Revolver é um disco fenomenal. O primeiro trabalho realmente revolucionário do conjunto britânico, o LP abriu portas no mundo da música que nunca mais foram fechadas. Seu resultado foi tão extraordinário na época que nem os próprios Beatles acreditavam que um dia iriam conseguir superá-lo. De repente os quatro rapazes de Liverpool mostravam ao mundo que o Rock não era apenas um gênero musical bobo falando sobre namoricos, corações adolescentes partidos e versinhos de caderno. O rock poderia se transformar em grande arte e seguramente Revolver foi o primeiro grande trabalho da história do Rock a atravessar essa fronteira.
Tirando poucos momentos medianos do ponto de vista artístico (como Yellow Submarine e I Want To Tell You) Revolver traz uma série incrível de sonoridades diversificadas que se traduzem em canções antológicas. Taxman, que abre o disco, é uma parceria entre Lennon e Harrison (só creditada ao segundo) que mostra claramente o rompimento do grupo com seu antigo som. Paul McCartney apresenta duas músicas maravilhosas, a melancólica e linda Eleanor Rigby e For No One, que apesar de subestimada é até hoje uma das melodias mais bonitas da carreira dos Beatles (e isso meu amigo não é pouca coisa); O velho Macca ainda nos brinda com a deliciosa Got to Get You Into My Life, canção cheia de charme e suingue bebendo diretamente da fonte da herança musical negra americana, estilo Motown e cia. Seu legado no disco termina com Here, There and Everywhere. Canção excepcionalmente bem escrita e arranjada resultando num momento simplesmente irretocável.
Embora McCartney tenha sido genial nesse disco com suas ternas melodias o legado mais revolucionário do álbum pertence mesmo a John Lennon. Desde a primeira faixa Lenniana, I´m Only Sleeping, com escala musical incomum, John deixa claro que veio para testar os limites do Rock na época. Sua She Said, She Said é uma pedrada no formato convencional (e careta) que predominava na música da década de 60. Dr. Robert, por sua vez, é um manifesto com referências ao movimento psicodélico que nascia naquele momento e Good Day Sunshine, com sua linha saudosista, vinha para satirizar com muito bom humor o comodismo da classe média e seus valores quadrados. Mas foi com Tomorrow Never Knows que Lennon realmente chutou o balde. Essa canção pode ser considerada, sem a menor hesitação, como uma das mais influentes do rock mundial moderno.
Não existe sequer uma única banda da atualidade que não beba de sua fonte maravilhosamente enlouquecida e sem freios. Tomorrow Never Knows até hoje soa extraordinariamente criativa, imaginativa e acima de tudo revolucionária. Não importa qual seja a sua banda favorita e nem a época, de Radiohead a Oasis, nenhum grupo conseguiu sequer chegar aos pés dessa doce alucinação. Não há como duvidar, Lennon realmente era um gênio musical. Revolver retrata o momento em que os Beatles romperam com tudo o que se fazia na época, inclusive com seu próprio modelo, que definitivamente a partir desse momento era deixado para trás. Apenas pela coragem de romper tabus musicais Revolver já teria garantido seu lugar na história da música do século XX, mas o álbum é muito mais do que isso, é uma obra simplesmente indispensável para se entender a arte de nosso tempo.
"Revolver" foi um disco essencial para os Beatles porque eles descobriram que certos limites poderiam ser rompidos. Até aquele momento a indústria da música limitava muito o que poderia ou não fazer parte de um álbum de uma banda tão comercial como os Beatles. E de certa forma eles se mantiveram dentro dessas linhas até aquele momento.
Os Beatles tinham contratos a cumprir com a EMI e como sempre quem reunia todos era Paul McCartney. Era ele quem ligava para os demais Beatles para informar o dia em que haveria gravação no Abbey Road Studios. Paul não deixava a bola cair, tanto que ele já chegou no primeiro dia de gravação com pelo menos três grandes canções, baladas que tinham sido bem trabalhadas por ele em seu pequeno estúdio caseiro que mantinha em Londres. "For No One", "Here, There and Everywhere" e "Eleanor Rigby" estavam praticamente prontas, embora Paul quisesse ainda trabalhar melhor nos arranjos deles ao lado de George Martin.
Esse tipo de situação criava uma certa tensão, principalmente em relação a John Lennon, que se via diante de um trabalho maravilhoso de Paul. Canções lindas, com excelentes melodias, enquanto ele não tinha praticamente nada a mostrar, apenas alguns esboços inacabados. Esse tipo de desnível em termos de produção fez com que Paul passasse a liderar os Beatles, algo que criava um certo ressentimento e mágoa em John, que se considerava o verdadeiro líder da banda e o seu fundador.
As canções de John eram bem pessoais, retratando aspectos do que aconteciam em sua vida naquele momento. Ele disponibilizou para o disco músicas como "I'm Only Sleeping", "She Said She Said", "Doctor Robert" e principalmente "Tomorrow Never Knows" que naquele momento era apenas uma ideia, algo a ser criado coletivamente ao lado de Paul e George Martin. Conforme confidenciaria anos depois John também compôs grande parte de "Taxman" ao lado de George Harrison, mas resolveu deixar os créditos apenas para ele. Assim já havia quase dez músicas para gravação, um bom número que já justificava o começo dos trabalhos.
The Beatles - Revolver
Lado A
1. "Taxman"
2. "Eleanor Rigby"
3. "I'm Only Sleeping"
4. "Love You To"
5. "Here, There and Everywhere"
6. "Yellow Submarine"
7. "She Said She Said"
Lado B
1. "Good Day Sunshine"
2. "And Your Bird Can Sing"
3. "For No One"
4. "Doctor Robert"
5. "I Want to Tell You"
6. "Got to Get You into My Life"
7. "Tomorrow Never Knows"
Pablo Aluísio.
Avaliação:
ResponderExcluirProdução: ★★★★
Arranjos: ★★★★
Letras: ★★★★
Direção de Arte: ★★★★
Cotação Geral: ★★★★
Nota Geral: 8.7
Cotações:
★★★★★ Excelente
★★★★ Muito Bom
★★★ Bom
★★ Regular
★ Ruim