quinta-feira, 7 de julho de 2022

Assassino Sem Rastro

Esse bom filme traz o ator Liam Neeson interpretando um assassino profissional. Ele já está com uma determinada idade e pensa em se aposentar, principalmente depois que começam a surgir os primeiros sinais do mal de Alzheimer, uma doença que já atingiu seu irmão que se encontra praticamente em estado vegetal em um hospital. Depois de fazer um execução no México, ele retorna aos Estados Unidos com um novo "serviço". Na cidade de El Passo no Texas ele precisa eliminar alguns alvos e no meio do serviço descobre que uma das pessoas a serem mortas é uma garota de 13 anos de idade, uma Imigrante ilegal mexicana, praticamente uma criança. Algo que para ele é inconcebível. Assim deixa ela viva. De assassino profissional para um cartel do México ele passa a ser o novo foco a ser apagado e aí precisa sobreviver sendo perseguido não apenas pelos criminosos, mas também pelo FBI e por uma polícia estadual do Texas altamente corrompida, cheia de policiais corruptos.

Não se pode dizer que Liam Neeson não seja um trabalhador padrão no mundo do cinema, atualmente acredito que seja o ator que mais lança filmes ao ano em Hollywood. Quem acompanhar sua carreira pode ficar tranquilo pois esse aqui é um bom filme policial com roteiro bem escrito, excelente trama e um bom desenvolvimento e desfecho da história. O realismo vai surpreender muita gente, principalmente no clímax do filme, onde vai se discutir que forma subliminar as falhas no sistema jurídico norte americano. O elenco é muito bom, além de Liam Neeson, temos Guy Pearce como um honesto agente do FBI e uma Vilã interpretada pela bela Monica Bellucci, dando vida a uma personagem interessante, uma magnata do ramo de imóveis envolvida no mundo do crime organizado. Filme muito bem produzido e dirigido, realmente acima da média, sendo um dos melhores de Liam Neeson nesses últimos anos. Recomendo sem restrições.

Assassino Sem Rastro (Memory, Estados Unidos, 2022) Direção: Martin Campbell / Roteiro: Dario Scardapane / Elenco: Liam Neeson, Guy Pearce, Monica Bellucci / Sinopse: Assassino profissional passa a ser alvo de um violento cartel do México após se recusar a eliminar uma garota de 13 anos. Além dos criminosos, ele precisa também escapar do FBI e de uma polícia estadual do Texas cheia de policiais corruptos e comprados por uma rica e poderosa empresária de El Passo.

Pablo Aluísio. 

Bullitt

Bullitt (Steve McQueen) é um policial de San Francisco que não trabalha necessariamente seguindo as regras do departamento de polícia da cidade. Quando ele entende que é necessário agir fora da linha, ele nem pensa duas vezes e vai em frente, muitas vezes fazendo justiça pelas próprias mãos, o que o faz sempre ficar na berlinda, respondendo a algum processo disciplinar ou então ficar em vias de ser expulso da corporação. E então ele é designado para proteger uma importante testemunha em uma rede de conspirações envolvendo até mesmo figurões do senado. Muitos querem essa testemunha morta. Bullit vai precisar protegê-la de todas as formas. E ele vai enfrentar criminosos fortemente armados e perigosos, verdadeiros profissionais do mundo do crime, nessa nova missão.

O filme se notabilizou por diversos fatores, entre eles a boa cena de perseguição pelas ruas de San Francisco que de tanto ser imitada hoje em dia vai parecer clichê para os cinéfilos. Outros ainda apontam para o fato de que esse foi sem dúvida um dos primeiros filmes policiais que abraçaram um realismo mais cru, mais visceral. O próprio Bullitt passa longe de ser um policial perfeitinho como era comum no cinema da época. Enfim, um filme importante dentro da história do cinema e uma pequena obra-prima do gênero.

Bullitt (Bullitt, Estados Unidos, 1968) Direção: Peter Yates / Roteiro: Alan Trustman / Elenco: Steve McQueen, Jacqueline Bisset, Robert Vaughn / Sinopse: Policial linha dura de San Francisco precisa proteger a testemunha de um importante caso envolvendo organizações criminosas e figurões do senado americano.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 6 de julho de 2022

Post Mortem

A história do filme se passa no ano de 1919. Um fotógrafo especializado em tirar fotos de pessoas mortas, vai parar em uma pequena Vila no interior da Hungria onde houve um surto de gripe espanhola. Como muitas pessoas morreram por causa dessa doença nessa região, ele tem a ideia obviamente de ganhar bastante dinheiro fotografando os entes queridos que partiram. Naqueles tempos havia esse mórbido costume de se fotografar as pessoas após a morte. Só que ele acaba se deparando com estranhos fenômenos paranormais, sombras que atacam pessoas nas madrugadas da Vila. Os estranhos eventos acabam despertando sua curiosidade, só que ele, nesse processo, também termina se descuidando, subestimando os perigos inerentes a esse tipo de fenômeno. 

Temos aqui o típico caso de um filme de terror que começa bem, mas que logo se perde na condução da narrativa. O roteiro apresenta um problema que tem se tornado recorrente em filmes de terror da atualidade, que é o mau uso do suspense que acaba decepcionando quem assiste ao filme. Não demora nada para que o surgimento das tais criaturas da sombras se banalize completamente. O que era para ser deixado para ser usado pelo roteiro em um clímax, acaba virando situações comuns ao longo do filme. Com isso o interesse nos acontecimentos acaba se diluindo rapidamente. O filme que não se sustenta, se perde ao narrar sua história que tinha potencial, mas que foi completamente dispersada. Saldo final negativo. 

Post Mortem - Fotos do Além (Post Mortem, Hungria, 2020) Direção: Péter Bergendy / Roteiro: Péter Bergendy / Elenco: Viktor Klem, Fruzsina Hais, Judit Schell / Sinopse: Uma Vila no interior da Hungria passa a ser infestada pelo surgimento de estranhos seres de origem paranormal.

Pablo Aluísio.

Musa

Um professor universitário está em um momento muito bom de sua vida, sendo admirado por seus alunos e colhendo os frutos do sucesso de um livro lançado. Seu erro porém acontece quando ele se envolve como uma de suas alunas. A garota que parece ter algum tipo de descontrole emocional acaba cortando seus pulsos na banheira de seu amante, justamente o professor que está tendo um caso com ela. Claro que isso tudo cria um problema sério para ele pois sua vida vira pelo avesso. Pior do que isso, ele passa a ter pesadelos com cenas de crimes reais, o que o leva para uma situação de puro desespero. Esse filme espanhol de terror e suspense vem para confirmar que a Espanha se tornou mesmo um polo de produção de filmes desse gênero cinematográfico. De certa forma o filme é mais um a receber a grife que já se tornou o conjunto do filmes de terror produzidos pelo cinema espanhol nesses últimos anos.

Esse filme foi dirigido pelo cineasta Jaume Balagueró, responsável pela franquia de sucesso [Rec]. Aqueles filmes são de certa forma meio que descerebrados, com personagens zumbis. Esse aqui é bem melhor, com tratamento mais inteligente da história. O roteiro investe em uma situação mais bem elaborada, inclusive lidando com temas literários, como a lenda das 7 musas. Curioso como roteiro usa este tipo de temática, colocando as musas inspiradores dos poetas como figuras sinistras do além, algo que definitivamente eu nunca havia visto em nenhum outro filme de terror. Pela originalidade o filme se constrói e se justifica. Saldo final positivo.

Musa (Muse, Espanha, 2017) Direção: Jaume Balagueró / Roteiro: Jaume Balagueró / Elenco: Elliot Cowan, Franka Potente, Ana Ularu / Sinopse: Professor universitário se envolve em uma trama Sobrenatural. E por trás de todos esses acontecimentos parece haver uma ligação com a antiga lenda das 7 musas, tão conhecida no mundo da literatura.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 5 de julho de 2022

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 2

O rancho de cavalos do pai de John Wayne não deu certo e rapidamente foi a falência. O lugar era muito seco, sem fonte de água por perto, o que tornava tudo muito difícil. A região no sul da Califórnia era tão seca como o nordeste brasileiro. Com muitas dívidas em bancos e sem perspectiva de um futuro melhor, seu pai vendeu tudo e a família se mudou para Los Angeles, em busca de trabalho.

Nessa época John Wayne já estava saindo da adolescência, o que significava que ele estava prestes a entrar na universidade. Esse era seu velho sonho, não apenas por causa dos estudos em si, mas pelas oportunidades de bolsas dentro do universo do futebol americano universitário. Wayne valorizava demais os esportes e era considerado um bom jogador. Ele estava de olho em um futuro na liga profissional de futebol.

E de fato ele acabou sendo admitido na universidade por causa de seus talentos em campo. Wayne não era muito bom em leituras, mas sabia jogar uma bola de futebol como poucos. Alto, com poder atlético privilegiado, ele via ali uma oportunidade. Seu porte físico também abriu uma porta em um ramo de trabalho que ele jamais imaginaria: o cinema. Durante um intervalo nas aulas da universidade um amigo comentou com ele que um estúdio de cinema ali perto pagava bem por figuração. Atores de porte atlético eram contratados para aparecer em filmes de cowboys por um bom cachê. Dinheiro fácil e rápido.

O Jovem John Wayne foi então com seu amigo em busca desse trabalho. Mal ele sabia que nunca mais deixaria de trabalhar no cinema, se tornando no futuro um dos astros mais populares da sétima arte. A primeira vez que Wayne pisou em um estúdio de cinema foi em 1926, ainda nos tempos do cinema mudo. Ele conseguiu um trabalho de figuração no filme "Mocidade Esportiva", onde acabou interpretando um jogador de futebol da universidade de Yale. Foi uma experiência bem positiva, mas John queria mesmo era fazer um western. Naquele tempo o grande astro de Hollywood dos faroestes era Tom Mix. O astro do western usava chapéus enormes e um figurino todo branco. Era uma figura bem impressionante. Se espelhando nele o jovem John Wayne logo comprou um grande chapéu de cowboy, só que negro. Ele estava pronto para aparecer em seu primeiro faroeste na sua ainda recém iniciada carreira nas telas.

Pablo Aluísio. 

Audie Murphy e o Western - Parte 1

Audie Murphy foi um dos grandes ídolos dos filmes de western durante as décadas de 1940, 1950 e 1960. Ele não fazia o tipo forte e alto dos grandes cowboys do cinema, era até baixinho para os padrões, como pouco mais de 1.70m de altura, porém nada disso o impediu de ser uma das figuras mais populares do gênero naqueles anos. Os filmes de Murphy eram extremamente lucrativos pois a maioria deles não passavam de produções B exibidas em matinês. Os roteiros eram simples e raramente os elencos traziam alguma estrela além dele. Como se explicaria então o segredo do sucesso de um sujeito que parecia ter tudo contra ele? Não era alto, nem forte e nem muito menos particularmente bonitão como um Randolph Scott.

O segredo de Murphy vinha de sua vida pessoal, de sua história antes de virar astro de filmes de faroeste. Nascido em uma família de classe média baixa do Texas, nada parecia muito promissor em sua vida. Ele não se destacou nos estudos e nem nos esportes, porém quando os Estados Unidos entraram na II Guerra Mundial, Murphy viu uma oportunidade, não de ser um herói, mas sim de ter um trabalho e quem sabe uma carreira militar promissora. Assim Murphy entrou para o exército, servindo durante dois anos nos campos de batalha da Europa. Ele lutou com sua companhia nos fronts da França e Bélgica e lá acabou fazendo sua fama. Acontece que Murphy acabou sendo o soldado mais condecorado do Exército americano, uma honraria que lhe abriu muitas portas quando retornou do maior conflito armado da história.

Ora, o que era mais adequado para um estúdio de cinema do que ter um herói de verdade estrelando seus filmes? Foi justamente isso que pensaram os principais estúdios de cinema de Hollywood. Como nunca havia atuado numa tela antes os produtores foram pacientes. Era preciso que Audie pegasse certa experiência antes de estrelar seus próprios filmes. Sua primeira aparição se deu curiosamente em um filme romântico chamado "Viver Sonhando" de 1948. Estrelado por Guy Madison não havia muito o que o próprio Audie Murphy pudesse fazer em cena. Seu personagem, completamente secundário, não chamou a atenção de ninguém, mas serviu para que os produtores fizessem um teste com ele. Afinal nem sempre a câmera aceitava muito bem novatos. Com sorte Murphy acabou sendo aprovado no teste.

Assim seu primeiro filme de verdade só viria depois, "Código de Honra", um autêntico filme de guerra, um cenário onde ele parecia completamente à vontade. Alan Ladd era o astro do filme e Murphy interpretava um jovem cadete chamado Thomas. Com muitas personagens não havia mesmo como se destacar no meio de tantos militares, mas o estúdio soube muito bem aproveitar sua presença, chamando a atenção da imprensa para o fato de que Audie havia sido o mais condecorado soldado da guerra. Isso lhe trouxe grande publicidade pessoal, a ponto de se destacar nas matérias dos jornais que cobriam o lançamento do filme. Dizem até que o ator Alan Ladd ficou enciumado da extrema atenção criada por Murphy, afinal ele era a grande estrela da produção e não Murphy.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 4 de julho de 2022

As vidas de Marilyn Monroe - Parte 22

Uma das pessoas mais importantes na vida de Marilyn Monroe foi Johnny Hyde. Ele era um figurão de Hollywood, um sujeito muito rico que ficou perdidamente apaixonado pela atriz. Quando Hyde colocou os olhos pela primeira vez em Marilyn ela realmente não era ainda ninguém dentro da indústria. Apenas uma das centenas de  de aspirantes a atriz tentando arranjar algum trabalho dentro dos estúdios de cinema. Certamente era uma garota bonita, ainda bastante jovem, mas como ela havia muitas outras. Hyde era um sujeito muito mais velho do que ela, mas isso não importou pois foi amor à primeira vista. Ele ficou apaixonado como um adolescente na época escolar. Uma paixão devastadora!

Quando conheceu Marilyn, Hyde perdeu o juízo. Resolveu se separar da esposa, abandonou sua família e resolveu se dedicar de corpo e alma a Marilyn. Ela tinha muito a ganhar com esse relacionamento, mas sempre foi muito honesta com Hyde. Desde o começo deixou claro que não o amava como ele a amava. Não havia reciprocidade. Marilyn também jamais quis enganar Hyde dando a ele falsas esperanças. Mesmo assim, implorando por migalhas emocionais, Hyde resolveu apostar tudo o que tinha em Marilyn. Usou todo o seu poder financeiro e prestígio pessoal para conseguir papéis para a jovem atriz. Ele não escondia que era apaixonado por ela a ninguém. Com muito esforço conseguiu que John Huston escalasse Marilyn para seu novo filme que iria se chamar "O Segredo das Jóias". Foi a primeira vitória de Hyde em sua cruzada para transformar Marilyn em uma estrela de Hollywood.

Só havia mais um problema para Hyde, além do pouco retorno que Marilyn lhe dava em termos de afeição e amor: ele estava com um sério problema de coração. Os médicos lhe diziam que ele teria poucos meses de vida pela frente. Isso deixou um estado ainda maior de emergência em seu plano de ajudar Marilyn de todas as formas possíveis. Tão estafado ficou que acabou sofrendo uma parada cardíaca. Foi internado às pressas e só escapou da morte por causa do atendimento de emergência dos médicos que o atenderam. O pior porém veio depois. Marilyn não o visitou no hospital apesar dos inúmeros pedidos e ligações de Hyde para que ela o fosse visitar em seu leito. Quando encontrou com a professora de atuação de Marilyn, Natasha Lytess, desabafou: "Natasha, por que Marilyn não vem me visitar? O que está acontecendo? Eu fiz tudo por ela até hoje! Pode haver mulher mais ingrata do que Marilyn? Estou decepcionado... decepcionado..."

Mesmo com o apelo, Marilyn não foi ao hospital. Quando decidiu que finalmente iria lhe visitar aconteceu o pior: o coração de Hyde não resistiu e ele faleceu durante a madrugada. A morte de Hyde abalou Marilyn seriamente, principalmente pelas circunstâncias que ocorreram. Muitos a culparam por ele ter largado sua esposa e filhos e tudo mais. Marilyn ficou mal. Em seu enterro ela foi aconselhada por seu empresário para que não fosse ao funeral, porque a ex-esposa de Hyde e seus filhos estariam presentes, mas ela não ouviu os conselhos e compareceu ao último adeus de Hyde. Poucos dias depois resolveu se matar, tomando um monte de comprimidos. Quem a salvou da morte foi sua colega de quarto, uma starlet alemã com quem ela dividia o apartamento. Foi a primeira de muitas tentativas de suicídio de Marilyn... O detalhe mais preocupante porém vinha do fato de que Marilyn não tinha nem 25 anos de idade nesse momento em que decidiu acabar com sua própria vida! A tempestade estava apenas começando...

Pablo Aluísio.

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 22

Da geração de talentosos atores jovens surgidos na década de 1950, três se destacaram, tanto em termos de público como de crítica: Marlon Brando, James Dean e Montgomery Clift. Assim que surgiram logo chamaram a atenção. Era considerado o trio rebelde máximo do cinema americano. Brando não tinha muita consideração para com James Dean. Em certos aspectos apenas o considerava como um imitador. Quando se encontraram pessoalmente Brando deixou isso bem claro a Dean, dizendo: "Pare de me imitar! Encontre seu próprio caminho!". Apesar de magoado, James Dean parece ter seguido seu conselho, começando a partir daí a criar um estilo pessoal que não mais apenas seguisse o jeito de ser de seu ídolo na época, Marlon Brando.

Com o tempo James Dean foi se distanciando da enorme influência que Brando havia exercido sobre o seu jeito de atuar. O próprio Brando reconheceu isso em seu livro de memórias. Ele escreveu: "James Dean queria minha aprovação. Queria que eu convalidasse o que ele estava fazendo. No começo me pareceu apenas que ele queria me imitar. Depois começou a seguir uma linha própria. Ele acabou se tornando um bom ator. Infelizmente morreu cedo demais para desenvolver todo o seu talento!". Ao longo daqueles anos ambos se encontraram casualmente em festas em Hollywood. Brando não se sentia à vontade na presença de James Dean, o considerando um sujeito instável, nervoso e ansioso demais para se estar ao lado. De certa forma Marlon Brando não admirava Dean e nem tampouco o queria por perto. Brando acreditava que depois de alguns anos eles provavelmente criariam algum tipo de amizade sincera, mas não houve tempo para isso. James Dean se espatifou em um acidente de carro muito jovem ainda, com apenas 24 anos de idade!

Em relação a Montgomery Clift as suas impressões eram bem diferentes. Brando sabia que Clift era um ator maravilhoso, cheio de recursos dramáticos que ele próprio queria ter. Ao longo do tempo ambos sempre eram comparados pela imprensa americana. Isso foi criando uma rivalidade dentro da mente de Brando. Ele sempre queria superar Clift, seja qual fosse o filme em que atuasse. Além disso ficou muito envaidecido quando Clift declarou a um jornal de Los Angeles: "Marlon Brando é um dos maiores atores vivos. Ele consegue grandes interpretações, mesmo quando atua em filmes que não estão à sua altura. Ele faz muito, geralmente com material de segunda!". Ou seja, Clift disse que mesmo quando o filme era ruim a presença de Brando compensava tudo.

O curioso é que eles tinham os mesmos agentes, tanto em Nova Iorque como em Los Angeles, mas pouco se conheciam pessoalmente, se encontrando apenas em raras ocasiões. Quando Brando e Clift foram contratados para atuar no mesmo filme, "Os Deuses Vencidos", finalmente se encontraram face a face em um hotel de Paris. Ao se sentar com Clift à mesa durante o jantar, Brando deixou de lado seu estilo mais egocêntrico para confessar o que sentia em relação a ele e seu trabalho. Acabou dizendo para Monty o que havia guardado por anos ao dizer: "Venha cá, sente-se aqui perto, eu quero te confessar uma coisa. Eu adoro seu trabalho! Você é o único ator que procuro superar em Hollywood. Você é a minha pedra angular, aquele que tento me espelhar e superar! Sua atuação em "Um Lugar ao Sol" foi maravilhosa, a melhor que vi em muitos anos! Clift você é genial!".

Os elogios foram tão diretos que deixaram Montgomery Clift sem jeito. "Marlon... como poderia agradecer essas palavras?" - perguntou o ator que pessoalmente era bem tímido e modesto com seu trabalho. Curiosamente Brando acabou ficando extremamente entristecido ao perceber também que aquele grande ator estava aos poucos se auto destruindo com drogas e bebidas. Em pouco tempo Montgomery Clift morreria o que deixaria Brando desolado. "Ele foi um dos grandes que conheci em minha vida! Só que ele tinha também muitos problemas pessoais. Eu quis ajudar, assim como também quis ajudar minha mãe, que também tinha problemas com bebidas. Com os anos aprendi que ninguém pode salvar alguém de si mesmo!" - chegou Brando a confessar após a morte do colega que tanto admirava. Ele lamentaria até o fim de sua vida a morte precoce e sem sentido de Montgomery Clift. E no final de tudo o único sobrevivente daquele trio fantástico foi justamente o próprio Marlon Brando que teve a oportunidade de envelhecer, viver muitos anos e relembrar de todos eles em seu livro de memórias, publicado alguns anos antes de sua morte em julho de 2004.

Pablo Aluísio.

domingo, 3 de julho de 2022

Crônicas de um Cinéfilo - Parte 8

Em meus anos de formação de cinéfilo eu tive um ator preferido. Era Mickey Rourke. Nos anos 80 ele foi considerado o legítimo sucessor de Marlon Brando e James Dean. Era considerado um cara rebelde, barba por fazer, topete despenteado. E realmente o começo da carreira de Rourke foi fenomenal, só com grandes filmes! Um filmão atrás do outro. Hoje em dia, claro, ele tem uma outra imagem, é considerado um ator decadente, com várias bombas na carreira, mas essa não era a sua imagem nos anos 80.

Eu vi os primeiros filmes de Rourke na TV. Seu grande sucesso no Brasil havia sido "Nove Semanas e Meia de Amor" que ficou meses em cartaz em São Paulo. Era considerado um cut movie. Eu gostava desse filme, mas não o considerava uma obra-prima do ator. Melhores eram "O Selvagem da Motocicleta" e "O Ano do Dragão". Outros bons dramas dessa fase foram "Quando os Jovens se Tornam Adultos" e "Nos Calcanhares da Máfia". Filmes que vi na TV nos anos 80. Porém nenhum deles poderia se comparar ao filme maior de Rourke nos anos 80.

Estou falando de "Coração Satânico", a obra-prima dirigida por Alan Parker, com Mickey Rourke e Robert De Niro. O filme se passava nos anos 50. Rourke interpretava um detetive particular que ia atrás de um cantor de jazz há muitos anos desaparecido chamado Johnny Favorite. Esse filme é dos melhores que já vi em minha vida. Todo passado em New Orleans, uma cidade infestada de voodu e magia negra. Poderia ser definido como um filme de terror, com nuances de cinema noir, mas era muito mais do que isso!

Infelizmente depois do auge, a queda. Rourke quis voltar para o boxe. Ele acabou com o rosto deformado. Vieram cirurgias desastrosas. Ele que era considerado um dos bonitões do cinema perdeu seu visual. Nessa época de começo de queda ainda fez um bom filme pouco conhecido chamado "Homeboy". Outro excelente foi "Barfly". Só que os anos 80 acabaram e com eles a melhor fase da carreira de Mickey Rourke que um dia chegou a ser considerado o novo Marlon Brando!

Pablo Aluísio.

Beethoven e sua Amada Imortal

Quando Ludwig van Beethoven morreu, uma carta misteriosa, nunca enviada, foi encontrada entre seus pertences. Ela era endereçada para uma mulher que o compositor chamava de "Amada Imortal". Quem teria sido ela? Até hoje historiadores e biógrafos do gênio musical não sabem a resposta definitiva. É uma daquelas questões que apenas seu autor poderia explicar. A verdade foi ao túmulo e lá ficará pela eternidade.

O filme "Minha Amada Imortal" de 1994, por outro lado, tentou responder a essa pergunta. Revi nesse fim de semana por mera curiosidade. Estou lendo uma biografia de Beethoven e quis fazer uma comparação entre a literatura e o cinema. O que posso dizer é que essa produção dos anos 90, apesar de seu inegável bom gosto e elenco valoroso, com direito a palmas para Gary Oldman no papel principal, não conseguiu responder bem à essa questão. Em busca de um certo sensacionalismo romantizado se perdeu a chance de se fazer um novo "Amadeus".

O roteiro do filme foi baseado em um romance que nunca pretendeu ser historicamente preciso. O escritor Bernard Rose nunca quis responder com precisão histórica sobre a identidade da amada imortal do genial músico. Ele apenas especulou, deu asas à imaginação e mais do que isso, apostou numa daquelas reviravoltas para surpreender seu leitor. Em termos precisos o romance foi um pouco longe demais. Afinal o que poderia ser mais chocante do que descobrir que sua amada era na verdade a esposa de seu irmão, uma mulher que ele publicamente detestava e que teria levado ao tribunal por anos a fio em busca da guarda de seu sobrinho Karl?
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Pura especulação romanceada. E como se tudo isso ainda não bastasse Rose vai além, deixando claro que Karl na verdade não era sobrinho de Beethoven, mas sim seu filho. Claro, no filme essa questão ganha pontos no aspecto dramático, mas historicamente essa tese tem mesmo pés de barro. Muito provavelmente o grande amor de Beethoven tenha sido mesmo a condessa húngara Anna Marie Erdödy que no filme está muito bem interpretada pela atriz Isabella Rossellini. Essa sim teria sido sua companheira, amiga e amante. Ficando ao seu lado mesmo nos piores momentos quando ele ficou completamente surdo, sem conseguir ouvir nenhuma nota musical de suas obras inesquecíveis. Por isso assista ao filme com reservas. Entenda que aqui a reviravolta deve ser confinada aos efeitos puramente cinematográficos. "Minha Amada Imortal" é até um bom filme, mas a pura verdade é que jamais conseguiria se igualar ao verdadeiro Ludwig van Beethoven, um autêntico gênio monumental (e temperamental também, é bom frisar).

Pablo Aluísio.