segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Zelota - A Vida e a Época de Jesus de Nazaré

Nesse fim de semana terminei a leitura do livro "Zelota - A Vida e a Época de Jesus de Nazaré" do autor iraniano Reza Aslan. Apesar de sua origem, de formação muçulmana, o escritor foi logo cedo morar nos Estados Unidos onde se tornou cristão. Na verdade, como ele próprio confessa no livro, jamais sua família foi muito religiosa, apesar de terem nascido no Irã, um dos berços do radicalismo fundamentalista islâmico. Como cristão ele se apaixonou pela história de Jesus Cristo e quando entrou para a universidade resolveu ir atrás do Jesus histórico e não apenas do Jesus dos evangelhos. Durante anos pesquisou fontes históricas imparciais sobre Jesus e desse estudo nasceu o livro.

Para Aslan o Jesus histórico foi de certa maneira muito diferente do Jesus que chegou até nós. Segundo sua teoria o Jesus da Bíblia é de certa maneira uma criação de Paulo, um judeu de formação helenista que não chegou a conhecer Jesus pessoalmente. Para reforçar sua tese Aslan disseca o mundo político e social em que Jesus viveu e as influências do meio em sua vida. Para o escritor o Jesus real da história tem muito mais a ver com o Messias tradicional pelo qual os judeus há tanto esperavam. E qual era esse Messias? Certamente não era aquele que vinha para divulgar a paz e o amor de Deus entre os homens, mas sim o revolucionário que almejava a expulsão dos romanos da Judeia. E foi por essa razão que o escritor resolveu chamar o livro de Zelota, pois esse foi um movimento religioso político muito importante naqueles tempos. O próprio Jesus seria assim, ele mesmo, uma espécie de  Zelota, alguém que primava pelo Zelo da fé judaica, pelas tradições religiosas de seu povo judeu e pelo Templo. Nada muito além disso.

Aslan assim enxerga o surgimento desse outro Jesus, o do pacifista e do Deus encarnado. Para ele essa foi uma criação dos escritos de Paulo, algo que entrou em choque frontalmente com os primeiros cristãos liderados por Tiago, o Justo, que seria supostamente o irmão de Jesus, também filho de Maria. O autor defende a tese que após a morte de Jesus a chamada igreja primitiva ficou em Jerusalém, comandada e chefiada por Tiago e os demais apóstolos que ainda estavam vivos (entre eles, Pedro). Essa era chamada de assembleia mãe, por ser formada basicamente pelas pessoas que andaram ao lado de Jesus. Quando Paulo começou a pregar e escrever sobre Jesus, criando assim a figura do Cristo, a igreja primitiva de Jerusalém logo entrou em conflito com ele. Havia muitas discordâncias entre os primeiros cristãos, principalmente sobre a real importância de Jesus e a essência de sua mensagem. Paulo tinha uma visão helenista pois escrevia para o mundo grego e romano, para os gentios, enquanto Tiago, Pedro e os primeiros seguidores de Jesus (chamados de hebreus), queriam que a mensagem de Jesus se enquadrasse completamente dentro dos princípios do judaísmo tradicional.

Com a destruição do templo de Jerusalém e a morte de milhares de judeus (entre eles praticamente toda a igreja primitiva dos que andaram ao lado de Jesus) a visão de Paulo enfim se tornou vitoriosa sob o ponto de vista histórico. A pergunta que o autor Aslan então debate é: essa visão teve realmente algo a ver com o verdadeiro Jesus histórico? Citando documentos antigos, trechos da bíblia e estudos acadêmicos, o escritor quer deixar claro em seu livro que há sim uma grande diferença entre o galileu que andou e pregou na Judeia dominada pelos romanos e o Messias que emerge do Novo Testamento. O primeiro teria sido um revolucionário de fato, que queria a expulsão do invasor romano da terra santa enquanto o segundo seria uma adaptação Paulina onde seu fervor nacionalista teria sido amenizado para surgir no lugar um pregador de um mundo mais abstrato, o chamado Reino de Deus, que nada teria a ver de fato com o Império Romano.

O leitor católico deve ler esse livro com uma certa reserva. Sua tese histórica é bem elaborada, porém não me convenceu plenamente. O escritor força a barra muitas vezes, tentando manter sua tese de pé baseada muitas vezes apenas em suposições ou argumentações que nunca foram comprovadas sob o ponto de vista da história. Embora haja referências da antiguidade sobre Jesus, como Josefo que se refere a "Tiago, irmão de Jesus, a quem chamam de Messias" (a mais antiga citação histórica sobre Jesus de Nazaré), o fato é que o evangelho ainda segue sendo a principal fonte sobre a vida e a obra de Jesus. Não adianta ficar discutindo se houve ou não julgamento de Jesus perante Pilatos ou se Jesus era na verdade um mágico que enganava as pessoas. Isso jamais será provado historicamente. A vida de Jesus Cristo está tão intimamente associada a uma convicção religiosa que sempre será uma questão de fé! Como um historiador moderno poderá discutir de forma histórica o advento da ressurreição de Jesus? É simplesmente impossível. Por isso eu até recomendaria o livro para aquele que deseja saber mais sobre o quadro político histórico e social do mundo em que Jesus viveu, mas certamente não indicaria para quem está atrás do Jesus da fé, do coração de cada cristão devoto.

Pablo Aluísio. 

domingo, 28 de agosto de 2011

10 Curiosidades da Guarda Suíça

A Guarda Suíça - Um dos símbolos do Vaticano é a Guarda Suíca, o grupo militar que protege o Papa quando ele está dentro dos portões do Vaticano. A Guarda Suíca está ao lado do Papa desde o ano de 1503. Aqui vão algumas curiosidades sobre ela:

1. Os membros da Guarda Suíça são celibatários? Para os oficiais da Guarda Suíça essa não é uma exigência, porém para ser escolhido a fazer parte como soldado da Guarda Suíça é necessário que se seja solteiro e não comprometido.

2. Qual é o contingente da Guarda Suíça?
A Guarda Suíça é considerado o menor exército do mundo com apenas trinta e um oficiais e setenta e oito soldados. Todos eles precisam fazer juramentos de que defenderão o Papa e os cardeais com suas próprias vidas, até a morte.

3. Quem criou o uniforme da Guarda Suíça?
Foi o próprio Michelangelo, seguindo ordens estritas do Papa da época. O artista assim procurou por uma bela harmonia de cores, tal como se fosse um quadro ou uma pintura. O resultado final ficou extremamente belo. A tradição de manter o mesmo uniforme mesmo após séculos de sua criação remete ao que ocorre com a Guarda Britânica da realeza que também preferiu manter a mesma vestimenta, sem mudanças.

4. Qual é a origem da Guarda Suíça?
No século XV eles formavam um grupo mercenário que vendia suas habilidades militares para os nobres europeus que pagassem melhor. Depois resolveram defender o papado pois todos eram católicos e tinham afinidades com a liga católica. Em 1503 a Guarda chegou ao Vaticano pela primeira vez. Três anos depois foram oficializados como guardas pessoais do Papa em Roma, ligação que dura até os dias de hoje.

5. Qual é a língua falada pelos membros da Guarda Suíça?
Embora o Latim seja a língua oficial do Vaticano, os oficiais e guardas falam o alemão. Ordens e documentos da Guarda Suíça são escritos nessa língua, uma tradição que também foi mantida.

6. Desde sua chegada no Vaticano a Guarda Suíça foi dissolvida em algum momento?
Sim, durante as guerras napoleônicas a Guarda Suíça foi oficialmente dissolvida pelo Papa Pio VI. Acontece que ele estava feito refém do imperador Napoleão Bonaparte. Sabendo que não havia como lutar contra o numeroso exército do imperador francês a Guarda Suíça foi dissolvida para evitar a morte de todos os seus membros. Quando Napoleão foi derrotado pelos ingleses eles voltaram a se unir em defesa do Papado.

7. O Que determinou o Papa Pio XII à Guarda Suíça quando Roma foi ocupada pelos nazistas?
Durante a II Guerra Mundial os nazistas entraram em Roma. Os membros da guarda suíça estavam preparados para defendê-lo até a morte, mas o Papa preferiu agir com bom senso determinando que eles não derramassem sangue dentro dos muros do Vaticano.

8. Quais são os requisitos para se fazer parte da Guarda Suíça?
Os aspirantes a entrar na Guarda Suíça precisam ser do sexo masculino, estarem com boa saúde física e mental, terem no mínimo 1.74 de altura, católicos, com curso completo de ensino médio (no mínimo). Além disso precisam ser solteiros, terem boa reputação social e nenhuma condenação criminal (ficha limpa). Por fim precisam estar na faixa etária entre 18 a 30 anos. Um requisito muito importante é também terem tido algum tipo de treinamento militar, de preferência no exército suíço.

9. A Guarda Suíça tem alguma ligação histórica com os Cavaleiros Templários?
Uma velha lenda dizia que a Guarda Suíça teria sido formada por remanescentes dos cavaleiros templários, mas essa lenda não tem bases históricas sólidas. Na verdade a única ligação entre os dois grupos vem da Suíça, pois foi para lá que os sobreviventes dos Templários fugiram quando sua ordem foi dissolvida pelo Papa. Essa porém é apenas uma coincidência histórica e nada mais.

10. A Guarda Suíça já lutou fora do território do Vaticano?
Sim, no século XVI o Papa Pio V enviou a Guarda Suíça para lutar contra os turcos muçulmanos que ameaçavam os reinos cristãos. Os bravos soldados da Guarda Suíça venceram a batalha, mesmo estando em um número menor em termos de soldados.

Pablo Aluísio. 

sábado, 27 de agosto de 2011

Davi: a vida real de um herói bíblico

A onda de revisionismo histórico tem acertado em cheio muitos personagens bíblicos. Recentemente tivemos "Zelota", um livro que coloca em dúvida a verdadeira natureza de Jesus de Nazaré. Nas páginas de sua tese o Jesus da história nada teria a ver com o Jesus do Novo Testamento. Ele teria sido um Messias revolucionário que almejava a libertação de Israel da dominação romana. Nada a ver com o Messias do Amor, o verdadeiro Deus Cristo encarnado na Terra. Polêmico o livro, não conseguiu me convencer em suas teorias revisionistas.

Agora temos um outro título que segue nessa mesma linha. "Davi: a vida real de um herói bíblico" de Joel Baden, tenta provar que o Davi histórico, o Rei dos Judeus em sua era de glórias, não foi o mesmo personagem que é mostrado nos livros do Velho Testamento. O autor chega ao ponto de defender a tese de que todos aqueles livros teriam sido escritos com o único objetivo de servir de propaganda política de um Rei que na verdade era sanguinário, despótico, violento e egocêntrico. Um verdadeiro monstro psicopata e assassino, bem longe do Davi aclamado e amado dos livros bíblicos.

Para isso Baden deixa pouca pedra sobre pedra sobre o mito de Davi. Isso vem inclusive das próprias origens do Rei Davi. Por exemplo, esqueça a lendária mitologia que o pequeno e frágil Davi teria matado o gigante Golias. Para o autor dessa obra isso jamais existiu historicamente. Tampouco devemos acreditar na ascensão do Rei Davi como um ato de Deus. Para Baden o Davi real, da história, conspirou para a morte do Rei Saul. Ele teria tido participação direta em seu assassinato. Isso soa extremamente desconfortável não apenas para judeus, mas para cristãos também, uma vez que o texto bíblico afirma que o próprio Jesus teria descendência familiar com o Rei Davi. Como suportar a ideia então de que Jesus e Maria teriam descendido de um assassino louco e ganancioso, que não se importava em matar todos os que estivessem em seu caminho rumo à riqueza, poder e venerações quase divinas?

As mesmas críticas que escrevi sobre "Zelota" também podem ser repetidas sobre esse livro. O fato é que apesar dos títulos do professor Joel Baden, ele pouco pôde contar em termos de material de estudo, já que as fontes históricas mais antigas sobre o Rei Davi vieram das páginas da própria Bíblia. Praticamente inexistem outras fontes históricas do reinado de Davi. Sem outra fontes tão antigas, ele simplesmente caiu no vale da pura especulação e achismo. O fato é que assim como aconteceu com Jesus não existem muitas fontes históricas independentes sobre o Rei Davi. Isso é tão óbvio que algumas décadas atrás surgiram até mesmo historiadores duvidando de sua própria existência histórica real. Com isso Baden presume muita coisa, levanta teorias de pura especulação, baseadas em nada palpável ou objetivo. Assim o professor de Yale acabou caindo numa armadilha perigosa - a da pura e simples especulação em torno de um personagem histórico, real. Isso definitivamente também não é ciência, apenas muita conversa fiada jogada fora.

Pablo Aluísio.

Maria Madalena

Maria Madalena é uma das figuras mais emblemáticas dos evangelhos. Ela está nas narrativas sempre ao lado de Jesus, mesmo nos momentos mais terríveis. Ela é uma das mulheres identificadas ao pé da cruz enquanto Jesus era morto e torturado pelos soldados romanos. Certamente foi um conforto para o próprio Jesus saber que Maria Madalena não o havia abandonado, pois estava presente, trazendo conforto e exemplo para Jesus no momento mais dramático de sua vida. Ele não estava sozinho pois Maria e outras mulheres estavam ao seu lado nos últimos momentos. E talvez também por ter tido essa coragem ela tenha sido uma das primeiras pessoas a verem Jesus ressuscitado, glorioso, além da morte.

Mesmo sendo uma figura tão central muitas dúvidas ainda existem sobre a Maria Madalena da história. Poucos detalhes de sua vida, origem ou história pessoal são revelados pelos evangelhos. Uma das pistas vem justamente de seu nome. A palavra Madalena determinava sua origem. Era comum na antiguidade, onde a maioria das pessoas não tinham sobrenome, o uso de uma palavra que indicava sua origem para diferenciá-la de outros nomes iguais. Assim Maria Madalena significa Maria, que vinha da cidade de Magdala. Mas quem era ela? O que fazia para viver? O que aconteceu com ela após a morte de Jesus? E uma questão que tem sido muito levantada nos últimos anos: Maria Madalena foi realmente a esposa de Jesus?

O Papa Gregório, o Grande, não tinha também muitas respostas para essas perguntas, mas a associou a uma mulher que surge nos evangelhos, a de uma prostituta a quem Jesus teria prometido salvação eterna caso ela deixasse os pecados para trás. A questão é que essa foi uma interpretação bem pessoal do Papa uma vez que os quatro evangelhos ao contarem esse mesmo evento, jamais dão um nome a tal mulher e nem tampouco a associam a Maria Madalena. Sobre ela tudo o que sabemos é que estaria possuída por sete demônios que foram expulsos por Jesus. Após isso ela teria seguido os passos de Jesus Cristo em sua missão de evangelizar e pregar a palavra de Deus a todos os homens.

Maria parece estar sempre presente ao lado de Jesus nos momentos mais importantes da Bíblia. Sua influência e importância era tamanha que chegou a despertar os ciúmes de Pedro. Após a crucificação de Jesus ela foi até a tumba de seu senhor para os preparativos de seu luto. Ao chegar lá encontrou a pedra de sua tumba deslocada. O corpo havia sumido. Inicialmente Maria pensou que o corpo de Jesus havia sido roubado. Ela se lamentou profundamente por isso, pois havia levado todos os elementos necessários para as últimas homenagens ao seu mestre. Onde estavam os demais apóstolos? Tinham se dispersados.

Ela acabou olhando para fora de tumba e encontrou um homem misterioso, parcialmente escondido sob um capuz, a quem pensou inicialmente ser o jardineiro. O homem então olhou para ela e a chamou pelo nome: "Maria!" E então ela finalmente o reconheceu. Era Jesus! O seu mestre havia ressuscitado. Ela tentou abraçá-lo, mas Jesus disse: "Não estou pronto ainda para ser abraçado!". Assim Maria foi a primeira pessoa a ver Jesus ressuscitado, algo incrível e maravilhoso que demonstrava como Maria Madalena era importante para o próprio Jesus de Nazaré.

Um dos mistérios que a cercam porém é que depois da ressurreição e de ter presenciado esse momento maravilhoso ela simplesmente sumiu dos registros históricos, inclusive da própria igreja recém fundada. Nesse ponto o destaque começa a se desviar para Pedro, o primeiro Papa. O que aconteceu com Maria? Até hoje é um grande mistério. Em 1896 um antigo livro que estava perdido há séculos na biblioteca de Berlim se revelou como o "Evangelho de Maria". Para estudiosos esse livro do século II era atribuído não a Maria, mãe de Jesus, mas sim a Maria Madalena. Era mais um novo evangelho apócrifo que surgia das areias do tempo.

O livro original ainda existe em parte e está na Alemanha. Nesse Evangelho Maria conta tudo o que aconteceu após a ressurreição de Jesus. Ela escreve que foi até Pedro e os demais apóstolos para contar que viu Jesus e que encontrou até mesmo certa resistência por parte de Pedro. Ela deixa claro que era uma das líderes da igreja primitiva e que teria sido a primeira seguidora. Seu papel de mulher porém teria encontrado uma forte oposição entre os primeiros cristãos. Verdade ou pura ficção?

Estudiosos acreditam que o Evangelho de Maria não pode ser creditado a ela. O estilo e a forma de escrita era própria do século II, quando Maria já havia falecido. Mesmo assim o texto é bem revelador pois traz uma luz sobre Maria após a morte e ressurreição de Jesus. Embora seja algo especulativo alguns afirmam que Maria Madalena teria sido uma mulher bem mais velha que Jesus e os discípulos, que teria bens materiais e que por essa razão teria sustentado os primeiros cristãos com sua riqueza. Por essa razão ela também não teria vivido muito mais anos do que Jesus.

Por fim vale a pena também citar uma outra lenda antiga sobre Maria Madalena. Essa lenda inclusive acabou servindo de fonte para o best seller "O Código Da Vinci". Essa lenda medieval afirmava que Maria Madalena teria ido embora de Jerusalém após a crucificação e ressurreição do Messias. Queria proteger uma pessoa muito especial, o próprio filho natural de Jesus. Assim ela zarpou rumo à costa da França. Essa criança teria dado origem à dinastia dos Reis Carolíngios. Essa segunda lenda foi desmentida em parte. Isso porque segundo o conto original Maria Madalena teria levado seu filho para a França e lá ele teria dado origem a uma geração de reis que reinaram pela França por séculos. O problema é que para testar a verdade dessa lenda vários exames de DNA foram feitos nos restos mortais de alguns desses monarcas e nenhum traço de DNA do Oriente Médio foi encontrado em seus códigos genéticos. Assim a velha estória de que os Reis Carolíngios tinham sangue sagrado de Jesus correndo em suas veias era simplesmente uma lenda medieval e nada mais.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A Oração Noturna

Vejo muitas pessoas tomando pílulas para conseguir dormir. Realmente deitar a cabeça no travesseiro para desfrutar de uma tranquila noite de sono parece ser um terrível momento para os que não conseguem relaxar, descansar a mente. Pior acontece com os que estão com a consciência pesada por algo ruim ou negativo que fizeram ao longo do dia. Na minha opinião não é necessário se encher de receitas médicas, tomar várias drogas pesadas, para fechar os olhos e ter uma noite de paz e repouso.

Uma solução para esse problema de insônia? Ore! Claro que muitos vão achar isso tão simplista como bobo! Respeito a opinião de quem pensa assim, embora obviamente não concordo em nada com ela. A oração tem um poder muito grande sobre a nossa mente. Relaxa, tranquiliza, traz paz. A oração noturna então é essencial para termos uma noite de encontro verdadeiro com Deus. Para os que não acreditam nisso recomendo que leiam alguns estudos realizados por universidades americanas que demonstram que a mente de pessoas que acreditam, que possuem e exercitam algum tipo de fé, são mais tranquilas, menos ansiosas e desesperadas do que as dos céticos e ateus convictos. A crença religiosa traz paz ao coração daquele que verdadeiramente acredita nela.

E como se deve orar? Acredito que a regra de ouro venha da sinceridade de coração. Você deve orar com o coração aberto, acreditando, tendo fé e pedindo desculpas a Deus pelos erros cometidos. Arrependimento sincero conta muito nessa linha de comunicação que você vai abrir ao divino. Muitas pessoas gostam de rezar o terço antes de dormir, e isso é muito bom. Caso não seja o seu caso, aconselho que reze uma Ave Maria e um Pai Nosso com respeito e devoção. Peça que Maria abençoe sua noite, que lhe traga paz durante seu sono e que afaste todo e qualquer entidade negativa de sua vida e de seu leito.

Peça também a Maria que abençoe sua família, seus entes queridos que já faleceram e que dedique uma Ave Maria em nome das almas que estão no purgatório e que sofrem por não terem mais quem reze por elas - essa aliás foi uma recomendação direta de Nossa Senhora em sua aparição de Fátima. Depois deite-se e sinta-se em comunhão com Deus e os santos. Isso traz um conforto tão imenso para seu leito que, tenho certeza, o sono tranquilo e de paz chegará com a graça de nossa mãe, Maria! 

Pablo Aluísio.

A Queda dos Cavaleiros Templários

A Ordem Católica dos Cavaleiros Templários foi uma das mais poderosas e influentes da Idade Média. Seus membros eram respeitados e admirados por toda a Europa e Oriente Médio. Cabia aos cavaleiros proporcionar segurança e proteção a todos os cristãos que desejassem viajar até a Terra Santa, uma região dominada até então pelos islâmicos. Com o tempo os Templários se tornaram extremamente ricos e poderosos, a ponto de seu poder rivalizar até mesmo com o Papa e a Nobreza da Europa. Isso explica em grande parte porque caíram em desgraça.

Havia um jovem herdeiro ao reino francês chamado Felipe, o Belo. Embora ele fosse o futuro rei de uma das monarquias mais poderosas da Europa Medieval ele tinha um sonho desde que era criança: se tornar ele próprio um cavaleiro templário. Isso era até fácil de entender já que os membros da ordem eram vistos como verdadeiros heróis pelos mais jovens. A chegada de um regimento templário numa cidade era motivo de grande excitação e festa. Além de serem guerreiros eles eram também monges católicos. Poucos naquela época tinham a primazia de aliar a força da espada com a religiosidade cristã. Eram verdadeiros super heróis dos tempos medievais.

Felipe então se empenhou muito por anos para ser aceito na ordem. Ele treinou táticas de guerra e sobrevivência. Se tornou muito hábil no manejo de armas de guerra, ao mesmo tempo em que estudou afinco as escrituras sagradas. No dia de seu teste para entrar na ordem porém tudo deu errado. Os Templários eram extremamente éticos e honestos e o rejeitaram. Não importava que fosse um Rei. Ele simplesmente não passou nos testes e por isso foi reprovado nos testes físicos e de combate. Isso devastou o jovem monarca. Um sentimento de raiva tomou conta de sua alma e ele prometeu se vingar da humilhação que havia passado.

Alguns anos depois o agora Rei Felipe IV encontrou a chance de se vingar. Ele percebeu que o quadro político se mostrava cada vez mais desfavorável aos cavaleiros templários. Eles tinha um código de ética próprio, secreto e isso atiçou Felipe a usar uma intensa campanha contra a Ordem. Ele ficou extremamente irritado quando sua sugestão de que os Templários fossem unidos a outra ordem foi rejeitado pelo grupo. Assim começou uma campanha de difamação e calúnia contra todos os cavaleiros. Espalhou mentiras que afirmavam que os membros da Ordem faziam estranhos rituais, cuspindo na cruz e em objetos sagrados. O depoimento comprado de uma testemunha que havia sido expulsa da Ordem piorou ainda mais o quadro. Felipe espalhou aos quatro cantos do Reino da França que eles eram hereges e amaldiçoados. Aconselhado por seu Grão-Vizir, Felipe via nas acusações a oportunidade de também colocar as mãos na imensa riqueza da Ordem Templária. O Estado francês estava quebrado e ele precisava de dinheiro. Ele já havia promovido uma perseguição brutal contra judeus, ficando com suas fortunas e agora repetia a tática contra os Templários.

Numa Sexta-feira 13 de outubro, Felipe IV mandou prender todos os cavaleiros templários que estivessem em solo francês. Eles foram imediatamente presos, cercados, torturados e mortos. A principal acusação (falsa) era a de bruxaria. Sob torturas alguns confessaram crimes que jamais tinham cometidos. Espancados, foram soltos para fugirem imediatamente. Os que se recusaram a admitir culpa, mesmo sob forte tortura, foram queimados vivos em praça pública sob ordens diretas de Felipe. O Papa Clemente V nada pode fazer. Ele devia favores ao Rei, estava encurralado politicamente e por isso resolveu lavar as mãos para tudo o que estava acontecendo. Em 22 de março de 1312 o Papa declarou oficialmente extinta a Ordem dos Cavaleiros Templários, encerrando um dos capítulos mais interessantes da história da Igreja Católica.

Pablo Aluísio. 

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

A Importância da Idade Média Cristã

Muitos historiadores gostam de qualificar a Idade Média como a Era das Trevas, um período obscuro e mal visto por muitos atualmente. Essa visão é um equívoco. Lendo o livro "Ascensão e Queda das Grandes Potências" de Paul Kennedy podemos perceber o quão simplista e vazia é essa ideia. O autor demonstra que foi justamente na Idade Média que começou a se esboçar o sucesso da Europa como potência militar e econômica tal como conhecemos hoje.

Para muitos a Idade Média seria apenas uma época de transição, com muita descentralização política, relações servis de trabalho e fanatismo religioso. O grande erro é não entender que isso acabou gerando também avanços incríveis para o continente europeu fazendo com que a Europa superasse o Oriente Médio e a China em termos de desenvolvimento social e econômico. Quando a Idade Média chegou ao fim a Europa estava pronta para literalmente dominar todo o mundo.

Quer um exemplo? A descentralização política entre os povos europeus levou a uma acirrada competição entre os reinos e feudos. Cada um deles procurava se sobrepor aos demais, criando armas melhores, táticas de guerra mais sofisticadas. Isso obviamente levou ao desenvolvimento da ciência e conhecimento que era usado para melhorar as invenções. Se o poder político fosse monolítico, centralizado, esse tipo de avanço não teria acontecido. Tudo ficaria estagnado como acabou ocorrendo com o império chinês, por exemplo. Em pouco mais de dois séculos os europeus tinham os melhores exércitos, os mais bem armados e com as melhores táticas de guerra, além das descobertas científicas que foram usadas para essas melhorias. A competição levou ao desenvolvimento.

A religião que muitas vezes é usada como aspecto negativo da Idade Média também teve função extremamente importante. O senso de pertencer a uma só crença (o cristianismo com a Igreja Católica) levou os europeus a criarem um senso cultural extremamente forte e coeso. Os mosteiros também tiveram grande importância em preservar as obras clássicas. Os monges, letrados e cultos, copiavam tratados jurídicos e obras da literatura por séculos afim, pois ainda não existia as técnicas de impressão em massa. Isso preservou a cultura da Europa que seria usada para organizar a sociedade e criar técnicas de combate e organização social. Assim criticar a Idade Média baseada apenas em puro achismo é um erro primário. Deve-se também ver que foi justamente nesse período histórico que começou a surgir as grandes nações da Europa que em pouco tempo iriam dominar praticamente todo o mundo conhecido.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Constantino e o Cristianismo - Parte 1

Uma das figuras mais mal interpretadas e caluniadas da história foi o imperador romano Constantino. Até hoje repetem-se falácias sobre ele, de como teria fundado a igreja católica e como teria promovido a fusão entre o nascente cristianismo com o paganismo romano. Ambas as afirmações não são verdadeiras. Assim defende o historiador americano Theodore Shoebat  em seus novos artigos. Segundo o pesquisador essas falsas informações e deturpações históricas surgiram pela primeira vez dentro de estudos de autores anti-cristãos, em especial Franz Cumont, que tinha um claro objetivo de atacar a Igreja Católica de seu tempo.

O que muitos não percebem é que Cumont introduziu esta teoria a partir de uma perspectiva anti-cristã. Ele escreveu que o cristianismo tomou de seus adversários as suas próprias armas, e usou-as, resultando que os melhores elementos do paganismo foram transferidos para a nova religião.

Com isto dito, nós podemos concordar que as crenças que tentam provar que Constantino havia criado sua própria igreja a misturando com o paganismo, foi produzido originalmente por inimigos da Fé e não por seguidores cristãos. O objetivo era claro: causar mais divisões dentro da Igreja, separando os cristãos que odiavam Constantino contra os defensores da nova Igreja romana que se oficializava. As alegações porém são falsas pois de fato a Igreja Católica não foi fundada pelo imperador romano como tanto se propaga ao longo desses últimos séculos.

Para refutar a idéia de que Constantino criou uma nova igreja e mostrar que a Igreja não se alterou após - ou foi suplantado por ele, é importante ao pesquisador ir atrás de livros históricos escritos antes do surgimento do imperador dentro do cristianismo. Entre as fontes primárias que podem ser citadas estão obras escritas por Eusébio, Tertuliano, Santo Ambrósio, Santo Irineu, Firmicus, São Justino Mártir e complementando Santo Agostinho.

Isso é importante porque mostra que temos de olhar para as fontes originais da Igreja, não para textos anti-cristãos, escritos contra a Igreja ou que se basearam neles como a doutrina protestante.

Uma das acusações mais freqüentes é que Constantino fundou, ou pelo menos ajudou a estabelecer, uma igreja oficial do império, e então começou a massacrar cristãos que não aceitavam os dogmas da nova fé católica. Esse conflito teria dado origem a segmentos desvinculados de Roma.

As evidências apresentadas sobre esse fato se apóiam em um decreto do imperador que listava uma série de seitas que dali em diante seriam consideradas hereges. Com isso estariam proibidas de promover reuniões religiosas e pregar sua visão particular do cristianismo.

Acontece que muitas das seitas descritas e listadas por Constantino pouco ou nada tinham a ver com o cristianismo. A maioria delas pregava um tipo misto de tradições religiosas, algumas pagãs e outros cultos como aqueles que adoravam Mitra - com rituais sangrentos onde touros eram sacrificados em nome da deusa romana. Perceba que basta ler o decreto do imperador para entender que ele na realidade não promoveu uma fusão entre paganismo e cristianismo dentro da religião católica mas justamente o contrário pois proibiu diversas seitas que faziam justamente isso.

Pablo Aluísio.

Constantino e o Cristianismo - Parte 2

Cinco das seitas listadas já tinham rompido com a Igreja Católica muitos anos antes de Constantino surgir em cena como Imperador. Essas seitas negavam dogmas cristãos e muitas delas chegavam ao ponto de negar inclusive a ressurreição de Jesus Cristo. Outras pregavam que Cristo não teria existência terrena, apenas espiritual e que na realidade não tinha sexo, sendo um tipo de híbrido celestial, metade homem e metade mulher. Outras pregavam que Maria não seria a virgem descrita nas escrituras e que teria feito sexo diretamente com Deus. Eram ideias bizarras que a Igreja Católica desde muito cedo combateu dentro do cristianismo.

Policarpo que havia estado pessoalmente com alguns dos apóstolos originais de Jesus Cristo contestou diretamente e duramente muitas dessas visões alternativas do cristianismo. Isso prova que a Igreja, bem antes de Constantino, já existia como comunidade organizada, com vários pensadores procurando uma uniformidade de pensamentos e dogmas, organizando e separando aquilo que era considerado o verdadeiro cristianismo e aquele que era simplesmente heresia. Mesmo sem nada oficial, a Igreja (que anos depois receberia o título de católica) já existia plenamente, com organização e harmonia do ponto de vista teológico.

Como poderia os Valentinianos, uma das seitas combatidas pelos primeiros cristãos, ser considerada um vertente dentro do cristianismo se eles estavam ensinando uma doutrina falsa, sendo condenados por um homem que tinha sido nomeado diretamente pelos próprios Apóstolos? Policarpo lutou bravamente contra sua visão distorcida do cristianismo. E esse pensamento seria seguido pelo Imperador Constantino depois mas certamente ele não o teria criado pois não tinha as bases históricas e teológicas para tanto.

O que isso prova? Que o Cristianismo como movimento intelectual e de fé já existia muitos séculos antes de Constantino e que esse mesmo grupo daria segmento à sua fé, originando depois o que hoje conhecemos como Igreja Católica.

Constantino era um político e como tal precisava de apoio dos grupos mais fortes dentro da sociedade romana. Entre eles estava justamente a dos cristãos. Quando Constantino oficializou o Cristianismo ele já estava em todos os setores da sociedade romana. Já havia altos funcionários do império que eram cristãos, assim como senadores, soldados e generais. Constantino apenas se rendeu aos fatos. Ele certamente não criou o cristianismo como movimento e nem como Igreja, essa já existia muito anos antes dele surgir. Constantino apenas oficializou uma situação de fato. A religião que estava predominando era o cristianismo em todas as camadas da população de Roma e do Império. Não havia outra saída.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Abraão, o Grande Patriarca

No Velho Testamento alguns nomes se destacam nas narrações bíblicas. Um deles é justamente o do grande patriarca, Abraão. Historicamente é muito complicado determinar a época exata em que viveu, mas estudiosos acreditam que provavelmente Abraão tenha vivido entre oito a até dez séculos antes de Cristo na região da atual Turquia, seguindo depois para as terras que hoje pertencem a Israel, onde veio a morrer. Seu nome é muito associado ao fato de ter sido o patriarca dos dois maiores povos do Oriente Médio, o povo judeu e o povo árabe. Também é o pilar das três grandes religiões monoteístas da história, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Mesmo com tanto importância a ciência da arqueologia ainda não conseguiu encontrar traços de sua existência histórica. Grande parte de sua vida nos chegou através das escrituras. Dentro da Bíblia a existência de Abraão é das mais antigas. Ele seria descendente direto do primeiro homem, Adão, e também de Noé, o mesmo que teria salvo a humanidade da extinção completa por ordens de Deus ao construir sua grande arca. Por ser historicamente tão remoto não é de se estranhar que seja completamente difícil achar traços arqueológicos de sua vida.

Abraão começou a vida de forma humilde, tentando sobreviver em um tempo muito primitivo ainda - para ser ter uma ideia da antiguidade de Abraão é bom saber que nem sequer existia em sua época a cidade milenar de Jerusalém. Ele é anterior inclusive a Moisés que para Jesus parecia tão antigo e distante como os faraós do Egito são para nós atualmente. Pois bem, na época de Abraão uma das únicas maneiras de se prosperar era através do comércio das enormes caravanas que atravessavam os grandes desertos do Oriente Médio, geralmente rotas de comércio que iam e vinham do Egito antigo (o profeta Maomé do Islã também foi um mercador de caravanas pelas areias do deserto). Por essa razão a maioria dos povos dos tempos de Abraão eram nômades que não se fixavam em um lugar determinado. Esse aspecto também parece ter sido muito importante na história do grande patriarca pois ele começou a procurar por uma terra onde pudesse fundar uma nação para nela viver de forma fixa e sedentária. Ele teria sido então guiado por Deus para ir para terras distantes para construir uma grande nação para si e seus descendentes, na chamada terra de Canaã, onde Deus prometia fartura e bonança para os que lá chegassem. Essa luta para chegar nessa região move praticamente toda a existência de Abraão, a ponto dele ser considerado o grande pai da pátria judaica.

Outro aspecto muito relevante dentro da história de Abraão vem do fato dele ter sido um homem que lutou e viveu sua fé. Homem extremamente devoto e religioso teria renunciado até mesmo ao amor que sentia pelo próprio filho para cumprir a ordem de Deus que o havia ordenado que matasse o jovem em seu nome, como sacrifício. Só no último momento, quando teve seu braço segurado por um anjo, parou a execução. Esse ato de Abraão é visto dentro da religião judaica como o grande exemplo de fé inabalável em Deus, capaz de tudo para cumprir sua palavra. As escrituras afirmam que Abraão teria vivido por quase 300 anos, porém o leitor da atualidade precisa entender que na antiguidade havia outros modos de contagem do tempo e que o calendário que seguimos nos dias atuais foi elaborado por Roma e depois aperfeiçoado pela Igreja Católica. É certo porém que Abraão teve vida longa, provavelmente chegando aos 70 anos de idade, algo que na antiguidade era algo assombroso pois a expectativa de vida eram bem pequena, na faixa dos 40 anos, quando o homem já era considerado velho demais para trabalhar e viver de forma produtiva.

Outro aspecto relevante na vida de Abraão vem do fato dele ter sido um peregrino, tendo viajado e habitado por inúmeras regiões do Oriente Médio e África. Isso criou de certa maneira o contexto histórico do surgimento de Moisés. Em relação a Jesus há também um fato em comum. A esposa de Abraão era estéril, mas Deus a encheu de graças e ela deu a luz um filho, Isaque, considerado o primeiro judeu ou hebreu da história. Também foi o pai de Ismael, considerado o primeiro árabe, vindo daí sua alcunha de "O Grande Patriarca" ou o pai de muitos. Isaque teria sido filho de sua esposa Sara (a estéril que teria sido abençoada por Deus) e Ismael teria sido filho de uma concubina egípcia chamada Hagar. No fim da sua conturbada vida Abraão finalmente teria encontrado a paz e a felicidade, não apenas em relação à sua longa linhagem de filhos (a escritura nomeia oito deles, porém estudiosos acreditam que ele teria tido mais de 30 filhos com concubinas e escravas) como também nos negócios pois ele se tornou um rico e próspero dono de caravanas comerciais. Seu lugar de repouso eterno segue sendo desconhecido, sendo sua localização um dos grandes objetivos da arqueologia moderna. Afinal de contas descobrir a tumba de Abraão seria realmente um achado histórico simplesmente monumental.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Os Quatro Evangelhos

O texto a seguir tem como base e fundamento as pesquisas, livros e estudos do professor Craig Blomberg, PHD pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, considerado um dos grandes especialistas em história bíblica. Resolvi colocar tudo em forma de perguntas, para facilitar a leitura, enfocando os principais temas envolvendo os quatro evangelhos que formam o Novo Testamento. Seguem então dez perguntas cruciais sobre os evangelhos.

1. Quem realmente escreveu os evangelhos que formam o Novo Testamento? Há um consenso entre historiadores atualmente que os autores dos textos que formam o novo testamento cristão foram Levi, um coletor de impostos, que também era conhecido como Mateus (que daria nome ao evangelho escrito por ele), João Marcos, um cristão devoto, muito próximo a Pedro, seu amigo de longa data (que assinou seu evangelho apenas como Marcos),  Lucas, um médico que foi extremamente próximo a Paulo ao ponto dele o chamar de "o médico amado" e finalmente João, cuja autoria é a mais discutida de todas pois não se chegou ainda a uma certeza histórica de que se tratava mesmo do querido apóstolo de Jesus.

2. O que a ciência histórica tem a dizer sobre o Evangelho de João?
Há duas possibilidades. A primeira que esse evangelho teria sido realmente escrito por João, o amado apóstolo, um dos três mais próximos de Jesus (ao lado de Pedro e Tiago). Alguns séculos depois surgiu uma dúvida pois foram encontrados escritos antigos datados do ano 125 em que um autor antigo chamado Papias afirmava que o evangelho de João havia sido escrito na verdade por João, o Idoso (ou o Ancião). Até hoje não se pode afirmar com certeza se João, o Apóstolo e João, o Ancião, eram duas pessoas diferentes ou apenas duas formas de se referir a João, nesse segundo caso quando ele já estava bem velho, avançado em sua idade terrena.

3. Os escritores dos evangelhos conheceram Jesus Cristo pessoalmente?
Historiadores da Bíblia afirmam que os três primeiros evangelhos foram escritos de forma direta (por pessoas que presenciaram os eventos narrados) ou indiretamente (como no caso de Marcos que usou o testemunho do próprio Pedro como base para seu evangelho). Especialistas concordam que de todos os evangelhos o de Mateus parece ter sido o mais próximo a ser escrito da vida de Jesus. Esse evangelho também foi o único que foi escrito inicialmente na língua dos judeus da época e só depois traduzido para o grego e o latim. Se João é realmente o apóstolo querido, então seu evangelho foi escrito por alguém que viveu ao lado de Jesus e caminhou com ele, testemunhando todos os acontecimentos com seus próprios olhos.

4. Qual é a característica mais interessante do Evangelho de Marcos?
Esse é considerado um evangelho escrito para a conversão de novos cristãos. Ele não é muito detalhista sobre os primeiros anos da vida de Jesus, a tal ponto que não cita seu nascimento, se concentrando apenas em três anos da vida do Messias, dedicando quase a metade de seu texto à semana final da vida de Jesus. Por essa razão muitos especialistas acreditam que é um dos mais fiéis do ponto de vista histórico pois foi escrito baseado nas palavras do próprio Pedro que narrou tudo o que presenciou pessoalmente a Marcos.

5. O que é a Fonte Q?
A imensa maioria dos historiadores e especialistas acreditam que alguns trechos dos três primeiros evangelhos beberam da mesma fonte, um manuscrito ainda mais antigo, usado pelos primeiros cristãos em seus cultos e reuniões. Esse primeiro manuscrito que se perdeu no tempo seria a fonte escrita mais antiga sobre a vida de Jesus Cristo. Como não se sabe como era chamado muitos historiadores passaram a se referir a ele como Fonte Q. Os indícios mais fortes de sua existência vem de alguns textos escritos por Paulo que parece ter usado expressões e orações que eram usados nas primeiras reuniões dos cristãos primitivos. Eles liam e decoravam os textos justamente usando esse antigo texto, a Fonte Q.

6. O que havia escrito na Fonte Q?
Basicamente citações de Jesus e a relação de seus milagres. Não era um texto narrativo, contando a vida do Messias, mas sim uma série de citações de frases, pensamentos e parábolas escritas pelos primeiros apóstolos que procuravam registrar o máximo que podiam da sabedoria de seu mestre. Sobre a fonte Q há duas opiniões: A primeira que ele teria sido usado inteiramente dentro dos próprios evangelhos, nada teria ficado de fora e por isso foi descartado. A segunda que algumas frases e pensamentos teriam sido esquecidos, se perdendo para sempre nas areias do tempo.

7. Qual teria sido a participação de Pedro na elaboração dos primeiros evangelhos?
Teria sido essencial. Pedro viveu por muitos anos e tinha uma memória excelente, relembrando eventos passados como se tivessem acontecido há poucos dias. O primeiro evangelho foi escrito entre 20 a 30 anos depois da morte de Jesus. O último - de João - teria sido finalizado 60 anos depois da crucificação. Todos eles derivavam de rica tradição oral, além da já citada Fonte Q. Pedro só não participou efetivamente da produção do último evangelho, justamente o de João, pois já estava morto, após ser crucificado de cabeça para baixo pelos romanos.

8. O Evangelho de João pode ter tido dois autores?
Sim. Para muitos estudiosos a parte final do evangelho de João não foi escrita pelo autor da primeira parte. Há duas explicações para isso. João (seja o apóstolo, seja João, o idoso) não viveu o suficiente para terminar sua obra. Ele teria morrido antes. Um autor desconhecido, provavelmente membro da primitiva Igreja teria então terminado o evangelho, mas se mantido anônimo. Outra tese sustenta que um editor grego teria feito as mudanças na parte final, enviando o manuscrito para a aprovação final de João. Mesmo doente ele teria dado seu aval para as mudanças.

9. Qual é a principal característica do Evangelho de João?
Há um consenso que ele seria o mais profundo do ponto de vista teológico. Além disso é o que mais enfatiza a natureza divina de Jesus, o colocando sem dúvida como o próprio Deus encarnado na terra para viver entre os homens, trazendo a salvação para a humanidade com sua morte na cruz. Para os especialistas isso tem uma explicação. Só após mais ou menos 50 anos da morte de Jesus é que os primeiros cristãos chegaram na certeza de que Jesus era realmente Deus. Antes disso haveria uma certa dúvida na interpretação do que havia dito Jesus em seus sermões. Escrito 60 anos depois da crucificação já não existia mais nenhum questionamento sobre isso para João. Ele então quis deixar bem claro essa questão em seu evangelho.

10. Quem escolheu os evangelhos que hoje fazem parte do Novo Testamento Cristão?
Os quatro livros oficiais que formam o Novo Testamento foram escolhidos por autoridades da Igreja Católica. Poucos sabem, mas havia vários outros evangelhos circulando entre os primeiros cristãos, alguns atribuídos a pessoas próximas a Jesus como Maria Madalena e Judas. A Igreja Católica os descartou por serem imprecisos, contraditórios, fantasiosos demais ou não verdadeiros. Com isso apenas quatro foram escolhidos e chancelados pelo Papa. Por essa razão a Bíblia tal como conhecemos só possuem esses livros oficiais. Os demais foram qualificados como Apócrifos, de autoria incerta e procedência duvidosa.

Pablo Aluísio.

10 Perguntas Sobre Jesus Cristo

1. Qual era a altura de Jesus e como era sua aparência? Não se sabe com exatidão a resposta para esse tipo de questionamento. Os evangelhos não trazem descrições físicas de Jesus pois para seus autores era mais importante espalhar a mensagem de Jesus e não sua aparência física (considerada na antiguidade como algo sem maior importância).

2. Se não se sabe como Jesus realmente aparentava de onde surgiu essa imagem que conhecemos hoje? As mais antigas representações de Jesus na verdade não o retratavam com longos cabelos, mas sim com cabelos curtos, porém essas primeiras representações são datadas de mais de dois séculos após sua morte e não são exatas. A tradição é apontada como a que manteve viva essa imagem tradicional de Jesus. Alguns historiadores inclusive afirmam que essa imagem (nariz alongado, cabelos negros longos e olhar expressivo) na verdade foi baseada no Santo Sudário da Igreja Católica. Enfim, muitas incertezas e poucas certezas sobre como se parecia fisicamente o Messias.

3. Jesus Cristo teve irmãos?
Esse é um tema dos mais controversos. No evangelho supostos irmãos de Jesus são até nomeados, além de haver também referências a irmãs dele (cujos nomes infelizmente os Evangelhos não trazem). Seria irmãos de sangue de Jesus? Filhos de Maria e José? Ninguém sabe ao certo. Para a Igreja Católica se trata de um erro de interpretação pois a família santa seria composta apenas por Maria, José e Jesus. Para outros eles seriam filhos de José de um casamento anterior. Para alguns historiadores não seriam irmãos, mas primos, de acordo com a tradição judaica antiga.

4. Jesus era analfabeto?
De tempos em tempos surgem teses de que Jesus não era alfabetizado e que por essa razão não teria deixado nada escrito de próprio punho. Os que defendem essa teoria dizem que raras pessoas eram alfabetizadas na antiguidade, ainda mais se tratando de um membro da classe mais pobre como Jesus. É um erro. Em várias passagens do evangelho Jesus surge como alguém demonstrando cultura em relação às escrituras (algo que ele teria adquirido com estudo e leitura), além da famosa passagem onde Jesus começa a escrever na areia os pecados dos que estavam à sua volta querendo apedrejar uma pecadora. Com tudo isso é praticamente certo afirmarmos que Jesus realmente sabia ler e escrever.

5. Jesus foi casado com Maria Madalena?
Não existe qualquer evidência histórica de que Jesus tenha sido casado com Maria Madalena. A lenda popularizada pelo livro "O Código da Vinci" de Dan Brown não parece ter qualquer base na história real dos fatos. Além disso os evangelhos não dizem nada sobre Jesus ser casado, uma informação vital que teria sido escrita nos livros sagrados com absoluta certeza. Como não há nada sobre isso tudo o que restam são puras especulações vazias.

6. Onde Jesus pregava? 
Jesus pregava ao ar livre, nas praias, nas ruas, nas casas, em qualquer lugar onde houvesse alguém disposto a ouvir sua mensagem. Foi um pregador do povo e para o povo. Não interessava muito a Jesus ensinar aos sacerdotes do templo, tão orgulhosos e cheios de si, arrogantes ao extremo, considerando-se melhores do que o resto do povo. Jesus procurava os pobres, os excluídos, os miseráveis para levar sua palavra divina. Foi um homem livre, que ia e vinha de acordo com sua vontade, espalhando a mensagem de Deus a quem quisesse ouvir.

7. Como era a personalidade de Jesus?
Retratado muitas vezes com um olhar austero em quadros e pinturas, tudo leva a crer que na vida real Jesus era uma pessoa extremamente agradável, simpática, paciente e bastante comunicativa, afinal de contas ele veio ao mundo para falar sobre Deus e sua graça. Assim é bem deixar de lado a imagem de um Jesus sisudo e com cara de poucos amigos. Jesus era um homem do povo, interagia com todos, ria, participava de festas, casamentos, sempre conversando e sendo amigável com todos. Sua simpatia acabou sendo usada como arma contra ele por certos acusadores. Só para você ter uma ideia de seu jeito de ser.

8. O que Jesus pregou sobre a homossexualidade?
Não há no evangelho nenhuma palavra de Jesus sobre a questão. É curioso, mas nenhum dos evangelistas registrou qualquer palavra ou pensamento de Jesus sobre os homossexuais. Não que eles não existissem na época de Jesus, pelo contrário, havia muitos, porém realmente sobre isso os textos dos evangelhos simplesmente silenciam completamente. Se Jesus algum dia de sua vida pregou sobre o tema isso se perdeu completamente nas areias do tempo.

9. Jesus esteve na Índia?
Uma velha lenda afirma que Jesus teria viajado até a Índia nos chamados anos obscuros de sua vida (onde os evangelhos silenciam completamente sobre sua vida). Existem, é verdade, vários supostos locais onde Jesus teria vivido, em distantes reinos indianos, porém como sempre nada foi provado efetivamente. Existe inclusive um suposto túmulo atribuído a Ele numa distante província indiana. Segundo a lenda local ele teria ido viver seus últimos anos de vida lá, após ser crucificado e ressuscitado. Tudo não passa realmente de lenda.

10. Para a teologia cristã Jesus é filho de Deus ou o próprio Deus?
Essa foi uma questão teológica que durou séculos até que finalmente autoridades da Igreja Católica determinaram que Jesus era o próprio Deus encarnado entre os homens. Esse fundamento de fé foi seguido pelos evangélicos que também defendem que Jesus não era apenas o filho de Deus, mas sim o próprio Deus entre a humanidade. Essa é uma visão teológica seguida por todo o cristianismo tradicional, porém não por todas as religiões. O espiritismo, por exemplo, não defende Jesus como o divino, mas apenas como um espírito evoluído.

Pablo Aluísio.

Os Judeus e o Catolicismo

A fé judaica não crê que Jesus Cristo foi o Messias enviado por Deus. Para os judeus Jesus não era em absoluto o Messias e nem tampouco o próprio Deus encarnado na Terra. No máximo Jesus apenas poderia ser encarado, do ponto de vista histórico, como um jovem rabi muito inteligente que tinha uma visão bem diferente e pessoal dos dogmas da religião judaica. Nada mais do que isso. Eles não acreditam nos milagres de Jesus, em suas pregações e nem em seu caráter divino. Os judeus possuem seus próprios dogmas, crenças e ritos religiosos, apesar do Velho Testamento ser uma obra em comum com os cristãos. Durante séculos a Igreja Católica precisou lidar com essa diferença religiosa entre cristãos e judeus. Sendo o próprio Jesus um judeu que viveu no século I e pregou para o povo judeu na Terra Santa, essa diferença de posição religiosa sempre deixou intrigados historiadores e teólogos ao longo dos séculos. O próprio Cristo no Novo Testamento deixou pistas sobre essa questão numa de suas parábolas onde procurou demonstrar que sua missão não seria acreditada por seu próprio povo. Em uma das passagens um judeu pergunta incrédulo: "Não é esse o filho do carpinteiro, filho de José e Maria?".

O Papa Francisco e a Comissão Pontifícia para as Relações Religiosas do Vaticano divulgou recentemente um documento sobre as relações entre a Igreja Católica e o Judaísmo histórico. De acordo com o texto os católicos sempre serão chamados para testemunharem sua fé em Jesus Cristo para todas as pessoas, incluindo os judeus, porém a Igreja não realizará e nem apoiará qualquer iniciativa institucional voltada para a conversão de povos judeus. Uma maneira de respeitar a fé alheia. Como os judeus serão salvos por Deus, mesmo não acreditando em Jesus Cristo, seguirá sendo um mistério divino insondável, segundo a reflexão sincera desse documento católico. De acordo com os doutores e mestres do catolicismo a aliança entre Deus e o povo judeu jamais foi quebrada pois Esse sempre será fiel às suas promessas. O judeu que reconhecer Jesus o fará por sua própria e livre iniciativa, seguindo sua vontade.

O que deve ser sempre celebrado é o diálogo entre católicos e judeus que já dura séculos, sem qualquer incidente histórico mais grave. A tolerância religiosa e o respeito são as chaves para essa boa convivência, algo que vem sendo reforçado diplomaticamente desde sempre, com especial reforço no Concílio Vaticano II. O documento afirma explicitamente que isso não é um "ensinamento doutrinal da Igreja Católica", mas uma reflexão com base na doutrina e que flui diretamente da declaração expressa do próprio concílio denominada "Nostra Aetate" sobre as relações católicas com outras religiões. Nesse mesmo texto fica claro que a Igreja Católica condena de forma veemente todas as formas de anti-semitismo, em especial de ideologias políticas extremistas de ódio como infelizmente aconteceu com o Nazismo durante a II Guerra Mundial.

Não se pode ignorar que as raízes do cristianismo são judaicas. Não se pode compreender inteiramente os ensinamentos de Jesus Cristo sem situá-lo dentro da cultura e da religião judaica do século I. O cristianismo tem como bases históricas a própria vida de Jesus, sua vida, ensinamentos, morte na cruz e ressurreição. A vida de Jesus e sua crença tem um elo de ligação profunda com a religião dos judeus. A vinda do Messias, sua salvação e a redenção que traria ao mundo e à humanidade foi prevista por profetas judeus que tiveram suas palavras, atos e gestos, imortalizados no Velho Testamento que nada mais é do que a Torá dos Judeus. Embora a religião judaica não acredite no Jesus Messias, Ele fez parte dessa longa tradição religiosa que atravessou os milênios.

Os primeiros cristãos, os apóstolos que caminharam ao lado de Jesus, se consideravam judeus e frequentavam as sinagogas da antiga Israel. Lá conviviam ao lado de judeus tradicionais e trocavam ideias e crenças com eles. A ruptura doutrinária e conceitual entre cristianismo e judaísmo só se daria de forma definitiva, segundo historiadores, no século III ou IV, quando o cristianismo se espalhou de forma incontrolável na Europa sob domínio do Império Romano. Nessa nova terra o cristianismo cresceu e rompeu suas raízes com o judaísmo. Ao invés de ser considerada apenas uma pequena seita dentro do próprio judaísmo, a crença no Cristo começou a ser encarado como uma nova religião, baseado inteiramente nos ensinamentos de Jesus. O interessante é que em determinado momento histórico o Cristianismo ia contra as crenças da religião do império romano, o paganismo com suas várias divindades, e também representava uma ruptura com o próprio judaísmo que lhe deu origem. Mesmo assim a crença cresceu e acabou superando enormemente o número de seguidores do judaísmo no mundo, levando em consequência também à extinção a própria religião romana. Mesmo combatida no mundo das ideias e reprimida violentamente pelo Estado Romano, o Cristianismo cresceu e dominou as mentes e corações das pessoas da antiguidade.

Durante a Idade Média houve inúmeros problemas envolvendo cristãos e judeus. A diferença de crenças levou ao aumento do anti-semitismo na Europa. As cruzadas também colocaram de forma muito próxima os cristãos e o povo judeu, naquela altura sendo dominado por califados islâmicos. Embora os cruzados lutassem contra os muçulmanos, nem sempre ocorreram alianças pacíficas entre líderes da religião judaica e cavaleiros templários. Talvez por essa razão Judeus foram perseguidos e seus bens confiscados em todo o mundo. Muitos se converteram ao cristianismo por pura pressão, se denominando de novos cristãos (mesmo que continuassem a cultivar seus rituais judeus em suas casas, de forma privada). A Igreja porém com os séculos se posicionou contra qualquer tipo de violência contra comunidades judaicas, dando origem com o tempo às liberdades religiosas expressas em inúmeras constituições que temos nos dias atuais. Hoje prevalece nos países ocidentais mais civilizados a plena liberdade de culto e crença, com ampla garantia de se seguir qualquer religião, nisso incluídas todas as formas de crença judaica. O passado ficou definitivamente para trás.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de agosto de 2011

O Grande Milagre de Jesus de Nazaré

Ao longo de sua existência terrena Jesus de Nazaré realizou inúmeros milagres. Muitos deles - porém não todos - estão devidamente descritos nos evangelhos. São milagres maravilhosos, dignos do Deus encarnado na Terra para viver entre os homens. Em minha visão o maior milagre de Jesus de Nazaré é de fato o milagre histórico. Jesus nasceu humilde em uma província distante dos grandes centros urbanos, em um lugar remoto do mundo antigo dominado pelo Império Romano. Socialmente falando ele era um homem pobre em riquezas materiais, não tinha parentes importantes e nem ligações com as altas autoridades do império. Exercia uma profissão humilde e digna, a de carpinteiro, e pertencia realmente a classe mais popular, ao povo a que veio amar. Jesus de Nazaré realmente viveu no seio de seu povo amado.

Preso injustamente, foi morto e crucificado por Roma, com apoio das autoridades religiosas judaicas da região de Jerusalém. A crucificação era uma das execuções mais violentas e infamantes daqueles tempos por si só tão brutais. Os romanos geralmente crucificavam apenas os autores de crimes bárbaros, aqueles que conspiravam contra o poder do imperador ou então assassinos, ladrões e piratas. Jesus, o Deus feito homem, morreu da forma mais vil e desrespeitosa. Mesmo com aparentemente tudo contra, o nome Jesus Cristo é o mais celebrado da história humana. É o homem mais estudado, reverenciado e amado de todos os tempos. Mesmo sob a ótica de um ateu é complicado entender como Jesus, mesmo após dois mil anos de sua morte numa cruz romana, segue sendo tão importante para a maioria dos seres humanos. Simplesmente não há como negar que há um sopro divino em sua perenidade histórica.

Veja, mesmo que você seja um historiador isento, imparcial e não religioso, não há como negar a importância de Jesus na história humana. Não existe qualquer exemplo paralelo sequer assemelhado ao que aconteceu com Jesus. Ele é um caso único e singular do ponto de vista histórico. Seu nome tinha tudo para desaparecer nas areias do tempo. Se Jesus Cristo fosse um homem comum sua passagem pela Terra já teria sido esquecida. Se ele fosse um judeu como tantos outros do século I sequer saberíamos que um dia ele pisou em nosso mundo ou existiu. Assim não existe maior prova de sua divindade do que a própria ciência da história. Jesus resistiu a tudo e a todos. Ao longo desses dois mil anos centenas de milhares de pessoas (hoje praticamente todas anônimas) tentaram desmerecer seu legado, seus ensinamentos e sua história de vida. Não foram poucos os que disseram que ele havia sido apenas uma ficção criada por escritores ou que teria sido apenas um farsante, um profeta messiânico como tantos outros que existiam naqueles tempos remotos. Todos esses detratores foram esquecidos, sumiram com o passar dos tempos, enquanto que Jesus jamais foi esquecido.

O fato inegável é que Jesus resistiu. Algo extraordinário aconteceu naqueles dias após suas crucificação, um fato que levou seus seguidores a seguirem em frente com extrema coragem, com a certeza que seguiriam os passos de seu mestre que teria ressuscitado dos mortos, vencendo assim a própria morte na cruz. Muitos ateus afirmam que a ressurreição jamais aconteceu. Que o corpo de Jesus teria sido roubado por seus seguidores. Se isso é verdade porque a maioria deles aceitou com tranquilidade e paz de espírito suas próprias mortes violentas? Pedro, Paulo e praticamente todos os apóstolos que andaram com Jesus tiveram mortes horrendas, mas nenhum deles demonstrou qualquer sinal de medo, covardia ou arrependimento na hora final. Morreram com a graça de Deus enchendo seus corações, certos que iriam finalmente reencontrar seu querido mestre. Fecho esse singelo texto lembrando que o exemplo dos primeiros cristãos, dos mártires que morreram nas arenas romanas, devorados por leões famintos, é o maior testemunho não apenas da existência real de Jesus como também da força de seu espírito santo. Afinal de contas Jesus sempre foi e sempre será a vida eterna prometida na paz de Deus.

Pablo Aluísio.

O Nascimento de Jesus (Evangelho Segundo Lucas)

Anúncio do nascimento de Jesus
Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,  a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi. A virgem se chamava Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegrate, cheia de graça! - O Senhor está contigo”. Ela perturbou-se com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse: “Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus. Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a descendência de Jacó, e o seu reino não terá fim”. Maria, então, perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?” O anjo respondeu: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível”. Maria disse: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E o anjo retirou-se de junto dela.

Nascimento de Jesus. Os pastores
Naqueles dias, saiu um decreto do imperador Augusto mandando fazer o recenseamento de toda a terra – o primeiro recenseamento, feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade. Também José, que era da família e da descendência de Davi, subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Quando estavam ali, chegou o tempo do parto. Ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

Havia naquela região pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor lhes apareceu, e a glória do Senhor os envolveu de luz. Os pastores ficaram com muito medo. O anjo então lhes disse: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura”. De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste cantando a Deus: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado!”  Quando os anjos se afastaram deles, para o céu, os pastores disseram uns aos outros: “Vamos a Belém, para ver o que aconteceu, segundo o Senhor nos comunicou.

Foram, pois, às pressas a Belém e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura. Quando o viram, contaram as palavras que lhes tinham sido ditas a respeito do menino. Todos os que ouviram os pastores ficavam admirados com aquilo que contavam. Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração. Os pastores retiraram-se, louvando e glorificando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, de acordo com o que lhes tinha sido dito.

Circuncisão e apresentação. Volta para Nazaré
No oitavo dia, quando o menino devia ser circuncidado, deram-lhe o nome de Jesus, como fora chamado pelo anjo antes de ser concebido no ventre da mãe. E quando se completaram os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”. Para tanto, deviam oferecer em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, como está escrito na Lei do Senhor. Ora, em Jerusalém vivia um homem piedoso e justo, chamado Simeão, que esperava a consolação de Israel. O Espírito do Senhor estava com ele.

Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Ungido do Senhor. Movido pelo Espírito, foi ao templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao templo para cumprirem as disposições da Lei, Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo: “Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo”. O pai e a mãe ficavam admirados com aquilo que diziam do menino. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: “Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição – uma espada traspassará a tua alma! – e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações”.

Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era de idade avançada. Quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo; dia e noite servia a Deus com jejuns e orações. Naquela hora, Ana chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Depois de cumprirem tudo conforme a Lei do Senhor, eles voltaram para Nazaré, sua cidade, na Galiléia. O menino foi crescendo, ficando forte e cheio de sabedoria. A graça de Deus estava com ele.

Fonte; Bíblia Sagrada - Novo Testamento.