segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Trama Fantasma

Dos filmes que estão concorrendo ao Oscar de 2018, esse foi o que considerei o mais elegante, mais sofisticado. Na história temos um conceituado estilista londrino chamado  Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis). Solteirão convicto, sua vida é dedicada inteiramente ao trabalho. Criando e elaborando lindos vestidos para a realeza europeia ele vai levando sua vida sem atropelos. Então para descansar um pouco decide certo dia dirigir pelo interior, parando em pequenos hotéis e hospedarias. Seu objetivo é ir até a casa de seu pai, mas no meio do caminho conhece uma garçonete chamada Alma (Vicky Krieps). Sempre com olhar de estilista ele percebe que ela tem o número certo para desfilar como modelo de sua nova coleção. No começo Woodcock a seduz e é correspondido, porém não demora muito a levá-la para seu atelier para tomar suas medidas. Certamente não foi bem um bom começo para esse relacionamento.

O roteiro assim se desenvolve, mostrando uma certa incapacidade de Woodcock em se entregar ao que sente, ao mesmo tempo em que Alma vai tentando levar em frente esse "não romance" entre eles. explorando a estranha simbiose que nasce entre o casal. Ele sempre frio, metódico, elegante, mas igualmente neurótico e ela como uma mulher comum que só deseja ter uma vida feliz ao seu lado, algo que ela logo percebe ser quase impossível. Em um filme assim o que se destaca mesmo é o elenco e ele é muito bom. A começar por Daniel Day-Lewis. Com cabelos grisalhos, em um tipo de interpretação mais introspectiva, centrada em si mesmo, Lewis é um dos principais concorrentes ao Oscar de melhor ator nesse ano. Chegou-se inclusive a se especular que esse seria seu último filme. Será mesmo? O que posso esperar é que não, já que Daniel Day-Lewis é aquele tipo de ator de raro talento que fará muita falta caso decida se aposentar. Vicky Krieps, que interpreta Alma, sua paixão improvável, também tem ótima cenas, embora nunca consiga sair da sombra gigantesca de Lewis. No geral é um filme muito, muito bom. A trilha sonora incidental é linda, quase toda em piano, com temas clássicos. Uma produção fina, especialmente indicada para quem estiver em busca de um cinema realmente classe A.

Trama Fantasma (Phantom Thread, Estados Unidos, 2017) Direção: Paul Thomas Anderson / Roteiro:  Paul Thomas Anderson / Elenco: Daniel Day-Lewis, Vicky Krieps, Lesley Manville / Sinopse: Estilista da realeza europeia acaba se enolvendo com uma garçonete que ele conhece por acaso durante uma viagem, dando começo a um relacionamente duradouro e problemático. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Daniel Day-Lewis), Melhor Atriz Coadjuvante (Lesley Manville), Melhor Música (Jonny Greenwood), Melhor Figurino (Mark Bridges) e Melhor Direção (Paul Thomas Anderson). Também indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Ator (Daniel Day-Lewis) e Melhor Música (Jonny Greenwood).

Pablo Aluísio.

Mãe!

Esse filme foi absurdamente elogiado pela crítica em seu lançamento. Tudo fruto da inegável competência do diretor Darren Aronofsky, um cineasta que aliás gosto muito. Um verdadeiro artista da sétima arte. Dito isso, devo deixar claro também que esse filme não me agradou. Na verdade foi, até o momento, o pior trabalho de Darren Aronofsky que já assisti. Está muito longe da genialidade de "Cisne Negro" ou da emoção de "O Lutador", as duas obras primas desse diretor. Aronofsky caiu na velha armadilha de ser pretensioso demais, tentar parecer cult além da conta. O enredo começa até de forma convencional com um casal vivendo numa bela e isolada casa no campo. Curiosamente os personagens não possuem nome. Ele é apenas um escritor de livros que passa por uma crise de criatividade (isso é um clichê em personagens de escritor, não vamos esquecer disso). Ela é uma dona de casa, uma mulher que tenta dar apoio ao marido, fazendo os trabalhos domésticos enquanto ele tenta finalmente escrever um novo livro.

A esposa é interpretada por Jennifer Lawrence, o marido por Javier Bardem. Tudo caminha relativamente bem até a chegada de um estranho, um médico que vai parar na residência do casal. Interpretado por Ed Harris, esse personagem parece esconder algo. Pior é quando sua esposa também chega, fazendo com que a expressão "visitantes inconvenientes" ganhe uma nova dimensão. A coisa não para por aí. Logo chegam os filhos do casal, dois sujeitos que se odeiam e vivem brigando e daí a coisa toda vai virando um caos até tudo terminar em um final simplesmente caótico e devastador. Embora você tenha a sensação de estranheza durante todo o filme, nada vai lhe preparar para a bizarrice de seu final. É tudo muito estranho, bizarro, onde Darren Aronofsky tenta transmitir uma mensagem que provavelmente nem ele saiba qual é! É aquele tipo de filme que força uma barra para ser cult, moderninho, caindo na graça do público mais descolado. Nada errado em tentar alcançar esse tipo de objetivo. O problema é a chatice que vem com tudo isso. O saldo geral me soou bem negativo. É um filme estranho para pessoas estranhas. Não adiciona em nada nas carreiras de Jennifer Lawrence, Javier Bardem ou Ed Harris, nem muito menos para Darren Aronofsky, que acabou sendo atropelado pelo seu próprio ego.

Mãe! (Mother!, Estados Unidos, 2017) Direção: Darren Aronofsky / Roteiro: Darren Aronofsky / Elenco: Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Ed Harris, Michelle Pfeiffer, Brian Gleeson, Domhnall Gleeson / Sinopse: Esposa (Lawrence) e seu marido escritor (Bardem) vivem em uma casa no campo quando suas vidas são reviradas de cabeça para baixo após a chegada de um estranho (Ed Harris) que diz ser médico em um hospital da região. Filme indicado ao Leão de Ouro no Venice Film Festival na categoria de Melhor Filme.

Pablo Aluísio.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

O Assassino: O Primeiro Alvo

Filme cansativo. É a tal coisa, o cinema de ação está em plena decadência. Parece que todos os clichês já foram usados tantas vezes que se tornou impossível não fazer um filme de ação repetitivo ultimamente. Novamente o roteiro explora o tema do terrorismo islâmico. Aqui temos um jovem, Mitch Rapp (Dylan O'Brien). Na primeira cena do filme ele está curtindo uma praia ensolarada numa daquelas praias paradisíacas do litoral espanhol. Ao seu lado sua namorada que ele está prestes a pedir em casamento. Felicidade total! Até que do nada surgem os terroristas da Jihad. Portando metralhadoras e fuzis eles abrem fogo contra os turistas. A noiva de Mitch é morta covardemente nas areias brancas do lugar. Pronto, fica armada a primeira premissa de um filme como esse: a vingança. Mitch resolve caçar por conta própria os islâmicos fundamentalistas, mas a CIA tem outros planos para ele.

Assim ele é recrutado pela agência de inteligência americana. Já que quer matar terroristas, vai matar como agente da CIA. Seu mentor passa a ser Stan Hurley (Michael Keaton), veterano da CIA, um sujeito durão acostumado a matar com eficiência. A função de Stan é transformar Mitch em um assassino profissional sob comando da agência. A primeira missão que surge para eles é resgatar uma "arma suja", um artefato nuclear contrabandeado no mercado negro. Obviamente os terroristas querem comprar a arma para detonar em Roma, claro, a capital ocidental do cristianismo. Para surpresa de Hurley há um antigo agente da CIA, que também foi treinado por ele, envolvido na negociação. Chamado agora de "Fantasma" (Taylor Kitsch) ele virou um mercenário e está prestes a passar a bomba atômica para os islâmicos. Bom, como eu disse o filme se torna cansativo pelo excesso de clichês! Tem boas cenas de ação? Sim, tem, inclusive a final quando a sexta frota da Marinha Americana entra na jogada. Muito bem feita a sequência, mas que não salva o filme do lugar comum.

O Assassino: O Primeiro Alvo (American Assassin, Estados Unidos, 2017) Direção: Michael Cuesta / Roteiro:  Stephen Schiff, Michael Finch / Elenco: Michael Keaton, Taylor Kitsch,  Dylan O'Brien, Sanaa Lathan / Sinopse: Jovem americano, traumatizado após sua namorada ser morta em um ataque terrorista, é recrutado pela CIA para caçar os terroristas islâmicos pelo mundo, seja em Istambul, seja em Roma, sua missão agora é recuperar uma bomba atômica que está sendo vendida aos fundamentalistas.

Pablo Aluísio.

A Negativa do Rei

Dentro da história da II Guerra Mundial há vários acontecimentos que são bem conhecidos dos historiadores em geral, como por exemplo, o dia D, a invasão da França e da Rússia pelos nazistas, a batalha da Inglaterra, etc. Porém há também inúmeros eventos históricos que são considerados periféricos e que poucos conhecem em detalhes. Um deles foi a invasão da Noruega pelos alemães. País gelado situado ao norte da Europa, a Noruega procurou se manter neutra quando a guerra começou. Hitler porém tinha outros planos. Ele invadiu a Dinamarca e Holanda, até que com relativa facilidade. Não demorou muito e começou a  cobiçar também os demais países escandinavos. Assim cercou a costa da Noruega com uma poderosa frota de navios de guerra e submarinos. Alegou que iria proteger a Noruega dos ingleses, mas na verdade estava mesmo preparando uma grande invasão. Estava de olho nas riquezas minerais daquele país, como o ferro e o petróleo.

Assim que a marinha da Alemanha cercou Oslo, a capital da Noruega, o parlamento resolveu transferir o governo para o interior do país. Seguiram em fuga os parlamentares e o Rei Haakon VII (Jesper Christensen). A história do filme se passa justamente nesse momento histórico crucial da história daquele país. Enquanto o governo tentava sobreviver à invasão, a família real partia da capital, tentando organizar algum tipo de reação. O curioso é que no aperto, o sistema monárquico parlamentarista ruiu. O primeiro ministro quis renunciar e o povo ficou praticamente sem governo, confiando apenas com a figura do Rei. O próprio Hitler mandou ordens expressas para negociar com o monarca que, a despeito de toda a fragilidade militar da Noruega naquele momento, se recusou a entregar a independência de sua nação aos nazistas. Gostei bastante desse filme. Ele apresenta boa produção e duas cenas ótimas. A primeira quando a armada nazista cerca Oslo e as luzes da cidade são apagadas. A segunda quando o trem que levava o Rei para o interior do país sofre um bombardeio aéreo dos aviões da Luftwaffe, a força aérea do III Reich. Só esses dois momentos já justificam o filme como um todo, porém ele é muito melhor do isso. Uma boa aula de história que resgata a coragem dos noruegueses contra a dominação nazista na Europa.

A Negativa do Rei (Kongens nei, Noruega, 2016) Direção: Erik Poppe / Roteiro: Harald Rosenløw-Eeg, Jan Trygve Røyneland / Elenco: Jesper Christensen, Anders Baasmo Christiansen, Karl Markovics / Sinopse: Filme que conta a história real da invasão da Noruega pelas tropas nazistas do III Reich. Hitler decide romper o tratado de neutralidade daquela nação do norte da Europa, tomando a capital do país, tentando persuadir o Rei a entregar a independência do país aos alemães. Com sua recusa em aceitar isso, a guerra finalmente explode em seu território.

Pablo Aluísio.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

A Mulher Mais Odiada dos Estados Unidos

O filme conta a história real de Madalyn Murray O'Hair. Ela era uma advogada desempregada, mãe solteira, que um dia descobriu que seu filho tinha que rezar todos os dias antes do começo das aulas em uma escola pública. Invocando a primeira emenda da constituição americana ela levou o Estado aos tribunais, em um processo que tentava proibir essa prática, uma vez que a liberdade religiosa deveria ser plena nas instituições de ensino. Assim deveria ser respeitado o direito dos alunos de professar qualquer fé ou no caso dela, de não ter nenhuma religião. Obviamente que essa ação causou uma grande repercussão nos Estados Unidos, indo parar na Suprema Corte. Depois disso ela se tornou uma ativista do ateísmo, batendo de frente com vários líderes religiosos de seu país.

Esse é um filme interessante que mostra como o ateísmo foi ganhando organização nos Estados Unidos. Embora a Madalyn Murray O'Hair possa até ser vista hoje em dia como uma pioneira do ateísmo, uma das primeiras pessoas a levantar essa bandeira nos Estados Unidos, o roteiro do filme também mostra aspectos nada lisonjeiros de sua vida. Por exemplo, ela mantinha contas secretas no exterior, alguns milhões de dólares escondidos da receita americana. Também transformou sua organização, chamada de "Ateus Americanos", em uma máquina de fazer dinheiro. Sem pudores, desbocada, falando palavrões em série, Madalyn acabou tendo um fim trágico, ao ser vítima de um crime promovido por ex-empregados de sua própria organização. Curiosamente o seu filho acabou largando o ateísmo, se tornando um homem religioso que procurou combater o próprio ateísmo tão propagado por sua mãe nos anos 60. Assista ao filme, eu particularmente recomendo, mesmo sendo uma produção Netflix (entenda-se, com pequeno orçamento). É uma história que no mínimo deve ser conhecida seja você ateu ou não.

A Mulher Mais Odiada dos Estados (The Most Hated Woman in America, Estados Unidos, ) Direção: Tommy O'Haver / Roteiro: Tommy O'Haver, Irene Turner / Elenco: Melissa Leo, Brandon Mychal Smith, Juno Temple / Sinopse: Durante os anos 60 uma advogada desempregada, mãe solteira de dois filhos, decide processar o Estado porque seu filho mais velho estaria sendo obrigado a rezar todos os dias, antes da aula. Isso acaba sendo o estopim para ela se tornar uma das mais famosas ativistas do ateísmo nos Estados Unidos. O filme assim conta a história real de Madalyn Murray O'Hair, explorando também em detalhes a tragédia que marcou o fim de sua vida.

Pablo Aluísio.

1922

Mais um filme da Netflix, só que dessa vez adaptando um conto de terror de Stephen King. Na estória temos um fazendeiro que está muito feliz com sua vidinha rural. Ele se casa com a filha de outro fazendeiro e acaba assim sendo dono de uma bela fazenda de oitenta hectares. Tudo vai indo bem, até que sua esposa se cansa do campo. Ela decide que vai vender sua parte para ir morar em Omaha. Claro que isso também significa o fim do sonho do fazendeiro, já que ele também terá que ir para a cidade grande. E agora o que fazer? Ele então decide tomar uma decisão trágica. Se a mulher está destruindo seus sonhos, então ela deve ser eliminada. Sem pensar muito no que estão fazendo, pai e filho resolvem matar a mãe, jogando seu corpo no poço vazio da propriedade.

Essa estória é uma parábola sobre a ganância e o materialismo absurdo de seu protagonista. O fazendeiro interpretado por Thomas Jane (que está perfeito no papel) não parece cultivar nenhum valor moral. Ele só pensa na fazenda, seu único propósito na vida é ter a fazenda e para isso ele está disposto a passar por cima de todos, até de sua esposa. Um tipo de atitude que o transforma em um monstro insensível e desprovido de compaixão por outras pessoas. Depois que mata a esposa ele vai percebendo que sua vida vai desmoronando. O filho se envolve com o mundo do crime, ele fica sem dinheiro para tocar a propriedade em frente e vultos na escuridão vão surgindo a cada noite. King desenvolve muito bem o lado psicológico de seu personagem, mostrando como ele perde sua alma em troca de uma obsessão sem limites. Por fim algumas observações interessantes. A primeira é a seguinte: não assista ao filme se você não gosta de ratos. Eles são usados por King como elemento narrativo, para demonstrar a ruína da alma de seu personagem principal. Segunda dica é prestar atenção no fim do filme. Ele cria uma ligação direta com outro conto de horror de King, que já foi inclusive adaptado para o cinema no filme "1408", aquele mesmo com John Cusack e Samuel L. Jackson. Então é isso, se gosta dos contos de Stephen King o filme é certamente uma boa opção para sua noite.

1922 (1922, Estados Unidos, 2017) Direção: Zak Hilditch / Roteiro: Zak Hilditch, baseado no conto de terror escrito por Stephen King / Elenco: Thomas Jane, Molly Parker, Dylan Schmid  / Sinopse: Wilfred James (Thomas Jane) é um fazendeiro feliz com a sua vida no campo até que sua esposa decide que quer ir embora morar na cidade grande, na vizinha Omaha. James não quer ir, mas se a mulher for ele perderá metade de sua fazenda. Assim decide tomar uma decisão trágica: a matando de forma covarde no meio da noite, algo que irá desencadear uma série de maldições em sua vida e na de seu filho.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas

Título no Brasil: Professor Marston e as Mulheres-Maravilhas
Título Original: Professor Marston and the Wonder Women
Ano de Produção: 2017
País: Estados Unidos
Estúdio: Opposite Field Pictures
Direção: Angela Robinson
Roteiro: Angela Robinson
Elenco: Luke Evans, Rebecca Hall, Bella Heathcote, Connie Britton, Monica Giordano, Chris Conroy

Sinopse:
William Moulton Marston (Luke Evans) é um professor de psicologia que acaba se envolvendo com duas mulheres ao mesmo tempo, uma delas a sua própria aluna. Por causa disso acaba sendo demitido. Desempregado e precisando sobreviver ele começa a trabalhar em várias direções, uma delas no estudo do primeiro detector de mentiras. Também decide entrar no ramo dos quadrinhos criando uma nova heroína para os gibis da época. Ela é uma amazona, chamada Diana, que passa a ser conhecida como Mulher-Maravilha. Após ouvir algumas recusas finalmente consegue que sua nova personagem seja publicada por uma editora de Nova Iorque.

Comentários:
Filme que vale muito por causa da curiosidade histórica de se conhecer a história real do criador da Mulher-Maravilha. Realmente eu desconhecia as origens da personagem e de seu autor. O professor Marston por si só já era uma figura bem interessante. Formado em Harvard, ele viu sua carreira afundar na academia por causa dos escândalos envolvendo sua vida pessoal. Ele se relacionou com uma aluna, a levou para casa, teve filhos com ela e isso tudo já sendo um homem casado há vários anos! Imagine o tamanho dos problemas que ele precisou enfrentar, por causa da sociedade moralista da época. Tecnicamente nunca cometeu o crime de bigamia, pois não se casou com essa jovem, porém vivia com duas mulheres em sua casa, com filhos, etc. Sempre que seu segredo pessoal era descoberto o mundo parecia desabar em sua cabeça. Quando foi demitido o jeito foi se virar e daí surgiu a ideia de escrever para histórias em quadrinhos. Acabou criando uma das personagens mais icônicas desse universo, usando para isso elementos e aspectos de sua vida pessoal. Ao assistir ao filme você entenderá de onde veio o laço da verdade, o avião invisível, os braceletes e o figurino da heroína. Sua imagem é mais do que conhecida, o que ninguém sabia era de onde vinha cada elemento. Para quem gosta e curte comics e o mundo dos super-heróis, especialmente da DC, o filme então se torna item obrigatório. Não deixe passar em branco.

Pablo Aluísio.

O Artista do Desastre

Título no Brasil: O Artista do Desastre
Título Original: The Disaster Artist
Ano de Produção: 2017
País: Estados Unidos
Estúdio: New Line Cinema
Direção: James Franco
Roteiro: Scott Neustadter, Michael H. Weber
Elenco: James Franco, Dave Franco, Seth Rogen, Ari Graynor, Jacki Weaver, Paul Scheer

Sinopse:
Tommy Wiseau (James Franco) se considera um grande ator, só que na realidade ele é péssimo. Ao lado de um amigo decide se mudar para Los Angeles, esperando com isso ser contratado por algum estúdio de cinema. Só que isso jamais acontece. Ele fica desempregado e depois de várias reprovações em testes decide ele mesmo roteirizar, atuar, dirigir e produzir seu próprio filme!

Comentários:
Filmes sobre diretores e atores sem nenhum talento que acabam produzindo filmes tão ruins que terminam virando cult já renderam ótimos momentos no cinema americano como o sempre lembrado "Ed Wood" sobre o pior diretor de todos os tempos. Agora temos uma versão nova, só que passada nos anos 90. O alvo da vez é Tommy Wiseau que rodou "The Room", considerado por muitos o pior filme daquela década. O mais engraçado é que ele não se contentou em apenas dirigir seu filme trash, mas também escrever o roteiro (que fazia pouco sentido), atuar (sim, ele era horrível atuando) e também produzir (até hoje ninguém descobriu como ele arranjava dinheiro para bancar seus filmes porcarias). Tommy Wiseau tinha grandes pretensões de ser um artista, queria fazer filmes dramáticos, mas tudo o que conseguiu foi arrancar humor involuntário dos filmes ruins que fez. "O Artista do Desastre" conta a história das filmagens de seu primeiro filme. Não deixa de ser divertido e em alguns momentos bem engraçado, ideal para quem gosta de cinema e da paixão que algumas pessoas desenvolvem por esse universo. O tal de Tommy era tão esquisito, com sua absurda falta de talento e dicção estranha, além do sotaque horrível, que acabou sendo um presente para o ator James Franco. No começo você pensa que ele está exagerando em sua atuação, que ninguém seria tão tosco como aquele seu personagem, só que o próprio Tommy Wiseau aparece no filme e daí você chega na conclusão que sim, James Franco está perfeito em sua caracterização. Ele inclusive está indicado ao Oscar, mas provavelmente não vencerá, isso porque Franco foi citado como um dos assediadores sexuais de Hollywood e isso definitivamente não lhe ajudará na noite de premiação. Uma pena porque seu trabalho é realmente muito bom, diria até digno de um Oscar mesmo!

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Corra!

Há filmes inegavelmente medianos concorrendo ao Oscar de melhor filme nesse ano, porém esse "Corra!" é francamente ruim! As coisas começam a ficar estranhas logo quando o filme começa. Você vê a abertura com a marca da Blumhouse Productions e fica desconfiado porque essa companhia cinematográfica é especializada na produção de filmes B de terror e suspense. Ora, o que um filma da Blumhouse estaria fazendo entre os concorrentes ao principal prêmio da academia? Quando a estória começa você chega a pensar que está enganado, que vem boa coisa por aí. Um casal formado entre uma garota branca e um cara negro decide ir visitar os pais dela. Já começa a tensão porque todos sabemos como funciona a sociedade americana (impossível negar que há muito racismo dentro dela).

Até ai tudo bem, você começa a pensar que está para ver um bom drama discutindo a questão racial, porém esqueça. Não vem pela frente um filme como aqueles clássicos com Sidney Poitier, não vem um bom drama sobre esse tema sempre relevante e polêmico. Nada disso. O filme faz jus à marca da Blumhouse e assim começa mais um daqueles roteiros B, sem pé e nem cabeça, que junta em um mesmo balaio temas que ficariam até legais em um trash, mas não em uma produção que absurdamente foi indicada ao Oscar de melhor filme do ano! O que exatamente estou falando? Sem querer dar spoilers, você encontrará pela frente negros sendo submetidos a uma hipnose para se tornarem zumbis, escravos sexuais ou empregados escravos, de seus algozes brancos. Tudo feito com aquela áurea de argumento vagabundo que estamos acostumados a ver em filmes B ou Z que de vez em quando pipocam nos cinemas de tempos em tempos. No fim de tudo, depois de um banho de sangue ao mais fiel espírito trash dos anos 80, você fica se perguntando o que se passou na cabeça dos membros da Academia para indicarem um filminho desses para o prêmio de melhor do ano? Será que foram hipnotizados e viraram zumbis psíquicos como os personagens bobocas desse filme? Só pode ser isso...

Corra! (Get Out, Estados Unidos, 2017) Direção: Jordan Peele / Roteiro: Jordan Peele / Elenco:  Daniel Kaluuya, Allison Williams, Bradley Whitford / Sinopse: Rapaz negro que namora garota branca descobre ao visitar os pais dela que há algo de errado acontecendo naquele lugar sinistro! O que se esconderá por trás de todos aqueles falsos sorrisos? Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Daniel Kaluuya), Melhor Direção e Melhor Roteiro Original (Jordan Peele).

Pablo Aluísio.

Victoria & Abdul

Poucas vezes no mundo das artes se teve tanto interesse na figura da Rainha Vitória. Além de uma série popular sendo exibida atualmente na Inglaterra, temos aqui um belo filme mostrando uma história pouco conhecida da amizade da Rainha (já octogenária) com um criado indiano chamado Abdul Karim. Eles se conheceram por mero acaso, quando Abdul foi designado para presentear a Rainha, durante um banquete, com uma moeda tradicional da Índia. A monarca não deu muita bola para o presente, mas ficou impressionada e interessada na figura do indiano. A partir daí se aproximaram e uma inusitada amizade se criou entre eles.

Obviamente que a Rainha da Inglaterra ter uma aproximação assim tão de perto com um indiano, ainda mais muçulmano, criou uma série de atritos com os demais membros da família real. Vitória, no fundo uma mulher solitária, sem amigos, já com oitenta anos, sentia-se muito sozinha e amarga, principalmente pelo fato de que todas as pessoas de quem realmente gostava já tinham morrido naquela fase de sua vida. O filho, chamado por ela de Bertie, futuro Rei Eduardo VII, não passava de um homem fútil que só trazia aborrecimentos para ela. As demais filhas também não lhe traziam mais boas notícias, assim acabou sobrando para ele ter pequenos momentos agradáveis com seu servil Abdul, que era um homem inteligente que estava sempre disposto a contar e ensinar coisas para a Rainha. Ela era a Imperatriz da Índia naquele momento, mas nunca havia ido naquele distante e exótico país, tampouco conhecia sua história e riqueza cultural. Abdul acabou abrindo essas portas de conhecimento para ela.

Além de ser historicamente muito interessante, "Victoria & Abdul" ainda passeia pela vida privada e mais íntima da Rainha, a mostrando em momentos bem humanos. Ela foi a monarca que mais tempo ficou no trono na Inglaterra e deu nome a todo um século, chamado de "Era Vitoriana". Foi o auge do império britânico, com possessões e colônias em todos os lugares do mundo conhecido. Claro que em um filme assim haveria a necessidade de ter uma grande atriz interpretando a Rainha Vitória. E ela está lá, Judi Dench. Essa maravilhosa atriz já havia inclusive interpretado Vitória em "Sua Majestade, Mr. Brown" e agora retorna ao mesmo papel. Envelhecida ainda mais por uma bem feita maquiagem (que está concorrendo ao Oscar nessa categoria), ela realmente impressiona pelo talento e pela sensibilidade mostrada em cada momento do filme. Sua atuação é grandiosa. Em suma, um belo filme, um dos melhores de 2017, que inclusive não foi indicado na principal categoria (o de melhor filme do ano). Mais uma injustiça na longa lista da história do Oscar.

Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha (Victoria & Abdul, Inglaterra, Estados Unidos, 2017) Direção: Stephen Frears / Roteiro: Lee Hall / Elenco: Judi Dench, Ali Fazal, Tim Pigott-Smith, Eddie Izzard / Sinopse: Baseado no livro escrito por Shrabani Basu, o filme conta a história real da amizade da Rainha Victoria com um serviçal indiano, que se tornou uma pessoa bem próxima dela em seus últimos anos de vida. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Atriz (Judi Dench). Também indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Maquiagem e Cabelo (Daniel Phillips e Loulia Sheppard) e Melhor Figurino (Consolata Boyle).

Pablo Aluísio.