sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Paul McCartney - Tug of War (1982)

Paul McCartney - Tug of War (1982)
Após a separação dos Beatles, Paul McCartney resolveu formar seu próprio grupo musical. Assim ele reuniu o músico Denny Laine e sua esposa Linda McCartney e fundou o Wings. Paul passaria praticamente toda a década de 70 promovendo o conjunto mas no começo dos anos 80 resolveu encerrar suas atividades. A partir daí ele próprio assinaria seus discos, assumindo definitivamente uma carreira solo. Tug Of War seria assim seu próximo projeto estritamente pessoal desde McCartney II em 1980. Porém ao contrário desse primeiro disco nos anos 80, que foi extremamente experimental, Paul iria desenvolver um disco bem mais produzido e feito para fazer bonito nas paradas. Para tanto chamou o produtor dos Beatles, George Martin, para conduzir as gravações. Paul tinha claras ambições de voltar a reconduzir sua carreira para o caminho do grande sucesso. Com Martin ao seu lado, Paul conseguiu produzir aquele que, muito provavelmente, foi seu melhor trabalho musical nos anos 80, Tug Of War. Além da presença marcante de George Martin, Paul resolveu escalar um grupo de excelentes músicos para lhe acompanhar no projeto. Assim ele convidou Steve Wonder para participar (e dividir a autoria) em dois belos momentos do disco: What's That You're Doing? e Ebony and Ivory, essa última lançada em single de grande sucesso. Para homenagear suas raízes musicais trouxe o lendário cantor da Sun Records, Carl Perkins e com ele gravou uma das faixas mais deliciosas de Tug Of War, Get It. Stanley Clarke, famoso músico de jazz também se uniu ao grupo que ficou completo com a participação muito especial do ex-Beatle Ringo Starr. Como o disco foi gravado meses após a trágica morte de John Lennon, Paul resolveu homenagear seu antigo amigo e parceiro musical na linda faixa Here Today. A faixa título traria uma temática que seria depois desenvolvida no próximo trabalho de McCartney, Pipes Of Peace, e Ballroom Dancing se tornaria uma das mais conhecidas (e dançantes) faixas de toda a carreira de McCartney. Completando o LP, Paul ainda emplacou aquela que está entre algumas de suas mais bonitas melodias, Wanderlust. Em suma o disco é ótimo em qualquer aspecto que se analise. Com ele Paul foi logo aclamado pela crítica e pelo público, fazendo com que o álbum logo se tornasse o mais vendido nas principais paradas musicais do mundo, como a Billboard e a NME (em ambas Tug Of War chegaria ao primeiro lugar). Esse grande sucesso comercial acabou colocando Paul em contato com Michael Jackson, que naquele mesmo ano desenvolvia seu fenomenal disco Thriller. Paul até mesmo participaria do disco do astro na faixa The Girl Is Mine e no ano seguinte lançaria um single ao lado de Michael, Say, Say, Say, mas essa é uma outra história...

Tug of War (Paul McCartney) - Linda canção tema desse que considero um dos grandes discos da carreira solo de Sir Paul McCartney. Aqui temos mais um exemplo do grande trabalho de arranjo e orquestra por parte do maestro George Martin. É interessante notar que Paul continuou a trabalhar com ele após o fim dos Beatles. Isso trouxe muita qualidade para os trabalhos solos do cantor, ao contrário de John Lennon, por exemplo, cujos discos gravados após o final dos Beatles sempre foram criticados por causa dos arranjos simples, sem muita sofisticação. A falta de George Martin era sempre realçada e lembrada quando qualquer novo álbum do ex-beatle chegava nas lojas. A melodia de "Tug of War" é até simples. Embora seja uma faixa onde a parte orquestral é sentida desde o primeiro segundo, o fato é que Martin e Paul chegaram na conclusão que sua simplicidade - como o inicial acompanhamento de violão, onde foi composta - deveria ser mantida. Em cima disso toda a orquestral seria construída, sem nunca porém se sobressair ao seu refrão singelo, diria até naturalista. A letra também é destaque porque é aberta a todo tipo de interpretação. Estaria Paul falando de um cabo de guerra dentro de um relacionamento, onde o casal acaba se vendo em uma disputa por poder e controle, ou ao contrário Paul estaria se referindo a um aspecto maior, envolvendo toda a sociedade humana como um todo? Ambas as formas de entender a canção são válidas. Em suma, mais uma bela composição do gênio Paul, sempre surpreendendo a cada novo álbum.

Take It Away (Paul McCartney) - Muito bem. Dando sequência aos textos sobre esse excelente disco de Paul McCartney (desde sempre um dos meus preferidos em sua discografia), vamos tecer alguns comentários sobre essa canção "Take It Away". Como era praxe nos álbuns de Paul durante os anos 80, ele sempre escolhia duas ou três músicas que se tornariam os "cavalos de batalha" do disco, ou melhor dizendo, as canções de trabalho, como se diz no Brasil. Eram as músicas que deveriam fazer sucessos nas rádios, puxando as vendas do álbum. Também como era comum desde o começo, Paul lançava essas faixas, que ele acreditava ter mais potencial para o sucesso nas rádios, em singles. Tudo acompanhado de um bom clipe musical para ser exibido na TV e isso, percebam bem, antes do surgimento do canal MTV, que era em seu começo especializado na exibição desse tipo de vídeo promocional, algo que foi muito difundido por Michael Jackson justamente a partir dessa época, no comecinho dos anos 80. Por falar em clip esse era quase uma paródia dos próprios Beatles. Paul aparecia ao lado de seu grupo musical (Ringo, Linda e George Martin!) como se fossem membros de um conjunto bem no começo da carreira. Depois surge um empresário (interpretado pelo ator John Hurt) que os eleva para o sucesso máximo. Claro que tudo de forma bem rápida e instantânea. Esse clip é curioso por algumas coisas, entre elas o fato de que visualmente tudo é muito colorido, plastificado, como era comum nos anos 80. Já o single (com "I'll Give You a Ring" no lado B), lançado em junho de 1982, conseguiu alcançar o Top 10 da parada de sucessos da revista Billboard, se tornando assim o primeiro grande hit do álbum, demonstrando o grande potencial comercial do disco que acabaria se transformando em um grande sucesso de vendas.

Somebody Who Cares (Paul McCartney) - "Somebody Who Cares"é uma balada ao estilo voz e violão que conquista o ouvinte por causa de sua simplicidade. Poderia ter sido gravada pelos Beatles em sua primeira fase. Não há maior sofisticação em seu arranjo e talvez essa seja sua principal qualidade. A vocalização é ao estilo Wings, inclusive com Linda McCartney no coro. Paul ainda inseriu um instrumento não muito comum em seus discos, a flauta doce, que aparece em determinado momento da canção. O destaque instrumental porém vai para o violão - tocado pelo próprio Paul que depois explicaria que havia composto a música na praia, quando estava passando férias nas Bahamas. Por isso a simplicidade de um luau. O resultado é dos melhores, sem dúvida.

What's That You're Doing? (Paul McCartney) - Já "What's That You're Doing?" tem a marca característica do som da Motown. Também pudera, essa é uma parceria - tanto na composição como no vocais, entre Paul McCartney e Stevie Wonder, o garoto maravilha da Motown. Para falar a verdade essa canção é, se pudesse dizer em termos percentuais, oitenta por cento Stevie Wonder e apenas vinte por cento Paul McCartney. A batida, o arranjo, a letra, tudo nos remete aos discos de Wonder. Curioso perceber como Paul abriu mão de sua sempre conhecida força dentro dos estúdios em prol do convidado Stevie Wonder. Em termos gerais ele virou coadjuvante em seu próprio disco, vejam só! No geral é uma ótima faixa, extremamente bem gravada (o velho perfeccionismo de Paul se fez presente de novo), porém com as portas abertas para que Wonder deitasse e rolasse em seus próprios termos. Poucas vezes em sua carreira Paul abriu tanto espaço para outro artista como aqui. Ele o faria de novo, com Michael Jackson, no disco que viria, mas essa é obviamente uma outra história.

Here Today (Paul McCartney) - A morte de John Lennon foi um choque em todo o mundo. Agora imagine para Paul McCartney que foi seu amigo mais próximo desde quando era apenas um mero adolescente em Liverpool. É verdade que o fim dos Beatles abalou muito a amizade entre ambos. Houve até processos judiciais entre eles, principalmente envolvendo a gravadora e empresa Apple, que foi um desastre comercial de proporções épicas. Eles não eram homens de negócios, mas músicos e quando tudo deu errado começou o jogo de culpas, um culpando o outro pelo fracasso. Coisas ásperas foram ditas e John e Paul ficaram anos sem se falar - nem por telefone! Segundo o próprio Paul meses antes de John morrer eles voltaram a se falar e as velhas mágoas pareciam superadas. Paul ligava constantemente para John em Nova Iorque e chegou a visitá-lo em seu apartamento na cidade. Enfim, não era mais a bela amizade da juventude, mas havia uma pequena luz de aproximação entre eles. E então quando as coisas começavam a melhorar veio o desastre. John Lennon foi assassinado brutalmente por um louco na frente do Dakota. A ficha para Paul demorou a cair e só dois anos depois, no maravilhoso álbum "Tug Of War" ele resolveu homenagear o velho amigo de banda. Assim foi escrita "Here Today", uma canção simples, de arranjo bem modesto, quase violão e voz, mas que trazia um grande sentimento em sua melodia e letra. Um dos mais belos momentos da carreira solo de Paul McCartney e uma canção à altura da genialidade musical de seu parceiro de longos anos.

Ballroom Dancing (Paul McCartney) - Algumas coisas são bem interessantes na obra solo de Paul. Ele sempre disse que tinha atração muito especial pela década de 1920 e sua sonoridade. Isso foi uma herança de seu pai que também era músico e chegou a ter um grupo vocal no passado. Assim Paul acabou desenvolvendo uma grande cultura musical, passada principalmente por James McCartney, o seu velho. É até divertido o depoimento do pai de Paul recordando da primeira vez que ouviu os Beatles em sua própria casa. Na época o grupo era na verdade apenas um bando de adolescentes que não acertavam muitas notas e não tinham qualquer tipo de experiência. Anos depois James diria: "Eles eram completamente horríveis, mas com o tempo fui percebendo que eles melhoraram muito. Um dia cheguei em casa e tive uma surpresa ao ver como estavam bons com seus instrumentos". Com a morte da mãe de Paul, ainda muito jovem, e com seu pai trabalhando o dia todo fora, a casa de Paul acabou virando o primeiro "estúdio" de ensaio dos jovens Beatles. Pois bem, em 1982 Paul resolveu gravar esse sua antiga composição, "Ballroom Dancing", que lembrava justamente os anos 20. Essa foi uma das faixas que mais exigiram a atenção de Paul dentro do álbum "Tug of War". Uma pequena orquestra foi contratada para dar a sonoridade de uma velha banda de bailes. Ao lado do produtor e amigo George Martin (sim, o gênio por trás dos melhores discos dos Beatles), Paul escreveu um dos melhores arranjos de sua carreira solo. A letra era completamente nostálgica, louvando o clima e a musicalidade dos grandes bailes de salão e dança da velha Inglaterra. Paul sempre teve um carinho muito especial por essa gravação, a tal ponto que a usaria novamente (com nova gravação em estúdio) para usar na trilha sonora de "Give My Regards to Broad Street", dois anos depois. Em termos técnicos não há o que criticar. É realmente um trabalho primoroso.

The Pound Is Sinking (Paul McCartney) - Bom, se você ainda tinha dúvida sobre o fato de Paul McCartney ser um excelente e astuto homem de negócios, que tal ouvir essa faixa fora do comum do disco "Tug of War"? Embora o ritmo e a melodia sejam bem no estilo de Paul, sua letra é completamente surreal e incomum. Na verdade até hoje não sei aonde McCartney estava com a cabeça quando escreveu esses versos. Vou além, se formos prestar bem a atenção notaremos que provavelmente a canção seja a fusão de duas músicas diferentes, com duas letras bem diversas. Na primeira estrofe Paul faz um joguete com as principais moedas do mundo (Libra esterlina britânica, Marco alemão e o Dólar americano, entre outras). Em tempos pré-União europeia, Paul parece se divertir em sair nomeando todas elas em uma canção, mostrando a oscilação do mercado mobiliário de valores (não disse que ele era um business man?... pois é...). Depois dessa introdução singular Paul começa a tecer pensamentos sobre um relacionamento em crise. Inicialmente ele começa a relembrar o passado com quem está falando. Os anos que se foram voltam à tona. Então, seguindo em frente, o bom e velho Paul conclui tudo o que tenta dizer usando uma máxima do Darwinismo social que diz: "Apenas os fortes sobrevivem"! Depois disso, sem maiores explicações, fecha a canção de maneira um pouco precipitada! Fez muito sentido para você? Estranho realmente. A conclusão que chegamos é que Sir Paul McCartney quis fazer uma analogia entre o mundo do capitalismo e o mundo dos relacionamentos e sentimentos humanos. O resultado ficou apenas surreal e diferente (bem diferente!). O melhor mesmo dessa canção é sua melodia. George Martin criou efeitos parecidos com a de moedas caindo ao chão em sua introdução. Depois entra a harmonia. O arranjo ora é simples (com violão despojado), ora lembra os melhores rocks da fase Wings. Uma montanha russa melódica que sempre gostei bastante. Paul que sempre foi um compositor realmente criativo demonstra nessa faixa que não há limites para quem procura sempre por algo mais inovador.

Wanderlust (Paul McCartney) - Em poucas palavras: adoro "Wanderlust", Aliás é uma das minhas preferidas nesse disco. Eu gosto de dizer que Paul McCartney foi um dos mais brilhantes compositores de baladas de todos os tempos. Quando ele se viu distante das críticas e amarras de John Lennon, que sempre estava falando mal de suas canções de amor, as coisas ficaram ainda melhores. Provavelmente se ainda tivesse nos Beatles Paul seria soterrado por ironias ácidas por parte de John se aparecesse no estúdio com uma música como "Wanderlust", mas como esse tempo já havia passado, John já estava morto e ele já se considerava seguro de si em sua carreira solo não houve maiores problemas em gravar essa faixa. Além da boa letra (nada demais, porém evocativa), a canção ainda se sobressaiu pelo ótimo arranjo. Paul sempre afirmou em entrevistas que suas canções soavam diferentes, se compostas no piano ou no violão. Para compor as músicas do álbum "Tug of War" Paul mandou instalar um belo piano de calda em sua casa de praia nas Bahamas. Uma foto desse lugar inclusive aparece na capa interna do vinil original lançado em 1982 (pois é, eu ainda tenho uma cópia até hoje!). Como as músicas foram criadas em sua grande maioria nesse piano podemos perceber claramente sua riqueza em termos de melodia e escala. "Wanderlust" assim se tornou mais uma bela balada da discografia de Paul, tão boa que ele resolveu gravar uma outra versão para aparecer na trilha sonora do filme "Give My Regards to Broad Street", quatro anos depois de sua gravação original. Em suma, temos aqui outro ponto alto desse LP que é realmente um dos melhores da discografia solo do genial ex-Beatle. Excelente mesmo.

Get It (Paul McCartney) - Uma das melhores faixas desse álbum "Tug of War" de Paul McCartney é essa canção chamada "Get It" que ele gravou em dueto com o cantor e compositor Carl Perkins. Paul, como todos sabemos, sempre foi um fã declarado da geração de inigualáveis roqueiros que surgiram na pequenina gravadora Sun Records de Sam Phillips em Memphis. Foi nesse estúdio acanhado e quase amador que gravaram pela primeira vez verdadeiros gênios e ícones da primeira geração do rock americano como Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Johnny Cash e, é claro, Carl Perkins. Esse ídolo da Sun foi inclusive o autor de um dos maiores hits da carreira de Elvis, "Blue Suede Shoes". Assim quando pintou a chance em 1982 para Paul trabalhar com Perkins ele não deixou a oportunidade passar em branco. Paul queria acima de tudo homenagear esse seu verdadeiro ídolo de sua juventude. Ao aceitar cantar com Paul, esse logo organizou a viagem de Perkins para a Inglaterra, pois Paul queria que ele gravasse no lendário estúdio Abbey Road ao lado de George Martin, o famoso produtor dos Beatles, que também estava trabalhando com Paul em "Tug of War" e que também tinha grande vontade de trabalhar ao lado de Perkins. O resultado foi inesquecível. O curioso de tudo é que Paul resolveu fazer uma gravação bem acústica, onde ouvimos praticamente apenas ele e Perkins tocando seus respectivos violões. Nada de sofisticado ou muito super produzido. Em entrevistas Paul explicou que queria recriar um pouquinho a sonoridade da Sun Records, onde todos aqueles seus ídolos do passado estiveram. Assim nada de orquestrações ou coisas do tipo. Apenas voz, violão e muita descontração. Inclusive o próprio Paul resolveu deixar na edição final do disco uma gostosa risada de Perkins que ele deu logo após o fim da gravação. Não poderia terminar melhor esse dueto realmente histórico. Foi a única vez que Paul McCartney e Carl Perkins trabalharam juntos pois o grande rockstar da Sun Records morreria poucos anos depois, com apenas 65 anos de idade. Uma grande perda para a história do rock certamente. Seu ótimo dueto com Paul porém sempre será eterno no repertório desse excelente disco.

Be What You See (Link) / Dress Me Up as a Robber (Paul McCartney) - Sempre associei muito "Dress Me Up As A Robber" à fase Wings de Paul. Apesar de tecnicamente "Tug Of War" ser um álbum solo de Paul, quando ele definitivamente já tinha abandonado a ideia do grupo Wings, o fato é que velhas composições daquela época que Paul ainda não havia gravado vieram à tona novamente. Essa faixa deveria ter entrado em "McCartney II", mas Paul sabiamente quis deixá-la fora daquele disco, caracterizado pela som mais fora do comum, experimental. No meio de tantas "maluquices" não convinha enfiar uma canção como essa, que tinha um sabor de balada antiga. Já que "Dress Me Up As A Robber" tinha uma linha melódica mais tradicional, Paul resolveu que iria trabalhar melhor na canção depois. Quando voltou aos estúdios para trabalhar ao lado de George Martin em "Tug of War" Paul chegou na conclusão que havia chegado a hora de trabalhar melhor a música. Ele trouxe a composição para Martin em Abbey Road e ambos começaram a discutir seu arranjo. O resultado mais uma vez se mostrou excelente. Curiosamente a gravação começa com uma guitarra forte, solada. Depois ela ganha um balanço bem agradável, puro swing, com Paul vocalizando como se estivesse em um disco de sua banda Wings. Esse tipo de melodia me lembra também dos discos de Marvin Gaye da época, por volta do começo dos anos 1980. George Martin criou um arranjo soul, intercalado com um belo solo de violão ao estilo ibérico. Nada mal. Depois Paul faz contra-voz de sua própria vocalização. E assim como começa, as guitarras vão pontuando toda a música, preparando o terreno para o grande sucesso comercial do disco, a ótima "Ebony and Ivory". A dupla McCartney & Martin pelo visto ainda funcionava extremamente bem.

Ebony and Ivory (Paul McCartney) - O grande sucesso nas rádios do álbum "Tug of War" de 1982 foi a canção "Ebony And Ivory". Seu single foi um dos grandes campeões de vendas naquele ano, sucesso que inclusive se repetiu no Brasil. Quando Paul resolveu deixar de lado o projeto do grupo Wings ele decidiu que iria se lançar apenas como artista solo, sem a necessidade de dividir a autoria e o nome de seus álbuns com um conjunto. Depois de mais de dez anos do fim dos Beatles, Paul finalmente parecia pronto para se assumir como um cantor e compositor solo. Isso porém não significaria que ele iria trabalhar sozinho pelo resto de sua carreira. Uma boa ideia seria convidar outros astros para cantar e tocar ao seu lado. Um dos primeiros convidados foi o cantor Stevie Wonder. Paul admirava seu trabalho desde os tempos em que Wonder era apenas um jovem contratado do selo Motown. Com o passar dos anos sua admiração só aumentou. Quando os Wings acabaram, Paul decidiu convidar Stevie para ir até Londres, trabalhar lado a lado em seu novo disco. Inicialmente eles tinham planejado a gravação de duas faixas, sendo "Ebony And Ivory" a primeira delas. O tema da letra é bem óbvio, uma analogia entre as teclas de um piano (onde vivem em harmonia teclas brancas e negras) e a própria sociedade, onde homens brancos e negros também poderiam viver em paz, sem conflitos raciais. A letra poderia até parecer um pouco pueril demais, mas obviamente foi salva por suas boas intenções. Também se sobressai a linda harmonia composta por Paul McCartney, um verdadeiro gênio nesse tipo de balada. Enfim, um ótimo momento da discografia do mais talentoso ex-beatle.

Tug Of War - Paul McCartney / Data de gravação: Outubro de 1980 a Setembro de 1981 / Local de Gravação: Abbey Road Studios, Londres / Produtor: George Martin / Músicos: Paul McCartney (vocais, violão, guitarra, piano), Steve Wonder (vocais, teclados), Denny Laine (guitarra), Eric Stewart (guitarra), Ringo Starr (bateria), George Martin (piano), Linda McCartney (órgão), Stanley Clark (baixo), Carl Perkins (violão), Adrian Shepard (bateria).

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de dezembro de 2017

Filmes no Cinema - Edição XVII

Aos poucos, ainda muito lentamente, os cinemas vão retomando suas programações. Conforme a vacinação for avançando a tendência é a normalização das estreias e sessões regulares. Nessa semana teremos a estreia de apenas dois filmes no Brasil. "Dente por Dente" é uma produção nacional que conta a história de um sócio que descobre que seu parceiro de negócios está envolvido em um perigoso esquema do crime organizado. O filme é dirigido pela dupla Júlio Taubkin e Pedro Arantes e conta no elenco com Paolla Oliveira, Juliano Cazarré e Paulo Tiefenthaler. A outra estreia da semana é uma produção europeia chamada "Minha Irmã". A talentosa atriz Nina Hoss interpreta a esposa de um professor que decide voltar para sua cidade natal para ajudar seu irmão que foi diagnosticado com leucemia. Com direção de duas cineastas (Véronique Reymond e Stéphanie Chuat), esse drama europeu ainda traz no elenco Lars Eidinger e Marthe Keller.

E entre os filmes em cartaz se destacam algumas produções. "Mulher-Maravilha 1984" continua em exibição na maioria das salas de cinema no Brasil. O filme não teve boa recepção nem da crítica e nem do público. A diretora Patty Jenkins foi bastante criticada por trazer um filme com roteiro sem foco e considerado até mal realizado por muitos que o assistiram. Até os fãs de quadrinhos reclamaram bastante. O filme também não convenceu nas bilheterias, faturando apenas 37 milhões de dólares dentro do mercado americano. No mercado internacional foi bem melhor, chegando perto dos 150 milhões. Porém mesmo com esses números o filme ainda não conseguiu se pagar.

"Legado Explosivo", dirigido por Mark Williams, traz novamente o ator Liam Neeson como herói de filmes de ação (sim, ele não desiste!). O filme havia sido colocado em toque de espera até o fim da pandemia, mas como essa ainda não acabou, o estúdio, para evitar maiores prejuízos finaneiros, decidiu lançar nos cinemas mesmo no meio dessa crise que o mundo vive. E como era de esperar a bilheteria foi pequena, com pouco mais de 14 milhões arrecadados dentro do mercado americano e 30 milhões no mercado internacional. Essa produção vai tentar recuperar seu investimento dentro do mercado de streaming.

Outra produção que segue em cartaz nos cinemas brasileiro é o dark e sombrio "Pinóquio". Dirigido pelo cineasta Matteo Garrone, esse filme passa longe da animação infantil da Walt Disney e procura encontrar um caminho mais de acordo com o conto original, que tinha passagens completamente fora da curva, com momentos até mesmo assustadores. Não é recomendado para crianças. Em breve irei publicar resenha em nosso blog.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

A Primeira Noite de um Homem

Esse filme é considerado um dos grandes clássicos do cinema americano dos anos 1960. Curiosamente levei algum tempo para assistir. Eu me lembro que esse filme foi lançado no Brasil nos tempos do VHS pela Globo Vídeo. Vira e mexe o via na prateleira da locadora, mas nunca cheguei a assistir na época. Só mais recentemente finalmente conferi. A história do filme é até bem conhecida dos cinéfilos (e o sugestivo título em português ajuda a entender melhor do que se trata). Tudo começa quando Benjamin (Dustin Hoffman) finalmente se forma na universidade. Com canudo na mão é a hora de pensar no futuro! O que fazer da vida? Bom, Benjamin não tem a menor ideia do rumo a seguir, essa é a verdade. Enquanto ele não faz plano nenhum (e passa mico nas mãos de seus pais que são pessoas sem muita noção), acaba sendo seduzido por uma mulher mais madura e sensual, a Senhora Robinson (Anne Bancroft).

Ela pede carona a Ben e quando chega em casa literalmente parte para o ataque. Sem muita sutileza, sem muita perda de tempo. Simplesmente abre o jogo e tenta levar o jovem para a cama. Claro que ele declina e fica nervoso, ainda mais quando o marido dela chega em casa. Só que sendo um homem, bom, você já sabe, logo sucumbe à tentação, por mais errado que seja levar aquela mulher para a cama. Ele não perde muito tempo e logo liga para a senhora Robinson para um encontro em um hotel da cidade. E depois daí começam todos os seus problemas, que definitivamente não serão poucos. Uma coisa que chama a atenção nesse filme é sua narrativa, que de certa forma procura imitar a falta de jeito do protagonista, um sujeito que parece sempre estar meio constrangido, até mesmo um pouco atrapalhado. A trilha sonora - ainda uma das grandes qualidades dessa produção - é toda da dupla Simon & Garfunkel e a não ser que você não conheça absolutamente nada de música dos anos 60, vai imediatamente assoviar todas as melodias. "Mrs. Robinson" e "The Sounds of Silence" são grandes sucessos da dupla. Ainda hoje verdadeiros hinos daquela geração.

O filme é muito simpático e tem um roteiro muito coeso, diria até bem inovador para aquela época. Afinal tratar da infidelidade de uma mulher madura com um fedelho recém saído da universidade era algo até bem surpreendente, pois mexia com tabus que até hoje se fazem presentes na sociedade. O único deslize do roteiro é a cena final, que de certa maneira revive velhos clichês das fitas românticas da velha Hollywood. Isso porém não chega a ser um problema pois quando o filme chega nessa parte final o jogo já está ganho. O espectador já se divertiu o bastante e gostou de todo o desenvolvimento da história. Então é isso. Um excelente momento do cinema folk americano, com um Dustin Hoffman bem novinho, passando por alguns apertos por ter se relacionado com a senhora Robinson!

A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, Estados Undos, 1967) Direção: Mike Nichols / Roteiro: Calder Willingham, Buck Henry/ Elenco: Dustin Hoffman, Anne Bancroft, Katharine Ross / Sinopse: Benjamin (Hoffman) é um jovem recém formado na universidade que volta para a casa dos pais sem saber direito o que fará de sua vida dali em diante. Após um jantar ele atende o pedido da esposa do sócio de seu pai, a senhora Robinson (Bancroft), para levá-la para casa. Uma vez lá ela o seduz, de forma direta, algo que vai trazer muitos problemas para Ben! Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Direção (Mike Nichols). Também vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Ator (Dustin Hoffman), Melhor Atriz Coadjuvante (Katharine Ross), Melhor Direção (Mike Nichols), Melhor Atriz (Anne Bancroft) e Melhor Filme - Comédia ou Musical.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Maria Antonieta

Título no Brasil: Maria Antonieta
Título Original: Marie Antoinette
Ano de Produção: 1938
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: W.S. Van Dyke
Roteiro: Claudine West, Donald Ogden Stewart
Elenco: Norma Shearer, Tyrone Power, John Barrymore
  
Sinopse:
Marie Antoinette (1755-1793) é uma jovem princesa austríaca que é enviada para a França para se casar com o herdeiro do trono, Louis XVI. O casamento arranjado pelas duas monarquias logo se revela problemático por causa da personalidade infantil e boba do jovem príncipe francês. Para Marie Antoinette porém tudo é válido, até porque ela se tornará em breve a nova rainha da França, um dos títulos de nobreza mais cobiçados da Europa de seu tempo. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Atriz (Norma Shearer), Melhor Ator Coadjuvante (Robert Morley), Melhor Direção de Arte e Melhor Música (Herbert Stothart).

Comentários:
Drama histórico que foca a atenção na rainha Maria Antonieta (interpretada aqui pela bonita e talentosa atriz Norma Shearer, que inclusive foi indicada ao Oscar). A produção é luxuosa, com lindo figurino e filmagens realizadas no próprio Chateau de Versailles. Tecnicamente se trata de um filme irrepreensível. Também é muito instrutivo por mostrar a vida daquela foi a última rainha da França, em seu tempo absolutista. Maria Antonieta, como todos sabemos, foi decapitada pelos revolucionários franceses, em um banho de sangue irracional e violento. Ela foi acusada de crimes que nunca cometeu, além de ter sido alvo de uma verdadeira campanha de difamação promovida por publicações anônimas que inventavam mentiras sobre ela. De bom é interessante saber que o roteiro não deu voz a esse tipo de mentiras, como àquela que dizia que ela teria dito: "Se não tem pão, que se dê brioches ao povo" - algo que ela nunca disse. Um boato para destruir sua imagem pública. Curiosamente o elenco não traz nenhuma grande estrela de Hollywood, com exceção talvez do galã Tyrone Power no papel do conde Axel de Fersen. John Barrymore e sua figura imponente como o monarca Louis XV também ajudam bastante no resultado final. Então é isso, um filme bonito, bem produzido. Vale como entretenimento com ares românticos, acima de tudo.

Pablo Aluísio.

A Viúva Negra

Título no Brasil: A Viúva Negra
Título Original: Black Widow
Ano de Produção: 1954
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Nunnally Johnson
Roteiro: Nunnally Johnson, Hugh Wheeler
Elenco: Ginger Rogers, Van Heflin, Gene Tierney, Peggy Ann Garner
  
Sinopse:
Nancy 'Nanny' Ordway (Peggy Ann Garner) é uma garota do interior que decide se mudar para Nova Iorque com o sonho de se tornar escritora de sucesso. Os primeiros meses na grande cidade porém não parecem muito animadores. Sem dinheiro ela acaba aceitando a oferta de se tornar garçonete. Sua ambição porém continua intacta. Durante um jantar ela acaba conhecendo casualmente o produtor de teatro Peter Denver (Van Heflin). O que começa como uma simples amizade para ele acaba se revestindo de tragédia em seu próprio apartamento.

Comentários:
Bom filme que explora o lado mais sórdido e ambicioso de seus personagens. O enredo se desenvolve basicamente em cima da suposta amizade entre um homem mais velho, veterano produtor da Broadway, e uma garota muitos anos mais jovem do que ele que sonha se tornar escritora. Depois de uma aproximação casual ambos se tornam amigos e Peter Denver (Heflin) lhe concede uma gentileza. Ela reclama que mora em um pequeno cafofo sem qualquer luxo, o que de certa forma inibe sua inspiração ao escrever. Como Peter passa o dia todo fora trabalhando ele lhe oferece seu maravilhoso apartamento para que ela possa escrever seus livros durante à tarde, fitando pela janela o arborizado Central Park e toda a beleza da cidade de Nova Iorque. Como sua esposa está em outra cidade, cuidando de sua mãe, Peter não vê maiores problemas sobre isso. O problema é que tragicamente a garota é encontrada enforcada em seu próprio quarto! Depois desse evento sinistro sua vida vira do avesso pois a polícia começa a formar a convicção de que ele estaria envolvido romanticamente com a jovem e que a teria assassinado após sofrer algum tipo de chantagem! Teria Peter alguma coisa mesmo a ver com a tragédia? O roteiro é muito bem armado e aos poucos a solução do caso vai sendo tecendo na tela. Curiosamente apesar de lidar com morte, traição e interesse, os personagens estão sempre impecavelmente bem vestidos, com toda a elegância típica dos moradores da cidade. A estrela Ginger Rogers lidera o elenco, mas seu personagem é coadjuvante, uma atriz veterana que se diverte soltando farpas de maldades para todos os seus convidados. Para apreciadores de moda em geral a produção também chama a atenção por causa dos luxuosos figurinos em cena. Com direção enxuta, eficiente e segura e boa trama de mistério, o filme realmente é uma boa pedida para os fãs de cinema que gostam de desvendar intrigados casos policiais. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Os Desgraçados não Choram

Clássico noir estrelado pela atriz Joan Crawford. Ela interpreta uma dona de casa, mãe de um garoto de seis anos, que é atropelado enquanto andava de bicicleta. A morte do menino faz com que ela repense sua vida. Seu casamento vai mal, o marido é um tipo rude, grosseiro e miserável. Assim depois da morte do menino nada mais a segura nessa união falida. Ela dá um basta e vai para Nova Iorque. Na nova cidade ela começa a trabalhar como balconista. As coisas começam a dar certo e em pouco tempo ela faz novas amizades. Só que entre seus novos conhecidos se encontram membros da máfia.

Em pouco tempo ela se infiltra dentro da organização criminosa e é enviada para a costa oeste, com a finalidade de descobrir se um gângster que toma conta de um cassino na Califórnia está roubando os chefes da quadrilha. Essa parte do roteiro é obviamente baseado na história real do mafioso Bugsy Siegel, que teve inclusive uma versão de sua vida levada para o cinema, com direção e atuação de Warren Beatty. A situação que ela se coloca é perigosa, pois ao menor deslize pode ser eliminada. O filme, quando começa, mostra a polícia encontrando um corpo no deserto. Então começa um grande flashback, justamente para contar a história da personagem de Joan Crawford.

O filme tem todo aquele charme das produções ao estilo noir dos anos 50. Os cenários são escuros, com farto uso de luz e sombras em cada cena. Joan Crawford está bastante convincente como essa mulher que decide tomar as rédeas do destino em suas próprias mãos, embora com desdobramentos sequer imaginados por ela. Chegando ao ponto de assumir uma falsa identidade, com o sobrenome dos milionários Forbes, ela começa a afundar cada vez mais em sua ganância pessoal. Joan Crawford que ficou tristemente marcada por causa do livro biográfico de sua filha que a retratava como uma mulher cruel e louca, aqui mostra seu talento de atriz. Embora fosse perturbada em sua vida pessoal. na tela do cinema se mostrava uma atriz bem talentosa. Sua atuação é o grande atrativo para se assistir a esse filme nos dias de hoje.

Os Desgraçados não Choram (The Damned Don't Cry, Estados Unidos, 1950) Direção: Vincent Sherman / Roteiro: Harold Medford, Jerome Weidman / Elenco: Joan Crawford, David Brian, Steve Cochran / Sinopse: Após a morte de seu filho de seis anos, Ethel Whitehead (Joan Crawford) decide acabar seu casamento, que já vinha muito mal e parte para Nova Iorque. Assume outra identidade, passando-se a se chamar Lorna Hansen Forbes e se envolve com a máfia local.

Pablo Aluísio.

Quinteto

Paul Newman só fez um filme do gênero ficção em toda a sua longa carreira e foi justamente esse, chamado simplesmente de "Quinteto". É um filme realmente estranho. Newman interpreta um homem que vaga em um planeta congelado, após o que parece ser o advento de uma nova era glacial. A civilização humana está em escombros, poucos sobreviveram em pequenas instalações isoladas no meio do nada. O clima é mesmo de universo pós apocalíptico. Para passar o tempo os poucos sobreviventes jogam "Quinteto", um bizarro jogo de tabuleiro com cinco pessoas, com regras não muito claras.

Não é incomum pessoas serem mortas durante essas jogatinas. Pelas paisagens desertas e geladas há muitos corpos sendo devorados por cães selvagens. O personagem de Newman tem uma mulher que está grávida. O fato logo causa espanto nos demais membros da comunidade, já que há muito não se ouvia falar de mulheres esperando bebês. O roteiro não explica a situação, mas fica subentendido que o mundo vive uma crise de fertilidade, causada principalmente pela radiação. Teria sido efeito de uma guerra nuclear? Novamente nenhuma resposta é dada pelo roteiro.

Após um tempo na nova comunidade, Essex (Newman) descobre que de fato há uma lista com o nome de cinco pessoas que vão morrer muito em breve.Tudo soa como se o jogo tivesse entrado na vida real das pessoas. Os perdedores não perderiam apenas o jogo em si, mas suas vidas também. O fato é que logo Newman entende também que está em um jogo do quinteto do mundo real, onde ele próprio pode ser eliminado a qualquer momento, tal como se fosse um jogador desse estranho tabuleiro. Seu objetivo então passa a ser sobreviver de todas as formas, já que sua vida corre sério risco. Ir além disso seria estragar parte das surpresas do filme.

O fato é que o diretor Robert Altman fez um filme não apenas esquisito, mas frio também. E isso não se refere ao cenário polar onde tudo acontece. Os personagens que rondam essa trama não parecem ter muitas emoções humanas. São indiferentes a pessoas sendo mortas, à violência e a todo tipo de barbárie. O próprio protagonista interpretado por Paul Newman passa longe de ter atitudes heroicas. Ele simplesmente vai vivendo um dia de cada vez, sem muita emoção, procurando apenas sobreviver. Eu acredito que Altman quis realizar uma ficção bem inovadora, mas no final das contas só conseguiu ser esquisito e estranho, diria até mesmo bizarro em certos momentos. Não é um filme para todo mundo, não pense que é uma espécie de Mad Max passado no círculo polar ártico. É muito mais singular do que se possa imaginar.

Quinteto (Quintet, Estados Unidos, 1979) Direção: Robert Altman / Roteiro: Frank Barhydt, Robert Altman / Elenco: Paul Newman, Vittorio Gassman, Fernando Rey / Sinopse: Em um mundo pós-apocalíptico congelado, o caçador Essex (Paul Newman) chega em uma pequena comunidade de sobreviventes. São pessoas estranhas, frias, que não se importam mais com a violência e a barbárie. Elas passam o dia inteiro jogando "Quinteto", um estranho jogo de tabuleiro. A mulher de Essex está grávida, mas logo ele percebe que entrou em um território perigoso, onde sua vida corre um sério perigo. 

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O Trem do Diabo

Título no Brasil: O Trem do Diabo
Título Original: Grand Central Murder
Ano de Produção: 1942
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: S. Sylvan Simon
Roteiro: Peter Ruric, Sue MacVeigh
Elenco: Van Heflin, Patricia Dane, Cecilia Parker
  
Sinopse:
Baseado no romance de suspense e mistério escrito pela autora Sue MacVeigh, "Grand Central Murder" explora a figura do detetive particular 'Rocky' Custer (Van Heflin) que deverá usar de toda a sua técnica, intuição e perspicácia investigativa para descobrir quem teria sido o autor de um assassinato durante uma longa e obscura viagem de trem. A vítima é uma jovem mulher, que parece ter tido problemas no passado com vários dos passageiros, incluindo aí um foragido e diversos homens que, de uma forma ou outra, tinham contas a acertar com ela. Todos são suspeitos no final das contas.

Comentários:
Esse enredo me lembrou muito do clássico de Agatha Christie "Assassinato no Expresso do Oriente". Não precisa ir muito longe para perceber que o argumento é extremamente parecido. A premissa é a mesma, coloca-se um grupo de personagens em um trem, durante uma viagem, explora-se o assassinato de alguém e depois insere-se um detetive no meio para descobrir quem seria o autor do crime. Para complicar ainda mais o mistério, cada passageiro parece ter sua própria motivação para ter cometido o crime. É o tipo ideal de filme para o espectador que gosta de desvendar crimes misteriosos. Deixando isso de lado o que mais se sobressai nessa produção é sua inegável linguagem noir, usando e abusando das sombras, dos personagens dúbios e do lado mais sórdido da natureza humana. Praticamente não existem personagens completamente íntegros pois cada um parece esconder um aspecto desprezível em sua própria personalidade. As mulheres são fatais e os homens se movem por motivos sombrios e inconfessáveis. Resumindo, todos os ingredientes que fizeram do cinema noir uma preciosidade da sétima arte estão presentes. O diferencial vem também de um bem inserido humor negro em seu texto, que vai inclusive chocar os mais adeptos do politicamente correto que impera nos dias atuais. É realmente surpreendente que um filme que foi realizado em plena década de 1940 tenha tanta acidez e morbidez como esse, em seu roteiro. Um exemplo perfeito de uma era em que Hollywood conseguia ousar e ser realmente revolucionária em suas produções cinematográficas.

Pablo Aluísio.

A Mulher que Soube Amar

Título no Brasil: A Mulher que Soube Amar
Título Original: Alice Adams
Ano de Produção: 1935
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Radio Pictures
Direção: George Stevens
Roteiro: Dorothy Yost
Elenco: Katharine Hepburn, Fred MacMurray, Fred Stone
  
Sinopse:
Baseado no romance escrito por Booth Tarkington, o filme narra a história de Alice Adams (Katharine Hepburn), uma jovem pobre, de origem humilde, que se encanta com a vida dos ricos e famosos. Após ser convidada para uma festa de grã-finos de sua cidade, ela descobre que a barreira social pode ser tão complicada de se superar como qualquer outro preconceito existente na sociedade. Apaixonada pelo rico e bonitão Arthur Russell (Fred MacMurray), ela precisará superar várias barreiras para concretizar sua paixão. Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz (Katharine Hepburn).

Comentários:
Bom drama social que investe no problema sempre presente do chamado preconceito social. A personagem de Katharine Hepburn é filha de um simples trabalhador, que inclusive se encontra sem trabalhar por problemas de saúde. Ela sonha com a vida luxuosa dos ricos, mas não tem condições financeiras de viver no meio de todo daquele luxo e ostentação. Tão pobre é que precisa sempre reformar o mesmo vestido barato para frequentar as festas ricas às quais consegue ser convidada. Sem dinheiro para comprar um belo buquê de flores na floricultura da cidade precisa ir ao campo para colher ela mesma as flores que estarão em seu próprio arranjo floral feito de forma artesanal, em sua própria casa. Para piorar descobre da pior maneira possível que sua condição social também a impede de se entrosar completamente com as garotas ricas de sua idade, ficando geralmente escanteada e ignorada nos grandes bailes festivos. Sua roupa modesta, fruto de remendos e reformas, também não passa despercebida pelas meninas ricas, que não deixam de fazer comentários maldosos sobre isso. Apesar de toda essa situação desfavorável ela mantém uma personalidade feliz e vibrante, sempre falando muito para expressar seus sentimentos. Quando encontra com Arthur, um sujeito rico e elegante, acaba percebendo que finalmente pode ter encontrado a felicidade em sua vida. Duas coisas chamam a atenção nesse belo romance social. A primeira é a jovialidade de Katharine Hepburn como Alice Adams! Ela está esfuziante, com muita vontade de atuar bem. Isso transparece claramente na tela. A segunda é a presença do galã Fred MacMurray, também ainda bastante jovem, esbanjando olhares cândidos (e em certos aspectos bem canastrões também). E pensar que anos depois ele iria se especializar em filmes de faroeste e comédias da Disney. Enfim, um bom filme valorizado por um roteiro bem escrito e a sempre correta direção do mestre George Stevens, aqui já explorando o lado menos louvável do ser humano.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Montanhas Ardentes

Título no Brasil: Montanhas Ardentes
Título Original: Red Skies of Montana
Ano de Produção: 1952
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Joseph M. Newman
Roteiro: Harry Kleiner, Art Cohn
Elenco: Richard Widmark, Constance Smith, Jeffrey Hunter
  
Sinopse:
Quando um grande incêndio irrompe nas montanhas de Montana, um esquadrão de 'Smoke Jumpers' (grupo formado por pára-quedistas de elite do corpo de bombeiros do serviço florestal dos Estados Unidos) é levado para o centro do foco do desastre natural. A situação é desesperadora por causa da extensão do fogo que se alastra pela floresta com ferocidade, o que leva todos aqueles bravos homens ao limite de suas forças. Enquanto isso um dos membros é dado como morto pelo fogo, mas seu filho não se convence e tenta provar que ele foi vítima da covardia de um dos integrantes dos 'Smoke Jumpers'.

Comentários:
Uma aventura focando na vida dos bombeiros que foi muito complicada de se realizar. Nos anos 1950 a tecnologia dos efeitos especiais era ainda muito pouco sofisticada. Para se recriar um incêndio de grandes proporções no meio da floresta não havia outra maneira a não ser colocar fogo de verdade em grandes áreas florestais. Nem precisa dizer que isso era muito perigoso não apenas para a equipe como também para o meio ambiente. Mesmo assim o diretor Joseph M. Newman topou o desafio. O resultado é bem impactante na tela, com os atores literalmente exaustos pela complicada provação física a que foram submetidos. Por falar em elenco ele é de fato muito bom, valorizado pelas esforçadas presenças de Richard Widmark e Jeffrey Hunter (ainda muito jovem, em começo de carreira). O roteiro se desdobra em duas linhas narrativas básicas. Uma explorando a missão dos bombeiros na floresta em si e outra na questão envolvendo a morte de um dos membros da equipe - teria ele sido morto por omissão e covardia de seus próprios colegas de trabalho? A produção tem um estilo levemente documental, tentando recriar em detalhes a vida dos bombeiros do mundo real, mas isso não atrapalha em nada a diversão. Um filme realmente muito interessante, valorizado por um roteiro que mantém a atenção do começo ao fim. Um exemplo de aventura inteligente na era do cinema clássico americano.

Pablo Aluísio.

Mata Hari

Título no Brasil: Mata Hari
Título Original: Mata Hari
Ano de Produção: 1931
País: Estados Unidos
Estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: George Fitzmaurice
Roteiro: Benjamin Glazer, Leo Birinsky
Elenco: Greta Garbo, Ramon Novarro, Lionel Barrymore
  
Sinopse:
Durante a Primeira Guerra Mundial, a jovem cortesã holandesa Margaretha Gertruida Zelle (Greta Garbo) assume o nome artístico de Mata Hari. Divorciada e decepcionada com seu casamento anterior, ela resolve ir para Paris e cria uma identidade nova e própria para si. Usando de coreografias aprendidas enquanto morou no Oriente, Margaretha começa a encantar os homens durante suas sensuais apresentações de dança em teatros na capital francesa. Não tarda e ela acaba sendo procurada pelos principais órgãos de inteligência dos países envolvidos no conflito. Como tem livre passe tanto entre franceses, ingleses e alemães, ela logo se torna uma importante agente dupla de espionagem internacional.

Comentários:
Esse filme é historicamente importante porque traz uma lenda interpretando outra lenda. No papel principal temos uma das maiores atrizes e mitos da história de Hollywood, a imortal Greta Garbo, que interpreta uma das mulheres mais famosas (ou infames, dependendo do ponto de vista) da história da Primeira Guerra Mundial, a sensual e perigosa Mata Hari (1876 - 1917). Há duas maneiras de encarar a vida e a biografia de Hari, a primeira é abraçar a lenda, que a ajudou a ser extremamente conhecida, até mesmo nos dias de hoje. Sob esse ângulo ela era o que chamamos de mulher fatal. Em uma época em que as mulheres eram extremamente reprimidas, Mata Hari conseguia ser ao mesmo tempo independente e também perigosa, muito por causa de seu envolvimento com espionagem internacional  durante essa guerra que devastou a Europa. A outra forma de encarar sua vida é aquela do ponto de vista puramente histórico. Recentes biografias afirmam que Margaretha não foi tudo aquilo que disseram dela. Na realidade ela se aproximou mais de ser uma vítima de interesses políticos do que propriamente uma perigosa espiã que flertou perigosamente com os alemães, os inimigos. Executado por crimes de guerra em 1917, com apenas 41 anos de idade, Mata Hari virou um ícone, inclusive do movimento feminista, quem diria. Essa produção de 1931 abraça o mito e não a história. Garbo está maravilhosa em cena, esbanjando estilo e glamour. Obviamente que se trata de uma obra cinematográfica feita para o puro entretenimento, o que não o desqualifica como um dos grandes filmes da era do cinema clássico em Hollywood. Um filme que conseguiu unir duas grandes lendas do mundo das artes da primeira metade do século XX com raro brilhantismo.

Pablo Aluísio.

domingo, 17 de dezembro de 2017

A Marca da Maldade

Título no Brasil: A Marca da Maldade
Título Original: Touch of Evil
Ano de Produção: 1958
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal International Pictures
Direção: Orson Welles
Roteiro: Orson Welles, Whit Masterson
Elenco: Charlton Heston, Orson Welles, Janet Leigh
  
Sinopse:
Mike Vargas (Charlton Heston) é um oficial do departamento de narcóticos que acaba tendo que interromper sua lua de mel na fronteira entre Estados Unidos e México, após um empreiteiro americano ser morto por uma bomba colocada em seu carro. Ao que tudo indica, embora a explosão tenha ocorrido dentro do território americano, ela foi plantada no México. As investigações do policial logo revelarão um sórdido caso envolvendo corrupção, tráfico de drogas e de influência nos altos escalões do poder. Filme vencedor do prêmio de Melhor Filme da Los Angeles Film Critics Association Awards. Também premiado pela National Society of Film Critics Awards e New York Film Critics Circle Awards.

Comentários:
"Touch of Evil" foi o último grande filme de Orson Welles para muitos especialistas em sua obra cinematográfica. Embora fosse um gênio da sétima arte, Welles era também um artista complicado de se lidar. Os estúdios não queriam mais bancar seus filmes e a simples menção de seu nome fazia com que muitos produtores fossem embora. O fato é que embora aclamado pela imprensa e pela crítica de sua época, os seus filmes geralmente se tornavam produções caras, problemáticas e mal sucedidas comercialmente. Welles também tinha fama de abandonar projetos no meio do caminho. Ele queimou sua reputação entre os grandes estúdios após entrar em vários filmes, para depois de algumas semanas os abandonarem, sem mais nem menos. Isso acabou destruindo sua carreira como cineasta em Hollywood, onde o profissionalismo exigido sempre veio em primeiro lugar. Assim Orson Welles precisou de muito jogo de cintura para realizar esse filme. Usando da boa vontade do ator Charlton Heston, que praticamente financiou o filme com seu próprio dinheiro, ele conseguiu acabar a película. É de fato uma obra prima, um de seus melhores trabalhos, só superado talvez pelo seu grande clássico "Cidadão Kane". Nele o diretor procurava mostrar toda a extensão do seu talento, uma tentativa de levantar sua reputação como realizador. Infelizmente, embora hoje seja realmente reconhecida como uma produção que marcou época, em seu lançamento não se tornou lucrativo a ponto de tornar Welles um nome novamente viável. Assim ele acabou de certa maneira se despedindo do cinema com essa jóia da sétima arte. Uma pena, pois ele de fato foi realmente um gênio incompreendido.

Pablo Aluísio.

O Beijo de Despedida

Título no Brasil: O Beijo de Despedida
Título Original: Kiss Them for Me
Ano de Produção: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: Stanley Donen
Roteiro: Julius J. Epstein, Luther Davis
Elenco: Cary Grant, Jayne Mansfield, Leif Erickson, Suzy Parker
  
Sinopse:
Um grupo de pilotos da Marinha americanha consegue uma licença de quatro dias para passar em San Francisco. Em plena guerra o passe se torna um verdadeiro presente para aqueles combatentes. Uma vez na cidade o comandante Andy Crewson (Cary Grant) acaba se apaixonando pela bela Gwinneth Livingston (Suzy Parker), que infelizmente já está comprometida com Eddie Turnbill (Leif Erickson), um rico empresário, dono de estaleiros, que pretende contratar Andy para fazer uma palestra para seus trabalhadores, algo que ele definitivamente não tem a menor vontade de fazer.

Comentários:
Uma comédia romântica bem divertida estrelada pelo astro Cary Grant. O enredo se passa praticamente todo durante uma licença desses pilotos da marinha. Eles são considerados heróis pela imprensa, mas no fundo só querem mesmo se divertir na cidade. Conseguem se hospedar em uma luxuosa suíte de um hotel cinco estrelas e caem na farra, promovendo festas e aproveitando o máximo que podem do tempo livre de folga. O roteiro por tentar ser engraçado e leve acaba não trazendo nada de muito substancial em termos de trama. O mais importante é tentar fazer o espectador rir. No elenco o ator Cary Grant comparece com seu carisma habitual. Outro destaque vem da presença da atriz Jayne Mansfield, a mais célebre imitadora de Marilyn Monroe. Seu papel inclusive foi escrito para Marilyn que o recusou por ser mais uma tentativa de explorar o velho estigma da "loira burra". Jayne Mansfield assim tenta, sem muito sucesso, imitar nos mínimos detalhes a forma como Monroe se comportava quando interpretava esse tipo de personagem. Até a pinta perto dos lábios foi reproduzido no rosto de Jayne. O tom de voz, tudo, foi pensado para colocar uma "Marilyn Monroe genérica" no filme. Não deu muito certo. Então é isso, "Kiss Them for Me" é apenas um passatempo agradável, sem muitas novidades ou relevância cinematográfica. Sim, é divertido, mas nada muito além disso.

Pablo Aluísio.

sábado, 16 de dezembro de 2017

Funeral em Berlim

Título no Brasil: Funeral em Berlim
Título Original: Funeral in Berlin
Ano de Produção: 1966
País: Estados Unidos, Inglaterra
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Guy Hamilton
Roteiro: Evan Jones
Elenco: Michael Caine, Oskar Homolka, Paul Hubschmid
  
Sinopse:
Durante a guerra fria o agente inglês Harry Palmer (Michael Caine) é enviado para Berlim com a missão de ajudar na deserção de um importante coronel da KGB que decidiu pedir asilo político para a Inglaterra. Palmer deverá assim criar todo um plano para que o importante oficial russo possa atravessar a fronteira sem maiores problemas. A missão envolve espionagem e contra-espionagem e desde o começo se mostra extremamente perigosa para todos os envolvidos. Palmar porém não consegue, em nenhum momento, se convencer das sinceras razões do ex-chefe de espionagem soviético no lado oriental de Berlim. Para ele há algo mais envolvido em tudo isso e seu instinto sugere que tudo talvez não passe de uma grande armadilha montada pela famigerada KGB.

Comentários:
Os filmes de espionagem tiveram seu auge durante os anos 1960. O mundo vivia o ponto alto da guerra fria, das tensões entre o ocidente capitalista e o oriente comunista dominado por Moscou com mãos de ferro. E nenhum lugar do mundo retratava melhor essa tensão do que a Alemanha, em especial Berlim, dividida por um muro que separava os dois lados, com as ruas cheias de espiões de todos os países envolvidos nesse verdadeiro quebra-cabeças da diplomacia internacional. O roteiro baseado no romance escrito por Len Deighton se passa justamente no meio desse cenário. Isso porém não significa que você assistirá a um filme de James Bond ou algo parecido. O tom é bem mais realista. O espião interpretado por Michael Caine não tem nada de Bond, nenhum glamour e nenhum estilo. Com cara de nerd, de homem comum (como aliás é o mundo da espionagem verdadeira), ele chega em Berlim procurando não chamar a atenção de ninguém. Com nome e passaporte falsos, ele precisa contar até mesmo com a ajuda de um ladrão profissional e um sujeito misterioso, especialista em passar pessoas entre as fronteiras. Para levar o Coronel russo para o lado ocidental eles planejam literalmente colocar o velho em um caixão, montando-se um falso funeral para atravessar os postos de fronteira, sempre muito rigorosos e bem protegidos por tropas soviéticas. Para enrolar ainda mais o quadro geral ainda há a intervenção não prevista do serviço secreto de Israel que está em busca de criminosos de guerra nazistas. Enfim, um bom filme de espionagem rodado no tempo em que esse estilo cinematográfico estava mesmo em seu auge de sucesso de crítica e público. Uma boa dica para quem aprecia esse tipo de enredo.

Pablo Aluísio.

A Maldição do Espelho

Título no Brasil: A Maldição do Espelho
Título Original: The Mirror Crack'd
Ano de Produção: 1980
País: Inglaterra
Estúdio: G.W. Films, EMI Films
Direção: Guy Hamilton
Roteiro: Jonathan Hales, Barry Sandler
Elenco: Angela Lansbury, Rock Hudson, Elizabeth Taylor, Kim Novak, Geraldine Chaplin, Tony Curtis, Edward Fox
  
Sinopse:
Uma equipe de filmagem americana vai até a Inglaterra para produzir um filme. O diretor da produção caberá ao renomado cineasta Jason Rudd (Rock Hudson) que precisará lidar com vários problemas, entre eles duas estrelas que se odeiam (Taylor e Novak), um produtor inconsequente e irresponsável (Curtis) e um assassinato! Isso mesmo, durante a recepção para a equipe uma jovem inglesa aparece morta, ao que tudo indicado vítima de um envenenamento mortal! Mas afinal de contas, quais seriam as motivações para o crime e quem teria sido o autor da morte? Miss Marple (Lansbury) parece ter a chave para a solução do mistério.

Comentários:
Para quem aprecia cinema clássico esse filme é uma pequena preciosidade histórica. Se formos analisar o elenco perceberemos facilmente que a produção foi praticamente uma despedida de astros e estrelas que foram ícones do cinema americano nas décadas de 1950 e 1960 e que depois não voltariam a trabalhar juntos novamente. Assim temos os dois grandes galãs da era de ouro da Universal (Rock Hudson e Tony Curtis) ao lado de uma dupla de grandes estrelas do cinema americano (as maravilhosas Elizabeth Taylor e Kim Novak) que na tela representam... isso mesmo, duas grandes estrelas do passado que nutrem uma antipatia mútua! Como se trata de uma adaptação de um livro de Agatha Christie intitulado "The Mirror Crack'd from Side to Side" já podemos antever o que iremos encontrar pela frente: um mistério a ser desvendado, onde existem inúmeros suspeitos, todos com motivos suficientes fortes para cometerem um crime. Quem deverá descobrir a identidade do verdadeiro assassino é uma das personagens mais queridas do universo da escritora: a simpática velhinha Miss Marple (interpretada pela carismática Angela Lansbury, curiosamente usando maquiagem para parecer mais velha do que era na época). O resultado de tudo isso é um filme bem cuidado, bem produzido e com inegável sabor nostálgico para quem adora o cinema do passado. Rever todos esses grandes nomes sempre é um prazer renovado para o cinéfilo mais tradicionalista. A aparência de alguns desses mitos pode, em um primeiro momento, chocar o espectador. Todos, sem maiores exceções, mostram as marcas do tempo. Isso porém deve ser visto com elegância e sabedoria, afinal de contas eles envelheceram sim, mas também sobreviveram, mostrando que foram vencedores em suas respectivas carreiras. Assim temos um ótimo programa, a que eu particularmente recomendo bastante.

Pablo Aluísio.