terça-feira, 22 de maio de 2007

Filmografia Comentada: Errol Flynn

Errol Flynn foi um dos grandes astros da Warner na década de 30 e 40. Estrelou grandes produções e sucessos absolutos de bilheteria como "Robin Hood", "Capitão Blood" e "Carga da Brigada Ligeira". Flynn também foi uma das primeiras celebridades envolvidas em escândalos e confusões em Hollywood. Farrista, exagerava nas festas cheias de mulheres, drogas e excessos de todos os tipos. Aventureiro na vida real (era marinheiro antes de virar estrela de cinema) Flynn entrou na história do cinema. Segue comentários de filmes abaixo.

A Estrada de Santa Fé
Esse filme me deixou de orelhas em pé. Depois de assistir fiquei com sérias dúvidas sobre quais seriam suas verdadeiras intenções. O roteiro é muito dúbio e pra falar a verdade mal intencionado. Para começo de conversa os vilões do filme são todos abolicionistas. Isso mesmo, John Brown (líder abolicionista da história americana) é retratado aqui como um maníaco, fanático religioso e surtado! Os que lutam ao seu lado pelo fim da escravidão nos EUA são todos assassinos sanguinários! Enquanto isso os mocinhos são representados pelos personagens de Errol Flynn (fazendo o papel do jovem cadete sulista de nome Jeb Stuart) e por Ronald Reagan, isso mesmo o futuro presidente dos EUA, no papel de ora vejam só, George Custer! Ele mesmo o famoso general americano da sétima cavalaria que foi morto por Touro Sentado anos depois! Talvez Jack Warner, o produtor, fosse racista. Só isso explica diálogos que me deixaram abismados como quando o personagem de Errol Flynn briga com outro cadete por este estar lendo um manifesto pelo fim da escravidão! Em outra cena um casal de negros dizem que "não querem a liberdade de John Brown" e preferem voltar para sua antiga casa, no sul dos EUA! Ora, lá na sul os negros ainda eram escravos e viviam acorrentados! Quem em sã consciência vai acreditar em uma coisa dessas?! É claro que soa absurdo. Agora, deixando tudo isso de lado, não há como negar que é uma excelente produção com muita ação e cenas de batalhas bem feitas. Pena que o roteiro seja tão maniqueísta e escroto. Detalhe: A morte de John Brown, o abolicionista, acabou sendo o estopim da guerra civil americana! Quem diria...

A Carga da Brigada Ligeira
Produção da década de 1930 que mostra com muita eficência um dos fatos mais marcantes da história militar inglesa. O filme é de 1936 mas tem um roteiro tão bom, uma produção tão bem feita que nem parece que tem mais de sete décadas de existência. O argumento é baseado em fatos históricos: a história do regimento 27 de lanceiros do exército britânico na Índia. Durante uma invasão a um forte guarnecido pela companhia, um líder tribal local promoveu uma verdadeira chacina matando mulheres e crianças. Em represália o jovem Major Geoffrey Vickers (Errol Flynn) resolve por conta própria e em desrespeito a uma ordem direta atacar as tropas russas e do Khan para vingar a morte daquelas pessoas. A história real foi trágica e culminou na morte de vários soldados mas o roteiro, como era de se esperar, não trata do assunto como um erro de guerra mas como um ato de bravura desses militares. O debate sobre o valor ou desvalor desse ato segue em discussão até os dias de hoje. Até que ponto um oficial pode ignorar ordens superiores mesmo que baseado em um correto senso de justiça? O elenco é liderado pelo astro da época, Errol Flynn. Lembrando certos momentos de filmes anteriores seus o ator consegue trazer credibilidade ao papel. Como era um galã o roteiro traz o seu inevitável interesse romântico contando novamente com Olivia de Havilland. O diferencial é que aqui ela é disputada por Flynn e seu irmão, um agente da diplomacia inglesa. David Niven também está no filme mas em um papel tão apagado que fiquei com pena pois o seu personagem é totalmente secundário e coadjuvante. Em suma, "A Carga da Brigada Ligeira" ainda é um excelente filme e mostra que é possível mesclar eventos reais históricos com ficção sem perder a qualidade e o interesse. Recomendo com certeza!

O Intrépido General Custer
Quando resolvi assistir esse filme fui com o pensamento de que veria uma produção muito bem realizada, historicamente incorreta mas que no final das contas tinha tudo para ser um bom western estrelado pelo ídolo Errol Flynn. Acertei bem no alvo! O título em inglês é uma expressão popular no exército que se refere aos soldados mortos em serviço, no campo de batalha - em suas botas (They Died with Their Boots On). Pois bem, a primeira parte do filme é um pouco melosa e com toques de humor em excesso, algo que eu realmente não esperava nesse tipo de produção. Essa parte inicial tem muito mais a ver com o estilo bonachão do Flynn do que com a biografia do general Custer. Já dos sessenta minutos em diante o filme cresce muito (são duas horas e meia de duração). Custer se torna um general e vai para o oeste lutar nas chamadas guerras indígenas. O filme aqui se torna mais sério, com roteiro muito bem estruturado e com um final muito bem realizado, inclusive do ponto de vista histórico (os tropeços em termos de história ocorrem quase todos na primeira parte do filme). O elenco de apoio traz a gordinha Olivia de Havilland fazendo mais uma vez o interesse romântico de Flynn e Charley Grapewin no papel de "California Joe", um dos melhores personagens do filme, aqui na pele de um excepcional ator, ótimo mesmo. De resto o filme faz jus à fama do diretor Raoul Walsh, sempre muito competente.

Capitão Blood
O Médico Peter Blood (Errol Flynn) é confundido com rebeldes durante o reinado de Jaime II da Inglaterra. Como punição é enviado como escravo para trabalhos forçados na nova colônia britânica de Port Royal na América. Chegando lá lidera uma revolta de cativos como ele e juntos acabam tomando posse de um navio de guerra imperial. Em pouco tempo Blood e sua tripulação se transformam nos mais famosos piratas do Caribe de sua época. "Capitão Blood" foi o filme que transformou Errol Flynn em astro. Na época ele era apenas um promissor ator que a Warner apostava suas fichas. Com histórico de muitas aventuras em seu passado, Flynn havia sido marinheiro e veio da Austrália cruzando os sete mares como seu personagem. Tinha bom visual, pose de galã e sabia lutar bem de espada. Com tantos requisitos era óbvio que Blood parecia ter sido escrito especialmente para ele. Além de ser seu primeiro filme de repercussão "Capitão Blood" acabou definindo de forma definitiva a persona de Errol Flynn pelo resto de sua carreira. O pirata boa praça, sempre com um sorriso nos lábios, galante e aventureiro iria ser repetido em praticamente todas as atuações de Errol em sua filmografia dali pra frente. De fato virou sua marca registrada. A produção foi a menina dos olhos dos estúdios Warner na época de seu lançamento. Enormes sets de filmagens foram construídos, figurinos de luxo e um dos melhores diretores do mercado, o veterano Michael Curtiz, foi especialmente contratado para levar o pirata aventureiro para as telas. Tudo foi planejado e concebido para que "Capitão Blood" fosse não apenas um filme mas um evento cinematográfico. O resultado até hoje impressiona, mesmo após tantos anos de sua conclusão. Os cenários que simulam as antigas naus do século XVII são extremamente bem feitos - em ótima reconstituição histórica. O curioso é que "Capitão Blood" foi idealizado para reviver os antigos filmes de Douglas Fairbanks Jr, mas ao mesmo tempo em que foi influenciado acabou sendo uma das obras mais influenciadores da história do cinema uma vez que até hoje seu estilo é imitado à exaustão - vide a extremamente bem sucedida franquia "Piratas do Caribe" que bebe diretamente de sua fonte. Enfim é isso, um dos marcos do cinema de ação e aventura de Hollywood que conseguiu resistir até mesmo ao mais implacável inimigo das telas, o tempo.

Pablo Aluísio.

Um comentário:

  1. Errol Flynn - Filmografia Comentada
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