O diretor Guy Ritchie nunca se preocupou com as histórias que conta em seus filmes, mas sim como as conta. Um exemplo perfeito disso você encontra nessa fita de ação chamada "Revolver". O enredo que o roteiro explora não é colocado de forma linear em sua narrativa. Ao contrário disso vemos passado, presente e futuro se mesclarem completamente, muitas vezes numa mesma sequência onde vemos toda a ação se desenvolvendo, sua planejamento e a reação dos bandidos que foram passados para trás, tudo muitas vezes colocado fora de ordem cronológica. Com linguagem que muitas vezes pede emprestado a estética dos quadrinhos (o diretor chega inclusive a usar cenas animadas no longa), o filme se destaca por sua originalidade. Ritchie é assim um mestre não apenas em inverter o que se espera de um filme convencional, como também em frustrar expectativas de quem espera por um filme redondinho, com começo, meio e fim, seguindo as velhas fórmulas já desgastadas pelo tempo.
No filme acompanhamos a saída de Jake Green (Jason Statham) da prisão. Ele ficou sete anos numa solitária, sem falar com praticamente ninguém. De volta à liberdade ele começa a planejar sua vingança pessoal contra Dorothy Macha (Ray Liotta) que o traiu no passado. Macha, um gângster e traficante de drogas bem sucedido, agora tem seu próprio cassino onde ganha rios de dinheiro a cada jogada. Ele se preocupa com a saída de Green da prisão, mas está certo que com todo o seu poder pode anular seu antigo inimigo. Green porém tem pressa, principalmente depois que descobre estar sofrendo de uma doença rara que lhe dá poucos dias de vida. Ele resolve se unir a dois agiotas violentos, esperando com isso atingir Macha de uma vez por todas. Como eu já escrevi o filme não se limita a uma narrativa tradicional e ao invés disso se apoia bastante numa linguagem mais sensorial, dando voz aos pensamentos de Green, ao que ele sente e como pensa. É um filme esteticamente muito interessante, bem na linha de Guy Ritchie, que é um cineasta do tipo ame ou odeie. Assim se o estilo dele não faz a sua cabeça, passe longe, caso contrário se divirta, pois é um dos melhores de sua safra.
Revólver (Revolver, França, Inglaterra, 2005) Direção: Guy Ritchie / Roteiro: Luc Besson, Guy Ritchie / Elenco: Jason Statham, Ray Liotta, Vincent Pastore, Mark Strong / Sinopse: Após ficar sete anos preso, Jake Green (Jason Statham), resolve se vingar do criminoso Dorothy Macha (Ray Liotta), um dos responsáveis por sua prisão por tantos anos. Sua vingança porém terá que ser a mais rápida possível pois ele foi diagnosticado com uma rara doença que lhe dá poucos dias de vida. Filme premiado pelo Golden Trailer Awards na categoria de Melhor Trailer - Filme de ação estrangeiro.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 8 de março de 2016
sábado, 5 de março de 2016
Garotas sem Rumo
O filme mostra um bando de garotos e garotas brancas de classe alta dos melhores e mais ricos bairros de Los Angeles que se comportam como se fossem jovens negros e latinos de bairros pobres da cidade. Obviamente influenciados pela cultura negra, principalmente musical, eles pensam ser gangsters perigosos, membros de gangues, mas no fundo não passam de jovens mimados e vazios, sem nada na cabeça. Em busca de aventuras um grupo de garotas lideradas pela dondoca mimadinha Allison Lang (Anne Hathaway) resolve ir até o lado leste da cidade, onde impera a violência e a criminalidade. Ele procura por um amor bandido e acaba encontrando o que procurava na pele do traficante de crack Hector (Freddy Rodríguez). Afinal para quem leva uma vida tão fútil e vazia nada seria mais emocionante do que frequentar lugares barra pesada, fugindo sempre que possível da polícia, essa opressora arma nas mãos da sociedade americana! Bom, pela sinopse do enredo do filme já deu para perceber do que esse filme se trata.
Antes de mais nada é bom avisar que todos os personagens jovens desse filme são idiotizados ou imbecializados ao extremo. Tirando os "chicanos" e latinos em geral (todos retratados pelo roteiro como criminosos), os tais adolescentes brancos se comportam como verdadeiros imbecis. Eles se comportam como se fossem negros da periferia, usam colares cheios de ouro e demonstram um jeito de ser de dar pena, de tão idiotas que são. O roteiro é ambíguo. O espectador não sabe se ele no fundo satiriza ou critica esse tipo de estilo de vida ou se o está vangloriando de alguma forma. A personagem de Anne Hathaway faz o tipo "pobre menina rica". Mora em uma casa fabulosa, tem tudo à mão, mas não se "sente real e verdadeira". Para superar isso o que ela faz? Claro, se interessa por um traficante que vende crack na periferia. Por falar nisso um dos motivos para se assistir a esse filme vem justamente da presença de Anne Hathaway. Quando o filme foi feito ela ainda era bem desconhecida e jovem e talvez por isso tenha topado rodar ousadas cenas de nudez (uma das raras situações desse tipo em sua carreira). Assim se você tem algum tipo de atração por ela, aproveite. Fora isso há pouco mesmo a se elogiar nessa produção.
Garotas sem Rumo (Havoc, EUA, 2005) Direção: Barbara Kopple / Roteiro: Stephen Gaghan, Jessica Kaplan/ Elenco: Anne Hathaway, Bijou Phillips, Freddy Rodríguez, Shiri Appleby / Sinopse: Jovens ricas e brancas do melhor e mais rico bairro de Los Angeles resolvem ir para o lado leste da cidade, o mais pobre e cheio de criminalidade, para se envolver com traficantes de crack. Tudo pelo prazer da emoção de se viver um verdadeiro amor bandido. Filme indicado ao Cinema Audio Society na categoria de Melhor Mixagem de Som.
Pablo Aluísio.
Antes de mais nada é bom avisar que todos os personagens jovens desse filme são idiotizados ou imbecializados ao extremo. Tirando os "chicanos" e latinos em geral (todos retratados pelo roteiro como criminosos), os tais adolescentes brancos se comportam como verdadeiros imbecis. Eles se comportam como se fossem negros da periferia, usam colares cheios de ouro e demonstram um jeito de ser de dar pena, de tão idiotas que são. O roteiro é ambíguo. O espectador não sabe se ele no fundo satiriza ou critica esse tipo de estilo de vida ou se o está vangloriando de alguma forma. A personagem de Anne Hathaway faz o tipo "pobre menina rica". Mora em uma casa fabulosa, tem tudo à mão, mas não se "sente real e verdadeira". Para superar isso o que ela faz? Claro, se interessa por um traficante que vende crack na periferia. Por falar nisso um dos motivos para se assistir a esse filme vem justamente da presença de Anne Hathaway. Quando o filme foi feito ela ainda era bem desconhecida e jovem e talvez por isso tenha topado rodar ousadas cenas de nudez (uma das raras situações desse tipo em sua carreira). Assim se você tem algum tipo de atração por ela, aproveite. Fora isso há pouco mesmo a se elogiar nessa produção.
Garotas sem Rumo (Havoc, EUA, 2005) Direção: Barbara Kopple / Roteiro: Stephen Gaghan, Jessica Kaplan/ Elenco: Anne Hathaway, Bijou Phillips, Freddy Rodríguez, Shiri Appleby / Sinopse: Jovens ricas e brancas do melhor e mais rico bairro de Los Angeles resolvem ir para o lado leste da cidade, o mais pobre e cheio de criminalidade, para se envolver com traficantes de crack. Tudo pelo prazer da emoção de se viver um verdadeiro amor bandido. Filme indicado ao Cinema Audio Society na categoria de Melhor Mixagem de Som.
Pablo Aluísio.
Assassino Virtual
Título no Brasil: Assassino Virtual
Título Original: Virtuosity
Ano de Produção: 1995
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Brett Leonard
Roteiro: Eric Bernt
Elenco: Denzel Washington, Russell Crowe, Kelly Lynch
Sinopse:
Um serial killer do mundo virtual consegue romper a barreira do tempo e espaço e vem parar no mundo real, na nossa realidade. Uma vez nesse ambiente ele resolve levar em frente sua trajetória de crimes violentos. Apenas um policial poderá detê-lo em sua jornada de cadáveres. Filme indicado ao Prêmio Sitges - Catalonian International Film Festival na categoria de Melhor Ficção do ano.
Comentários:
Com a popularização de computadores pessoais (os chamados PCs) houve uma explosão de interesse no assunto. Essa ficção, produzida há mais de vinte anos, apostava justamente nesse crescente interesse pelo mundo virtual pelos jovens. O roteiro, até muito bem bolado, procurava trazer o que poderia acontecer se as duas realidades (a real e a virtual) colidissem em um mesmo ambiente, um mesmo mundo. No caso temos o serial killer do mundo virtual transportado para o nosso mundo e um policial fazendo de tudo para impedi-lo. Soa meio bobo para você? Provavelmente sim, já que o tempo não costuma ser muito gentil ou favorável a filmes de ficção. Com o tempo eles tendem a ficar ridículos pois os avanços da tecnologia torna todas as previsões obsoletas e até cômicas. Nesse filme, por exemplo, apesar de sua proposta futurista, nem há o uso de telefones celulares, por exemplo. De qualquer maneira sempre é de interesse do cinéfilo em ver dois grandes atores em cena, atuando juntos. Denzel Washington e Russell Crowe se saem muito bem embora esse último pareça meio deslocado nesse tipo de filme que definitivamente nunca foi sua especialidade. Já Denzel parece empenhado em fazer a fita dar certo. Até que em alguns momentos ele consegue mesmo dar um bom ritmo ao filme como um todo.
Pablo Aluísio.
Título Original: Virtuosity
Ano de Produção: 1995
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Brett Leonard
Roteiro: Eric Bernt
Elenco: Denzel Washington, Russell Crowe, Kelly Lynch
Sinopse:
Um serial killer do mundo virtual consegue romper a barreira do tempo e espaço e vem parar no mundo real, na nossa realidade. Uma vez nesse ambiente ele resolve levar em frente sua trajetória de crimes violentos. Apenas um policial poderá detê-lo em sua jornada de cadáveres. Filme indicado ao Prêmio Sitges - Catalonian International Film Festival na categoria de Melhor Ficção do ano.
Comentários:
Com a popularização de computadores pessoais (os chamados PCs) houve uma explosão de interesse no assunto. Essa ficção, produzida há mais de vinte anos, apostava justamente nesse crescente interesse pelo mundo virtual pelos jovens. O roteiro, até muito bem bolado, procurava trazer o que poderia acontecer se as duas realidades (a real e a virtual) colidissem em um mesmo ambiente, um mesmo mundo. No caso temos o serial killer do mundo virtual transportado para o nosso mundo e um policial fazendo de tudo para impedi-lo. Soa meio bobo para você? Provavelmente sim, já que o tempo não costuma ser muito gentil ou favorável a filmes de ficção. Com o tempo eles tendem a ficar ridículos pois os avanços da tecnologia torna todas as previsões obsoletas e até cômicas. Nesse filme, por exemplo, apesar de sua proposta futurista, nem há o uso de telefones celulares, por exemplo. De qualquer maneira sempre é de interesse do cinéfilo em ver dois grandes atores em cena, atuando juntos. Denzel Washington e Russell Crowe se saem muito bem embora esse último pareça meio deslocado nesse tipo de filme que definitivamente nunca foi sua especialidade. Já Denzel parece empenhado em fazer a fita dar certo. Até que em alguns momentos ele consegue mesmo dar um bom ritmo ao filme como um todo.
Pablo Aluísio.
sexta-feira, 4 de março de 2016
Augustus - O Primeiro Imperador
Título no Brasil: Augustus - O Primeiro Imperador
Título Original: Imperium Augustus
Ano de Produção: 2003
País: Alemanha, Inglaterra, Espanha, Itália
Estúdio: EOS Entertainment, RAI Radiotelevisione Italiana
Direção: Roger Young
Roteiro: Eric Lerner
Elenco: Peter O'Toole, Charlotte Rampling, Vittoria Belvedere
Sinopse:
O velho Imperador Augustus Caesar (Peter O'Toole) resolve relembrar para sua frívola filha Júlia (Vittoria Belvedere), após a morte de seu marido Marcus Vipsanius Agrippa (Ken Duken), como se tornou o homem mais poderoso do Império Romano após vencer as tropas do general Marco Antônio (Massimo Ghini) e da Rainha do Egito Cleopatra (Anna Valle), após o assassinato de seu tio Julius Caesar (Gérard Klein). Filme baseado em fatos históricos reais.
Comentários:
Um telefilme que se propõe a contar a história de Caio Otaviano que passou para a história como Augusto César, aquele que é considerado o primeiro imperador de Roma. Já tinha lido uma extensa biografia sobre ele antes de assistir ao filme e talvez por essa razão fiquei com aquela sensação de que muita coisa foi deixada de fora pelo roteiro. Além disso um velho problema da indústria cultural americana se repetiu com uma certa insistência irritante no decorrer do filme - a de se unificar personagens diferentes da história em um só, com o objetivo de dar maior agilidade dramática ao desenrolar dos acontecimentos. Assim dois generais viram um só, ou senadores importantes na biografia de Augusto surgem na figura de apenas um político. Se de um certo ponto de vista isso é até aceitável, do outro deixa o resultado bem comprometido. No geral, como se trata de uma produção para a TV, não temos toda a opulência dos antigos épicos de Hollywood. Nada que venha a lembrar os filmes de Cecil B. DeMille. Isso porém não estraga o espetáculo já que o elenco procura compensar a falta de uma produção mais rica com um trabalho mais fiel ao modo de agir dos romanos antigos. E por falar em elenco temos o maravilhoso Peter O'Toole como o próprio Augusto, envelhecido e com uma certa melancolia pelos rumos que a vida tomou, mas mesmo assim muito enigmático e carismático em cena. Charlotte Rampling como Livia Drusilla também impressiona por sua classe e postura nobre. Um filme que se não consegue ser brilhante pelo menos conta com dignidade parte da biografia dessa importante figura da história da Roma Imperial.
Pablo Aluísio.
Título Original: Imperium Augustus
Ano de Produção: 2003
País: Alemanha, Inglaterra, Espanha, Itália
Estúdio: EOS Entertainment, RAI Radiotelevisione Italiana
Direção: Roger Young
Roteiro: Eric Lerner
Elenco: Peter O'Toole, Charlotte Rampling, Vittoria Belvedere
Sinopse:
O velho Imperador Augustus Caesar (Peter O'Toole) resolve relembrar para sua frívola filha Júlia (Vittoria Belvedere), após a morte de seu marido Marcus Vipsanius Agrippa (Ken Duken), como se tornou o homem mais poderoso do Império Romano após vencer as tropas do general Marco Antônio (Massimo Ghini) e da Rainha do Egito Cleopatra (Anna Valle), após o assassinato de seu tio Julius Caesar (Gérard Klein). Filme baseado em fatos históricos reais.
Comentários:
Um telefilme que se propõe a contar a história de Caio Otaviano que passou para a história como Augusto César, aquele que é considerado o primeiro imperador de Roma. Já tinha lido uma extensa biografia sobre ele antes de assistir ao filme e talvez por essa razão fiquei com aquela sensação de que muita coisa foi deixada de fora pelo roteiro. Além disso um velho problema da indústria cultural americana se repetiu com uma certa insistência irritante no decorrer do filme - a de se unificar personagens diferentes da história em um só, com o objetivo de dar maior agilidade dramática ao desenrolar dos acontecimentos. Assim dois generais viram um só, ou senadores importantes na biografia de Augusto surgem na figura de apenas um político. Se de um certo ponto de vista isso é até aceitável, do outro deixa o resultado bem comprometido. No geral, como se trata de uma produção para a TV, não temos toda a opulência dos antigos épicos de Hollywood. Nada que venha a lembrar os filmes de Cecil B. DeMille. Isso porém não estraga o espetáculo já que o elenco procura compensar a falta de uma produção mais rica com um trabalho mais fiel ao modo de agir dos romanos antigos. E por falar em elenco temos o maravilhoso Peter O'Toole como o próprio Augusto, envelhecido e com uma certa melancolia pelos rumos que a vida tomou, mas mesmo assim muito enigmático e carismático em cena. Charlotte Rampling como Livia Drusilla também impressiona por sua classe e postura nobre. Um filme que se não consegue ser brilhante pelo menos conta com dignidade parte da biografia dessa importante figura da história da Roma Imperial.
Pablo Aluísio.
Quebra de Confiança
A história desse filme é baseada em fatos reais. Tudo começa quando o FBI começa a desconfiar que o veterano agente Robert Hanssen (Chris Cooper) está repassando para os russos importantes informações da segurança interna dos Estados Unidos. Para comprovar as suspeitas a própria agência arma uma complexa rede de agentes e recursos para pegar Hanssen em flagrante. Para isso eles convocam o jovem agente Eric O'Neill (Ryan Phillippe), recém ingresso na agência de investigação, para se fazer passar por seu assistente pessoal. Como ambos são católicos e possuem as mesmas origens, o FBI acredita que Eric acabará entrando mais a fundo nos segredos e na intimidade de Hanssen. Logo nos primeiros momentos porém Eric descobre que essa missão não será nada fácil. O velho agente, calejado pela experiência, é bastante cuidadoso, minucioso e até mesmo paranoico. Ele desconfia que o FBI está fechando o cerco sobre ele e por isso jamais abaixa a guarda, mas Eric persiste, demonstrando que nenhum segredo é realmente cem por cento seguro e imune a falhas.
Gostei bastante desse filme. Esse gênero de espionagem ultimamente já não é mais tão explorado, com raras exceções, então quando você se depara com uma fita realmente boa desse estilo, valorizada por um roteiro inteligente, o melhor mesmo é comemorar. O texto foca bastante no relacionamento conturbado dos dois protagonistas. O velho Robert Hanssen é um mestre em contraespionagem, porém o FBI passa a desconfiar que ele virou agente duplo, repassando informações aos russos. Apenas a proximidade e a amizade de Eric poderá desvendar o que realmente se passa em sua carreira. Eu já tive várias oportunidades de escrever dizendo que não gosto do trabalho do ator Ryan Phillippe. Ele é fraco e pouco complexo em suas atuações. Aqui ele jamais chega a atrapalhar o filme porque temos em cena Chris Cooper em atuação inspirada. Seu personagem é muito bem desenvolvido do ponto de vista psicológico. Ele parece estar sempre em conflito existencial. Ao mesmo tempo em que tenta ser um bom católico cultiva perversões sexuais bizarras. Externamente passa a imagem de um agente impecável, com quase 25 anos de bons serviços prestados ao FBI, enquanto que nas sombras joga dos dois lados, tanto dos americanos como dos russos. É certamente um personagem com uma personalidade dividida e atormentada, um belo presente para qualquer grande ator. O filme no geral é realmente muito bom, valorizado por enfocar o mundo da espionagem de uma maneira mais humana e relacional.
Quebra de Confiança (Breach, Estados Unidos, 2007) Direção: Billy Ray / Roteiro: Adam Mazer, William Rotko / Elenco: Chris Cooper, Ryan Phillippe, Laura Linney, Dennis Haysbert / Sinopse: Após muitos anos de trabalho no FBI, o agente Robert Hanssen (Chris Cooper) começa a ser alvo de uma investigação interna da agência após surgirem indícios de que ele estaria passando informações secretas aos russos. Para ficar em sua cola e de forma mais próxima possível o FBI coloca o jovem agente Eric O'Neill (Ryan Phillippe) como seu assistente pessoal para que ele possa relatar todos os seus passos no dia a dia. Filme indicado ao Village Voice Film Poll na categoria de Melhor Ator (Chris Cooper).
Pablo Aluísio.
Gostei bastante desse filme. Esse gênero de espionagem ultimamente já não é mais tão explorado, com raras exceções, então quando você se depara com uma fita realmente boa desse estilo, valorizada por um roteiro inteligente, o melhor mesmo é comemorar. O texto foca bastante no relacionamento conturbado dos dois protagonistas. O velho Robert Hanssen é um mestre em contraespionagem, porém o FBI passa a desconfiar que ele virou agente duplo, repassando informações aos russos. Apenas a proximidade e a amizade de Eric poderá desvendar o que realmente se passa em sua carreira. Eu já tive várias oportunidades de escrever dizendo que não gosto do trabalho do ator Ryan Phillippe. Ele é fraco e pouco complexo em suas atuações. Aqui ele jamais chega a atrapalhar o filme porque temos em cena Chris Cooper em atuação inspirada. Seu personagem é muito bem desenvolvido do ponto de vista psicológico. Ele parece estar sempre em conflito existencial. Ao mesmo tempo em que tenta ser um bom católico cultiva perversões sexuais bizarras. Externamente passa a imagem de um agente impecável, com quase 25 anos de bons serviços prestados ao FBI, enquanto que nas sombras joga dos dois lados, tanto dos americanos como dos russos. É certamente um personagem com uma personalidade dividida e atormentada, um belo presente para qualquer grande ator. O filme no geral é realmente muito bom, valorizado por enfocar o mundo da espionagem de uma maneira mais humana e relacional.
Quebra de Confiança (Breach, Estados Unidos, 2007) Direção: Billy Ray / Roteiro: Adam Mazer, William Rotko / Elenco: Chris Cooper, Ryan Phillippe, Laura Linney, Dennis Haysbert / Sinopse: Após muitos anos de trabalho no FBI, o agente Robert Hanssen (Chris Cooper) começa a ser alvo de uma investigação interna da agência após surgirem indícios de que ele estaria passando informações secretas aos russos. Para ficar em sua cola e de forma mais próxima possível o FBI coloca o jovem agente Eric O'Neill (Ryan Phillippe) como seu assistente pessoal para que ele possa relatar todos os seus passos no dia a dia. Filme indicado ao Village Voice Film Poll na categoria de Melhor Ator (Chris Cooper).
Pablo Aluísio.
quinta-feira, 3 de março de 2016
The Dressmaker - A Vingança Está na Moda
Festa estranha, com gente esquisita... lembram da música do "Legião Urbana"? Pois é... os versos caem bem nesse novo filme da atriz Kate Winslet. Ela interpreta Myrtle 'Tilly' Dunnage. Quando era apenas uma criança ela foi envolvida (injustamente) na morte de um garoto da sua cidade, um lugarzinho poeirento no meio do deserto da Austrália. Para não ser presa foi embora. Muitas décadas depois resolve retornar. Ela viveu por muitos anos em Londres onde aprendeu uma profissão e se tornou uma estilista reconhecida. De volta para o lugar onde nasceu ela reencontra sua mãe, praticamente enlouquecida, morando sozinha numa velha casa e todos os tipos mais bizarros que você possa imaginar. Um velho químico, dono de uma farmácia, que na verdade é um pedófilo, um homem de negócios desleal e infiel à esposa e um policial homossexual que não consegue se conter ao ver finas peças de roupas elegantes (uma das coisas mais divertidas do filme, em interpretação impagável do ator Hugo Weaving. aquele mesmo que interpretou o agente Smith da franquia Matrix).
Pois bem, esse filme é bem estranho e não apenas em relação aos seus personagens. No começo ele adota um estilo de humor negro, depois vai se levando gradualmente mais à sério até se tornar quase um drama. Não entendo como Kate Winslet topou fazer um filme como esse porque comercialmente suas chances de fazer algum sucesso são próximas do zero absoluto. O filme não tem muita graça (o que não o ajuda a se vender como uma comédia) e nem uma dramaticidade que justifique sua existência (o que torna seu lado drama bem raso e vazio). A única coisa boa acaba se resumindo em ver a própria Kate Winslet desfilando um figurino bem exótico (que ora se mostra elegante, ora exagerado e brega). A cidadezinha perdida no deserto onde se passa a história também não ajuda em nada. O lugar se mostra sujo, desolado e cheio de figuras asquerosas. Enfim, não é uma produção para todos os públicos. Só indico mesmo para os fãs mais radicais de Kate Winslet e ninguém mais.
The Dressmaker - A Vingança Está na Moda (The Dressmaker, Austrália, 2015) Direção: Jocelyn Moorhouse / Roteiro: Rosalie Ham, P.J. Hogan/ Elenco: Kate Winslet, Hugo Weaving, Liam Hemsworth, Sarah Snook / Sinopse: Myrtle 'Tilly' Dunnage (Kate Winslet) é uma jovem estilista que resolve voltar para a cidadezinha onde nasceu após ter sido acusada na infância de ter matado um garoto na região. Ela quer descobrir toda a verdade de seu caso, ao mesmo tempo em que procura se vingar de todos aqueles que a prejudicaram no passado.
Pablo Aluísio.
Pois bem, esse filme é bem estranho e não apenas em relação aos seus personagens. No começo ele adota um estilo de humor negro, depois vai se levando gradualmente mais à sério até se tornar quase um drama. Não entendo como Kate Winslet topou fazer um filme como esse porque comercialmente suas chances de fazer algum sucesso são próximas do zero absoluto. O filme não tem muita graça (o que não o ajuda a se vender como uma comédia) e nem uma dramaticidade que justifique sua existência (o que torna seu lado drama bem raso e vazio). A única coisa boa acaba se resumindo em ver a própria Kate Winslet desfilando um figurino bem exótico (que ora se mostra elegante, ora exagerado e brega). A cidadezinha perdida no deserto onde se passa a história também não ajuda em nada. O lugar se mostra sujo, desolado e cheio de figuras asquerosas. Enfim, não é uma produção para todos os públicos. Só indico mesmo para os fãs mais radicais de Kate Winslet e ninguém mais.
The Dressmaker - A Vingança Está na Moda (The Dressmaker, Austrália, 2015) Direção: Jocelyn Moorhouse / Roteiro: Rosalie Ham, P.J. Hogan/ Elenco: Kate Winslet, Hugo Weaving, Liam Hemsworth, Sarah Snook / Sinopse: Myrtle 'Tilly' Dunnage (Kate Winslet) é uma jovem estilista que resolve voltar para a cidadezinha onde nasceu após ter sido acusada na infância de ter matado um garoto na região. Ela quer descobrir toda a verdade de seu caso, ao mesmo tempo em que procura se vingar de todos aqueles que a prejudicaram no passado.
Pablo Aluísio.
Amor e Liberdade
Alguns filmes você simplesmente esquece que um dia os assistiu. Apenas com registros antigos é que um dia se lembra que os viu em algum momento de sua vida. É o caso desse "Amor e Liberdade", produção de época, que mostra os dramas de um fazendeiro na Carolina do Norte no distante ano de 1815. Durante os tempos de escravidão ele, ao retornar para casa após vender sua produção, se depara com uma jovem escrava fugitiva. Como viúvo ele se solidariza com a situação, levando a garota para sua propriedade rural, algo que violava a lei naqueles tempos distantes e cruéis, quando o escravo nada mais era do que considerado uma coisa, um objeto, qua fazia parte do direito de propriedade de seu amo.
Não é de hoje que dramas desse tipo fazem sucesso de bilheteria, principalmente por causa da mensagem que carregam. Esteticamente bem produzido, com boa reconstituição de época, o filme agrada, pode ser considerado bom, mas nada excepcional ou maravilhoso. O roteiro muitas vezes se torna maniqueísta o que ofende de certa maneira a inteligência do espectador. Mesmo assim, baixando um pouco o tom do senso crítico, dá para curtir essa produção que é inegavelmente cheia de boas intenções ideológicas e históricas. Nunca é tarde demais para se aprender com os erros do passado, para que eles não venham a se repetir no futuro.
Amor e Liberdade (The Journey of August King, EUA, 1995) Direção: John Duigan / Roteiro: John Ehle, baseado no romance escrito por John Ehle / Elenco: Jason Patric, Thandie Newton, Larry Drake / Estúdio: Miramax, Addis Wechsler Pictures / Data de lançamento: 26 de janeiro de 1996 / Duração: 91 minutos / Sinopse: Fazendeiro do século XIX resolve ajudar escravos fugitivos, o que o coloca contra a lei, porém em prol de seus próprios valores humanos e sentimentais.
Pablo Aluísio.
Não é de hoje que dramas desse tipo fazem sucesso de bilheteria, principalmente por causa da mensagem que carregam. Esteticamente bem produzido, com boa reconstituição de época, o filme agrada, pode ser considerado bom, mas nada excepcional ou maravilhoso. O roteiro muitas vezes se torna maniqueísta o que ofende de certa maneira a inteligência do espectador. Mesmo assim, baixando um pouco o tom do senso crítico, dá para curtir essa produção que é inegavelmente cheia de boas intenções ideológicas e históricas. Nunca é tarde demais para se aprender com os erros do passado, para que eles não venham a se repetir no futuro.
Amor e Liberdade (The Journey of August King, EUA, 1995) Direção: John Duigan / Roteiro: John Ehle, baseado no romance escrito por John Ehle / Elenco: Jason Patric, Thandie Newton, Larry Drake / Estúdio: Miramax, Addis Wechsler Pictures / Data de lançamento: 26 de janeiro de 1996 / Duração: 91 minutos / Sinopse: Fazendeiro do século XIX resolve ajudar escravos fugitivos, o que o coloca contra a lei, porém em prol de seus próprios valores humanos e sentimentais.
Pablo Aluísio.
quarta-feira, 2 de março de 2016
Oscar 2016: Sylvester Stallone - Creed
Todos esperavam a premiação de Sylvester Stallone com esse Oscar. Seria muito mais do que uma premiação de Melhor Ator Coadjuvante, seria a premiação pelo conjunto da obra, pela carreira dele. Stallone havia sido premiado pelo Globo de Ouro, a verdadeira prévia do Oscar, então era meio óbvio que também seria premiado na noite de domingo. Não foi. Mark Rylance levou o prêmio por "Ponte de Espiões". Foi outra surpresa desse Oscar 2016, que ainda causa efeitos. Ele não era o favorito, poucos em Hollywood o conheciam.
Não quero aqui desmerecer o trabalho de Mark Rylance. Ele interpreta o espião russo que é pego em flagrante pelo serviço secreto americano. Levado a julgamento, passa a ser defendido pelo advogado idealista interpretado por Tom Hanks. Sua interpretação é muito introspectiva. Lá está aquele pequeno homem, de aspecto frágil, calvo e magro, já bem velho, tendo que enfrentar a máquina judiciária americana que está pronta para lhe destroçar nos tribunais. Todos clamam pela condenação à pena capital, à pena de morte. Agora vamos a um pouco de verdade. Ninguém sai do cinema impressionado pela interpretação de Rylance. Ele não dá margem a isso. Seu trauma psicológico é sugerido, não explicitado. A verdade é que ele é um ator de formação teatral, de palco, que raramente participa de filmes. Não merecia o prêmio.
Já Stallone foi durante anos e anos um verdadeiro pilar comercial do cinema americano. Desde 1977 ele não era indicado ao Oscar. Naquele ano ele foi louvado por ser um anônimo que havia vencido todos os problemas decorrentes de sua origem humilde para se consagrar no filme "Rocky, Um Lutador", um enredo ficcional que tinha muito a ver com a própria vida de Stallone. Depois disso Stallone começou uma carreira fulminante, de muito sucesso e também de muitas críticas. Stallone foi durante anos o maior salário de Hollywood, ao mesmo tempo em que se tornava o maior premiado pela Framboesa de Ouro (que elege os piores todos os anos). Muitos de seus filmes foram grandes sucessos de bilheteria, mas massacrados pela crítica especializada. Stallone sempre foi adorado pelo público, mas odiado pelos críticos. Seu estilo físico de interpretação era sempre motivo de chacotas.
Isso pesa numa hora dessas. O Oscar nada mais é do que uma votação onde os tais melhores do ano são eleitos pelas próprias pessoas que fazem parte da indústria, entre eles muitos jornalistas. Essas pessoas, queiram ou não, são formadoras de opiniões. Embora seja muito querido por seus colegas de classe, os atores, nem sempre eles se entendem direito numa premiação como essa. Assim Stallone foi engolido pelo mar de matérias e críticas ruins de todos aqueles anos. Por isso não venceu. Foi injusto? Em minha opinião, sem dúvida, mas o que o valor justiça tem a ver com o Oscar? Praticamente nada.
Pablo Aluísio.
Não quero aqui desmerecer o trabalho de Mark Rylance. Ele interpreta o espião russo que é pego em flagrante pelo serviço secreto americano. Levado a julgamento, passa a ser defendido pelo advogado idealista interpretado por Tom Hanks. Sua interpretação é muito introspectiva. Lá está aquele pequeno homem, de aspecto frágil, calvo e magro, já bem velho, tendo que enfrentar a máquina judiciária americana que está pronta para lhe destroçar nos tribunais. Todos clamam pela condenação à pena capital, à pena de morte. Agora vamos a um pouco de verdade. Ninguém sai do cinema impressionado pela interpretação de Rylance. Ele não dá margem a isso. Seu trauma psicológico é sugerido, não explicitado. A verdade é que ele é um ator de formação teatral, de palco, que raramente participa de filmes. Não merecia o prêmio.
Já Stallone foi durante anos e anos um verdadeiro pilar comercial do cinema americano. Desde 1977 ele não era indicado ao Oscar. Naquele ano ele foi louvado por ser um anônimo que havia vencido todos os problemas decorrentes de sua origem humilde para se consagrar no filme "Rocky, Um Lutador", um enredo ficcional que tinha muito a ver com a própria vida de Stallone. Depois disso Stallone começou uma carreira fulminante, de muito sucesso e também de muitas críticas. Stallone foi durante anos o maior salário de Hollywood, ao mesmo tempo em que se tornava o maior premiado pela Framboesa de Ouro (que elege os piores todos os anos). Muitos de seus filmes foram grandes sucessos de bilheteria, mas massacrados pela crítica especializada. Stallone sempre foi adorado pelo público, mas odiado pelos críticos. Seu estilo físico de interpretação era sempre motivo de chacotas.
Isso pesa numa hora dessas. O Oscar nada mais é do que uma votação onde os tais melhores do ano são eleitos pelas próprias pessoas que fazem parte da indústria, entre eles muitos jornalistas. Essas pessoas, queiram ou não, são formadoras de opiniões. Embora seja muito querido por seus colegas de classe, os atores, nem sempre eles se entendem direito numa premiação como essa. Assim Stallone foi engolido pelo mar de matérias e críticas ruins de todos aqueles anos. Por isso não venceu. Foi injusto? Em minha opinião, sem dúvida, mas o que o valor justiça tem a ver com o Oscar? Praticamente nada.
Pablo Aluísio.
Oscar 2016: Mad Max - Estrada da Fúria
A Academia tem certo preconceito contra filmes de ação, terror e ficção. Tanto isso é uma verdade que se olharmos para a história veremos que pouquíssimos filmes desses gêneros cinematográficos foram premiados nas categorias ditas principais (como melhor filme, roteiro, direção e ator). Geralmente aos filmes de ação e ficção são reservados apenas os prêmios técnicos. Esse ano não foi exceção. Apesar do filme "Mad Max - Estrada da Fúria" ter arrancado indicações nas categorias de Melhor Filme e Melhor Direção (algo bem raro), ele só tinha chances mesmo de vencer naquelas categorias reservadas a esse tipo de filme. E por que isso aconteceu? Porque Mad Max não tinha méritos suficientes para disputar os principais prêmios? Absolutamente não! Como eu disse, tudo no fundo é apenas preconceito.
Veja, o premiado de Melhor Filme foi "Spotlight", um filme burocrático sobre jornalismo. Ele venceu "Mad Max" simplesmente porque é um drama. Se formos colocar os dois filmes lado a lado, sem pré julgamentos ou preconceitos, veremos que Max é muito superior, tanto tecnicamente como puro cinema. Não há comparações. Também há fatores políticos envolvidos. Assim tiraram da cartola um prêmio de melhor filme que surpreendeu a muitos e não convenceu ninguém.
Dessa maneira, sendo tirado da competição antes mesmo de sair os resultados, sobrou a "Mad Max" disputar os prêmios ditos técnicos. Seu grande concorrente na noite era o novo "Star Wars" e realmente muitos pensavam que ele não conseguiria superar o grande sucessos da Disney. Porém, apesar das previsões, o filme surpreendeu e no final da noite acabou sendo o mais premiado do Oscar 2016, com seis prêmios: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem e cabelo e Design de Produção. E na minha concepção também deveria ter sido premiado com o Oscar de Melhores Efeitos Especiais (que acabou indo para Ex-Machina, outra surpresa da noite).
Então é isso. Dentro de uma visão bem limitada em termos de integrantes da Academia o filme Mad Max acabou se saindo muito bem. Como Melhor Filme ele definitivamente não seria premiado, pelas razões que já escrevi aqui. Só havia mesmo maiores esperanças de vencer, entre as categorias principais, em Melhor Direção para George Miller. Ele deveria ter sido lembrado. Seu trabalho de direção no filme é maravilhoso, mostrando que esse veterano cineasta chegou em um ponto na carreira que deveria ter sido justamente premiado pelo conjunto de sua obra. Infelizmente a mentalidade tacanha de certos membros da Academia acabou pesando mais do que um reconhecimento tardio, mas merecido, de um diretor realmente brilhante.
Pablo Aluísio.
Veja, o premiado de Melhor Filme foi "Spotlight", um filme burocrático sobre jornalismo. Ele venceu "Mad Max" simplesmente porque é um drama. Se formos colocar os dois filmes lado a lado, sem pré julgamentos ou preconceitos, veremos que Max é muito superior, tanto tecnicamente como puro cinema. Não há comparações. Também há fatores políticos envolvidos. Assim tiraram da cartola um prêmio de melhor filme que surpreendeu a muitos e não convenceu ninguém.
Dessa maneira, sendo tirado da competição antes mesmo de sair os resultados, sobrou a "Mad Max" disputar os prêmios ditos técnicos. Seu grande concorrente na noite era o novo "Star Wars" e realmente muitos pensavam que ele não conseguiria superar o grande sucessos da Disney. Porém, apesar das previsões, o filme surpreendeu e no final da noite acabou sendo o mais premiado do Oscar 2016, com seis prêmios: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem e cabelo e Design de Produção. E na minha concepção também deveria ter sido premiado com o Oscar de Melhores Efeitos Especiais (que acabou indo para Ex-Machina, outra surpresa da noite).
Então é isso. Dentro de uma visão bem limitada em termos de integrantes da Academia o filme Mad Max acabou se saindo muito bem. Como Melhor Filme ele definitivamente não seria premiado, pelas razões que já escrevi aqui. Só havia mesmo maiores esperanças de vencer, entre as categorias principais, em Melhor Direção para George Miller. Ele deveria ter sido lembrado. Seu trabalho de direção no filme é maravilhoso, mostrando que esse veterano cineasta chegou em um ponto na carreira que deveria ter sido justamente premiado pelo conjunto de sua obra. Infelizmente a mentalidade tacanha de certos membros da Academia acabou pesando mais do que um reconhecimento tardio, mas merecido, de um diretor realmente brilhante.
Pablo Aluísio.
terça-feira, 1 de março de 2016
Spotlight: Segredos Revelados
Quando foi anunciado o Oscar de Melhor Filme para Spotlight muita gente ficou surpresa. O filme não era o favorito e não havia vencido em categorias fundamentais como Melhor Direção, Ator ou Fotografia - prêmios esses que tradicionalmente são dados para o vencedor do grande prêmio da noite. Assim foi quebrada uma tradição de longa data pela Academia. O roteiro (que inclusive venceu o Oscar de Melhor roteiro original) explora uma história baseada em fatos reais. Um pequeno grupo de jornalistas de um jornal de Boston começa a investigar diversos casos (que inicialmente pareciam isolados) de abusos sexuais de padres em relação a crianças da região. Depois que as investigações avançam eles descobrem que se trata de algo maior e mais complexo, que pode inclusive ter sido acobertado por altas autoridades da igreja, envolvendo até mesmo o cardeal da cidade. Nesse aspecto a estrutura da narrativa me lembrou bastante de "Todos os Homens do Presidente" - apenas saiu de cena um escândalo envolvendo a Casa Branca para dar lugar ao furacão de casos envolvendo pedofilia dentro da Igreja Católica, tudo descoberto por esses jornalistas investigativos. Cinematograficamente falando porém não há como comparar os dois filmes. O agora clássico filme da década de 70 é infinitamente superior e mais bem realizado. Esse aqui é, sendo bem sincero, apenas mediano.
Talvez o problema central de "Spotlight" seja justamente esse. Sem dúvida se trata de um bom filme, bem escrito e tudo mais, porém afirmar que esse é o melhor filme do ano já é um exagero absurdo! Se formos pensar nos últimos vinte anos do Oscar, acredito que esse seja um dos mais fracos vencedores da categoria de melhor filme. Não vai levantar ninguém da cadeira do cinema e nem tampouco se tornará marcante com o passar dos anos. Certamente a força da história é o seu grande trunfo, mas tirando isso de lado sobra pouca coisa. De certa maneira é um filme burocrático demais para ser tão premiado. O diretor Tom McCarthy não mostra a que veio. Não há inovações em termos de narrativa e nada de muito especial em relação ao seu elenco. Liev Schreiber está esquisito, pouco natural. Ele interpreta um editor judeu que não quer apenas denunciar os casos de abusos, mas sim destruir o próprio sistema religioso da Igreja. Com voz forçada e falta de expressões faciais, sua atuação é quase caricatural. Outro que está muito esquisito é Mark Ruffalo. Ele conseguiu arrancar uma indicação de melhor ator coadjuvante (não sei como!), mas é outro que foi superestimado. Cheio de maneirismos, caretas e um estranho comportamento corporal, acaba chamando a atenção pelos motivos errados. No fim das contas quem se sai bem mesmo é Michael Keaton, mostrando mais uma vez que nem sempre o exagero é um bom caminho a se seguir. Ele está contido e acaba ofuscando todos os demais. Econômico e eficiente em sua atuação. O roteiro captura um momento em que a imprensa de papel (os chamados jornais impressos) começavam a entrar na grave crise que até hoje se encontram, levando vários desses jornais tradicionais à beira da falência. Isso porém é também pouco explorado. Assim "Spotlight" definitivamente não deveria ter levado o Oscar de Melhor Filme. Foi um exagero por parte da Academia. Penso que em pouco tempo ele será esquecido. É muito mediano para se destacar mais do que já conseguiu. Não terá posteridade histórica em termos cinematográficos.
Spotlight: Segredos Revelados (Spotlight, Estados Unidos, 2015) Direção: Tom McCarthy / Roteiro: Josh Singer, Tom McCarthy / Elenco: Mark Ruffalo, Michael Keaton, Rachel McAdams, Stanley Tucci, Liev Schreiber / Sinopse: Um novo editor judeu de um tradicional jornal de Boston resolve colocar um grupo de jornalistas investigativos em cima de suspeitas de casos de pedofilia envolvendo padres da cidade. Roteiro baseado em fatos reais. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. Também indicado nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Melhor Atriz Coadjuvante (Rachel McAdams), Melhor Edição e Direção (Tom McCarthy).
Pablo Aluísio.
Talvez o problema central de "Spotlight" seja justamente esse. Sem dúvida se trata de um bom filme, bem escrito e tudo mais, porém afirmar que esse é o melhor filme do ano já é um exagero absurdo! Se formos pensar nos últimos vinte anos do Oscar, acredito que esse seja um dos mais fracos vencedores da categoria de melhor filme. Não vai levantar ninguém da cadeira do cinema e nem tampouco se tornará marcante com o passar dos anos. Certamente a força da história é o seu grande trunfo, mas tirando isso de lado sobra pouca coisa. De certa maneira é um filme burocrático demais para ser tão premiado. O diretor Tom McCarthy não mostra a que veio. Não há inovações em termos de narrativa e nada de muito especial em relação ao seu elenco. Liev Schreiber está esquisito, pouco natural. Ele interpreta um editor judeu que não quer apenas denunciar os casos de abusos, mas sim destruir o próprio sistema religioso da Igreja. Com voz forçada e falta de expressões faciais, sua atuação é quase caricatural. Outro que está muito esquisito é Mark Ruffalo. Ele conseguiu arrancar uma indicação de melhor ator coadjuvante (não sei como!), mas é outro que foi superestimado. Cheio de maneirismos, caretas e um estranho comportamento corporal, acaba chamando a atenção pelos motivos errados. No fim das contas quem se sai bem mesmo é Michael Keaton, mostrando mais uma vez que nem sempre o exagero é um bom caminho a se seguir. Ele está contido e acaba ofuscando todos os demais. Econômico e eficiente em sua atuação. O roteiro captura um momento em que a imprensa de papel (os chamados jornais impressos) começavam a entrar na grave crise que até hoje se encontram, levando vários desses jornais tradicionais à beira da falência. Isso porém é também pouco explorado. Assim "Spotlight" definitivamente não deveria ter levado o Oscar de Melhor Filme. Foi um exagero por parte da Academia. Penso que em pouco tempo ele será esquecido. É muito mediano para se destacar mais do que já conseguiu. Não terá posteridade histórica em termos cinematográficos.
Spotlight: Segredos Revelados (Spotlight, Estados Unidos, 2015) Direção: Tom McCarthy / Roteiro: Josh Singer, Tom McCarthy / Elenco: Mark Ruffalo, Michael Keaton, Rachel McAdams, Stanley Tucci, Liev Schreiber / Sinopse: Um novo editor judeu de um tradicional jornal de Boston resolve colocar um grupo de jornalistas investigativos em cima de suspeitas de casos de pedofilia envolvendo padres da cidade. Roteiro baseado em fatos reais. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. Também indicado nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo), Melhor Atriz Coadjuvante (Rachel McAdams), Melhor Edição e Direção (Tom McCarthy).
Pablo Aluísio.
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