Após longos anos distante de sua cidade natal, John Kane (Sidney Poitier) retorna. Ninguém sabe ao certo onde esteve por todo esse tempo e nem o que fazia. Ele apenas está de volta após a morte de sua irmã. Seu passado obscuro e desconhecido chama a atenção do médico local, o Dr. Thomas (Will Geer) e do xerife Charley Gray (Lincoln Kilpatrick). Esse último resolve investigar pois desconfia que Kane na verdade seja um anarquista, um baderneiro que está de volta àquela cidadezinha do Alabama para participar dos protestos e das greves dos trabalhadores de uma fábrica da região. Ele seria um agitador político, talvez um membro de organizações radicais como os Panteras Negras. Enquanto está ausente do hotel onde está hospedado, o xerife entra escondido em seu quarto e encontra em sua mala um passaporte. Nele se pode constatar que John Kane esteve nos mais diversos e diferentes países, tão diferentes como a China ou Cuba. As suspeitas de que seria um comunista logo acendem a desconfiança do velho homem da lei. A partir daí ele transforma Kane no alvo de suas investigações, seguindo cada passo que ele dá. Mas afinal qual seria realmente a verdade sobre esse estranho sujeito?
Temos aqui um bom filme, com argumento interessante e aberto a inúmeras interpretações. O roteiro se concentra justamente no personagem interpretado pelo grande ator negro Sidney Poitier. Ele não fala muito, está sempre com um ar misterioso e tudo isso só serve para aumentar ainda mais a curiosidade dos moradores dessa pequena cidade do interior do Alabama. Obviamente que o racismo não seria deixado de lado, ainda mais dentro do contexto histórico em que o filme foi rodado. Assim a cor de Kane acaba sendo o grande estopim para que o xerife comece a investigar sua vida. Para sua surpresa não encontra muita coisa e acaba, por via das dúvidas, em determinado momento do filme, prendendo Kane. Com um visual bem anos 70 e uma estética narrativa própria da época, o filme ainda se sobressai por apresentar uma ótima trilha sonora escrita pelo mestre Quincy Jones (O mesmo produtor musical que muitos anos depois assinaria a produção do disco mais vendido de todos os tempos, "Thriller" de Michael Jackson). Nos momentos finais o roteiro incorpora uma solução até mística e religiosa para explicar o que John Kane teria feito em seu passado e o que estaria fazendo pelo mundo. Mesmo assim essa explicação, um tanto diferente, jamais é inteiramente assumida pelo filme, ficando a critério do espectador aceitar ou não a incomum teoria. Um filme muito interessante, com uma proposta diferente, tudo levado com singela elegância e simpatia. Certamente uma obra que merece ser revista e reavaliada, particularmente indicada para os fãs da classe e dignidade ímpares do talentoso Poitier.
O Estranho John Kane (Brother John, EUA, 1971) Direção: James Goldstone / Roteiro: Ernest Kinoy / Elenco: Sidney Poitier, Will Geer, Bradford Dillman, Beverly Todd / Sinopse: John Kane (Sidney Poitier) retorna para sua cidade natal após viver fora por muitos anos. Ele está de volta para prestar suas últimas homenagens à irmã falecida. Sua presença logo chama a atenção dos moradores, em especial do xerife e do querido médico da comunidade, o Dr. Thomas (Will Geer). Em pouco tempo Kane, mesmo não tendo feito nada de errado em sua passagem pela região, começa a ser investigado pela polícia. O que afinal de contas ele estaria tentando esconder de todos?
Pablo Aluísio.
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