quinta-feira, 2 de novembro de 2017
A Luz Entre Oceanos
Esse "A Luz Entre Oceanos" tem um roteiro realmente muito bom. Tudo vai se armando para no final surgir o grande problema pessoal de natureza ética para o personagem de Tom Sherbourne (Michael Fassbender). Quando o bebê surgiu vivo, à deriva no barco, na costa da ilha, ele decidiu tomar a decisão certa, avisando as autoridades locais, só que sua esposa Isabel (Alicia Vikander), arrasada por dois abortos, quis desesperadamente ficar com a criança. Para sua desgraça pessoal acabou cedendo aos desejos da mulher. Só depois descobre-se que a menina de cabelos loiros era mesmo a filha desaparecida de Hannah Roennfeldt (Rachel Weisz). Assim o argumento vai pela resolução da questão: entregar a filha para a verdadeira mãe ou deixá-la com sua esposa, que cria a menina como se fosse sua filha?
Um aspecto curioso é que a ilha onde está o farol é praticamente um personagem dentro da trama. Isolada, com uma costa linda, o lugar acaba servindo de palco para o desenrolar dos acontecimentos. Chamada de Janus, em homenagem ao deus da mitologia com duas faces, o lugar fica bem no meio de dois oceanos. Esse mesmo deus deu origem ao nome do mês de janeiro, justamente por ter dois rostos, um olhando para o ano que nasce e outro para o ano que se vai. O mesmo vale para a dualidade da situação central do roteiro, com uma filha sendo disputada por duas mulheres, a mãe real e a mãe que a salvou e a adotou. Um drama de época muito interessante, com uma excelente cena final. Recomendo sem reservas.
A Luz Entre Oceanos (The Light Between Oceans, Inglaterra, Estados Unidos, Nova Zelândia, 2016) Direção: Derek Cianfrance / Roteiro: Derek Cianfrance, baseado no romance escrito por M.L. Stedman / Elenco: Michael Fassbender, Alicia Vikander, Rachel Weisz / Sinopse: Uma criança, resgatada em um barco à deriva na costa de uma ilha isolada, é adotada informalmente pela esposa do faroleiro. Quando esse descobre a verdadeira identidade da mãe se cria uma situação delicada, envolvendo conflitos éticos e familiares. Filme indicado ao Leão de Ouro no Venice Film Festival na categoria de Melhor Filme.
Pablo Aluísio.
A Corrente do Bem
Título Original: Pay It Forward
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Mimi Leder
Roteiro: Catherine Ryan Hyde, Leslie Dixon
Elenco: Kevin Spacey, Haley Joel Osment, Helen Hunt, Jim Caviezel, Angie Dickinson, Jon Bon Jovi
Sinopse:
Um professor de high School (o equivalente ao ensino médio no Brasil) encoraja seus alunos a tornarem o mundo um lugar melhor, criando uma corrente de bons atos, boas intenções e atitudes, uma verdadeira corrente do bem. Filme premiado pelo Young Artist Awards na categoria de Melhor ator juvenil (Haley Joel Osment).
Comentários:
Sempre achei meio bobinho, com mensagem de boas intenções de botequim ou de livros de auto ajuda, daqueles bem clichês. Nada especial ou muito inteligente, só meio piegas mesmo. De qualquer maneira a coisa só piorou com o tempo, principalmente agora que o ator Kevin Spacey foi denunciado por assediar um ator de apenas 14 anos de idade, o que nos Estados Unidos é uma acusação bem séria de se enfrentar (e que dá cadeia, inclusive). Para escapar da fama de pedófilo o Spacey precisou sair do armário, dizendo que era gay, algo que enfureceu o movimento GLSBT americano, já que de forma subliminar envolveu homossexualidade com pedofilia. O mar definitivamente não está para peixe na vida dele. E nesse filme aqui o Kevin Spacey interpretava justamente um professor muito bem intencionado que se relacionava (no sentido certo da palavra) com jovens e adolescentes. É um filme que nasceu para passar na Sessão da Tarde pela eternidade e que agora corre o sério risco de virar uma piada de humor negro involuntária contada pelo destino! Quem diria...Ah e antes que me esqueça: o elenco de apoio tem desde a diva do cinema clássico Angie Dickinson, passando pelo "Jesus" Jim Caviezel, indo parar no rei do rock farofa, Bon Jovi. Uma salada ao estilo mistureba para todos os gostos.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 1 de novembro de 2017
África dos Meus Sonhos
Título Original: I Dreamed of Africa
Ano de Produção: 2000
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Hugh Hudson
Roteiro: Paula Milne
Elenco: Kim Basinger, Vincent Perez, Eva Marie Saint, Daniel Craig, Liam Aiken, Nick Boraine
Sinopse:
Baseado no romance escrito por Kuki Gallmann, o filme narra a história de uma socialite italiana que decide mudar de vida após um grave acidente de carro. Ela repensa sua vida e deixa tudo para trás ao se apaixonar por um homem que vive na África, na região do Quênia. Deixando a civilização de lado ela mergulha nos desafios e nas belezas do continente africano.
Comentários:
Esse filme chegou a ter uma certa repercussão em festivais importantes como Cannes, mas de uma maneira em geral não fez qualquer sucesso entre o público. No Brasil foi lançado diretamente no mercado de vídeo VHS, sem causar qualquer impacto. É um filme realmente fraco que usa pela milionésima vez o lado mais exótico da África para atrair o público americano. Se isso deu certo em obras como "Entre dois amores" aqui passa muito longe de ser relevante. Kim Basinger, já um pouco diferente por causa da idade, até tentava sensualizar em certos momentos, mas a coisa toda não deu certo. Hoje em dia, revista, essa produção vale mais por encontrar o jovem ator (e ainda desconhecido) Daniel Craig tentando chamar alguma atenção. Ele ainda estava muito distante de James Bond, mas já demonstrava um certo carisma e presença de cena no filme. Outro bom nome do elenco vem com Eva Marie Saint, a veterana atriz da fase de ouro do cinema americano. A classe continuava a mesma, pena que sua personagem não tinha mesmo muito destaque. Então é isso, "África dos Meus Sonhos" podia até ter uma boa fotografia, mas no geral não convencia muito, em nada.
Pablo Aluísio.
Lady Macbeth
Situação mais comum do que se pensa, apesar do filme se passar na era vitoriana. Homem mais velho, rico e rude, casa-se com jovem garota, pobre, que praticamente lhe foi vendida pelos próprios pais. Não existe amor envolvido, apenas um jogo de interesses sórdidos. Pois bem, a garota até tenta, no começo, satisfazer os estranhos desejos de seu novo marido, mas tudo vai por água abaixo. Ele viaja por longos períodos, a negligencia, não a trata com respeito e nem com dignidade. Viajando para longe, deixa a jovem esposa em casa. Uma mulher no auge de sua jovialidade, sexualidade. Não é complicado entender o que vem a seguir. Logo ela está tendo um caso com um dos empregados da fazenda. Um conto sobre traição em tempos moralmente bem rígidos. O interessante desse roteiro é que desde o começo da história o espectador se solidariza com a jovem esposa. Afinal o marido é um tipo indigesto, absurdamente asqueroso.
Só que conforme os acontecimentos vão se desenvolvendo (e eles são mórbidos, para se dizer o mínimo), vemos claramente que a protagonista Katherine não é uma heroína de folhetins românticos. Bem longe disso. Ela é de certa forma uma pessoa bem mais sórdida que seu próprio esposo, o que vai deixar muita gente surpresa. Essa personagem tão dúbia é interpretada pela atriz britânica Florence Pugh. Não a conhecia e gostei de seu trabalho. Há um certo olhar psicopata em sua frieza e modo de ser. Tudo acabou sendo muito bem captada por Pugh. Esse filme é mais uma produção da BBC e mostra que a produtora é certamente um porto seguro para quem gosta de boas produções embaladas por roteiros bem escritos e atuações mais sutis. O clima em geral aqui é bem mais gélido, como se fosse um retrato da própria Katherine, um tipo de mulher mal tratada pela vida que parece ter transformado a frase "O fim justifica os meios" em algum tipo de filosofia pessoal. Só não precisava ir tão longe em suas ambições.
Lady Macbeth (Inglaterra, 2016) Direção: William Oldroyd / Roteiro: Alice Birch, baseada na peça teatral "Lady Macbeth of Mtsensk" de Nikolai Leskov / Elenco: Florence Pugh, Cosmo Jarvis, Paul Hilton, Naomi Ackie / Sinopse: Durante a era vitoriana jovem esposa, casada sem amor com homem mais velho e rico, resolve ter um caso amoroso com um dos empregados de seu marido, causando uma série de acontecimentos trágicos. Filme indicado ao London Film Festival.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 27 de outubro de 2017
Feitiço Branco
Título no Brasil: Feitiço Branco
Título Original: White Witch Doctor
Ano de Produção: 1953
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Henry Hathaway
Roteiro: Ivan Goff, Ben Roberts
Elenco: Susan Hayward, Robert Mitchum, Walter Slezak
Sinopse:
Ellen Burton (Susan Hayward) é uma enfermeira americana que aceita o convite para trabalhar em um posto médico avançado no interior selvagem do país africano do Congo. A região é de complicado acesso, assim ele precisa contar com o apoio do aventureiro John 'Lonni' Douglas (Robert Mitchum) que ganha a vida como mercador de animais selvagens para os principais zoológicos do mundo. Ele tem suspeitas de que uma tribo isolada da civilização guarda em seu poder um manancial enorme de ouro, algo que ele precisa conferir com os próprios olhos, enquanto finge apenas ajudar Ellen em sua viagem de trabalho.
Comentários:
Apesar do filme ter sido dirigido pelo especialista Henry Hathaway, cineasta que assinou tantos clássicos da era de ouro do cinema clássico americano e do excelente elenco liderado pela carismática Susan Hayward e pelo sempre competente Robert Mitchum, "White Witch Doctor" se revelou realmente um pouco decepcionante. Inicialmente se percebe que o roteiro quis mesmo se inspirar nos antigos seriados de aventuras que reinaram nas matinês das décadas de 1930 e 1940, além de obviamente se mostrar bem próximo dos filmes de Tarzan, que ainda faziam grande sucesso de bilheteria nos cinemas naquela época. O problema é que em nenhum momento a trama se decide entre virar um filme dramático, romântico ou de aventura. Fica tudo no meio termo e nada é desenvolvido até o fim. Em termos de aventura "Feitiço Branco" tem pouco a oferecer, se resumindo mesmo em poucas cenas de combates ou ação. O herói Mitchum passeia em cena como uma figura heróica e aventureira, mas ao mesmo tempo também gananciosa, pois ele está de olho numa fortuna em ouro escondido nos confins da África negra.
Seu romance com a personagem de Susan Hayward também não vai adiante, se resumindo em alguns beijinhos esporádicos e flertes casuais. Tampouco o lado mais dramático do roteiro pode ser considerado bom. Ele se desenvolve no idealismo da enfermeira que decide ir para o Congo para tratar de populações carentes da região. O problema é que uma vez lá ela não encontra mais a médica com a qual iria trabalhar, pois ela teria morrido por uma doença tropical. Sobra assim poucos momentos realmente interessantes nesse aspecto. Ela até tenta salvar vidas, mas como apenas é uma enfermeira e não uma médica e pouco conhece das doenças daquela parte do mundo tudo parece seguir em vão. Por fim temos que admitir também que a produção deixa a desejar em certos momentos. É nitidamente B. O uso excessivo de externas filmadas na África sendo projetadas nas costas do elenco incomoda. Os cenários pintados a mão também não convencem. Há um gorila em cena, logo no começo do filme, mas ele é tão mal feito, deixando tão claro que é um ator vestido de macaco, que chega a criar um humor involuntário, algo muito ruim para um filme como esse. Enfim, uma aventura que envelheceu mal, ficou muito datada e com roteiro inconclusivo e indeterminado. Definitivamente não é dos melhores.
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
Farrapo Humano
Título Original: The Lost Weekend
Ano de Produção: 1945
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Billy Wilder
Roteiro: Charles R. Jackson, Charles Brackett
Elenco: Ray Milland, Jane Wyman, Phillip Terry
Sinopse:
Don Birnam (Ray Milland) é um escritor fracassado que afoga suas mágoas na bebida. Sustentado pelo irmão e vivendo de bar em bar, ele tenta de alguma forma superar seu sério problema de alcoolismo. As coisas parecem tomar um rumo melhor quando conhece a doce e meiga Helen St. James (Jane Wyman) que está disposta a lutar ao seu lado contra o vício da bebida. Filme premiado com o Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Ray Milland), Melhor Direção (Billy Wilder) e Melhor Roteiro. Indicado também nas categorias de Melhor Edição, Melhor Fotografia e Melhor Música (Miklós Rózsa). Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme - Drama, Melhor Ator (Milland) e Melhor Direção.
Comentários:
Considerado um dos melhores dramas do cinema americano de todos os tempos. O roteiro explora os problemas pessoais que atingem um escritor afundado no alcoolismo. O personagem de Ray Milland não consegue trabalhar, avançar na vida, ficando focado apenas no próximo drink. Isso o faz bolar todo tipo de artimanha para esconder garrafas pela casa, as escondendo na janela, penduradas no lustre do teto ou dentro de encanamentos. Para continuar seu vício ele engana justamente as pessoas que lhe ajudam, como seu irmão e sua namorada, uma jovem de boa família que resolve encarar a batalha por sua liberdade da bebida, algo que não será nada fácil, pois Birnam chega ao ponto até mesmo de penhorar sua máquina de escrever apenas para garantir mais um dia de bebedeiras pela cidade. Depois vai decaindo ainda mais, chegando ao ponto mais baixo de sua existência ao roubar a bolsa de uma mulher em um restaurante, já que não havia mais como pagar pela bebida consumida. Billy Wilder também explora de forma brilhante a própria mente de seu personagem principal. Em um dos momentos mais inspirados coloca Don Birnam em uma ópera que para seu desespero completo está repleta de cenas onde os atores bebem, servem drinks e cantam levantando seus copos! Essa cena é uma das melhores do filme, mesclando o drama pessoal de Don com uma pitada de tragicomédia, que era uma especialidade do gênio Wilder. Em suma, "Farrapo Humano" ainda é uma referência na sétima arte, uma obra brilhante que nunca envelhece. Mais do que indicado para cinéfilo de renome.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
O Estranho John Kane
Temos aqui um bom filme, com argumento interessante e aberto a inúmeras interpretações. O roteiro se concentra justamente no personagem interpretado pelo grande ator negro Sidney Poitier. Ele não fala muito, está sempre com um ar misterioso e tudo isso só serve para aumentar ainda mais a curiosidade dos moradores dessa pequena cidade do interior do Alabama. Obviamente que o racismo não seria deixado de lado, ainda mais dentro do contexto histórico em que o filme foi rodado. Assim a cor de Kane acaba sendo o grande estopim para que o xerife comece a investigar sua vida. Para sua surpresa não encontra muita coisa e acaba, por via das dúvidas, em determinado momento do filme, prendendo Kane. Com um visual bem anos 70 e uma estética narrativa própria da época, o filme ainda se sobressai por apresentar uma ótima trilha sonora escrita pelo mestre Quincy Jones (O mesmo produtor musical que muitos anos depois assinaria a produção do disco mais vendido de todos os tempos, "Thriller" de Michael Jackson). Nos momentos finais o roteiro incorpora uma solução até mística e religiosa para explicar o que John Kane teria feito em seu passado e o que estaria fazendo pelo mundo. Mesmo assim essa explicação, um tanto diferente, jamais é inteiramente assumida pelo filme, ficando a critério do espectador aceitar ou não a incomum teoria. Um filme muito interessante, com uma proposta diferente, tudo levado com singela elegância e simpatia. Certamente uma obra que merece ser revista e reavaliada, particularmente indicada para os fãs da classe e dignidade ímpares do talentoso Poitier.
O Estranho John Kane (Brother John, EUA, 1971) Direção: James Goldstone / Roteiro: Ernest Kinoy / Elenco: Sidney Poitier, Will Geer, Bradford Dillman, Beverly Todd / Sinopse: John Kane (Sidney Poitier) retorna para sua cidade natal após viver fora por muitos anos. Ele está de volta para prestar suas últimas homenagens à irmã falecida. Sua presença logo chama a atenção dos moradores, em especial do xerife e do querido médico da comunidade, o Dr. Thomas (Will Geer). Em pouco tempo Kane, mesmo não tendo feito nada de errado em sua passagem pela região, começa a ser investigado pela polícia. O que afinal de contas ele estaria tentando esconder de todos?
Pablo Aluísio.
Jamais Te Esquecerei
Título Original: The House in the Square
Ano de Produção: 1951
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Roy Ward Baker
Roteiro: John L. Balderston, Ranald MacDougall
Elenco: Tyrone Power, Ann Blyth, Michael Rennie
Sinopse:
O físico nuclear Peter Standish (Tyrone Power) acaba desenvolvendo uma tese de que no universo temos várias realidades paralelas, inclusive em relação ao tempo. Para Peter o passado, presente e futuro formam uma só dimensão, o que tornaria possível a viagem no tempo. Após encontrar anotações de um antepassado distante ele acaba se convencendo que em algum momento de sua vida retornou ao século XVI, onde deixou para o seu eu do presente pistas do que teria feito lá. Agora ele precisa descobrir uma maneira de romper o espaço tempo para provar suas teorias.
Comentários:
Então você pensava que o tema viagem ao tempo só foi explorado pelo cinema na série "De Volta Para o Futuro"? Melhor rever seus conceitos meu caro. Esse "Jamais Te Esquecerei" é um filme pioneiro, realizado no começo dos anos 1950, que explora muito bem esse tema. O personagem principal, interpretado pelo galã Tyrone Power, é um cientista que está convencido que a viagem no tempo seria possível, baseado nas teorias do gênio Albert Einstein. Revirando velhos manuscritos que pertencem à sua família há séculos ele encontra cartas datadas do século XVI que dão pistas de que ele próprio, de alguma maneira, esteve lá! A partir daí o físico começa uma série de experimentos para realizar essa viagem inédita. E depois de um evento perfeitamente natural (um raio, tal como em "De Volta Para o Futuro") ele consegue realmente romper a barreira do tempo, indo parar no passado. Lá ele encontra seus antepassados e até se apaixona por uma prima, que se torna um amor impossível. Dois aspectos merecem menção nesse imaginativo roteiro. O primeiro é que uma vez no passado Standish fica um tanto decepcionado com o que encontra. Ele tinha uma imagem romântica daquele tempo, mas acaba encontrando uma realidade dura, com muita pobreza, exploração (inclusive envolvendo trabalho infantil), sujeira pelas ruas e poucos padrões de higiene das pessoas ao seu redor. Imagine tudo isso em um filme que supostamente deveria explorar um universo de fantasia romântica! Outro ponto interessante é que o diretor Roy Ward Baker teve uma ideia realmente genial ao filmar em dois sistemas diferentes. Quando o físico interpretado por Tyrone Power está no seu presente o filme apresenta uma fotografia toda em preto e branco. Há um clima sombrio no ar. Quando ele retorna ao passado o filme se torna colorido, vibrante e alegre. Achei realmente muito criativo esse aspecto. Assim "Jamais Te Esquecerei" é um filme bem à frente de seu tempo. É em essência um drama romântico, mas também é bem inteligente e mais do que isso, realista! Uma produção que realmente surpreende o espectador.
Pablo Aluísio
terça-feira, 24 de outubro de 2017
O Planeta dos Macacos
Título Original: Planet of the Apes
Ano de Produção: 1968
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Franklin J. Schaffner
Roteiro: Michael Wilson, Rod Serling
Elenco: Charlton Heston, Roddy McDowall, Kim Hunter, Maurice Evans, James Whitmore, James Daly
Sinopse:
Após sua espaçonave sofrer uma pane, o astronauta George Taylor (Charlton Heston) vai parar em um estranho planeta, muito parecido com a Terra, mas que é dominado por macacos! Os únicos humanos estão aprisionados como animais. Tudo não parece fazer muito sentido até que Taylor descobre uma terrível verdade sobre aquele lugar...
Comentários:
Esse é o filme que deu origem a tudo. Baseado na obra literária de Pierre Boulle o projeto do filme ficou arquivado por muitos anos pois o estúdio tinha receios do público não entender a proposta principal do enredo. Só após o ator Charlton Heston aceitar o convite para estrelar a película é que finalmente a Fox deu sinal verde para a produção do filme. Acabou sendo um marco histórico para a ficção no cinema. É curioso porque Charlton Heston foi uma estrela da Hollywood clássica, com uma filmografia épica que nada tinha a ver com esse tipo de universo. De fato "O Planeta dos Macacos" é seu filme mais sui generis, nada parecido com o trabalho que ele tinha desenvolvido anteriormente em sua carreira. Ele teve muita coragem em atuar nesse tipo de produção Sci-fi, algo que seus admiradores não esperavam. De uma forma ou outra o público adorou o resultado. O roteiro não se resumia em mostrar um universo estranho, de um mundo dominado por macacos, mas também em discutir aspectos sociais da própria época. Era um argumento inteligente, muito bem escrito, que fez com que o público jovem (em plena era da geração hippie, power flower) abraçasse a proposta do filme. Havia também ótimas sequências como àquela em que o personagem de Heston encontrava a estátua da liberdade afundada nas areias do praia. Algo para não esquecer! O sucesso foi tão grande que acabou dando origem a uma extensa franquia, com continuações ora interessantes, ora irregulares. Mesmo assim não há como diminuir o impacto desse histórico primeiro filme. Sucesso de público e crítica acabou levando também um merecido Oscar na categoria de melhor maquiagem (para John Chambers). Simplesmente indispensável para qualquer cinéfilo que se preze.
Pablo Aluísio.
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
Vampiros de Almas
Título Original: Invasion of the Body Snatchers
Ano de Produção: 1956
País: Estados Unidos
Estúdio: Allied Artists Pictures
Direção: Don Siegel
Roteiro: Daniel Mainwaring, Jack Finney
Elenco: Kevin McCarthy, Dana Wynter, Larry Gates
Sinopse:
Ao retornar para a pequena cidadezinha onde mora na Califórnia o Dr. Miles J. Bennell (Kevin McCarthy) começa a receber reclamações estranhas de seus pacientes. Para esses haveria algo muito anormal acontecendo, pois seus parentes não seriam mais quem dizem ser. Eles se pareceriam com seus maridos, tios, pais, mas definitivamente não seriam eles na verdade. Intrigado o Dr. Milles começa a investigar o que estaria acontecendo. Seria algum tipo de delírio coletivo? No mínimo tudo soaria muito estranho... Aos poucos ele vai descobrindo a terrível verdade. O problema é convencer alguém do que estaria acontecendo de fato. Plantas alienígenas estariam trocando os seres humanos por cópias perfeitas? Quem acreditaria em algo tão absurdo?
Comentários:
Esse filme é considerado um dos grandes clássicos de Ficção dos anos 50. O enredo foi baseado em um conto escrito por Jack Finney para a revista de literatura fantástica "Collier's magazine serial". Imaginem uma invasão bem sutil de uma raça de aliens que ao invés de enfrentar os seres humanos em uma grande guerra de mundos estaria aos poucos substituindo todos os humanos por cópias de si mesmos. As estranhas criaturas seriam uma simbiose entre o mundo animal e vegetal e estariam determinadas a conquistar o planeta, se livrando da humanidade que para eles seria completamente descartável por serem seres emocionais e propensos a atos de violência irracional. O roteiro assim joga com o suspense da situação, sem nunca apelar para os efeitos especiais ou monstros, como era de praxe na época. O curioso dessa produção é que ela joga mais com o lado intelectual da situação do que com qualquer outra coisa. Há certamente cenas de ação e tudo mais (como quando os protagonistas fogem colina acima, perseguidos por uma multidão de abduzidos), mas nada disso é o foco principal da fita. Na verdade o criador do conto original fez uma analogia em cima do clima de paranoia em que vivia a sociedade americana. Havia um temor que o comunismo invadisse e destruísse os valores americanos. Isso fica bem claro quando o médico é informado por um dos seres que o objetivo dos aliens seria a construção de uma sociedade sem individualidade, onde todos seriam iguais, subordinados, sem diferenças entre si (e sem emoções também!). Ora, basta entender o contexto histórico do lançamento de "Invasion of the Body Snatchers" para entender bem onde o argumento queria chegar. Claro que passados tantos anos a ideia já não soa tão original como nos anos 50, afinal de contas o filme foi extremamente imitado por décadas! Mesmo assim não há como negar que é realmente um marco na história do universo Sci-Fi americano. Depois de filmes como esse não haveria mais limites para a imaginação dos roteiristas. Sob esse ponto de vista "Vampiros de Almas" realmente fez escola e pode ser considerado uma das ficções mais influentes da história do cinema americano. Pequena obra prima.
Pablo Aluísio.