sexta-feira, 20 de dezembro de 2019
O Matador
O personagem Jimmy Ringo interpretado por Gregory Peck é inspirado no famoso pistoleiro Johnny Ringo. Esse foi um dos mais famosos foras-da-lei do velho oeste. Sua história é bem conhecida por historiadores e especialistas no assunto. Ele era inimigo declarado do famoso xerife Wyatt Earp e seus irmãos, além de possuir uma grande rixa pessoal com o famoso Doc Holliday. De fato ambos se odiavam. Quase sempre se encontrando em esfumaçados saloons a dupla entrou em confronto várias vezes. Infelizmente o roteiro de “O Matador” esqueceu de citar Doc na história de Ringo, embora não tenha esquecido de colocar Wyatt Earp no enredo. Aliás é bom frisar que muita coisa ficou fora da produção, o que é compreensível, pois o filme não se propõe a ser uma biografia de Ringo, mas apenas ser um bom western psicológico – o que faz muito bem.
Na história real Ringo foi o principal suspeito da morte de Virgil Earp, irmão do famoso xerife. Algum tempo depois foi encontrado morto no deserto e sua morte até hoje é motivo de controvérsias. Algumas teorias afirmam que ele encontrou-se finalmente com Doc Holliday em uma última e decisiva vez e que teria sido morto em um duelo mortal contra o famoso pistoleiro, mas nada disso é mostrado no filme. Seu destino aliás toma outros rumos no roteiro dessa produção, de forma totalmente ficcional. O resultado final, apesar das omissões históricas propositais, é de alto nível. Até hoje “O Matador” é citado em livros e revistas especializadas sobre cinema e western, sendo considerado um dos grandes faroestes do cinema americano. Johnny Ringo apareceria em muitas outras ocasiões no cinema, geralmente retratado como vilão sanguinário. O que importa aqui é a forma como parte de sua história é contada. Impossível não recomendar “O Matador”, um filme obrigatório para quem gosta da história do oeste selvagem.
O Matador (The Gunfighter, Estados Unidos, 1950) Direção: Henry King / Roteiro: William Bowers, William Sellers / Elenco: Gregory Peck, Helen Westcott, Millard Mitchell, Karl Malden, Jean Parker, Skip Homeier / Sinopse: Jimmy Ringo (Gregory Peck) é um famoso pistoleiro no velho oeste que vai até uma pequena cidade para conhecer seu filho, um garoto de 8 anos que há muito tempo não vê. No caminho começa a ser perseguido por três irmãos de um dos cowboys que matou durante um duelo em um saloon. O confronto se mostra inevitável e tudo se torna apenas uma questão de tempo.
Pablo Aluísio.
Raça Brava
O elenco é liderado por James Stewart. Aqui ele prefere uma caracterização bem mais caricata pois seu personagem, um cowboy caipira, fala com forte sotaque. Stewart parece seguir o tom mais cômico do roteiro. A grande surpresa no elenco feminino vem com a dama Maureen O´Hara de tantos filmes clássicos. Preferida de grandes diretores como John Ford, Henry King e Alfred Hitchcock aqui ela tenta se adaptar a um tipo de produção diferente. A elegante atriz empresta muito glamour à sua personagem, uma britânica viúva que tenta a sorte no velho oeste. Na direção temos o também britânico Andrew V. McLaglen que iria nos anos seguintes iniciar uma produtiva parceria ao lado de um de seus atores preferidos, John Wayne. Em suma, “The Rare Breed” é um faroeste bucólico, levemente bem humorado, com muitas paisagens de cartão postal e um elenco carismático. Uma produção bonita e bem fotografada que vai interessar em especial os criadores de gado da raça Hereford.
Raça Brava (The Rare Breed, Estados Unidos, 1966) Direção: Andrew V Mclaglen / Roteiro. Ric Hardman / Elenco: James Stewart, Maureen O'Hara, Brian Keith, Juliet Mills, Don Galloway, Jack Elam, Ben Johnson / Sinopse: Martha Price (Maureen O'Hara) é uma viúva que ao lado de sua filha, Hilary (Juliet Mills), e do cowboy Sam Burnett (James Stewart) resolve partir para o distante Texas com o objetivo de implantar a criação de gado da raça Hereford na região. A iniciativa dela esbarra na mentalidade dos fazendeiros texanos que acham o animal inapropriado para criação por causa do clima hostil e inóspito.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
Os Gays de Hollywood
Em suas estórias poucos astros se salvam. A lista é longa: Rock Hudson, Errol Flynn, Cary Grant, Marlon Brando, Charles Laughton, Montgomery Clift, Katharine Hepburn, Spencer Tracy, Tyrone Power, Rita Hayworth, Mae West, Laurence Olivier, Vincent Price, Randolph Scott, Sal Mineo, Judy Garland e muitos outros. Bowers que está com 88 anos, diz que não queria levar todas essas picantes estórias que viveu para o túmulo e por isso agora. no final da vida, resolveu contar tudo, afinal a grande maioria dos astros já estão mortos. Alguns relatos são de primeira pessoa onde o autor afirma que vivenciou tudo, outros porém ele deixa claro que conhece apenas por “ouvir dizer”, até porque seria simplesmente impossível alguém ser próximo de tantos atores e atrizes ao mesmo tempo. Para gozar da intimidade da vida privada de tanta gente, Bowers teria que ser simplesmente o mais bem relacionado membro da comunidade em Hollywood naqueles anos e até mesmo ele sabe que ninguém acreditaria em tal coisa.
Do que afirma ter vivenciado realmente, um dos casos mais interessantes e chamativos é o que envolve a atriz Katharine Hepburn. Uma das profissionais mais premiadas da história, ela chamava a atenção por nunca ter se casado. Na boca miúda se dizia que tinha um caso escondido com Spencer Tracy, que era casado. Para Bowers tudo não passava de uma farsa. Ele afirma que Hepburn era lésbica e... voraz. Em seu texto o autor diz ter enviado a ela ao longo de vários anos mais de cem mulheres. O suposto romance proibido com Spencer Tracy era assim apenas uma desculpa para encobrir também a homossexualidade do veterano ator. Hepburn se vestia como homem, com ternos de longas ombreiras e não gostava da companhia de outras mulheres como amigas. Bowers vai mais longe e diz que ela tinha uma pele ruim e péssimos hábitos de higiene. Outro que não escapa das revelações de Bowers é o galã Tyrone Power. Embora gostasse também de mulheres (teve vários relacionamentos ao longo da vida com elas) Bowers diz que ele tinha mesmo era uma uma queda especial por jovens latinos, bem apessoados. Chegou a flertar com Rock Hudson, outro galã muito famoso da era de ouro do cinema americano, mas nunca tiveram um caso amoroso.
Por falar em Rock Hudson ele ocupa várias páginas do livro de Bowers. Esse era outro astro com grande apetite sexual. Geralmente dava festas só para rapazes em sua grande mansão nas colinas de Hollywood. Enchia a piscina de jovens aspirantes dispostos a tudo para ganhar um papel em algum de seus filmes. Seu fraco era por jovens loiros e altos, de preferência bronzeados de praia. Se tivessem bigode então cairiam no tipo perfeito na preferência de Hudson. Gostava de brincar dizendo que nem sabia o nome dos amantes, geralmente chamando os loiros de “Bruce” e os morenos de “Carl”. No fim da tarde todos iam para sua sauna particular onde aconteciam grandes orgias gays. Assim que se tornou o astro número 1 em popularidade em Hollywood o estúdio apressou-se em lhe casar com uma secretária de seu agente para encobrir sua homossexualidade, uma vez que sua fama de o “homem preferido da América” valia milhões de dólares. A coisa não deu certo e Rock se separou em pouco tempo voltando para sua rotina de devassidão sexual. Só assumiu publicamente que era gay em seus últimos dias. O ator estava morrendo de AIDS e a imprensa não o deixava em paz. Para dar um bom exemplo e chamar a atenção de todos para o perigo da nova doença, ele finalmente saiu do armário, após ter ficado quase cinquenta anos dentro dele.
Os grandes atores também não escapam. Montgomery Clift seria um gay enrustido e esnobe. James Dean um bissexual porcalhão que tinha problemas com doenças venéreas. Brando um sujeito confuso que gostava de tratar as mulheres como objeto enquanto se apaixonava por homens mais velhos. Nem o mito dos filmes de terror Vincent Price escapa. Para Bowers ele era um gay metido a grã fino que colecionava obras de artes e encontros homossexuais furtivos. Já Randolph Scott e Cary Grant formariam um dos casais gays mais famosos de Hollywood segundo Bowers. Morando juntos e promovendo grandes festas em sua mansão discreta e luxuosa nos arredores de Beverly Hills. No tocante a esse suposto romance encontramos vários problemas. Grant sabia que era alvo de fofocas há muito tempo e no final da vida processou um humorista que fez uma piada na TV sobre sua suposta sexualidade. Ele teve inúmeros casos amorosos com atrizes famosas e se casou várias vezes. Recentemente sua filha lançou um livro negando que seu pai era gay. Outro que saiu em defesa do pai foi o filho de Randolph Scott, Christopher, que também negou veemente em suas memórias que o eterno cowboy do cinema fosse gay. Scott foi casado muitos anos com a mesma mulher e tudo leva a crer que nada de fato aconteceu, apenas amizade no começo de carreira de ambos. As fofocas porém até hoje são conhecidas.
Hollywood se orgulhava de ser livre de preconceitos, cosmopolita e avançada. Mesmo quando alguma história de homossexualidade se tornava notória dentro da comunidade muito raramente chegava na imprensa sensacionalista. Não havia dentro dos estúdios uma penalização ou punição apenas pelo fato do ator ou atriz serem gays, apenas tinha-se um certo cuidado para que sua vida privada não chegasse ao público, prejudicando sua popularidade. Por isso arranjou-se um casamento para Rock Hudson. Dentro da Universal todos sabiam que ele era gay, mas nada era dito sobre isso fora dos portões do grande estúdio. O grande cineasta George Cukor também é alvo nas páginas de Bowers, mas parece ser um caso isolado de diretor gay. O fato porém é que nem todo mundo era gay em Hollywood, nem mesmo na mente de Bowers. Escapam de sua escrita atores que eram obviamente heterossexuais naqueles dias como Paul Newman, Tony Curtis, Charlton Heston, Elvis Presley, Steve McQueen, John Wayne (imaginem esse símbolo do machão do velho oeste como gay!), entre outros.
Os galãs sempre foram muito visados. Nos anos seguintes surgiram boatos de que Richard Gere, John Travolta e até mesmo Tom Cruise eram gays. Richard Gere ficava extremamente aborrecido com essas fofocas. Ele teve romances com modelos internacionais, mas nem isso apagou essa fama de homossexual. Irritado, mandou publicar uma nota em um grande jornal americano negando tudo. Seu ato pegou muito mal entre a comunidade LGBT americana. Parecia que ele se defendia de um crime que havia cometido. Foi um erro lamentável de sua parte. Já John Travolta foi apontado como um gay no armário logo que começou a fazer sucesso. Boatos circulavam no começo de sua carreira. Depois ele entrou para uma religião chamada Cientologia e se casou com a atriz Kelly Preston. Com isso as fofocas foram aos poucos desaparecendo.
Do lado das mulheres houve casos famosos também. Jodie Foster conviveu por anos e anos com fofocas de que seria lésbica. Ela nunca era vista com namorados em eventos sociais de Hollywood e sua vida privada era fechada a sete chaves. Atriz e diretora de talento, parecia obcecada em esconder suas preferências sexuais. Conforme a carreira foi ficando mais bem sucedida, mais a imprensa marrom corria atrás de algum escândalo, até que anos depois, cansada da perseguição da imprensa, decidiu assumir que era lésbica e que vivia há anos com uma mulher. Foi um alívio sair do armário. Já a apresentadora de TV Ellen DeGeneres não apenas assumiu seu caso com a atriz Anne Heche, como se tornou ativista da causa. Pena que no caso dela seu relacionamento não tenha durado muito. Anne Heche se separou dela e depois se apaixonou por um homem, casando com ele e tendo filhos. Mesmo assim DeGeneres continuou seu ativismo em prol dos direitos dos homossexuais.
A melhor atitude em relação a esse tema parece ter sido mesmo a do ator George Clooney. Solteirão convicto, ele não escapou das venenosa línguas de fofoqueiras de Hollywood. A imprensa marrom sempre insinuava que ele seria um gay enrustido dentro do armário. Por que não se casa? Por que não tem filhos? O que o impede de se casar? Cansado desse tipo de boato, o ator foi direto ao ponto. Perguntado por uma jornalista no tapete vermelho do Oscar o ator abriu o sorriso e disse: "Eu sou gay mesmo! Pode publicar aí no seu jornal". Claro, não era verdade, mas sim um ato de solidariedade com a comunidade gay, sempre perseguida por publicações escandalosas. No final vale a resposta de Mae West ao ser informada de que Rock Hudson era gay. Ela sorriu e disse: "Ele era gay? Sorte dos gays. Deixem essas pessoas ser felizes!".
Pablo Aluísio.
Hollywood vai à guerra!
Um dos maiores exemplos de patriotismo veio de James Stewart. Criado no interior, com fortes valores cívicos, Stewart resolveu se apresentar nas forças armadas como um cidadão comum, desprovido de qualquer privilégio. Para tanto acabou entrando nas fileiras de sua tropa como um simples militar da força aérea. Depois, aos poucos, foi subindo dentro da hierarquia militar. Sua boa postura acabou elevando o ator a uma posição de destaque. James Stewart participou de muitas operações e viu de perto algumas das principais batalhas da guerra. Quando deu baixa recebeu a honrosa patente de Coronel, pois havia se tornado piloto de bombardeiros americanos na Europa ocupada pelos nazistas. O curioso é que ele voltaria a interpretar esse mesmo papel em um conhecido filme de guerra chamado "Comando do Ar" que era praticamente uma versão para o cinema do que ele teria vivido durante seu serviço militar na Segunda Guerra Mundial.
Os diretores também entraram no esforço de guerra. Um dos mais famosos, John Ford, logo entrou no campo de documentação e filmagem do exército americano, participando dos registros de várias operações famosas, inclusive do Dia D, quando os países aliados finalmente invadiram a França ocupada por tropas nazistas. Enquanto as tropas aliadas desembarcavam nas praias da Normandia sob fogo pesado dos alemães, a equipe de Ford corajosamente filmava tudo, deixando importantes registros históricos reais do maior conflito da humanidade.
John Wayne já tinha passado da idade certa para prestar o serviço militar, mas participou da guerra vendendo bônus e fazendo publicidade das tropas americanas, em um vasto trabalho para levantar o moral dos soldados americanos no campo de batalha. Ele também decidiu deixar os filmes de western de lado para se engajar numa série de filmes de teor nacionalista a patriótico como os famosos "Tigres Voadores" e "Fomos os Sacrificados". E depois que a guerra acabou, John Wayne continuou a estrelar filmes que reverenciavam a bravura dos militares americanos, como um de seus maiores sucessos, "Iwo Jima - O Portal da Glória" que recriava uma das mais sangrentas lutas da guerra no Pacífico. Ainda hoje esse é considerado um dos maiores e melhores filmes de guerra já feitos por Hollywood.
Já o chamado trio rebelde de Hollywood conseguiu escapar da guerra. Marlon Brando não conseguiu ser habilitado para o serviço militar por ter o joelho destroçado em seus anos como jogador de futebol americano no colégio militar onde estudou. Jovem e na idade certa para servir à guerra, Brando foi dispensado e ficou em Nova Iorque para dar inicio a uma das carreiras mais marcantes da história do cinema. Outro que escapou do front foi o rebelde James Dean. Até hoje pairam dúvidas sobre a razão da dispensa de Dean das forças armadas, mas em biografias recentes o mistério foi desvendado. James Dean abriu o jogo para o agente de convocação e disse que era gay e que morava com um homem em um apartamento de Nova Iorque. A guerra já havia acabado e ele se viu livre do serviço militar. Diante de sua opção declarada logo foi descartado pelo exército americano.
Outro que escapou foi Montgomery Clift. Ele odiava guerras, era um pacifista de coração, mas isso por si não seria motivo para ser dispensado do serviço militar. Ele se apresentou nas fileiras e seguiu todos os procedimentos de alistamento. O que afinal salvou Clift da guerra foi seu corpo franzino e frágil, que foi considerado inadequado para o corpo de fuzileiros navais. Isso aliás não deixou de ser uma grande ironia pois anos mais tarde Clift faria dois grandes clássicos dos filmes de guerra, "A Um Passo da Eternidade" e "Os Deuses Vencidos" mostrando que nem sempre a vida realmente imitava a arte. Afinal se não foi um militar na vida real se tornou um excelente soldado das telas.
Frank Sinatra também enfrentou problemas semelhantes, mas no caso dele parece que sua fuga do exército foi proposital. O ator alegou que tinha problemas de saúde e usando de influência entre militares de alta patente conseguiu ser dispensado. A imprensa porém pegou no seu pé imediatamente. Com pavor de ser chamado de covarde ele começou a trabalhar em prol da venda de bônus de guerra. Já atrizes como Shirley Temple e Judy Garland se dedicaram a fazer shows para os soldados. Elas foram para a Europa e se apresentavam em campos para soldados que estavam na linha de frente do campo de batalha. Já Marilyn Monroe era apenas uma mocinha na época. Mesmo assim conseguiu colher frutos positivos em sua vida. Trabalhando como operária numa fábrica de aviões militares em Los Angeles sua beleza chamou a atenção de um fotógrafo que tirou algumas fotos dela em seu macacão de fábrica. As fotografias foram publicadas em grandes revistas de circulação nacional e isso deu o pontapé inicial em sua carreira de modelo. Em suma, a guerra mudou a vida de muitos astros e estrelas de Hollywood. Foi um acontecimento histórico que marcou toda uma geração.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 18 de dezembro de 2019
Lord Jim
Título Original: Lord Jim
Ano de Produção: 1965
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Columbia British Productions
Direção: Richard Brooks
Roteiro: Richard Brooks
Elenco: Peter O'Toole, James Mason, Curd Jürgens, Eli Wallach, Jack Hawkins. Paul Lukas
Sinopse:
Com roteiro baseado no romance escrito por Joseph Conrad, o filme narra as aventuras de um marinheiro britânico que após um ato de covardia decide se redimir, se tornando o líder amado de um grupo de nativos em uma região distante da civilização.
Comentários:
Não tão ousado como o livro que lhe deu origem, mas igualmente bom em termos de resultado artístico, essa adaptação para o cinema de "Lord Jim" segue sendo reconhecida pela crítica. O filme tem alguns trunfos, algumas cartas na manga que o redime de alguns erros de adaptação. Uma delas é o excelente elenco que contava com ninguém menos do que o grande ator Peter O'Toole, aqui em interpretação que me lembrou em alguns momentos de seu grande momento no cinema, "Lawrence da Arábia". Temos também um excelente grupo de atores coadjuvantes como o próprio Eli Wallach, ator muito bom que sempre foi subestimado em Hollywood. Ele interpreta um sujeito violento e sádico chamado simplesmente de "O General". Outro aspecto positivo são as locações em que a produção foi filmada, nos mares da China, Camboja e Malásia. Isso rendeu excelente fotografia a um filme marcado pelo sabor da aventura e do exotismo dos lugares onde foi realizado. Filme indicado ao BAFTA Awards nas categorias de Melhor Direção e Melhor Direção de Fotografia (Freddie Young).
Pablo Aluísio.
A Paixão de uma Vida
Tudo o que se vê na tela foi baseado em fatos reais, na vida do próprio Marty. É um filme bem carinhoso com seu protagonista, o retratando como um homem duro, porém de bom coração. Afetuoso com os alunos acabou se tornando um símbolo de West Point pois gerações de futuros militares o conheceram bem quando estudaram lá. O filme foi dirigido pelo mestre John Ford e pode ser considerado uma de suas obras cinematográficas mais leves e despretensiosas. O diretor criou um carinho especial por seu personagem principal, levando o galã Tyrone Power para interpretá-lo tanto na juventude como na velhice onde o ator surge com maquiagem pesada, o retratando como um velho. Nas duas situações ele está muito bem, mostrando que Power tinha sim talento dramático e não era apenas um rostinho bonito em Hollywood como muitos o trataram por anos a fio, durante sua carreira.
A Paixão de uma Vida (The Long Gray Line, Estados Unidos, 1955) Direção: John Ford / Roteiro: Edward Hope, baseado no livro "Bringing Up the Brass" de Marty Maher / Elenco: Tyrone Power, Maureen O'Hara, Robert Francis / Sinopse: O filme conta a história real de Martin 'Marty' Maher (Power), imigrante irlândes que durante décadas trabalhou na famosa academia militar de West Point onde se tornou querido por gerações de alunos que por lá passaram.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 17 de dezembro de 2019
007 Contra o Satânico Dr. No
Curiosamente esse primeiro James Bond não está entre os meus preferidos. Considero que as coisas ainda não estavam encaixadas definitivamente. O estúdio ainda procurava por uma adaptação perfeita, algo que só iria acontecer alguns anos depois. A produção assim tem alguns problemas relacionados mesmo com a falta de experiência em adaptar James Bond para o cinema. O roteiro surge por isso bem formulaico, simplificado, para que as pessoas viessem a conhecer bem o personagem principal. Sean Connery se saiu bem, mesmo sendo "marinheiro de primeira viagem". Ele teve sorte também porque a atriz Ursula Andress foi contratada para ser a primeira "Bond-Girl". Sua cena saindo do mar, de biquini provocante branco, com uma faca de caça na cintura ainda hoje é lembrada. Em suma, eis aqui o surgimento de Bond nos cinemas tal como conhecemos. Entre erros e acertos uma coisa ficou clara: havia muito potencial para esse agente inglês na sétima arte.
007 Contra o Satânico Dr. No (Dr. No, Inglaterra, 1962) Direção: Terence Young / Roteiro: Richard Maibaum, Johanna Harwood, baseados na obra de Ian Fleming / Elenco: Sean Connery, Ursula Andress, Bernard Lee, Jack Lord / Sinopse: O agente James Bond (Connery) é designado para uma nova missão. Ele terá que descobrir o paradeiro e os planos de destruição de um estranho vilão, conhecido apenas como Dr. No. Filme premiado pelo Globo de Ouro na categoria de Melhor revelação feminina (Ursula Andress).
Pablo Aluísio.
O Grande Motim
Brando ouvira dizer que David Lean demorava muito para fazer seus filmes e que isso iria lhe custar muito tempo e trabalho no meio do deserto, um lugar que ele não tinha a menor intenção de conhecer. Assim rejeitou a oportunidade de estrelar aquele que se tornaria um dos maiores clássicos do cinema, "Lawrence da Arábia". Entre "secar no deserto como uma planta sem água" (como ele mesmo escreveu em seu livro) ou ir se divertir nas paradisíacas ilhas dos mares do sul, Brando optou pela segunda opção. Tão encantado ficou que anos depois compraria uma ilha particular na região, a bonita e distante Tetiaroa.
Pois bem, já voltando ao filme em si temos que admitir que se trata de uma aventura realmente saborosa. As filmagens foram complicadas, com estouro de orçamento, prazo e divergências entre diretor e estúdio, o que levou inclusive o cineasta Lewis Milestone a ser demitido no meio das filmagens. Além disso o clima irregular das ilhas prejudicou as locações e os cenários. A MGM então resolveu jogar a culpa pelos atrasos em cima do próprio Marlon Brando que estava preferindo ir nadar com as lindas figurantes locais do que trabalhar duro. Quando o filme finalmente foi lançado, depois de vários adiamentos, recebeu criticas negativas e não fez o sucesso esperado. Revendo hoje em dia só podemos nos admirar por ter tido uma recepção tão ruim. Com linda fotografia e belo desenvolvimento do enredo é complicado entender tanta má vontade em seu lançamento. Talvez tenha sido uma retaliação da imprensa contra Marlon Brando e seu temperamento complicado. O espectador porém deve deixar esse tipo de coisa de lado. Ignore tudo isso e assista pois sem dúvida é um belo filme.
O Grande Motim (Mutiny on the Bounty, Estados Unidos, 1962) Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) / Direção: Lewis Milestone, Carol Reed / Roteiro: Charles Lederer, baseado no livro de Charles Nordhoff / Elenco: Marlon Brando, Trevor Howard, Richard Harris / Sinopse: Durante uma longa viagem pelos mares do sul, um grupo de marinheiros e oficiais de pequena patente decidem se rebelar contra seu capitão, bem conhecido por ser um homem duro e muitas vezes cruel.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2019
Janela Indiscreta
Após ler um conto de suspense e mistério escrito por Cornell Woolrich, o diretor Alfred Hitchcock decidiu que iria realizar uma versão cinematográfica daquela estória. Obviamente não seria algo fácil. O texto era pequeno, simples e se baseava em apenas uma situação: a de um homem imobilizado, por estar com a perna engessada, que descobria, por acaso, um suposto assassinato no prédio vizinho onde morava. Não havia mesmo muito enredo a se desenvolver, mas Hitchcock era um gênio e acabou realizando uma verdadeira obra prima do cinema. A simplicidade do texto original foi mantida, mas Hitchcock começou a jogar com as situações vividas por seu protagonista, tirando dos pequenos detalhes as maiores qualidades do filme.
Tudo está lá. A atitude voyeur do fotógrafo, sua bisbilhotice inconveniente e condenável, sua hesitação em casar com a noiva, uma jovem linda, rica e maravilhosa (interpretada por Grace Kelly) e por fim sua incapacidade de controlar as situações que vão acontecendo diante de seus olhos. Jeff (o personagem de James Stewart) é um homem de ação, que viveu toda a sua carreira viajando para os lugares mais distantes. Agora ele está impedido de agir por causa da situação em que se encontra. Hitchcock assim mistura ansiedade, imobilismo e suspense em um mesmo caldeirão. O resultado é primoroso. Em termos de linguagem cinematográfica o diretor conseguiu trazer o melhor de si para o espectador. Ele utiliza de todas as formas de narrativa disponíveis na época para deixar o público se sentindo como parte de tudo o que acontece na tela.
Também usa, com muita competência, a linguagem subjetiva, principalmente quando o protagonista Jeff espia o que está acontecendo ao redor de sua janela. Nesse caso a visão do personagem é a mesma do público. A ideia é dar a todos as mesmas sensações que o fotógrafo sente, onde tudo vê, mas nada pode realmente fazer. Uma posição passiva que causa o desconforto que o cineasta quer passar. Por tudo isso e muito mais esse é um clássico da filmografia de Alfred Hitchcock que merece ser sempre revisto. E para aqueles que gostam de achar as pequenas pontas que o próprio Hitchcock gostava de fazer em seus filmes, repare no quarto do compositor. Bem ao lado do pianista lá está a figura inconfundível do grande mestre do suspense. Mais divertido, impossível.
Janela Indiscreta (Rear Window, Estados Unidos, 1954) Estúdio: Paramount Pictures / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: John Michael Hayes / Elenco: James Stewart, Grace Kelly, Wendell Corey, Thelma Ritter, Raymond Burr, Georgine Darcy / Sinopse: O filme acompanha L.B. 'Jeff' Jefferies (James Stewart). Imobilizado em uma cadeira de rodas após sofrer um acidente ele começa a espiar seus vizinhos, apenas para matar o tédio. Só que acaba descobrindo algo terrível acontecendo do lado de fora de sua janela. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção (Alfred Hitchcock), Roteiro (John Michael Hayes), Fotografia (Robert Burks) e Som (Loren L. Ryder).
Pablo Aluísio.
Ladrão de Casaca
Talvez o filme mais atípico da carreira de Alfred Hitchcock. Segundo algumas biografias isso se deu por um motivo básico: o diretor estava apaixonado pela estrela Grace Kelly (com quem havia trabalhado em "Disque M Para Matar" e "Janela Indiscreta") e por essa razão aceitou dirigir esse filme muito soft, centrado muito mais no romance do que propriamente no suspense, que era a marca registrada do cineasta. A imprensa da época inclusive chegou a ironizar chamando "Ladrão de Casaca" de "Champanhe Hitchcock". Não há como negar que a produção é muito bonita e bem realizada. Inovando em várias novas tecnologias (Widescreen e Vistavision) o filme foi realmente considerado bem revolucionário nesse aspecto.
Curiosamente o estúdio escalou o veterano galã Cary Grant para fazer o par romântico com a jovem e linda Grace Kelly. Grant estava às portas de se aposentar quando fez o filme. O sucesso de bilheteria acabou dando uma renovada em sua carreira como um todo e ele resolveu voltar para fazer mais filmes nos anos seguintes (com resultados irregulares). Foi filmando "Ladrão de Casaca" que Grace Kelly conheceu o príncipe Rainier de Mônaco. Há tempos ele procurava se envolver com alguma estrela de Hollywood para levantar seu pequeno principado que estava decadente. Chegou inclusive a sondar o mito Marilyn Monroe que não quis nada com o nobre por lhe achar muito feio e sem atrativos. Grace Kelly porém não pensou assim e começou um romance com Rainier, algo que perturbou o velho Hitchcock pois ela logo anunciaria o fim de sua carreira no cinema para se dedicar apenas ao seu futuro marido. O diretor jamais se perdoou quando soube disso!
Talvez por essa razão o velho Hitchcock tenha depois espinafrado tanto o filme, afirmando que era o que menos apreciava em sua carreira. De fato o cineasta realmente fez muitas concessões em prol de Grace Kelly, fugindo até bastante de suas principais características como diretor. Quando ela o deixou para se casar com Rainier ele interpretou isso quase como uma traição pessoal. Anos depois tentaria trazer Grace Kelly de volta para estrelar Marnie, um de seus filmes menos inspirados, mas ela novamente recusou. Como dito "Ladrão de Casaca" não consegue se sobressair no meio de tantos outros clássicos do mestre do suspense. O filme tem um tom muito ameno, beirando o sentimentalismo exacerbado, o que destoa do restante da obra de seu criador. De bom mesmo ficaram apenas as maravilhosas locações da Rivieira Francesa que foram magnificamente fotografadas e a nostalgia de ver a beleza insuperável de Grace Kelly, no auge de seu esplendor. Como suspense em si o filme deixa a desejar. O tema também passa longe da sordidez reinante em outros filmes de Hitchcock. Mesmo assim é impossível não se render a todo o charme e elegância que desfilam pela tela. Nesse quesito a dupla central de atores realmente era insuperável. Se não é um dos melhores filmes de Hitchcock, pelo menos fica longe das mediocridades que se produzem hoje em dia. Assista sem medo de se arrepender.
Ladrão de Casaca (To Catch a Thief, Estados Unidos, 1955) Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: John Michael Hayes, Alec Cooper baseados no livro de David Dodge / Elenco: Grace Kelly, Cary Grant, Jessie Royce Landis, Brigitte Auer, Charles Vanel, John Williams, Georgette Anys, Jean Martinelli, Roland Lesaffre / Sinopse: John Robie (Cary Grant) é um veterano ladrão de jóias aposentado que vive tranquilamente na bela Riviera Francesa. Apelidado em seus dias de fama como "O Gato" ele agora começa a ficar intrigado por uma série de roubos recentes na região que repetem o seu conhecido modus operandi. Para provar sua inocência e pegar o novo ladrão o antigo “Gato” resolve voltar à ativa.
Pablo Aluísio.