em seu testamento, o que significava que ele herdaria todos os seus bens e também seu legado político. Depois de um período realmente conturbado - onde um triunvirato subiu ao poder, sendo Otávio um de seus vértices - ele finalmente se acomodou no trono em Roma, se tornando não um rei, mas sim um imperador, um novo título que iria dominar a política romana nos séculos seguintes.

Sob um ponto de vista histórico Augusto foi um bom imperador. Ele reorganizou o Estado romano, criou instrumentos para equilibrar as finanças, organizar o exército e preservar as vastas fronteiras de um Império que dominava praticamente todo o mundo ocidental conhecido. Ao cessar as invasões a povos vizinhos de Roma ele conseguiu implantar um momento histórico de paz e prosperidade em Roma. A "pax romana" significava justamente isso: havia pela primeira vez em séculos um período de paz absoluta dentro das fronteiras romanas. Uma de suas maiores satisfações foi justamente fechar as portas do templo de Marte (o Deus da guerra) em Roma, um gesto que significava que todo o império se encontrava em paz, sem guerras e nem matanças de povos inimigos.

Augusto viveu muito para um homem da antiguidade, mais de 75 anos de idade. Ele era magro, tinha hábitos moderados, comia pouco, trabalhava muito e procurava administrar toda a máquina estatal romana com honestidade, responsabilidade e justiça, premiando os melhores homens do império por suas qualidades pessoais e competência. Embora Jesus tenha sido provavelmente o maior homem que já andou na face da Terra, o imperador Augusto morreu sem saber de sua existência. Afinal de contas Jesus nasceu numa distante província romana. Além disso quando Augusto morreu o jovem Jesus era apenas um garoto de 14 anos, ainda entrando na sua puberdade.

Aliás para muitos historiadores o único grande fracasso da vida do imperador Augusto foi justamente no campo religioso. Como imperador ele foi alçado ao cargo máximo da religião romana. E ele levou muito à sério essa função, promovendo uma série de leis de moralidade a serem seguidas pelo povo de Roma. Infelizmente suas leis foram desrespeitadas por sua própria filha, Júlia, que promoveu uma orgia em um templo sagrado na cidade eterna. Horrorizado e escandalizado por sua atitude ele a baniu para sempre para uma ilha distante e isolada. Augusto não admitia ser desmoralizado como chefe da religião pagã de Roma. Depois de sua morte todos os seus esforços foram reconhecidos pelo povo de Roma, a ponto de um mês do ano ser renomeado em sua homenagem: o mês de agosto, o mês de Augusto, o Divino.

Curiosidades sobre Augusto
Embora tenha sido considerado um bom imperador, Augusto precisou banhar suas mãos em sangue, muito sangue, como era comum na Roma Antiga. Quando sufocou uma rebelião na Sicília, se viu diante de um exército de escravos. Os que tinham donos foram entregues de volta. Para aqueles que não se sabia a quem pertenciam, ele mandou matar todos. Foram crucificados de uma só vez mais de 6 mil homens de acordo com alguns dados históricos.

Augusto também mandou matar muitos senadores e figuras importantes da história da república romana, entre eles o grande orador e político Cícero. Para que a república morresse e o império surgisse no horizonte em Roma, muitas pessoas importantes da cidade foram assassinadas. Isso de certa maneira mancha a biografia desse imperador, muitas vezes retratado como um homem sensato. Na hora que foi necessário mandar para a morte seus inimigos, Augustus não pensou duas vezes.

Augusto também era considerado um homem de estatura baixa e de composição física frágil. Um dos problemas em sua biografia era a falta de conquistas militares para estampar no fórum de Roma. Ele nunca chegou nem perto de ter um histórico militar de batalhas como seu tio-avô Júlio César. Com isso foi necessário que algumas vitórias de seu general Agripa fossem creditadas como vitórias de Otávio Augusto. Ele poderia ser considerado um líder inteligente e astuto, mas nunca foi um soldado romano de legião.

Historiadores concordam que Augusto só teve dois amigos verdadeiros em vida, o general Agripa, seu amigo desde a infância e o rico mercador Mecenas. Ambos faziam parte da vida privada de Augusto, eram amigos próximos realmente, pessoas com quem ele falava abertamente e sobre todos os assuntos do império. Augusto não gostava e nem confiava em seu enteado Tibério, que iria se tornar o imperador romano com sua morte. Augusto considerava Tibério muito limitado intelectualmente, algo que iria se revelar verdadeiro nos anos seguintes à morte de primeiro imperador.

Pablo Aluísio.

sábado, 8 de março de 2008

Dom Pedro I: A Guerra em Portugal

Após a independência do Brasil Dom Pedro I foi perdendo cada vez mais popularidade entre o povo brasileiro. Ele dissolveu a constituinte e outorgou sua própria constituição em 1824. Embora tivesse diversos artigos de índole liberal a nova carta magna da nação que nascia também concentrava grande poder nas mãos do imperador através do chamado poder moderador, acima de todos os demais poderes executivo, legislativo e judiciário.

A morte de um jornalista no Rio, um ferrenho crítico do governo de D. Pedro I piorou muito a situação. Assim ele decidiu abdicar ao trono em nome de seu filho D. Pedro II e partiu para Portugal onde uma grave crise na monarquia se instalava. Seu irmão D. Miguel, de índole absolutista havia assumido o trono português. Perseguidor e adepto do absolutismo monárquico mais atrasado, ele havia levado a nação portuguesa ao caos.

D. Pedro I tinha uma visão mais liberal do mundo. Ele inclusive era admirador do imperador Napoleão Bonaparte que naquele período histórico representava justamente a vitória dos ideais de libertação da Revolução Francesa. Pedro não tinha os meios e nem as forças necessárias para vencer o irmão numa guerra civil, mas mesmo assim foi adiante. Ele vendeu grande parte de sua fortuna pessoal e criou um exército para invadir Portugal com a finalidade de tirar seu irmão do trono. Como tinha propostas mais liberais que D. Miguel acabou ganhando apoio de grande parte da população portuguesa.

A primeira cidade conquistada por D. Pedro I foi o Porto. A população local o recebeu de braços abertos. Tão emocionado ele ficou com esse apoio nesse momento tão difícil de sua vida que mandou que após sua morte seu coração fosse levado para a catedral da cidade. D. Miguel tentou vencer D. Pedro ainda no Porto, mas não foi feliz. Depois disso sofreu uma série de derrotas que o levou a fugir de Portugal. Dom Pedro então assumiu por um breve período o torno português como Dom Pedro IV, para logo em seguida abdicar em nome de sua filha, Maria I, que seria a futura rainha de Portugal. A vitória porém lhe custou muito. Dom Pedro contraiu tuberculose no campo de batalha e morreu precocemente no mesmo quarto que havia nascido, décadas antes. Era o fim de uma vida realmente extraordinária.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Dom Pedro I

Durante sua vida Dom Pedro I teve uma conduta sexual e moral muito condenável. Enquanto era um jovem solteiro, herdeiro do trono, vivendo no Rio de Janeiro, ele colecionou amantes. Habitualmente frequentava tavernas onde prostitutas se ofereciam a quem pagava mais. Seu mais próximo amigo, o tal "Chalaça", não passava de um alcoviteiro, um sujeito cuja principal função era arranjar mulheres ao jovem príncipe.

Quando se casou a situação que deveria ter melhorado, piorou e muito. Casado com a bela, refinada e educada Imperatriz Leopoldina, Pedro I deveria mostrar uma postura de bom pai de família, honrado e respeitoso com sua esposa. Só que isso nunca aconteceu. Ele continuou pulando a cerca, tendo inúmeras amantes, chegando ao ponto de engravidar uma freira - e ter casos com escravas, mulheres que por sua condição jamais poderiam dizer não a ele!

Pior de tudo foi transformar sua amante número 1, a Marquesa de Santos, em uma mulher pública, rica e poderosa dentro da corte. Quando isso acontece a própria monarquia se torna desmoralizada, pois em um Estado como o Brasil imperial, onde a Igreja era fundida com o Estado, que moral poderia ser exigida dos cidadãos se o próprio imperador era um sujeito galinha, que desmoralizava seu casamento e sua própria esposa, a imperatriz?

D. Pedro teve filhos com a amante e os trouxe para a corte. Chegou a fazer viagens oficiais ao lado dela, para humilhação da imperatriz. Depois de tantas humilhações Leopoldina sucumbiu, provavelmente teve uma depressão que se manifestou também em sua saúde, a levando à morte de forma prematura. D. Pedro reconheceu tudo isso em seu funeral. Ele ficou muito abalado com tudo e assumiu sua culpa. Só que já era tarde, ela estava morta. Claro, não morreu de um espancamento promovido pelo imperador como foi dito em boatos na época, mas certamente ajudou na morte dela, mesmo que indiretamente. Não existe conduta imoral que não traga sérias consequências.

Pablo Aluísio.

A Queda do Império Otomano

A Queda do Império Otomano - Com a migração de milhares de refugiados de países em guerra civil como a Síria rumo à Europa a questão envolvendo a velha rivalidade entre o mundo cristão e o mundo muçulmano se reaviva novamente. As diferenças culturais e religiosas são tamanhas que todos ficam em dúvida se uma convivência pacífica é realmente possível. Recentemente uma notícia escabrosa envolvendo assédio e estupro de mulheres alemãs por refugiados islâmicos reacendeu essa pira, essa questão espinhosa. Para muitos seguidores do Islã é completamente inadmissível uma mulher se vestir como as ocidentais, serem independentes e donas de seu próprio nariz. Por isso é muito provável que cada vez mais casos como esses aconteçam em um futuro próximo.

Pois bem, o mais perto que os islâmicos chegaram de conquistar toda a Europa cristã aconteceu há exatos cinco séculos com o crescimento e o avanço do Império Otomano. Coube a essa extraordinária máquina de guerra a primazia de colocar, como nunca antes da história, os países europeus ocidentais contra a parede. Liderados por líderes que se diziam herdeiros diretos do profeta Maomé, lutando com a força de uma fé de conquista não apenas territorial, mas também religiosa (o que aumentava em muito a disposição dos otomanos no campo de batalha) é crível dizer que por um triz do ponto de vista histórico os países europeus não foram dominados.

Na verdade o maior inimigo histórico do Império Otomano foi o próprio Império Otomano. Historicamente esse poder imperial ruiu por dentro, esfacelou-se em suas próprias bases. A grande coluna que sustentava todo o sistema do Império, o exército e as instituições era a religião islâmica. Desde os primórdios o profeta Maomé deixou claro em seus escritos que era necessário expandir a fé do Islã, tornar membros da religião os infiéis e para isso tudo era válido, até mesmo a força da violência. Por isso, impulsionados pelos ensinamentos do profeta, os homens que lutaram na fileiras do exército Otomano não mediam esforços para concretizar essas conquistas.

Em sua máxima extensão o Império Otomano foi tão grandioso como o Império Romano. Ele ia das portas de Bagdá até a distante Argélia, passando por Egito e por diversos povos que faziam parte do antigo Império Romano do Oriente. A conquista de Constantinopla (cujo nome foi mudado para Istambul - Islã em abundância) significou o auge do sucesso Otomano. Muitos historiadores ainda debatem qual foi a principal razão da queda dessa força imperial. A religião islâmica parece trazer muitas respostas. Após a morte do profeta houve uma divisão entre Xiitas e Sunitas. Essa divisão dentro do próprio Islã fez com que a unidade do próprio império fosse quebrada. Exércitos islâmicos começaram a se aliar a exércitos europeus cristãos contra os próprios muçulmanos e o efeito de tudo isso não foi muito complicado de prever.

Em pouco tempo o Império Otomano estava destruído e seu vasto território fatiado entre as potências da Europa que as transformaram em colônias como o Egito, grande parte do norte da África e até mesmo Turquia. No Oriente Médio os países ocidentais criaram nações como Iraque, Irã, Síria, Jordânia e vários outros que dão contorno aos países árabes atuais. O antigo sonho de glória Otomana virou pesadelo e sua destruição até hoje se faz sentir, principalmente quando vemos as inúmeras guerras civis e conflitos que até hoje existem nas terras desse outrora glorioso império islâmico.

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 6 de março de 2008

Os últimos momentos de Maria Antonieta

Os últimos momentos de Maria Antonieta - Abandonada em uma cela escura, nas mãos de fanáticos da revolução francesa, os últimos momentos da rainha Maria Antonieta foram bem tristes. Os anos de glória, luxo e riqueza de Versalhes e principalmente do Petit Trianon, onde ela realmente foi feliz, havia ficado definitivamente no passado. Os revolucionários executaram o rei Luís XVI em um processo onde nada foi respeitado. Logo os revolucionários que se diziam adeptos dos mais altos valores democráticos não deram nenhuma chance ao rei. Ele foi condenado sumariamente, guilhotinado sem possibilidade de se defender de verdade. Com a execução de seu marido, Maria Antonieta sabia que estava condenada. Ele tentou de todas as formas pedir socorro para seus parentes na Áustria, pois ela era uma arquiduquesa da Casa de Habsburgo, mas ela foi tristemente ignorada. Sua mãe, a imperatriz da Áustria Maria Tereza havia morrido e seus sucessores não pareciam muito dispostos a entrarem em uma sangrenta guerra contra os revolucionários franceses. Assim Maria Antonieta foi abandonada por todos, pelos membros da decaída monarquia, por seus familiares austríacos e até mesmo por suas damas de companhia.

Curiosamente a dignidade da rainha em seus últimos dias conquistou a simpatia de seus próprios carcereiros. Eles decidiram que iriam ajudá-la em uma fuga desesperada. A rainha iria se vestir com o uniforme da guarda, iria para o pátio com seus filhos e depois sairia junto com os soldados de sua prisão. Infelizmente as coisas não deram certo pois uma carta anônima chegou até um fanático revolucionário que descobriu o plano, colocando tudo a perder. Assim a rainha ficou presa definitivamente ao seu destino. Ela tinha especial preocupação com seus dois filhos, Luís Carlos, o herdeiro do trono e Maria Teresa, a filha mais velha. Essa última seria a única a sobreviver às loucuras violentas dos revolucionários franceses. O pequeno Luís Carlos morreria no cárcere, em uma morte misteriosa que até hoje jamais foi solucionada inteiramente. Ele tinha apenas dez anos de idade e os revolucionários o jogaram em uma cela imunda, subumana, para que morresse de tuberculose ou outra doença qualquer. No final os tais revolucionários que vivam pregando o refrão de "solidariedade, fraternidade e solidariedade" não passavam de assassinos frios, que matavam até mesmo crianças apenas pelo fato delas serem herdeiras de uma monarquia que não mais existia.

A revolução francesa que tinha tantos ideais não soube respeitar os direitos mais básicos da rainha Maria Antonieta. Ela foi aprisionada junto com os filhos em uma cela sombria. Quais tinham sido os crimes de seus filhos? Onde estavam os princípios tão elevados da revolução francesa? Por que eles foram encarcerados? Que crimes cometeram? Nem a própria rainha havia sido acusada de nada. Ela simplesmente foi presa por ser a esposa do rei Luís XVI. Os processos que seriam movidos depois contra a rainha foram baseados em puro ódio, sem a presença de provas. Um absurdo. Nos últimos dias as atrocidades continuaram. Maria Antonieta sempre era acordada tarde da noite para a entrada de guardas dando ordens e assustando ela e as crianças. Pior aconteceu depois quando armaram um teatro bufo em um tribunal francês para acusá-la sem provas. Ela foi acordada durante a madrugada e levada para longe de seus filhos. Pode haver algo mais absurdo do que isso? Seu filho, o Delfim, herdeiro do trono, foi colocado em outra cela (sem qualquer acusação criminal). Maria Antonieta ficou desolada. Tudo o que ela conseguia ver era a sombra de seu pequeno filho brincando no pátio pela pequena janela de sua cela. Era um menino de apenas 10 anos de idade, preso em uma prisão medieval, sem direito a defesa e nem liberdade.

Onde estavam os direitos do homem, tão propagados pela revolução francesa naquele quadro desolador? O pior é que Maria Antonieta também foi abandonada por seus familiares austríacos. A casa de Habsburgo a abandonou embora ela ainda fosse uma arquiduquesa austríaca legítima, filha da imperatriz Maria Teresa, que infelizmente já tinha falecido naquela ocasião. Provavelmente se estivesse viva, Maria Teresa faria de tudo para salvar sua filha Maria Antonieta e seus dois filhos. Infelizmente os que estavam no poder durante seu martírio pouco deram atenção ao seu sofrimento. Uma rainha francesa decaída não tinha mais importância para Viena. No fim Maria Antonieta não parecia mais ter forças. Ela simplesmente havia aceitado seu destino trágico. Ela sabia que seria morta pela revolução, tal como havia acontecido com o Rei Luís XVI. O único que lutava bravamente em favor da rainha era o conde Hans Axel von Fersen. Dito por muitos historiadores como o verdadeiro amor da vida de Maria Antonieta, ela passou dias e mais dias tentando convencer os membros da corte de Viena para que salvassem a rainha. O mais absurdo de tudo é que os revolucionários pareciam dispostos a negociar pela vida de Antonieta, mas os membros da casa Habsburgo pareciam ter lavado as mãos.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 5 de março de 2008

A Dinastia Ming

A Dinastia Ming - A China foi uma das primeiras civilizações da humanidade a possuir uma centralização política. A figura do Imperador que inclusive deu nome à nação, proporcionou um avanço e um desenvolvimento sem precedentes na história. Enquanto a Europa era dividida por centenas de reinos, feudos e pequenos principados, a China já ostentava seu poder imperial sobre as nações vizinhas. Era uma civilização rica, culta e forte militarmente. Os imperadores deram os sentidos de nacionalidade e patriotismo que fizeram esse povo alcançar avanços tecnológicos, científicos e culturais absolutamente fantásticos para sua época histórica. Mesmo largando na frente em tantos setores vitais, o autor Paul Kennedy em seu livro "Ascensão e Queda das Grandes Potências" conseguiu, com raro brilhantismo, demonstrar todas as razões pelas quais a China e o Oriente não se tornaram o centro do mundo nos séculos seguintes (posição que coube aos europeus ocidentais).

Embora a figura dos imperadores tenha sido extremamente importante para a China em seus primórdios, após alguns séculos esses começaram a se afastar das funções administrativas do império. Eles começaram a se considerar puramente divinos, alguns até mesmo imortais. Vivendo em um mundo luxuoso de palácios monumentais, as novas gerações de imperadores chineses se afastaram completamente do mundo real. Eles se tornaram alienados e isolados do resto da sociedade chinesa. Muitos deles inclusive jamais conheceriam seu próprio povo, ficando trancados em cidades proibidas aos meros mortais. Figuras praticamente decorativas sem nenhuma função clara. A administração de um império tão vasto coube então à burocracia confucionista, formada por membros de setores cultos da sociedade. Usando os ensinamentos do mestre Confúcio como base esses burocratas tomaram as rédeas do poder na China Imperial - e isso apesar de ser considerado algo bom acabou levando à própria China à ruína.

Os burocratas exerciam o poder, porém dois outros grupos da sociedade chinesa pareciam mais importantes para a economia do império. O primeiro era formado pelos comerciantes, pela burguesia. Essa fazia intensa comercialização de produtos chineses para o exterior e de lá trazia vários artigos importados. Isso criava riqueza e prosperidade. Os burgueses construíram enormes embarcações para navegarem pelos mares com o propósito de levar o comércio chinês aos quatro cantos do mundo. Visitaram o Oriente próximo, Índia, África e Europa. Criaram uma extensa rede de comércio ao redor do mundo. Os burocratas do Estado porém começaram a criar dificuldades para a classe que mais produzia riqueza na China. Confiscaram seus bens e os acusaram de usura e ostentação. Em pouco tempo o amplo comércio que a China desenvolveu foi reprimido e destruído. Os confucionistas acreditavam que o segredo da felicidade era o isolacionismo e resolveram virar as costas para o mundo, destruindo assim enorme potencial para a economia chinesa que deixou de ser poderosa, rica e próspera para se tornar agrária e de subsistência.

Outro erro dos burocratas seguidores de Confúcio (que viveu cinco séculos antes de Cristo) foi atacar as bases do exército chinês. Os principais militares foram perseguidos e despojados de seus poderes. Os membros da elite burocrata do Estado entendiam que a Guerra era danosa e indigna de homens cultos e sábios. Isso enfraqueceu a máquina de guerra do império ao ponto de deixá-los sem qualquer proteção. Quando os mongóis invadiram a China praticamente não encontraram resistência nas cidades, destruindo tudo por onde passavam. Isso aniquilou também os fundamentos da economia chinesa que deixou um passado glorioso para trás, sendo alvo de inúmeras invasões de povos fronteiriços, inclusive de piratas japoneses. A fome, a miséria e a devastação de cidades inteiras foi o legado de uma administração baseada nos ensinamentos de Confúcio. A lição da China Ming nos mostra que é necessário acima de tudo haver pragmatismo na condução dos negócios de Estado - caso contrário tudo pode ruir em nome de uma ideologia ou até mesmo de uma filosofia radical, por mais bem intencionada que ela possa ser.

Pablo Aluísio.