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domingo, 24 de setembro de 2017

A Dama da Madrugada

Título no Brasil: A Dama da Madrugada
Título Original: All in a Night's Work
Ano de Produção: 1961
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Joseph Anthony
Roteiro: Edmund Beloin, Maurice Richlin
Elenco: Dean Martin, Shirley MacLaine, Cliff Robertson, Charles Ruggles
  
Sinopse:
Após a morte de seu tio, um rico dono de empresas de comunicações, o playboy e boa vida Tony Ryder (Dean Martin) se torna seu único herdeiro. Nadando em dinheiro, ele precisa antes abafar algo escandaloso que aconteceu na noite em que seu tio milionário morreu. Segundo as investigações da polícia ele estaria acompanhado de uma mulher misteriosa e todas as pistas levam para uma de suas próprias funcionárias, a jovem Katie Robbins (Shirley MacLaine). Depois que Tony a conhece pessoalmente, ele se convence que ela estaria chantageando a empresa indiretamente, exigindo uma fortuna para se calar sobre tudo o que aconteceu. Seria apenas um mal-entendido ou haveria algum fundo de verdade em todas essas suspeitas?

Comentários:
Esse roteiro foi originalmente escrito para ser estrelado pela atriz Marilyn Monroe, mas acabou sendo recusado por ela que queria naquele momento da carreira queria se livrar de uma vez por todas do velho estigma de somente interpretar personagens loiras e burras. Como era um bom script acabou indo parar na Paramount que convenceu a atriz Shirley MacLaine a fazer o filme. Isso deu um aspecto muito interessante ao quesito atuação pois não era bem do estilo de MacLaine interpretar mocinhas tão tolinhas e bobinhas como essa. Mesmo assim ela acabou se saindo muito bem, até porque Shirley tinha um rosto angelical na época, o que combinava muito bem com o papel que interpretava. Ao seu lado surge o cantor Dean Martin como galã romântico, pero no mucho, que se apaixona perdidamente por ela. Quem escalou Martin foi justamente a atriz pois ela o tinha conhecido no set de filmagens de "Onze Homens e um Segredo". Conversa vai, conversa vem, Dean disse que ambos deveriam trabalhar juntos e quando a oportunidade bateu a porta, Shirley convenceu os produtores a contratarem o cantor que naquela época ainda tentava se firmar em uma carreira solo após o rompimento com Jerry Lewis. 

Aliás o produtor desse filme era justamente Hal Wallis, que havia produzido inúmeras fitas da dupla no passado (ele também ficou bem associado a Elvis Presley no cinema pois também produziu vários filmes do Rei do Rock, inclusive o grande sucesso de bilheteria "Feitiço Havaiano", lançado nesse mesmo ano de 1961). Pois bem, o roteiro é o de uma comédia de erros, ou seja, todo o enredo se desenvolve baseando-se na imagem errada que fazem da personagem de Shirley MacLaine. Seu novo padrão (Martin) pensa que ela é na verdade uma chantagista que estaria atrás de dinheiro após se envolver com o falecido tio dele, dono do império de revistas e publicações que herdou. Já para os pais de seu noivo ela teria algo a esconder pois teria dinheiro demais para comprar um fino casaco de peles, apesar de ser apenas uma trabalhadora comum (fato que o roteiro explica tudo, com bom muito bom humor!). Enquanto todos pensam mal dela a verdade pura e simples é que a garota é apenas uma ingênua mocinha que nunca fez mal a ninguém. A grande virtude desse "All in a Night's Work" é que o diretor Joseph Anthony optou por realizar uma comédia ágil, eficiente, com ótimo ritmo e desenvolvimento, além de ter curta duração o que evita o espectador de se aborrecer. Com um humor ligeiro e até inocente (para os padrões atuais) o filme cumpre o que promete, divertir e entreter o espectador, tudo apoiado no grande carisma da dupla central, MacLaine e Martin. Está de bom tamanho.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Calvário da Glória

Um filme realmente magnífico. A história se passa no meio teatral de Nova Iorque durante os anos 1950. É para lá que viaja Sam Lawson (Anthony Franciosa). Vindo de uma cidadezinha do interior ele tem muitos sonhos de se tornar um ator de sucesso na grande cidade. Para trás ele deixa a noiva Barbara (Joan Blackman). Assim que embarca no trem seu coração dispara, afinal é uma nova fase que vai nascendo em sua vida. E então vem a decepção. Assim como ele, há milhares de outros atores em Nova Iorque em busca de uma chance. A imensa maioria deles está desempregada. Os testes são extremamente competitivos e se torna mais fácil ganhar na loteria do que ser escolhido para atuar em uma peça.

Essa dura realidade vai minando os sonhos de Sam. Ele conhece um produtor de peças, Maurice 'Maury' Novak (Dean Martin), tão fracassado como ele e Shirley Drake (Shirley MacLaine), a filha de um dos produtores mais prestigiados de Nova Iorque, um boçal arrogante que parece ter prazer em humilhar os atores que buscam um espaço em suas peças teatrais. Como se pode perceber é uma galeria de personagens cruéis, violentos, irascíveis... todos tentando vencer em uma ramo verdadeiramente selvagem da grande metrópole. Para Sam a tragédia é ainda maior porque sua bela e jovem noiva não reage bem ao seu fracasso profissional. Ela fica grávida, perde o filho e o casamento não sobrevive a tantos problemas. Sam tenta muito ter uma oportunidade, mas todas as portas parecem estar fechadas para ele.

O roteiro desse filme sobre fracasso, desesperança e também persistência, é brilhante. Ele foi escrito pelo genial Dalton Trumbo que fez uma crônica sobre a destruição dos sonhos do protagonista. Obviamente Trumbo conheceu muitos atores que viveram a mesma situação de Sam. Pessoas cheias de sonhos que foram trucidadas pela realidade da vida. O personagem principal porém não deixa de ser um exemplo, principalmente pelo desfecho do filme. Trumbo preferiu a esperança do que o fracasso, a glória de uma vida de lutas do que passar uma mensagem pessimista, sórdida e cruel. Nesse aspecto ele conseguiu fechar com chave de ouro seu maravilhoso texto. Deu-se ao privilégio inclusive de colocar elementos de sua própria vida pessoal no enredo, como a perseguição aos comunistas na época, os impedindo de trabalharem e sobreviverem.

Além do roteiro que é inegavelmente uma obra prima, outro aspecto chama a atenção do espectador: o maravilhoso elenco. Todos estão em momento de graça. Até mesmo o cantor Dean Martin surpreende com sua atuação. Ele é um produtor de peças baratas do circuito Off-Broadway que vai vivendo um dia de cada vez. Shirley MacLaine é outro destaque absoluto. Uma menina rica, abusada, alcoólatra, com problemas psicológicos, que vira um elo nada sólido entre o fracasso e o sucesso daqueles que orbitam ao seu redor. Um fato curioso é que muitos astros recusaram o convite para atuar nesse filme. O tema do fracasso de um ator certamente assustou as estrelas de Hollywood. Coube então ao corajoso Anthony Franciosa assumir o papel principal, nesse que foi seguramente seu mais brilhante trabalho de atuação. "Calvário da Glória" é isso. Uma crônica sobre os sonhos em pedaços, mostrando o valor daqueles que persistem na busca por uma vida melhor.

Calvário da Glória (Career, Estados Unidos, 1959) Direção: Joseph Anthony / Roteiro: Dalton Trumbo / Elenco: Anthony Franciosa, Dean Martin, Shirley MacLaine, Carolyn Jones, Joan Blackman / Sinopse: Sam (Franciosa) é um ator fracassado que tenta de todas as formas vencer no concorrido mercado teatral de Nova Iorque. Apesar de seus esforços todas as portas parecem estar fechadas para seus sonhos. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (Joseph LaShelle), Melhor Figurino (Edith Head) e Melhor Direção de Arte (Hal Pereira e Walter H. Tyler). Filme vencedor do Globo de ouro na categoria de Melhor Ator - Drama (Anthony Franciosa).

Pablo Aluísio.