domingo, 13 de novembro de 2011

John Lennon - Sometime In New York City

"Sometime in New York City" é o álbum mais político de toda a carreira de John Lennon. Vários de suas faixas possuem nítida posição política e social de eventos que aconteciam ao redor da vida do ex beatle em Nova Iorque. Em toda a sua vida Lennon nunca foi um homem de ficar em cima do muro, sendo que na maioria das ocasiões tomava partido pelo que entendia correto, muitas vezes agindo mais com a emoção do que propriamente com a razão, adotando em diversos momentos certas posições que hoje podem ser consideradas radicais. Esse disco é um exemplo perfeito disso. Além dos vários problemas envolvendo a presença de Lennon nos EUA, suas divergências com o governo Nixon, o álbum ainda traz a tentativa de Lennon em defender certas causas, como por exemplo a legalização da maconha, a denúncia da brutalidade policial e repressiva contra detentos do presídio de Attica e a delicada situação envolvendo a Irlanda e a Inglaterra.

A primeira posição pode ser encontrada na música "John Sinclair". Os jovens hoje podem se perguntar quem é o cidadão citado no título da música. John Sinclair foi um poeta americano que foi preso por porte de maconha nos anos 70. Sua prisão causou indignação em certos setores que defendiam a legalização da cannabis sativa. Lennon acabou abraçando a causa, protestando contra sua prisão. O fato que chocou a todos na época foi que a simples posse de dois cigarros de maconha havia rendido ao poeta a pena de dez anos de prisão. Obviamente uma punição desproporcional. Lennon imediatamente protestou através de entrevistas, textos e finalmente incluindo a faixa no disco. Outra posição bem nítida de Lennon em Sometime foi a inclusão da canção "Attica State", um panfleto contra o massacre ocorrido na prisão de Attica onde quase quarenta prisioneiros foram mortos após uma violenta rebelião. Lennon sentiu-se incomodado com a situação e escreveu a canção em forma de protesto. Ironicamente anos depois seu próprio assassino, Mark Chapman, viria a cumprir pena no mesmo sistema penitenciário! Ironia do destino? Pode ser. Os irlandeses também não foram esquecidos e Lennon fez questão de se posicionar sobre o conflito, ficando curiosamente ao lado da Irlanda, indo em confronto direto contra a própria política repressiva de seu país de origem, a Inglaterra. Uma posição política que estava correta, como foi comprovado depois ao longo dos anos.

Deixando todas essas questões de lado o importante sobre o LP é também avaliar suas qualidades musicais. Eu particularmente considero "Sometime in New York City," apesar de todas as suas boas intenções, um trabalho pouco coeso do ex beatle. O disco não conseguiu se destacar bem nas paradas (talvez por ser político demais, em excesso) e tampouco conseguiu produzir grandes hits na carreira solo do cantor e compositor. De fato, apenas "Woman Is the Nigger Of The World" conseguiu maior projeção e mesmo assim porque contou com a máquina promocional de sua gravadora à todo vapor. O resto das faixas caíram em um incrível estado de limbo, inclusive algumas de forma bastante injusta como o bom rock "New York City" que trazia pela primeira vez em muitos anos um bom gancho roqueiro por parte de Lennon (que após a separação dos Beatles havia nitidamente escolhido investir mais em boas baladas do que em bons rocks de seu passado glorioso ao lado do grupo inglês). Em conclusão pode se assim afirmar que "Sometime in New York City" contribuiu muito mais para a faceta política de Lennon do que sua faceta musical e artística. Essa, sem a menor sombra de dúvidas, ficou em segundo plano aqui nessa obra.

John Lennon - Sometime In New York City

Woman Is the Nigger Of The World
Sisters O Sisters
Attica State
Born In A Prison
New York City
Sunday Bloody Sunday
The Luck Of The Irish
John Sinclair
Angela
We're All Water
Cold Turkey
Don't Worry Kyoko
Well (Baby Please Don't Go)

Pablo Aluísio.

3 comentários:

  1. "Cold Turkey" foi a que teve mais projeção, com certeza!!!

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  2. A versão de Cold Turkey presente aqui é ao vivo - a versão original foi lançada em single em 1969 e não fez parte das canções de estúdio do LP. Essa versão ao vivo do disco aqui analisado não se destacou nas paradas na época.

    Um abraço,
    Pablo Aluísio.

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  3. Avaliação:
    Produção: ★★★
    Arranjos: ★★★
    Letras: ★★★
    Direção de Arte: ★★★
    Cotação Geral: ★★★
    Nota Geral: 7.7

    Cotações:
    ★★★★★ Excelente
    ★★★★ Muito Bom
    ★★★ Bom
    ★★ Regular
    ★ Ruim

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