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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

The Beatles - Revolver (1966)

"Revolver" é um disco fenomenal. O primeiro trabalho realmente revolucionário do conjunto britânico, o LP abriu portas no mundo da música que nunca mais foram fechadas. Seu resultado foi tão extraordinário na época que nem os próprios Beatles acreditavam que um dia iriam conseguir superá-lo. De repente os quatro rapazes de Liverpool mostravam ao mundo que o Rock não era apenas um gênero musical bobo falando sobre namoricos, corações adolescentes partidos e versinhos de caderno. O rock poderia se transformar em grande arte e seguramente Revolver foi o primeiro grande trabalho da história do Rock a atravessar essa fronteira. Tirando poucos momentos medianos do ponto de vista artístico (como "Yellow Submarine" e "I Want To Tell You") "Revolver" traz uma série incrível de sonoridades diversificadas que se traduzem em canções antológicas. "Taxman", que abre o disco, é uma parceria entre Lennon e Harrison (só creditada ao segundo) que mostra claramente o rompimento do grupo com seu antigo som. Paul McCartney apresenta duas músicas maravilhosas, a melancólica e linda "Eleanor Rigby" e "For No One", que apesar de subestimada é até hoje uma das melodias mais bonitas da carreira dos Beatles (e isso meu amigo não é pouca coisa); O velho Macca ainda nos brinda com a deliciosa "Got to Get You Into My Life", canção cheia de charme e suingue bebendo diretamente da fonte da herança musical negra americana, estilo Motown e cia. Seu legado no disco termina com "Here, There and Everywhere". Canção excepcionalmente bem escrita e arranjada resultando num momento simplesmente irretocável.

Embora McCartney tenha sido genial nesse disco com suas ternas melodias o legado mais revolucionário do álbum pertence mesmo a John Lennon. Desde a primeira faixa Lenniana, "I´m Only Sleeping", com escala musical incomum, John deixa claro que veio para testar os limites do Rock na época. Sua "She Said, She Said" é uma pedrada no formato convencional (e careta) que predominava na música da década de 60. Dr. Robert, por sua vez, é um manifesto com referências ao movimento psicodélico que nascia naquele momento e "Good Day Sunshine", com sua linha saudosista, vinha para satirizar com muito bom humor o comodismo da classe média e seus valores quadrados. Mas foi com "Tomorrow Never Knows" que Lennon realmente chutou o balde. Essa canção pode ser considerada, sem a menor hesitação, como uma das mais influentes do rock mundial moderno. Não existe sequer uma única banda da atualidade que não beba de sua fonte maravilhosamente enlouquecida e sem freios. "Tomorrow Never Knows" até hoje soa extraordinariamente criativa, imaginativa e acima de tudo revolucionária. Não importa qual seja a sua banda favorita e nem a época, de Radiohead a Oasis, nenhum grupo conseguiu sequer chegar aos pés dessa doce alucinação. Não há como duvidar, Lennon realmente era um gênio musical. Revolver retrata o momento em que os Beatles romperam com tudo o que se fazia na época, inclusive com seu próprio modelo, que definitivamente a partir desse momento era deixado para trás. Apenas pela coragem de romper tabus musicais Revolver já teria garantido seu lugar na história da música do século XX, mas o álbum é muito mais do que isso, é uma obra simplesmente indispensável para se entender a arte de nosso tempo.

1. Taxman (Harrison) - Nesse disco George e John trabalharam juntos em algumas faixas. Essa parceria Lennon e Harrison se mostraria mais forte em "Taxman". Anos depois, após o fim dos Beatles, John Lennon iria reclamar publicamente de George Harrison que segundo ele nunca teria dado os créditos merecidos na gravação dessa música. John afirmava que George havia chegado nos estúdios Abbey Road apenas com um esboço muito primário do que seria Taxman. Assim ele e George passariam horas lapidando a música, com John Lennon fazendo grande parte dos arranjos. Curiosamente a dobradinha "Harrison / Lennon" também não apareceu na contracapa do álbum, sendo a canção creditada apenas a George Harrison. Na época John Lennon pareceu não ligar muito para isso, mas depois, já nos anos 70, reclamou da falta de consideração de seu colega de banda.

2. Eleanor Rigby (Lennon / McCartney) - Paul McCartney compôs "Eleanor Rigby" durante as filmagens de "Help!". Ele inclusive quase escolheu a música para fazer parte da trilha sonora do filme, mas pensou melhor e resolveu trabalhar ainda mais nela, antes de a levá-la para o estúdio. Assim que George Martin a ouviu pela primeira vez percebeu que ali havia uma faixa clássica que não se enquadraria com os instrumentos de um grupo de rock. Era algo completamente novo para um disco dos Beatles. Era necessário escrever um arranjo mais erudito, usando um quarteto de cordas, de preferência. Paul aceitou imediatamente as sugestões. Assim os instrumentos básicos dos Beatles foram deixados de lado. Um grupo de músicos foi contratado e Paul e Martin começaram a lapidar a canção em Abbey Road. Para se ter uma ideia, Ringo Starr nem sequer participou da gravação da música. John e George só colaboraram fazendo os vocais de apoio. Embora John tenha creditada a canção como uma de suas criações, o fato é que sua participação na criação da música foi praticamente nula. Paul esclareceria anos depois que John havia escrito apenas uma linha da letra e feito o backing vocal, nada muito além disso. Aliás nenhum dos Beatles tocou na faixa, sendo tudo providenciado mesmo pelo gênio George Martin. A letra, composta quase que exclusivamente por Paul falava sobre solidão. Essa é certamente uma das letras mais cinematográficas dos Beatles pois em essência narra o enterro de Eleanor Rigby, uma pessoa solitária, em cujo funeral ninguém compareceu a não ser o Padre McKenzie para fazer as orações finais. Durante anos Paul disse que a personagem Eleanor Rigby era ficcional, tanto que antes de escolher esse nome outros foram usados na composição como Miss Daisy Hawkins. A sonoridade desse nome porém não agradou Paul completamente, tanto que depois finalmente encontrou o que procurava em "Eleanor Rigby". A explicação soava até bem plausível, isso até historiadores dos Beatles encontrarem uma lápide real no cemitério de Liverpool com o nome de Eleanor Rigby, cuja data de falecimento constava como o de 1939. Eleanor Rigby assim era o nome real de uma pessoa real, que viveu e morreu em Liverpool bem no começo da II Guerra Mundial. Informado sobre a descoberta, Paul se disse completamente surpreso! Quem sabe seu nome ficou em seu subconsciente, pois Paul costumava frequentar o local quando era mais jovem. Mais um mistério na história desse verdadeiro clássico da carreira dos Beatles.

3. I'm Only Sleeping (Lennon / McCartney) - E a última grande criação de John Lennon para "Revolver" foi "I'm Only Sleeping". Durante anos se especulou que John novamente fazia referências ao uso de drogas na letra dessa canção. Ele porém rechaçou essa interpretação. John dizia que era a pessoa mais preguiçosa do mundo, que amava ficar em sua cama durante o dia inteiro, sem fazer nada. A letra era assim a mais direta possível, uma declaração de um preguiçoso sobre a arte de não fazer absolutamente nada, de ficar apenas dormindo o dia inteiro. Aliás o próprio John admitira esse aspecto de sua personalidade várias vezes ao longo da vida em entrevistas. Certa vez ele declarou: "Os Beatles só voltavam a se reunir em estúdio por insistência de Paul. Ele me ligava e dizia que tínhamos que gravar um novo disco, ao qual eu respondia que não queria, que estava com preguiça. Então Paul ficava ligando por uma ou duas semanas, insistindo, até eu finalmente sair da cama para trabalhar!"

4. Love You To  (Harrison) - Outra surpresa em termos de arranjo do "Revolver" veio com a gravação de  "Love You To". Que George Harrison estava completamente imerso na religião hindu, todos já sabiam. De todos os Beatles ele foi aquele que mais caiu de cabeça dentro da cultura oriental, quando o grupo foi até a Índia atrás dos ensinamentos de um guru indiano, o Maharishi Mahesh Yogi. O que ninguém esperava era que George iria trazer o som da Índia para dentro dos discos dos Beatles. No começo houve uma certa resistência de Paul em colocar a música dentro do álbum. Era estranha demais para os ouvidos dos ocidentais, dos fãs dos Beatles. Depois cansado das brigas com Harrison, finalmente cedeu. A música serve de certa maneira como uma forma de enriquecimento cultural maior dos trabalhos dos Beatles, mas Paul tinha razão em dizer que ela não deveria ter entrado no disco. Teria sido bem melhor que George Harrison a tivesse lançado em um single solo, até mesmo porque ele foi o único Beatle a participar da gravação. Todos os demais, por questões óbvias, ficaram de fora. Ninguém sabia tocar aqueles estranhos instrumentos musicais indianos.

5. Here, There and Everywhere (Lennon / McCartney) - Bom, o que não poderia faltar em um bom disco dos Beatles nos anos 60 era uma bela e romântica balada. Invariavelmente essas lindas canções de amor eram compostas por Paul McCartney. Aqui não houve exceção. "Here, There and Everywhere" fazia jus a esse legado. Uma das melodias mais bonitas compostas por Paul. Ele a criou em homenagem à sua namorada na época, a ruivinha Jane Asher. Todos os Beatles acreditavam que Paul um dia iria se casar com Jane. Eles estavam juntos há muito tempo e ela foi a fonte de inspiração de algumas das melhores músicas de amor de Paul. John vivia provocando Paul, querendo saber quando seria o dia do casamento pois ele estava cansado de ser o único Beatle casado! Curiosamente Jane e Paul romperiam alguns anos depois. "Uma surpresa e tanto, pensei que eles iriam se casar!" - resumiria depois John em uma entrevista. Pelo menos as ótimas canções românticas que embalaram esse romance sobreviveram ao tempo.

6. Yellow Submarine (Lennon / McCartney) - Até hoje ninguém sabe ao certo quem teve a ideia de compor uma música psicodélica chamada "Yellow Submarine". Pelo tema de fantasia poderíamos dizer que foi Paul, mas as contribuições de John Lennon também não foram poucas. O que se sabe com certeza é que todo álbum dos Beatles, desde o primeiro, tinha que trazer uma música mais simples para ser cantada pelo baterista Ringo Starr. O próprio John explicaria isso ao dizer: "Eu e Paul sempre fazíamos alguma música para Ringo cantar. Ele não era o melhor cantor do mundo, então as músicas dadas a ele eram as mais simples!". Bom, olhando para o resultado final podemos dizer que esse nem foi bem o caso da música. "Yellow Submarine" foi intensamente trabalhada por Paul, John e George Martin dentro dos estúdios. Tudo para criar aquela sonoridade única que ouvimos, algo parecido com um desenho animado segundo a opinião de Paul. O curioso é que de fato ela iria virar uma animação futuramente, mas na época em que foi gravada ninguém realmente pensava que isso iria acontecer. Era apenas mais uma faixa do "Revolver" que fugia completamente dos padrões do que os Beatles tinham gravado antes.

7. She Said She Said (Lennon / McCartney) - Para o álbum "Revolver" John Lennon parecia estar mesmo muito inspirado. Tanto que ele iria trazer outra "pauleira" para ser gravada. A música se chamava apenas "She Said She Said". Ao contrário de "Tomorrow Never Knows" essa já estava praticamente feita quando John a apresentou aos demais membros da banda. Ele havia gravado uma fita demo e tudo já estava ali, sem precisar trabalhar muito nela. Mais uma vez a presença do produtor George Martin se mostrou vital. Ele sugeriu a John que aumentasse a distorção das guitarras, já que ele queria um rock bem ao velho estilo. O resultado saiu melhor do que o esperado. A composição surgiu de uma conversa entre John e Peter Fonda. A inspiração obviamente veio do LSD, o ácido lisérgico, que ia se tornando cada vez mais popular. John e Paul não se deram muito bem durante as gravações. Eles discordaram muito sobre como a música deveria ser gravada. Paul queria mais melodia, enquanto John queria um som bem mais cru. Como não chegaram a um acordo satisfatório, Paul resolveu abandonar sua participação na música. John então pediu a George Harrison que tocasse o baixo. Isso demonstrava que o stress e as brigas entre John e Paul já vinha de algum tempo. Algo que iria destruir o grupo em alguns anos.

8. Good Day Sunshine (Lennon / McCartney) - "Good Day Sunshine" era outra boa composição de John Lennon. Aliás se formos analisar bem veremos que o último álbum de grande colaboração de John na seleção musical havia sido mesmo o "Revolver". Depois dele o próprio John admitia que havia entrado numa fase de pasmaceira criativa, onde ele geralmente chegava sem canções finalizadas dentro do estúdio, precisando da ajuda dos demais Beatles para completar aquelas ideias inacabadas, muitas vezes sendo apenas trechos e esboços de músicas, tudo sem arte final. A letra, composta ao piano, parecia em uma primeira audição bem bobinha. John porém queria criticar exatamente a chatice da vida das pessoas, todas embaladas por sonhos de consumo medíocres, como se fossem grande coisa.

9. And Your Bird Can Sing (Lennon / McCartney) - "And Your Bird Can Sing" também fugia do lugar comum. Aqui John Lennon quis dar uma espécie de resposta para a faixa anterior de Paul, também com um arranjo diferente. Porém ao contrário de Paul, John não quis deixar as guitarras debaixo da cama. Ao contrário disso as deixou em primeiro plano, em excelentes solos que iam se revezando ao longo de toda a faixa. Curiosamente o principal parceiro de John na elaboração dessa música dentro do estúdio não foi Paul McCartney, mas sim George Harrison. Afinal ambos eram os guitarristas da banda, então era natural que eles se sentassem para escrever juntos as linhas de melodia que iriam usar. Apesar disso, da intensa colaboração de Harrison, a música acabou sendo creditada, mais uma vez, como uma criação de Lennon e McCartney, apesar da participação de Paul ter sido mínima.

10. For No One (Lennon / McCartney) - Paul também foi o criador de outro momento sublime do álbum. A música se chamava "For No One". Assim como aconteceu com "Eleanor Rigby", Paul e o produtor e maestro George Martin sentaram para discutir como seria gravada essa linda balada. Usar os instrumentos básicos dos Beatles (guitarras, baixo e bateria) parecia soar banal demais para Paul McCartney. Ele queria algo mais erudito, mais clássico. Assim Paul dispensou as participações de John Lennon e George Harrison. Ao invés deles Paul trouxe para o estúdio o músico Alan Civil. Dos demais Beatles apenas Ringo compareceu fazendo uma percussão bem mais sutil. A letra foi mais uma vez inspirada no relacionamento de Paul com Jane Asher. Paul descrevia pequenos detalhes que revelavam como o namoro entre eles estava chegando ao fim. Uma grande composição de Paul McCartney, sem dúvida.

11. Doctor Robert (Lennon / McCartney) - É a tal coisa, se tivesse que escolher o melhor rock do álbum "Revolver" certamente apontaria para a canção "Doctor Robert". Essa canção, como diria John Lennon anos depois, tinha realmente um grande pulso, uma grande pegada! A letra foi composta por John durante a excursão americana dos Beatles. A letra era meio enigmática, porém a ligação com as drogas que os Beatles estavam consumindo na época era bastante óbvia! E afinal quem era o tal Doutor Robert citado na letra? John costumava dizer que era ele mesmo, assim apelidado pelos demais Beatles por estar sempre com todas as pílulas na mão! Se algum membro da banda quisesse tomar alguma droga, já sabia, deveria procurar por Doutor Robert, ou seja, Lennon, que guardava as drogas com ele. Ele costumava andar com uma pequena maletinha onde guardava as substância químicas ilegais. Outros porém dizem que Lennon quis preservar a identidade do verdadeiro Dr. Robert, que seria na verdade o médico Robert Freymann, que vendia prescrições médicas falsas para os figurões do mundo da música em Londres. Era uma espécie de traficante travestido de médico!

12. I Want to Tell You (Harrison) - Por falar em George Harrison ele também trouxe suas próprias composições para o disco. Uma delas foi "I Want to Tell You". Nessa todos os Beatles estavam presentes. No começo Paul não gostou muito da melodia e disse a George que era necessário trabalhar mais na música antes de gravá-la. Era precisa escrever mais algumas linhas de melodia, acrescentar mais notas musicais, mas Harrison recusou a ajuda de Paul. No final a música foi gravada do jeito que George queria, embora ao ouvi-la se chegue na conclusão de que Paul McCartney realmente tinha razão. A música parece não ir para lugar nenhum, exagerando no uso e abuso do refrão, algo que no final das contas se torna até mesmo cansativo.

13. Got to Get You into My Life (Lennon / McCartney) - O álbum "Revolver" foi de fato o primeiro a romper completamente com aquela sonoridade dos primeiros discos dos Beatles. Não havia mais necessidade de seguir uma determinada fórmula comercial à risca. Ao contrário disso eles queriam mesmo arriscar, sondar novos territórios musicais. Em "Got to Get You into My Life" Paul quis recriar o som da gravadora negra Motown, Por isso pediu a George Martin que ele providenciasse um arranjo com muitos metais. Praticamente foi dispensada a formação clássica de instrumentos dos Beatles. Guitarras e baixo foram colocados em segundo plano. O destaque ficou concentrado mesmo apenas naquele tipo de som que ficaria muito adequado em um lançamento da gravadora de Detroit.

14. Tomorrow Never Knows (Lennon / McCartney) - A obra prima de John Lennon em "Revolver" foi justamente essa estranha (para a época)  "Tomorrow Never Knows". Para muitos especialistas em rock essa canção foi o verdadeiro marco zero no que viria a ser depois chamado de Rock Psicodélico. Quando John entrou em Abbey Road pela primeira vez com o esboço da letra dessa música ele não tinha exatamente ideia do que ela iria se transformar. Ao lado do maestro e produtor George Martin ele passou dias, horas e mais horas de estúdio, tentando reproduzir o tipo de sonoridade que ele procurava. John queria que George Martin recriasse o som que ele definia como a de uma fita de gravação sendo rebobinada. Algo inédito na época. Depois de muitas tentativas e erros finalmente a gravação foi finalizada, se tornando a primeira grande experimentação musical dos Beatles em sua discografia. Não havia mais limites a respeitar em termos de criatividade dentro dos estúdios.

The Beatles - Revolver (1966) - John Lennon (vocais, guitarra, violão e piano) / Paul McCartney (baixo, violão, piano e bateria) / George Harrison (vocais, violão, guitarra) / George Harrison (vocais, guitarra, violão) / Ringo Starr (vocais, bateria) / Jurgen Hess (violino) / Tony Gilbert (violino) / Sidney Sax (violino) / John Sharpe (violino) / Stephen Shingles (viola) / John Underwood  (viola) / Derrick Simpson (Cello) / Norman Jones (Cello) / George Martin (Órgão, piano, backing vocals) / Geoff Emerick (backing vocals) / Mal Evans (backing vocals, bumbo) / Neil Aspinall (backing vocals) / Brian Jones (backing vocals, efeitos sonoros) / Marianne Faithful (backing vocals) / Alan Civil (Trompa) / Peter Coe (Sax Tenor) / Eddie "Tan Tan" Thornton (trompete) / Alan Branscombe (Sax Tenor) / Les Conlon (Trompete) / Ian Hammer (Trompete) / Data de gravação: 6 de Abril a 21 de junho de 1966 / Local de gravação: Abbey Road Studios, Londres / Data de Lançamento: 5 de agosto de 1966 / Produção: George Martin.  

Pablo Aluísio.

terça-feira, 2 de maio de 2017

The Beatles - Eight Days a Week

Título no Brasil: The Beatles - Eight Days a Week
Título Original: The Beatles - Eight Days a Week
Ano de Produção: 2016
País: Estados Unidos
Estúdio: Apple Corps
Direção: Ron Howard
Roteiro: Mark Monroe, P.G. Morgan
Elenco: Paul McCartney, Ringo Starr, John Lennon, George Harrison, George Martin, Larry Kane
  
Sinopse:
"The Beatles: Eight Days a Week - The Touring Years" é um documentário que resgata as primeiras turnês dos Beatles nos Estados Unidos. Após um começo de carreira modesto, tocando em pequenos clubes e bares da Inglaterra e Alemanha, os Beatles se tornam uma sensação do mundo da música com álbuns e singles de sucesso. Após atingir o primeiro lugar nas paradas americanas com a música "I Want to Hold Your Hand" eles decidem viajar para a América, para sua primeira turnê de sucesso. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Documentário.

Comentários:
Não há nada de muito surpreendente nesse novo documentário sobre os Beatles. A história da Beatlemania já foi contada inúmeras vezes no cinema e na TV. As imagens de histeria, seus primeiros concertos nas cidades americanas, a apresentação no Ed Sullivan Show. Tudo já foi visto e revisto. A única novidade mais interessante vem de novos depoimentos de Paul McCartney e Ringo Starr. Como esse documentário foi produzido pela Apple Corps (a empresa que pertence aos próprios Beatles), temos as músicas e tudo o mais relacionado ao grupo, sem restrições de direitos autorais. Paul se mostra o mais presente, esclarecendo algumas questões e parecendo se divertir bastante em relembrar de tudo o que aconteceu. Imagens do passado de John e George completam o quadro informativo. O diretor Ron Howard preferiu focar nos concertos, indo do começo da Beatlemania até a gravação do disco "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" quando os Beatles decidiram parar de fazer turnês. Os álbuns são mostrados de forma bem didática, inclusive com informações bem interessantes como o tempo em que ficaram no primeiro lugar das paradas. Depois de "Sgt. Pepper´s" o diretor faz pequenas referências sobre o resto da discografia e o que aconteceu com a banda. Nada sobre as brigas e atritos entre eles é explorado. Tudo é jogado para debaixo do tapete. É um documentário feito por fãs e para fãs. Curiosamente a cena final explora o "último concerto dos Beatles", na verdade um show improvisado nos telhados da Apple. Como escrevi, para o fã mais antigo dos Beatles não há grandes novidades. Já para as novas gerações o filme poderá funcionar como um resgate histórico sobre o passado dos Beatles e seu impacto na cultura pop mundial. Não deixa assim de ter o seu valor.

Pablo Aluísio.

domingo, 20 de dezembro de 2015

John Lennon - John, o músico

É curioso que John Lennon sempre teve uma postura de modéstia em relação aos seus talentos como instrumentista. Em várias entrevistas ele deixou claro que não se considerava um grande músico, um grande guitarrista e nem muito menos um pianista talentoso. Na verdade se considerava bem sofrível. Em um momento de rara sinceridade disparou: "Eu não sou um grande instrumentista. Eu não sei tocar guitarra maravilhosamente bem, meu ritmo é estranho mas mesmo assim consigo fazer uma banda de rock pulsar!". Sobre o piano ele declarou: "Eu sou pior pianista do que guitarrista. Eu mal sei as notas de um piano por isso minhas composições ao piano sempre saem diferentes das que faço no violão. É como um pintor que tem menos cores para pintar um quadro. Acho que por isso que saem tão boas as músicas que faço no piano! rsrs"

Na maior parte de sua vida Lennon compôs usando piano e violão. Ele explicou que suas canções no álbum branco tinham sido todas compostas ao violão pois esse era o único instrumento que ele dispunha quando estava na Índia quando os Beatles foram para lá fazer um curso com o Maharishi Mahesh Yogi. Já o álbum "Imagine", seu grande êxito na carreira solo, foi composto totalmente em piano pois Lennon mantinha um belo instrumento de calda, todo branco, em seu apartamento de Nova Iorque.

Essa sua suposta falta de habilidade se tornava mais clara nos shows dos Beatles nos EUA como ele próprio confessou. "Os shows dos Beatles eram muito ruins. Não tínhamos como ouvir o retorno por causa da gritaria e por isso na maioria das vezes tocávamos qualquer coisa... eu olhava para o George e sabíamos que estava uma merda. Era algo do tipo bleng, bleng, não dava para tocar bem". Curiosamente quando a platéia era mais calma as coisas também não iam bem para John. "Em Paris o público era bem mais calmo. A gente subia no palco e ouvíamos palmas comportadas. De vez em quando alguns caras gritavam, acho que eram bichas ao lado do palco mas as coisas também não iam bem pois o público podia notar todos os nossos erros".

Talvez por isso os Beatles decidiram cair fora das turnês. "As turnês eram horríveis. A imprensa divulgou que George gostava de jujubas (um tipo de balinha) e os fãs começaram a jogar jujubas em nós no palco. O problema é que nos EUA essas balas eram duras como pedras e nos machucavam". Para John o maior show da história dos Beatles aconteceu no Shea Stadium em Nova Iorque. "O Paul estava se cagando de medo nos bastidores. Mas foi um show para entrar na história. Não sabíamos que podíamos lotar um estádio inteiro, foi um marco". No fim da vida John tencionava voltar aos shows ao vivo. "Quero lançar mais um disco antes de contratar aqueles músicos caros para cair na estrada. Não quero subir no palco para cantar Yesterday ou outras velharias dos Beatles. Penso em me apresentar em lugares menores mesmo sabendo que os caras vão dizer que eu não tinha mais condições de lotar um grande lugar". Infelizmente nenhum desses planos foi em frente pois Lennon foi assassinado antes que isso tudo se concretizasse.

Pablo Aluísio.

sábado, 19 de dezembro de 2015

John Lennon - (Just Like) Starting Over

Esse foi o último single da carreira de John Lennon. Em poucas semanas ele seria morto na frente do prédio Dakota onde morava em Nova Iorque. A letra resume tudo muito bem. Depois de ficar cinco anos fora dos estúdios de gravação e da vida pública para se dedicar a criação de seu filho Sean, ele retornou para gravar o disco "Double Fantasy" ao lado de Yoko Ono. A maioria das letras são bucólicas, falando de um sujeito normal que curtia a vida de casado ao lado da esposa e do pequeno filho. Para Lennon os Beatles tinham sido maravilhosos, mas naquela altura de sua vida ele não tinha mais nada a ver com aquele jovem de vinte e poucos anos de franjinha e terninho que virou um ídolo internacional. E por falar em ídolos, Lennon também afastava esse rótulo sempre que era possível pois ele literalmente achava uma bobagem se espelhar em ídolos, fossem da música, da política ou de qualquer outro setor da vida. A figura do ídolo era sinal de imaturidade e de uma mente pouco desenvolvida, como bem salientou em várias entrevistas. Lennon não queria também mais saber das tietes gritantes dos tempos dos Beatles. Em sua forma de ver ele agora cantava para casais adultos, como ele e Yoko e não mais adolescentes ruidosas. Isso ficara para trás definitivamente.

Para John Lennon o que importava naquela fase de sua vida era ficar o mais distante possível desse tipo de gente louca que cultuava ídolos em geral. Ironicamente e desgraçadamente acabou sendo morto por tudo aquilo que tanto rejeitava. De uma forma ou outra o que importava era mesmo ter uma família e viver feliz. Aqui temos também outra ironia do destino. Os Beatles foram considerados por anos os símbolos de uma mudança de perspectiva, de novos tempos, da ideologia hippie e do amor livre, sem culpas e sem amarras. Era a contracultura a todo vapor. Mas os próprios membros do grupo demonstraram que havia muita bobagem nesse tipo de pensamento, uma vez que assim que se estabeleceram nas carreiras foram atrás de vidas completamente conservadoras e quadradas. John se casou ao velho estilo com Yoko e depois foi levar uma vidinha completamente comum de todo Nova Iorquino, indo em restaurantes e andando pelo Central Park de vez em quando. Nada de loucuras, nada de exageros ou maluquices, como pregava a ideologia do Flower Power. No final das contas a tia Mimi e seus conselhos conservadores prevaleceram em sua vida!

Pablo Aluísio.

John Lennon - Contradições de um Beatle

John Lennon - Contradições de um Mito
John Lennon nunca foi um cara muito amável. Ele mesmo não queria e nem tinha interesse de passar a imagem errada. Fruto de um relacionamento complicado de seus pais, John só veio a desfrutar de uma vida estável quando foi morar com sua tia. A mãe morreu jovem, vítima de um motorista embriagado. O pai sumiu, marinheiro não queria problemas e nem responsabilidades. Assim John foi meio que criado solto, sem muitos exemplos familiares positivos a seguir. Essa sua personalidade complicada acabou também sendo passada para seus filhos. Não faz muito tempo vazou na internet um longo e revelador depoimento de seu filho, Julian. Nele o filho de John resolveu falar de alguns aspectos nada lisonjeiros de seu pai. Lennon é retratado como um pai distante, insensível e nas poucas vezes que conviveu com o filho, muito áspero e até mesmo raivoso. Nada parecido com a imagem de paz e amor que tantos se acostumaram a associar a ele. Na verdade John Lennon nunca foi uma pessoa muito fácil de conviver. Segundo as próprias palavras de Paul McCartney: "John Lennon era um gênio, mas não um santo!"

Dentro dos Beatles John também não foi de convivência muito fácil. O fato é que inegavelmente a fama lhe subiu à cabeça, o que fez com que John começasse a uma competição de falar bobagem. Mal lhe colocavam um microfone em sua frente John começava a opinar sobre tudo e todos, muito embora não tivesse preparo intelectual e técnico para emitir esse tipo de opinião sobre os mais variados assuntos. Por isso também acabou ficando em maus lençóis, principalmente quando desandava a falar de religião. Sua frase mais infame nesse aspecto foi "Os Beatles são mais populares do que Jesus Cristo". Isso irritou meio mundo e causou tamanho problema que o próprio John depois teve que vir a público pedir desculpas, afirmando que havia sido mal interpretado.

Sim, John era um ser humano e como tal tinha defeitos e muitos. A despeito de tudo isso também se tornou um artista genial. Muitas vezes a personalidade contraditória e cheia de complexidades acaba dando origem a manifestações culturais e artísticas maravilhosas. Seres humanos torturados acabam se tornando artistas geniais. John tinha traumas pela morte precoce da mãe, rancor pelo abandono de seu pai e indiferença com seu filho. Isso tudo porém gerou o caldeirão de sinceridade na qual Lennon iria escrever algumas de suas melhores canções, algumas realmente imortais. Certamente John Lennon não era bem um exemplo de pessoa, gostava de brigar em bares e boates, fumava, bebia e usava drogas. Mesmo assim, com tanta coisa contra, jamais deixou de ser um artista genial. Afinal de contas como ele mesmo dizia a "genialidade é uma espécie de loucura". É mesmo John, concordo plenamente.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

John Lennon - The Collected Artwork

John Lennon: The Collected Artwork
Desde que John Lennon morreu muitos de seus desenhos e gravuras viraram ícones da indústria de consumo. Seus rabiscos estão em cartões, camisetas, livros, discos e até mesmo brinquedos. Agora procurando levar mais a sério a produção artística visual de Lennon um livro chamado "John Lennon: The Collected Artwork" pretende reunir o melhor de sua produção em suas 204 páginas. A reunião dos esboços vai até o passado, na infância de John, e resgata alguns de seus desenhos mais antigos, vários inspirados em Ivanhoe e outras obras literárias juvenis que fizeram a cabeça do garoto de Liverpool. No começo da década de 1960 ele ousou até mesmo a tentar uma carreira como chargista, mas a ideia ficou pelo meio do caminho por causa da música e de sua banda, os Beatles. Seus desenhos porém sobreviveram ao tempo e estão na publicação. Fechando a exposição o livro ainda traz desenhos feitos por Lennon nos anos 1970, quando ele retratou seu casamento com Yoko Ono e aspectos cotidianos de seu filho Sean.

Essa insistência em pintar e desenhar vem de longe. Na juventude John Lennon foi um dos alunos do Liverpool College of Art onde ele procurou desenvolver seu gosto pelos desenhos e quadros de artes plásticas. Foi justamente lá que ele desenvolveria uma grande amizade com outro jovem entusiasta dos pincéis, Stu Sutcliffe. Ele, mais do que qualquer outra amizade que John tenha feito nessa época em sua vida, foi o mais querido amigo de seu ciclo de pessoas próximas naqueles tempos pioneiros. Os especialistas porém concordam que ao contrário de Stu, que era realmente um bom pintor, John Lennon na verdade não tinha tanto jeito assim para desenhar e pintar. Por isso a guitarra acabou sendo a grande válvula de escape. Se ele não era nenhum Picasso podia ao menos tentar seguir os passos de seus ídolos na música. O importante era viver expressando sua arte de alguma forma. Deu no que deu.


Em sua "obra" John Lennon poderia ser considerado um minimalista. Ele procurava o máximo de efeito com o mínimo de traços e linhas. Seus temas eram geralmente sentimentais, tristes ou até mesmo bobos. O importante para John era se sentir conectado com o desenho ou a pintura que acabara de produzir. Era uma forma também de aliviar o stress depois de demoradas sessões de gravações ou composições que exigiam muito dele, tanto do ponto de vista físico como emocional. Em muitas ocasiões John mandava cartas visuais para seus amigos, praticamente sem texto, apenas com figuras. Era uma forma diferente de se expressar. O livro é muito bom no geral, mas como foi financiado em parte por Yoko Ono há um certo exagero em seu texto, que tenta colocar John Lennon como algum tipo de gênio dos pincéis. Não vamos chegar a tanto, não é mesmo?

Pablo Aluísio.

John Lennon - Happy Xmas (War Is Over)

1971 foi um ano e tanto para John Lennon no mercado porque ele conseguiu emplacar três singles de sucesso na parada. "Power to the People" foi o primeiro. Depois veio "Imagine", seu single mais vendido na carreira solo. No final do ano Lennon emplacou mais um enorme sucesso, a canção "Happy Xmas (War Is Over)", uma canção sobre os rumos que o mundo vinha tomando, com muitas guerras e pouco espírito natalino de paz e amor para com o próximo. Aqui vale duas observações interessantes. Lennon não se considerava um cristão, isso tomando essa palavra no mais estrito sentido dela.

Lennon oscilava entre declarações polêmicas e brigas com religiosos e sempre que era perguntado sobre qual seria sua verdadeira religião dizia que era na realidade um adepto do zen budismo (seja lá o que isso queira dizer). Quando seu single natalino chegou nas lojas muitos ficaram intrigados, pois não era comum ver uma pessoa que não se considerava um cristão colocando no mercado uma gravação natalina. Era uma contradição certamente.

Outro fato que chamou a atenção foi a campanha que Lennon levou para as ruas chamada "War Is Over" que tinha como lema a frase "A Guerra termina se você quiser!". Nem é necessário explicar que isso mexeu com muita gente poderosa. Para os republicanos Lennon deveria ficar de bico calado, afinal de contas ele não passava de um estrangeiro com visto provisório nos Estados Unidos. Por que ficava se metendo a toda hora nos assuntos internos dos americanos, já que era inglês? Essa foi uma das razões que sua barra iria pesar nos anos seguintes. Além disso John Lennon, sempre polêmico, resolveu que não precisava de estúdio nenhum para gravar o disco. Chamou o coro da comunidade negra do Harlem e mandou ver, quase de forma amadora.

E por incrível que pareça a gravação ficou realmente ótima! O produtor excêntrico Phil Spector foi contratado para embelezar ainda mais a faixa. No lado B o single trazia outra faixa natalina, "Listen, the Snow Is Falling". Depois que o compacto chegou nas lojas Lennon teve que encarar todas aquelas críticas venenosas, inclusive algumas o chamando de "tolo" e "palhaço" por promover tão singela campanha de paz. John deu de ombros e de seu modo característico declarou: "Não me importo de ser um palhaço em um mundo onde as pessoas ditas sérias estão enviando jovens para morrerem em guerras sem sentido".

Pablo Aluísio.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

The Beatles - Magical Mystery Tour

Título no Brasil: Magical Mystery Tour
Título Original: Magical Mystery Tour
Ano de Produção: 1967
País: Inglaterra
Estúdio: Apple Studios.
Direção: Bernard Knowles
Roteiro: Paul McCartney, George Harrison, John Lennon
Elenco: John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr, George Harrison

Sinopse: 
Um grupo de pessoas dos mais variados tipos compra uma passagem para participar de uma viagem mágica e misteriosa em um ônibus. No caminho encontram todos os tipos de situações fora do comum, como uma competição de velocidade, um teatro de atrações bizarras, uma corrida de anões e um show de cantores canastrões ao lado de garotas de strip-tease, tudo embalado com o som dos Beatles e sua música psicodélica.

Comentários:
Especial produzido pelos Beatles para a TV britânica em 1967. Antes de mais nada é importante avisar a quem for assistir que não adianta procurar muito sentido no roteiro. A linguagem é de psicodelismo, com várias sequências sem lógica. De certa forma pode-se até lembrar das comédias do grupo Monty Python mas isso seria simplificar demais. Na verdade a ideia partiu de Paul McCartney que se inspirou em um programa que era muito popular entre moradores pobres de Liverpool. Eles alugavam um ônibus e iam ida e volta até a cidade vizinha de Blackpool. Com que finalidade? Nenhuma. Tudo não passava de um pretexto para que todos enchessem a cara durante a viagem que por si só também não tinha muito sentido. Partindo disso Paul pensou em algo mágico, fantástico, uma viagem realmente psicodélica. Funcionou? Apenas em termos. Há gags engraçadas como a de Lennon vestido de garçom servindo toneladas de comida numa pá para uma mulher gorda mas mesmo essas cenas não são hilariantes, são apenas divertidas e curiosas. No geral tudo soa muito disperso, sem rumo, mostrando que no final das contas a única coisa que presta realmente é a música dos Beatles, essa de fato especial e mágica. Destaco "I Am The Walrus" um dos sons mais alucinados escritos por John Lennon e "The Fool on The Hill", bela balada composta por Paul. Ringo interpreta um sujeito que viaja com sua tia gorda e tem problemas com ela enquanto essa flerta com um senhor idoso que pensa ser uma ave de rapina (Não disse que nada faz sentido?). O único que não parece participar ou ter qualquer entusiasmo com tudo ao redor é George Harrison que apresenta uma canção solo e nada mais. Em resumo "Magical Mystery Tour" é isso, um pequeno tropeço maluco na gloriosa carreira dos Beatles.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

The Beatles - Help!

Título no Brasil: Help!
Título Original: Help!
Ano de Produção: 1965
País: Inglaterra
Estúdio: Walter Shenson Films, Subafilms
Direção: Richard Lester
Roteiro: Marc Behm, Charles Wood
Elenco: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr, John Bluthal 

Sinopse: 
Uma seita religiosa precisa recuperar um anel cerimonial que está nos dedos de Ringo Starr dos Beatles. Para colocar as mãos na valiosa jóia os membros sacerdotais não medirão esforços, indo atrás de Ringo e dos demais Beatles.

Comentários:
O segundo filme dos Beatles não tem o mesmo brilho de "A Hard Day´s Night" que era tão imaginativo quanto divertido. Para falar a verdade esse "Help!" como filme em si deixa muito a desejar. Não há propriamente um enredo a se contar, existe esse roteiro que muitas vezes parece ter sido escrito para algum desenho animado dos anos 60 e nada mais. O que salva esse musical é certamente as canções dos Beatles apresentadas ao longo da estorinha boba e muitas vezes sem graça nenhuma. A cada 15 ou 20 minutos os Beatles surgem fazendo o que sabiam melhor, cantando e tocando para acordar o público, cansado de tantas bobagens. O enredo em si investe no besteirol, com um humor tão tipicamente britânico. Em muitos momentos me recordei dos filmes do Monty Python mas a comparação não é muito justa pois "Help!" fica muito distante do talento da trupe de comediantes ingleses. O próprio Paul McCartney reconheceu anos depois que o filme realmente não era lá essas coisas, tanto que disse que os próprios Beatles, vendo que tudo não passaria de um abacaxi, começaram a dar sugestões descabidas no roteiro (como irem até as Bahamas, por exemplo). Por fim cabe a observação de que como atores os Beatles realmente eram ótimos músicos, pois em momento algum conseguem passar o mínimo de talento para a atuação. Nem Ringo (que queria se tornar ator profissional) consegue convencer. O trabalho dos quatro pode ser definido como completamente amadorístico. Em suma, melhor ver mesmo um resumo dos momentos em que os Beatles tocam nesse filme, já que vê-los atuar aqui é realmente de amargar. Noventa minutos que passam muito devagar de tão fraco que o filme é.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Deixa Estar

Título no Brasil: Deixa Estar
Título Original: Let It Be
Ano de Produção: 1970
País: Inglaterra
Estúdio: Apple Corps
Direção: Michael Lindsay-Hogg
Roteiro: Michael Lindsay-Hogg, The Beatles
Elenco: John Lennon, Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr

Sinopse: 
Documentário musical que mostra o grupo britânico The Beatles durante as gravações do álbum "Let It Be". A ideia era registrar o processo de criação do mais famoso grupo de rock da história dentro dos estúdios em Londres. No final o grupo se apresenta ao vivo pela última vez em sua carreira.

Comentários:
Paul McCartney teve a ideia central desse documentário. Tudo soava muito simples. Intitulado "Get Back" o plano inicial de Paul era filmar os Beatles gravando um álbum dentro dos estúdios e depois a volta triunfal do grupo aos grandes shows ao vivo pelo mundo. O problema é que os Beatles estavam implodindo quando começaram as filmagens. Paul, George e John não conseguiam mais se entender. Brigas, discussões, desconforto, tudo acabou sendo captado de forma involuntária pelos responsáveis do filme. Depois de um começo tenso John e George decidiram que não estavam mais dispostos a realizar a tal turnê mundial que Paul queria. Isso criou um grande atrito pois seria justamente esse o clímax do documentário. Sem saída John sugeriu que todos fossem para o telhado da Apple em Londres e lá fizessem uma apresentação final com quatro ou cinco músicas para fechar o filme. Foi o que fizeram. A polícia londrina apareceu para encerrar o concerto e "Let it Be" (o novo nome dado ao documentário) afundou de uma vez. O que era para ser o registro da volta triunfal dos Beatles se transformou em um triste retrato do grupo se separando. Não deixa de ser histórico e importante para o mundo do rock mas o clima de melancolia incomoda. Mesmo assim seja você beatlemaníaco ou não o fato é que "Deixa Estar" é de fato um item indispensável em qualquer coleção. Simplesmente essencial para os amantes do rock em geral. 

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 5 de março de 2012

The Beatles - Help!

Eu já peguei muita briga com fãs dos Beatles. Esses são tipos esquisitos que acreditam piamente que o grupo inglês inventou a música e nada existiu antes e nem depois deles. Eu posso falar porque ouço Beatles há mais de 30 anos então bagagem não me falta - nem de audição e nem de literatura pois já li muito sobre os cabeludos (hoje seriam apenas franjinhas, however). Escolhi Help para comentar hoje porque ele é o último álbum da fase chamada Yeah, Yeah, Yeah (ou Ié, Ié, Ié, como queiram). Aliás essa minha classificação já foi inclusive motivo de muita briga com outros fãs. Muitos acham que o disco não pode ser colocado na primeira fase porque é "revolucionário"! Mas revolucionário em quê? Aliás porque os fãs dos Beatles acham que tudo o que eles fizeram é necessariamente um marco? Caiam na real, os Beatles fizeram muita besteira também, canções tosquinhas, letras bobinhas e discos comerciais em essência, feitos para vender muito - como esse aqui, trilha sonora do filme Help! (que aliás é péssimo vamos convir).

Help não é revolucionário em nada, é um disco comercial até a medula (na Holanda sua capa vinha com uma enorme propaganda da Shell). Sim, é um produto para vender - e vendeu. Mesmo assim não deixa de ser um produto bem feito e coeso. As letras são tipicamente ié, ié, ié - "ela ama você, você me ama, todos se amam" conforme foi dito ironicamente pelo próprio John Lennon anos depois. Algumas faixas são tapa buracos mas há também grandes preciosidades no LP, entre eles aquela que talvez seja a melhor música da história do grupo, a bela "Yesterday" que é tão bem composta e executada que resistiu até mesmo à sua hiper-ultra-comercialização com mais de (dizem) mil regravações! Até cantor brega tem sua versão "iesterdei" para tocar em churrasco de casamento. Como sou chato e mala velha destaco como obras primas aqui apenas a já citada "Yesterday", "You're Going to Lose That Girl" (o trabalho de vocalização entre eles é brilhante e os arranjos pra lá de charmosos) e "Dizzy Miss Lizzy" (sim, embora nem seja uma música dos Beatles associo sua presença a um grito de socorro de Lennon pelo fim dessa fase engomadinha). Já "Help" e "Ticket to Ride", bem mais conhecidas, não me empolgam. Alguém ainda aguenta ouvir explicações de que "Help" é um pedido de socorro de Lennon afogado pela fama? Ou seria socorro pelo abuso de drogas pois ele mesmo admitiu que os Beatles por essa época tomavam drogas até no café da manhã! Estava deprimido porque ficou rico e famoso?! Faz-me rir senhor Ono! Lennon era um chorão mesmo vou te contar! Já "Ticker to Ride" me soa repetitiva e sem direção. É uma canção pop para tocar nas rádios e nada mais. Pop comercial descartável. Finalizando quero dizer que "Help" não é revolucionário, não é a sétima maravilha do mundo e nem mudou a vida como a conhecemos. Também não foi o marco zero da história da música como alguns beatlemaníacos querem fazer crer. Faz parte da fase Ié, Ié, Ié. É um álbum pop comercial (com baixo teor roqueiro pra falar a verdade) que vale por algumas pequenas (e grandes) obras primas e só. No final é bem melhor do que o filme que sendo bem sincero nem precisava existir de tão ruim que é.

The Beatles - Help! (1965)
1. Help!
2. The Night Before
3. You've Got to Hide Your Love Away
4. I Need You
5. Another Girl
6. You're Going to Lose That Girl
7. Ticket To Ride
8. Act Naturally
9. It's Only Love
10. You Like Me Too Much
11. Tell Me What You See
12. I've Just Seen A Face
13. Yesterday
14. Dizzy Miss Lizzy

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

The Beatles - Long Talll Sally

Sempre achei esse um dos mais curiosos lançamentos dos Beatles. Se trata de um EP (sigla em inglês que no Brasil significava o equivalente ao nosso compacto duplo, pequeno vinil com apenas quatro ou cinco faixas). É interessante porque os Beatles resolveram gravar três covers e uma faixa que embora composta por Lennon e McCartney havia sido dada para ser gravada pelo grupo Billy J. Kramer and The Dakotas.

Estamos falando de "I Call Your Name", uma canção que passa longe de ser uma das melhores do grupo, mas que mantém o interesse, principalmente por causa da boa performance. Anos depois algumas biografias afirmaram que os Beatles resolveram gravar a música após John Lennon se sentir "enciumado" com a boa gravação de Kramer. Ele achava que poderia fazer melhor e sugeriu ao conjunto que registrasse sua própria gravação nos estúdios da Abbey Road. O resultado pode ser ouvido aqui.

Já as três outras gravações covers são maravilhosas. "Long Tall Sally" é o grande sucesso da carreira de Little Richard (Richard Penniman). Essa vinha acompanhando os Beatles desde os tempos em que eles eram apenas um grupo de adolescentes sonhando em gravar um disquinho algum dia. Paul McCartney era um fã do estilo de Richard e conseguia, mesmo quando tinha apenas 15 anos, tirar ótimas versões da música. Um momento bem nostálgico para os Beatles, um rock dos velhos e bons tempos. Também é bom lembrar que esse rock também havia sido gravado por Elvis Presley, fazendo parte de seu segundo álbum pela RCA Victor, em 1956. Como os Beatles eram grandes fãs de Elvis, era algo natural eles também decidirem gravar sua versão.

"Slow Down" de Larry Williams era geralmente usada para finalizar os concertos ao vivo. Segundo as próprias palavras de Paul era um "rock numa nota alta" que os Beatles usavam para se despedir de seu público de maneira bem empolgante, para cima. Geralmente era usada quando os Beatles estavam meio fartos de tocar suas próprias composições. O EP se encerra com "Matchbox" de Carl Perkins. Como se sabe os garotos de Liverpool tiveram seu primeiro contato com o rock americano através de singles que vinham dos Estados Unidos através do porto da cidade. Singles da Sun Records eram especialmente apreciados e Carl Perkins sendo um artista do selo logo se tornou também ídolo dos Beatles. Assim o que temos aqui é uma pequena amostra de onde veio a musicalidade do Fab Four. Uma justa homenagem deles aos pioneiros do rock americano. Melhor do que isso impossível.

The Beatles - Long Tall Sally (1964)
1. Long Tall Sally (Johnson, Richard Penniman, Robert Blackwell)
2. I Call Your Name (Lennon - McCartney)
3. Slow Down (Larry Williams)
4. Matchbox (Carl Perkins)

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

The Beatles - John Lennon e o desastre da Apple

Quando Brian Epstein morreu os Beatles ficaram sem saber como administrar os negócios da banda. Foi então que John Lennon propôs a criação de uma nova empresa chamada Apple. Ela iria gerir todos os assuntos ligados aos Beatles, além de abrir novas oportunidades a artistas que só queriam ter uma chance. Na coletiva de imprensa de anúncio da Apple John Lennon declarou: "Eu quero que todos os que são artistas nos enviem seus materiais. Na Apple vocês vão ter espaço e não irão precisar se ajoelhar a ninguém para ter uma chance!". Como se pode perceber as intenções eram as melhores possíveis só que na prática a Apple se transformou em uma desastre comercial e financeiro completo. O anúncio de John fez com que milhares de pessoas enviassem fitas e gravações para o prédio do novo selo dos Beatles em Londres só que ninguém estava realmente disposto a ouvi-los. Os Beatles não iam até a Apple e seus funcionários não passavam de amigos e colegas do grupo, pessoas sem formação nenhuma para gerir uma grande empresa. O próprio George Harrison reconheceu isso quando resolveu fazer uma visita surpresa na Apple e descobriu que não havia ninguém trabalhando de fato por lá. Os funcionários passavam o dia todo fumando maconha!

John não queria saber da Apple, nem George e nem muito menos Ringo. O único que se mostrou a fazer algo pela empresa foi Paul McCartney. Ele percebeu que a empresa era uma bagunça completa e que muito dinheiro estava sendo perdido com ela. O pior é que era o seu dinheiro, por isso resolveu convidar seu sogro Lee Eastman para administrar aquele caos. A ideia não foi bem recebida pelos demais Beatles. Eles achavam que Paul iria dominar completamente a empresa com seu sogro no comando, assim John, George e Ringo se uniram para desmontar os planos de Paul. Isso daria origem a uma das maiores brigas da história dos Beatles, algo que iria só crescer com os anos, desandando para a separação definitiva do grupo alguns anos depois. John Lennon lançou o nome de Allen Klein para controlar a Apple e os Beatles. Klein era um astuto homem de negócios de Nova Iorque que já tinha trabalhado com os Rolling Stones antes. Ele tinha fama de não ser muito honesto, mas Lennon resolveu confiar nele! "Alguém com essa fama de tubarão e ladrão como Klein não pode ser um mau sujeito!" - teria dito. Paul obviamente não aceitou ter Klein como empresário e uma guerra começou dentro dos Beatles, uma guerra onde milhões seriam perdidos, outros roubados e a banda não sairia viva dela.

O fato de John Lennon ter escolhido Allen Klein para ser o novo empresário dos Beatles colocou ele em confronto direto com Paul McCartney. Assim que John declarou sua decisão, Paul foi taxativo ao dizer: "Esse cara jamais vai ser o meu empresário!" ao que John retrucou: "Vai ser sim. Ele vai ser o empresário dos Beatles e sendo você da banda não vai ter outra opção! Aceite Klein!". Paul jamais aceitaria. Isso criou uma verdadeira rachadura dentro dos Beatles. De um lado John, George e Ringo e do outro Paul. Até aquele momento os Beatles tinham um trato não escrito dizendo que qualquer decisão dentro do grupo deveria ser unânime. Sempre que alguém dissesse "não" a decisão não seria tomada. John ignorou isso e quis impor a decisão da maioria, dizendo que Paul iria aceitar Klein de todas as maneiras. Isso criou uma tensão que duraria meses, sempre com Paul dizendo não, não e não! Esse tipo de briga não ajudou em nada para o desastroso balanço financeiro da Apple. Para aliviar um pouco a situação Paul compôs "Hey Jude" para ser o primeiro single no novo selo. Era uma grande música, que rapidamente se tornou um sucesso mundial, mas nem o ótimo resultado comercial do compacto livrou os Beatles de muitos problemas comerciais. Na época a EMI queria renovar o contrato do grupo. John então indicou Allen Klein para as negociações, mas Paul não aceitou ser representado por ele. Ao invés disso informou à EMI que seus contratos futuros deveriam ser negociados como seu sogro Lee Eastman.

John Lennon ficou possesso com a decisão de Paul. Quando se encontraram na sede da Apple, no centro do Londres, eles trocaram todos os tipos de insultos e acusações entre si. Duas revelações pioraram ainda mais a situação. John descobriu que Paul estava falando mal de Yoko Ono pelas suas costas e que seus royalties com a EMI seriam maiores do que os dos demais Beatles. Para John isso foi uma traição para o conjunto. Paul deu de ombros. Seu novo empresário Lee Eastman tinha sido mais eficiente do que Klein. Qual era o problema disso? Paul também comprou briga com George Harrison ao ridicularizar sua postura de Hare Krishna com todo aquele papo de espiritualidade ao mesmo tempo em que enviava parte de sua fortuna para paraísos fiscais, para fugir dos impostos ingleses. Para Paul o seu companheiro de banda George Harrison não passava de um baita de um hipócrita. Nem precisa dizer que isso piorou ainda mais o relacionamento interno entre os Beatles que ficaram a um passo da separação.

O clima de tensão e rivalidade entre Paul e John só aumentou com o passar do tempo. Já por volta de 1969 Paul McCartney resolveu consultar alguns advogados pois ele estava planejando processar a Apple e os demais Beatles. Claro que algo assim significaria o fim do conjunto, mas era uma possibilidade que não poderia ser descartada. Enquanto Paul se decidia ou não em processar todo mundo surgia um novo foco de conflito dentro da Apple. John Lennon, sem consultar ninguém do grupo, decidiu por conta própria dar as fitas originais das gravações das sessões de Let It Be para o produtor Phil Spector. Lennon achava o material muito ruim, sem rumo, sem foco. Talvez Spector conseguisse transformar horas e horas de gravações ruins em um álbum! Quando soube disso Paul ficou completamente fora de si, afinal aquelas também eram suas músicas e nunca alguém tinha mexido nelas antes sem sua expressa autorização. Canções como "The Long and Winding Road" e a própria "Let It Be" estavam inacabadas, precisando de um complemento em seus arranjos, algo que Paul estava preparando para fazer nos estúdios de Abbey Road. Antes que isso acontecesse John se antecipou e deu tudo para Spector em Nova Iorque dizendo que ele fizesse o que bem entendesse com as gravações. Paul ligou para John e ambos tiveram uma conversa tensa, cheia de ofensas pessoais e ameaças de processo. John disse que não voltaria atrás ao que Paul avisou que se as fitas não voltassem a Londres ele iria processar os Beatles, a EMI e o próprio Phil Spector.

John parecia se divertir com a situação. Ele chegou a afirmar que todo o material era uma grande m* e não estava nem aí para o que Phil Spector iria fazer com ele. Esse seria o começo de uma parceria entre John e o produtor, algo que se estenderia em sua carreira solo, quando Spector iria produzir muitos de seus discos. Para Paul porém não estava nada OK. Ele se irritou quando soube que Spector estava escrevendo um novo arranjo para "The Long and Winding Road". Talvez esse fato tenha sido a gota d'água! As más notícias porém não paravam por aí. Durante outra daquelas reuniões cheias de desaforos e ofensas na Apple, John deixou todos chocados ao bater o punho sobre a mesa, avisando: "Estou fora dos Beatles! Para mim chega!". John Lennon deixou todos surpresos na Apple quando anunciou que iria embora dos Beatles. Para Paul era um choque completo! Tudo bem, o relacionamento entre os membros do grupo era cada dia pior, porém ele jamais poderia imaginar que John iria pular fora do barco! A reação de Paul foi tensa. Quando John lhe disse que estava fora, ele ficou branco como uma parede! Mal podia acreditar no que ouvia de seu companheiro de tantos anos... E John parecia bem decidido, era o fim mesmo!

"Você não pode deixar os Beatles!" - disse um chocado Paul. "Nós acabamos de assinar um contrato com a EMI até 1975! Você está louco?" - ao que John respondeu: "Que se dane! Me processem! Eu não faço mais parte dos Beatles". A reunião continuou com muita tensão e a única coisa positiva que Paul conseguiu de John foi que ele não anunciasse nada na imprensa até o lançamento do próximo álbum dos Beatles, agora intitulado "Let It Be". John concordou, mas avisou que nunca mais voltaria a gravar nada com os Beatles. Ringo ficou estupefato, sem saber o que pensar ou fazer, mas curiosamente George, conforme confessaria anos depois, ficou aliviado! Havia muita tensão entre George e Paul nos estúdios e ele criou uma aversão ao estilo de Paul, sempre controlador, sempre querendo que tudo fosse feito ao seu jeito. Apesar disso McCartney tinha razão quando disse a John que os Beatles não podiam se separar naquele momento. A EMI contava com discos inéditos dos Beatles até meados da década de 1970 - ninguém poderia pensar que os Beatles iriam se auto destruir tão cedo! E era certo que todos eles seriam processados por quebra de contrato! Era um desastre completo!

Anos depois em uma entrevista John Lennon explicou sua decisão: "Eu fiquei ali dizendo não, não é não para tudo e para todos. Paul agiu como se eu tivesse pedido um divórcio! Os Beatles, na verdade, já estavam acabados há pelo menos uns três anos. Paul fez um bom trabalho nos mantendo unidos enquanto não sabíamos que caminho seguir na vida. Nessa fase ele supostamente nos liderou, mas para que serve uma liderança se você fica andando em círculos?". Naquela época a Apple se preparava para o lançamento de dois discos, "Let It Be" e "McCartney", que seria o primeiro disco solo de Paul. Havia um clima de tensão sufocante no selo, mas Paul, para choque mundial, se adiantou e foi à imprensa dizendo que ele estava deixando os Beatles! No dia seguinte manchetes de todo o mundo diziam: "Paul deixa os Beatles!". John se sentiu completamente traído por ele. Lennon havia concordado em esperar, antes de anunciar publicamente que estava deixando os Beatles e agora Paul o apunhalava pelas costas, fazendo o mesmo! Era o fim da picada! O sonho estava definitivamente acabado.

Em 1967 Paul McCartney comprou uma fazenda na Escócia. Ele comprou na planta, sem nunca ter colocado os pés lá. Só alguns meses depois Paul resolveu visitar o lugar ao lado de sua namorada Jane Asher. Realmente era uma região bem isolada, uma das propriedades rurais mais inacessíveis que se poderia pensar. Não havia muita coisa por lá, a não ser uma pequena cabana, sem luz elétrica ou qualquer luxo do mundo civilizado. Jane achou tudo horrível, mas Paul adorou o jeito rústico do lugar. Ele estava procurando por algo assim há bastante tempo, um refúgio que o tiraria da loucura dos Beatles e dos compromissos na carreira. Paul resolveu chamar seu rancho de High Park e em pouco tempo aquele seria um dos seus lugares preferidos.

Linda, a futura esposa de Paul, com seu jeito meio hippie, também adotaria a fazenda na Escócia como um dos melhores lugares para se estar. Paul e ela iam com regularidade para lá, onde ficavam isolados por semanas a fio. Nos primeiros meses Paul não modificou em nada a rudeza do lugar. Quando apareceu um buraco no teto ele mesmo tratou de consertar. Depois comprou equipamentos como um trator e começou uma criação de ovelhas. Acabou até mesmo seguindo a moda dos fazendeiros da região, deixando crescer uma grande barba vitoriana! Também mandou instalar energia elétrica, porque viver sem luz também já era demais! Assim quando Paul queria escapar das pressões era para lá que ele ia embora. Com as melhorias Paul foi levando cada vez mais coisas para High Park. Ele instalou praticamente um estúdio de gravação por lá, uma sugestão de Linda. E foi nesse lugar bucólico, isolado e de paz, que Paul acabou gravando seu primeiro disco solo. Em "McCartney", o álbum, Paul fez tudo. Ele compôs as canções, tocou todos os instrumentos sozinho, gravou sua parte vocal e depois produziu as fitas. Foi um disco de um homem só. Paul tinha intenção de colocar o LP para venda logo no começo de 1970, mas como era de se prever em termos do selo Apple logo surgiram problemas. John Lennon parecia disposto a sabotar o disco de Paul. E ele tinha uma arma bem poderosa em suas mãos, o novo disco dos Beatles, "Let It Be". John arquitetou um plano para lançar o novo disco dos Beatles na mesma semana em que o novo disco de Paul fosse lançado. Sua intenção era acabar com Paul nas lojas, gerando uma concorrência pesada no mercado.

Quando soube disso Paul ficou indignado! Se aquilo acontecesse realmente suas vendas seriam baixas, pois os fãs certamente iriam escolher o disco dos Beatles ao invés do seu. Provavelmente essa deslealdade de John tenha sido o motivo que Paul estava esperando para processar todo mundo. Em poucos dias Paul abriu um processo contra a companhia de Allen Klein, o novo empresário dos Beatles, contra a Apple e contra os Beatles. Amigos desde quando eram adolescentes Paul agora processava John, George e Ringo. Isso abriu uma verdadeira caixa de Pandora e de repente todos eles estavam processando a si mesmos. "O fim dos Beatles foi uma situação do tipo 'eu processo você e você me processa!" - lamentaria Ringo anos depois. Não haveria mais volta depois de algo assim.

Derek Taylor, que trabalhou muitos anos com os Beatles, resumiu bem os bastidores do grupo: "Na Apple havia todo tipo de coisa, menos paz e amor". Era uma frase irônica, um sarcasmo, sobre a diferença entre a imagem pública dos Beatles e as brigas sem fim que caracterizavam o cotidiano dos integrantes da banda. Quando Paul McCartney saiu dos Beatles em 1970 a primeira coisa que ele fez foi fundar sua própria empresa, a MPL. A partir de então tudo o que se referia a sua carreira seria administrada única e exclusivamente por ele mesmo, sem a interferência de empresários ladrões e agentes corruptos. Paul havia aprendido muito com o desastre da Apple e usou aquilo como experiência profissional, algo que ele não queria mais repetir. Já John, George e Ringo cometeram um erro fatal. Com a saída de Paul eles resolveram dar mais poder ainda ao empresário Allen Klein! John Lennon queria provar um ponto de vista para Paul, a de que Klein era realmente o nome certo para os Beatles. O problema é que ele não era. Em pouco tempo começaram a surgir denúncias de mal gerenciamento de Klein sobre os direitos dos Beatles. Ele foi acusado pela imprensa americana de ter ficado com a maior parte dos lucros do lançamento do álbum "Let It Be" nos Estados Unidos. Além disso havia forte indícios de que Klein estava vendendo para o mercado negro gravações inéditas da banda. Em poucas palavras: ele estava roubando os Beatles!

Paul McCartney obviamente se sentiu gratificado com tudo. Ele havia dito que Klein não era o nome certo para gerenciar os negócios dos Beatles e isso basicamente criou a crise que o fez abandonar o conjunto. John Lennon assim pagou caro por ter comprado essa briga. Em 1973 John cansado das histórias mal explicadas de Klein finalmente o demitiu. Lennon acreditava que o contrato do empresário havia chegado ao final e por isso não queria mais renová-lo. Klein alegou quebra de contrato e abriu processos milionários contra John, George, Ringo e Paul. Em relação a McCartney ele conseguiu se livrar da ação, principalmente ao provar nos tribunais que jamais havia assinado um documento considerado crucial na causa. John porém não teve a mesma sorte. Ele assinava tudo o que Klein colocava em sua frente. Acabou perdendo milhões de dólares por causa disso. Já a empresa Apple, que os Beatles tinham fundado, continuou as atividades, embora a própria banda já não mais existisse. "Uma situação surreal!" - resumiu Neil Aspinall, que ficou à frente do selo após a explosão dos Beatles nos tribunais. A EMI porém não abriria mão do contrato que os Beatles havia assinado, cuja duração previa o lançamento de discos até 1975. A situação acabou sendo resolvida em acordos individuais, onde cada um membro da banda gravaria seus discos solos que iriam valer para o cumprimento do contrato. Era uma saída que acabou poupando os ex-Beatles de novos processos e novas dores de cabeça.

O fim dos Beatles significou também o fim da amizade entre John, Paul e George. Apenas Ringo procurou manter a velha aproximação com seus ex-colegas de banda. Paul e John ficaram anos sem se falar. Só depois que houve uma trégua nos processos judiciais é que John e Paul ensaiaram uma rápida reaproximação. Sempre que ia até Nova Iorque Paul fazia esforços para encontrar John, indo em seu apartamento, mas quase nunca era muito bem sucedido. John não queria ter a mesma amizade de antes. Ele mesmo chegou a declarar em entrevistas que após o fim dos anos de escola era natural deixar os antigos amigos de lado, caso contrário isso significaria que você ainda não havia conseguido sair da adolescência. A coisa de ter um bando, nas próprias palavras de John, havia chegado ao fim.

A relação entre John e George era ainda mais tensa. Embora eles tenham chegado a tocar juntos novamente, John nunca mais se sentiria à vontade ao lado de George. Para Lennon o ex-beatle tinha uma espécie de mágoa misturada com decepção em relação a ele, tudo porque segundo John, ele havia ido embora de casa (dos Beatles). George tinha uma relação de pupilo e mestre em relação a John desde o começo do grupo. Ele era muito mais jovem do que John e o líder dos Beatles nunca o havia levado muito à sério, mesmo após tantos anos. "George vivia atrás de mim, me admirando e procurando que eu o ensinasse algo sobre a vida! Eu não quero ser mestre de ninguém!" - declarou Lennon, resumindo a questão. Além disso o próprio John havia ficado decepcionado com a biografia de George que em sua visão havia propositalmente apagado sua influência e ajuda após anos de apoio e incentivo dentro dos Beatles. Para John, George não passava de um ingrato, um sujeitinho que não lhe deu o reconhecimento devido após o fim dos Beatles. Depois da separação John e George poucas vezes se viram pessoalmente. Geralmente George tentava entrar em contato com John, inclusive fazendo ligações para ele, mas John não tinha muita vontade de encontrá-lo novamente ou manter uma amizade próxima. John encarava George como o garoto que Paul havia trazido para os Beatles anos antes. Nada muito além disso.

E se John e George não se davam mais muito bem o pior acontecia entre George e Paul. Harrison criou uma antipatia e uma aversão absoluta em relação a McCartney. Em várias ocasiões ele declarou que jamais gostaria de trabalhar novamente ao lado de Paul. Claro que anos depois engoliria todas as suas opiniões ao voltar a tocar ao lado de Paul em "Anthology", mas isso em nada amenizou o fato dele nunca mais sentir prazer ao gravar ao lado do ex-companheiro dos tempos dos Beatles. Nesse meio de tantas inimizades, o único que conseguiu manter um companheirismo com todos foi realmente Ringo. Ele, sempre com espírito conciliador, acabou sendo o único elo de ligação real entre os Beatles. Todo o resto se transformou em raiva, mágoa, decepção e indiferença. Uma das coisas que Paul lamentaria após o fim dos Beatles foi a forma como ele tratou Ringo Starr quando esse o visitou em sua casa em Londres para convencê-lo a segurar o lançamento de seu primeiro disco solo até que o novo disco dos Beatles, "Let It Be" finalmente chegasse nas lojas. Nessa ocasião Paul tratou muito mal Ringo, o xingando de todos os palavrões possíveis, o expulsando de sua casa, quase a pontapés! Eles jamais brigaram daquele jeito, mesmo após tantos anos de convívio nos Beatles.

"Foi uma vergonha!" - admitiria Paul anos depois. Ringo estava na casa de Paul para tentar convencer ele que Klein era o melhor nome para se tornar o empresário dos Beatles. "Eu nunca vou aceitar ele!" - gritou Paul. É interessante que anos depois Paul tenha admitido em entrevista que naquela época sentiu-se numa situação clara de "Eu contra eles", o que não deixava de ser verdade, mas que também tinha um pouco de paranoia envolvida. Decidido a abandonar os Beatles, Paul escreveu uma longa carta para John Lennon, explicando sua visão do assunto. Ao invés de responder com outra longa carta, Lennon simplesmente mandou como resposta uma foto sua, com um balãozinho de quadrinhos onde ele perguntava: "Basta dizer, onde, como e porquê". Era o velho besteirol Lenniano que Paul conhecia muito bem, desde os tempos do colégio quando eles se conheceram. De fato, nos últimos dias dos Beatles houve uma clara divisão na banda, de um lado Paul, do outro John, George e Ringo. Obviamente os três quartos restantes dos Beatles eram comandados por Lennon, capitaneado por ele. Os Beatles estavam rachados.

Durante uma entrevista John Lennon finalmente resumiu a questão ao dizer as frases: "Os Beatles estão mortos! Viva os Beatles" e a mais conhecida lápide da história sobre o fim de uma banda: "O Sonho Acabou!". Na verdade John Lennon sabia que não haveria volta. Um empresário de Nova Iorque resolveu oferecer uma fortuna por apenas um show dos Beatles na cidade, no Madison Square Garden, mas Lennon desconsiderou completamente a questão. "Dane-se, os Beatles não existem mais. Eu não sou mais aquele cara de terninho com uma guitarra cantando para um bando de garotas gritando! Isso é bobagem! Hoje eu sou um outro homem. Os Beatles jamais vão voltar simplesmente porque eles não existem mais. Eu não tenho mais 20 anos de idade. Não seria legal trazer Elvis de volta aos seus primeiros anos? Seria, mas é impossível. Isso é passado, se conformem!" - concluiu de forma avassaladora John, com seu conhecido pragmatismo ácido.

Um fato pouco conhecido dos fãs dos Beatles é que nos últimos momentos da banda houve uma derradeira tentativa de salvar os Beatles. Aconselhado por Allen Klein, John Lennon resolveu fazer um último esforço para ressuscitar o grupo. Uma sessão de gravação foi marcada nos estúdios de Abbey Road. George e Ringo confirmaram sua presença. Então John ligou para Paul informando a sessão, dizendo: "Vamos gravar na sexta. Estaremos esperando por você!". Paul não confirmou nada, ficou em silêncio. No dia marcado todos os três Beatles compareceram. A intenção era gravar um novo single dos Beatles. Seria o primeiro lançamento deles após o lançamento do álbum "Let It Be". Com vinte minutos de atraso John adentrou o Abbey Road. Encontrou George e Ringo na sala de controle. George Martin também estava lá, mas Paul... jamais apareceu! Ringo ainda perguntou aos companheiros de grupo: "Paul não virá, vamos gravar alguma coisa ou não?". Certamente os Beatles poderiam seguir em frente sem Paul. Várias sessões nos últimos tempos tinham acontecido sem um ou até mesmo dois Beatles. Aquela porém era uma sessão diferente. Era uma tentativa de manter os Beatles unidos. Tudo fracassou.

John não ficou magoado com Paul, ficou com raiva! Poucos dias depois ele resolveu dar uma entrevista para uma famosa revista de música americana e então abriram-se as portas do inferno. John Lennon deixou sua imagem de pacifista de lado e como uma metralhadora giratória disparou para todos os lados. Acusou Paul de tudo. Disse que McCartney dominava os demais Beatles, que só suas músicas ganhavam destaque nos discos do grupo, que ele boicotava as composições dos demais colegas, que ele tratava George e Ringo como seus músicos de apoio, como empregados. Pior do que isso, perguntado sobre o primeiro disco solo de seu ex-companheiro, John foi taxativo: "O disco de Paul é um lixo!". Nem o prestativo George Martin escapou da ira de John. Ele ofendeu o talentoso maestro, que tanto havia feito pelos Beatles por todos aqueles anos. Martin jurou que nunca mais trabalharia ao lado de Lennon em sua vida. Paul respondeu dizendo que John havia sido um babaca na entrevista. Aliás John havia sido um babaca em inúmeras ocasiões. Paul queria recomeçar, sem os Beatles, sem a Apple, sem Yoko e principalmente sem Allen Klein. Em sua fazenda isolada na Escócia Paul também explicou que John jamais o havia perdoado pelo fato dele ter barrado a entrada de Yoko Ono nos Beatles. Isso mesmo, durante as gravações do "White Album", John havia pedido apoio de todos para que Yoko Ono se tornasse parte dos Beatles. Paul disse não e então uma guerra interna começou para valer entre eles. E esse clima de tensão entre os dois acabou explodindo de vez quando John deu a sua infame entrevista em Nova Iorque. Os tempos sombrios tinham finalmente chegado.

Para que a Apple pudesse sobreviver os Beatles tiveram que morrer. Um aspecto curioso sobre o fim do grupo de rock mais famoso do mundo é que a empresa criada e idealizada por John Lennon conseguiu sobreviver ao fim do conjunto pelo qual foi criada. Após a dissolução de fato dos Beatles eles começaram uma ciranda de processos que duraria praticamente toda a década de 1970. No centro de todos esses processos estava justamente e luta pelo poder dentro da Apple. Quando essa empresa foi bolada por John Lennon ele queria que esse novo selo musical fosse aberto a qualquer pessoa de talento. Não seria mais preciso implorar para gravar um disco ou fazer alguma gravação. A ideia de John foi realmente boa, só que ninguém quis colocá-la em prática. Nenhum dos Beatles (talvez com exceção de Paul) quis realmente se envolver no dia a dia na empresa, administrá-la e gerir a imensa soma de dinheiro que circulava em seus balancetes.

O descaso imperou durante longos anos na Apple, até que no final dos anos 70 todos estavam cansados de tantas brigas judiciais. Ao invés de liquidar a Apple, dando a cada um dos ex-Beatles sua fatia do bolo, acabou-se optando por algo mais racional. A Apple não seria mais extinta e fechada. Ao contrário disso o selo continuaria a administrar o legado dos Beatles, mesmo que eles estivessem separados. O interesse nos Beatles nunca cessou. Ao contrário do que muitos pensavam os anos só consolidaram ainda mais a obra da banda. Os discos foram sendo relançados ao longo dos anos, com excelentes resultados comerciais. CDs, filmes, especiais de TV, tudo ainda estava de pé. E para administrar tudo, lá estava a Apple novamente no centro das atenções.

A Apple nasceu bagunçada e desorganizada, com aquele velho sonho do flower power que jamais daria certo dentro de uma corporação. A partir dos anos 80 porém a empresa começou a ser bem administrada, com a nomeação de executivos de negócios para gerenciá-la, tudo resultando em ótimos resultados financeiros. Paul, Ringo, George e Yoko (que herdou a parte de John), continuaram sócios e donos da Apple. O bom senso, que nunca havia prevalecido na época dos Beatles, finalmente tomou conta de todos. Hoje em dia a Apple ainda mantém o controle sobre os lançamentos dos Beatles no mercado, provando que mesmo com todos os problemas conseguiu resistir ao teste do tempo. No final de tudo o desastre da Apple levou os Beatles ao seu fim, mas paradoxalmente coube à mesma empresa manter viva a chama do maior grupo de rock da história.

Pablo Aluísio.

domingo, 18 de dezembro de 2011

John Lennon, o Iconoclasta

Certa vez durante uma entrevista, em um raro momento de humildade (algo que convenhamos era raro em John) ele reconheceu que muitas vezes falava demais, além da conta. O entrevistador queria saber porque ele, John, sempre aparecia mais na imprensa do que seus colegas de banda. John explicou que ele falava demais e por isso havia a impressão de que ele era mais atuante que Paul, George e Ringo. Na verdade John não conseguia ver um microfone diante de si... em pouco tempo ele estava falando literalmente de tudo, do universo, das religiões e principalmente de política, algo que iria lhe trazer mais problemas do que soluções.

Certa vez vi uma entrevista de Paul McCartney dizendo que John muitas vezes se perdia e começava a falar bobagens em série. Era verdade. Sua frase "Os Beatles são mais populares do que Jesus Cristo" rendeu muitos problemas aos Beatles. Segundo explicou John depois que a confusão começou, ele apenas estava tentando explicar que para muitos jovens ingleses e americanos os Beatles tinha se tornado mais importantes em suas vidas do que as próprias religiões, o próprio cristianismo. Depois ele soltou a frase infeliz que iria surgir em manchetes pelo mundo afora. Muitos jovens, principalmente americanos batistas, promoveram grandes fogueiras para que outros jovens jogassem os discos dos Beatles nas chamas.

Inicialmente com pose de quem não estava nem aí para o que estava acontecendo, John teve que reconhecer que a coisa toda havia tomado proporções impensáveis. O novo single da banda não conseguia chegar mais ao primeiro lugar nos Estados Unidos e muitos analistas afirmaram que isso estava acontecendo simplesmente porque as rádios americanas estavam boicotando os Beatles. O empresário do grupo Brian Epstein então colocou John contra a parede - ele deveria ir a público explicar sua frase e principalmente se desculpar com os cristãos do mundo inteiro.

John assim o fez, mas as coisas nunca mais seriam como antes, essa é a verdade. Recuperar-se de algo assim não é uma coisa fácil de superar. Para piorar após a morte de Brian, John recomeçou as provocações contra o cristianismo. Na letra de "The Ballad of John And Yoko" ele usou um refrão claramente provocativo que dizia: "Do jeito que as coisas vão eles vão acabar me crucificando". E na carreira solo John se auto declarou ateu ao dizer numa de suas letras mais autorais de que não acreditava em Deus, nem em Elvis, nem nos Beatles, que ele só acreditaria mesmo nele mesmo e em Yoko. O curioso é que apesar do texto de sua própria letra John voltaria atrás de sua declaração ao dizer que "acreditava em uma força do universo" - uma forma dele reconhecer a existência de um criador. De uma maneira ou outra o Beatle jamais deixou de falar pelos cotovelos, mesmo a poucas semanas de sua morte. Além de falastrão John era também um iconoclasta, ou seja, tinha uma combinação explosiva dentro de si.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

John Lennon - Os primeiros discos dos Beatles

Esse primeiro álbum dos Beatles foi gravado em poucas horas. Na época a EMI deu uma chance ao grupo, mas esse teria que se virar rapidamente, em poucas horas de estúdio, para finalizar os trabalhos. Nesse aspecto os anos em que eles davam duro em Hamburgo, na Alemanha. Se apresentando todos os dias, em shows longos, eles criaram a prática necessária para tocar bem, em poucos takes.

O resultado ficou muito bom, diríamos até mesmo histórico. O próprio John Lennon, que sempre havia sido um crítico mordaz dos primeiros discos dos Beatles até mesmo fez um mea culpa nos anos 70, quando morava em Nova Iorque. Ele reconheceu que "Please, Please Me" era bom, embora poderia ser melhor em sua opinião, caso eles tivessem mais experiência.

Ouvindo o disco nos dias de hoje podemos perceber que a opinião de Lennon era até bem válida, por causa do avanço que os Beatles iriam desenvolver nos anos seguintes. Comparada com os discos da segunda fase do grupo, de fato "Please, Please Me" parecia bem simples, até primitivo. Afinal não se conseguiria gravar um álbum com mais consistência numa época em que eles eram apenas quatro jovens, ainda deslumbrados pela oportunidade que estavam tendo em gravar um disco de estúdio. Era algo que nem eles acreditavam que um dia iria acontecer.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

John Lennon - Imagine (1971)

John Lennon - Imagine
Algumas músicas definem toda a carreira de um artista. De certa forma é justamente isso que acontece com "Imagine", a música símbolo de John Lennon. De estrutura bem elaborada, a letra transmite com bastante êxito um resumo (diria até mesmo didático) do pensamento do ex beatle. Obviamente a mensagem do cantor e compositor pode soar simplista demais frente aos problemas da sociedade, porém temos que levar em conta que se trata da filosofia de um poeta, que não era (e para falar nem devia) tentar solucionar os conflitos da humanidade de forma analítica e pormenorizada. De forma sutil Lennon investe contra os Estados (e sua inerente necessidade de lutar pelas fronteiras nacionais), a religião (e seus eternos conflitos ideológicos e dogmáticos) e propõe uma espécie de sociedade livre de preconceitos e divisões. Escapismo poético vazio? Pode até ser, mas até que funciona bem, até mesmo nos dias atuais. Interessante notar que o arranjo funciona muito bem pois a canção foi gravada tal como composta (basicamente voz e piano - com o uso de bateria acrescida posteriormente, além de uma singela e discreta orquestração ao fundo que foi muito bem colocada não tirando a atenção do ouvinte da simplicidade da canção e arranjo). Sem dúvida um bom trabalho do produtor Phil Spector (curiosamente Yoko Ono também foi creditada como "produtora" do LP).

Embora "Imagine" tenha entrado para a cultura popular de forma definitiva o resto do disco não parece ter alcançado o mesmo alcance. "Imagine" é aquele tipo de álbum com uma faixa de trabalho extremamente superiora ao resto do conjunto. Um ícone pop seguido por coadjuvantes sem grande brilho próprio. Analisando friamente o resto do disco chegamos facilmente na conclusão que apenas "Jealous Guy" conseguiu se sobressair nas paradas e ser conhecida do grande público (embora hoje em bem menor escala). O resto das músicas não conseguiu abrir seu próprio espaço caindo em um (até injusto) esquecimento musical. O incrível é que o LP ficou muitos anos em catálogo (até mesmo no Brasil) mas isso definitivamente não ajudou na popularização das demais canções. Só a título de comparação podemos citar "Plastic Ono Band", um álbum bem menos popular, que conseguiu no mínimo destacar 3 faixas fortes (Mother, God e Working Class Hero) enquanto "Imagine", em seu conjunto, só conseguiu mesmo se sobressair em duas delas.

Dentre as faixas remanescentes podemos destacar algumas boas canções e outras nem tanto. Entre as ruins temos "I Don´t Wanna Be a Soldier" cuja letra tem sua importância mas que é infelizmente embalada por uma melodia enjoativa e derivativa que não leva à canção a lugar nenhum. Lennon aqui entra em um redemoinho melódico, se perdendo completamente dentro dele, não conseguindo sair mais. Por isso essa é certamente uma das músicas menos inspiradas do ex beatle em sua carreira solo. As baladas são bem melhores. "Oh My Love" é sinceramente bem conduzida e tem uma melodia linda, tudo resultando em um belo momento do disco. Um pouco menos relevante está "How?" que em certos momentos parece entrar numa encruzilhada melódica, embora felizmente tenha sido salva por causa de seu bom refrão. Yoko Ono também ganha sua música de homenagem, o countryzinho "Oh Yoko", simples mas agradável em sua pegada despretensiosa de contagiante felicidade. Nesse conjunto de coadjuvantes o grande erro de Lennon realmente é a faixa "How do You Sleep?", uma música feita exclusivamente para provocar e ofender seu ex colega de banda, Paul McCartney. Além de feia (e mal produzida) a música destoa completamente do tema proposto da faixa título, pois ao mesmo tempo em que prega a paz em "Imagine" Lennon solta farpas em relação ao ex parceiro nessa letra cheia de ressentimentos. Como conciliar tamanha contradição? Bom, entender isso é como tentar entender a personalidade de Lennon, algo nem sempre fácil de decifrar.

Imagine (John Lennon) - Certa vez Paul McCartney disse que John Lennon era um gênio, mas não um santo. Ele tinha toda a razão do mundo. John Lennon sabia como poucos escrever e compor grandes músicas, realmente maravilhosas, mas passava longe de ser uma alma pura, santificada. Em muitos momentos ele poderia soar completamente hipócrita. Veja o caso de "Imagine" considerada por muitos como a sua grande música na carreira após o fim dos Beatles. Em frases muito bem escritas John propõe um mundo sem fronteiras, sem propriedades e até mesmo sem religiões. Em determinado trecho John canta a frase "Imagine não existir posses, sem necessidade de ganância, Imagine todas as pessoas compartilhando...". Ok, nada de errado, tudo muito bonito a não ser pelo fato de que Lennon era proprietário de fazendas enormes nos Estados Unidos com centenas de milhares de cabeças de gado, onde o acesso de pessoas estranhas era completamente proibido. E o que dizer de seus vários apartamentos de luxo na parte mais cara de Nova Iorque? Não há nenhum sinal de que ele um dia os tenha compartilhado com ninguém, a não ser Yoko Ono e seu filho. "Imagine não existir nenhuma religião", afirma a letra em outro trecho. Ora, John foi fiel seguidor do Hinduísmo, depois se aproximou bastante do Budismo a ponto de se auto declarar Zen Budista em uma de suas últimas entrevistas. Suas frases contra o cristianismo também lhe trouxe muitos problemas, demonstrando que o próprio John Lennon tinha alguns problemas com as religiões dos outros. Assim soa mais do que uma hipocrisia em falar algo nesse sentido e ao mesmo tempo usar do sentimento religioso das demais pessoas para atacá-las de alguma maneira. Além de contraditório é certamente uma grande hipocrisia. Mesmo assim a canção "Imagine" ainda é um belo momento de sua carreira. Embora em muitos aspectos ele fosse realmente um grande hipócrita o fato é que John continuava muito talentoso para compor letras e melodias maravilhosas. Como disse Paul ele poderia não ser um santo (e não era mesmo), mas pelo menos continuava a ser um gênio musical.

Crippled Inside (John Lennon) - "Crippled Inside" (literalmente "Aleijado por Dentro") cria uma imagem sobre a auto percepção de se estar emocionalmente abalado, doente da alma. Claro que nos dias atuais o uso da palavra "Crippled" (aleijado) iria despertar muitos protestos, por causa do mundo politicamente correto em que vivemos. Porém na época em que a música chegou no mercado isso não foi colocado em debate. Eu gosto bastante desses versos. São simples, diretos, possuem uma mensagem fácil de captar, até mesmo por quem não tem uma visão muito abstrata da vida sentimental. Basicamente Lennon afirma que não importa as diversas máscaras exteriores que você tente usar para esconder o que está sentindo por dentro, pois elas nunca vão funcionar. Não adiantaria assim colocar sua melhor roupa, usar seus melhores sapatos, arrumar seu cabelo, estampar o mais falso sorriso, nada disso iria importar no final das contas. Nada iria esconder o fato de que você estaria aleijado por dentro, em seu interior. John costumava dizer que não era um poeta com formação intelectual, pois não tinha estudado para isso. No fundo ele era apenas um artista popular que expressava da melhor forma possível aquilo que pensava e sentia. Essa canção, com sua mensagem sendo bem direta, é um exemplo perfeito do que ele quis dizer. John tinha realmente razão sobre isso.

Jealous Guy (John Lennon) - "Jealous Guy" chegou a ser lançada em single e de certo modo conseguiu uma boa resposta por parte de público e crítica. É interessante notar que Lennon, nessa fase solo de sua carreira, começou a escrever obsessivamente sobre si mesmo, seu mundo e seus relacionamentos. Obviamente ele estava perdidamente apaixonado pela artista plástica Yoko Ono e de certa forma ela acabou se tornando o tema principal de praticamente todas as suas composições. Musicalmente, em termos de arranjo, as músicas de Lennon em sua carreira solo eram econômicas. Nada dos arranjos bem elaborados da época dos Beatles. Afinal nem George Martin e nem Paul McCartney estavam ao seu lado para enriquecer melodicamente as gravações. Era um som mais cru. Assim o interessante é mesmo prestar atenção nas letras, todas, como disse, autorais. "Jealous Guy" é um grande pedido de desculpas para Yoko. Eles tiveram uma briga, John foi acusado de ser um cara ciumento e assim ele, reconhecendo seu erro, escreveu essa letra. A mensagem é bem direta, sem rodeios

It's So Hard (John Lennon) - Por fim a última canção do álbum composta por John foi a confessional "It's So Hard". Essa música trazia outra declaração bem pessoal do cantor, mostrando suas dificuldades de seguir em frente. Na época John tinha muitos problemas, o governo americano queria deportá-lo, a imprensa o ridicularizava, ele tinha conflitos com Yoko Ono e a Apple, a empresa dos Beatles, que deveria ser um sopro de vitalidade no mundo empresarial, tinha se tornado uma fonte de dores de cabeça, com muitos processos na justiça, desvios de dinheiro, histórias mal contadas e brigas pelo controle acionário. Tudo acabou sendo resumido na primeira estrofe da letra quando John escreveu: "Você tem que viver. Você tem que amar. Você tem que ser alguém. Você tem que se superar. Mas é tão difícil, é realmente difícil. Às vezes eu sinto vontade de desistir."

Don't Wanna Be A Soldier Mama I Don't Wanna Die (John Lennon) - Para não ficar tão feio para John, mais à frente no álbum ele encaixou a canção " I Don't Wanna Be A Soldier Mama, I Don't Wanna Die" cuja letra era clara e direta, como convinha a John na época. A música intitulada "Eu não quero ser um soldado, mãe, eu não quero morrer" era obviamente uma mensagem contra a Guerra do Vietnã que na época estava no auge, com milhares de militares americanos sendo enviados para as florestas asiáticas para morrerem em uma guerra que nem eles mesmos entendiam direito. O curioso é que inicialmente bem recebida pela crítica americana logo começaram as represálias contra John. O governo de Richard Nixon considerou a música uma clara ofensa aos valores patrióticos da nação. John, por ser inglês e não ter ainda o green card (que lhe daria a nacionalidade norte-americana) logo virou alvo de um processo de deportação. Era considerado uma persona non grata pelo governo Nixon. Parte da imprensa americana também se virou contra ele, chegando ao ponto de eleger Lennon "O Palhaço do Ano". Como tinha o espírito de brigar por aquilo que acreditava logo Lennon comprou a briga, dando origem a uma luta que durou anos para ter o direito de viver e morar nos Estados Unidos.

Give me Some Truth (John Lennon) - Já em "Give me Some Truth" John pedia um pouco de verdade. Não era novidade para ninguém que John estava farto das mentiras dos políticos, da imprensa, dos ricos e poderosos. Assim ele compôs essa canção pedindo, na verdade clamando, por um pouco de verdade no mundo. O estilo era novamente bem direto, sem meias palavras. Chamando os políticos de suínos, Lennon destroçava o poder de manipulação da verdade dentro da sociedade. Essa é uma das letras mais polêmicas de John em "Imagine", Nos versos finais ele não apenas pede pela verdade, mas também por dinheiro para comprar drogas e uma corda! (uma óbvia referência ao suicídio). Não é a toa que Kurt Cobain do Nirvana considerava essa letra uma das melhores de Lennon em sua discografia solo. Essa porém não foi a opinião da crítica inglesa da época de lançamento do disco. Para muitos Lennon havia ido longe demais... Mal sabiam eles o que estaria por vir nos anos seguintes...

Oh My Love (John Lennon) - Como era de praxe também não faltou outra exaltação a Yoko Ono em "Oh My Love". É curioso que havia uma dualidade bem escondida ao público em relação ao relacionamento entre John e Yoko. Para o público, em canções como essa, John passava a imagem de estar vivendo o maior amor romântico do século. Não era verdade. O caso amoroso entre ele e Yoko tinha muitos problemas. Tantos que poucos meses depois da gravação de canções como essa, Yoko simplesmente deixou John. Foi dar um tempo. Não aguentava mais o estilo de vida dele, sua personalidade irascível e seus comportamentos doentios (como o abuso de drogas como a famigerada heroína).

How Do You Sleep? (John Lennon) - John Lennon era um sujeito bem contraditório. No mesmo álbum em que ele lançou o clássico da paz "Imagine" ele resolveu incluir uma canção que de pacífica não tinha nada. "How Do You Sleep?" havia sido composta para afrontar e agredir seu ex-companheiro dos Beatles, Paul McCartney. Ambos estavam se processando, o clima não era bom, John e Paul trocavam farpas pela imprensa e assim Lennon resolveu destroçar o antigo colega em uma canção que tinha apenas um objetivo: falar mal de Paul. "How Do You Sleep?" é apenas isso. Uma longa e agressiva indireta (ou melhor dizendo, direta mesmo) mensagem contra Paul McCartney. E o lado que John resolveu atacar foi o profissional. Entre outras coisas Lennon colocou em sua letra que a única coisa boa que Paul havia feito em sua carreira musical havia sido a canção "Yesterday". Obviamente um absurdo e uma mentira, mas John não quis saber, partiu para o ataque, deixando sua mensagem de "Imagine" no vácuo! Afinal como alguém poderia pregar tanto pacifismo em uma faixa para depois destruir seu próprio amigo e companheiro de banda? No mínimo uma contradição.

How? (John Lennon) - Finalizando a análise do álbum "Imagine" de John Lennon vamos tecer alguns comentários sobre as demais canções do disco. Como se sabe Lennon quis com esse lançamento voltar a ser um artista comercialmente bem sucedido. Seus primeiros LPs venderam mal e a crítica também não gostou muito. Assim John queria provar para a indústria fonográfica que ele ainda podia ser um artista de sucesso. Mesmo tentando voltar ao topo John também não abriu mão de continuar sendo bem autoral e sincero nas letras. Em "How?" ele aproveitou para desfilar uma série de questionamento existenciais que tinha em sua mente. A letra abre justamente com uma indagação sobre os próprios rumos de sua vida. De forma aberta John perguntava: "Como eu posso seguir em frente quando não sei que caminho escolher?"

Oh Yoko! (John Lennon) - O álbum "Imagine" segue em frente com a faixa "Oh Yoko!". Bom, desnecessário comentar muito. O título é auto explicativo. É mais uma música feita em homenagem à diva suprema de Lennon, Yoko Ono. Esse romance não foi dos mais tranquilos. A imprensa britânica não gostava de Yoko que para eles era apenas mais uma japonesa esquisita e bizarra. Lennon, que era bom de briga, também comprou um atrito com jornalistas ingleses, defendendo Yoko sempre que possível. E assim foi também em seus álbuns. Uma das críticas que jornais ingleses tinham feito em relação a John é que ele se mostrava muito submisso e dependente de Yoko após se apaixonar por ela. Assim John fez uma letra que era ao mesmo tempo uma afirmação sobre isso e uma auto paródia. Nela John surge sempre chamando Yoko, não importando o que estivesse fazendo: no banho, fazendo a barba, no meio de uma nuvem, ele sempre chamaria por Yoko! Pois é...

Pablo Aluísio.