sábado, 7 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - NBC TV Special (1968)

No final de 1968 finalmente foi exibido o especial de TV que Elvis havia gravado em meados do ano. O Rei do Rock vinha em um mal momento da carreira. Seus filmes já estavam desgastados, Elvis sentia-se cada vez mais frustrado com a política dos grandes estúdios de cinema de Hollywood, que lhe mandavam fazer o mesmo filme ano após ano, com as mesmas trilhas sonoras e os mesmos roteiros estúpidos. Elvis estava mais do que farto deste esquema em 1968. Quando soube da ideia do especial, se empolgou e disse ao seu empresário que fechasse o contrato, pois ele queria voltar o quando antes a se apresentar ao vivo. Ainda tinha contratos a cumprir na costa oeste, mas queria que estes fossem os últimos. Sem dúvida, para quem apostava em uma carreira de ator, aquilo tudo representava um grande retrocesso. Era uma derrota para Elvis deixar Hollywood assim. A verdade era que ele descobriu, ao longo dos anos, que nenhum estúdio iria lhe dar uma chance para desenvolver uma carreira dramática em Hollywood. Para os chefões Elvis tinha que sempre desempenhar o mesmo papel: o de Elvis Presley. Se continuasse no esquema dos estúdios cinematográficos, Elvis iria continuar a fazer uma comédia musical atrás da outra até sua carreira se apagar de vez.

Ele estava decidido a pular fora e salvar o que ainda tinha restado de seu legado musical. E assim foi feito. Depois de acertar seu cachê (meio milhão de dólares por quatro dias de trabalho) Elvis finalmente se preparou para sua volta. O show seria transmitido no final do ano, em dezembro. O coronel Parker sugeriu um roteiro simplesmente desastroso para o especial: "Elvis entraria de papai noel, cantaria meia dúzia de músicas natalinas e iria embora pela chaminé". Elvis e o produtor Steve Binder simplesmente odiaram essa ideia. Juntos, trocaram pensamentos e conceitos e chegaram a um modelo básico. Elvis seria acompanhado de sua primeira banda, Scotty Moore e D.J. Fontana (Bill Black havia morrido em 1965). Seria um show acústico, com Elvis vestindo uma roupa de couro negro, tocando uma guitarra Gibson, tudo de forma natural e autêntica. Ele interpretaria seus velhos sucessos e duas canções escritas especialmente para o programa: "If I Can Dream" e "Memories". Estava em ótima forma física e empolgado pela chance de voltar a apresentar um material de qualidade. Tudo que precisava era uma chance de mostrar novamente seu incontestável talento. Os ensaios e as gravações foram exaustivos. Esse foi um momento crucial de sua vida, se falhasse, provavelmente seria o fim de sua carreira. E ele sabia disso.

Assim, aos 33 anos de idade, Elvis Presley finalmente voltou à TV, num especial histórico para NBC em comemoração ao natal. O show foi um marco em sua vida. Com cenas em estúdio e ao vivo, Elvis estava natural, espontâneo e decidido a dar o melhor de si no show. As sessões para o especial ocorreram em momentos diferentes. De inicio Elvis foi até o Western Recorders para gravar o material que seria dublado nas cenas de estúdio. Entre os dias 20 a 23 de junho Elvis gravou as novas versões de Big Boss Man, It Hurts Me, Guitar Man e os medleys que seriam usados no especial como Trouble / Guitar Man e o Medley gospel liderado pela canção Where Could I Go But To The Lord. Mas isso seria apenas o começo, Elvis participaria de várias outras sessões para se chegar ao material que iria ser usado incidentalmente no especial.

Depois desses preparativos finalmente começaram as filmagens de palco. Inicialmente com Elvis e banda em um tablado quadrado cercado pelo público. Depois novas tomadas de cena foram feitas, dessa vez sem plateia, com Elvis encenando pequenas cenas avulsas ao lado do corpo de baile do canal NBC. Curiosamente essa parte do especial lembrou e muito seus antigos filmes. interessante notar que essa parte foi também a que mais envelheceu do programa no decorrer dos anos. Enquanto as cenas de Elvis ao lado da banda parecem absurdamente atuais, as que Elvis contracena com atores soam incrivelmente datadas. Em termos de repertório o NBC usou e abusou de seus velhos sucessos dos anos 50. Seus maiores clássicos foram desenterrados, até mesmo porque a intenção era realmente alcançar um bom índice de audiência, pois o êxito era mais do que necessário. De material inédito mesmo havia apenas duas músicas: If I Can Dream e Memories. If I Can Dream foi especialmente composta para ser usada no programa de TV. Lançada em novembro daquele mesmo ano o single finalmente conciliou Elvis de novo com o sucesso que tanto esperava. Foi o primeiro single do cantor a receber o disco de ouro em muitos anos.

Priscilla Presley em seu livro "Elvis e eu" relembra o impacto do show: "O especial de Elvis foi um sucesso espetacular e alcançou o maior índice de audiência do ano. A música final, "If I Can Dream", foi sua primeira gravação que ultrapassou a barreira de um milhão de cópias vendidas em muitos anos. Sentamos em torno da TV assistindo ao programa, esperando nervosamente pela reação. Elvis se manteve silencioso e tenso durante toda a exibição do programa, mas assim que os telefones começaram a tocar, compreendemos que ele conquistara um novo triunfo. Não perdera a classe, ainda era o rei do rock'n'roll". Com esse programa Elvis se convenceu que era hora de deixar Hollywood para trás e retomar os rumos de sua carreira musical. Não haveria mais trilhas sonoras insípidas, o momento era de entrar em estúdio novamente para gravar canções de qualidade, para mudar novamente os rumos musicais de seu tempo.

Elvis Presley  - NBC TV Special (1968)
Trouble / Guitar Man
Lawdy, Miss Clawdy
Baby, What You Want Me To Do
Heartbreak Hotel / Hound Dog / All Shook Up
Can't Help Falling In Love
Jailhouse Rock
Love Me Tender
Where Could I Go But To The Lord / Up Above My Head / Saved
Blue Christmas
One Night
Memories
Nothingville / Big Boss Man / Guitar Man / Little Egypt / Trouble / Guitar Man
If I Can Dream

Elvis Presley - NBC TV Special (1968): Elvis Presley (vocal, guitarra e violão) / Scotty Moore (guitarra) / D.J. Fontana (bateria) / Charlie Hodge (guitarra) / Alan Fortas (percussão) / Lance Le Gault (tamborim) / The NBC Orquestra / Bob Finkel (produção executiva) / Steve Binder (direção) / Bones Howe (supervisão musical) / Allan Blye e Chris Beard (roteiro) / W. Earl Brown (arranjos) / Gene McAvoy (direção de arte) / Jaime Rodgers e Claude Thompson (coreografias) / Gravado nos estúdios Burbank, Califórnia / Data de gravação: 27, 28, 29 e 30 de junho de 1968 / Data de exibição: 3 de dezembro de 1968 / Data de lançamento da trilha sonora: dezembro de 1968 / Melhor posição nas charts: # 8 (EUA) e # 2 (Inglaterra).

Pablo Aluísio - Setembro de 2003 / Setembro de 2009.

Elvis Presley - Elvis Sings Flaming Star and Others (1968)

Em 1968, anos após ter aparecido na TV americana pela última vez Elvis assinou com o canal NBC a realização de um especial de final de ano. Esse programa acabou ficando conhecido como "Comeback Special" pois seria seu retorno, sua volta aos palcos e às apresentações ao vivo. Para a realização desse programa de fim de ano não bastava apenas o contrato envolvendo Elvis e o canal de TV, mas também era vital que os anunciantes acreditassem no projeto e o patrocinassem. A Singer foi a empresa que acreditou no retorno de Elvis à TV. Dando apoio financeiro a empresa foi bastante importante para que a realização desse programa fosse possível. Enquanto muitos tinham dúvidas se Elvis teria ainda capacidade de protagonizar um especial de TV sozinho e obter boa audiência com ele, a Singer abraçou a idéia e investiu na volta do cantor.

Como todo contrato esse também apresentava cláusulas que favoreciam a ambas as partes. Entre elas havia uma que determinava que um álbum seria produzido especialmente pela gravadora de Elvis para ser vendido único e exclusivamente nas revendedoras da empresa Singer. O produtor Felton Jarvis então foi designado para a seleção musical das canções que iriam fazer parte desse disco tão singular dentro da carreira de Elvis. Como o canal NBC exibiria em breve o filme Flaming Star, o produtor de Elvis resolveu utilizar a música tema desse filme como título do novo álbum que se chamaria Elvis Sings Flaming Star. A seleção das canções também traria praticamente apenas canções de filmes.

Fazer uma coletânea de canções já lançadas nas trilhas sonoras porém seria banal. Foi então que Felton Jarvis, sob ordem expressa da direção da RCA, resolveu vasculhar os arquivos da gravadora em busca de material inédito no mercado. Como os últimos filmes de Elvis sequer tinham suas próprias trilhas sonoras lançadas, havia de certa forma bastante material arquivado para compor um disco como esse. Um exemplo era o vasto material que Elvis havia gravado para o filme Viva Las Vegas. Embora a trilha desse filme tivesse um número suficiente de músicas para a composição de um álbum, ele jamais foi lançado. Ao invés disso a RCA lançou apenas um compacto duplo na época e um single, ficando o restante das canções em um limbo. Resgatá-las agora seria uma boa ideia. Assim o medley Yellow Rose Of Texas / The Eyes Of Texas (utilizado no filme mas inédito na discografia de Elvis) e Do The Vega, duas boas músicas de Viva Las Vegas, foram lançadas pela primeira vez no mercado.

O mesmo aconteceu com duas músicas recentes, de filmes de Elvis que há pouco tempo havia chegado às telas. Wonderfull World da trilha de Live a Little, Love a Little, por exemplo, ainda não havia encontrado espaço entre os discos de Elvis mas aqui finalmente achava um local para chegar ao conhecimento do grande público. Idem para All I Needed Was The Rain, um bom blues do filme Stay Away Joe, que havia passado em brancas nuvens na discografia oficial de Elvis. Da trilha de Easy Come, Easy Go havia ainda She´s a Machine, que ficou de fora do EP lançado em 1967. Para completar o álbum ainda foram incluídas duas inéditas que certamente chamariam a atenção dos colecionadores: Too Much Monkey Business, clássico de Chuck Berry, lançado pela primeira vez aqui e uma prévia do que seria o especial de Elvis a ser lançado no final de ano, Tiger Man, versão gravada ao vivo durante o programa da NBC. Enfim, Elvis Sings Flaming Star, hoje pode soar datado e ultrapassado em termos de seleção musical e repertório, porém quando foi lançado ele se tornou um álbum bem interessante, pois trazia material inédito aos admiradores e fãs de Elvis Presley.

Elvis Sings Flaming Star
Flaming Star
Wonderful World
Night Life
All I Needed Was The Rain
Too Much Monkey Business
Yellow Rose Of Texas / The Eyes Of Texas
She's A Machine
Do The Vega
Tiger Man

Pablo Aluísio - Setembro de 2009.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Speedway (1968)

Em meados de 1968, a ano que não acabou, o novo projeto de Elvis, intitulado Speedway (O Bacana do Volante) foi lançado. Aqui Elvis contracena com a filha de Frank Sinatra, Nancy. Na direção mais uma vez Norman Taurog. Novamente outro filme sem grandes novidades, com Elvis novamente interpretando um piloto de corridas. Nancy Sinatra por sua vez interpreta uma fiscal da receita federal que vai atrás do personagem de Elvis para lhe cobrar impostos sonegados. O filme se tornou um dos últimos de Elvis na MGM pois seu contrato com a empresa estava chegando ao final. Apesar do otimismo sobre a carreira de Elvis no começo dos anos 60, em 1968 todos já estavam conscientes que dificilmente Elvis decolaria nas telas trabalhando com material tão ruim. Seu desânimo chega a ser notado durante a projeção do filme pois ele apenas passeia entre as cenas, visivelmente entediado.

Não era para menos, Speedway na realidade era apenas outro filme sobre pistas de corridas, garotas, músicas fracas e direção inexistente. A crítica da época não perdoou e demonstrou que a produção nada mais era do que apenas mais uma repetição de muitos filmes anteriores do "Rei do Rock". Eles tinham razão. Esse é outro filme de Elvis ao velho estilo, do começo ainda dos anos 60, o que em 1968, em plena época do movimento Hippie, dos movimentos sociais e das lutas políticas soava completamente quadrado e careta (aqui utilizando-se inclusive das gírias daqueles tempos). Sem sintonia com os jovens e o público o filme foi completamente ignorado, deixando as salas de cinema vazias e os LPs encalhados nas prateleiras das lojas de discos.

O projeto foi mais um da carreira de Elvis que que não se traduziu em sucesso, revelando de uma vez por todas que a antiga fórmula "brilhantemente" idealizada por Tom Parker estava completamente esgotada. Nem os fãs mais ardorosos prestigiaram. A trilha sonora chegou nas lojas um mês antes do lançamento do filme e se tornou um novo fracasso de vendas, com um péssimo 82º lugar entre os mais vendidos, sendo que na Inglaterra o resultado foi ainda mais desastroso pois sequer conseguiu classificação na parada inglesa entre os mais vendidos. No Brasil a RCA nacional, em vista do grande fracasso do disco lá fora, nem ao menos chegou a lançá-lo por aqui. Com tantos boletins desanimadores de vendas nas mãos e vendo que muitas de suas filiais estrangeiras nem sequer cogitavam mais de lançar o disco em seus respectivos países a RCA disse basta ao lançamento de trilhas e decretou o fim das mesmas, para o alívio geral, diga-se de passagem. A gravadora de Elvis realmente havia jogado a toalha e não iria mais investir nessa fórmula pois ela definitivamente só vinha trazendo prejuízos desde meados dos anos 60.

Para termos uma ideia da queda de vendas de Elvis no mercado basta apenas citar um dado revelador: Elvis Presley passou três anos sem sequer ter um álbum lançado no Brasil na segunda metade dos anos 60, o que demonstra como era grande o desinteresse pelo trabalho que ele vinha desenvolvendo na época. A trilha sonora de Speedway então, em vista de todo esse quadro desanimador, realmente foi a pá de cal nesse velho esquema inventado por Tom Parker de lançar filme / trilha no mercado. Foi a última trilha sonora da carreira de Elvis ao velho estilo e não deixou saudades. Um melancólico adeus, sem dúvida. A única nota positiva veio do advento de que o fracasso levou Elvis e seu empresário a repensar toda a sua carreira e procurar por mudanças, o que iria desaguar ainda nesse ano na gravação do maravilhoso NBC Special que iria literalmente ressuscitar a cambaleante carreira de Elvis. Realmente há males que vem para o bem, como diz o velho ditado. Essas são as canções da derradeira trilha sonora de Elvis Presley nos anos 60:

SPEEDWAY (Glazer - Schlaks} - Tudo é uma questão de comparação. Muitos afirmam que Speedway é um dos temas mais fracos já compostos para filmes de Elvis Presley! Será mesmo? Basta comparar. Spinout, por exemplo, é bem pior certamente. Obviamente que nunca poderíamos aqui cair na insensatez de comparar essa canção com temas do passado como King Creole e Jailhouse Rock. Essa seria uma comparação completamente absurda. Porém se formos nos limitar ao período pós 1965 até que Speedway não se sai completamente mal. Os compositores dessa canção (dois completos desconhecidos dentro da discografia de Elvis) até se saíram razoavelmente bem em termos de ritmo, que chega a ser agradável em algumas passagens, mas derrapam feio na letra, que é inegavelmente simplória demais. Claro que o tema, falando sobre assuntos relacionados a velocidade, carros e afins, não daria margem ao surgimento de nenhuma poesia parnasiana, mas até mesmo dentro do limitado campo artístico que o filme proporciona deixa a desejar. Elvis, como sempre, extremamente profissional, fez o melhor que pôde com o material que tinha em mãos e a canção pelo menos não aborrece em nenhum momento, tendo como maior mérito seu ritmo mesmo, como já escrevi antes. Certamente não é o melhor tema de filme já escrito para as produções de Elvis no cinema, mas fica longe de figurar entre os piores.

THERE AIN´T NOTHING LIKE A SONG (Byers - Johnston) - Byers ficou conhecido na história como o autor das melhores músicas dos piores discos de Elvis. Ele escreveu diversas músicas para filmes de Elvis, algumas realmente muito boas, que elevavam significativamente o valor artístico de algumas de suas trilhas sonoras. Essa música foi escolhida para fechar o filme, onde Elvis e Nancy Sinatra a cantam juntos. A letra é otimista e combina bem com o final feliz e Nancy, que nunca teve o carisma de seu grande pai, pelo menos não decepciona e mostra um certo talento no resultado final. Em suma, essa é uma boa canção da trilha sonora de Speedway.

YOUR TIME HASN´T COME YET BABY
(Hirschhorn - Kascho) - Não há como escapar. Dentro da fórmula "Elvis" de fazer filmes nos anos 60 quase sempre haveria uma música destinada ao público infantil. Odiadas por muitos, amadas por outros, essas canções infantis foram, para o bem ou para o mal, uma das marcas registradas das trilhas sonoras de Elvis nos anos 60. Infelizmente a qualidade delas foram decaindo ao longo dos anos, já que "Wooden Heart", a grande iniciadora desse subgênero, possuía inegável qualidade que não foi mantida pelas que vieram nos filmes posteriores. Aqui, outra dupla de compositores desconhecidos aterrissam na trilha e tentam trazer alguma novidade, porém sem sucesso. Agora complicado mesmo é entender como ela foi lançada como lado principal do single do filme, justamente em um momento que Elvis precisava desesperadamente de um sucesso nas paradas. O absurdo é tamanho que ela foi preferida até mesmo em detrimento de Let Yourself Go, a melhor canção da trilha, que foi jogada para o lado B do mesmo compacto. Simplesmente inexplicável.

WHO ARE YOU? (S. Wayne - B. Weisman) - Para se perceber como as trilhas sonoras de Elvis perderam qualidade ao longo dos anos basta apenas ouvir as baladas presentes nelas. Aqui temos uma canção cheia de lugares comuns, com letra banal. A cena em que Elvis a canta para Nancy Sinatra no filme demonstra claramente que depois de Ann-Margret Elvis nunca mais teve uma partner à altura. Nancy não consegue transmitir emoção e a química do casal nunca decola. Enfim, Who Are You? é uma balada apenas mediana, sendo seu único destaque um arranjo um pouco diferenciado das demais baladas de Elvis, mas nada que a eleve demais entre as muitas baladas cantadas por Elvis durante esse período de sua carreira. O único destaque digno de nota fica com o solo bem executado do grande músico Homer "Boots" Randolph, recentemente falecido. Fora isso nada mais chama a atenção.

HE´S YOUR UNCLE, NOT YOUR DAD (Wayne - Weisman) - Depois de um começo até certo ponto animador somos lembrados, da pior forma possível, pela dupla de autores dessa música, que estamos afinal apenas ouvindo mais uma das trilhas sonoras de Elvis dos anos 60, com tudo de ruim que isso afinal significa. Candidata forte ao título de pior canção do filme, "He's Your Uncle, Not Your Dad" é aquele tipo de música que só funciona ao se assistir ao filme e mesmo assim se você estiver com muito bom humor e boa vontade. Certo que o roteiro gira em torno de um piloto com dívidas fiscais com o governo norte-americano, mas convenhamos não precisava colocar um tema tão fraco e sem graça para Elvis cantar e baixar consideravelmente o nível da parte musical da trilha sonora. A cena do filme não se salva, a coreografia apresentada é ridícula, a letra é uma piada e harmonia inexiste aqui. Méritos apenas para Elvis que demonstra mais uma vez que era um cantor que conseguia injetar um pouco de talento até mesmo nas mais horríveis canções já escritas. Simplesmente constrangedor.

LET YOURSELF GO (Joy Byers) - Sempre lembrada como grande injustiçada, Let Yourself Go é praticamente unanimidade entre os especialistas como a melhor canção dessa trilha sonora. A música tem letra interessante, trazendo até mesmo pitadas de sensualidade e charme e poderia muito bem se destacar nas paradas caso tivesse sido lançada corretamente como destaque no single do filme. Elvis, que não conseguia um primeiro lugar desde 1962 com Good Luck Charm, finalmente tinha uma boa candidata a lutar por, pelo menos, o Top l0 da Billboard. Mas infelizmente a RCA a negligenciou, a inserindo como mero lado B da infantil "Your Time Hasn't Come Yet Baby", essa sim com chances nulas de se destacar na Billboard. O resultado já conhecemos: a música foi solenemente ignorada pelo público na época e nem mesmo a boa cena em que ela é apresentada no filme serviu para tirá-la de um injusto obscurantismo. Ainda tentaram corrigir o erro a utilizando no especial da NBC mas todos os clássicos ali presentes também ajudaram para que esse bom momento de Elvis nos estúdios na segunda metade dos anos 60 passasse praticamente em brancas nuvens.

FIVE SLEEPY HEADS (Sid Tepper - Roy C. Bennett) - Talvez o maior exemplo do esgotamento da fórmula das trilhas sonoras de Elvis nos anos 60. Depois de "Your Time Hasn't Come Yet Baby" era de se esperar que o disco estaria livre de canções infantis. Que nada. Parece que sem mais nada para colocar na trilha o Coronel e a RCA resolveram colocar Elvis para cantar outra musiquinha de ninar. No disco original ela aparecia bem depois de um solo de Nancy Sinatra, "Your Groovy Self", canção sem maiores atrativos que demonstrava que uma forcinha do nepotismo também poderia ajudar na carreira de qualquer um. Sem maiores atrativos podemos classificar "Five Sleepy Heads" como uma espécie de "Big Boots" tardia. Um mero prato requentado para quem gostou das primeiras trilhas de Elvis no começo dos anos 60 como G.I. Blues e definitivamente não recomendado para gourmets musicais mais exigentes.

WESTERN UNION (Tepper - Bennet) - Essa é a primeira bonus song do disco Speedway. A inclusão de uma canção como essa só serve para demonstrar como Elvis estava estagnado artisticamente. Qual artista iria aceitar colocar em um novo disco uma música gravada quase 5 anos antes e que simplesmente havia sido arquivada? Cinco anos é uma eternidade em termos de renovação musical, todas as mudanças que surgiram no mundo da música, ainda mais nos anos 60, fazia com que uma canção gravada em 1963 soasse completamente anacrônica em 1968. Seria algo como se os Beatles lançassem She Loves You no Álbum Branco. Enfim, desleixo, displicência e estagnação, apenas esses fatores justificam esse tipo de lançamento numa trilha sonora de Elvis Presley no final dos anos 60. Mas o pior nem é isso, o pior é saber que Western Union, mesmo com vocalização ultrapassada, arranjo desatualizado e falta de sincronia com o que se ouvia em 1968 conseguia ser ainda melhor que muitas das músicas do filme Speedway! Só podemos chegar na triste constatação que sim, Elvis ficou sem evoluir durante pelo menos cinco anos em sua carreira nos anos 60, chegando inclusive a involuir (sic) em certos aspectos! Lamentável.

MINE (Tepper - Bennett) - Em setembro de 1967 o produtor Felton Jarvis levou Elvis a Nashville com a clara intenção de produzir material de melhor qualidade que o que vinha sendo apresentando nas trilhas sonoras de seus últimos filmes. Felton reuniu a nata dos músicos da cidade e conseguiu grande êxito, gravando excelentes canções como por exemplo You'll Never Walk Alone, We Call on Him, Hi-Heel Sneakers, Just Call Me Lonesome, Big Boss Man e Guitar Man. Enfim, uma excelente sessão em todos os aspectos que poderia inclusive dar origem a um excelente LP caso a RCA assim desejasse. Mas infelizmente isso nunca ocorreu. Ao invés disso os produtores tiveram a péssima idéia de utilizar ótimas faixas como essas apenas como bonus songs de algumas das piores trilhas sonoras de Elvis, ofuscando completamente o belo retorno que poderiam trazer para a carreira do cantor. Esse é o caso de "Mine", gravada nessa mesma ocasião e jogada no lado B da trilha de Speedway. Um grande equívoco pois "Mine" é uma excelente balada, com ótima interpretação por parte de Elvis.

GOIN´ HOME (Byers) - Gravada em janeiro de 1968 durante as gravações de parte da trilha sonora do filme "Stay Away, Joe", em Nashville, a canção "Goin' Home" se transformou num verdadeiro pesadelo para Elvis em estúdio, fazendo com que o cantor tivesse que registrar 30 takes diferentes para chegar na versão oficial. Curiosamente essa foi uma das sessões mais interessantes de Elvis, senão vejamos: Ele gravou o clássico de Chuck Berry, Too Much Monkey Business, a ótima U.S. Male, que seria lançada em single e versões diversas de Stay Away. Isso pelo menos demonstrava pequenos e significativos sinais de mudança, até mesmo porque Elvis ia, aos poucos, deixando o material fraco de filmes de lado para gravar canções de qualidade. A lamentar apenas o fato de Goin' Home, que sempre foi uma ótima música, ser lançada de forma tão equivocada, como mera bonus song de Speedway. Merecia melhor destino certamente.

SUPPOSE (Dee - Goehring) - Suppose nunca ganhou uma boa versão na voz de Elvis Presley. Todas as suas versões oficiais (seja a versão mais longa ou mais curta) deixam a desejar. Também pudera, gravada nas mesmas sessões do restante da trilha de Speedway a canção nunca foi prioridade para Elvis, isso apesar de haver indícios de que ele pessoalmente gostava dela, tanto que gravações caseiras do cantor em Graceland a cantando e tocando piano já eram conhecidas pelos fãs desde os anos 80. Inicialmente a música foi cogitada para entrar no filme mas logo depois foi cortada por decisão dos executivos da MGM. Curiosidade: em Suppose ouvimos o amigo de Elvis, Charlie Hodge, tocando piano em momento inspirado.

Elvis Presley - Speedway (1968): Vocal: Elvis Presley / Guitarra: Chip Young / Guitarra: Hilmer J. "Tiny" Timbrell / Guitarra: Tommy Tedesco / Baixo: Bob Moore / Bateria: Murrey "Buddy" Harman / Bateria: D.J. Fontana / Piano: Larry Muhoberac / Piano: Charlie Hodge (somente na versão de Suppose) / Steel Guitar: Pete Drake / Saxophone: Homer "Boots" Randolph / Trumpete: Charlie McCoy / Backup Vocals: The Jordanaires (Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker) / Direção Musical: Jeff Alexander / Engenheiro: Eddie Bracket / Gravado no M.G.M. Studios, Hollywood, California / Data de Gravação: 20 a 21 e 26 de junho de 1967 / Data de lançamento: maio de 1968 / Melhor posição nas charts: #82 (EUA) e # - (UK) Obs: Não obteve classificação entre os mais vendidos na Grã Bretanha.

Pablo Aluísio - abril / maio de 2008.

O Bacana do Volante

Quando "Speedway" pintou nos cinemas em junho de 1968 Elvis Presley já estava com um pé fora de Hollywood. Ele tinha planos para retornar em um grande especial de TV na NBC e posteriormente voltar para a estrada, para aquilo que mais gostava de fazer, realizar shows ao vivo. Sua carreira em Hollywood havia entrado em um beco sem saída e assim todos já sabiam de antemão que ele tinha dois caminhos a seguir: ou continuava a tentar emplacar ano após ano com esse tipo de filme ou então voltar para a música de forma definitiva. "O Bacana do Volante" foi produzido pela MGM. Nesse estúdio Elvis amargou seus piores filmes. Ao contrário da Paramount que sempre procurava fazer algo no mínimo decente para ser lançado, na Metro, em sua eterna crise financeira, valia tudo ou quase tudo. Filmes rodados em duas semanas, sem capricho, sem cuidado com pobre qualidade técnica. "Speedway" não chega a ficar entre os piores filmes de Elvis nesse estúdio mas também não fica entre os melhores. Não há como negar que o roteiro é bem derivativo, copiado inclusive de outras fitas de Elvis no próprio estúdio. De fato há pouca coisa que separa esse filme de "Spinout", por exemplo. A trama era quase sempre a mesma: Elvis como piloto de corridas, se apaixona por alguma starlet, cantas algumas músicas e The End. Tudo muito leve e inofensivo.

O filme custou 1 milhão e meio de dólares e não deu prejuízo. Lançado no Sul dos EUA inicialmente, em pequenas cidades onde Elvis tinha seu público mais fiel, o filme logo recuperou seu investimento em poucas semanas. A estréia ocorreu na mesma cidade onde foram realizadas quase todas as cenas externas de corrida. Essas sequências foram realizadas por uma segunda unidade em Charlotte na Carolina do Norte onde todos os anos a cidade promovia uma famosa corrida de Stock Car. Todos os pilotos foram devidamente creditados, mostrando respeito dos produtores com esses profissionais. Só depois o estúdio finalmente o colocou em cartaz nos grandes centros (Nova Iorque, Los Angeles, etc) onde como sempre o filme foi impiedosamente malhado pela crítica especializada. Dividindo a tela com Elvis surge aqui Nancy Sinatra. Muito longe do carisma e o talento de uma Ann-Margret, Nancy fez o que foi possível para se tornar um boa partner para Elvis Presley. Dança, canta e tenta trazer alguma veracidade para o romance. Ela interpreta uma fiscal do imposto de renda que está atrás do piloto Steve Grayson (Elvis Presley) por sonegação. 

Já Elvis aqui apenas passeia em cena. Algumas canções são até boas - a própria "Speedway" tem bom ritmo e fluência, embora a letra seja fraca - mas ele visivelmente não se esforça muito. Em alguns momentos transparece até mesmo estar entediado. De qualquer modo o famoso cantor desfila um figurino interessante que anos depois seria parcialmente copiada pelos criadores do desenho animado Speed Racer. Em conclusão podemos dizer que "Speedway" até mesmo tem alguns bons momentos mas no geral a produção realmente deixa a desejar seja como musical, seja como comédia romântica. Revisto hoje em dia realmente o único interesse que sobrevive é a própria presença de Elvis Presley, que como todo mito tinha um carisma fora do normal, que o fazia sair ileso até mesmo de filmes como esse. Fora isso realmente não temos nada de muito marcante.

O Bacana do Volante (Speedway, EUA, 1968) Direção: Norman Taurog / Roteiro: Phil Shuken / Elenco: Elvis Presley, Nancy Sinatra, Bill Bixby, Gale Gordon / Sinopse: Susan Jacks (Nancy Sinatra) é uma agente fiscal do governo americano que vai no encalço de um piloto de corridas, Steve Grayson (Elvis Presley), que não pagou seu imposto de renda. Não demora muito para ela ficar completamente apaixonada pelo carismático corredor..

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Elvis Gold Records Vol.4 (1968)

O ano de 1968 começou para Elvis com o lançamento do disco Elvis Gold Records vol. 4. Essa era uma coletânea dos principais sucessos de Elvis que chegaram ao mercado através de singles no período compreendido entre 1960 a 1967 (com ênfase maior entre 63 a 66). Basicamente segue o mesmo espírito dos volumes anteriores. Ouvindo esse CD percebemos bem como Elvis estava em crise nesse período de sua carreira. Não há entre as faixas nenhum grande hit, nenhuma música campeã de popularidade. Ao contrário do volume 1, que era recheado de megassucessos, do volume 2, que captou um ótimo momento da carreira rocker do cantor e do volume 3 que trazia os seus maiores sucessos logo após seu retorno à vida civil em 1960, o volume 4 consegue apenas reunir boas músicas, sem nenhum grande destaque, e o pior: sem ter sequer um número 1 para puxar o disco.

O CD abre com Love Letters, single de relativo sucesso lançado em 1966 (chegou ao sexto lugar nas paradas inglesas!). Essa versão não é a mesma que deu origem a um disco de Elvis do mesmo nome nos anos 70. É a mesma canção mas arranjada e executada de maneira completamente diversa. A versão original é bem melhor e sempre achei a versão de Elvis dos anos 70 desnecessária. Witchcraft vem logo a seguir. Até hoje não consegui entender o que essa música está fazendo aqui. Ela foi apenas o lado B do single Bossa Nova Baby e não fez sucesso nenhum quando foi lançada. Hit definitivamente ela nunca foi. O mesmo acontece com It Hurts Me. A canção é linda, mas nunca foi uma música digna do título de Gold Records. Ela foi lançada originalmente na discografia de Elvis como mero lado B do single Kissin Cousins e alcançou uma decepcionante 29ª posição! Não há como entender sua inclusão nesse disco.

Como esse período na carreira de Elvis foi marcado pelas trilhas sonoras, músicas de filmes não poderiam faltar. Assim temos What´D I Say de Viva Las Vegas e Lonely Man de Wild In The Country. São dois belos momentos da discografia de Elvis nos anos 60. O clássico absoluto de Ray Charles ganhou uma versão animada e com sabor pop na voz de Elvis, combinando perfeitamente com a proposta do filme e Lonely Man é seguramente uma das mais belas músicas de Elvis em sua fase Hollywoodiana, tanto pelo arranjo, como pela bela interpretação do cantor. Apesar de ter grandes méritos artísticos, nenhuma delas também foi grande sucesso na época de seus lançamentos. Lonely Man foi o lado B de Surrender (esse sim grande hit) e What`D I Say amargou uma 21ª posição nas paradas americanas.

O grande sucesso de todo o disco, se é que podemos qualificar assim, é realmente You´re The Devil In Disguise. O single, lançado em meados de 1963 chegou ao terceiro lugar nas paradas americanas, uma ótima posição para Elvis naquele momento. Como achar grandes hits estava complicado para os produtores que estavam selecionando as músicas desse disco resolveu-se acrescentar também o lado B do single, Please Don´t Drag That String Around. Percebam que no auge de Elvis, quando seus discos da série Golden Records eram lançados apenas com sucessos absolutos, seria impossível que uma canção como essa fosse incluída na seleção do repertório. Porém como Elvis estava em tempo de vacas magras ela foi sorrateiramente selecionada, mesmo sem ter feito sucesso nenhum.

O disco ainda conta com vários outros lados B: A Mess Of Blues (lado B do hit It´s Now Or Never) e Just Tell Her Jim Said Hello (lado B de She´s Not You). Duas músicas que só foram encaixadas porque, para ser sincero, não havia mais nenhum outro sucesso de Elvis para ser selecionado. O último single presente na coletânea é Ask Me / Ain´t That Loving Baby (essa um reaproveitamento dos anos 50). Apesar de ter chegado apenas a 12ª entre os mais vendidos ganhou seu espaço na série. Enfim, Elvis Gold Records vol. 4 é seguramente o mais fraco LP dessa série. É mal selecionado, equivocado e disperso, não fazendo jus ao espírito da série da qual faz parte. Também foi o último lançado na carreira do cantor (um quinto volume foi até inventado pela RCA, mas após a morte de Elvis).

Elvis Presley - Elvis Gold Records Vol. 4 (1968)
Love Letters
Whitcraft
It Hurts Me
What'd I Say
Please Don't Drag That String Around
Indescribably Blue
Devil in Disguise
Lonely Man
A Mess Of Blues
Ask Me
Ain't That Loving You Baby
Just Tell Her Jim Said Hello

Pablo Aluísio - setembro de 2009.

Elvis Presley - Stay Away Joe (1968)

Stay Away Joe (lançado no Brasil como Joe é muito vivo) foi o primeiro filme de Elvis Presley a surgir nas telas em 1968. O filme que foi rodado no Arizona era uma comédia rasgada, passada no moderno oeste americano. Nada que viesse a lembrar o filme anterior do cantor sobre o mesmo tema, Flaming Star. Aqui o clima é de total descontração, numa produção que lembra muito alguns filmes mais alternativos do final dos anos 60. Não há o menor indício de produção requintada ou algo parecido, tudo é muito despretensioso e leve. Elvis em particular passa a sensação que estava mais do que nunca se divertindo, pois sua "atuação" mais se parece com a de uma pessoa que está numa mera reunião de amigos, se divertindo no fim de semana (Realmente Elvis divide a cena com vários membros da Máfia de Memphis, principalmente nas divertidas cenas de briga no meio da lama).

O filme de certa forma mostra no que havia se transformado sua carreira no cinema. Ao invés de estar disputando por papéis realmente relevantes em boas produções, como um dia chegou a almejar, Elvis estava envolvido em mais um filme centrado única e exclusivamente em seu nome, sua fama e sua capacidade de atrair os espectadores às salas de cinema, não importando que produto fosse exibido. Infelizmente por volta de 1968 Elvis já não conseguia atrair tanta bilheteria assim, principalmente por ter queimado o filme em uma série incrível de produções B, sem nenhum atrativo além de ver o antigo ídolo cantando canções no meio de várias cenas sem nenhuma importância. Stay Away Joe não seguiu um caminho melhor, tendo ao final de sua carreira apenas uma humilde passagem pelas bilheterias americanas.

A trilha sonora, gravada parte em 1967 e completada alguns meses depois, já em 1968, não teve melhor sorte. Embora estivesse nos estúdios ao lado de seu grupo habitual não havia muito o que fazer com um material tão fraco como aquele. A canção título não passava de uma alegoria estereotipada dos nativos americanos, onde nem o arranjo levemente diferenciado se sobressaía. Elvis inclusive errou como nunca, sendo seus erros vocais levados para a master, um erro imperdoável por parte do produtor Jeff Alexander. O pior é Dominic, uma verdadeira aberração musical, que envergonhou tanto Elvis e sua banda que ele próprio exigiu garantias de que ela nunca seria lançada oficialmente em seus discos, sendo usada apenas na cena do filme.

As demais canções não ajudam muito. All I Need Was The Rain até tem arranjo interessante, lembrando um blues dos velhos tempos, com direito a gaita inspirada de Charlie McCoy. Infelizmente ela seria completamente desperdiçada na discografia de Elvis, passando em branco. A cena em que é apresentada no filme, com Elvis curtindo uma fase de baixa (será que se inspiraram na própria carreira de Elvis na época?) nada traz de muito inspirado ou relevante. Bem melhores são Goin´Home, que tecnicamente nem deve ser considerada parte da trilha em si, pois foi utilizada pessimamente como bônus no álbum de Speedway e Stay Away que até soa engraçadinha no meio desse lamaçal de músicas ruins.

A RCA após ouvir os resultados das sessões resolveu simplesmente ignorar todo o material. Embora o número de músicas fosse ideal para o lançamento de um EP (compacto duplo) a gravadora de Elvis resolveu não apostar de novo, depois do fracasso retumbante de Easy Come, Easy Go, nesse mesmo formato. A única consideração que a RCA teve com esse material foi o lançamento da música Stay Away como lado B do single US Male. Depois disso nada mais fez pelo restante das canções, a não ser colocá-las futuramente em coletâneas da série RCA CAMDEM, de discos promocionais, daqueles vendidos em supermercados pela metade do preço de um disco do selo principal da gravadora. Ah, antes que me esqueça: eles cumpriram a promessa feita a Elvis e jamais lançaram Dominic em discos oficiais (pelo menos enquanto ele estava vivo). Ao menos nisso tiveram bom senso.

Elvis Presley - Stay Away Joe (1968)
Stay Away Joe
Dominic
All I Need Was The Rain
Goin´ Home
Stay Away.

Elvis Presley - Stay Away Joe (1968): Vocais: Elvis Presley / Guitarra: Scotty Moore / Guitarra: Chip Young / Baixo: Bob Moore / Bateria: Murrey "Buddy" Harman / Bateria: D.J. Fontana / Piano: Floyd Cramer / Harmonica: Charlie McCoy / Violino: Gordon Terry / Backup Vocals: The Jordanaires (Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker) / Produzido por Jeff Alexander / Gravado nos Estúdios MGM Hollywood / Data de Gravação: 1 de outubro de 1967 e 15 a 17 de janeiro de 1968 / Data de lançamento: Fevereiro de 1968 (single US Male - Stay Away) / Melhor posição nas Charts: #67 (EUA) e #15 (UK) - (single US Male - Stay Away).

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - How Great Thou Art (1967)

Em maio de 1966 Elvis finalmente entrou em estúdio para gravar material convencional, que não fizesse parte de seus filmes. O simples fato de lidar com material novo já era um alívio para os fãs que esperavam que Elvis retomasse sua carreira musical, longe um pouco das trilhas sonoras que vinha apresentando. O local de gravação escolhido foi o mesmo da grande maioria de seus álbuns de estúdio, o RCA Studios em Nashville. A grande novidade dessa sessão foi que Elvis voltaria a gravar material gospel, algo que não fazia desde 1960. Esse foi o primeiro grande trabalho do produtor Felton Jarvis ao lado de Elvis. Embora Elvis não tivesse se fixado a um único produtor ao longo dos anos 60 (eles mudavam constantemente de acordo com os interesses dos estúdios de cinema), Elvis e Felton logo iniciariam uma parceria de trabalho que iria cada vaz mais se fortalecer ao longo dos anos, principalmente nos anos 70, quando ele monopolizaria toda a produção dos discos do cantor naquela época.

How Great Thou Art foi importante na carreira de Elvis Presley por diversas razões: Foi o primeiro trabalho consistente do cantor em muitos anos; contou com uma produção extremamente inspirada e trouxe grande reconhecimento da crítica (algo que definitivamente faltava a Elvis naquele momento, pois ele vinha sendo constantemente criticado por suas trilhas sonoras de gosto duvidoso). Além disso o álbum finalmente consolidou seu prestigio como intérprete de música religiosa, algo que lhe trazia grande orgulho pessoal. Porém, de todos os méritos alcançados pelo disco o maior foi sem dúvida ter conquistado o prêmio Grammy de melhor Performance de Música Sacra de 1967. Embora tenha concorrido por várias vezes ao Grammy nos anos anteriores, Elvis jamais havia ganho o cobiçado "Oscar" da música americana. Agora ele finalmente havia sido merecidamente premiado e justamente pelo estilo musical do qual mais admirava. O repertório de How Great Thou Art é vasto e rico. O cantor fez uma excelente escolha da seleção musical, que é bem ampla e abrangente, procurando transitar por todas as vertentes da música religiosa americana. Com isso temos canções contemporâneas a Elvis naquele momento dividindo espaço no álbum com músicas clássicas e consagradas dentro do movimento evangélico americano. Para os admiradores do gênero realmente foi um Menu extremamente amplo e de bom gosto. Segue abaixo as principais referências do disco.

HOW GREAT THOU ART (Stuart K. Hine) - Escrita em 1886 pelo Reverendo Carl Boberg com o nome de "O Stored Gud". Em 1907 o Reverendo Stuart K. Hine escreveu a primeira versão em língua inglesa, esta por sua vez baseada na versão alemã da canção intitulada "Wie Gross Bist Du". A primeira gravação foi de George Beverly Shea em 1955, seguida da versão dos Blackwood Brothers em 1957. Elvis recebeu o prêmio Grammy na categoria "Melhor Performance Inspirativa" por sua interpretação desta música em 1974 no disco "Elvis As Recorded Live On Stage in Memphis" (1974). Sem dúvida um marco na carreira de Presley.

IN THE GARDEN (C.Austin Miles) - Música composta no início do século, mais exatamente em 1912. Em 1960 fez parte da trilha sonora do filme "Wild River" (rio selvagem, 1960). Entre os grandes nomes que a gravaram estão Mahalia Jackson e Jim Reeves.

SOMEBODY BIGGER THAN YOU AND I (Johnny Lange / Walter Heath - Joseph Burke) - Canção Spiritual bem ao gosto de Presley. O cantor e ator Gene Autry a gravou com grande sucesso para a trilha do filme "The Old West" (o velho oeste, 1951). Mahalia Jackson também fez sua versão, sendo ela aliás, uma das cantoras preferidas de Elvis. Finalmente o grupo "The Ink Spots" fez uma versão muito bem arranjada em 1951.

FARTHER ALONG (W.B.Stone) - Escrita em 1937. Foi gravada por Red Foley e Bill Monroe, autor de "Blue Moon of Kentucky". Certamente uma canção a qual Elvis deve ter tido contato ainda na infância, em Tupelo ou Memphis. Certamente uma das que mais tem ligação emocional com o cantor.

STAND BY ME (Charles B.Tindley) - Não é a famosa canção de Ben E.King que se tornou um grande sucesso nos anos 70 na voz de John Lennon e que foi tema do filme "Stand by Me (conta comigo) nos anos 80. Esta é na verdade, uma música composta em 1905 que foi gravada por Red Foley e pelo grupo The Harmonizing Four (o melhor grupo vocal da história, segundo Elvis). Era uma das preferidas de Elvis no período em que ele esteve servindo o exército na Alemanha.

WITHOUT HIM (Myron LeFreve) - Há controvérsia se o autor LeFreve a gravou em estúdio. Se isto ocorreu a gravação sumiu e não se tem a certeza absoluta da existência deste disco. Em 1956 Frankie Lane a gravou e alcançou um relativo sucesso na parada da revista Billboard na categoria "Gospel Music".

SO HIGH (Tradicional) - Foi gravada inicialmente por Rosetta Tharp. Em 1959 a cantora LaVern Backer a gravou com o título de "So High, So Low" e alcançou um grande sucesso. Elvis disse mais tarde em uma entrevista coletiva: "Não existe nada mais belo do que um grupo vocal em harmonia cantando Gospel". Esta canção é um exemplo do que ele se refere.

WHERE COULD I GO BUT THE LORD (James B. Coats) - Música por demais conhecida no mundo Gospel norte americano. Foi escrita inicialmente pela dupla de compositores K.E.Harris e J.M.Black em 1890. Em 1940 J.B.Coats escreveu uma versão bastante modificada. Foi gravada ainda por Red Foley em 1951 e por Faron Young em 1954. Elvis a utilizou ainda no NBC TV Special num medley com outras canções evangélicas.

BY AND BY (Charles B. Tindley) - Escrita em 1905. Lançada por Soul Stirrers e Bill Monroe. Elvis Presley já havia gravado um disco Gospel de grande sucesso em 1960 intitulado "His Hand in Mine". Em 1972 ele ainda lançaria mais um chamado "He Touched Me", este também grande sucesso e vencedor de mais um Grammy na categoria "melhor performance religiosa". Tamanha a simbiose entre Música Gospel e Elvis Presley que os três únicos prêmios Grammy da sua carreira foram conquistados através de seus trabalhos religiosos.

IF THE LORD WASN'T WALKING BY MY SIDE (Henry Slaughter) - O autor Henry era o pianista do grupo vocal The Imperials e escreveu esta canção em 1961. Elvis por essa época estava profundamente envolvido em questões religiosas, lendo e estudando muito sobre o assunto, tanto que resolveu construir um jardim em Graceland voltado para meditação e oração. O chamado "Jardim da meditação" hoje é o lugar de eterno repouso do cantor.

RUN ON (tradicional) - Música de outro grupo vocal, o "Golden Gate Quartet". Não é novidade para os que estudam sua biografia o fato de Elvis ter ambicionado desde muito jovem em fazer parte de um quarteto de música religiosa. Aliás esse sempre foi seu grande sonho na juventude. Embora nunca tenha realizado esse desejo Elvis nunca deixou de trabalhar ao lado de grupos vocais gospel, mesmo em seus anos mais roqueiros, como nos anos 50, onde usou um grupo vocal gospel, The Jordanaires, para lhe acompanhar até mesmo nos mais vibrantes rocks.

WHERE NO ONE STANDS ALONE (Mosie Lister) - Escrito sob encomenda para o grupo "Statemen Quartet" em 1955. O cantor Don Gibson também fez uma versão. Além dos três discos Gospel de Elvis (His Hand in Mine, How Great Thou Art e He Touched Me) iriam ser lançadas diversas coletâneas Gospel ao longo de sua carreira como "He Walks Beside Me" e "You'll Never Walk Alone". A reunião definitiva dos trabalhos sacros de Elvis iria se concretizar através da caixa de CDs lançadas nos anos 90 "Amazing Grace" reunindo todas as músicas Gospel de Elvis Presley em seus 21 anos de carreira.

CRYING IN THE CHAPEL (Artie Glenn) - Escrita por Artie Glenn em 1953 com apenas 16 anos de idade. Chegou ao primeiro lugar nas paradas R&B com o obscuro grupo Sonny Till and the Orioles. Em 1953 esta música explodiu nas paradas nas vozes de Rex Allen e June Valli. A versão de Elvis foi gravada em 1960. Se tornou um single de enorme sucesso em 1965. O sucesso foi tamanho que o single com "I believe in the man in the Sky" (canção do disco "His Hand In Mine") no lado B chegou ao primeiro lugar na parada britânica. Crying In The Chapel não fez parte dos trabalhos de How Great Thou Art mas devido a toda esta repercussão anterior a canção foi incluída no disco para ajudar em sua promoção.

Elvis Presley - How Great Thou Art (1967): Elvis Presley (vocal, piano e violão) / Scotty Moore (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Bob Moore (baixo) / Henry Strzelecky (baixo) / Charlie McCoy (baixo e gaita) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harman (bateria e timba) / Floyd Cramer (piano) / Henry Slaugter (piano) / David Briggs (orgão) / Pete Drake (steel guitar) / Boots Randolph (sax) / Rufus Long (sax) / Ray Stevens (piston) / The Jordanaires (vocais) / Millie Kirkham, June Page, Dolores Edgin & Sandy Posey (vocais) / The Imperials (vocais) / Produzido por Felton Jarvis / Arranjado por Felton Jarvis & Elvis Presley / Local de gravação: RCA Studios B, Nashville / Data de gravação: 25 a 28 de maio de 1966 / Lançado em fevereiro de 1967 / Melhor posição nas charts: #18 (EUA) e #11 (UK).

Pablo Aluísio - Maio de 2000 / revisado e atualizado em novembro de 2001 / Introdução: setembro de 2009.

Elvis Presley - Elvis Studios Highlights 1967

No meio de uma grave crise musical, amenizada um pouco pelo recém lançamento de seu disco Gospel, How Great Thou Art, Elvis voltou aos estúdios em setembro de 1967 para gravar material convencional. Embora o número de canções agendadas fossem suficientes para compor um novo álbum a intenção dos produtores não era bem essa ao iniciar os trabalhos. O principal objetivo era produzir material com certa qualidade para compor os novos singles de Elvis. O problema era que o material das trilhas sonoras não mais chamava a atenção do público e os singles de Elvis cada vez mais derrapavam na parada. Ter um single de sucesso, coisa que Elvis não tinha desde 1962, era o principal motivo de todos estarem lá com o astro tentando reencontrar o caminho do sucesso.

No começo a RCA selecionou um amplo leque de opções de canções à disposição de Elvis para ele escolher o repertório da sessão. O problema é Elvis odiou a maioria das músicas. Elas lembravam muito a sonoridade de suas últimas trilhas sonoras e isso definitivamente não era o que Elvis procurava. Ele queria voltar a gravar material de qualidade, algo que causasse impacto novamente nas paradas de sucesso, algo realmente marcante. Com Felton Jarvis ao lado, Elvis sentiu segurança suficiente para escolher o que iria gravar com calma e paciência. Nada da correria que imperava nas sessões das trilhas dos estúdios de cinema. No fundo Elvis sabia que estava ali para voltar a produzir música de qualidade e não músicas que provavelmente só funcionariam nas cenas do filme.

E foi com esse pensamento que Elvis começou as sessões gravando Guitar Man e Big Boss Man. Duas canções com letras fortes e de auto afirmação. O que mais atraiu Elvis em Guitar Man foi justamente seu arranjo country, gênero que Elvis havia cada vez mais se afastado em seus anos de Hollywood. Já Big Boss Man deixou a todos empolgados, tanto que ela seria rapidamente lançada ainda naquele mês, junto a You Don´t Know Me. Para se ter uma ideia de como estava complicado o mercado de singles de Elvis para a RCA seu lançamento anterior nada mais era do que uma reprise do disco Something For Everybody, de 1960. Infelizmente a pressa e a vontade de ganhar rapidamente em cima do nome de Elvis atrapalharam os primeiros singles dessa sessão. A falta de publicidade fez com que Big Boss Man chegasse apenas em uma desoladora 34ª posição. O pior aconteceu com Guitar Man, que não conseguiu emplacar entre os 40 mais.

Essa sessão de setembro porém não foi realizada apenas visando o mercado de singles. A velocidade com que as trilhas sonoras chegavam no mercado e a insuficiência de músicas para completar cronologicamente um álbum fez com que a RCA inventasse as chamadas Bonus Songs. Músicas sem relação com os filmes mas que serviam como forma de se evitar que as trilhas fossem curtas demais. Infelizmente essas músicas, algumas delas ótimas, se perderam no meio de trilhas francamente ruins e jamais tiveram seus méritos reconhecidos, atoladas que estavam em meio a material sem importância. Foi visando justamente a produção de Bonus Songs que Elvis dedicou parte de seu tempo nessas sessões de setembro: Mine, Singing Tree e Just Call Me Lonesome, três boas músicas gravadas por Elvis nessa ocasião, tiveram esse infeliz destino.

Como não poderia deixar de ser, empolgado que estava pelo êxito de seu álbum religioso How Great Thou Art, Elvis se dedicou também a gravar algumas canções gospel, entre elas a linda You´ll Never Walk Alone, que acabou sendo lançada em single no começo de 1968 com We Call On Him, outra música gravada nessa mesma sessão. A interpretação de Elvis nessa música realmente demonstrava que em posse de material de qualidade Elvis ainda era plenamente capaz de emocionar e ser relevante musicalmente de novo. You´ll Never Walk Alone seria inclusive o último single de relevância de Elvis a ser lançado até If I Can Dream no final de 1968, o compacto que traria Elvis de volta definitivamente à parada de singles da Billboard. Embora a sessão de setembro de 1967 não tenha trazido o sucesso comercial de volta à carreira de Elvis Presley, ela serviu para que o cantor fosse novamente citado nas revistas e jornais especializados de forma elogiosa, pois os singles ganharam várias críticas positivas em seus lançamentos, algo que definitivamente ele não recebia desde a primeira metade dos anos 60. Não resta a menor dúvida que a gravação dessas músicas mostrou ao cantor e a seu empresário que o caminho a seguir não mais passava pela gravação das maçantes trilhas mas sim pela busca de material de excelência artística. Gravando bom material Elvis iria naturalmente voltar ao sucesso, fato que se confirmaria plenamente no ano que nascia, 1968, o ano do Comeback na carreira do cantor.

Pablo Aluísio - Setembro de 2009.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Double Trouble (1967)

Deve ter sido frustrante, no mínimo, para Elvis gravar a trilha sonora de "Double Trouble". A maioria das músicas eram esquecíveis, e com certeza não acrescentariam nada para o cantor. Logo ele que há um mês estava em Nashville gravando o espetacular disco gospel "How Great Thou Art", além de várias outras músicas incríveis como "Tomorrow is a Long Time", "Down in the Alley" e "I´ll Remember You". Elvis se atrasou para a sessão de gravação e como resultado a MGM mudou o endereço das gravações para o seu próprio estúdio, que era simplesmente horrível. A essa altura ninguém ligava mais para a qualidade de nada e o porquê de Elvis se submeter a essa humilhação, tendo que gravar para a trilha péssimas canções como "Old Mac Donald", é um dos grandes mistérios de sua carreira!

Uma das poucas coisas boas dessa sessão foi que Elvis teve a chance de conhecer pessoalmente seu ídolo Jackie Wilson, que estava pelas redondezas. Uma curiosidade é que Elvis, em 1975, ajudou financeiramente Jackie quando ele sofreu um ataque cardíaco. O filme "Double Trouble" (Canções e Confusões, no Brasil) não é tão ruim e teve a vantagem de teoricamente ser ambientado na Europa, mudando o ambiente. Teoricamente, pois foi todo filmado nos EUA. Possui alguns personagens interessantes como os dois ladrões, bem engraçados, uma trama previsível, mas bem legal e uma intrigante atriz como a principal. Annete Day fez sua estreia no cinema com Elvis nesse filme e aparentemente não gostou, pois esse foi seu único. Ela tinha apenas 18 anos quando contracenou com Elvis e os dois tiveram uma boa química, mais cômica do que romântica. O clima sombrio do filme envolvendo tentativas de assassinato de Guy Lambert (nome do personagem de Elvis) parece que previa o naufrágio nas bilheterias, sendo que este filme foi um dos cinco que menos renderam na carreira de Elvis. A trilha sonora foi a primeira a nem conseguir entrar para o top 40 americano conseguindo a lastimável 47ª posição. Na Inglaterra foi um pouco melhor sendo 34º lugar.

DOUBLE TROUBLE (D. Pomus / M. Shuman) - Doc Pomus e Mort Shuman foram responsáveis por grande parte do melhor material gravado por Elvis de 1960 a 1963, porém, sua última contribuição (Elvis ainda viria em 69 a gravar a belíssima "You´ll Think of Me" de Mort Shuman) não é lá essas coisas e seguia a mediocridade de músicas recentemente escritas por eles como: "What Every Woman Lives For" e "Never Say Yes". Não que "Double Trouble" seja ruim, mas comparada com músicas como "Little Sister" e "Viva Las Vegas", também escritas pela dupla, mostram claramente que Pomus e Shuman não estavam exatamente inspirados. Mas Elvis e a banda estão ok. A letra é bobinha e a música muito curta. Destaque para a escandalosa introdução da orquestra, fato raro em músicas de Elvis à época.

BABY IF YOU GIVE ALL OF YOUR LOVE (Joy Byers) - Mais uma excelente contribuição de Joy Byers para a discografia de Elvis. Essa música super animada é uma das melhores das últimas trilhas sonoras e junto com "City by Night", a melhor do filme. Merecia um lançamento em single, talvez como lado B de "Long Legged Girl". Foi bastante subestimada pela gravadora.

COULD I FALL IN LOVE (Randy Starr) - Os filmes de Elvis sempre possuíam boas baladas e esse aqui não é exceção. Pena que o arranjo dessa não seja tão bom quanto de "Am I Ready?" por exemplo, o que tirou seu potencial de single. Interessante é a cena em que Elvis a canta para Annete Day, onde o acompanhamento da música é oriundo de um pequeno single que Elvis bota para tocar. Na capa a foto de Guy Lambert! (o personagem interpretado por Elvis).

LONG LEGGED GIRL (J.L. Mc Farland / W. Scotty) - Outro grande rock da trilha que sofre do mal de ser muito curto. Essa música agitada, com uma guitarra estridente, foi lançada como single alcançando a péssima 63ª posição nos EUA. Nunca um lado A de Elvis havia entrado nas paradas e conseguido como posição máxima, colocação tão baixa. E dessa vez a culpa não era da música, que era boa, e sim porque o público já não estava mais prestando atenção nos lançamentos de Elvis Presley por essa época! Curiosidade: Foi a música mais curta de Elvis a entrar no Hot 100, com apenas 1 minuto e vinte e sete segundos de duração.

CITY BY NIGHT (Giant / Baum / Kaye) - Definitivamente uma das melhores músicas de Elvis nas trilhas da década 60, essa canção foi o mais próximo que Elvis chegou de cantar um jazz em sua carreira. Com um trompete sinistro, a banda afiadíssima e a voz de Elvis em perfeitas condições, com um "yeah" no final que lembra "Trouble", essa verdadeira pérola não recebeu a menor atenção em sua época de lançamento. Talvez seu próprio estilo, diferente de tudo que Elvis havia gravado, tenha desagradado aos fãs mais tradicionalistas do cantor. Além disso, o disco "Double Trouble" foi um dos maiores fracassos da carreira de Elvis. Lançado em 1967, ano em que Elvis amargou o seu pior ano de apatia com o público, com a carreira praticamente arruinada por seus filmes em Hollywood. Em um cenário tão desolador, que chance de atenção essa preciosidade poderia ter tido?

OLD MAC DONALD (Randy Starr) - Você está escutando esse disco e pensa: "É, não é tão ruim quanto dizem". Porém seu pensamento é diluído com os primeiros acordes de simplesmente o pior momento de Elvis no cinema: o Rei do Rock cantando "Old Mac Donald"!!! A cena do filme é pior ainda, com Elvis na traseira de um caminhão cheio de animais (isso mesmo!), cantando a mais degradante de todas as suas canções. Como é que alguém se atreveu a por essa música no filme, e o pior, como Elvis aceitou cantá-la? A trilha e o filme até que não são ruins, mas tudo vai por água abaixo com essa música. Quem, em sua sã consciência, em pleno verão do amor de 67, iria pagar para ver Elvis se humilhando cantando porcarias? Entendam, a música em si, cantada para crianças é excelente. Mas botá-la num filme de Elvis foi a pior das ideias!

I LOVE ONLY ONE GIRL (S. Tepper / R.C. Bennett) - Adorava essa música quando tinha 10 anos, mas agora ela me parece bem bobinha, algo tirado de uma peça teatral para crianças. E o ritmo dela é uma marchinha! Que horror! A cena do filme com essa música, conta com um absolutamente desnecessário número de dança de uma garotinha. Detalhe: em 1972 algum gênio da RCA teve a brilhante ideia de botar no mesmo disco em que a fenomenal e clássica Burning Love foi lançada, vários besteiróis dos filmes. Adivinhem qual música estava presente também? Vou dar uma dica: uma marchinha bobinha de "Double Trouble". Ai... ai... se pudesse matar o Coronel Parker e os dirigentes da RCA...

THERE´S TOO MUCH WORLD TO SEE - Depois de duas músicas horrorosas, qualquer coisa de nível regular é um alívio. É o caso dessa música, da qual 2 minutos depois que você escutar não vai mais se lembrar dela. É a típica música que só Elvis consegue tornar audível. Pelo menos tem uma letrinha interessante, apesar do ritmo esquecível e se você for o tipo do cara aventureiro e que quer sua liberdade, ficando longe de qualquer relacionamento sério, vai se identificar com essa aqui.

IT WON'T BE LONG - Para encerrar a parte da trilha de "Double Trouble" temos essa música, que se não chega a ser excepcional, mantém a dignidade, com um ritmo bom e bem executado. Solando em toda a canção temos a preciosa participação do guitarrista Tiny Timbrell. É bem acima da média do restante do material do filme, porém não é nada demais, apenas correta no final das contas.

NEVER ENDING (Buddy Kaye / Phil Springer) - Nesse disco originalmente foram lançadas três músicas bônus, todas gravadas em 1963 e essa é a primeira delas. "Never Ending" é uma bonita balada, com um ritmo acima da média, contando com o ótimo trabalho da banda de Elvis em Nashville. A voz de Elvis parece diferente, lembrando algo como "I love you Because". Se não soubesse diria que essa música era de 54, ou então 55. Foi lançada em um single como lado B de "Such a Night" (gravada em 60 e cujo single tinha uma foto de Elvis em 56 na capa!) em 1964 e não conseguiu entrar nas paradas. Ganhou um pouco de destaque em um disco no Brasil lançado em 89: Good Rocking Tonight- The Best of Elvis vol 2.

BLUE RIVER (Paul Evans / Fred Tapias) - Em 1965, enquanto os Beatles dominavam a cena musical, os produtores de Elvis quebravam a cabeça para encontrar alguma música para lançar como single de fim de ano, visto que fazia quase dois anos que Elvis não gravava nada além de trilhas sonoras. Cavucando, encontraram uma gravação de 1957, "Tell Me Why", que foi lançada alcançando a mera 33º posição. Para o lado B do single lançaram uma música gravada em 1963, um roquinho bastante curto com conteúdo que lembrava ligeiramente "Heartbreak Hotel", mas que nem chegava ao dedão do pé desse grande clássico. A música era "Blue River" e alcançou a péssima 95º posição, quase nem entrando no Hot 100, merecidamente, pois não é lá essas coisas. Legalzinha, no máximo. Essa música foi lançada em fevereiro de 1966 na Inglaterra como lado A, tendo como lado B uma música gravada para a trilha de "Girl Happy" (!): "Do Not Disturb". Oh bagunça que eram os singles de Elvis dessa época! Os fãs ingleses apreciaram mais a música, que chegou ao 22º lugar nas paradas.

WHAT NOW, WHAT NEXT, WHERE TO (Don Robertson / Hal Blair) - O disco encerra com essa composição bem fraquinha de Don Robertson, que escreveu com certeza material muito melhor como "Love Me Tonight", gravado na mesma sessão dessa música. Com um ritmo arrastado e um letra esquecível não acrescenta nada ao disco. Curiosidade: Foi gravada em uma única tentativa.

Elvis Presley - Double Trouble (1967): Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Bob Moore (baixo) / D.J. Fontana (bateria) / Buddy Harmon (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Pete Drake (Steel Guitar) / Charlie McCoy (Harmonica) / Boots Randolph (sax) / Richard Noel (Trombone) / The Jordanaires (Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker) / City By Night: Michael Deasy (guitarra) / Jerry Scheff (baixo) / Toxey French (bateria) / Michael Anderson (Sax) / Butch Parker (sax) / Gravado no Radio Recorders, Hollywood, California exceto "Never Ending", "What Now, What Next, Where To" e "Blue River" gravadas no RCA Studio B, Nashville / Data de gravação: 28 e 29 de junho de 1966, exceto "City By Night" gravada em 14 de julho de 1966 e "Never Ending", "What Now, What Next, Where To" e "Blue River" gravadas em maio de 1963 / Produzido e arranjado por Felton Jarvis e Jeff Alexander / Data de lançamento: junho de 1967 / Melhor posição nas charts: #47 (USA) e #34 (UK).

Pablo Aluísio e Victor Alves - março de 2005.

Elvis Presley - Elvis e a Era de Aquarius!

Nos anos 60 durante as filmagens de mais um novo filme do Rei do Rock, cabeleireiro do estúdio não pôde comparecer para cuidar do cabelo do Elvis. Foi então que um substituto foi enviado. Seu nome era Larry Geller, hippie, nova-iorquino e judeu, uma combinação bem estranha sem dúvida, mas que era o típico espiritualista em moda naquela época. Uma pessoa versada em quase todas as religiões conhecidas, desde budismo, hinduísmo, xintoísmo e outras várias, que só ingeria comida natural e praticava yoga e outros tipos de vertentes das religiões orientais.

Ao cuidar do cabelo de Elvis, Larry percebeu que enquanto ele estava sentado na cadeira esperando o serviço ficar pronto, ficava lendo o livro "Autobiografia de um Yogue". Logo Larry puxou papo com Elvis e lhe disse que gostava muito do assunto, de religiões esotéricas, da nova era de aquário, da busca espiritual, telepatia, de ocultismo, etc. No começo Elvis pensou que ele seria apenas mais um bajulador como tantos outros que ele encontrava pelos estúdios, mas quando Larry começou a expor seus conhecimentos, Elvis ficou completamente impressionado!

Começou a surgir daí uma amizade muito especial para Elvis, pois finalmente ele havia encontrado alguém com quem discutir esses assuntos de que tanto admirava e estudava. Larry mostrou a Elvis que havia muitos outros grandes mestres além de Jesus Cristo e começou a trazer a Elvis livros sobre Buda, Confúcio, Maomé, etc. E Elvis absorveu toda a literatura disponível, sempre seguindo os conselhos de Larry nesse campo. Elvis perguntou a Larry porque tinha sido tão abençoado por Deus em sua vida, e porque mesmo tendo tudo não conseguia atingir a felicidade! Ele queria entender seu propósito nessa vida, qual era o plano de Deus para ele, qual seria a sua missão! E desabafou que se sentia frustrado pois até sua tão gloriosa carreira de outrora agora perdia o brilho e tudo estava resumido em se fazer 3 filmes por ano com trilhas sonoras estúpidas.

Ele disse a Larry que mesmo rodeado de muitas pessoas, se sentia na verdade extremamente solitário em sua vida. Larry acabou virando uma espécie de analista na vida de Elvis, um ombro amigo em que ele podia desabafar sempre que quisesse. E Elvis, para a ciumeira geral de seu grupo, começou a chamar Larry de "meu Guru" e "meu Mestre". A primeira consequência disso foi o gradual afastamento de Elvis das amizades anteriores, como os caras da Máfia de Memphis. Elvis sempre estava ao lado de Larry discutindo os grandes temas universais e como os demais membros da máfia não entendiam do assunto e nem tinham cultura para tanto, acabaram ficando de lado na vida de Elvis. Com Priscilla também não foi diferente. Elvis incentivou ela a também estudar todos esses assuntos, mas isso não a interessava. E assim Priscilla também começou a sentir ciúmes de Elvis, pois mesmo quando ele estava em casa, ficava distante e ausente, lendo e devorando o material recomendado por Larry.

Nesse ponto a religião se tornara o ponto focal de sua vida - para Elvis nada mais tinha importância, nem seus amigos, nem seus filmes e discos e muito menos sua namorada Priscilla. O Coronel Tom Parker começou a ficar preocupado de verdade. Chegou a perguntar a Joe Esposito: "Joe, o que está acontecendo com o menino? Parece distante e desinteressado!". Joe Esposito prometeu ao Coronel que iria ficar de longe, observando essa amizade de Elvis e Larry. Então na manhã em que Elvis iria começar as filmagens de seu novo filme, chamado Clambake (O Barco do Amor, no Brasil), ele acordou meio sonolento e não viu o fio da TV no chão. Ao caminhar para o banheiro Elvis tropeçou no fio e caiu de forma violenta, batendo a cabeça fortemente. Ao recobrar a consciência Elvis percebeu que se machucara pra valer na cabeça. "Mas que merda! Quem colocou esse fio aqui!?". Priscilla, assustada, chamou Joe Esposito imediatamente ao quarto.

Em poucos minutos o recinto estava cheio de gente: médicos, produtores, Larry, os caras da máfia de Memphis e o Coronel. O doutor declarou que Elvis tinha uma forte concussão na cabeça e que deveria ficar em repouso nas semanas seguintes, pois seria necessário a realização de mais exames, para se certificar de que nada mais grave tivesse lhe ocorrido. O começo das filmagens estava adiado por tempo indeterminado. O Coronel ficou furioso com o acontecimento. Para ele tudo era culpa dos livros espiritualistas. Elvis estava com a cabeça nas nuvens, não se importava com mais nada e nem com ninguém. Tinha se tornado uma pessoa distante e desligada do mundo. Foi então que ele resolveu reunir Elvis, Larry e todos os caras da máfia de Memphis. Para o Coronel o momento era de colocar as coisas em ordem novamente.

Tom Parker não deixou por menos: "Elvis, Larry está mexendo com a sua cabeça, eu tenho certeza que ele está tentando fazer uma lavagem cerebral em você! Eu posso garantir isso! Você deve se afastar dele e dessa literatura barata. Não deve mais perder tempo com essas coisas. Você tem uma carreira para cuidar! Deve se concentrar em atuar e cantar bem e nada mais. Você não é pago para salvar o mundo, mas sim para entreter as pessoas! Deve honrar seus compromissos e cumprir seus contratos, nada mais. Você é um artista e não um guru! Você deveria queimar todos esses livros de uma vez! E vocês - disse apontando o dedo para os caras da máfia de Memphis - devem deixar Elvis em paz, ele é um artista e não um ombro amigo para trazer problemas. Cuidar de uma pessoa já é difícil, imagine onze! Isso faz qualquer homem vergar, meu Deus! Isso acaba agora, me entenderam?! Vocês devem deixar Elvis em paz, qualquer problema de agora em diante deve ser levado ao conhecimento de Joe Esposito!" - Esse último recado foi dirigido face a face a todos os membros da máfia de Memphis e a Larry Geller em especial.

Foi uma bronca daquelas, com o Coronel gritando com todos a plenos pulmões! Elvis ouviu tudo calado, com a cabeça abaixada e não contestou as incisivas palavras do Coronel e nem saiu em defesa de Larry. Em um ponto Priscilla e toda a turma da máfia de Memphis concordavam com a visão do Coronel Tom Parker: todos queriam que Elvis mandasse Larry embora de Graceland e tocasse fogo em seus livros espiritualistas. A pressão foi tamanha que numa noite Elvis, ao lado de Priscilla, resolveu fazer uma grande fogueira nos fundos de Graceland para queimar toda a sua coleção de livros. Elvis apenas ficou lá, abalado e não muito certo de sua decisão, olhando todos os seus queridos livros virarem cinzas. Chegou a murmurar: "Não se deve queimar livros!".

Ele sentiu muito, mas achou que aquele era o momento certo para fazer aquilo. Pelo menos por enquanto tudo estava resolvido, enfim. Porém, conforme o tempo foi passando, Elvis foi, aos poucos, voltando aos temas espirituais. Esse assunto sempre lhe fascinara e apesar de tudo ainda lhe despertava muita atenção. De fato isso não seria o fim da amizade entre Larry e Elvis, pois esse ainda iria voltar na vida do Rei nos anos 70. Tanto que nos anos seguintes Elvis voltaria a comprar quase todos os livros que ele havia jogado na fogueira naquela noite. Definitivamente Elvis tinha sido fisgado de uma vez por todas pela chamada "Era de Aquarius".

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Clambake (1967)

Escrever sobre Clambake nem sempre é algo prazeroso. O filme hoje é símbolo de uma das fases mais problemáticas e menos inspiradas da carreira de Elvis Presley. Era a exaustão de uma fórmula que já tinha esgotado completamente a carreira do Rei do Rock. Em 1967 Elvis estava inteiramente absorvido nos estudos de filosofias orientais esotéricas, espiritualistas, tinha seus interesses pessoais em primeiro plano e estava se dedicando a melhorar sua vida interior. Para isso ele ficava horas e horas devorando livros e livros sobre o tema. Ficava dias e dias ao lado de seu guru pessoal tentando decifrar os grandes mistérios do universo em conversas sem fim e altamente enigmáticas. Fora disso não havia mais nada que despertasse seu interesse, sua atenção. Elvis vivia em um eterno torpor messiânico e religioso, indiferente a tudo e a todos. Na sua visão pessoal não havia nada mais importante do que crescer como um ser espiritual elevado. Nem seus amigos e sua namorada Priscilla escaparam de sua indiferença.

Tudo muito interessante e curioso, mas que tinha um outro lado altamente nocivo. A despeito de todo essa busca espiritual Elvis simplesmente negligenciou sua carreira musical, seu talento único foi colocado de lado e esquecido. Sua vida girava em torno de muitos questionamentos, nenhum deles musical. Infelizmente nada disso a que tanto se dedicava de corpo e alma tinha a ver com música! Elvis parecia estar indiferente a tudo que não se referisse a assuntos espiritualistas. Absorvido completamente numa nova mania e paixão, deslumbrado pela filosofia da nova era, Elvis não se interessava mais pelo seu talento musical e artístico, pela sua carreira, pela qualidade decrescente de seus últimos discos, pelas críticas constantes sobre seus filmes mais recentes e suas trilhas sonoras consideradas estúpidas, pela debandada de fãs decepcionados com os rumos de sua carreira.

O grande inovador e revolucionário estava totalmente estagnado. Teria o grande astro de outrora sido apenas um mero modismo? Será que todos os que o criticaram no começo de sua carreira estavam certos e Elvis iria sumir do mapa tão rapidamente como apareceu? A estrela se apagara para sempre? O Coronel estava preocupado. Será que tudo o que ele tinha nas mãos era uma lenda viva ultrapassada? Elvis estava acabado de uma vez? Era esse o quadro vivido pelas organizações Presley em 1967. Elvis não era mais considerado relevante do ponto de vista artístico, seus discos desabavam nas paradas e o pior, ele nem era mais ouvido pelos jovens, pois eles estavam muito mais interessados nos novos sons que vinham do outro lado do Atlântico, da chamada invasão britânica. O pior já começava a acontecer em 1967. Se antes todos criticavam Elvis e suas escolhas no cinema, agora ele começava a ser ignorado pelas revistas especializadas. Criticar mais uma vez Elvis por seu último filme? Até os jornalistas pareciam cansados disso.

Certamente um filme tão sem consistência como Clambake não iria reverter um quadro tão medonho. Era apenas o agravamento de uma situação que já se revelava extremamente desesperadora para os fãs mais fieis, aqueles que ainda acreditavam em uma reviravolta na vida artística do ídolo. Mas como sempre gosto de afirmar, tudo na vida possui o seu valor e Clambake também tem sua importância na carreira de Elvis. Clambake é o fundo do poço, o ponto do qual Elvis não ultrapassaria, onde não desceria mais, depois dele e de outros filmes que viriam, grandes fracassos de bilheteria, ficou claro até mesmo para Elvis que ele tinha que mudar, pois caso contrário seria simplesmente o fim de sua carreira. O cantor mesmo sabia que sua carreira no cinema estava em um impasse e que o velho sonho de se tornar ator em Hollywood não vingara. Depois de tudo isso o cenário estaria pronto para seu renascimento em 1968 no Comeback Special. Mas antes da glória, que só iria acontecer no ano que viria, vamos agora analisar, faixa a faixa, as canções que fizeram parte da trilha sonora de Clambake (O Barco do Amor, no Brasil) Obs: Não incluídas as Bonus Songs.

Clambake (Weisman / Wayne) - Essa canção quebra, de certa forma, uma tradição em trilhas sonoras de Elvis nos anos 1960. Mesmo nos mais mortificantes filmes, as canções títulos costumavam manter um certo nível de qualidade perante o material restante apresentado. Mas “Clambake” é nitidamente abaixo da média, um tanto quanto mal executada, com Elvis até mesmo displicente nos vocais (coisa rara de se ouvir!). O resultado final se mostra confuso, pouco inspirado. Porém temos que reconhecer que mesmo que Elvis se esforçasse, acho que a própria composição não o ajudaria, tendo um refrão muito deslocado em termos de estrutura rítmica. Alguns casos são realmente perdidos. Talvez a pior canção tema dos filmes de Elvis (lado a lado com Paradise, Hawaiian Style e Charro).

Who Needs Money? (Randy Starr) - Uma das maiores ironias da trilha sonora, pois o que mais Elvis precisava nessa época era de Money! Quem precisa de dinheiro? Ora Elvis, você mesmo! Quebrado financeiramente pelos altos custos do rancho Circle G, Elvis foi obrigado a aceitar o que estava à disposição. Ao se deparar com as enormes contas e custas chegando do último capricho de Elvis, seu pai, Vernon, ligou imediatamente ao Coronel Tom Parker para que ele arranjasse logo um trabalho para Elvis em Hollywood, caso contrário ele levaria suas próprias finanças à falência. Parker sondou os estúdios e um roteiro foi escrito às pressas para Elvis. Quando o Rei do Rock leu o conteúdo do que lhe estava sendo oferecido desabafou com Priscilla afirmando que tinha odiado tudo e que Clambake seria mais um filme nojento, ruim, cheio de “biquínis e músicas estúpidas”. Para quem estava totalmente absorvido em assuntos esotéricos como Elvis na época, deve ter sido horrível lidar com toda a superficialidade do material do filme. Mas, devendo até a alma aos bancos, o astro teve que esquecer suas próprias convicções pessoais e encarar as filmagens (Ele inclusive já tinha até mesmo colocado Graceland como garantia de alguns empréstimos pessoais feitos nesse período!). Dueto com o ator Will Hutchins, o que definitivamente não quer dizer grande coisa, pois ele até tinha uma bonita voz, mas não sabia cantar, o que convenhamos, fica constrangedor numa trilha sonora.

A House That Everything (Tepper / Bennet)- Boa balada, que se não se sobressai dentro da carreira de Elvis, pelo menos tem uma certa dignidade, sendo agradável no final das contas. Particularmente gosto de muitas canções escritas por essa dupla de compositores. Claro que algumas tolices foram escritas por eles, mas o foram em número reduzido. “A House That Everything” é a primeira canção da trilha que desperta nossa atenção. Aqui Elvis utiliza uma vocalização bem típica da primeira metade dos anos 60, calma, suave e relaxante. Praticamente todas suas baladas pré 64 apresentam essa característica (vide a linda “There’s Always Me” do disco “Something For Everybody” de 1961, símbolo do estilo que estou citando). Como faz parte dessa trilha sonora, uma das menos conhecidas da carreira de Elvis, foi totalmente esquecida e ofuscada. Merece uma segunda audição.

Confidence (Tepper / Bennet) - Nem com muita boa vontade se consegue gostar dessa música. É uma das piores coisas já cantadas por Elvis Presley em toda a sua carreira. Boba e maçante ao extremo, mais parece uma música de desenho animado infantil dos anos 40. Elvis, como sempre, cumpre o martírio e tenta se mostrar profissional até o final da canção, mas vamos ser sinceros, esse é um dos pontos mais baixos da carreira do cantor. Merecidamente esquecida por todos ao longo dos anos. Sem querer ser sarcástico, ela me lembra muito certas músicas do famoso palhaço televisivo Bozo. Como Elvis não era o Bozo, devia ter passado sem essa. Não disse que Tepper e Bennet também fizeram sua cota de tolices? Pois é...

Hey, Hey, Hey (Joy Byres) - Aqui Byers (na verdade um pseudônimo) me decepcionou. Para quem escreveu C’Moon Everybody fica um gostinho de decepção no ar quando a faixa começa a entrar em nossos ouvidos. Assumidamente descartável a música em nenhum momento se impõe ou chega a nos empolgar. Outra canção sem letra, sem ritmo, sem desenvolvimento rítmico. Se não bastasse ainda conta com uma péssima vocalização de apoio, diga-se de passagem. A cena do filme também é outra bobagem, com Elvis levando todas aquelas garotas anônimas para passar um tipo de "cola especial" em seu barco de corrida. Hey, esqueçam essa também...

You Don’t Know Me (Arnold / Walker) - Agora sim. Depois dos inúmeros enlatados surge finalmente uma canção com alma e coração. Elvis deve ter respirado aliviado ao se deparar com ela no estúdio de gravação. Finalmente uma melodia para se dedicar, que valia a pena. Gravada duas vezes por ele, em momentos distintos de sua carreira, já que acabou não gostando dessa versão da trilha sonora. Lançada também como single nesse mesmo ano, não teve maior repercussão, pois foi lado B de Big Boss Man. Ë uma canção injustiçada que merecia melhor sorte. Talvez tenha sido negligenciada pela simples razão de ser uma regravação de um grande sucesso de Eddy Arnold. A versão de Elvis não foi a primeira a surgir e por essa razão não foi acreditada como um provável sucesso pelos produtores do cantor na época. Uma decisão equivocada, sem sombra de dúvida, pois ela tinha potencial. Poderia ter caído facilmente no gosto do público. A música já era bem conhecida, um clássico cantado pelo antes outrora famoso cantor Arnold, que apesar de aparecer como compositor não a escreveu realmente. Uma coisa parecida com o que aconteceu com várias canções do próprio Elvis nos anos 50, onde ele aparecia como um dos coautores, sem ter participado das criações das músicas. Infelizmente não foi divulgada e acabou totalmente desperdiçada, uma pena.

The Girl I Never Loved (Randy Starr) - Outra canção que, pegando o embalo de You Don’t Know Me, traz melodia e vocalização acima da média do restante da trilha sonora. Bem arranjado e produzida, a canção é um dos pontos altos do disco. O grupo vocal está muito bem posicionado e o arranjo é extremamente feliz, lembrando inclusive algumas músicas dos filmes havaianos de Elvis. Aliás é bom salientar que o arranjo é praticamente idêntico ao da canção A House That Everything, essa também um bom momento do disco. Outra pérola perdida no meio do oceano de canções sem expressão que assolavam a carreira de Elvis na segunda metade dos anos 60. Outra que merece ser redescoberta.

How Can You Lose What You Never Had (Weisman / Wayne) - Encerrando a trilha Elvis apresenta esse dublê de blues, que se não é uma maravilha, pelo menos nos proporciona uma oportunidade de ouvir Elvis se reencontrando com esse estilo musical que é um dos mais importantes dos Estados Unidos. É bom deixar claro que não estamos nos referindo a um clássico, a uma obra prima genial, nada disso, mas sim a uma canção que serve de alivio numa trilha sonora bem abaixo da média dos demais trabalhos de Elvis pós 65 no cinema (que por si só já não eram grande coisa!). É um aperitivo do que Elvis iria fazer com material de qualidade no ano que viria. Um trailer de muitos de seus compactos relevantes que iriam em breve surgir nas lojas dos EUA. Uma leve brisa de renascimento na obra de Elvis Presley.

Elvis Presley - Clambake (1967): Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie McCoy (harmonica) / Bob Moore (baixo) / Buddy Harman (bateria) / D.J. Fontana (bateria) / Floyd Cramer (piano) / Hoyt Hawkins (piano) Pete Drake (Steel Guitar) / Norm Ray (sax) / The Jordanaires: Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker (vocais) / Millie Kirkham (vocal) / Gravado no RCA Studio B, Nashville, TN / Data da gravação: 21 a 23 de fevereiro de 1967 / Direção Musical: Jeff Alexander / Produzido por Felton Jarvis / Engenheiro de Som: Jim Malloy. / Lançado em Outubro de 1967 / Melhor posição nas charts: # 40 (EUA) e # 39 (UK).

Pablo Aluísio - Março de 2006.

O Barco do Amor

Scott Heyward (Elvis Presley) é um rico herdeiro que desiludido porque as mulheres só se aproximam dele por interesse resolve trocar de identidade com o duro Tom Wilson (Will Hutchins) que esbanja com o dinheiro do colega enquanto esse tenta conquistar o amor de Diane Carter (Shelley Fabares). Clambake é muito divertido. Seguindo a fórmula dos filmes de Elvis Presley dos anos 60 o filme consegue prender atenção não só pelas músicas mas também por um enredo muito bem bolado e simpático. A troca de identidades entre o garoto rico (Presley) e o instrutor pobretão de esqui de um hotel de luxo na Flórida (Hutchins) rende boas piadas e situações engraçadas, principalmente por causa do elenco de apoio, todo bom. Shelley Fabares, o par romântico de Elvis, era uma gracinha, uma simpatia só, que deu tão certo com ele que estrelou mais dois filmes ao seu lado. Já o rival de Elvis pela mão da mocinha foi interpretado pelo bom Bill Bixby que iria se consagrar nos anos 70 interpretando Bruce Banner no famoso seriado de TV Hulk.

Como sempre Elvis vai apresentando as músicas da trilha ao longo do filme. Aqui duas se destacam: "You Don´t Know Me" (que de tão boa foi regravada por Elvis depois porque ele não tinha gostado muito de sua versão para esse filme) e "House That Has Everything" (que mostra muito bem porque Elvis Presley era o maior cantor de sua época). No mais muitas paisagens bonitas (esse foi o segundo filme de Elvis rodado na Flórida) e um boa corrida de lanchas potentes como pano de fundo. "Clambake" pode não ser dos mais lembrados filmes feitos pelo cantor mas como disse é um dos mais divertidos.

O Barco do Amor (Clambake, EUA, 1967) Direção de Arthur H Nadel / Roteiro de Arthur Brownie Jr / Elenco: Elvis Presley, Bill Bixby, Will Hutchins, Shelley Fabares / Sinopse: Scott Heyward (Elvis Presley) é um rico herdeiro que desiludido porque as mulheres só se aproximam dele por interesse resolve trocar de identidade com o duro Tom Wilson (Will Hutchins) que esbanja com o dinheiro do colega enquanto esse tenta conquistar o amor de Diane Carter (Shelley Fabares).

Pablo Aluísio.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Easy Come, Easy Go (1967)

Easy Come, Easy Go foi o último filme de Elvis pela Paramount Pictures. Contando com a equipe de sempre Elvis deu adeus ao estúdio que mais sucessos lhe trouxe nos anos 60. Blue Hawaii, o pico comercial de sua passagem pelo cinema e G.I. Blues, seu primeiro filme após deixar o exército e outro grande sucesso comercial, também foram rodados lá. Esse filme inclusive contava com a mesma produção desses sucessos do passado recente de Elvs, sob o comando de Hall Wallis.

Infelizmente as semelhanças param por aí. Easy Come, Easy Go é uma produção modesta, sem grandes pretensões, lançada num momento de baixa na carreira de Elvis. A trilha sonora, gravada nos próprios estúdios da Paramount, contou com a direção do maestro Joseph Lilley. Apenas seis canções foram gravadas para serem lançadas num EP nos EUA. EP é a sigla para Extended Play, conhecido no Brasil como Compacto Duplo, onde eram lançadas de quatro a seis canções. Nos EUA o EP contou com as seis músicas do filme, na Inglaterra porém o EP inglês contava apenas com quatro das faixas da trilha (as duas outras, The Love Machine e You Gotta Stop, saíram em single). No Brasil o compacto duplo não foi lançado.

O resultado comercial de Easy Come, Easy Go foi um desastre. O EP não conseguiu classificação nem entre os mais vendidos da Top 100 (parada mais importante dos EUA onde eram listados os cem discos mais vendidos da semana). Foi a primeira vez que uma trilha sonora de Elvis Presley não conseguia sequer aparecer nessa lista, o que demonstra claramente que todo o trabalho musical do filme foi simplesmente ignorado pelo grande público, sendo consumido apenas por um pequeno grupo de fãs de Elvis e nada mais.

O filme não foi melhor nas bilheterias. O enredo, batido e sem grandes atrativos, não fugiu da rotina tediosa das comédias musicais românticas de Elvis no período. O roteiro conta a história de Ted Jackson, membro da marinha, que em uma de suas últimas expedições ao mar encontra um tesouro naufragado. Já civil, semanas depois, Ted se junta com seu amigo de banda e um jovem e vão à procura do tesouro. Se a história já parece ser sofrível, você não viu nada, só assistindo o filme para ver como a qualidade deixou a desejar. Os vilões são desinteressantes e caricatos e as tomadas filmadas embaixo d´água, que poderiam contar em favor do filme, não empolgam e são superficiais.

O filme possui alguns indícios da psicodelia da época como na cena em que algumas garotas fazem o estilo hippie, tão em moda na ocasião. Além disso existem referências à prática da yoga e outra vertentes alternativas do final dos anos 60 mas tudo feito de forma superficial visando acentuar um tom mais humorístico do filme. A trilha passa longe do psicodelismo que começava a se destacar na música mundial da época. Não existem grandes destaques nela. Apenas You Gotta Stop chama um pouco atenção, idem para a animada harmonia da música título, embora as letras não sejam nada inspiradas. A trilha sonora ainda conta com The Love Machine (curiosamente a música mais vendida de Elvis Presley na Índia!) e Yoga Is Yoga Does (que sempre está presente em qualquer lista que traga as piores canções da carreira de Elvis). Enfim nada muito memorável ou marcante, apenas na média do que Elvis vinha produzindo em sua carreira do cinema. Como ponto positivo é bom lembrar que em breve Elvis estaria de volta aos gloriosos momentos de sua carreira ao realizar seu especial de TV na NBC no ano seguinte, ressuscitando definitivamente sua trajetória artística.

Elvis Presley - Easy Come, Easy Go (1967)
Easy Come, Easy Go
The Love Machine
Yoga Is Yoga Does
You Gotta Stop
Sing You children
I'll Take Love

Ficha Técnica: Elvis Presley (vocal) / Scotty Moore (guitarra) / Tiny Timbrell (guitarra) / Charlie McCoy (guitarra e órgão) / Bob Moore (baixo) / Buddy Harman (bateria) / D.J. Fontana (bateria) / Hal Blaine (bateria) / Curry Tjader (bateria) / Larry Bunker (bateria) / Emil Radocchia (percussão) / Michel Rubini (Harpsichord) / Mike Henderson (trumpete) / Anthony Terran (trumpete) / Jerry Scheff (trumpete) / Butch Parker (trombone) / Meredith Flory (sax) / William Hood (sax) / The Jordanaires: Gordon Stoker, Hoyt Hawkins, Neal Matthews e Ray Walker (vocais) / Gravado no Paramount Scoring Stage, Hollywood, California / Data de gravação: 28 e 29 de setembro de 1966 / Produzido e arranjado por Joseph Lilley / Data de lançamento: Março de 1967 / Melhor posição nas charts: # - (USA) e # - (UK) Obs: O EP não conseguiu classificação nas paradas inglesas e americanas.

Pablo Aluísio - Setembro de 2009.