sexta-feira, 25 de maio de 2007

A Canção de Bernadette

Independente do fato de se acreditar ou não na aparição da virgem Maria na pequena cidade de Lourdes na França o fato é que esse é um grande filme. O mais interessante no inteligente roteiro é que o filme dá voz não apenas aos que acreditaram no fato mas também aos céticos. Toda a situação que ocorreu na cidade após as supostas aparições é mostrada, a reação das autoridades, do clero local e os efeitos que iriam acontecer na cidade com o fluxo enorme de peregrinos em busca de curas milagrosas. Eu particularmente achei totalmente justificado a enxurrada de indicações ao Oscar pois desde a reconstituição do local até os mínimos detalhes tudo foi realizado com grande primor técnico. Destaque também para as locações, figurinos e trilha sonora, essa maravilhosa.

O elenco é todo bom. Do lado dos céticos se destaca o personagem do promotor imperial de Lourdes, interpretado brilhantemente por Vincent Price. Sua cena final, quando se dirige ao local das aparições é certamente um dos melhores momentos do ator no cinema. Já Jennifer Jones no papel de Bernadette enche os olhos. A Atriz foi premiada com o Oscar por sua interpretação e foi mais do que merecida. Ela transparece inocência, pureza e jovialidade num papel complicado, que poderia facilmente cair na caricatura. O diretor Henry King tem uma lista enorme de grandes clássicos em sua filmografia então não foi surpresa nenhuma ao me deparar com a grande qualidade desse "A Canção de Bernadette". Cineasta de mão cheia ele torna o filme obrigatório para todo cinéfilo que se preze. Em resumo temos aqui uma excelente obra prima da década de 40, uma obra que não cai na carolice como era de esperar e que debate fé, fanatismo religioso e crença popular com raro brilhantismo. Excelente clássico que merece ser descoberto (e redescoberto) sempre que possível. Altamente recomendado.

A Canção de Bernadette (The Song of Bernadette, Estados Unidos, 1943) Direção: Henry King / Roteiro: George Seaton (a pertir do romance de Franz Werfel) / Elenco: Jennifer Jones, Charles Bickford, Gladys Cooper, Vincent Price, Lee J. Cobb, Anne Revere./ Sinopse: O filme mostra as supostas aparições da Virgem Maria em Lourdes. Na ocasião uma jovem camponesa chamada Bernadette (Jennifer Jones) afirmou ter visto e falado com a mãe de Jesus Cristo numa gruta próxima onde costumava apanhar lenha com suas irmãs.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Almas Desesperadas

Esse foi um filme feito pela atriz Marilyn Monroe antes dela se tornar uma das maiores estrelas da história de Hollywood. Na época Marilyn era apenas uma garota bonita com um certo potencial. Uma starlet. E o mais interessante de tudo é que ela se saiu muito bem como atriz, sem apelar tanto para seu Sex Appeal. Claro, sua beleza e sensualidade natural sempre iriam chamar a atenção, mas esse não foi o foco do filme em si. A trama é engenhosa. Um casal deixa sua pequena filha aos cuidados da sobrinha do ascensorista do hotel onde estão hospedados. O problema é que a nova babá, chamada Nell Forbes (Marilyn Monroe), sofre de graves problemas psicológicos e mentais. A aproximação de um outro hóspede, Jed Towers (Richard Widmark), na vida de Nell só piora ainda mais a situação. Com isso a situação que já era delicada, se torna explosiva e altamente perigosa.

"Almas Desesperadas" foi o primeiro filme em que Marilyn Monroe realmente se destacou, surgindo com um papel importante. Até aquele momento ela se resumia a fazer papéis pequenos, sem grande importância. A maioria deles apenas aproveitando de sua beleza. Tudo muda aqui. Marilyn Monroe está em praticamente todas as cenas de um roteiro que se passa quase em tempo real, todo em uma só noite, dentro de um quarto de hotel. Muitos biógrafos e críticos afirmam que o papel da babysitter mentalmente perturbada era muito forte para uma Marilyn Monroe ainda tão jovem e inexperiente. De fato, não deve ter sido nada fácil interpretar um personagem assim com apenas 26 anos de idade, mas sinceramente discordo dos que criticam a atuação da atriz nesse filme. Achei sua atuação muito digna e correta. Marilyn, em nenhum momento, cai no exagero ou na caricatura. Para uma jovem estrela, sem muita experiência dramática, devo dizer que ela se saiu extremamente bem. O filme só funcionaria se Marilyn atuasse de forma satisfatória - e ela fez isso, com muita garra e sensibilidade, tenham certeza.

E como poderíamos definir esse filme? "Almas Desesperadas" é, em essência, um drama com toques de suspense e tensão. Quase cinema noir. A estrutura narrativa inclusive lembra uma peça de teatro. Os personagens estão concentrados em um ambiente fechado, dentro de uma situação limite. Poderia ter ficado pesado e chato, mas não, o filme se desenvolve muito bem em seus curtos 76 minutos. Richard Widmark segue a trilha da boa atuação de Marilyn Monroe e desfila elegância e charme durante as cenas. Aliás seu figurino chama bem a atenção pois revela a moda masculina na primeira metade dos anos 1950 com ternos enormes, folgadões, que alguns anos depois viriam a virar moda novamente. E ele era certamente o ator ideal para atuar nesse tipo de papel. Geralmente interpretava personagens que eram anti-heróis ou vilões assumidos. Nunca foi um ator de papéis de sujeitos bonzinhos ao longo de toda a sua carreira.

Para uma produção B da Fox, achei tudo de bom gosto. O hotel onde se passa a estória foi bem recriado e os demais figurinos são bonitos. E por falar em beleza, Marilyn estava linda, maravilhosa na época. Ainda com o frescor da juventude ela fotografou muito bem nas cenas. Com cabelos mais escuros que o normal, os fãs da atriz foram presenteados com vários closes de seu rosto inesquecível. Mesmo fazendo papel de maluquinha sua sensualidade acabou explodindo em cada tomada. Não foi à toa que ela se tornou um dos grandes símbolos sexuais do século XX. Embora seu papel não fosse essencialmente sensual, ela o tornava assim naturalmente. A Fox inclusive investiu bem nisso, a começar pelo poster do filme explorando a sensualidade de Marilyn de forma bem ostensiva e descarada. Em conclusão podemos afirmar que "Almas Desesperadas" não decepciona. É um registro histórico da ascensão de um dos maiores mitos da história do cinema! Só isso já o torna obrigatório.

Almas Desesperadas (Don't Bother to Knock, Estados Unidos, 1953) Direção: Roy Ward Baker / Roteiro: Daniel Taradash baseado na novela de Charlotte Armstrong / Elenco: Richard Widmark, Marilyn Monroe, Anne Bancroft, Donna Corcoran, Jeanne Cagney / Sinopse: Casal que vai a um jantar de gala contrata jovem babá chamada Nell Forbes (Marilyn Monroe) para cuidar de sua filhinha. A babá é sobrinha do ascensorista do hotel e desde que seu namorado morreu na guerra sofre de crises mentais. E esse se torna o grande problema daquela noite.

Pablo Aluísio.

A Embriaguez do Sucesso

É incrível descobrir que um filme como esse foi feito em 1957. Isso porque não era tão comum ver um roteiro assim, tão ácido e mórbido naquela época. Os dois atores principais em cena, Tony Curtis e Burt Lancaster, dão show de interpretação. Curtis, visto apenas como um galã da Universal pelos críticos, aqui apresenta um de seus melhores trabalhos. Está literalmente fantástico como o crápula, mentiroso, cafetão, escroque e 171 Sidney Falco. Confesso que nunca vi uma atuação dele tão boa como essa. É uma pena que Curtis não tenha se desenvolvido mais como ator dramático. Ele de certa forma se acomodou em sua imagem de galã de comédias românticas, principalmente a partir do começo da década de 60 e com vários problemas que foram surgindo ao longo dos anos (como vício em drogas) simplesmente deixou a carreira em segundo plano. Se tivesse procurado se desenvolver melhor na arte da atuação teria sido um grande nome na história de Hollywood. Já Lancaster também está excelente fazendo um verdadeiro psicopata frio, cheio de si e com uma indisfarçável paixão incestuosa por sua irmã (na pela de uma atriz fraquinha mas bonita, Susan Harrison). Muitos criticam Lancaster afirmando que ele era um ator de uma nota só (sempre atlético e com um sorriso montado no rosto). Eu não concordo inteiramente com essa opinião. Realmente em algumas produções Lancaster se apoiou em sua imagem como muleta mas nem sempre isso aconteceu. Basta lembrar do famoso (e ótimo) "O Homem de Alcatraz". Nesse "A Embriaguez do Sucesso" o ator tem uma de suas melhores interpretações. A persona que tanto utilizou em outros filmes aqui está ausente, felizmente.

Outro destaque de "Sweet Smell Of Sucess" é a forma que o diretor encontrou para contar sua estória. São ótimas tomadas de cena feitas em locação na cidade de Nova Iorque. Nos anos 50 era comum que os filmes fossem feitos em Hollywood dentro dos estúdios, geralmente com o uso de back projection (os atores atuavam na frente de uma grande tela onde o cenário da locação da cena previamente filmado era exibido). Aqui não, é fácil ver que tudo foi realmente filmado nas ruas da cidade, sem uso e artifícios como esse. Tudo combina, a sordidez da trama, a direção segura, a ótima fotografia em preto e branco e os diálogos (alguns dos melhores que já vi). Para quem gosta de filmes clássicos, com tramas envolventes e clima noir, "Embriaguez do Sucesso" é uma ótima opção.

O Embriaguez do Sucesso (Sweet Smell of Success, Estados Unidos, 1957) / Direção: Alexander Mackendrick / Roteiro: Clifford Odets (roteiro), Ernest Lehman (roteiro, romance), Alexander Mackendrick / Sinopse: Tony Curtis, Burt Lancaster, Susan Harrison, Martin Milner / Sinopse: O maior colunista jornalístico de Nova York, J.J. Hunsecker, quer a todo custo evitar que sua irmã case-se com Steve Dallas, um músico de jazz. Assim, ele contrata Sidney Falco, um agente inescrupuloso, para atrapalhar o caso dos dois.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Infâmia

Karen Wright (Audrey Hepburn) e Martha Dobie (Shirley MacLaine) são duas amigas de universidade que decidem abrir uma escola exclusiva para moças da sociedade. Karen inclusive já tem planos de se casar com seu namorado, um jovem médico promissor. o Dr. Joe Cardin (James Garner). A vida delas parece seguir muito bem, com todos os seus planos sendo realizados. Porém tudo muda da noite para o dia. Suas vidas, que iam tão bem, são afetadas tragicamente por uma mentira contada por uma de suas alunas. Isso abala completamente o destino delas. Pior do que isso, muitas pessoas da sociedade em que vivem acreditam mesmo nas mentiras inventadas pela jovem aluna.

Seguramente um dos roteiros mais instigantes e corajosos que já vi em um filme produzido na década de 1960. O filme não tem medo de tocar em assuntos que até hoje são tabus e que no passado eram ainda mais fortes. Também é curioso como o argumento do filme é dúbio. Em certo sentido ele realmente deixa completamente desnorteado o espectador, pois ao mesmo tempo que ficamos indignados com o acontecimento que atingem a vida das protagonistas, sabemos de antemão que as acusações possuem um fundo de verdade, mesmo que de forma unilateral por parte de uma delas. Além disso o tema levanta o debate sobre a hipocrisia moral reinante na sociedade.

O elenco está ótimo. Shirley MacLaine, ainda jovem, está linda. Muito charmosa, demonstra que já era uma excelente atriz naquela época. O interessante é que ela era considerada apenas uma estrela de filmes mais comerciais Já Audrey Hepburn desfila toda sua classe habitual em cena. Incrível como mesmo nas maiores adversidades ela jamais perdia a elegância, nem na trágica cena final. Aliás sua caminhada para fora do cemitério, de cabeça erguida, mostrando toda a sua dignidade diante de tudo o que lhe aconteceu, é seguramente uma das maiores cenas de sua carreira. Por fim fica aqui os elogios ao grande cineasta William Wyler. Que ele foi diretor de grandes clássicos da história do cinema, todo mundo já sabe, mas muitos irão se surpreender em ver como ele lidou com o delicado tema desse filme. Genial o seu trabalho. "Infâmia", em suma, é uma obra prima que merece ser descoberta por quem ainda não assistiu. Nota dez.

Infâmia (The Children's Hour, Estados Unidos, 1961) Direção: William Wyler / Roteiro: Lillian Hellman, John Michael Hayes / Elenco: Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, James Garner, Fay Bainter, Miriam Hopkins / Sinopse: Amigas desde os tempos da universidade, Karen Wright (Audrey Hepburn) e Martha Dobie (Shirley MacLaine), decidem abrir uma escola para moças. Tudo começa muito bem, até o dia em que elas viram alvos de mentiras perigosas. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante (Fay Bainter), Melhor Fotografia (Franz Planer), Melhor Direção de Arte (Fernando Carrere, Edward G. Boyle), Melhor Figurino (Dorothy Jeakins) e Melhor Som (Gordon Sawyer). Filme indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Direção (William Wyler), Melhor Atriz (Shirley MacLaine) e Melhor Atriz Coadjuvante (Fay Bainter).

Pablo Aluísio.

A História do FBI

O roteiro de "The FBI Story" não conta apenas uma história mas várias. Além disso mistura fatos reais com mera ficção. Ao longo de sua extensa duração (duas horas e meia) vamos acompanhando a vida pessoal e profissional do agente 'Chip' Hardesty (James Stewart). Esse personagem é fictício mas os casos que ele desvenda no filme não! Isso é interessante porque os roteiristas foram pragmáticos. Ao invés de focalizarem inúmeros agentes que resolveram todos esses famosos casos criminais eles resolveram juntar tudo em apenas um só personagem. Assim vamos acompanhando Chip resolvendo crimes que envolvem a KKK no sul racista, a morte de Dillinger, de Ma Barker, de agentes nazistas, de comunistas infiltrados em Nova Iorque etc. Como se trata de James Stewart obviamente Chip é um homem honesto, virtuoso, bom pai de família e cidadão exemplar.

Já que estamos prestes a assistir a J. Edgar com Leonardo Di Caprio nada mais interessante do que ver antes esse "The FBI Story", isso porque o próprio J. Edgar Hoover está no filme, de carne e osso, em participação especial. Aliás o tom ufanista do filme o coloca numa posição de herói americano. Hoover é citado inúmeras vezes e o roteiro faz questão de mostrar o FBI antes de Hoover (uma bagunça) e depois de Hoover (uma super agência de investigação). Como era de se esperar o Bureau ajudou intensamente os produtores, abrindo seus centros de treinamento, mostrando agentes reais em cena e tudo o mais que seria possível. Com tanta ajuda oficial não é de se admirar que o resultado final seja bem chapa branca. Embora pareça mais uma propaganda de J Edgar Hoover (muito poderoso e influente na época em que o filme foi realizado), "The FBI Story" tem seus méritos próprios, pois consegue divertir no final das contas sendo bom entretenimento. Vale a pena assistir.

A História do FBI (The FBI Story, Estados Unidos, 1959) Direção de Mervyn LeRoy / Roteiro de Richard L. Breen e John Twist / Com James Stewart, Vera Miles e Murray Hamilton / Sinopse: O filme mostra através do relato do agente John Michael ('Chip') Hardesty (James Stewart) a verdadeira história do FBI, desde quando a agência funcionava em uma pequena sala até o momento em que se tornou o principal órgão do governo americano no combate ao crime organizado.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Filmografia Comentada: Errol Flynn

Errol Flynn foi um dos grandes astros da Warner na década de 30 e 40. Estrelou grandes produções e sucessos absolutos de bilheteria como "Robin Hood", "Capitão Blood" e "Carga da Brigada Ligeira". Flynn também foi uma das primeiras celebridades envolvidas em escândalos e confusões em Hollywood. Farrista, exagerava nas festas cheias de mulheres, drogas e excessos de todos os tipos. Aventureiro na vida real (era marinheiro antes de virar estrela de cinema) Flynn entrou na história do cinema. Segue comentários de filmes abaixo.

A Estrada de Santa Fé
Esse filme me deixou de orelhas em pé. Depois de assistir fiquei com sérias dúvidas sobre quais seriam suas verdadeiras intenções. O roteiro é muito dúbio e pra falar a verdade mal intencionado. Para começo de conversa os vilões do filme são todos abolicionistas. Isso mesmo, John Brown (líder abolicionista da história americana) é retratado aqui como um maníaco, fanático religioso e surtado! Os que lutam ao seu lado pelo fim da escravidão nos EUA são todos assassinos sanguinários! Enquanto isso os mocinhos são representados pelos personagens de Errol Flynn (fazendo o papel do jovem cadete sulista de nome Jeb Stuart) e por Ronald Reagan, isso mesmo o futuro presidente dos EUA, no papel de ora vejam só, George Custer! Ele mesmo o famoso general americano da sétima cavalaria que foi morto por Touro Sentado anos depois! Talvez Jack Warner, o produtor, fosse racista. Só isso explica diálogos que me deixaram abismados como quando o personagem de Errol Flynn briga com outro cadete por este estar lendo um manifesto pelo fim da escravidão! Em outra cena um casal de negros dizem que "não querem a liberdade de John Brown" e preferem voltar para sua antiga casa, no sul dos EUA! Ora, lá na sul os negros ainda eram escravos e viviam acorrentados! Quem em sã consciência vai acreditar em uma coisa dessas?! É claro que soa absurdo. Agora, deixando tudo isso de lado, não há como negar que é uma excelente produção com muita ação e cenas de batalhas bem feitas. Pena que o roteiro seja tão maniqueísta e escroto. Detalhe: A morte de John Brown, o abolicionista, acabou sendo o estopim da guerra civil americana! Quem diria...

A Carga da Brigada Ligeira
Produção da década de 1930 que mostra com muita eficência um dos fatos mais marcantes da história militar inglesa. O filme é de 1936 mas tem um roteiro tão bom, uma produção tão bem feita que nem parece que tem mais de sete décadas de existência. O argumento é baseado em fatos históricos: a história do regimento 27 de lanceiros do exército britânico na Índia. Durante uma invasão a um forte guarnecido pela companhia, um líder tribal local promoveu uma verdadeira chacina matando mulheres e crianças. Em represália o jovem Major Geoffrey Vickers (Errol Flynn) resolve por conta própria e em desrespeito a uma ordem direta atacar as tropas russas e do Khan para vingar a morte daquelas pessoas. A história real foi trágica e culminou na morte de vários soldados mas o roteiro, como era de se esperar, não trata do assunto como um erro de guerra mas como um ato de bravura desses militares. O debate sobre o valor ou desvalor desse ato segue em discussão até os dias de hoje. Até que ponto um oficial pode ignorar ordens superiores mesmo que baseado em um correto senso de justiça? O elenco é liderado pelo astro da época, Errol Flynn. Lembrando certos momentos de filmes anteriores seus o ator consegue trazer credibilidade ao papel. Como era um galã o roteiro traz o seu inevitável interesse romântico contando novamente com Olivia de Havilland. O diferencial é que aqui ela é disputada por Flynn e seu irmão, um agente da diplomacia inglesa. David Niven também está no filme mas em um papel tão apagado que fiquei com pena pois o seu personagem é totalmente secundário e coadjuvante. Em suma, "A Carga da Brigada Ligeira" ainda é um excelente filme e mostra que é possível mesclar eventos reais históricos com ficção sem perder a qualidade e o interesse. Recomendo com certeza!

O Intrépido General Custer
Quando resolvi assistir esse filme fui com o pensamento de que veria uma produção muito bem realizada, historicamente incorreta mas que no final das contas tinha tudo para ser um bom western estrelado pelo ídolo Errol Flynn. Acertei bem no alvo! O título em inglês é uma expressão popular no exército que se refere aos soldados mortos em serviço, no campo de batalha - em suas botas (They Died with Their Boots On). Pois bem, a primeira parte do filme é um pouco melosa e com toques de humor em excesso, algo que eu realmente não esperava nesse tipo de produção. Essa parte inicial tem muito mais a ver com o estilo bonachão do Flynn do que com a biografia do general Custer. Já dos sessenta minutos em diante o filme cresce muito (são duas horas e meia de duração). Custer se torna um general e vai para o oeste lutar nas chamadas guerras indígenas. O filme aqui se torna mais sério, com roteiro muito bem estruturado e com um final muito bem realizado, inclusive do ponto de vista histórico (os tropeços em termos de história ocorrem quase todos na primeira parte do filme). O elenco de apoio traz a gordinha Olivia de Havilland fazendo mais uma vez o interesse romântico de Flynn e Charley Grapewin no papel de "California Joe", um dos melhores personagens do filme, aqui na pele de um excepcional ator, ótimo mesmo. De resto o filme faz jus à fama do diretor Raoul Walsh, sempre muito competente.

Capitão Blood
O Médico Peter Blood (Errol Flynn) é confundido com rebeldes durante o reinado de Jaime II da Inglaterra. Como punição é enviado como escravo para trabalhos forçados na nova colônia britânica de Port Royal na América. Chegando lá lidera uma revolta de cativos como ele e juntos acabam tomando posse de um navio de guerra imperial. Em pouco tempo Blood e sua tripulação se transformam nos mais famosos piratas do Caribe de sua época. "Capitão Blood" foi o filme que transformou Errol Flynn em astro. Na época ele era apenas um promissor ator que a Warner apostava suas fichas. Com histórico de muitas aventuras em seu passado, Flynn havia sido marinheiro e veio da Austrália cruzando os sete mares como seu personagem. Tinha bom visual, pose de galã e sabia lutar bem de espada. Com tantos requisitos era óbvio que Blood parecia ter sido escrito especialmente para ele. Além de ser seu primeiro filme de repercussão "Capitão Blood" acabou definindo de forma definitiva a persona de Errol Flynn pelo resto de sua carreira. O pirata boa praça, sempre com um sorriso nos lábios, galante e aventureiro iria ser repetido em praticamente todas as atuações de Errol em sua filmografia dali pra frente. De fato virou sua marca registrada. A produção foi a menina dos olhos dos estúdios Warner na época de seu lançamento. Enormes sets de filmagens foram construídos, figurinos de luxo e um dos melhores diretores do mercado, o veterano Michael Curtiz, foi especialmente contratado para levar o pirata aventureiro para as telas. Tudo foi planejado e concebido para que "Capitão Blood" fosse não apenas um filme mas um evento cinematográfico. O resultado até hoje impressiona, mesmo após tantos anos de sua conclusão. Os cenários que simulam as antigas naus do século XVII são extremamente bem feitos - em ótima reconstituição histórica. O curioso é que "Capitão Blood" foi idealizado para reviver os antigos filmes de Douglas Fairbanks Jr, mas ao mesmo tempo em que foi influenciado acabou sendo uma das obras mais influenciadores da história do cinema uma vez que até hoje seu estilo é imitado à exaustão - vide a extremamente bem sucedida franquia "Piratas do Caribe" que bebe diretamente de sua fonte. Enfim é isso, um dos marcos do cinema de ação e aventura de Hollywood que conseguiu resistir até mesmo ao mais implacável inimigo das telas, o tempo.

Pablo Aluísio.

Filmografia Comentada: Tony Curtis

Tony Curtis surgiu na Universal. Da mesma safra de atores como Rock Hudson e Jeffrey Chandler. De origem humilde o ator logo alcançou sucesso em comédias leves e sofisticadas. Seu jeito de baby face se mostrou irresistível para o público feminino. Ao lado de Marilyn Monroe estrelou "Quanto Mais Quente Melhor", considerado por muitos a melhor comédia de todos os tempos. Como todo galã sentiu o peso da idade. Conforme foi ficando mais velho os personagens também foram rareando. Nunca foi reconhecido com prêmios da Academia mas é inegável o fato de que seu carisma marcou bastante o cinema americano dos anos 50 e 60. Segue comentários sobre alguns de seus filmes.

A Embriaguez do Sucesso
É incrível descobrir que um filme como esse foi feito em 1957. Isso porque não era tão comum ver um roteiro assim, tão ácido e mórbido naquela época. Os dois atores principais em cena, Tony Curtis e Burt Lancaster, dão show de interpretação. Curtis, visto apenas como um galã da Universal pelos críticos, aqui apresenta um de seus melhores trabalhos. Está literalmente fantástico como o crápula, mentiroso, cafetão, escroque e 171 Sidney Falco. Confesso que nunca vi uma atuação dele tão boa como essa. É uma pena que Curtis não tenha se desenvolvido mais como ator dramático. Ele de certa forma se acomodou em sua imagem de galã de comédias românticas, principalmente a partir do começo da década de 60 e com vários problemas que foram surgindo ao longo dos anos (como vício em drogas) simplesmente deixou a carreira em segundo plano. Se tivesse procurado se desenvolver melhor na arte da atuação teria sido um grande nome na história de Hollywood. Já Lancaster também está excelente fazendo um verdadeiro psicopata frio, cheio de si e com uma indisfarçável paixão incestuosa por sua irmã (na pela de uma atriz fraquinha mas bonita, Susan Harrison). Muitos criticam Lancaster afirmando que ele era um ator de uma nota só (sempre atlético e com um sorriso montado no rosto). Eu não concordo inteiramente com essa opinião. Realmente em algumas produções Lancaster se apoiou em sua imagem como muleta mas nem sempre isso aconteceu. Basta lembrar do famoso (e ótimo) "O Homem de Alcatraz". Nesse "A Embriaguez do Sucesso" o ator tem uma de suas melhores interpretações. A persona que tanto utilizou em outros filmes aqui está ausente, felizmente. Outro destaque de "Sweet Smell Of Sucess" é a forma que o diretor encontrou para contar sua estória. São ótimas tomadas de cena feitas em locação na cidade de Nova Iorque. Nos anos 50 era comum que os filmes fossem feitos em Hollywood dentro dos estúdios, geralmente com o uso de back projection (os atores atuavam na frente de uma grande tela onde o cenário da locação da cena previamente filmado era exibido). Aqui não, é fácil ver que tudo foi realmente filmado nas ruas da cidade, sem uso e artifícios como esse. Tudo combina, a sordidez da trama, a direção segura, a ótima fotografia em preto e branco e os diálogos (alguns dos melhores que já vi). Para quem gosta de filmes clássicos, com tramas envolventes e clima noir, "Embriaguez do Sucesso" é uma ótima opção.

Anáguas a Bordo
Oficial da Marinha Americana (Cary Grant) é designado para comandar velho submarino precisando de reparos. Como o sistema de provisões da marinha americana não funciona de forma adequada ele tem que contar com os inúmeros cambalachos do tenente Holden (Tony Curtis) que providencia tudo que a velha lata de sardinha do mar precisa para voltar a funcionar de forma eficiente. É uma comédia típica do final dos anos 50, tudo muito inofensivo e sem maiores consequências. O roteiro ainda aproveita para explorar o fato do submarino resgatar várias mulheres da Marinha que se encontravam à deriva numa ilha do pacífico. Obviamente que existem muitas e muitas piadinhas que envolvem a chamada guerra dos sexos (os marinheiros há muito tempo sozinhos no mar não perdem a chance de dar em cima das garotas). Cary Grant é o comandante do navio que chega inclusive a ser pintado de cor de rosa por falta de uma tinta de cor adequada. Já Tony Curtis desfila seu papel típico - o sujeito boa pinta, levemente cafajeste que dá em cima de todas e nas horas vagas surrupia algum objeto de propriedade da Marinha americana para consertar o submarino Sea Tiger. "Anáguas a Bordo" não é uma comédia de dar gargalhadas. Claro que o bom humor está presente em várias cenas mas de maneira em geral nada desbanca para o pastelão ou algo parecido. O diretor Blake Edwards está bem contido e muito longe de alguns de seus futuros trabalhos onde ele assumidamente adotaria uma postura exagerada, cartunesca mesmo. Aqui o humor é de pequenos sorrisinhos e não de tortas na cara dos personagens (como ele inclusive faria em futuras parcerias com Tony Curtis). Enfim, vale a pena conhecer esse que foi um dos maiores clássicos da "Sessão da Tarde" nos anos 70 e 80.

O Homem que Odiava as Mulheres
O interessante nesse "O Homem que Odiava as Mulheres" é que ele foi feito ainda no calor dos acontecimentos, o serial killer tinha acabado de ser preso e ainda nem havia ido a julgamento. Havia todo um debate se ele era ou não mentalmente capaz de ir para o tribunal do juri por seus crimes. Curioso é que assisti também um filme feito recentemente sobre o mesmo caso. Hoje, por exemplo, há sérias dúvidas se o homem que foi preso pela policia era o verdadeiro assassino. Muito se especula e grande parte dos especialistas entendem que Albert de Salvo foi apenas um bode expiatório arranjado pelo departamento de policia para aliviar a pressão popular sobre ela. No filme isso não aparece. Ele é mostrado como o serial killer, indiscutivelmente. Na verdade o verdadeiro assassino se beneficiou diretamente desse filme pois ganhou muito com os lucros do uso de sua história. Isso indignou tanto os familiares que foi aprovada uma lei depois proibindo esse tipo de comercialização sobre crimes violentos. Deixando esses detalhes de lado é bom deixar claro que apesar de ser estrelado por Tony Curtis o filme é todo de Henry Fonda, trazendo uma dignidade enorme ao seu papel (ele faz o chefe da operação de caça ao criminoso). Grande ator prova todo seu grande talento. Nas cenas de interrogatório fica claro a diferença de grandeza entre ele e Tony Curtis, que apesar do esforço não consegue ficar à altura do papel. Nas cenas em que aparece perturbado mentalmente sua falta de preparo aparece nitidamente. Sinceramente não deu para o Curtis. Nas mãos de um grande ator roubaria o filme de Fonda, como isso não acontece só resta ao veterano ator dominar completamente a cena.

Boeing Boeing
Muito divertida essa comédia "Boeing Boeing". Fiquei curioso em assistir após ler uma entrevista do Quentin Tarantino em que ele dizia que esse era um de seus filmes preferidos. Realmente vendo o filme dá para entender o porquê. "Boeing Boeing" é totalmente apoiado em diálogos e em situações inusitadas. Não há como negar também sua origem teatral. O filme é quase todo passado dentro do apartamento de Bernard (Tony Curtis) um jornalista que é noivo ao mesmo tempo de três aeromoças (uma francesa, uma inglesa e uma alemã). Assim ele tenta organizar sua agenda de forma que quando está com uma delas as outras estejam viajando pelo mundo. Não é difícil descobrir que o filme vai se apoiar na confusão que surge quando as 3 chegam ao mesmo tempo em seu apartamento. Uma das coisas mais curiosas desse filme é a presença de Jerry Lewis. Aqui ele deixa seus personagens amalucados de lado para interpretar um jornalista amigo de Curtis que sem querer acaba parando no meio da confusão ao se hospedar no apartamento do amigo. Então está armada a confusão com muitos encontros e desencontros entre todos. Outro destaque do elenco que não poderia deixar passar em branco é a presença muito carismática de Thelma Ritter no papel de Bertha, a empregada de Tony Curtis que se vê quase enlouquecida no troca troca de noivas, pois quando uma vai, a outra vem. O filme poderia até ser mais enxuto (um corte de uns bons 20 minutos ajudaria muito em seu ritmo) mas do jeito que está não ficou mal. O roteiro é esperto e ágil e não decepciona aos que gostam de peças teatrais de humor. Arrisque e veja "Boeing Boeing", você pode até mesmo se divertir como eu me diverti.

Kansas Raiders
O Audie Murphy foi o soldado americano mais condecorado da II Guerra Mundial. Quando a guerra acabou ele voltou para os EUA e começou uma carreira como ator. Aproveitando a onda de patriotismo ele foi estrelando um western atrás do outro. Os filmes de faroeste do Audie Murphy eram quase sempre produções B da Universal. Ele próprio nunca se levou muito à sério e quando encerrou sua carreira disse em tom de brincadeira: "Fiz dezenas de faroestes em Hollywood e eles eram todos iguais, só mudavam os cavalos". Na época não se dava muita bola para seus filmes, é verdade, mas ultimamente os fãs de western tem reconhecido melhor essas produções. Um exemplo é esse Kansas Raiders (que no Brasil ganhou o péssimo título de "Os Cavaleiros da Bandeira Negra"). O filme é um típico produto de Audie Murphy. Produção modesta, roteiro simples e tramas ligeiras - para se passar nas matinês para a garotada. Dificilmente os filmes tinham mais de 70 minutos. O curioso é que mesmo quando ele interpretava bandidos lendários do velho oeste, como Jesse James, Audie soava como o mocinho. Eu pessoalmente nunca fui muito fá dele, devo confessar, pois sempre o achei um ator muito limitado, com um rosto muito comum e além do mais pouco masculino (ele tinha cara de babyface pra falar a verdade). Ele também nunca criou um estilo próprio de caracterização- falando a verdade ele apenas enganava bem em cena. Além disso muitos de seus filmes eram adaptações de livros de bolso que eram muito populares nos anos 50. Nesses livrinhos todos os personagens eram bem romantizados, como bem se percebe aqui nesse filme. Apesar disso, pelo sucesso que alcançou e pela longa filmografia que acabou estrelando, os faroestes com Audie Murphy merecem passar por uma revisão. Não são de todos ruins e no fundo divertem, com clima de nostalgia. PS: Esse filme tem uma curiosidade, interpretando um dos bandidos do bando de Jesse James temos Tony Curtis, bem jovem, e com duas linhas de diálogos para falar. rs.

Winchester 73
Roteiro e argumento: Uma das melhores coisas de Winchester 73. Sem exagero posso dizer que o roteiro desse filme lembra muito os roteiros de Robert Altman. Várias histórias vão sendo mostradas e aos poucos todas convergem para o mesmo local. O roteiro na verdade segue o rifle Winchester 73 que vai passando de mão em mão ao longo do filme. Ganha por James Stewart em um concurso em Dodge City (onde até Wyatt Earp aparece como coadjuvante) o rifle acaba sendo roubado indo parar nas mãos de um grupo Sioux, da cavalaria, de um covarde etc. Tudo muito bem escrito, me deixou surpreso. / Produção: A Universal era conhecida por realizar vários faroestes B mas aqui caprichou um pouco mais na produção. Isso porque contava com o astro James Stewart como estrela do filme (ele tinha rompido com seu estúdio anterior e tinha virado ator freelancer). Assim tendo em vista o potencial das bilheterias com sua presença a Universal investiu bem mais resultando numa produção caprichada. / Direção: Anthony Mann foi para James Stewart o que John Ford foi para John Wayne, ou seja, uma bela parceria se firmou entre ambos ao longo dos anos. Aqui a sintonia da dupla funciona novamente. Mann, com mão firme, não deixa o filme em nenhum momento cair na banalidade. Excelente trabalho de direção. / Elenco: James Stewart repete seu tradicional papel de homem íntegro e honesto. Para falar a verdade ele não precisava de muito mais do que isso. Sempre carismático e correto, Stewart lidera um elenco acima da média. O mais curioso aqui é a presença de dois jovens atores que iriam virar grandes astros nos anos que viriam: Rock Hudson e Tony Curtis. O primeiro está quase irreconhecível como um chefe Sioux (de peruca e pintado quase não reconheci Rock). Já Curtis, muito muito jovem faz um soldado da cavalaria no meio de um cerco indígena. Muito legal ver esses atores novatos tentando um lugar ao sol.

Trapézio
Em 1956 Tony Curtis era apenas mais um galã de segunda linha que não conseguia emplacar em bons papéis. Geralmente estrelava os chamados filmes B das mil e uma noites dos estúdios Universal - filmes de capa e espada que eram feitos especialmente para as matinês dos cinemas. Já estava com oito anos de carreira nas costas quando a primeira oportunidade real bateu à sua porta. O ator Burt Lancaster estava procurando um partner para filmar ao seu lado uma adaptação da novela Trapézio. O filme contaria a estória de dois trapezistas em Paris que tentam executar o maior de todos os números dessa arte: o saldo triplo mortal. Também procurava uma atriz europeia que funcionasse como pivô do triângulo amoroso que iria ser mostrado nas telas. O interesse de Lancaster sobre esse filme era fácil de entender. Ele começou sua carreira no circo (a sua primeira esposa era trapezista) e apesar de ter alcançado o sucesso como ator jamais esqueceu o período em que viveu no mundo circense. Após alguns testes Burt sugeriu ao diretor Carol Reed que contratasse Tony Curtis. Ele tinha os atributos certos para o papel. Além de ser jovem tinha também habilidades atléticas que iram ajudar muito nas filmagens. Como estrelava vários filmes de capa e espada Tony foi logo considerado ágil o suficiente para se sair bem nas cenas de picadeiro. Já a escolhida para o principal papel feminino foi a atriz italiana Gina Lollobrigida. Embora tivesse uma extensa filmografia em seu país estrelaria pela primeira vez uma produção norte-americana. O filme Trapézio acabou se tornando um grande sucesso de bilheteria. Também pudera, tinha todos os ingredientes para se tornar um êxito nos anos 50: um cenário exótico, uma beldade estrangeira, um romance à flor da pele, um astro de primeira linha e um coadjuvante que despontava para o estrelado. Pela primeira vez em sua carreira Curtis finalmente era levado à sério. Seu papel nem era tão destacado mas ele fez o suficiente para não fazer feio. O argumento do filme também ajudava já que não se tratava de um dramalhão onde fosse exigido muito dos atores, no fundo era um passatempo leve, com boas cenas coreografadas de trapézio, filmadas com profissionais do ramo (muito embora os atores também tenham filmado cenas menos perigosas). A parceria com Burt Lancaster ainda renderia mais um bom filme a Tony Curtis no ano seguinte: A Embriaguez do Sucesso, onde seria extremamente bem elogiado pela crítica. Com tudo isso hoje Tony pode dizer que esse filme foi na realidade o verdadeiro trampolim para os seus melhores anos, que iriam atravessar o restante da década de 50 e 60, graças especialmente ao grande astro e estrela de primeira grandeza na constelação de Hollywood, Burt Lancaster.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

O Veredito

O Veredito é um dos filmes mais humanos que já assisti. Isso porque ele não é apenas um filme sobre um julgamento que coloca de um lado uma pessoa vitima de negligência médica e do outro instituições ricas e poderosas. Ele é muito mais. O argumento toca em valores como dignidade e respeito ao próximo, mostrando toda a hipocrisia existente em certos setores que deveriam lutar por eles e não combatê-los. A dignidade do advogado vivido brilhantemente por Paul Newman é um dos destaques do roteiro. Todos o rebaixam, todos o humilham, tudo porque ele é um profissional em um momento complicado de sua vida, sem clientes e com problemas de alcoolismo. A postura dele lutando contra tudo e contra todos (mesmo mostrando sua própria fraqueza como ser humano) é uma das coisas mais dignas que já vi no cinema.

Por fim temos a direção de Sidney Lumet, que é maravilhosa. O diretor não apenas mostra mas sugere, insinua. Um exemplo é mostrada numa cena em plena rua onde Newman vem a saber de um fato perturbador através de seu amigo e assistente. Veja que o diálogo não é mostrado na tela, a cena é captada por uma visão do alto, que mostra como somos pequenos diante de situações limites como essa, que afinal podem acontecer com qualquer um de nós. Simplesmente brilhante. Eu sinto falta de filmes assim, que foquem em temas sérios e consistentes e que não vivem de escapismos bobos. Nesse aspecto "O Veredito" é simplesmente uma grande obra prima da história do cinema.

O Veredito (The Veredict, Estados Unidos, 1982) Direção: Sidney Lumet / Elenco: Paul Newman, James Mason, Charlotte Rampling, Jack Warden / Sinopse: Frank Galvin (Paul Newman), advogado alcoólatra e decadente, vê a chance de recuperar a sua auto-estima quando lhe é dado um caso sobre um erro médico. Mesmo quando uma quantia razoável é oferecida para se chegar a um acordo e o caso não ir a julgamento, ele não concorda e decide enfrentar um poderoso grupo, que é defendido por um renomado e ardiloso advogado.

Pablo Aluísio.

domingo, 20 de maio de 2007

Palavras ao Vento

A história do filme se passa no Texas, durante a década de 1950. Uma poderosa família, dona de poços de petróleo da região, enfrenta todos os tipos de problemas familiares. Kyle Hadley (Robert Stack) é um sujeito irresponsável, com problemas de alcoolismo, sempre se envolvendo em situações constrangedoras para sua família. Lucy Moore Hadley (Lauren Bacall) é uma mulher indecisa, com muitos problemas emocionais. Já Mitch Wayne (Rock Hudson) é um jovem comprometido com seu trabalho, desejando subir na vida.

Muito interessante esse filme. Douglas Sirk tinha fama de dirigir seus filmes com a mão pesada, transformando muitos deles em tremendos dramalhões. Bem, isso não acontece tanto aqui - pelo menos não é dos seus trabalhos mais melodramáticos. O roteiro obviamente traz uma série de intrigas envolvendo traições, amores impossíveis e relações familiares escandalosas. Mesmo com tantos ingredientes pesados achei o resultado final muito bom, nada martirizante. Embora seja estrelado por Rock Hudson no auge de sua popularidade, é fácil constatar que aqui ele levou uma rasteira em cena.

Isso porque ninguém consegue brilhar mais no filme do que o ator Robert Stack. Além de seu personagem ser muito bom (um playboy com problemas de alcoolismo e irresponsável), Stack dá show em todos os momentos em que aparece, ofuscando completamente a estrela de Hudson. Em segundos ele vai da fúria ao arrependimento, da infantilidade à maldade. Confesso que nunca tinha assistido nada dele nesse nível. Aliás o conhecia mais pelo papel de Eliot Ness no seriado televisivo "Os Intocáveis" (que passou há muitos anos nos domingos à noite na Globo). Aqui Stack mostra que realmente era ótimo em cena, pois seu personagem em nada lembra o famoso policial que o tornou famoso. Por fim mais uma coisa me fez gostar muito de "Palavras ao Vento": seu maravilhoso clima vintage. Filmado em plenos anos 50 (minha década preferida), o filme desfila em sua bela produção grandes carrões, ótimos figurinos e até jukeboxes que são a cara dos 50´s, tudo o que eu definitivamente adoro. Então é isso, para quem gosta de clássicos dramáticos "Palavras ao Vento" é uma ótima opção.

Palavras ao Vento (Written on the Wind, Estados Unidos, 1956) Direção: Douglas Sirk / Elenco: Rock Hudson, Robert Stack, Lauren Bacall, Dorothy Malone / Sinopse: Em “Palavras ao Vento”, o cineasta Douglas Sirk tece um quadrado amoroso entre quatro pessoas ligadas a uma família milionária do ramo do petróleo. Dois são integrantes da família Hadley: Kyle (Robert Stack) é um playboy alcoólatra, e Marylee (Dorothy Malone), uma ninfomaníaca. Marylee ama Mitch Wayne (Rock Hudson), espécie de filho adotivo da família, e o homem que toca os negócios da empresa. Ele é o protótipo do homem perfeito: bonito, respeitoso, inteligente e sincero. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante (Dorothy Malone). Também indicado na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Robert Stack) e Melhor Música ("Written on the Wind" de Victor Young).

Pablo Aluísio.

Almas Maculadas

Jornalista (Rock Hudson) resolve escrever uma matéria sobre um veterano da II Guerra Mundial, piloto condecorado (Robert Stack) que para sobreviver no pós guerra tem que se apresentar em parques de diversões em exibições aéreas onde faz acrobacias e disputa acirradas corridas com outros aviadores. "Almas Maculadas" é baseado em famoso livro do consagrado William Faulkner. Quem conhece a obra desse famoso escritor sabe o que encontrará em suas estórias: personagens marginais, à margem dos ricos e bem sucedidos, tentando sobreviver dentro do selvagem capitalismo americano. São seres que vivem um dia após o outro, sem grandes esperanças de que algo realmente vá melhorar em suas vidas. Isso se repete na trupe que vive ao lado do veterano aviador, sua esposa, a sensual e bonita LaVern Shummann (interpretada pela linda Dorothy Malone) e o fiel mecânico Jiggs (feito pelo bom ator Jack Carson).

A produção é estrelada por Rock Hudson, naquela altura já com status de super astro (tinha feito há pouco o grande sucesso "Assim Caminha a Humanidade"). Ele comparece com sua habitual boa presença em cena mas aos poucos vê seu personagem perdendo espaço para LaVern, a esposa do piloto veterano. Curioso mas a estrutura do livro foi realmente criada em torno dessa mulher, seus dramas, sua paixão não correspondida e a luta pela sobrevivência no dia a dia. Robert Stack que havia estado tão bem em "Palavras ao Vento" aqui perde espaço até porque seu personagem é antipático e nada carismático. A direção do grande Douglas Sirk se revela novamente bem sucedida ao lado de seu galã preferido, Rock Hudson. Aliás esse filme seria o último ao lado de Rock, o que realmente é de se lamentar. No saldo final adorei o resultado pois a melancolia e a desesperanças que vemos em cena é bastante fiel ao texto de Faulkner. Em essência é mais uma boa produção da filmografia do ator Rock Hudson.

Almas Maculadas (The Tarnished Angels, Estados Unidos, 1958) Direção: Douglas Sirk / Escritores: William Faulkner (romance) e George Zuckerman (roteiro) / Com Rock Hudson, Robert Stack, Doroth Malone e Jack Carson / Sinopse: Jornalista (Rock Hudson) resolve escrever uma matéria sobre um veterano da II Guerra Mundial, piloto condecorado (Robert Stack) que para sobreviver no pós guerra tem que se apresentar em parques de diversões em exibições aéreas onde faz acrobacias e disputa acirradas corridas com outros aviadores.

Pablo Aluísio.