sábado, 19 de novembro de 2011

Paul McCartney - McCartney

Esse foi o primeiro disco solo de Paul McCartney. Os Beatles estavam chegando ao fim e Paul usou esse material quase como um teste de mercado. Na verdade ele tinha certo receio de como seria sua carreira dali para frente. Havia muitas dúvidas e algumas delas soam absurdas hoje em dia. Por exemplo, Paul tinha certa dúvida se ele seria comercialmente viável sozinho. O que todos perguntavam é se Paul poderia dar certo como artista solo. Certo que nos Beatles ele havia sido simplesmente genial mas daria certo sem John, George e Ringo? Será que um disco inteiro apenas com Paul não se tornaria cansativo? Ele teria pique para segurar a onda durante um disco solo? Claro que hoje em dia todas essas perguntas soam sem propósito mas em 1970 elas pareciam bem reais e fortes. Esse primeiro disco de Paul ainda saiu pelo selo Apple. Havia muitos problemas contratuais, processos voando para todos os lados e McCartney lutava para sair das garras de Allen Klein, o desonesto empresário dos Beatles.

O resultado é um trabalho apenas mediano. Paul na verdade não deu 100% de si na gravação desse disco mas sim o jogou no mercado americano e inglês para sentir como seria a reação. No meio da confusão do fim dos Beatles o álbum acabou ganhando uma bela promoção grátis na imprensa e como todos queriam ouvir o primeiro disco solo de Paul McCartney ele acabou fazendo um grande sucesso de vendas. O problema é que também sofreu críticas que incomodaram Paul. Alguns especialistas disseram que o disco, apesar de algumas belas melodias, ainda soava muito cru e sem capricho! Era verdade. McCartney absorveu bem essas críticas e decidiu que era hora de montar uma nova banda de rock, afinal ele se sentia desconfortável de trabalhar sozinho. Para quem sempre havia pertencido a um conjunto isso era mais do que natural. Assim nasceu a ideia que iria germinar e dar origem aos Wings. Mas antes disso vamos tecer alguns comentários sobre as canções do álbum "McCartney" de 1970:

The Lovely Linda (Paul McCartney) - A carreira solo de Paul McCartney começa com essa baladinha em homenagem a Linda McCartney. A letra é tão simplória quanto a melodia, bem, diríamos, bucólica. Paul termina a canção com uma risadinha, bem no espírito descontraído de todas as faixas desse álbum. Despretensiosa sim, mas bem cativante.

That Would Be Something (Paul McCartney) - Essa é bem mais trabalhada, com ótima instrumentação. Paul obviamente toca todos os instrumentos. A canção começa com um belo dueto entre guitarra, baixo e violão. Ótimo arranjo. Só depois a batera entra mas mesmo assim bem timidamente. Perceba que a letra é mero pretexto para acompanhar a melodia. Paul aqui não se importou nem um pouco com o conteúdo da letra, preferindo se concentrar no arranjo.

Valentine Day (Paul McCartney) - Aqui temos uma faixa completamente instrumental. Paul faz experimentos, com destaque para os belos solos de guitarra que vai desenvolvendo ao longo da faixa. Tudo soa como mera improvisação. De certa forma a gravação parece mais uma jam session, uma forma de Paul conferir como ficaria a mixagem de todos os instrumentos depois que ele gravasse tudo separado. Curiosamente a faixa acaba de forma bem abrupta, tal como começara!

Every Night (Paul McCartney) - A primeira boa canção do disco. Aqui temos realmente Paul se empenhando em trazer mais uma daquelas baladas que tanto sucesso fizeram em seus anos como Beatle. A canção tem um maravilhoso refrão, altamente pegajoso, diga-se de passagem (tente apagar da mente, por exemplo, o "Ooh-ooh-ooh-ooh-ooh-ooh" para sentir como é complicado!). Na letra Paul diz que não quer saber de mais nada na vida a não ser ficar ao lado de sua amada a cada noite. Bonito!

Hot as Sun / Glasses (Paul McCartney) - O ritmo desse medley me lembra velhas canções escocesas do século XIX. É outra faixa instrumental totalmente baseada na linha melódica principal, formada de apenas algumas notas - para você entender como Paul era genial em suas composições. Além dos instrumentos de rotina Paul injeta um velho órgão em solos que dão a identidade à canção. Já "Glasses" tem uma linha de letra, sendo que seu arranjo me lembrou imediatamente de algumas gravações do Pink Floyd, o que mostra que Paul andava antenado com o que estava acontecendo na época.

Junk (Paul McCartney) - Uma das preferidas do próprio Paul. Essa ele queria gravar com os Beatles mas criminosamente a canção ficou fora dos registros da banda. Há uma gravação inclusive feita por Paul McCartney nos estúdios Abbey Road. O problema é que havia tantas canções geniais rodando durante as gravações dos discos dos Beatles que até obras primas como essa ficavam de fora. Como bem disse John Lennon o espaço de um LP era muito pequeno para tantos gênios musicais reunidos como os Beatles! Faltaria espaço certamente. Sem dúvida uma faixa maravilhosa.

Man We Was Lonely (Paul McCartney) - Outra preciosidade. Quando gravou esse álbum Paul disse que o tinha gravado para depois tocar no toca-fitas de seu carro, nada mais do que isso. Por isso tudo era tão despretensioso. Bom, após ouvir essa música pinta uma dúvida sobre se isso era de fato verdade. A gravação é ótima, muito bem arranjada e executada, com a ajudinha de Linda McCartney nos vocais de apoio. Paul também duplicou sua voz. O resultado é ótimo, uma gravação completamente profissional, nada amadora como Paul queria fazer crer!

Oo You (Paul McCartney) - Outra jam, bem experimental, diga-se de passagem. A guitarra surge forte, solando e duelando com outra mais ao fundo, um grande trabalho, principalmente para quem tocou todos os instrumentos sozinho (imagine a dor de cabeça para sincronizar tudo isso depois na sala de edição!). Nesse disco em particular Paul parece muito sedento em tocar vários solos de guitarra - estaria ele compensando os anos de Beatles quando tinha que dividir esse tipo de coisa com o colega George Harrison? É bem possível...

Momma Miss America (Paul McCartney) - Outra instrumental. É um rock com uma linha de melodia mais presente. Uma forma de Paul agitar um pouco as coisas no disco para que ele não ficasse muito cheio de baladinhas - coisa que faria John Lennon certamente pegar em seu pé! Outra faixa que traz um belo solo de guitarra Les Paul Gibson by Paul McCartney. Apesar de alguns pequenos espaços em branco considero uma bela gravação. Quatro minutos do mais puro rock ´n´ roll!

Teddy Boy (Paul McCartney) - Outra que quase entra no disco "Abbey Road" mas que foi deixada de lado por John Lennon que considerou a letra muito bobinha. De certa forma ele tinha uma boa dose de razão. A estorinha do garoto Ted parece ser um pouco forçada. No final a música foi salva pela ótima melodia e pelo arranjo primoroso escrito por Paul (embora eu particularmente implique um pouco com os vocais de apoio).

Singalong Junk (Paul McCartney) - A melodia é a mesma de "Junk", só que aqui imensamente melhor trabalhada. É outra faixa completamente instrumental. Paul a gravou pensando em lançar "Junk" como lado A de um single, com essa faixa vindo no lado B (algo bem comum na época). O arranjo aqui é fabuloso mesmo, muito rico e lindamente escrito. Para relaxar a mente do stress do dia a dia.

Maybe I'm Amazed (Paul McCartney) - O grande clássico do álbum. Essa Paul não deixaria para trás como as demais faixas do disco, a levando para seus grandes shows! Certamente um momento essencial nessa fase de sua carreira. Seu arranjo de piano e os vocais ora viscerais, ora ternos, além de um maravilhoso solo de guitarra, torna essa uma das melhores gravações de Paul McCartney em sua carreira. Obra Prima, sem a menor sombra de dúvidas.

Kreen-Akrore (Paul McCartney) - Para quem acha que Paul McCartney nunca gravou rock progressivo na carreira. Ora, basta ouvir essa faixa para entender do que se trata - Paul mandando ver no progressivo mesmo, com clara influência do Pink Floyd de cabo a rabo da gravação. Na época o registro passou despercebido, imagine você! Por essa e outras costumo dizer que se os Beatles tivessem levado a carreira em frente, eles teriam grandes chances de abraçar o progressivo, que queiram ou não, iria dominar as grandes bandas de rock dos anos 70. Era algo, em minha forma de ver, inevitável. O psicodelismo seria deixado de lado e os Beatles iriam certamente entrar em uma disputa com grupos como o Pink Floyd!

Pablo Aluísio.

Um comentário:

  1. Avaliação:
    Produção: ★★★
    Arranjos: ★★★
    Letras: ★★★
    Direção de Arte: ★★★
    Cotação Geral: ★★★
    Nota Geral: 7.3

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