sábado, 22 de agosto de 2020

O Homem Que Não Vendeu Sua Alma

O rei inglês Henrique VIII (1491 - 1547) foi o símbolo máximo do absolutismo. Sua palavra era lei e não importava a natureza de seus atos pois havia o dogma de que o Rei nunca poderia estar errado em suas decisões. Partindo dessa premissa, ele ainda hoje é lembrado pelos diversos crimes que cometeu ao longo da vida, inclusive contra muitas de suas esposas, que ao menor sinal de atrito com o rei eram levadas para a forca, para a decapitação ou então isoladas na famigerada Torre de Londres, uma masmorra medieval. Um dos atos mais conhecidos de seu reinado foi o rompimento definitivo com a Igreja Católica e o Papa. Henrique VIII era casado com Catarina de Aragão, da casa de Espanha. Era uma mulher virtuosa, católica fervorosa, mas tinha dificuldades em gerar o filho varão que iria herdar o trono inglês. Desesperado com a falta do nascimento de um filho homem, que lhe sucedesse, o rei Henrique VIII resolveu então pedir a anulação de seu matrimônio ao Vaticano, mas encontrou forte oposição do Papa e seu clero que consideravam o casamento feito sob as leis da igreja uma união indissolúvel. Após tentar por longos anos pela anulação, Henrique resolveu então tomar uma decisão radical. Rompeu com o Papa e expulsou a Igreja da Inglaterra, tornando propriedade do reino todas as terras, mosteiros, igrejas e bens que pertenciam à Igreja Católica.

É justamente a história dessa ruptura o tema central de “O Homem Que Não Vendeu Sua Alma”. Assim nasceu a Igreja Anglicana, fundada por Henrique VIII, uma nova religião para os ingleses, fortemente atrelada ao Estado absolutista, tendo o próprio rei como autoridade religiosa suprema. Dentro de sua nova instituição anglicana, Henrique poderia casar e se separar quantas vezes quisesse, sem precisar pedir autorização papal, uma vez que ele era o líder espiritual máximo da nova Igreja que fundara. Como todo monarca absolutista daquele período histórico, não haveria mais barreiras para sua vonade pessoal. O casamento seria nulo, se ele assim desejasse. Ele iria se separar quantas vezes quisesse e também mandaria para a morte todas as esposas que ele assim sentenciasse. Obviamente que nem todos aceitaram livremente essa nova postura real. Em uma época em que qualquer oposição poderia ser entendida como alta traição, um influente membro da corte, Thomas Moore (Paul Scofield), resolveu se opor aos desmandos do monarca. Católico praticante, não aceitou a expulsão da Igreja papista de seu país. Esse termo passaria a ser uma ofensa dentro da corte. Sua postura lhe valeu a alcunha de ser o homem que não teria vendido sua alma nesse momento particularmente complicado da história britânica. Thomas Moore era um intelectual de seu tempo e estava ciente de que um monarca com poderes plenos e sem limites levaria a Inglaterra a um impasse histórico. E suas previsões iriam se tornar verdadeiras, como bem foi provado pela história.

Aqui temos um filme historicamente fiel, com ótimas interpretações e reconstituição histórica precisa que inclusive lhe valeram vários prêmios, dentre eles os principais da Academia. Produção requintada, de luxo, com excelente nível técnico e cultural, “O Homem Que Não Vendeu Sua Alma” é além de uma bela aula de história, um ótimo entretenimento, mostrando sem receios os perigos que rondam o chamado Estado absolutista, onde toda uma nação ficava refém dos meros caprichos de um poder real sem freios ou limites. Afinal, como todos bem sabemos, o poder corrompe e o poder absoluto corrompe de forma absoluta àquele que o exerce.

O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (A Man for All Seasons, Inglaterra, 1966) Direção: Fred Zinnemann / Roteiro: Robert Bolt / Elenco: Paul Scofield, Wendy Hiller, Leo McKern, Robert Shaw, Orson Welles, Susannah York, John Hurt, Vanessa Redgrave / Sinopse: Henrique VIII (Robert Shaw) resolve romper com a Igreja Católica após o Papa se negar a anular seu casamento com Catarina de Aragão. Seu ato encontra forte resistência do influente nobre e intelectual Thomas Moore (Paul Scofield). Filme vencedor do Oscar nas categorias de melhor filme, melhor diretor, melhor ator (Paul Scofield), melhor roteiro adaptado, melhor fotografia e melhor figurino. Vencedor do Globo de Ouro nas categorias melhor filme - drama, melhor diretor, melhor ator - drama (Paul Scofield) e melhor roteiro.

Pablo Aluísio. 

Tigres Voadores

Ao longo de sua carreira, o ator John Wayne se notabilizou pelos excelentes filmes de western que estrelou. Isso porém não limitava suas opções dentro do mundo do cinema, tanto que ele passeou por vários gêneros cinematográficos, sempre com muito sucesso. Um exemplo disso é esse “Esquadrilha Mortal” (também conhecido como “Tigres Voadores”). Na véspera da entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial um grupo de pilotos liderados pelo Capitão Jim Gordon (John Wayne) defende o território chinês dos constantes ataques da força aérea do império japonês. Como se sabe Japão e China são inimigos históricos, muito por causa dos inúmeros crimes de guerra cometidos por forças militares nipônicas contra civis chineses completamente indefesos. Aqui o grupo “Tigres Voadores” formado apenas por pilotos americanos, tem como principal missão proteger um hospital para crianças feridas em combates. Além disso promovem várias outras missões como patrulhas noturnas, algo extremamente perigoso em vista da precariedade tecnológica da época. Também promoviam ataques a alvos estratégicos. O filme fez parte do esforço de guerra de Hollywood durante a II Grande Guerra, cujo principal objetivo era manter em alta a moral e o espírito patriota do povo americano no meio do conflito que se espalhava pelo mundo afora.

“Esquadrilha Mortal” foi produzido pela extinta companhia cinematográfica Republic, onde John Wayne realizou vários filmes no começo de sua carreira. Jovem e esbelto, o ator encontrou um ótimo veículo para sua carreira aqui. O filme é muito bem realizado, com doses certas de ação e até mesmo romance. O personagem de Wayne tem um caso amoroso com a enfermeira da base interpretada pela atriz Anna Lee. Nas cenas de batalhas aéreas o filme de utiliza com muito sucesso de várias técnicas, desde imagens reais captadas em combates verdadeiros, até o uso intensivo de maquetes (todas extremamente bem feitas. A cena final inclusive serviu de inspiração para George Lucas décadas depois em “Guerra Nas Estrelas”. Na sequência famosa John Wayne e seu copiloto “Woody” (John Carroll) precisam adentrar o território inimigo voando a baixa atitude entre cânions rochosos. Com o avião cheio de um carregamento de nitroglicerina, um poderoso explosivo, eles precisam chegar ao alvo sem serem abatidos, destruí-lo, para depois retornarem à base. A ideia central foi aproveitada por George Lucas na famosa sequência de ataque da estrela da morte. O elenco de apoio é muito bom com destaque para John Carroll que interpreta o piloto “Woody” Jason, um sujeito boa praça, paquerador, mas também um ás da aviação. Sua cena final ao lado do grande John Wayne é marcante. Assim “Esquadrilha Mortal” se qualifica como um dos melhores filmes de aviação de guerra daquela época. Direção firme (de David Miller), ótimas cenas de batalhas aéreas, bom roteiro e é claro, John Wayne em cena, o que já justifica uma boa sessão de cinema. Não deixe de conhecer. 

Esquadrilha Mortal / Tigres Voadores (Flying Tigers, Estados Unidos, 1942) Direção: David Miller / Roteiro: Kenneth Gamet, Barry Trivers / Elenco: John Wayne, John Carroll, Anna Lee, Paul Kelly, Gordon Jones / Sinopse: Esquadrilha de pilotos americanos na China defende a população civil indefesa dos ataques de bombardeios da força aérea japonesa nas vésperas da entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial. Filme indicado ao Oscar nas categorias de melhores efeitos especiais, música e som.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Tempestade Sobre Washington

Quando esse filme "Tempestade Sobre Washington" chegou aos cinemas americanos, o presidente dos Estados Unidos era John Kennedy, um democrata que caiu nas graças do povo daquela nação. Havia um sentimento de renovação e esperança como há muitos anos não se via dentro da política. Ele era jovem, tinha fama de honesto e era considerado, já naquela época, um grande líder. Claro que muita coisa podre era escondida de seus eleitores. Havia, como sempre houve, um jogo sujo sendo traçado nos bastidores de Washington. O roteiro essa produção ia assim na contramão do que o público da época esperava. Ele mostrava justamente o lado sombrio da política, das negociações e das intenções nada constitucionais. Em plena euforia da era JFK, esse roteiro era como uma ducha de água fria nas pessoas mais entusiasmadas.

"Tempestade Sobre Washington" era um excelente drama que mostrava todo o jogo sujo que acontecia na capital dos Estados Unidos, nos bastidores de sua política. Cartas marcadas, pressões, extorsões, compras de consciências, chantagem, tudo o que rolava por debaixo do tapete para que o presidente americano pudesse nomear como Secretário do Estado um nome que escolheu, o astuto Robert Leffingwell (personagem brilhantemente interpretado pelo grande Henry Fonda). Acontece que no meio da sabatina promovida pelo senado se descobriu que o preferido do presidente tinha um passado obscuro, que o ligava inclusive a um movimento radical de esquerda! Imaginem o tamanho do problema dentro do senado quando se descobre que um supostamente comunista de carteirinha estava prestes a ser nomeado para um dos mais altos cargos do poder executivo! Poucas coisas poderiam ser mais explosivas do que isso dentro da capital dos Estados Unidos.

O elenco é fantástico. Charles Laughton como o Senador Seabright Cooley está particularmente inspirado. Que grande ator! Merecidamente foi premiado com o prêmio de melhor ator da Academia Britânica. Já Henry Fonda no papel de Robert A. Leffingwell é outro destaque. Um personagem muito dúbio, que ora surge como íntegro e honesto para logo depois se revelar mais sinistro do que se esperava. Pena que como o filme gravita em torno de sua nomeação, seu personagem não apareça muito, geralmente ficando na surdina. Mesmo assim quando Fonda surge em cena é aquele show de talento. Ele foi certamente um dos melhores atores da história de Hollywood. Sua interpretação ora surge de forma sutil, feita de nuances, ora com explosão de raiva e fúria. Um modo de ser bem dual, como convinha ao seu personagem. Toda a sua interpretação vai no sentido do público ficar sem saber no que realmente acreditar. Afinal ele é um homem de boas intenções ou um canalha? Por fim nada mais justo do que a Palma de Ouro em Cannes para premiar o grande diretor Otto Preminger, cineasta sério, inteligente, competente, avesso a sentimentalismos e sensacionalismos baratos. Aqui ele adota um tom perturbadoramente frio e calculista. Assim temos uma grande obra, um filme tecnicamente impecável que mostra as vísceras da democracia americana. Se você se interessa pelo sórdido mundo dos conchavos e acordos políticos, não pode perder esse ótimo “Tempestade Sobre Washington”.

Tempestade Sobre Washington (Advise & Consent, Estados Unidos, 1962) Direção: Otto Preminger / Roteiro: Wendell Mayes, baseado no livro de Allen Drury / Elenco: Henry Fonda, Charles Laughton, Franchot Tone, Lew Ayres / Sinopse: O filme mostra a luta de bastidores em Washington para a nomeação de um novo Secretário de Estado. Filme premiado com a Palma de Ouro em Cannes. Também indicado ao BAFTA Awards na categoria de melhor ator (Charles Laughton).

Pablo Aluísio. 

Talvez Seja Melhor Assim

Após sofrer um sério acidente de automóvel o ator Montgomery Clift entrou em um verdadeiro inferno astral. As dores constantes que sofria o fez se tornar dependente de drogas pesadas. Para piorar ainda mais o alcoolismo se agravou e Clift encontrou muitos problemas em seguir em frente na profissão. Após ficar quatro anos sem aparecer no cinema ele resolveu voltar, dessa vez para aquele que seria seu último filme na carreira, uma produção francesa e alemã que captou os últimos momentos desse grande ator no cinema. Os filmes de espionagem estavam na moda por causa do sucesso arrebatador da série James Bond então foi quase natural o aproveitamento de Clift, mesmo em ruínas, para estrelar essa tentativa um tanto mal sucedida de tentar repetir sob uma verniz mais séria o tema da espionagem durante a chamada guerra fria. Ele surge em cena muito magro e abatido, praticamente curvado, obviamente passando um aspecto bem doentio, o que poderá certamente chocar seus fãs, principalmente aqueles mais acostumados com seus primeiros filmes, onde interpretava galãs românticos ou trágicos.

Aqui em seu último papel Montgomery Clift interpreta o professor James Bower, um renomado físico que é recrutado pela CIA para ir até a Europa com o objetivo de ajudar na busca de um cientista russo que se tornou peça vital dentro do jogo de espionagem entre americanos e soviéticos. A trama se passa no auge da chamada guerra fria, bem na fronteira entre as duas Alemanhas, na região que foi apelidada pelo primeiro ministro inglês Winston Churchill de “Cortina de Ferro”. O enredo foi retirado do sucesso editorial “The Spy”, também conhecido como 'L'Espion', escrito pelo autor Paul Thomas. Clift, já com a saúde bastante abalada, passou por dificuldades para terminar o filme.

Muito abatido, sem energia, enfrentou seu último trabalho com muita dignidade mas também com muito sacrifício. Em determinado momento cogitou abandonar as filmagens por não aguentar mais se manter sóbrio, requisito necessário para cumprir o contrato que havia assinado. A crítica por sua vez não gostou muito do resultado. O fato da produção ser europeia, com ritmo devagar e características bem diferenciadas da indústria americana, fizeram com que a produção também fosse ignorada pelo público.  Clift não viveria muito após o lançamento do filme vindo a falecer em julho de 1966 em Nova Iorque. O cinema perdia assim um dos mais talentosos atores de sua história.

Talvez Seja Melhor Assim (L'espion, The Defector, Alemanha, França, 1966) Direção: Raoul Lévy / Roteiro: Robert Guenette, Raoul Lévy / Elenco: Montgomery Clift, Hardy Krüger, Roddy McDowall / Sinopse: Pacato professor de física é envolvido numa complexa rede de espionagem que tenciona levar para o ocidente um renomado cientista russo bem no auge da chamada guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Um Favor Muito Especial

Rock Hudson começou sua carreira na Universal realizando alguns filmes de western e de guerra, mas encontrou seu caminho mesmo ao estrelar vários dramas, em especial os dirigidos por Douglas Sirk, em que interpretava geralmente galãs românticos e idealistas. No final da década de 1950 Rock acabou encontrando outro filão para os seus filmes, a das comédias românticas. Depois do enorme sucesso de “Confidências à Meia Noite”, “Volta Meu Amor” e “Não Me Mande Flores”, todos ao lado da cantora e atriz Doris Day, Rock percebeu que havia ali um público sempre interessado em vê-lo nesse tipo de produção. Assim Rock começou a aparecer em uma sucessão de filmes que seguiam essa mesma fórmula. Aliás quantas vezes um ator pode repetir o mesmo papel em filmes diferentes? Bom, Rock Hudson provou que muitas vezes. Esse "Um Favor Muito Especial" é praticamente um remake de seu maior sucesso, "Confidências à Meia Noite". O argumento é basicamente o mesmo: Playboy mulherengo tenta conquistar uma mulher bem sucedida profissionalmente que não se importa em se casar ou ter filhos. Para isso ele finge ser uma outra pessoa para ganhar sua simpatia e confiança.

Aqui no caso Rock finge ser um paciente pois o seu alvo é uma psicóloga (interpretada pela fraca atriz Leslie Caron). O único diferencial desse para "Pillow Talk" é que aqui o romance conta com o incentivo do pai da senhorita, vivido pelo veterano ator francês Charles Boyer (sem muito o que fazer em cena). O filme não foi bem nas bilheterias, o que era relativamente fácil de se explicar pois no fundo era mais do mesmo, sendo que bem menos engraçado do que os filmes que Rock Hudson fez ao lado de Doris Day. O público provavelmente cansou de ver o mesmo filme - só que com outro título. Em decorrência Rock deixaria a Universal um ano depois do lançamento dessa produção, após seu contrato ter acabado e o estúdio não mostrar mais interesse em tê-lo sob exclusividade. Então é isso, "Um Favor Muito Especial" nada mais é do que um prato requentado só que com muito menos sabor. Não acrescentou nada na ótima filmografia de Rock Hudson.

Um Favor Muito Especial (A Very Special Favor, Estados Unidos, 1965) Direção: Michael Gordon / Roteiro: Stanley Shapiro, Nate Monaster / Elenco: Rock Hudson, Leslie Caron, Charles Boyer / Sinopse: Playboy se finge de paciente para conquistar uma psicóloga que não quer se casar e nem se envolver em um romance mais sério. Tudo realizado para atender a um favor especial do pai da senhorita que não deseja que ela se torne uma solteirona.

Pablo Aluísio.

Boeing Boeing

Você gosta de Jerry Lewis? Muito bem, aqui está um filme menos conhecido dele. Uma produção que pouca gente assistiu, mesmo na época de seu lançamento original. O curioso é que o diretor Quentin Tarantino afirmou em uma entrevista que esse era um de seus filmes preferidos. Realmente só vendo o filme para entender a razão. "Boeing Boeing" é totalmente apoiado em diálogos e em situações inusitadas. Não há como negar também sua origem teatral. O filme é quase todo passado dentro do apartamento de Bernard (Tony Curtis), um jornalista que é noivo ao mesmo tempo de três aeromoças (uma francesa, uma inglesa e uma alemã). Assim ele tenta organizar sua agenda de forma que quando está com uma delas, as outras estejam viajando pelo mundo. Não é difícil descobrir que o filme vai se apoiar na confusão que surge quando as três garotas chegam ao mesmo tempo em seu apartamento. A peça original escrita por Marc Camoletti teve inúmeras adaptações e montagens, inclusive no Brasil, e serve como boa amostra de um humor mais refinado, que ficou muito em voga na década de 1960.

Uma das coisas mais curiosas desse filme é a presença de Jerry Lewis. Aqui ele deixa seus personagens amalucados de lado para interpretar um jornalista amigo de Curtis que, sem querer, acaba parando no meio da confusão ao se hospedar no apartamento do amigo. Seu personagem, repito, é de um sujeito normal. Não aquele tipo mais idiota e exagerado dos outros filmes de Lewis. Penso inclusive que esse filme não fez muito sucesso justamente por essa razão. Os fãs de Jerry Lewis sempre adoravam vê-lo naquele personagem meio débil mental, que aprontava muito nas comédias mais tradicionais de sua linha. Ele inclusive traz para o filme aquele jeitão de ser de seu antigo parceiro Dean Martin. Ver Jerry interpretando um cara normal, com cigarro na mão, fazendo charme, bem mais sóbrio, não atraía o grande público. E isso ficou provado aqui, com a morna bilheteria que o filme alcançou.

O roteiro se baseia nas diversas situações envolvendo a confusão dos muitos encontros e desencontros entre o personagem de Tony Curtis e suas namoradas.  Outro destaque do elenco que não poderia deixar passar em branco é a presença muito carismática de Thelma Ritter no papel de Bertha, a empregada de Tony Curtis, que se vê quase enlouquecida no meio do troca-troca de noivas, pois quando uma vai, a outra vem. O filme poderia até ser mais enxuto, pois um corte de uns bons 20 minutos ajudaria muito em seu ritmo, mas do jeito que está não ficou mal. O roteiro é esperto e ágil e não decepciona aos que gostam de peças teatrais de humor. Arrisque e veja "Boeing Boeing", você certamente terá bons momentos de humor.

Boeing Boeing (Boeing 707 Boeing 707, Estados Unidos, 1965) Direção: John Rich / Roteiro: Edward Anhalt, baseado na peça de Marc Camoletti / Elenco:Tony Curtis, Jerry Lewis, Dany Saval, Thelma Ritter, Suzanna Leigh, Christiane Schmidtmer / Sinopse: Jornalista playboy (Tony Curtis) namora três aeromoças ao mesmo tempo. Contando com o fato de que sempre duas delas estão viajando enquanto ele se encontra com a terceira, seus planos vão por água abaixo quando de repente as três aparecem ao mesmo tempo em seu apartamento.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Afundem o Bismarck

Dentro dos planos de dominar completamente a Europa pelo mar, o ditador nazista Adolf Hitler acreditava que era essencial ter a maior e a mais poderosa marinha da II Guerra Mundial. Para isso o líder alemão mandou construir aquele que foi o maior navio de sua esquadra naval. Se tratava do encouraçado Bismarck, um máquina militar jamais vista nos oceanos até aquele momento. A intenção da marinha alemã era dominar o Atlântico Norte, sufocando assim a Inglaterra que por tratar-se de uma ilha ficaria completamente isolada do resto do mundo. A Alemanha já vinha tendo sucesso com seus submarinos, que afundavam qualquer navio que fosse para os portos ingleses, mas era essencial ter também um navio de guerra que funcionasse como líder de toda a marinha do III Reich.

Por essa razão assim que o poderoso Bismarck deixou os portos rumo ao mar aberto, a Real Marinha Britânica colocou imediatamente uma frota em seu encalço. Como o próprio nome do filme sugere a ordem era simples e direta: “Afundem o Bismarck!” Em jogo havia a dominação dos mares europeus em plena Segunda Guerra Mundial. É justamente nisso que o roteiro dessa produção se concentra – na história da caça e enfrentamento da jóia da marinha nazista, com ordens diretas de afundar o Bismarck, antes que ele pudesse dominar todo o cenário da guerra no Oceano Atlântico. Assim foram enviados em direção ao confronto direto com o Bismarck, três navios de guerra da Marinha Real: HMS Prince of Wales, HMS Hood e HMS King George V. O confronto que se seguiu quando esses navios se encontraram com o Bismarck entrou definitivamente para os livros de história como uma das maiores batalhas navais de toda a história.

Uma das primeiras coisas que me chamaram a atenção nesse clássico filme de guerra é sua recriação extremamente fiel dos fatos reais. O tom é praticamente de um documentário, mostrando momento a momento cada detalhe do conflito, tudo realizado com extrema fidelidade. De certa maneira o filme é quase um documentário, mas não chega a ser enquadrado inteiramente nessa categoria porque sua estrutura narrativa tem como elementos principais as cenas envolvendo atores e a dramatização típica de um filme de guerra da época. Porém os personagens são desenvolvidos apenas até um certo ponto. O importante mesmo do roteiro é mostrar o combate naval entre o Bismarck e os navios ingleses em alto-mar. Essas máquinas de guerra, ao final, são os grandes personagens do filme, sendo obviamente o próprio Bismarck a grande estrela do show. Por essa razão, se você gosta e aprecia a história militar da Segunda Grande Guerra Mundial, esse filme chamado  “Afundem o Bismarck” é claramente uma das melhores opções do cinema clássico. Merecia inclusive um remake, com a tecnologia dos dias atuais. De qualquer forma esse filme de guerra é realmente um precioso resgate de todos os acontecimentos históricos da época.

Afundem o Bismarck (Sink the Bismarck!, Estados Unidos, 1960) Direção: Lewis Gilbert / Roteiro: Edmund H. North baseado no livro de C.S. Forester / Elenco: Kenneth More, Dana Wynter, Carl Möhner / Sinopse: A Marinha Real Britânica parte em um missão extremamente arriscada e perigosa: afundar o poderoso encouraçado alemão Bismarck, o mais poderoso navio de guerra da Alemanha Nazista. Filme indicado aos prêmios cinematográficos Directors Guild of America e Laurel Awards.

Pablo Aluísio. 

Lanceiros da Índia

Título no Brasil: Lanceiros da Índia
Título Original: The Lives of a Bengal Lancer
Ano de Produção: 1935
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Henry Hathaway
Roteiro: Grover Jones
Elenco: Gary Cooper, Franchot Tone, Richard Cromwell, Guy Standing, C. Aubrey Smith, Kathleen Burke

Sinopse:
Baseado no romance histórico escrito por Francis Yeats-Brown, o filme "Lanceiros da Ìndia" conta a história do militar inglês Alan McGregor (Gary Cooper). Durante a ocupação colonial britânica na região, ele é enviado para um posto distante da fronteira, onde acaba participando de uma campanha contra os rebeldes locais.

Comentários:
Lançado na agora distante década de 1930, esse filme quase centenário não negava em nada suas origens. A mentalidade, tanto do livro original, como do roteiro em que foi baseado, era claramente a favor do colonialismo de europeus em terras distantes. No caso o povo indiano estava sob domínio do colonizador inglês e qualquer atividade que fosse contra essa política era vista como algo bárbaro que deveria ser reprimida com força bruta. Claro, hoje em dia não haveria mais como produzir um filme com essa proposta. De qualquer forma o espectador da atualidade deve tentar passar por cima disso para apreciar a boa aventura que se desencadeia na tela. O astro Gary Cooper convence plenamente como inglês, embora ele fosse o mais americano dos atores da época. Seu figurino também chama bastante a atenção. Quando o filme foi lançado os críticos de então disseram que era uma maneira de reviver o galã falecido Rodolfo Valentino. E de fato Cooper está mesmo parecido com o mito do cinema mudo. Só não espere o mesmo charme e elegância, já que Cooper estava mais para caipira do interior dos Estados Unidos do que para estrangeiro exótico e conquistador latino. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor assistência de direção. Também indicado ao prêmio nas categorias de melhor filme, direção e roteiro.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Espírito Jovem

Nesse filme a atriz Elle Fanning interpreta uma garota, moradora da ilha de Wight, que decide se inscrever em um grande concurso televisivo, ao estilo The Voice, onde será escolhido o melhor talento jovem da Grã-Bretanha. A vida dela é dura, estudando pela manhã e trabalhando de tarde e à noite em um bar da sua cidade, como garçonete. No fim do expediente sempre procura um espaço para se apresentar no palco do lugar, mesmo que seja somente assistida por um pequeno grupo de homens solitários e geralmente embriagados. O programa pode ser um recomeço na sua vida, ainda mais depois que se associa a um veterano cantor de ópera que acredita em seu talento.

Pelo visto Elle Fanning também tem um sonho de se tornar popstar. Não é incomum em Hollywood atores e atrizes que também almejam sucesso no mundo musical. Raramente conseguem alguma coisa. Vide Johnny Depp. Nesse filme, para mostrar serviço, a Elle cantou todas as músicas, ao vivo, segundo o diretor. Ao assistir ao filme vemos que não foi bem assim. A maioria das músicas cantadas por ela no palco são puro playback. E a trilha sonora não ajuda em nada. São inofensivas canções pop com os mais rasos clichês musicais do cenário adolescente que você possa imaginar. Ela tem uma voz muito limitada, o que piora ainda mais o quadro geral. Melhor ficar apenas no cinema, onde ela se dá bem.

O roteiro do filme também se mostra tão sem energia quanto a trilha sonora apresentada. A história é bem água com açúcar, sem carga dramática para justiricar maior interesse. Há um erro ao mostrar as vencedoras desses concursos de televisão como futuras rainhas popstar. No mundo real isso não acontece. Raramente uma vencedora desse tipo de programa se firma no cenário musical. São raras vezes. O que realmente acontece é que esses artistas vencedores são logo esquecidos, sendo substituídos pelos novos "astros do amanhã" da temporada seguinte. A máquina de moer artistas pop na atualidade é mais do que afiada. Todos são descartáveis.

Espírito Jovem (Teen Spirit, Inglaterra, 2018) Direção: Max Minghella / Roteiro: Max Minghella / Elenco: Elle Fanning, Agnieszka Grochowska, Archie Madekwe, Zlatko Buric / Sinopse: Jovem garota britânica se inscreve em um programa chamado Teen Spirit na TV Inglesa que vai escolher o melhor talento jovem do país. Seu sonho é se tornar uma nova popstar, cantora de sucesso entre os adolescentes.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Meu Terror em Amityville

Título no Brasil: Meu Terror em Amityville
Título Original: My Amityville Horror
Ano de Produção: 2012
País: Estados Unidos
Estúdio: Film Regions International (FRI)
Direção: Eric Walter
Roteiro: Eric Walter
Elenco: Daniel Lutz, Lorraine Warren, Susan Bartell, Laura DiDio, Marvin Scott, George Lutz

Sinopse:
Documentário que conta com depoimentos das pessoas que viveram e presenciaram os estranhos fenômenos paranormais ocorridos na casa da Ocean Drive, em Amityville. Daniel Lutz, que na época dos eventos tinha apenas 10 anos de idade, relembra tudo o que vivenciou em 1974 e as marcas psicológicas que tudo aquilo acabou trazendo para sua vida.

Comentários:
Eu gostei muito desse documentário que foi atrás das pessoas reais que estiveram naquela casa em Amityville durante a década de 1970. Depois do massacre da família DeFeo naquela casa, uma nova família se mudou para lá, os Lutz. Não demorou muito e estranhos eventos começaram a surgir dentro da casa. Danny Lutz era um garoto de 10 anos de idade. Ele vivia com o padrasto George Lutz, após esse se casar com sua mãe Kathy. George um sujeito autoritário, nada amigável, nervoso ao extremo, que mexia com ocultismo, fato revelado pela primeira vez aqui nesse filme. Depois que a família Lutz se mudou para aquele lugar começou um verdadeiro pandemônio entre suas paredes. Os acontecimentos iriam dar origem ao livro "Horror em Amityville" e depois a um filme de terror de sucesso em Hollywood. O primeiro de muitos, é bom dizer. Mas o que realmente aconteceu? Qual foi a verdade por trás daqueles produtos comerciais? A casa era realmente infestada de demônios? Hoje um homem na faixa dos 50 anos, Danny Lutz traz revelações sobre aquela época. E de quebra ainda faz uma visita na casa de Lorraine Warren, que esteve à frente, durante aquelas supostas manifestações demoníacas. Ela passa muita sinceridade em seu breve momento no filme. A única coisa a se lamentar é que os outros irmãos Lutz não quiseram participar desse documentário. Ao que parece o trauma psicológico foi tão grande que eles querem mesmo é manter distância de todas aquelas histórias de fantasmas.

Pablo Aluísio.