sábado, 3 de junho de 2017

A Cabana

Esse filme tem um roteiro bem diferente. Com uma mensagem de espiritualidade (mais até do que de religiosidade), essa produção conta a história de um pai de família que se vê diante de uma grande tragédia em sua vida, quando sua pequena filha é sequestrada e morta por um serial killer pedófilo. Ele obviamente fica arrasado depois disso. Devastado também espiritualmente, ele se pergunta como Deus, sendo bom, onipresente e onipotente, deixa que atrocidades como essa aconteçam. Tentando superar esse trauma ele então decide ir sozinho até a cabana remota e isolada onde sua filha foi assassinada e lá acaba tendo uma experiência fora do comum. Para gostar desse filme o espectador vai ter que criar uma cumplicidade e tanto, mesmo se for uma pessoa bem religiosa. Isso acontece porque o próprio Deus é um dos personagens. Ele se revela ao pai da garotinha morta na imagem de uma mulher negra, interpretada pela talentosa Octavia Spencer. Seu objetivo é tentar explicar porque sendo todo poderoso deixou que um crime daqueles fosse cometido. O mais curioso de tudo é que Ele não está só. Jesus e o espírito santo também se revelam nas figuras de um jovem rapaz (o único que se aproxima um pouquinho da imagem do Jesus histórico) e uma jovem com traços orientais que representa o espírito santo em pessoa. A trindade se faz presente não apenas como metáfora espiritual ou teológica, mas como personagens reais, que interagem com o protagonista.

Nunca assisti nada igual a esse filme. A trindade sendo representada como personagens, como pessoas reais, é certamente algo original. O problema é que apesar de todas as belas intenções do roteiro o que podemos perceber é que teologicamente o texto é bem fraco. A mensagem de perdão e esperança até que é muito bem-vinda, porém a pergunta principal do protagonista (Por que Deus deixa que o mal exista?) não é muito bem respondida do ponto de vista teológico. O roteiro procura ter uma postura não alinhada às religiões tradicionais, sendo mais espiritualista, mas falha mesmo ao tentar responder uma questão tão crucial. Não é assim um filme para todos os públicos e nem esgota as questões filosóficas e de teologia que propõe. No final das contas não vai resolver a equação de natureza divina que ousou levantar. Isso é algo que inegavelmente fica pelo meio do caminho...

A Cabana (The Shack, Estados Unidos, 2017) Direção: Stuart Hazeldine / Roteiro: John Fusco, Andrew Lanham / Elenco: Sam Worthington, Octavia Spencer, Tim McGraw, Megan Charpentier, Alice Braga / Sinopse: Pai de família arrasado emocionalmente depois do assassinato de sua filha tem uma experiência surreal ao se encontrar com a própria trindade divina (pai, filho e espírito santo) na mesma cabana onde a criança foi morta por um assassino em série.

Pablo Aluísio.

6 comentários:

  1. Avaliação:
    Direção: ★★★
    Elenco: ★★★
    Produção: ★★★
    Roteiro: ★★★
    Cotação Geral: ★★★
    Nota Geral: 7.2

    Cotações:
    ★★★★★ Excelente
    ★★★★ Muito Bom
    ★★★ Bom
    ★★ Regular
    ★ Ruim

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  2. Um simples filme por mais bem intencionado que seja não consegue responder essa pergunta por um motivo muito simples: essas tragédias não tem nada a ver com Deus, mas com vida em si que é verdadeira, poderosa, simples e não está a disposição das nossas necessidades pessoais, por mais urgentes e importantes que essas necessidades possam parecer.

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  3. Partindo do pressuposto que Deus deu o livre arbítrio para todos os homens e partindo também do fato de que os homens podem escolher praticar o mal... teremos em conclusão o mal no mundo. Eu responderia exatamente assim a esse questionamento.

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  4. A Cabana tem um roteiro, no mínimo, insólito. A questão central que vai nos colocar contra a parede diz respeito à missão principal do mestre Jesus: O perdão. O livro, como sempre, é melhor.O problema é que quando se leva para as telonas temas religiosos, o diretor caminha sozinho, em areia movediça. A Imprensa em sua maioria olha enviesada com seu olhar frio e ateu. O longa não chega a decepcionar, mas tem hocra que (quase) descamba para a comédia. Como novidade é uma boa surpresa que quebra paradigmas e cria um certo desconforto nos mais puristas.

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  5. Perfeita sua colocação Telmo. Nem sempre o que funciona na literatura vai funcionar no cinema. Duas linguagens que embora complementares não são iguais. A mensagem principal desse texto é o perdão. Isso me lembrou imediatamente da parte do evangelho em que um dos apóstolos pergunta a Jesus quantas vezes devemos perdoar ao próximo. Jesus respondeu que setenta vezes sete, ou seja, devemos sempre perdoar. Nesse ponto o roteiro (e o livro) foram bem felizes. É um enredo de perdão e de superação, acima de tudo.

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  6. Sim, Pablo. O perdão é o fio condutor deste drama, até mais que o crime brutal em si.

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