quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Vera Cruz

O western clássico "Vera Cruz" de 1954 foi um divisor de águas. Seu roteiro rompeu inúmeros dogmas dos tradicionais filmes de faroeste dos Estados Unidos. Além disso soube desconstruir com muito talento as imagens de dois ícones do cinema, Gary Cooper e Burt Lancaster. Cooper era um símbolo da virtude do pioneiro do velho oeste. Ele construiu sua imagem cinematográfica interpretando homens íntegros e de imensas virtudes, como o inesquecível xerife de "Matar ou Morrer", o homem da lei que era abandonado à própria sorte pela cidade que havia jurado defender.

Aqui Cooper dá uma guinada nessa imagem. Ele não é mais o herói, mas sim um mercenário, daquele tipo de lutará por quem lhe pagar mais, não importando a causa ou a ideologia que aceitaria defender. Nada mais longe de seus personagens de um passado recente. Mais desconcertante ainda para os fãs na época era encarar um Burt Lancaster bandido, sujo e malfeitor. Isso mesmo, ele interpretou nesse filme um ladrão de cavalos (um dos piores tipos do velho oeste), mentiroso, manipulador e sem muito caráter. Só por isso "Vera Cruz" já entraria na galeria dos grandes filmes americanos dos anos 1950.

O diretor Robert Aldrich também procurou optar pela ação e pela violência. A estrutura narrativa mostra um grupo de homens viajando com um carregamento de ouro cobiçado. Enquanto vão atravessando o deserto acabam cercados por todos os tipos de infames e facínoras. O destino final é justamente o porto de Vera Cruz, mas quem conseguirá chegar vivo no fim da viagem? Traições, emboscadas e tiroteios passam a ser rotina nessa travessia de vida e morte. Na época em que o filme foi lançado alguns críticos reclamaram do excesso de cenas de ação, mas penso que isso não foi um defeito do filme, muito pelo contrário, essa é sua principal característica.

Vera Cruz (Vera Cruz, EUA, 1954) Direção: Robert Aldrich / Roteiro: Roland Kibbee, James R. Webb / Elenco: Gary Cooper, Burt Lancaster, Denise Darcel / Sinopse: Durante a revolução mexicana de 1866 um grupo de pistoleiros e aventureiros americanos são contratados pelo Imperador Maximiliano para escoltar uma condessa mexicana e um carregamento de ouro até o porto de Vera Cruz.

Pablo Aluísio.

Cine Western

 Tom Mix

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Vera Cruz - Curiosidades

1. Clark Gable alertou Gary Cooper para não trabalhar com Burt Lancaster. Ele disse que Lancaster era muito jovem e que iria ofuscá-lo em cena. "Aquele jovem vai fazer você sumir da tela" - teria dito. Curiosamente anos depois Gable ignorou seu próprio conselho e atuou ao lado de Lancaster no clássico filme de guerra O Mar é Nosso Túmulo (1958).

2. Gary Cooper não gostou muito do roteiro. Mostrou diversas contradições e erros históricos no texto. Numa das reuniões com o diretor e o roteirista disse: "Não faz sentido um ex-coronel confederado lutar ao lado de um mexicano contra um americano!". Para Cooper isso não tinha a menor lógica histórica.

3. O filme foi rodado todo no México. Durante as filmagens aconteceu algo inesperado. Charles Bronson e Ernest Borgnine foram presos pela polícia federal mexicana. Eles tinham ido até uma pequena mercearia nas redondezas para comprar cigarros. Acontece que ainda estavam vestidos com os figurinos do filme. Confundidos com bandidos só foram soltos após a interferência do estúdio de cinema que estava produzindo o filme.

4. Gary Cooper ficou gravemente ferido quando foi atingido por fragmentos de uma ponte que havia sido explodida, porque a equipe de efeitos especiais havia usado explosivos demais.

5. Embora representado por George Macready, de 54 anos, o verdadeiro imperador Maximiliano I, do México, tinha apenas trinta e quatro anos quando morreu.

6. Burt Lancaster lembrou muitos anos depois que seu colega de profissão, Gary Cooper, ficou muito incomodado durante as filmagens por causa do aspecto de vião de seu personagem. Para Cooper interpretar um ex-coronel confederado não poderia significar que ele fosse um vilão, mas sim um bom homem que acabou escolhendo o lado errado em sua carreira.

7. O filme "Vera Cruz" é geralmente chamado de o "primeiro western espaguete americano", devido à influência que absorveu de faroestes produzidos na Itália, em especial os dirigidos pelo mestre Sergio Leone, o mais popular cineasta nesse estilo.

Pablo Aluísio.

El Dorado - Curiosidades

1. Robert Mitchum começou a atuar no filme dando ao seu personagem um aspecto frágil e muito debilitado por causa da bebida. Isso porém não agradou ao diretor Howard Hawks que decidiu mudar um pouco as coisas. Assim Mitchum acabou dando mais força de vontade ao seu personagem bêbado. 

2. O papel de John Wayne exigiu no roteiro que ele surgisse de cabelos grisalhos, mas o ator recusou o uso de uma peruca cinza. Após alguns testes de figurino e câmera ele achou aquilo muito ruim e jogou fora a tal peruca. Acabou fazendo seu personagem com seus cabelos normais. 

3. John Wayne usa um rifle Winchester no filme que lhe pertencia na vida real. Ele criou uma maneira de usar o rifle com apenas uma mão, o girando pela alavanca. O rifle usado tinha uma alavanca de "D-loop" ampliada para facilitar o truque. John Wayne usou este tipo de Winchester modificada em vários outros filmes, se tornando uma de suas marcas registradas. A primeira vez que ele trouxe esse rifle para o cinema foi no clássico Stagecoach (1939).

4. John Wayne iria atuar em outro western chamado Nevada Smith, mas depois desistiu, optando por "El Dorado". Sem seu astro principal a Paramount resolveu então escalar Steve McQueen para interpretar o cowboy Nevada Smith. Os dois filmes acabaram sendo lançados no mesmo mês, criando uma concorrência entre eles. Sobre o filme de McQueen, Wayne diria: "É um bom western, muito bom mesmo!"

5. John Wayne e Robert Mitchum tinham trabalhado juntos pela primeira vez dez anos antes. Quando Wayne acertou com a Paramount para atuar ele sugeriu a Howard Hawks que contratasse Mitchum, que vinha enfrentando problemas com a imprensa por causa dos escândalos pessoais envolvendo mulheres, drogas, bebidas e brigas com produtores influentes de Hollywood. Uma semana depois Hawks ligou para Wayne para dizer que concordava com a sugestão, que iria contratar o bad boy Robert Mitchum.

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Steve McQueen - Nevada Smith

Esse texto contém spoiler. Assim se você ainda não assistiu ao filme "Nevada Smith" aconselho a parar a leitura por aqui. Pois bem, ainda sobre esse faroeste que assisti recentemente gostaria de colocar mais alguns aspectos em evidência. O filme conta em seu elenco com o grande ator Karl Malden. Não se engane, ele foi um dos maiores atores de sua geração. Amigo pessoal de Marlon Brando fez com ele grande parceria em filmes clássicos inesquecíveis.

Em "Nevada Smith" ele interpreta um dos três assassinos dos pais do personagem de Steve McQueen. Logo se torna alvo de sua vingança. O curioso é que Malden desaparece por quase todo o filme. Uma vez cometido o assassinato ele some, só ressurgindo nas últimas cenas, quando ele se torna o último a ser procurado por McQueen.

Malden imprime um tom de psicopatia ao seu personagem. Ele sabe que está sendo caçado pelo filho das pessoas que matou, mas ao mesmo tempo não sabe que é seu novo contratado, um pistoleiro que ele simpatizou numa de suas cavalgadas. Na cena final enfim Nevada Smith se revela a ele, que caído no meio de um riacho não consegue mais reagir. Em tom de desprezo então Nevada lhe diz que não vai lhe matar, pois nem isso ele merece. Esse final foi bem diferente, muito ousado para a época, totalmente fora dos padrões do western americano da época. Provavelmente se fosse em um filme de Clint Eastwood ou John Wayne ele certamente não escaparia de levar um tiro.

Pode-se até dizer que Karl Malden foi mal aproveitado no filme, por causa de seu talento e tudo mais, porém como um vilão jurado de morte ele até que se saiu muito bem. Claro que um papel como esse não exigia o nível de trabalho que qualquer outro drama que ele tenha estrelado ao longo de tantos anos em sua carreira, tanto no cinema como no teatro, porém é inegável que ele trouxe a sordidez necessária ao seu personagem em cena. Ele tinha que interpretar o facínora e nisso se saiu muito bem.

Pablo Aluísio. 

Jeff Chandler - Pillars Of The Sky

Na época em que esse filme foi lançado (estamos falando de 1956) não se discutia muito sobre a ética envolvida em se evangelizar índios ou não. Tudo era visto de forma natural. Os nativos eram selvagens e precisavam ser evangelizados na cultura judaico-cristã para salvar suas almas. Ponto final. Assim o roteiro desse filme encarava seus personagens sob um viés bem positivo. Hoje em dia, como sabemos, haveria muitos protestos por causa de seu roteiro.

Bom, os dois personagens principais são o sargento da cavalaria Emmett Bell (Jeff Chandler) e Calla Gaxton (Dorothy Malone), a pioneira que tenta ao seu modo cristianizar aqueles povos nativos do velho oeste. Abro um parêntese aqui em relação à atriz Dorothy Malone. Ela foi uma das mais bonitas, elegantes e charmosas atrizes do western americano. Uma beldade realmente. Atuou em diversos clássicos e era sempre requisitada pelos estúdios para atuar em filmes de faroeste. Pena que geralmente suas personagens não eram grande coisa - na maioria das vezes ela fazia a indefesa branca bonita de olhos azuis que precisava ser salva pelo mocinho.

Jeff Chandler, o astro galã de cabelos grisalhos, provavelmente não se tornaria um astro nos dias de hoje. Ele era, digamos, másculo demais para os padrões atuais. Muito bronzeado (penso que tinha sangue indígena), Chandler foi um dos campeões de bilheteria dos anos 50. O curioso é que hoje em dia pouco se ouve falar nele, até mesmo entre os que gostam de filmes clássicos. Para terminar o pedigree do filme "Pilastras do Céu" é sempre bom lembrar que ele foi dirigido por George Marshall. Esse diretor tinha nome de general da União da guerra civil e era realmente um expert em filmes de faroeste. Sua filmografia é impressionante, contando com quase 200 filmes em seis décadas de profissão. Um dos grandes nomes do filão mais americano de todos os gêneros cinematográficos.

Pablo Aluísio.