sábado, 1 de julho de 2017

Rei Arthur: A Lenda da Espada

Esse filme é o maior fracasso da temporada. Custou 175 milhões de dólares, mas só conseguiu faturar 14 milhões em seu primeiro final de semana nos Estados Unidos. Um desastre comercial monumental. Conferido os números é hora de se perguntar se o fracasso foi merecido. Lamento dizer, mas foi sim. O diretor Guy Ritchie deveria tomar vergonha na cara e parar de destroçar grandes personagens da literatura e da história. Ele já fez muita bobagem com Sherlock Holmes e agora parecia decidido a aniquilar o mais lendário monarca inglês, o nobre Arthur da Távola Redonda. O que mais me impressiona é que todos os elementos da mitologia de Arthur já estão sobre a mesa. É só adaptar sem fazer besteira que certamente dará certo. Muitos filmes do passado provaram exatamente isso. É praticamente tiro e queda! Dessa maneira não haveria muito como errar, mas Ritchie pelo visto não aprendeu essa lição. Ele resolveu mexer no mito, trocando elementos da história, personagens e o pior de tudo, mexendo na própria personalidade de Arthur. Um crime de lesa majestade!

O ator que dá vida a Arthur nessa nova versão é o motoqueiro de "Sons of Anarchy", o marrento Charlie Hunnam. Quando ele anda, com aquele gingado de motociclista californiano da série, você logo percebe que o filme vai afundar. Ele não tem a classe, a honradez e nem demonstra ter qualquer sinal da bravura do rei da lenda. Ao contrário disso é praticamente um pusilânime, um sujeito covarde que é levado pela espada Excalibur, quase como se fosse uma extensão dela! E ele não se esforça em nada em pelo menos disfarçar um bom sotaque inglês! Nada, sua caracterização do Rei é zero! Muito ruim. Esse é o segundo grande fracasso dele no cinema (o primeiro foi "Círculo de Fogo"), então provavelmente ele vai voltar para as séries, porque no mundo da indústria cinematográfica americana afundar duas vezes nas bilheterias é praticamente fatal. Volte para as motos e casacos de couro, Hunnam!

De fato o único bom ator desse filme é Jude Law. Ele interpreta o tio de Arthur, o sinistro rei  Vortigern, que faz de tudo para manter a coroa, até mesmo matar o irmão, a esposa e sua filha. O sujeito é realmente um monstro em todos os aspectos. Mais malvadão do que isso, impossível! Law sobrevive ao desastre, mas para não deixar nada de bom passar ileso, o equivocado Guy Ritchie mais uma vez erra a mão, o soterrando sob toneladas de efeitos digitais! Quando Law finalmente vai enfrentar Arthur, naquela que poderia ser a cena que salvaria o filme, o diretor resolve deixar tudo com cara de vídeo game! Para quem sumiu com o mago Merlin, bem, o que você poderia esperar? Sim, esse é um filme de Rei Arthur, mas sem o Merlin! Sumiram com o velhinho! Depois dessa só restava a Guy Ritchie ser punido pelo público, deixando as salas de cinema completamente vazias! Bem feito.

Rei Arthur: A Lenda da Espada (King Arthur: Legend of the Sword, 2017) Direção: Guy Ritchie / Roteiro: Joby Harold, Guy Ritchie / Elenco: Charlie Hunnam, Jude Law, Eric Bana, Astrid Bergès-Frisbey,  / Sinopse: Após ter seu pai morto por seu ambicioso tio, o garoto Arthur é enviado para a cidade de Londres, através do rio, tal como se fosse um Moisés da história inglesa, onde acaba sendo acolhido, crescendo sob os cuidados de mulheres que vivem nos bordéis da cidade. Ele cresce a acaba tirando a espada Excalibur de uma rocha, algo que simboliza seu direito legítimo ao trono da Inglaterra.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 27 de junho de 2017

Jezebel

A atriz Bette Davis costumava dizer que o diretor William Wyler era um verdadeiro tirano durante as filmagens e que paradoxalmente a isso ele havia conseguido lhe tirar as melhores interpretações de sua carreira. O filme "Jezebel" vem justamente para confirmar as afirmações de Davis. Aqui ela interpreta Julie Marsden, uma jovem dama sulista na New Orleans do século XIX. Mimada, geniosa e dada a ataques de capricho, ela coloca seu romance com o banqueiro Preston Dillard (Henry Fonda) em risco, justamente por causa de sua personalidade.

Preston gosta dela, é verdadeiramente apaixonado, porém a paciência vai se acabando. Durante um tradicional baile sulista, onde as jovens solteiras sempre vão com lindos vestidos brancos, numa tradição muito valorizada no sul, Julie decide aparecer com um vestido todo vermelho, bem berrante, para escândalo da sociedade local. Essa "vergonha" começa a minar o romance dela com o jovem banqueiro, que afinal de contas é muito suscetível a qualquer problema dentro das regras daquela sociedade, uma vez que é um banqueiro que precisa preservar sua imagem perante seus clientes.

Dois aspectos históricos bem interessantes acompanham o enredo de "Jezebel". O primeiro é o fato da história se passar apenas poucos anos antes do começo da guerra civil americana. Já naquela época os ânimos surgem bem aflorados, dominando as conversas dos sulistas pelos salões das cidades. Outro é o surgimento da febre amarela no sul, levando morte e destruição em uma escala jamais vista. Essa doença que se dissemina com extrema rapidez vai ser essencial no desenrolar da história, culminando numa forte cena final que certamente marcou época e é o grande momento de todo o filme.

"Jezebel" foi baseado numa peça escrita por Owen Davis. De certa forma foi uma produção que antecipou em um ano o impacto do clássico "E o Vento Levou". As duas histórias dos filmes são bem parecidas, com enredos se passando no sul escravocrata, nos tempos da guerra civil. As duas protagonistas também são bem semelhantes. Até mesmo em termos de premiação da academia temos semelhanças pois Bette Davis foi merecidamente premiada com a estatueta de melhor atriz do ano com essa interpretação. Ela era ainda bem jovem, mas já imprimia a marca de sua forte personalidade em sua personagem. Décadas mais tarde, após o falecimento de Bette Davis, o diretor Steven Spielberg compraria o Oscar que ela havia sido premiada por esse filme e que estava à venda em um leilão em Londres. Ele comprou a estatueta e a devolveu para o museu da academia em Hollywood. Um gesto de preservação da história do cinema. Em suma, esse é de fato um dos melhores filmes históricos desse momento crucial na história dos Estados Unidos. Um clássico absoluto do cinema americano em sua era de ouro.

Jezebel (Jezebel, Estados Unidos,1938) Direção: William Wyler / Roteiro: Clements Ripley, Abem Finkel / Elenco:  Bette Davis, Henry Fonda, George Brent / Sinopse: Julie (Bette Davis) é uma jovem mimada e de personalidade forte. Ela tem um romance com um jovem banqueiro chamado Preston (Fonda), mas esse vai aos poucos perdendo a paciência com seus inúmeros caprichos. Quando a febre amarela assola a região o casal se colocará a prova, principalmente quando Julie descobrir que o grande amor de sua vida se casou com uma jovem do norte após o rompimento de seu conturbado namoro. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Fotografia (Ernest Haller) e Melhor Música (Max Steiner). Vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Bette Davis) e Melhor Atriz Coadjuvante (Fay Bainter).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Calvário da Glória

Um filme realmente magnífico. A história se passa no meio teatral de Nova Iorque durante os anos 1950. É para lá que viaja Sam Lawson (Anthony Franciosa). Vindo de uma cidadezinha do interior ele tem muitos sonhos de se tornar um ator de sucesso na grande cidade. Para trás ele deixa a noiva Barbara (Joan Blackman). Assim que embarca no trem seu coração dispara, afinal é uma nova fase que vai nascendo em sua vida. E então vem a decepção. Assim como ele, há milhares de outros atores em Nova Iorque em busca de uma chance. A imensa maioria deles está desempregada. Os testes são extremamente competitivos e se torna mais fácil ganhar na loteria do que ser escolhido para atuar em uma peça.

Essa dura realidade vai minando os sonhos de Sam. Ele conhece um produtor de peças, Maurice 'Maury' Novak (Dean Martin), tão fracassado como ele e Shirley Drake (Shirley MacLaine), a filha de um dos produtores mais prestigiados de Nova Iorque, um boçal arrogante que parece ter prazer em humilhar os atores que buscam um espaço em suas peças teatrais. Como se pode perceber é uma galeria de personagens cruéis, violentos, irascíveis... todos tentando vencer em uma ramo verdadeiramente selvagem da grande metrópole. Para Sam a tragédia é ainda maior porque sua bela e jovem noiva não reage bem ao seu fracasso profissional. Ela fica grávida, perde o filho e o casamento não sobrevive a tantos problemas. Sam tenta muito ter uma oportunidade, mas todas as portas parecem estar fechadas para ele.

O roteiro desse filme sobre fracasso, desesperança e também persistência, é brilhante. Ele foi escrito pelo genial Dalton Trumbo que fez uma crônica sobre a destruição dos sonhos do protagonista. Obviamente Trumbo conheceu muitos atores que viveram a mesma situação de Sam. Pessoas cheias de sonhos que foram trucidadas pela realidade da vida. O personagem principal porém não deixa de ser um exemplo, principalmente pelo desfecho do filme. Trumbo preferiu a esperança do que o fracasso, a glória de uma vida de lutas do que passar uma mensagem pessimista, sórdida e cruel. Nesse aspecto ele conseguiu fechar com chave de ouro seu maravilhoso texto. Deu-se ao privilégio inclusive de colocar elementos de sua própria vida pessoal no enredo, como a perseguição aos comunistas na época, os impedindo de trabalharem e sobreviverem.

Além do roteiro que é inegavelmente uma obra prima, outro aspecto chama a atenção do espectador: o maravilhoso elenco. Todos estão em momento de graça. Até mesmo o cantor Dean Martin surpreende com sua atuação. Ele é um produtor de peças baratas do circuito Off-Broadway que vai vivendo um dia de cada vez. Shirley MacLaine é outro destaque absoluto. Uma menina rica, abusada, alcoólatra, com problemas psicológicos, que vira um elo nada sólido entre o fracasso e o sucesso daqueles que orbitam ao seu redor. Um fato curioso é que muitos astros recusaram o convite para atuar nesse filme. O tema do fracasso de um ator certamente assustou as estrelas de Hollywood. Coube então ao corajoso Anthony Franciosa assumir o papel principal, nesse que foi seguramente seu mais brilhante trabalho de atuação. "Calvário da Glória" é isso. Uma crônica sobre os sonhos em pedaços, mostrando o valor daqueles que persistem na busca por uma vida melhor.

Calvário da Glória (Career, Estados Unidos, 1959) Direção: Joseph Anthony / Roteiro: Dalton Trumbo / Elenco: Anthony Franciosa, Dean Martin, Shirley MacLaine, Carolyn Jones, Joan Blackman / Sinopse: Sam (Franciosa) é um ator fracassado que tenta de todas as formas vencer no concorrido mercado teatral de Nova Iorque. Apesar de seus esforços todas as portas parecem estar fechadas para seus sonhos. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (Joseph LaShelle), Melhor Figurino (Edith Head) e Melhor Direção de Arte (Hal Pereira e Walter H. Tyler). Filme vencedor do Globo de ouro na categoria de Melhor Ator - Drama (Anthony Franciosa).

Pablo Aluísio.

domingo, 25 de junho de 2017

Enigma de uma Vida

O filme começa com Ned Merrill (Burt Lancaster) chegando na casa de amigos, vizinhos, velhos conhecidos. Há muito tempo que ele não aparecia por lá. A recepção é a melhor possível. É um domingo pela manhã, lindo dia de sol. Ned está animado para nadar na piscina da casa deles. Ele parece estar com ótimo humor, uma pessoa de bem com a vida. Entre conversas triviais ele fica sabendo que a maioria das casas vizinhas agora possuem sua própria piscina. É uma longa caminhada de Ned até chegar na sua residência, então ele decide fazer uma coisa inusitada: nadar em todas as piscinas que encontrar, até chegar em sua casa. Ele quer, em suas próprias palavras, chegar nadando até lá!

Então sem perder muito tempo Ned começa sua estranha jornada. Apenas com calção de banho, ele vai indo de casa em casa, pedindo licença aos moradores, para dar uma bela nadada em suas piscinas. No começo tudo parece bem fútil e até mesmo bobo, porém conforme Ned vai reencontrando velhos amigos e pessoas de seu passado, sua própria vida vai se revelando nessa sua caminhada. Ele revê sua antiga amante, uma mulher amargurada que está decidida a não mais cair em seus braços, também reencontra a babá de seus filhos, uma garota que agora está com 20 anos e que confessa que na adolescência havia criado uma paixão platônica avassaladora por ele. Cada uma dessas pessoas vai deixando uma marca em Ned. Ele porém não encontra apenas pessoas amigáveis, pelo contrário, também se vê diante de inimizades, moradores ricos e esnobes e gente que o trata mal.

Olha, o roteiro desse filme clássico "Enigma de uma Vida" pode até parecer bem simples numa visão superficial. Porém conforme o enredo vai se desenvolvendo percebemos que há muito mais por trás de sua suposta singeleza. O personagem interpretado por Burt Lancaster parece otimista e cheio de vida no começo do filme, mas quando começa sua jornada pelas piscinas da vizinhança ele começa a cair, sofrer ataques de pessoas que tinham alguma mágoa ou contas a acertar com ele e assim sua animação vai se esvaziando conforme ele avança. Lancaster já não era um garotão quando fez esse filme, mas estava em ótima forma física. Ele mescla uma atuação mais física com ótimos momentos em que demonstra grande talento dramático.

O título original do filme em inglês, que significa "o nadador" (The Swimmer), pode até dar a impressão que o protagonista só quer cumprir uma tarefa bem boba, auto imposta por ele mesmo, porém ao encontrar seus vizinhos e pessoas do passado, sua própria vida vai se revelando. O roteiro é assim uma verdadeira metáfora da vida do personagem. A vida começa cheia de esperanças, otimismo e alegria. Conforme o tempo vai passando e sofremos perdas, decepções, revezes e infortúnios, o sol que brilhava tanto já não brilha mais. Por isso a cena final é toda passada em uma grande chuva torrencial. Quando ele finalmente bate a porta de sua antiga casa, tudo é revelado. Em suma, ótima filme em roteiro que surpreende por sua profundidade (até mesmo filosófica). Uma verdadeira obra prima, para dizer a verdade.

Enigma de uma Vida (The Swimmer, Estados Unidos,1968) Direção: Frank Perry, Sydney Pollack / Roteiro: Eleanor Perry, John Cheever / Elenco: Burt Lancaster, Janet Landgard, Janice Rule / Sinopse: Ned Merrill (Burt Lancaster), um morador da região, decide fazer uma maratona nas piscinas de seus vizinhos. O que inicialmente parece ser uma grande bobagem acaba se revelando um momento de reflexão sobre sua vida, seu passado e as pessoas que conheceu ao longo de todos esses anos.

Pablo Aluísio.

Cinco Semanas Num Balão

Rever esse filme foi como relembrar as antigas reprises da Sessão da Tarde na década de 1980. Naquela época o cardápio de filmes clássicos sendo exibidos na TV aberta era bem farto e variado. E um dos campeões de exibição era justamente esse "Cinco Semanas Num Balão". O roteiro é baseado no livro do maravilhoso Júlio Verne, um dos mais imaginativos e criativos escritores de todos os tempos. Unindo fantasia e aventura ele acabou criando livros que até hoje encantam. O livro original foi publicado em 1863 e foi um dos primeiros a se tornarem best-seller. Uma fórmula que Verne iria repetir por muitos anos em seus livros seguintes. Pois bem, esse filme foi produzido para celebrar o centenário do livro, porém acabou se fazendo algumas mudanças para agradar ao público da década de 1960. Há claramente uma tentativa de transformar tudo em algo leve, divertido, com bastante humor. O filme foi dirigido pelo mestre da TV Irwin Allen, produtor de clássicas séries como "Perdidos no Espaço", "Terra de Gigantes", "Viagem ao Fundo do Mar" e "Túnel do Tempo". Trocando em miúdos, se havia alguém indicado para realizar um filme baseado nas aventuras cheias de fantasia de Verne, nome mais indicado não existia.

Infelizmente na ânsia de fazer algo muito leve e familiar, o diretor acabou tirando grande parte do conteúdo do livro de Verne. Por exemplo, o discurso abolicionista da trama original é apenas colocado em segundo plano. Ao invés de mostrar a garra dos protagonistas em chegar primeiro numa região desolada da África Ocidental para evitar que os traficantes de negros escravos dominassem o lugar, tudo é deixado bem de lado, para explorar mais as cenas de ação e humor. O elenco também é apenas mediano. O diretor escalou até o cantor juvenil Fabian para atrair bilheteria. O problema é que ele definitivamente era muito fraco como ator, mais parecendo uma imitação sem graça de Elvis Presley. Até a "Jeannie" Barbara Eden (da série "Jeannie é um gênio") foi desperdiçada. Ainda no auge da beleza ela não tinha muito a fazer a não ser desfilar com seu rosto bonito em cena. O único bom ator desse filme foi o veterano Richard Haydn. O resto realmente se tornou bem dispensável. Assim, no final das contas temos apenas um filme regular. Claro, servirá para trazer muita nostalgia para quem o assistiu na infância, mas é só. Como obra cinematográfica passa longe de ser considerado um clássico.

Cinco Semanas Num Balão (Five Weeks in a Balloon, Estados Unidos, 1962) Direção: Irwin Allen / Roteiro: Charles Bennett, baseado no livro de Jules Verne / Elenco: Red Buttons, Fabian, Barbara Eden, Richard Haydn / Sinopse: Para evitar que traficantes negreiros tomem posse de uma enorme  região remota na África Ocidental o governo da Inglaterra resolve enviar uma expedição em um balão para fincar a bandeira do Reino Unido naquele vasto território, para que assim as terras sejam reivindicadas pela coroa inglesa.

Pablo Aluísio.

sábado, 24 de junho de 2017

A Selva Nua

Título no Brasil: A Selva Nua
Título Original: The Naked Jungle
Ano de Produção: 1954
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Byron Haskin
Roteiro: Philip Yordan, Ranald MacDougall
Elenco: Charlton Heston, Eleanor Parker, Abraham Sofaer, William Conrad, Leonard Strong, John Dierkes
  
Sinopse:
Christopher Leiningen (Charlton Heston) é um fazendeiro americano que ergue uma plantação de cacau no meio da floresta amazônica. Ele luta para vencer a natureza da região e precisa enfrentar muitos desafios, inclusive a infestação de uma formiga voraz conhecida na região como Marabunta! Solitário naquele mundo perdido, ele decide se casar por procuração com uma mulher de New Orleans chamada Joanna (Eleanor Parker). Quando ela finalmente chega na região Christopher acaba se decepcionando, criando inúmeros problemas para seu novo relacionamento.

Comentários:
Um filme de selva, gênero que era muito popular nos anos 1950, só que ao invés de se passar na África esse aqui se passa na floresta Amazônica. Charlton Heston interpreta esse fazendeiro bem rude e violento que precisa lidar com uma infestação de formigas devoradoras, que podiam acabar com sua plantação de cacau em poucas horas. Além disso ele tem que receber a mulher que acabou de chegar dos Estados Unidos para ser sua esposa. É complicado simpatizar com esse protagonista porque ele é em essência um homem sem qualquer simpatia pessoal, violento com seus empregados e irascível com a esposa recém chegada. A primeira parte do filme mostra os problemas envolvendo justamente seu péssimo temperamento com a mulher que deveria ser sua nova esposa. Ele não se socializa direito, tem poucas palavras agradáveis para dizer a ela e o pior de tudo, a rejeita simplesmente pelo fato dela ter sido casada como outro homem no passado. Eleanor Parker está muito bonita no filme, vestindo roupas elegantes que contrastam completamente com o clima selvagem da região. É um bom filme, que consegue mesclar romance com aventura. Bem no estilo desse tipo de produção da época. Por fim um fato curioso: durante o lançamento do filme no Brasil o ator Charlton Heston visitou a cidade de São Paulo. Em entrevista com a jornalista Dulce Damasceno de Brito na cidade, o ator quis saber como os paulistas lidavam com a terrível formiga Marabunta! Heston pensava que o inseto infestava a grande cidade brasileira, demonstrando toda a sua ignorância sobre o Brasil. Essa situação inusitada foi relatada por Dulce em uma de suas colunas na revista Set. Pelo visto Charlton Heston pensava que os paulistas tinham que enfrentar as formigas em suas casas, todos os dias! No mínimo surreal sua visão sobre a maior cidade da América do Sul.

Pablo Aluísio.

Quero um Marido

Título no Brasil: Quero um Marido
Título Original: Give Me a Sailor
Ano de Produção: 1938
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Elliott Nugent
Roteiro: Doris Anderson
Elenco: Bob Hope, Betty Grable, Martha Raye, Clarence Kolb, Bonnie Jean Churchill, Nana Bryant
  
Sinopse:
Jim Brewster (Bob Hope) e seu irmão Walter (Jack Whiting) estão de volta aos Estados Unidos após uma longa viagem. Eles são marinheiros e estão empolgados por voltarem ao lar depois de tanto tempo. Walter está especialmente ansioso em reencontrar sua namorada Nancy Larkin (Betty Grable). Ele está decidido a pedi-la em casamento, só que há um problema pela frente: Jim também sempre foi apaixonado por Nancy e tentará conquistá-la de todas as formas!

Comentários:
Bob Hope sempre foi um dos comediantes mais queridos da América. Ele teve uma longa carreira, fez shows de TV e durante anos foi o apresentador do Oscar. Hope nunca foi muito conhecido do público brasileiro, mas com o relançamento de muitos de seus filmes mais antigos surge uma boa oportunidade de conhecer melhor sua filmografia. Esse aqui intitulado "Give Me a Sailor" foi um dos seus grandes sucessos de bilheteria nos anos 1930. O roteiro explora um triângulo amoroso envolvendo dois irmãos que estão na marinha e uma bela jovem loira interpretada pela linda atriz Betty Grable, em comecinho de carreira, em um dos seus primeiros papéis de destaque em Hollywood. O que poderia ser um estopim dramático para os protagonistas acaba virando apenas um mote para cenas divertidas e engraçadas, tudo muito leve, bem indicado para a família. É curioso porque esse mesmo roteiro acabou sendo readaptado anos depois para um filme com outro comediante famoso, Jerry Lewis. Tanto esse filme original como o remake de Lewis eram baseados na mesma peça escrita por Anne Nichols, uma escritora que fez muito sucesso na Broadway na década anterior, em plenos anos 20. Então é isso, um filme leve, doce, com roteiro bem simples, para fãs de Bob Hope e Betty Grable.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Asas de Águias

Título no Brasil: Asas de Águias
Título Original: The Wings of Eagles
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: John Ford
Roteiro: Frank Fenton, William Wister Haines
Elenco: John Wayne, Maureen O'Hara, Dan Dailey, Ward Bond, Ken Curtis, Edmund Lowe
  
Sinopse:
Durante a formação da primeira esquadrilha de aviões da marinha americana, o piloto Frank 'Spig' Wead (John Wayne) acaba se destacando por sua coragem e audácia. Ele é um militar rebelde que nem sempre segue as ordens. Quando a marinha resolve disputar com o exército uma volta ao mundo ele prontamente se dispõe a liderar sua equipe. Apenas uma surpresa do destino acaba parando seus planos para essa aventura inesquecível.

Comentários:
John Ford foi um mestre do cinema. Disso ninguém tem dúvidas. A questão é que até mesmo os grandes cineastas dão tropeços em sua carreira. Esse "Asas de Águias" foi seguramente um dos piores filmes de Ford. Mesmo trabalhando ao lado de John Wayne, em uma história tão interessante, baseada em fatos reais, pouca coisa funciona. No começo do filme Ford adota um tom exageradamente pastelão. Isso mesmo, em um filme que se propunha a ser um drama de guerra, Ford colocou cenas exageradamente cômicas, com direito a bolos e tortas na cara e calhambeques disputando corridas com aviões (como se o espectador estivesse assistindo a um velho filme de "O Gordo e o Magro"). Nada chega a ser engraçado, apenas constrangedor. Depois o filme avança e Ford, aos poucos, vai mudando o estilo. O personagem de John Wayne sofre um acidente doméstico, ao cair de uma escada, e se torna paraplégico. Ele que sempre foi um militar audacioso teria que lidar agora com uma terrível nova realidade. E aí, do nada, o que era pastelão se torna dramalhão. É um pouco demais para o público, vamos convir. Essa montanha russa de estilos cinematográficos acaba atrapalhando o filme como um todo. Sem ter como pilotar novamente então o personagem de John Wayne vai para Hollywood e se torna roteirista de filmes de guerra. A história real de Frank 'Spig' Wead poderia render algo muito mais interessante. Ele próprio poderia ter escrito um roteiro melhor para o filme, porém quando esse foi realizado ele já estava morto. Uma pena, de certa forma John Ford, apesar de todas as suas boas intenções e talento, estragou essa biografia do velho piloto da marinha. Se tivesse adotado um tom sério e mais centrado no drama real vivido por Spig teríamos um filme muito mais interessante. Do jeito que ficou tudo soa muito bobo e fora de propósito. Esse filme certamente foi uma bola fora dentro da filmografia do grande John Ford. A lição que fica é a de que até os grandes gênios do cinema cometem sua dose de bobagens nas telas.

Pablo Aluísio.

Vamos Dançar?

Título no Brasil: Vamos Dançar?
Título Original: Shall We Dance
Ano de Produção: 1937
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: Mark Sandrich
Roteiro: Allan Scott, Ernest Pagano
Elenco: Fred Astaire, Ginger Rogers, Edward Everett Horton, Eric Blore, Jerome Cowan, Ketti Gallian
  
Sinopse:
Durante uma viagem de navio rumo a Nova Iorque, o mestre do mundo da dança Pete "Petrov" Peters (Fred Astaire) descobre que no mesmo navio viaja a estrela dos musicais Linda Keene (Ginger Rogers). E eles acabam se tornando alvo de uma fofoca que diz que supostamente estariam casados em segredo, algo que deixa Petrov completamente indignado. Mas haveria algum fundo de verdade nessa estória? Filme indicado ao Oscar na categoria de Melhor Música original (They Can't Take That Away from Me" de George Gershwin e Ira Gershwin).

Comentários:
O que menos importava nos filmes da dupla Fred Astaire e Ginger Rogers eram as estórias contadas em seus filmes. Tudo no fundo não passava de um mero pretexto para que eles apresentassem nas telas algumas das melhores coreografias de dança da era de ouro do cinema clássico americano. Tão perfeitas eram as cenas de dança que Ginger Rogers acabou criando uma antipatia por seu parceiro Fred Astaire. Ele era um desses dançarinos perfeccionistas ao extremo, que rodava uma cena inúmeras vezes para atingir a perfeição. Isso deixava Ginger completamente exausta. Agora, é impossível não entender que Fred Astaire estava com a razão. Dentro dessa era de ouro dos musicais ele acabou protagonizando alguns dos melhores filmes do gênero, justamente por causa desse seu método de trabalho. Para tanto Fred não precisava de muita coisa, um cenário básico, um item qualquer, tudo virava magia em suas coreografias. Ele realmente foi o maior dançarino da história do cinema americano, em todos os tempos. Se tem dúvidas confira essa produção para bem entender o que estou afirmando.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Perdidamente Tua

Título no Brasil: Perdidamente Tua
Título Original: A Life of Her Own
Ano de Produção: 1950
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: George Cukor
Roteiro: Isobel Lennart
Elenco: Lana Turner, Ray Milland, Tom Ewell, Louis Calhern, Ann Dvorak, Barry Sullivan
  
Sinopse:
Depois de muito hesitar, a jovem Lily Brannel James (Lana Turner) decide ir embora da pequena cidadezinha onde nasceu para ir morar em Nova Iorque. Ela sonha se tornar modelo de sucesso na grande cidade. Nos primeiros dias ela conhece uma modelo veterana, mais velha, que está depressiva e magoada, pois já não encontra mais trabalhos como antes. Mesmo assim Lily não se abala e aos poucos começa a subir na carreira, recebendo mais e mais ofertas de trabalho. Seu único problema é que ela acaba se apaixonando por um homem casado, o advogado Steve Harleigh (Ray Milland).

Comentários:
Mais um bom drama romântico estrelado pela diva Lana Turner. O papel foi escrito especialmente para ela, já que o diretor George Cukor sabia que sua estrela se enquadrava muito bem na personagem que era uma linda modelo, a preferida das capas de revistas de moda! Embora externamente exibisse uma imagem maravilhosa, internamente ela tinha muitos problemas emocionais, entre eles um amor plenamente correspondido por um homem casado (em boa interpretação do ator Ray Milland, um dos maiores talentos da era clássica em Hollywood). Para reforçar ainda mais a dramaticidade do roteiro, a esposa do seu homem amado havia sofrido um sério acidente de carro no passado, ficando paraplégica para sempre! Agora imaginem o grau de sofrimento emocional de Lily (Turner), pois ela está perdidamente apaixonada por um homem com o qual muito provavelmente nunca será feliz! O verdadeiro amor impossível! Um dos aspectos que mais gostei desse roteiro foi que ele tem uma dose bem acentuada de melancolia. A modelo interpretada por Lana Turner, logo em seus primeiros dias de Nova Iorque, trava amizade com Mary Ashlon (Ann Dvorak), uma modelo mais velha, solitária, depressiva e suicida. Decepcionada com o que havia acontecido em sua vida (ela foi parar em um pequeno quartinho de periferia após ter vivido todo o glamour do mundo da moda) ela resolve pular da janela de seu prédio, morrendo instantaneamente. Esse fato trágico marca Lily durante todo o filme, pois sempre que sua vida profissional ou emocional entra em crise ela se lembra de sua amiga que acabou com sua própria vida. Como esse filme não tem um final feliz (outro ponto a favor desse corajoso roteiro), ficamos com a ansiedade do que acontecerá ou não com a personagem de Lana Turner. A última cena aliás é bem embaixo do prédio onde sua amiga pulou para a morte! Sem o homem que tanto amou em sua vida, Lily poderia cometer o mesmo ato impensado de Mary? Bom, assista ao filme para conferir...

Pablo Aluísio.