Após sofrer um sério acidente de automóvel o ator Montgomery Clift entrou em um verdadeiro inferno astral. As dores constantes que sofria o fez se tornar dependente de drogas pesadas. Para piorar ainda mais o alcoolismo se agravou e Clift encontrou muitos problemas em seguir em frente na profissão. Após ficar quatro anos sem aparecer no cinema ele resolveu voltar, dessa vez para aquele que seria seu último filme na carreira, uma produção francesa e alemã que captou os últimos momentos desse grande ator no cinema. Os filmes de espionagem estavam na moda por causa do sucesso arrebatador da série James Bond então foi quase natural o aproveitamento de Clift, mesmo em ruínas, para estrelar essa tentativa um tanto mal sucedida de tentar repetir sob uma verniz mais séria o tema da espionagem durante a chamada guerra fria. Ele surge em cena muito magro e abatido, praticamente curvado, obviamente passando um aspecto bem doentio, o que poderá certamente chocar seus fãs, principalmente aqueles mais acostumados com seus primeiros filmes, onde interpretava galãs românticos ou trágicos.
Aqui em seu último papel Montgomery Clift interpreta o professor James Bower, um renomado físico que é recrutado pela CIA para ir até a Europa com o objetivo de ajudar na busca de um cientista russo que se tornou peça vital dentro do jogo de espionagem entre americanos e soviéticos. A trama se passa no auge da chamada guerra fria, bem na fronteira entre as duas Alemanhas, na região que foi apelidada pelo primeiro ministro inglês Winston Churchill de “Cortina de Ferro”. O enredo foi retirado do sucesso editorial “The Spy”, também conhecido como 'L'Espion', escrito pelo autor Paul Thomas. Clift, já com a saúde bastante abalada, passou por dificuldades para terminar o filme.
Muito abatido, sem energia, enfrentou seu último trabalho com muita dignidade mas também com muito sacrifício. Em determinado momento cogitou abandonar as filmagens por não aguentar mais se manter sóbrio, requisito necessário para cumprir o contrato que havia assinado. A crítica por sua vez não gostou muito do resultado. O fato da produção ser europeia, com ritmo devagar e características bem diferenciadas da indústria americana, fizeram com que a produção também fosse ignorada pelo público. Clift não viveria muito após o lançamento do filme vindo a falecer em julho de 1966 em Nova Iorque. O cinema perdia assim um dos mais talentosos atores de sua história.
Talvez Seja Melhor Assim (L'espion, The Defector, Alemanha, França, 1966) Direção: Raoul Lévy / Roteiro: Robert Guenette, Raoul Lévy / Elenco: Montgomery Clift, Hardy Krüger, Roddy McDowall / Sinopse: Pacato professor de física é envolvido numa complexa rede de espionagem que tenciona levar para o ocidente um renomado cientista russo bem no auge da chamada guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética.
Pablo Aluísio.