terça-feira, 12 de junho de 2012

Gamer

Esse é o tipo de produto que se consome em cinemas de shopping center. Tudo muito rápido, ágil, ultra acelerado. Não é bem um filme mas sim um fast food. A edição corre a mil e o roteiro foi escrito por e para fãs de videogame... pena que o conteúdo é zero! Eu na verdade já tinha assistido esse filme antes. Seu nome é "The Running Man - O Sobrevivente". O argumento é o mesmo, a única diferença é que algumas coisas foram acrescentadas nesse remake disfarçado, como por exemplo, o fato das pessoas que estão lutando na arena desse reality show violento são na verdade controladas por gamers, jogadores de video game. Curioso mas um deles é retratado como um gordo glutão que tem como avatar no jogo uma loira sensual (que na verdade é a esposa do personagem de Gerard Butler no filme). Esse aliás está mais inexpressivo do que nunca, eu nunca o considerei um bom ator mas aqui ele está bem pior do que costume! Totalmente sem expressão em cena. 

Do elenco do filme aliás só destaco Michael C. Hall (ele mesmo, o Dexter do famoso seriado). Fazendo um vilão baseado nesses milionários da internet ao estilo Bill Gates, Hall consegue fazer milagre em um papel bem rasinho, sem expressividade. O filme é curtinho, quase um média metragem (uma hora e vinte de duração), o que é um alívio já que não há mesmo muita estória para contar. A dupla de diretores nunca fez nada de muito relevante e parecem pensar entender o que os jovens querem ver no cinema atualmente - pouco conteúdo, muita pirotecnia e enredos de games. Para não dizer que desgostei de tudo vou terminar essa resenha elogiando a edição (não poderia ser diferente numa produção como essa) e a trilha sonora que adapta velhas canções com arranjos mais modernos. Enfim é isso. Se você é fã de games pode até vir a se divertir, caso contrário não, definitivamente não vai gostar!  

Gamer (Gamer, Estados Unidos, 2009) Direção: Direção: Mark Neveldine, Brian Taylor / Roteiro: Mark Neveldine, Brian Taylor / Elenco: Gerard Butler, Michael C. Hall, Ludacris / Sinopse: Em um futuro violento competidores entram em um reality show aonde são dirigidos por jogadores de videogames.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Montgomery Clift: Além do Sexo!

Durante muitos anos se especulou sobre a verdadeira sexualidade do ator Montgomery Clift. Recentemente o assunto voltou à tona pois um ex-gigolô em Hollywood lançou um livro supostamente mostrando a vida sexual de astros de cinema durante as décadas de 40, 50 e 60. Clift é um dos enfocados. O autor provavelmente não se deu muito bem com o ator e talvez por isso tenha escrito uma imagem nada lisonjeira dele nas páginas do livro. Mont é retratado como um esnobe, um sujeito cheio de "não me toques". Curiosamente apesar de ter sido esnobado por Clift o autor do livro garante que ele era gay! Mas com que provas? De fato a alcunha de esnobe em relação a Clift não me surpreende. Ele era uma pessoa discreta, tímida na vida privada. Geralmente os tímidos são confundidos com esnobes. Não faz diferença. O fato é que Clift teve uma vida sexual das mais discretas em Hollywood. Tentativas de tachá-lo de gay nunca tiveram comprovação inequívoca. Na realidade não são poucos os que acham que ele na realidade era assexuado (uma definição que só há pouco tem se tornado mais comum).

Montgomery Clift realmente não era visto com mulheres em sua passagem por Hollywood. Ator consagrado de teatro resolveu ir para a capital do cinema atraído pelos bons cachês. Mesmo assim nunca se considerou um membro ativo daquela comunidade. Pouco ia a festas e eventos sociais e procurava manter sua privacidade a todo custo. Tanta discrição acabou despertando suspeitas. Como não era visto com mulheres em público logo se começou a especular se era gay. O interessante é que ao contrário de outros gays famosos em Hollywood, como Rock Hudson, por exemplo, tampouco existem testemunhos de algum ex amante do astro. O que parece ter realmente acontecido foi um simples desinteresse sexual por parte de Montgomery Clift, seja por homens, seja por mulheres. Era neutro ou como se diz atualmente, assexuado, desinteressado por sexo.

Clift tinha grandes paixões platônicas geralmente por mulheres. Sua paixão não realizada por Elizabeth Taylor era conhecida. Taylor sempre casando e descasando nunca deu uma chance para Mont e o considerava apenas um grande amigo. Equivocadamente ela pensava que ele era gay mas tampouco chegou a ver ele com qualquer homem em todo o tempo que conviveu ao seu lado. A eterna solteirice de Clift incomodou inclusive seu pai. Confrontado o ator simplesmente explicou: "Minha vida já é complicada demais sem outra pessoa, por isso não me envolvo mais seriamente com alguém. Mesmo assim darei 10 mil dólares a qualquer um que comprove que não gosto de garotas". Depois que sofreu um grave acidente de carro Montgomery Clift ficou ainda mais recluso e retraído. Sentindo fortes dores de cabeça e sofrendo com as consequências do acidente as chances de sair para cortejar com qualquer pessoa, seja homem ou mulher, ficaram nulas. Clift morreu solteirão e carregando uma injusta fama de homossexual quando na verdade ele simplesmente parecia estar além do sexo.

Pablo Aluísio.

O Grande Segredo de Rock Hudson

Durante praticamente 20 anos Hollywood teve um rei. Nenhum ator era mais popular do que ele. Com um sucesso atrás do outro nas bilheterias não parecia haver limites para seu estrelato. Rock Hudson foi tão popular que foi considerado por 10 anos consecutivos o maior campeão de sucessos do cinema americano. Rock era alto, atlético, boa pinta, grande profissional, não criava problemas com diretores e produtores, era disciplinado e procurava ser amigo de todos. As mulheres suspiravam por ele, os homens o imitavam em todos os aspectos, o galã era o sonho de toda adolescente norte-americana da década de 50. Era considerado o supra sumo da beleza masculina. O que ninguém sabia é que embaixo da fachada de "homem ideal" Rock mantinha um segredo guardado a sete chaves: ele era gay!

Rock foi descoberto pelo agente Henry Wilson que viu potencial em seu biotipo impecável. Ele sabia que Rock não era um grande ator mas isso poderia ser trabalhado com o tempo, o que importava era que Rock era um símbolo de beleza masculina. Inventou um novo nome para o jovem aspirante a ator (Rock, como um rochedo e com a força do rio Hudson) e da noite para o dia nasceu um novo ídolo em Hollywood. Henry sabia que Rock era gay (ele próprio também era gay) mas achava que poderia manter o segredo bem guardado uma vez que Rock seria vendido para o público como o homem americano ideal. O curioso é que Henry realmente conseguiu manter Rock dentro do armário por vários anos, mesmo tendo que lidar com o voraz apetite sexual do ator (que tinha muitos amantes, que iam desde outros atores até garçons, frentistas de posto de gasolina e todo tipo de homem que lhe agradasse e lhe aparecesse pela frente).

No auge de sua popularidade, quando seu nome valia milhões numa marquise de cinema, ocorreu a grande crise. Uma revista de fofocas chamada Confidential descobriu que Rock era gay e estava disposta a revelar tudo através do depoimento de um dos ex-amantes do ator. No meio da confusão o agente acabou "casando" Rock com sua secretária, Phillys Gates. Sem reação a revista acabou desistindo da revelação bombástica e Rock salvou sua carreira de acabar prematuramente. Rock conseguiu a duras penas manter o casamento de fachada por longos dois anos até que não aguentou mais e pediu divórcio de Gates. Rock continuou sua carreira de sucesso pelos anos afora mas como era um galã seus sucessos foram diminuindo conforme a idade foi chegando. No final da década de 1960 Rock foi para o teatro em busca de novos horizontes e na década seguinte começou a fazer TV em seriados como McMillan & Wife.

Rock Hudson só saiu do armário no fim de sua vida. O ator contraiu AIDS no começo de 1984 e se tornou a primeira grande celebridade mundial a ser acometida pela nova e terrível doença. Com a imprensa no seu pé Rock finalmente resolveu assumir que era homossexual em seus últimos dias de vida. Também resolveu contar sua história em uma autobiografia que foi publicada após sua morte. Ele temia ser repudiado ao se assumir gay mas para sua surpresa a reação na sociedade americana foi completamente diferente. Houve muitas manifestações de apoio ao ator em seu leito de morte e muitos celebraram sua coragem ao se assumir. Outros astros e estrelas acharam maravilhosa a atitude de Rock, inclusive Elizabeth Taylor que acabou criando uma fundação em prol das pesquisas em busca da cura da doença. Usando do prestigio de Rock e de seu próprio nome, Elizabeth conseguiu arrecadar ao longo dos anos uma verdadeira fortuna que foi usada em pesquisas que acabaram por criar alguns dos medicamentos que hoje ajudam aos pacientes da doença pelo mundo afora. Um belo final para uma das histórias mais picantes de Hollywood.

Pablo Aluísio.

Bruna Surfistinha

Bruna Surfistinha se tornou famosa ao criar um blog onde contava os programas que fazia com seus clientes. A idéia deu tão certa que depois ela reuniu todo esse material e publicou o livro "O Doce Veneno do Escorpião", que acabou virando best seller no Brasil. A despeito de todo preconceito o fato é que Bruna Surfistinha, queiram ou não, é um típico produto da era da informática. Se não existisse a Internet ela provavelmente jamais sairia do anonimato. Esse filme é apenas mais um reflexo do sucesso da ex-garota de programa. "Bruna Surfistinha", o filme, tem vários problemas na minha forma de ver. O primeiro é de escalação de elenco. Deborah Secco até defende bem seu papel, ela está comprometida e concentrada no filme, o problema é que a verdadeira Bruna não tem nada a ver com ela. Sei que isso é uma questão bem relativa mas não consigo ver qualquer semelhança entre a personalidade da personagem interpretada por Deborah no filme e a Bruna Surfistinha real. Mesmo de forma inconsciente a atriz traz ao seu papel um tipo de sofisticação que inexiste na Bruna que vemos em entrevistas e aparições na TV. 

Não falo apenas da diferença de beleza física (que é acentuada) mas também de sua persona, das características que definem uma pessoa, nesse aspecto Deborah não consegue sumir dentro do papel, que é o diferencial que faz uma grande interpretação. Do elenco do filme dois nomes se destacam: Drica Moraes, muito bem no papel de cafetina e Cássio Gabus Mendes, um bom ator, aqui fazendo o personagem clichê do "cliente de bom coração". Sexualmente o filme não é sensual ou excitante. O roteiro segue de certa forma o padrão Globo de qualidade, ou seja, nada de muito ousado surge em cena. O filme apesar do tema polêmico tem apenas algumas poucas cenas de nudez mas tudo com muito pudor. Talvez o grande mérito do texto seja mesmo sua postura em relação à personagem principal. Ele não condena a garota que sai de casa para se prostituir. Claro que mostra aspectos negativos dessa vida mas não tenta dar lição de moral. Além disso, o que é mais importante, não glamouriza a vida de garota de programa - o que é um ponto positivo, sem dúvida. No saldo final se trata mesmo de um produto Global, com tudo de bom e ruim que isso significa. Não é um retrato fiel da Bruna Surfistinha real e acredito que nem seria essa a intenção dos produtores e nem o desejo do público. De qualquer forma arrisque, possa ser que você ache pelo menos curioso.  

Bruna Surfistinha (Bruna Surfistinha, Brasil, 2011) Direção: Marcus Baldini / Roteiro: José de Carvalho, Homem Olivetto baseado no livro "O Doce Veneno do Escorpião" de Bruna Surfistinha / Elenco: Deborah Secco, Cassio Gabus Mendes, Drica Moraes / Sinopse: Raquel é uma garota de classe média que briga com seus pais e resolve cair na vida da prostituição e programas, se tornando a partir daí conhecida como Bruna Surfistinha. 

Pablo Aluísio.

Confissões de Uma Garota de Programa

O filme tenta seguir o estilo Reality Show, aonde os atores fazem de tudo para tudo parecer casual, sem script, como se tudo fosse filmado de forma amadora. A Sasha Grey está em praticamente todas as cenas. Ela é bonita mas devo confessar que a achei extremamente antipática! Parece que sempre está em off, como se estivesse sorumbática, não cria empatia com o espectador e nem tenta ser muito simpática. É uma profissional de coração frio, que vai lá, faz o serviço com o cliente e vai embora. Nem no seu relacionamento com um instrutor de ginástica consegue passar algum tipo de calor humano. Talvez seja a própria personagem que tenha sido planejada assim, porém acredito que a antipatia seja natural na Sasha Grey. De qualquer forma parecendo sempre distante ela tenta encontrar o tom ideal do que seria o comportamento de uma prostituta de luxo. Como ela é atriz pornô na vida real isso pode até ser bem próximo da realidade da vida dessas garotas. A sensação que fica é que essas profissionais do sexo acabam desenvolvendo uma insensibilidade natural no trato com os homens. Como encaram o relacionamento sexual apenas como um negócio acabam se tornando insensíveis a esse tipo de aproximação. Sasha passa essa sensação. Ela apenas tolera a companhia dos clientes sem sentir nada em relação a eles que acabam se tornando apenas um número numa fila que parece não ter fim.

O roteiro em si parece não ter um enredo linear. São vários flashes da vida dela, atendendo um cliente atrás do outro, indo às compras, almoçando, passando alguns momentos com seu namorado. Na realidade nada de muito importante ou relevante acontece durante a curta duração do filme (pouco mais de sessenta minutos) e quando chega o The End o público certamente ficará com a impressão de ter perdido seu tempo. Pelo menos o argumento não glamouriza o estilo de vida da protagonista, o que já é um mérito e tanto. Enfim, o filme não é muito bom mas mesmo assim, com todos esses problemas, acho que ainda vale a pena tirar um tempinho para conhecer esse tipo de idéia, quem sabe você pode até gostar da proposta do diretor.

Confissões de uma Garota de Programa (The Girlfriend Experience, Estados Unidos, 2009) Direção: Steven Soderbergh / Roteiro: David Levien, Brian Koppelman / Elenco: Sasha Grey, Chris Santos, Philip Eytan / Sinopse: O filme acompanha o dia a dia de uma garota de programa de luxo chamada Chelsea (Sasha Grey), seus clientes, seus encontros e sua vida privada.

Pablo Aluísio.

domingo, 10 de junho de 2012

A Morte Negra

Pensei que seria mais uma daquelas bobagens medievais que o cinema americano vem fazendo ultimamente mas para minha total surpresa o filme não é nada disso - pelo contrário, é um filme muito, muito bom! Gostei de praticamente tudo, do argumento, da ambientação, do roteiro inteligente e das boas interpretações. Confesso que fiquei esperando uma reviravolta ao estilo realismo fantástico mas felizmente isso não acontece! O roteiro conseguiu fugir do óbvio - como virar uma bobagem adolescente cheia de monstros - e fincou o pé na realidade e no racional, o que lhe deu um ótimo posicionamento de cinema adulto (e correto do ponto de vista histórico). 

O enredo mostra bem a realidade do homem medieval europeu. Imerso em uma religiosidade fanática ele não consegue entender porque tantas pessoas morrem em tão pouco tempo. Dentro daquele contexto ficou fácil para culpar a própria humanidade pela peste, pregando a crença que tudo não passaria de um castigo de Deus para com a humanidade. Nesse contexto somos levados a acompanhar um grupo de enviados do Bispo a uma pequena vila que não estaria sendo afetada pela peste negra (o que seria claro indicio de que forças diabólicas estariam atuando no local). Não adianta falar mais para não estragar. Basta apenas dizer que do período enfocado (alta idade média) esse foi um dos melhores filmes que já assisti. Recomendo muito - se ainda não viu corra atrás.  

A Morte Negra (Black Death, Estados Unidos, 2010) Direção: Christopher Smith / Roteiro: Dario Poloni / Elenco: Eddie Redmayne, Sean Bean, Carice van Houten / Sinopse: Na Idade Média, durante a proliferação da Peste Negra, enviados a um pequeno vilarejo inglês entram em contato com as crenças da população local. 

Pablo Aluísio.

O Destino Bate à Sua Porta

A grande maioria dos cinéfilos conhece essa estória através do remake que foi feito muitos anos depois com Jack Nicholson e Jessica Lange. Esse aqui é o filme original mostrando a trama de assassinato orquestrada por dois amantes contra o marido mais velho da garota. Na trama somos apresentados a um vagabundo errante, Frank Chambers (John Garfield), que chega até uma lanchonete de beira de estrada numa cidadezinha da Califórnia. O pequeno estabelecimento é tocado por Nick (Cecil Kellaway) e sua jovem esposa, a bela Cora (Lana Turner). Logo Frank cai nas graças de Nick e este o contrata para trabalhar no local. Não demora muito para que Frank e Cora se sintam atraídos um pelo outro. A partir daí tudo caminha para um desfecho trágico pois o casal de amantes começa a planejar um jeito de liquidar Nick para continuarem juntos sem o velho marido que agora se tornou um estorvo na vida deles. 

O roteiro chama atenção pela sordidez dos eventos. O casal age de forma natural mas planeja um assassinato com raro sangue frio. A personagem de Lana Turner (belíssima em cena) não parece ter maiores conflitos pelo que está fazendo, aliás é justamente ela que concebe a idéia e passa para o amante Frank Chambers. No fundo ela está de olho não apenas na lanchonete do marido mas também em um rico seguro de vida no nome dele (algo que negará depois). A produção é a primeira em língua inglesa baseada no livro que lhe deu origem, escrito pelo autor James M. Cain. Hollywood só se interessou pela estória após ela ter sido filmada duas vezes, uma na França e outra na Itália. Esse pode ser considerado o primeiro grande papel de expressão de Lana Turner. Antes desse personagem amoral, Cora, ela apenas passeava sua beleza em cena sem grandes interpretações a tiracolo. Como era uma starlet apenas tirava proveito de sua beleza e nada mais. Aqui porém já foi exigida bem mais em seu papel, tanto que ganhou grandes elogios da crítica na época. Outro que também está muito bem é John Garfield, em um papel que ficaria melhor com Jack Nicholson décadas depois. A caracterização de Jack é muito mais rica pois expõe os motivos de Frank Chambers com mais intensidade. Na pele de Garfield não conseguimos entender muito bem suas motivações para um crime tão bárbaro. Em conclusão diria que "O Destino Bate à Sua Porta" vale por um direção segura e pela bela atuação de Lana Turner mas a despeito de tudo isso não consegue ser superior à versão de Bob Rafelson em um caso raro de remake superior ao original.  

O Destino Bate à Sua Porta (The Postman Always Rings Twice. Estados Unidos, 1946) Direção: Tay Garmett / Roteiro: Harry Huskin, Niven Busch baseados no livro de James M. Cain / Elenco: Lana Turner, John Garfield, Cecil Kellaway / Sinopse: Jovem esposa com seu amante planejam a morte de seu marido mais velho para herdar sua lanchonete e um seguro de vida de 10 mil dólares.  

Pablo Aluísio.

Não Tenha Medo do Escuro

Complicado até mesmo dizer o que está errado em "Não Tenha Medo do Escuro", são tantos os equívocos que nem sei por onde começar. O filme conta a estória de um casal (Katie Holmes e Guy Pearce) que compram uma antiga casa há muito abandonada. Não precisa ser muito perspicaz para saber que a casa esconde terríveis segredos em seu passado. Para piorar ainda mais a situação a jovem filha do marido vai morar com o casal a contragosto. Partindo dessa premissa era de se esperar que algo próximo a um terror psicológico seria oferecido ao espectador. Doce ilusão. O roteiro joga qualquer sutileza no lixo e parte para a pura e simples bobagem. O uso exagerado de efeitos digitais também não ajuda. As criaturas que vão surgindo são mal desenhadas, geralmente mostradas fora de foco e para piorar muito derivativas e sem graça. De fato não metem medo nem em criancinha.

Eu achei tudo muito parecido com um filme de horror trash dos anos 80 chamado "O Portão". Tal como lá aqui temos esses pequenos seres demoníacos que vão infernizando a vida de uma família. Os tais "demoninhos" dariam origem a um personagem infantil muito popular nos Estados Unidos: A fada dos dentes. Mas nem adianta ir muito além para tentar explicar o que diabos é essa fada. O que é preciso saber mesmo é que "Não Tenha Medo do Escuro" é terrivelmente ruim e sem sustos. Clichês aos montes e atores sem inspiração. Pensar que o bom Guilhermo Del Toro se envolveu em algo assim me deixa espantado. Enfim, tenha medo da ruindade do filme, não do escuro. rs.

Não Tenha Medo do Escuro (Don't Be Afraid of the Dark, Estados Unidos, 2010) Direção: Troy Nixey /Roteiro: Guillermo del Toro, Matthew Robbins / Elenco: Katie Holmes, Guy Pearce, Bailee Madison, Jack Thompson / Sinopse: Jovem casal muda para uma nova casa onde eventos estranhos começam a acontecer. Imaginação ou manifestação do sobrenatural?

Pablo Aluísio.

Decisões Extremas

Existe uma certa tradição nos EUA de telefilmes que mostram pessoas enfrentando graves problemas de saúde. São os conhecidos "filmes de doença". Esse aqui não nega sua origem - produzido pelo canal aberto CBS e pelo próprio astro Harrison Ford, o filme foca a luta de um pai, Jonh Crowley (Brendan Fraser), em busca de tratamento para dois de seus filhos que sofrem de uma doença rara de origem genética que ataca o sistema muscular das crianças. Em sua busca ele acaba conhecendo o pesquisador Dr Robert Stonehill (Ford) que tenta sintetizar uma enzima que irá evitar a morte daqueles que sofrem desse mal. O roteiro obviamente aproveita o fato real que por si só já por demais dramático (crianças em estado terminal) para obviamente exagerar no melodrama (afinal quem não irá sensibilizar com esse tipo de problema?). O que o salva de ser totalmente meloso é a interessante forma com que retrata os bastidores da indústria de pesquisas nos EUA. Tentando conciliar interesses financeiros com humanitários o argumento curiosamente coloca o personagem de Brendan Fraser como um técnico comercial da área que tem que conciliar o sucesso lucrativo da busca dessa enzima com o desespero que enfrente em sua própria casa pois seus filhos estão no limite de idade da expectativa de vida de quem sofre essa doença (9 anos de idade). 

O elenco está burocrático mas na minha opinião adequado a esse tipo de produção. Harrison Ford demonstra sinais de sua idade, bocejando e se mostrando quase sempre bem irritado em cena (obviamente fazendo parte de sua personagem mas também adequado ao seu conhecido mal humor em Hollywood). Brendan Fraser deixa seu lado herói de filmes como "A Múmia" para encarnar um paizão que luta pela sobrevivência de seus filhos (e ele está bem adequado, gordinho e envelhecido aliás). Outro que nos surpreende pelos cabelos brancos é Alan Ruck, que você talvez não conheça de nome mas que irá reconhecer imediatamente ao vê-lo em cena (ele é o amigo esquisito de Mathew Broderick em "Curtinho a Vida Adoidado"); O diretor Tom Vaughan é proveniente da tv, com longa lista de telefilmes em sua filmografia o que é bem adequado para a proposta desse filme. Enfim, "Decisões Extremas" talvez seja mais indicado para quem esteja de alguma forma envolvido com o problema mostrado no filme, fora isso provavelmente vá interessar a poucos.  

Decisões Extremas ((Extraordinary Measures, Estados Unidos, 2010) Direção: Tom Vaughan / Roteiro: Robert Nelson Jacobs baseado no livro de Geeta Anand / Elenco: Brendan Fraser, Keri Russell, Harrison Ford / Sinopse: Um pai e um pesquisador tentam encontrar a cura para uma rara doença genética que atinge crianças. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Perfume de Mulher

A década de 90 foi bem generosa para Al Pacino. Na verdade foi justamente nesses anos que ele colecionou sucessos de público e crítica, uma situação bem diferente da que viveu na década de 80 quando estrelou o mega fracasso "Revolução". A repercussão desse filme foi tão ruim que muitos se apressaram para decretar o fim da carreira de Al Pacino em Hollywood. Um completo exagero certamente. Depois de ficar três anos longe das telas ele foi voltando à velha forma. Estrelou o bom policial "Vítimas de  uma Paixão" que deu bom retorno de bilheteria e a partir daí não parou mais. Sua carreira foi retomando fôlego e depois de sucessos como "Dick Tracy" e "O Poderoso Chefão III" ele finalmente havia retornado ao grupo seleto dos grandes astros. Até que em 1992 caiu em suas mãos a chance de estrelar esse "Perfume de Mulher", produção americana que na realidade seria remake do excelente filme italiano Profumo di donna, de 1974, dirigido por Dino Risi e com elenco liderado pelo talentoso Vittorio Gassman. Pacino já tinha em mente há anos tentar novamente concorrer ao Oscar de Melhor ator uma vez que esse prêmio da Academia seria a concretização definitiva de sua volta ao topo em Hollywood.

O papel ajudava certamente. Pacino interpretaria um militar linha dura, o tenente-coronel Frank Slade, que agora enfrentava o maior desafio de sua vida, a cegueira. Muitos podem dizer que Pacino escolheu um personagem com deficiência para amolecer o coração dos membros da Academia e assim levantar seu tão cobiçado Oscar. Acho essa visão muito simplista e até mesmo cínica. Não basta apenas estar na pele de um personagem como esse mas também é necessário mostrar um talento nato em cena. Pacino certamente está grandioso em cada momento. Sua intensidade geralmente é confundida com exagero ou maneirismos mas não aqui - considero sem favor algum uma de suas mais brilhantes atuações. Mesmo atuando ao lado de um parceiro relativamente fraco em cena (o inexperiente Chris O´Donnell), Pacino consegue superar todas as adversidades, proporcionando ao público mais um momento inesquecível de sua carreira. O filme foi indicado ao Oscar de melhor filme, roteiro adaptado e diretor mas perdeu essas estatuetas. O reconhecimento porém veio com o prêmio de melhor ator para Al Pacino. Foi sua redenção pessoal, o momento em que deixou tudo o que havia acontecido de ruim em sua carreira para iniciar um novo recomeço em sua vida artística. Um renascimento que os cinéfilos agradecem até os dias de hoje.

Perfume de Mulher  (Scent of a Woman, Estados Unidos, 1992) Direção: Martin Brest / Roteiro: Bo Goldman baseado na obra de Giovanni Arpino / Elenco: Al Pacino, Chris O'Donnell, James Rebhorn, Philip Seymour Hoffman,  Gabrielle Anwar / Sinopse: Durante um feriado de dia de ação de graças um velho militar cego, o tenente coronel Frank Slade (Al Pacino) contrata os serviços de um jovem para lhe ajudar em Nova Iorque. Ele resolve ir a bons restaurantes, encontrar seus familiares e depois tomar uma decisão crucial sobre sua vida e seu destino. Filme premiado com o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor ator para Al Pacino.

Pablo Aluísio.