Um filme realmente magnífico. A história se passa no meio teatral de Nova Iorque durante os anos 1950. É para lá que viaja Sam Lawson (Anthony Franciosa). Vindo de uma cidadezinha do interior ele tem muitos sonhos de se tornar um ator de sucesso na grande cidade. Para trás ele deixa a noiva Barbara (Joan Blackman). Assim que embarca no trem seu coração dispara, afinal é uma nova fase que vai nascendo em sua vida. E então vem a decepção. Assim como ele, há milhares de outros atores em Nova Iorque em busca de uma chance. A imensa maioria deles está desempregada. Os testes são extremamente competitivos e se torna mais fácil ganhar na loteria do que ser escolhido para atuar em uma peça.
Essa dura realidade vai minando os sonhos de Sam. Ele conhece um produtor de peças, Maurice 'Maury' Novak (Dean Martin), tão fracassado como ele e Shirley Drake (Shirley MacLaine), a filha de um dos produtores mais prestigiados de Nova Iorque, um boçal arrogante que parece ter prazer em humilhar os atores que buscam um espaço em suas peças teatrais. Como se pode perceber é uma galeria de personagens cruéis, violentos, irascíveis... todos tentando vencer em uma ramo verdadeiramente selvagem da grande metrópole. Para Sam a tragédia é ainda maior porque sua bela e jovem noiva não reage bem ao seu fracasso profissional. Ela fica grávida, perde o filho e o casamento não sobrevive a tantos problemas. Sam tenta muito ter uma oportunidade, mas todas as portas parecem estar fechadas para ele.
O roteiro desse filme sobre fracasso, desesperança e também persistência, é brilhante. Ele foi escrito pelo genial Dalton Trumbo que fez uma crônica sobre a destruição dos sonhos do protagonista. Obviamente Trumbo conheceu muitos atores que viveram a mesma situação de Sam. Pessoas cheias de sonhos que foram trucidadas pela realidade da vida. O personagem principal porém não deixa de ser um exemplo, principalmente pelo desfecho do filme. Trumbo preferiu a esperança do que o fracasso, a glória de uma vida de lutas do que passar uma mensagem pessimista, sórdida e cruel. Nesse aspecto ele conseguiu fechar com chave de ouro seu maravilhoso texto. Deu-se ao privilégio inclusive de colocar elementos de sua própria vida pessoal no enredo, como a perseguição aos comunistas na época, os impedindo de trabalharem e sobreviverem.
Além do roteiro que é inegavelmente uma obra prima, outro aspecto chama a atenção do espectador: o maravilhoso elenco. Todos estão em momento de graça. Até mesmo o cantor Dean Martin surpreende com sua atuação. Ele é um produtor de peças baratas do circuito Off-Broadway que vai vivendo um dia de cada vez. Shirley MacLaine é outro destaque absoluto. Uma menina rica, abusada, alcoólatra, com problemas psicológicos, que vira um elo nada sólido entre o fracasso e o sucesso daqueles que orbitam ao seu redor. Um fato curioso é que muitos astros recusaram o convite para atuar nesse filme. O tema do fracasso de um ator certamente assustou as estrelas de Hollywood. Coube então ao corajoso Anthony Franciosa assumir o papel principal, nesse que foi seguramente seu mais brilhante trabalho de atuação. "Calvário da Glória" é isso. Uma crônica sobre os sonhos em pedaços, mostrando o valor daqueles que persistem na busca por uma vida melhor.
Calvário da Glória (Career, Estados Unidos, 1959) Direção: Joseph Anthony / Roteiro: Dalton Trumbo / Elenco: Anthony Franciosa, Dean Martin, Shirley MacLaine, Carolyn Jones, Joan Blackman / Sinopse: Sam (Franciosa) é um ator fracassado que tenta de todas as formas vencer no concorrido mercado teatral de Nova Iorque. Apesar de seus esforços todas as portas parecem estar fechadas para seus sonhos. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (Joseph LaShelle), Melhor Figurino (Edith Head) e Melhor Direção de Arte (Hal Pereira e Walter H. Tyler). Filme vencedor do Globo de ouro na categoria de Melhor Ator - Drama (Anthony Franciosa).
Pablo Aluísio.