Bruna Surfistinha se tornou famosa ao criar um blog onde contava os programas que fazia com seus clientes. A idéia deu tão certa que depois ela reuniu todo esse material e publicou o livro "O Doce Veneno do Escorpião", que acabou virando best seller no Brasil. A despeito de todo preconceito o fato é que Bruna Surfistinha, queiram ou não, é um típico produto da era da informática. Se não existisse a Internet ela provavelmente jamais sairia do anonimato. Esse filme é apenas mais um reflexo do sucesso da ex-garota de programa. "Bruna Surfistinha", o filme, tem vários problemas na minha forma de ver. O primeiro é de escalação de elenco. Deborah Secco até defende bem seu papel, ela está comprometida e concentrada no filme, o problema é que a verdadeira Bruna não tem nada a ver com ela. Sei que isso é uma questão bem relativa mas não consigo ver qualquer semelhança entre a personalidade da personagem interpretada por Deborah no filme e a Bruna Surfistinha real. Mesmo de forma inconsciente a atriz traz ao seu papel um tipo de sofisticação que inexiste na Bruna que vemos em entrevistas e aparições na TV.
Não falo apenas da diferença de beleza física (que é acentuada) mas também de sua persona, das características que definem uma pessoa, nesse aspecto Deborah não consegue sumir dentro do papel, que é o diferencial que faz uma grande interpretação. Do elenco do filme dois nomes se destacam: Drica Moraes, muito bem no papel de cafetina e Cássio Gabus Mendes, um bom ator, aqui fazendo o personagem clichê do "cliente de bom coração". Sexualmente o filme não é sensual ou excitante. O roteiro segue de certa forma o padrão Globo de qualidade, ou seja, nada de muito ousado surge em cena. O filme apesar do tema polêmico tem apenas algumas poucas cenas de nudez mas tudo com muito pudor. Talvez o grande mérito do texto seja mesmo sua postura em relação à personagem principal. Ele não condena a garota que sai de casa para se prostituir. Claro que mostra aspectos negativos dessa vida mas não tenta dar lição de moral. Além disso, o que é mais importante, não glamouriza a vida de garota de programa - o que é um ponto positivo, sem dúvida. No saldo final se trata mesmo de um produto Global, com tudo de bom e ruim que isso significa. Não é um retrato fiel da Bruna Surfistinha real e acredito que nem seria essa a intenção dos produtores e nem o desejo do público. De qualquer forma arrisque, possa ser que você ache pelo menos curioso.
Bruna Surfistinha (Bruna Surfistinha, Brasil, 2011) Direção: Marcus Baldini / Roteiro: José de Carvalho, Homem Olivetto baseado no livro "O Doce Veneno do Escorpião" de Bruna Surfistinha / Elenco: Deborah Secco, Cassio Gabus Mendes, Drica Moraes / Sinopse: Raquel é uma garota de classe média que briga com seus pais e resolve cair na vida da prostituição e programas, se tornando a partir daí conhecida como Bruna Surfistinha.
Pablo Aluísio.