sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Sob a Pele do Lobo

Título no Brasil: Sob a Pele do Lobo
Título Original: Bajo la piel de lobo
Ano de Lançamento: 2017
País: Espanha
Estúdio: Crea SGR
Direção: Samu Fuentes
Roteiro: Samu Fuentes
Elenco: Mario Casas, Irene Escolar, Ruth Díaz, Kandido Uranga, Josean Bengoetxea, Armando Aguirre

Sinopse:
Um caçador de lobos e animais selvagens, que vive numa cabana no alto de uma montanha gelada, aceita a oferta do pai de uma mulher viúva que praticamente a vende para que ela seja sua mulher. Só que ela não dura muito no meio selvagem. Assim ele acaba fazendo outro negócio com o velho homem, levando dessa vez para sua casa sua filha mais jovem, a caçula. 

Comentários:
Esse filme é mais profundo do que muita gente pode pensar. Sim, o protagonista é um tipo rude, bruto, visceral. Ele precisa ser assim para sobreviver no meio em que vive. Entretanto o que temos aqui é quase um painel sociológico da própria existência do homem no meio ambiente hostil. Vivendo entre lobos, mais cedo ou mais tarde, o homem também se tornará um lobo. Obviamente muita coisa chocará nesse enredo. O homem que "compra" não apenas uma, mas duas esposas, do mesmo pai que as vende. A nada sutil forma de explorar sexualmente as mulheres, as tratando como objetos. A falta de comunicação entre homem e mulher retratado nos diálogos quase inexistentes no filme. E é claro, o isolamento do meio natural, onde o homem vira bicho rapidamente. No fundo, no fundo, é um olhar social sobre o homem e o meio onde ele vive. É uma história de certa maneira banal e igualmente visceral, tal como a existência humana desde os seus primórdios. 

Pablo Aluísio.

Terror nas Profundezas

Título no Brasil: Terror nas Profundezas
Título Original: Deep Fear
Ano de Lançamento: 2023
País: Reino Unido
Estúdio: Netflix
Direção: Marcus Adams
Roteiro: Robert Capelli Jr, Sophia Eptamenitis
Elenco: Mãdãlina Ghenea, Ed Westwick, Macarena Gómez, Masgueirto Bolonha, Alice Gomez

Sinopse:
Uma jovem navegando em um veleiro em uma região que vai ser atingida por forte tempestade, ajuda duas pessoas em alto-mar cuja embarcação naufragou. Apesar da boa vontade e humanidade ela se dá mal. As pessoas são traficantes de drogas que logo a tornam refém. Ela terá que mergulhar para trazer a droga de volta. O problema é que há um grande tubarão branco nadando por ali. 

Comentários:
Não gostei desse filme e as razões são muitas. De todos os subgêneros cinematográficos, provavelmente (com alta dose de certeza nessa afirmação) os filmes de tubarões devem ser os mais saturados que existem. E nem estou falando daquelas tralhas que passam em canais como Space e SYFY. Estou me referindo até mesmo a produções médias, em que se tenta disfarçar ainda a apelação, se apoiando em um roteiro minimamente decente. E verdade seja dita, embora o tubarão desse filme faça seu lanchinho diário, o fato é que ele nem é o principal "personagem" em cena. No quadro geral, apesar de ter feito relativo sucesso na Netflix, esse é um filme no estilo mais do mesmo. Pode até entreter os menos exigentes. Para quem tem anos de cinefilia, vai soar bem cansativo e chato mesmo. Melhor rever o clássico de Spielberg, aquele pelo menos foi o original. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Passagem para a Índia

Título no Brasil: Passagem para a Índia
Título Original: A Passage to India
Ano de Lançamento: 1984
País: Estados Unidos
Estúdio: EMI Films
Direção: David Lean
Roteiro: David Lean
Elenco: Alec Guinness, James Fox, Judy Davis, Peggy Ashcroft, Victor Banerjee, Nigel Havers

Sinopse:
Na era colonial, onde a Índia não passava de uma colônia do império britânico, um evento e um suposto crime abalam as estruturas daquela sociedade, colocando em polos opostos figuras importantes, tanto do lado inglês, como do lado indiano. Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor atriz coadjuvante (Peggy Ashcroft) e melhor trilha sonora original (Maurice Jarre). 

Comentários:
David Lean não foi um diretor de cinema qualquer. Ele foi um dos grandes cineastas autorais da história da sétima arte. E esse, infelizmente, foi seu último filme. Nem preciso dizer que é outra obra-prima em uma filmografia realmente inigualável. Lean fazia cinema para quem amava cinema. Essa é uma das informações básicas que você precisa entender. E aqui seu grande cinema voltou a brilhar. Um filme que tem seu próprio ritmo e que de maneira sutil criticava a sociedade colonial inglesa, com todas as suas contradições, incoerências e também ambiguidades. Um retrato nada sutil daquela geração britânica que sustentou um sistema colonialista e exploratório que se estendia em praticamente todos os continentes do globo. E tudo isso emoldurado em uma boa e também trágica história para se  contar na tela grande. Enfim, uma despedida à altura daquele que pode ser considerado um dos grandes diretores de nossa época. 

Pablo Aluísio.

Golpe Baixo

Título no Brasil: Golpe Baixo
Título Original: The Longest Yard
Ano de Lançamento: 1974
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Robert Aldrich
Roteiro: Tracy Keenan Wynn, Albert S. Ruddy
Elenco: Burt Reynolds, Eddie Albert, Ed Lauter, Michael Conrad, James Hampton, Harry Caesar

Sinopse
Um popular e excelente jogador de futebol americano acaba indo parar na prisão estadual. Uma vez lá, decide entrar para o time dos prisioneiros, o que muda a rotina da penitenciária e também a forma como a mídia lida com essa questão. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor Edição (Michael Luciano). 

Comentários:
Esse filme foi lançado em uma época em que o Burt Reynolds era considerado um verdadeiro astro em Hollywood. Ele era apontado pelo público feminino como o mais másculo e viril galã do cinema americano! E os produtores, sabendo disso, apelavam, colocando Burt sem camisa e em poses provocantes em praticamente todos os posters de seus filmes! De qualquer forma, o fato é que essa é uma boa película em sua filmografia. Tem boa história, bom ritmo e principalmente uma edição de primeira, que inclusive foi indicada ao Oscar. Não fez muito sucesso no Brasil porque o público brasileiro nunca gostou de filmes com futebol americano, mesmo que no caso aqui esse fosse um detalhe meio secundário. Já na televisão o filme virou um campeão de reprises, principalmente na Sessão da Tarde, em plenos anos 80. Enfim, um bom passatempo, nada demais, mas que acabou rendendo um remake anos depois. Quem diria... 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Tensão em Montana

Título no Brasil: Tensão em Montana
Título Original: Terror on the Prairie
Ano de Lançamento: 2022
País: Estados Unidos
Estúdio: Voltage Pictures
Direção: Michael Polish
Roteiro: Josiah Nelson
Elenco: Gina Carano, Nick Searcy, Donald Cerrone

Sinopse:
Nos tempos do velho oeste, uma jovem mãe fica sozinha em seu rancho com seus filhos, todos crianças ainda. O pai foi para a cidade mais próxima comprar mantimentos. Para infortúnio completo dela uma quadrilha de bandidos a cavalo chega em sua propriedade rural e agora ela terá que defender sua família com todos os meios possíveis. 

Comentários:
Gostei muito desse filme e não apenas por quase sempre gostar de filmes de faroeste. O fato é que esse roteiro mostra que mesmo uma ideia que já fez parte de filmes anteriores, inclusive alguns clássicos do western, pode ser reciclada, melhorada e aprimorada para os dias atuais. No começo o espectador pensa que aqueles bandoleiros são bandidos aleatórios que chegam no rancho para roubar. Não haveria nada de especial naquela propriedade, a não ser o azar do acaso. Só que isso logo se mostra equivocado, pois os criminosos possuem um passado sangrento com seu marido e eles querem vingança a todo custo. É o velho tema, tão caro ao western, de que o passado um dia volta para acertar as contas. Felizmente, no caso dessa produção, tudo é muito bem desenvolvido. E pensar que essa companhia cinematográfica é especializada em filmes de terror. Fizeram um belo faroeste agora. Que venham outros nesse estilo, os fãs do gênero agradecem. 

Pablo Aluísio.

Turbulência

Título no Brasil: Turbulência
Título Original: Turbulence
Ano de Lançamento: 1997
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Robert Butler
Roteiro: Jonathan Brett
Elenco: Ray Liotta, Lauren Holly, Brendan Gleeson

Sinopse:
Durante um voo comercial, onde também estão viajando prisioneiros perigosos, um deles consegue se soltar e passa a aterrorizar passageiros e tripulação. Caberá a uma comissária de bordo tentar reverter a situação, fazendo com que o avião finalmente venha a pousar em segurança. 

Comentários:
Tentativa tardia de tentar reviver o sucesso da velha franquia "Aeroporto" que havia feito tanto sucesso nos anos 60 e 70. Como esse filme foi produzido nos anos 90 houve uma turbinada na produção, levando o roteiro a história toda para o lado da ação. Esses exageros acabaram estragando o filme que até começa bem promissor, mas que logo cai na vala comum dos filmes desse estilo na época. O elenco é bom, embora eu tenha que reconhecer que o quase sempre correto Ray Liotta acaba caindo na caricatura na pele de seu personagem, um serial killer insano. De bom mesmo sobra as cenas do avião no ar, que são bem realizadas. O filme foi uma produção cara, com orçamento de 55 milhões de dólares. Infelizmente mesmo com todas tentativas de ser um produto comercial acabou fracassando nas bilheterias de cinema. O público parecia mesmo cansado desse tipo de enredo. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 21 de novembro de 2023

Arquivos: Marilyn Monroe

Marilyn Monroe: Uma última longa conversa com uma garota solitária. Apenas algumas semanas antes de sua morte, Marilyn Monroe conversou longamente com o editor associado da LIFE, Richard Meryman, sobre os efeitos da fama em sua vida. Sua história foi publicada na edição de 3 de agosto. Aqui ele se lembra de como era Marilyn enquanto conversava com ele.

Se Marilyn Monroe ficou feliz em ver você, o "olá" dela soará em sua mente por toda a sua vida - o calor ofegante da ênfase no "lo", seus olhos profundos voltados para você e seu rosto radiantemente enrugado em um sorriso maravilhosamente infantil.

Experimentei isso pela primeira vez quando, depois de duas reuniões de conhecimento em Nova York, fui, no final da tarde, há várias semanas, à casa dela em Brentwood, Califórnia, para iniciar uma série de conversas sobre fama. Esperando uma das famosas esperas por Marilyn, sentei-me no carpete macio da sala e comecei a me esforçar para configurar meu gravador. De repente, percebi um par de calças amarelas brilhantes ao meu lado. De calça comprida estava Marilyn, observando-me em silêncio com um sorriso solícito, muito ereta e esbelta, com ombros delicadamente estreitos. Ela parecia mais baixa do que eu lembrava e estava espetacular em uma blusa larga. Levantei-me e nos cumprimentamos e ela disse: "Você quer meu gravador? Comprei um para tocar poemas de uma amiga minha."

Antes de iniciar o que seria uma conversa de pelo menos seis horas, ela queria me mostrar sua casa, que ela havia pesquisado e comprado pessoalmente. Descrevendo-o anteriormente, ela exclamou: "...e tem paredes." Ela recusou ao LIFE qualquer foto disso, dizendo: "Não quero que todos vejam exatamente onde eu moro, como é meu sofá ou minha lareira. Você conhece o livro Everyman? Bem, eu quero ficar apenas no fantasia de Everyman."

Era uma pequena casa de três quartos construída em estilo mexicano, a primeira casa inteiramente sua que ela já teve. Ela exultou com isso. Numa viagem especial ao México, ela procurou cuidadosamente em barracas de beira de estrada, em lojas e até em fábricas, para encontrar as coisas certas para colocar ali. Os itens grandes não haviam chegado - nem ela jamais os veria instalados. Enquanto ela me conduzia pelos cômodos, vazios e improvisados, como se alguém morasse ali apenas temporariamente, ela descreveu com entusiasmo amoroso cada sofá, mesa e cômoda, onde eles iriam e o que havia de especial neles. As poucas pequenas coisas mexicanas - um candelabro de lata, bancos dobráveis engenhosamente esculpidos em peças únicas de madeira, uma mesa de centro forrada de couro, azulejos nas paredes da cozinha - revelavam seu gosto impetuoso e encantador. Separado da casa, anexo à garagem para dois carros, havia um grande cômodo sendo convertido em apartamento que seria, explicou ela, "um lugar para qualquer amigo meu que esteja com algum tipo de problema, você sabe, e talvez eles vão querer viver aqui, onde não serão incomodados até que tudo esteja bem para eles."
De volta à casa, observei a profusão de flores lá fora. Seu rosto ficou brilhante e ela disse: “Não sei por que, mas sempre fui capaz de fazer qualquer coisa crescer”. Ela continuou: "Quando eu era casada com o Sr. Miller, comemoramos o Hanukkah e senti, bem, também deveríamos ter uma árvore de Natal. Mas não suportava a ideia de sair e cortar uma árvore de Natal."

Na sala de estar, sentados em uma cadeira e sofá indefinidos, continuamos conversando — depois que Marilyn se serviu de uma taça de champanhe. A cada pergunta ela fazia uma pausa pensativa. “Estou tentando encontrar a cabeça do prego, não apenas desferir o golpe”, disse ela. Então respirava fundo e seus pensamentos desabavam, palavras ofegantes caindo sobre palavras ofegantes. Uma vez ela disse: "Basicamente, uma maneira de lidar com a fama é com honestidade e estou falando sério, e a outra maneira de lidar com isso quando algo acontece - como coisas aconteceram recentemente, e outras coisas aconteceram comigo, de repente, meu Deus , as coisas que eles tentam fazer com você são difíceis de aceitar - eu lido com silêncio."

Suas inflexões vieram como reviravoltas surpreendentes e cada emoção estava em plena bravura, representada com gestos exuberantes. Em seu rosto brilhavam raiva, melancolia, bravata, ternura, tristeza, alto humor e profunda tristeza. E cada ideia geralmente terminava com uma mudança surpreendente de pensamento, com a risada dela se transformando em um guincho delicioso. “Acho que sempre tive um pouco de humor”, disse Marilyn. "Acho que às vezes as pessoas simplesmente questionam: 'ela sabe o que está dizendo', e às vezes você de repente pensa em outra coisa e não quis dizer exatamente. Estou apontando para mim. Eu não digerir as coisas com a mente. Se eu fizesse, a coisa toda não funcionaria. Então eu seria apenas uma espécie de intelectual e não estou interessado nisso. "

Nesse ponto comecei a perceber que Marilyn não fazia nada pela metade. Sobre seus milhões de fãs, ela disse: "O mínimo que posso é dar a eles o melhor que podem obter de mim. Qual é a vantagem de inspirar na próxima respiração se tudo o que você faz é soltar o ar e inspirar outra?" Pude também ver como era importante para ela sentir que a pessoa com quem conversava "entendeu".

Compreender aparentemente significava ser muito solidário, ficar do lado dela em tudo, reconhecer as nuances de seus significados e valorizar tudo o que ela valorizava, principalmente as pequenas coisas. Quando demonstrei entusiasmo genuíno pela casa dela, ela disse: "Bom, tenho certeza de que vou me dar bem com qualquer pessoa que goste da minha casa."
Mas eu tinha a sensação constante e desconfortável de que meu status com ela era precário, que se eu me tornasse um pouco descuidado, ela poderia de repente decidir que eu, como muitos outros que ela achava que a haviam decepcionado, não entendia. Uma vez eu perguntei a ela como ela "se preparou" para fazer uma cena. Fui instantaneamente confrontado por uma indignação real: "Eu não aciono nada. Não sou um Modelo T. Acho que é meio desrespeitoso referir-me a isso dessa forma."

Mas eu não conseguia ficar impaciente com a impaciência dela. Foi tudo tão compreensível quando ela falou sobre as pessoas que escreveram colunas e histórias sobre ela: "Eles andam por aí e perguntam principalmente aos seus inimigos. Os amigos sempre dizem: 'Vamos verificar se está tudo bem com ela'". ela acrescentou melancolicamente: "Sabe, a maioria das pessoas realmente não me conhece." Havia tristeza em seus olhos quando ela descreveu como uma vez encontrou seu enteado Bobby Miller escondendo uma revista contendo um artigo sinistro sobre ela, e como Joe DiMaggio Jr.

"Você sabe, ha, ha, sua madrasta é Marilyn Monroe, ha, ha, ha. Todo esse tipo de coisa." E havia saudade na sua voz enquanto ela voltava repetidamente às “crianças, aos idosos e aos trabalhadores” como uma fonte de calor na sua vida, como as pessoas inofensivas que a tratavam naturalmente, que ela podia conhecer espontaneamente. Senti uma onda de proteção por ela; um desejo - talvez do tipo que foi a raiz da ternura do público por Marilyn - de mantê-la longe de qualquer coisa feia e dolorosa.

Antes de eu sair naquela noite, ela pediu que lhe enviassem uma transcrição da entrevista. “Muitas vezes acordo durante a noite”, explicou ela, “e gosto de ter algo em que pensar”.

Quando cheguei na tarde seguinte para uma segunda sessão, ela imediatamente pediu para adiar a nossa conversa. Ela estava cansada, disse ela, das negociações com a 20th Century Fox sobre a retomada de Something's Got To Give. Mas ela hospitaleiramente me ofereceu uma bebida e conversamos. Ela estava obviamente chateada. Mas não havia nenhum indício de desespero taciturno. Ela ficou eletrizada de indignação e começou a falar com raiva sobre como os estúdios tratam suas estrelas. Então ela fez uma pausa, disse que precisava de algo para ajudar a superar o cansaço e pegou uma taça de champanhe. Perguntei se ela já desejou ser mais durona. Ela respondeu: "Sim - mas não acho que seria muito feminino ser durona. Acho que vou me contentar com o que sou."
Fomos interrompidos quando o médico dela chegou. Marilyn foi até a cozinha, voltou com uma pequena ampola e, segurando-a para mim, disse: "Não brinca, eles estão me obrigando a tomar injeções no fígado. Aqui, vou provar isso para você." A essa altura ela estava disposta a continuar conversando, e já era quase meia-noite quando Marilyn deu um pulo e anunciou que iria colocar um bife na grelha. Ela voltou para dizer que não havia bife nem comida alguma. Antes de eu partir, uma das últimas coisas que ela disse foi: "Com a fama, você sabe, você pode ler sobre si mesmo, as idéias de outra pessoa sobre você, mas o que é importante é como você se sente sobre si mesmo - para sobreviver e viver o dia a dia com o que surge."

No fim de semana, Marilyn estava programada para posar para fotos, então sugeri que tomássemos o café da manhã antes do compromisso do meio-dia. Ela concordou e cheguei no sábado às 10. Toquei a campainha várias vezes. Nenhuma resposta. Mas pela janela pude ver um homem sentado em sua pequena varanda envidraçada, lendo uma revista com a paciência entediada de alguém que estava ali há muito tempo. Esperei e liguei por cerca de 10 minutos, depois afastei-me por uma hora. Às 11 horas meu telefone foi atendido pela governanta de Marilyn, a Sra. Murray, que me levou para esperar em um quarto de hóspedes perto de um pequeno corredor do quarto de Marilyn. Ao meio-dia, a Sra. Murray levou uma bandeja com o café da manhã para ela. Pouco depois, Marilyn apareceu e disse olá.

Tornei-me então uma testemunha do lendário processo de Marilyn se preparando para um compromisso - e chegando quatro horas atrasada. O cavalheiro paciente era seu cabeleireiro, Sr. Kenneth. Enquanto ele cuidava dela e ela ficava sentada embaixo da secadora, pude ouvir risadas estrondosas. Depois, com seus rolinhos, ela fazia pequenas tarefas descalças pela casa e entrava e saía do quarto, fazia telefonemas, me visitava para perguntar se eu estava confortável, toda ocupada, agitada, sem fazer nada. Não houve nada daquele medo e desânimo diante dos espelhos de que tanto tinha ouvido falar. Ela estava totalmente alegre e totalmente desorganizada. Não pude deixar de sentir que o que algumas pessoas atribuíam ao medo do palco poderia ser, em parte, sua dívida interminável com o tempo. A mecânica necessária da vida diária estava além do seu alcance; ela sempre começava atrás e nunca a alcançava.

Finalmente ela estava quase pronta e entrou cambaleante na sala onde eu estava sentado. Ela usava salto alto, calça laranja, sutiã e segurava descuidadamente uma blusa laranja sobre o peito. "Eu pareço uma abóbora com essa roupa?" ela perguntou. Ela parecia maravilhosa. "Você colocará a indústria da moda à frente em 10 anos." Eu disse. Ela ficou muito satisfeita e respondeu: "Você acha? Ótimo!"

Dois dias depois, liguei para Marilyn para outro encontro para conversar sobre a versão final de sua história. Ela disse: “Venha a qualquer hora, tipo, você sabe, para o café da manhã”. Havia em sua voz um tom que eu já havia reconhecido: uma vontade atraente de agradar. Voltei às 10 e mais uma vez ela dormiu até meio-dia. Finalmente nos sentamos juntos em um sofá minúsculo. Ela estava descalça, vestindo um roupão e ainda não havia lavado o rímel da noite anterior. Seu cabelo delicado estava em um redemoinho de sono. Mas ela me fez sentir que isso era um elogio. "Amigos", ela disse, "aceitam você do jeito que você é." Como sempre, seu rosto estava muito pálido. Ela segurou o manuscrito bem diante dos olhos e leu-o cuidadosamente em voz alta, ouvindo cada frase para ter certeza de que soava exatamente como ela.

Ela guardou o manuscrito e voltei para buscá-lo no final da tarde. Na escadaria da casa ela me mostrou as alterações que havia feito a lápis, todas pequenas. Ela me pediu para fazer um comentário sobre dar dinheiro discretamente a pessoas necessitadas. E então nos despedimos. Enquanto eu me afastava, ela de repente me chamou: "Ei, obrigada." Virei-me para olhar para trás e lá estava ela, muito imóvel e estranhamente desamparada. Pensei então na reação dela antes, quando perguntei se muitos amigos haviam telefonado para se reunir quando ela foi demitida pela Fox. Houve silêncio e, sentada muito ereta, com os olhos arregalados e magoados, ela respondeu com um minúsculo “Não”.

Fonte: Life

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Nosso Amor de Ontem

Título no Brasil: Nosso Amor de Ontem
Título Original: The Way We Were
Ano de Lançamento: 1973
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Sydney Pollack
Roteiro: Arthur Laurents, Francis Ford Coppola
Elenco: Robert Redford, Barbra Streisand, Bradford Dillman, Patrick O'Neal, Murray Hamilton, Diana Ewing

Sinopse:
Dois jovens se conhecem na universidade e no começo não se dão muito bem. Ela é uma universitária ativista, muito ligada em política, enquanto ele é um cara bonitão, atleta e ligado em esportes. Ainda assim após um tempo começam a namorar. E depois de alguns anos na marinha ele retorna, tempos depois, para tentar reconstruir aquele belo relacionamento. 

Comentários:
Um filme romântico com aquele estilo dos velhos tempos. A publicidade dessa produção na época se baseou muito na união, pela primeira vez no cinema, de Robert Redford e Barbra Streisand, Duas pessoas bem diferentes. Ela era a preferida da crítica, representante jovem da classe artística judaica de Nova Iorque em Hollywood. Redford era o golden boy da indústria, um galã muito popular, o representante máximo do estilo dos antigos galãs made in USA. Curiosamente, embora tão diferentes em estilos, funcionaram perfeitamente no filme. Há química real nesse casal em cada cena. A trilha sonora também é muito boa, obviamente tendo a música tema do filme sendo cantada pela própria Barbra Streisand. Alguns dizem que o filme ficou com um estilo um pouco pesado demais, um dramalhão romântico um pouco fora do tom. Não penso assim. Assisti e apreciei o estilo do filme, sem dúvida um belo momento nas carreiras dessas duas grandes estrelas da história do cinema norte-americano. 

Pablo Aluísio.

domingo, 19 de novembro de 2023

A Profanação dos Reis da França

A Profanação dos Reis da França
Uma das histórias mais terríveis da Revolução Francesa se deu na chamada profanação dos Reis da França. Em um momento em que o radicalismo e o fanatismo tomavam conta dos revolucionários franceses, decidiu-se que não deveria se deixar pedra sobre pedra em relação à monarquia francesa, ao antigo regime. Era necessário não apenas matar o rei Luís XVI e a Rainha Maria Antonieta, mas também apagar para sempre da história os nomes dos reis e rainhas do passado. Nem a memória e nem o respeito aos mortos, aos corpos do reis dos séculos anteriores, deveriam ser mantidos. A ordem era acabar com tudo, de forma violenta e definitiva! Assim uma turba ensandecida marchou em direção à milenar Basílica de Saint-Denis. Ali aconteceria atos de vandalismo e desrespeito ímpares na história da Europa. 

Durante séculos os reis e suas rainhas tinham sido sepultados naquela grandiosa catedral cristã. Só que os revolucionários, tomados por ódio e ressentimento, decidiram que os reis e as rainhas tinham que ser tirados violentamente de suas tumbas para um ato final de vandalismo sem precedentes. Eles começaram a destruir os seus túmulos, puxando os corpos de reis e rainhas para destrui-los sem dó e nem piedade. Um momento de barbarismo sem limites. Além disso não podemos ignorar que muitos daqueles revolucionários queriam mesmo era roubar as jóias e objetos valiosos com que esses monarcas tinham sido enterrados. Em última análise eram todos ladrões e saqueadores de tumbas reais. 

Eles violaram túmulos de grandes nomes da história como o do primeiro rei da França, Clovis I, o homem que havia expulsado os invasores romanos do solo francês. Roubaram sua valiosa coroa que havia sido enterrada com ele, roubaram seus anéis e até mesmo o cetro real dourado, uma peça histórica extremamente importante, de um valor histórico imensurável, feita de puro ouro. E quando esses objetos foram roubados houve também brigas para saber quem iria ficar de posse dessas valiosas peças. Agindo como abutres, os revolucionários transforam o ambiente da catedral em puro caos de violência e crime. Não havia maior prova de sua sordidez do que brigar por itens roubados que não lhes pertenciam.

Todos os túmulos reais foram profanados em apenas uma tarde. Quando abriram o caixão do rei sol, Luís XIV, tiveram uma grande surpresa. O famoso monarca tinha o corpo perfeitamente preservado. Um homem alto em vida, sua postura no túmulo era tão nobre que os revolucionários ficaram alguns minutos apenas olhando para aquele lendário rei da França, em um silêncio até mesmo respeitoso. Mesmo morto, Luís XIV mantinha seu porte e pose reais de nobreza. Só depois de um tempo é que um dos ladrões da multidão decidiu profanar o corpo do rei, abrindo sua barriga com uma espada, tirando de lá seus restos mortais para depois colocá-los em sua boca. Depois cortaram a cabeça de Luís, o Rei Sol, sob aplausos e gritos de todos os presentes. E também roubaram tudo o que havia de valor dentro de seu caixão! Era atroz a situação!

Reis medievais tiveram suas espadas e armaduras roubadas após destroçarem seus corpos. Rainhas sofreram atos de desrespeito de natureza sexual. A barbaridade não tinha limites. A farra insana porém acabou quando abriram o caixão do Rei Luís XV. Seu corpo entrou em putrefação líquida imediatamente após entrar em contato de novo com o oxigênio do ar. O corpo real se desmanchou em um chorume cadavérico de cor esverdeada! O cheiro fétido foi tão forte que os revolucionários tiveram que sair por alguns minutos de dentro da catedral. Até parecia que o penúltimo rei francês tentava, mesmo após sua morte, expulsar todos aqueles profanadores das tumbas reais. Infelizmente não havia como parar aquelas pessoas. Todos os túmulos foram violados e todos os bens foram roubados, até mesmo as roupas e mortalhas com tecidos finos que alguns reis tinham sido enterrados. Nada sobreviveu ao assalto daquela multidão enlouquecida de ódio. 

Depois os restos mortais dos reis e rainhas, agora completamente destroçados, foram jogados em um terreno baldio pantanoso perto da catedral. Alia jazia no meio da água podre os restos de algumas das figuras históricas mais importantes da história da França e da Europa. Tudo foi jogado no lixo, literalmente. Anos depois a monarquia francesa seria restaurada por um breve período. Os restos mortais que conseguiram resgatar foram retirados do pântano e colocados em dois grandes baús que foram levados de volta para a Basílica de Saint-Denis. Atualmente há um projeto de se catalogar através de exames de DNA os reis e rainhas francesas, para colocá-los de volta em suas tumbas originais, mas até hoje isso nunca foi feito. Seria um resgate histórico de respeito a todos esses monarcas. De qualquer forma fica o mal exemplo da brutalidade e insanidade que pode tomar conta de pessoas simplesmente alucinadas por ideologias políticas. O respeito pela passado histórico precisa ficar acima desse tipo de fanatismo ensandecido.

Pablo Aluísio. 

Imperador Romano Galba

Imperador Romano Galba 
Sérvio Sulpício Galba foi o imperador que sucedeu a Nero após sua morte violenta no ano de 68 da era comum. Esse imperador não tinha laços de parentesco com Júlio César. Por essa razão a partir de sua subida ao poder o termo César ganhou ares de título imperial, não tendo qualquer ligação mais com os descendentes do verdadeiro César. Apesar de não ser da família de César o fato é que Galba era de uma das famílias nobres mais ricas e tradicionais de Roma. Um verdadeiro nobre de sangue. Ele havia mostrado seu valor como homem público em diversos cargos que havia desempenhado ao longo de sua vida nos reinados de Calígula, Cláudio e Nero. Era considerado um homem sério, leal e de valor aristocrático. Também era inteligente e de certa maneira misericordioso até contra seus inimigos. 

Além de ser um homem público dos mais respeitados no império romano, Galba também havia sido general do exército romano. Ele não participou das conspirações para matar Nero, mas tampouco lutou contra os planos de seu assassinato. Antes da morte do insano imperador, Galba havia interceptado uma carta em que Nero mandava um legionário assassiná-lo, por essa razão recebeu a notícia da morte de Nero como um alívio e como um livramento dos deuses, pois sua vida haveria de ser poupada daquele assassino louco. 

De uma forma ou outra, Galba acabou sendo escolhido como o novo imperador pelas legiões após a morte de Nero. Ele havia sido general, tinha vasta experiência como administrador de províncias romanas e era um homem de linhagem nobre. Realmente poucos estavam à sua altura nesses quesitos. Era o homem ideal para ser o novo imperador. Quando Nero foi morto, Galba ocupava o posto de governador da hispânia (atual Espanha), um cargo de muito prestígio em Roma. Ele inicialmente relutou em ser o novo imperador, mas com receio de que houvesse anarquia e mortes em massa em Roma, decidiu aceitar o cargo de imperador. 

Galba poderia ter sido um dos melhores imperadores da história se não fosse por um detalhe: Ele estava muito idoso quando se tornou imperador. Mal conseguia andar por causa da velhice, sofria de artrite nas mãos e segundo algumas pesquisas de historiadores provavelmente sofria do Mal de Parkinson. Ele tinha tremores nas mãos e andava amparado por três homens de sua guarda pessoal. Já não enxergava direito e nem ouvia bem e sua fragilidade era algo perigoso para alguém que ocupava o posto máximo do Império. 

Além disso Galba começou a ter muitos atritos com generais do exército romano. Muitas vezes era duro demais com os militares, despejando ofensas pessoais pesadas sobre generais poderosos. Um deles, chamado Otão, decidiu que não iria ser ofendido mais por Galba. Ele promoveu uma armadilha para o idoso imperador. Ele foi convidado a ir até um lugar remoto nas cercanias de Roma. Chegando lá, viu a sua guarda pretoriana ir embora. Sabia que havia caído numa armadilha mortal. Velho e debilitado, não poderia resistir e nem lutar contra os assassinos contratados por Otão. Acabou sendo morto a punhaladas. Depois teve sua cabeça cortada, colocada em uma lança. Era o fim trágico de mais um imperador romano morto por suas próprias tropas imperiais.  E depois de sua morte um período de caos se apoderou dentro do maior império de sua era. 

Pablo Aluísio.