terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Gigantes em Luta

Terceira e última parceria entre os grandes astros do faroeste americano John Wayne e Kirk Douglas. No filme Wayne interpreta Taw Jackson que resolve se unir ao pistoleiro e ladrão Lomax (Kirk Douglas) para colocar em prática um plano mais do que ousado: roubar um carregamento de ouro no valor de 500 mil dólares. O grande desafio deles será, além de enfrentar a forte segurança que acompanha a fortuna, conseguir vencer a própria carroça que transporta o ouro, pois essa é fortemente armada com um potente metralhadora, além de ser blindada, se tornando praticamente inexpugnável. “Gigantes em Luta” é um western de pura ação, com muitas cenas de lutas, batalhas e tiroteios. Durante as filmagens Kirk Douglas teve uma surpresa que o impactou. John Wayne havia perdido o pulmão em uma complicada operação, três anos antes, na sua luta pessoal contra o câncer. 

Assim o veterano ator estava bem debilitado fisicamente, precisando recorrer regularmente a uma bolsa de oxigênio para dar conta das complicadas filmagens, que lhe exigiam muito do ponto de vista físico. Mesmo assim ele trabalhou com empenho, sem reclamar. Vendo aquela obstinação do colega, Kirk ficou emocionado, como bem revelou em uma entrevista anos depois. Ele tinha que dar o melhor de si nas filmagens ao mesmo tempo em que se preocupava com John Wayne nas cenas mais exigentes e perigosas.

Além do ótimo elenco o filme também apresentava uma produção muito boa, até acima da média. Uma das “estrelas” do filme era a própria carroça blindada que levava o carregamento de ouro, chamada “War Wagon”. Durante anos ela foi exposta no parque temático da Universal ao lado de vários outros artefatos famosos de filmes clássicos. O curioso é que a “War Wagon” era na realidade feita de madeira pintada para parecer aço e ferro. Um truque de Hollywood. Com o uso de efeitos sonoros para recriar o som característico dos metais, completou-se a ilusão de que se estava na presença de uma carroça realmente blindada. Ninguém na época desconfiou de nada.

O diretor de “Gigantes em Luta” foi Burt Kennedy, que se deu tão bem com o astro John Wayne que esse o trouxe de volta para dirigir “Chacais do Oeste” cinco anos depois. O diferencial é que Kennedy sempre procurava respeitar os limites que a saúde de John Wayne exigia. Assim ele procurava filmar as cenas com o ator de forma concentrada, para evitar deixar John Wayne esperando por longas horas para entrar em cena. Também sempre deixava o ator à vontade, sem aquele clima de tensão no set, algo bem típico de Hollywood. O resultado de tudo é mais um belo western na filmografia de John Wayne, aqui ao lado de outro mito do cinema americano, Kirk Douglas. Simplesmente imperdível para os fãs do gênero.

Gigantes em Luta (The War Wagon, Estados Unidos, 1967) Direção: Burt Kennedy / Roteiro: Clair Huffaker, baseado em sua novela, The War Wagon / Elenco: John Wayne, Kirk Douglas, Howard Keel, Robert Walker Jr, Keenan Wynn / Sinopse:  Dois aventureiros se unem no velho oeste para roubar uma carroça blindada que transporta um grande carregamento de ouro no valor de 500 mil dólares. Filme premiado pelo Western Heritage Awards na categoria de Melhor Direção.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

A Um Passo da Morte

Esse é um clássico do western americano estrelado pelo astro Kirk Douglas. Na história Johnny Hawks (Kirk Douglas) lidera uma caravana de pioneiros no meio de um território indígena. Embora pacificadas, as tribos do local vivem em tensão com os brancos por causa de minas de ouro recentemente descobertas. Um dos membros da caravana, Wes Todd (Walter Matthau), está particularmente interessado em descobrir o exato local dessas ricas minas. Para isso usará de todos os meios para ter em mãos a localização dessa imensa riqueza mineral. Claro, isso vai criar todos os tipos de disputas e problemas dentro da caravana. Além da ameaça dos nativos, ainda há a ganância dos demais pioneiros.

"A Um Passo da Morte" é uma produção de encher os olhos do espectador. O filme foi todo rodado na maravilhosa reserva natural de Bend, no Estado norte-americano do Oregon. Isso trouxe ao filme uma das mais belas fotografias que já vi em um faroeste dos anos 50. Rios de águas límpidas, montanhas e muito verde desfilam pela tela como um verdadeiro brinde aos espectadores. Junte-se a isso um bom roteiro, socialmente consciente, mostrando o profundo respeito dos índios em relação às riquezas naturais da região e você terá um belo western como resultado final.

O filme é curto, menos de 80 minutos, mas muito eficiente. Um dos destaques é a ótima cena de ataque dos guerreiros Sioux contra o forte do exército americano. Usando de cavalos, flechas e lanças de fogo, os indígenas demonstram ter bastante conhecimento de táticas de guerra e combate. Afinal de contas eram povos guerreiros. A cena é excepcionalmente bem filmada e o próprio forte construído na locação impressiona pelo tamanho e realismo. Certamente não foi uma produção barata, o que era bem do feitio do astro Kirk Douglas que sempre procurou o melhor em termos de produção para seus filmes. Aqui obviamente não seria diferente.

Curiosamente o filme foi dirigido pelo húngaro André de Toth, um cineasta versátil que se saía bem dirigindo os mais diversos tipos de filmes, de faroestes a dramas, passando por alguns clássicos do terror (como "Museu de Cera" ao lado do amigo Vincent Price). Dizem que foi escolhido pelo próprio Kirk Douglas, já que ele tinha também a intenção de dirigir algumas partes do filme, sempre dando opinião no roteiro, etc. Isso levou alguns a afirmarem que o filme foi co-dirigido por Douglas, embora ele não tenha sido creditado na direção. Em conclusão recomendo bastante esse excelente western bucólico, com lindas locações naturais, um belo romance ao fundo e muitas cenas de ação e conflitos. Está mais do que recomendado.

A Um Passo da Morte (The Indian Fighter, Estados Unidos, 1955) Direção: André de Toth / Roteiro: Frank Davis, Robert L. Richards / Elenco: Kirk Douglas, Walter Matthau, Elsa Martinelli, Lon Chaney Jr / Sinopse: Johnny Hawks (Kirk Douglas) lidera uma caravana de pioneiros no meio de um território indígena. Assim que a jornada começa um dos integrantes afirma que está particularmente interessado na localização de minas de ouro na região, criando conflitos, despertando a ambição e ganância dos demais viajantes e pioneiros.

Pablo Aluísio. 

Face a Face com o Diabo

Faroeste estrelado por Jeffrey Hunter. Na história um casal decide deixar New Orleans para ir embora rumo ao velho oeste. Uma mina de ouro muito promissora espera por eles. Após extrair o valioso metal, acabam sendo alvos de um bando de criminosos mexicanos que armam um cerco a eles. O marido reage ao ataque, usando inclusive bananas de dinamite, mas elas acabam causando um desmoronamento de rochas da encosta. Ele assim fica preso sob pedras e objetos que caíram da montanha. Sua esposa então parte em busca de ajuda numa pequena cidade cheia de ladrões e traficantes de armas. É justamente lá que encontra Joe Collins (Jeffrey Hunter) e suplica por sua ajuda, para que salve seu esposo da morte certa no deserto. Esse western spaghetti é bem interessante por vários aspectos. O principal deles é a presença do ator americano Jeffrey Hunter. 

Depois de um começo muito promissor em Hollywood, onde chegou a interpretar até mesmo Jesus Cristo no clássico "Rei dos Reis", sua carreira entrou em declínio. Depois de alguns fracassos Hunter resolveu mudar de ares, indo até a Europa onde estrelou esse faroeste italiano. Seu personagem, Joe Collins, é um ex-oficial da cavalaria americana que agora vive em uma cidade infestada de criminosos. Expulso do exército ele vaga sem rumo, alcoólatra e sujo. Para sobreviver acaba até mesmo traficando armas para um bandoleiro mexicano assassino chamado "Chato", conhecido por invadir e saquear vilas indefesas, matando mulheres e crianças pelo caminho, ou seja, alguém muito longe da imagem de mocinho dos filmes de western.

Mesmo assim, com esse histórico nada promissor, ele resolve ajudar essa jovem mulher que está desesperada em busca de ajuda após o marido ficar soterrado no alto das montanhas. Collins então forma um bando para ir com ele até lá, salvar o sujeito. Nesse grupo há todos os tipos de escória que você possa imaginar. Há um cafetão sem qualquer escrúpulo, um falso padre que na verdade rouba viajantes e um famigerado traficantes de armas. O resultado, embora longe do memorável, me agradou bastante. Jeffrey Hunter, por exemplo, se despiu de sua imagem de galã americano e surge na tela envelhecido, rústico e excessivamente bronzeado (no mal sentido da palavra, nada estético, queimado mesmo do sol do deserto). Com uma linguagem bem de acordo com o estilo do western spaghetti, esse filme no final de tudo acaba se revelando uma excelente diversão.

Face a Face com o Diabo (Joe... Cercati Un Posto Per Morire!,  Itália, 1968) Estúdio: Aico Films, Atlantis Film / Direção: Giuliano Carnimeo / Roteiro: Lamberto Benvenuti / Elenco: Jeffrey Hunter, Pascale Petit, Giovanni Pallavicino / Sinopse: Jovem pistoleiro ajuda um casal que foi roubado por um bando de ladrões mexicanos do deserto. Eles querem todo o ouro de uma mina explorada pela esposa e seu marido.

Pablo Aluísio.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

A Conquista do Oeste

Quando a Metro anunciou "A Conquista do Oeste" o estúdio deixou claro suas intenções: realizar o filme definitivo sobre a expansão da civilização norte-americana em direção ao oeste selvagem.  Para isso não mediu esforços colocando à disposição do filme tudo o que estúdio tinha de mais importante na época. Atores, diretores, roteiristas, tudo do bom e do melhor foi direcionado para esse projeto. Os grandes nomes do western foram contratados. John Wayne e James Stewart logo assinaram para participarem do elenco. Os diretores consagrados John Ford e George Marshall também entraram no projeto sem receios. Era uma grande equipe reunida. Além do capital humano a Metro resolveu investir em um novo formato de exibição onde três telas enormes projetavam cenas do filme. A técnica conhecida como Cinerama visava proporcionar ao espectador uma sensação única de imersão dentro do filme. Para isso há uso de longas tomadas abertas, tudo para dar a sensação ao público de que realmente está lá, no velho oeste. Era claramente uma tentativa da Metro em barrar o avanço da televisão que naquele ano havia tirado uma grande parte da bilheteria dos filmes. Assim "A Conquista do Oeste" chegava para marcar a história do cinema... bom, pelo menos essa era a intenção.

Realmente é uma produção de encher os olhos, com três diretores e um elenco fenomenal. O resultado de tanto pretensão porém ficou pelo meio do caminho. "A Conquista do Oeste" passa longe de ser o filme definitivo do western americano. Na realidade é uma produção muito megalomaníaca que a despeito dos grandes nomes envolvidos não passa de uma fita convencional, pouco memorável. O problema é definitivamente de seu roteiro. São vários episódios com linhas narrativas que as ligam numa unidade, mas nenhuma delas é bem desenvolvida. Tudo soa bem superficial.

O grande elenco também é outro problema. Apesar dos mitos envolvidos nenhum deles tem oportunidade de disponibilizar um bom trabalho, realmente marcante. John Wayne, por exemplo, só tem praticamente duas cenas sem maior importância. Ele interpreta o famoso general Sherman, mas isso faz pouca diferença pois tão rápido como aparece, desaparece do filme, deixando desolados seus fãs que esperavam por algo mais substancioso. James Stewart tem um papel um pouquinho melhor, de um pioneiro que vive nas montanhas, mas é outro grande nome que também é desperdiçado. A única que faz parte de todos os segmentos é a personagem de Debbie Reynolds, porém ela não é uma figura de ponta no mundo do faroeste. Quem não gosta dela certamente não se importará com sua personagem. Assim, em conclusão, podemos definir "A Conquista do Oeste" como um filme grande, mas não um grande filme. Faltou um melhor equilíbrio.

A Conquista do Oeste  (How the West Was Won, Estados Unidos, 1962)  Direção: John Ford ("The Civil War") / Henry Hathaway ("The Rivers", "The Plains", "The Outlaws") / George Marshall ("The Railroad") / Roteiro: James R. Webb, John Gay / Elenco: Debbie Reynolds, James Stewart, Lee J. Cobb, Henry Fonda, Carolyn Jones, Karl Malden, Gregory Peck, George Peppard, Richard Widmark, Eli Wallach, John Wayne / Sinopse: A saga de uma família de pioneiros cujos descendentes participarão dos grandes eventos que marcaram a história do oeste americano.Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Roteiro (James R. Webb), Melhor Som (Franklin Milton) e Melhor Edição (Harold F. Kress).

Pablo Aluísio. 

O Intrépido General Custer

Cinebiografia romanceada do General George Armstrong Custer (Errol Flynn) e sua sétima cavalaria. A tropa ficou muito famosa na história norte-americana por causa de suas lutas contra tribos hostis lideradas pelo chefe Sioux Touro Sentado. O clímax do filme acontece justamente na batalha de Little Big Horn quando os soldados americanos enfrentaram de forma decisiva, em campo aberto, as hordas indígenas. Quando resolvi assistir esse filme fui com o pensamento de que veria uma produção muito bem realizada, historicamente incorreta, mas que no final das contas tinha tudo para ser um bom western de entretenimento estrelado pelo ídolo Errol Flynn. Acertei bem no alvo! 

O título em inglês é uma expressão popular no exército que se refere aos soldados mortos em serviço, no campo de batalha - uniformizados, com suas botas! (They Died with Their Boots On). Pois bem, a primeira parte do filme é um tanto romanceada além do que seria razoável, inclusive com toques de humor em excesso, algo que eu realmente não esperava nesse tipo de produção. Essa parte inicial tem muito mais a ver com o estilo bonachão de Errol Flynn do que com a biografia do general Custer, que era um sujeito sisudo e de poucas palavras na vida real (ao contrário da caracterização de Flynn, sempre sorridente e soltando piadas).

Já dos sessenta minutos em diante o filme cresce muito (são duas horas e meia de duração). Isso acontece porque o lado mais romanceado do filme é deixado de lado para que o roteiro desenvolva os eventos que aconteceram com o General e seus soldados. A partir desse momento do filme Custer se torna um general e vai para o oeste lutar nas chamadas guerras indígenas. O filme aqui se torna mais sério, com roteiro muito bem estruturado e com um final muito bem realizado, inclusive do ponto de vista histórico (os tropeços em termos de história ocorrem quase todos na primeira parte do filme). O elenco de apoio traz a simpática Olivia de Havilland fazendo mais uma vez o interesse romântico de Flynn. Charley Grapewin surge no papel de "California Joe", um dos melhores personagens do filme, aqui na pele de um excepcional ator, ótimo mesmo. De resto o filme faz jus à fama do diretor Raoul Walsh, sempre muito competente. Se não é fiel do ponto de vista histórico, pelo menos serve, ainda nos dias de hoje, como um competente veículo de diversão para o espectador.

O Intrépido General Custer (They Died with Their Boots On, EUA, 1941) Direção: Raoul Walsh / Roteiro: Wally Kline, Eneas MacKenzie / Elenco Errol Flynn, Olivia de Havilland, Arthur Kennedy / Sinopse: Cinebiografia romanceada do General George Armstrong Custer (Errol Flynn) e sua sétima cavalaria. Militar famoso desde os tempos da guerra civil ele liderou uma série de ataques contra índios rebeldes em territórios distantes do velho oeste e acabou tendo um final trágico.

Pablo Aluísio.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Oscar 2020 - Vencedores


Parasita
Acabou se tornando o grande vencedor da noite, para surpresa de muitos. Claro, todo mundo esperava que levasse o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Era um franco favorito. Porém o filme foi além, venceu também na categoria de Melhor Filme. Dois prêmios importantes. Foi a primeira vez que isso aconteceu na história. Penso que foi um erro. Acabou tornando as categorias redundantes. E foi um exagero, apesar dos méritos cinematográficos dessa obra coreana. E não parou por ai, o filme foi generosamente premiado por Melhor Direção (para Bong Joon Ho) e Melhor Roteiro Original (Bong Joon Ho e Jin Won Han). Enfim levou estatuetas importantes e fez história.

Coringa
Foi o filme que mais levou indicações, porém no final das contas provou-se mais uma vez que a Academia tem dificuldades em premiar nas melhores categorias filmes que sejam baseados em quadrinhos. É um velho preconceito. De qualquer maneira ganhou o Oscar de Melhor Ator para Joaquin Phoenix. Era o mais favorito de todos os favoritos. Ninguém ficou surpreso e foi mais do que merecido. Esnobado nas demais categorias importantes acabou levando ainda o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original para Hildur Guðnadóttir. Outro prêmio merecido.

Era Uma Vez em... Hollywood
A viagem de ácido de Tarantino aos anos 60 merecia melhor sorte em minha opinião. Porém levantou uma estatueta importante, a de Melhor Ator Coadjuvante para Brad Pitt. Essa foi uma categoria acirrada, concorrida, apenas com grandes nomes. Pitt acabou vencendo pela simpatia e pelo conjunto de sua filmografia. É um ator que vem tentando melhorar a cada ano. Merece reconhecimento por isso. O outro prêmio dado a esse filme foi bem merecido, o de Melhor Design de Produção (para Barbara Ling e Nancy Haigh). Antigamente essa categoria era chamada de Direção de Arte. Recriar todo aquele clima dos anos 60, com carros, cenários, roupas de época, realmente não era uma tarefa fácil. O filme de Tarantino conseguiu isso, nos levando diretamente para aquela década.

Judy: Muito Além do Arco-Íris
Essa cinebiografia dos últimos anos de vida da atriz e cantora Judy Garland acabou sendo premiada numa categoria bem importante, a de Melhor Atriz para Renée Zellweger. Foi um belo trabalho. Ela captou mesmo a vulnerabilidade daquela mulher em decadência artística e pessoal. A Zellweger tem aquela sensibilidade própria para captar pessoas assim. Seu prêmio é dito como seu renascimento em Hollywood. Mas será mesmo? Mickey Rourke também recebeu um prêmio justamente nessa vibe, mas depois de algum tempo voltou a sumir. Espero que isso não aconteça com a Renée Zellweger.

História de um Casamento

Outro filme que de certa forma ficou no meio do caminho. Mesmo assim levou o honroso Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para a veterana Laura Dern. Ela interpretou a advogada da esposa, no meio daquela guerra que sempre surge após o divórcio. Havia alguma esperança para Scarlett Johansson e Adam Driver que fizeram um grande trabalho de atuação. Porém eles não venceram, o que de certa maneira foi uma injustiça também já que esse filme é um daqueles que valorizam acima de tudo o trabalho dos atores.

1917
O favoritismo que o filme ganhou ao vencer o Globo de Ouro não se concretizou nessa noite. Assim o filme acabou só vencendo em categorias técnicas. Entre elas a mais importante foi a de Melhor Direção de Fotografia, com o veterano Roger Deakins. Fora isso o filme só venceu em Melhor Mixagem de Som e Melhores Efeitos Visuais. A categoria do som foi muito merecido. Os técnicos do filme colocaram microfones nas roupas dos atores para captar tudo, seus passos, o som ambiente, etc. Já de Melhores Efeitos Visuais foi uma surpresa, já que todos os efeitos fazem parte do filme e estão tão centradas na narrativa que pouca gente percebeu sua importância.

Adoráveis Mulheres
Um filme excelente, muito agradável de assistir, que merecia mais no Oscar. Acabou levando um Oscar óbvio de Melhor Figurino (para a estilista Jacqueline Durran). Recriar todos aqueles vestidos antigos, não é algo simples de se fazer. Para ser o mais realista possível ela consultou documentos no Museu de Londres, foi atrás de gravuras e desenhos de moda da época e conseguiu um efeito maravilhoso. Filmes de época precisam se esmerar mesmo nesse tipo de categoria. O Oscar foi mais do que justo.

Jojo Rabbit
O diferente "Jojo Rabbit" foi premiado por Melhor Roteiro Adaptado (Taika Waititi). Fiquei surpreso, apesar das boas ideias dessa adaptação. Realmente algumas vezes é complicado transportar todo um universo imaginário para a tela e ter sucesso nesse processo. Algumas ideias dão certo no papel, mas sua execução acaba se tornando problemática quando vira cinema. O roteirista desse filme conseguiu superar esse tipo de barreira.

Ford vs Ferrari
Mais um excelente filme que também só venceu em categorias técnicas. Levou o Oscar de Melhor Edição (Andrew Buckland e Michael McCusker) e Melhor Edição de Som (Donald Sylvester). Fazer funcionar na tela de cinema uma corrida em alta velocidade exige também uma edição primorosa, para colocar todos os detalhes dos carros e da pista em celuloide. Aqui não houve maiores controvérsias. E no caso do som, segue o mesmo parâmetro. Afinal carros fazem barulho e o som dos motores possantes devem ter um efeito catalisador no público. É gerar emoção através do que se ouve.

Toy Story 4
Venceu o Oscar de Melhor Animação do ano, dado para os produtores do filme, Josh Cooley, Mark Nielsen e Jonas Rivera. Muita gente não gostou. Além de ser um filme número 4 de uma franquia já até bem antiga, a opinião maioritária foi que os demais concorrentes eram bem melhores. Na minha opinião esse filme ganhou porque investiu fundo na emoção, no sentimento familiar das pessoas. Acabou atingindo o coração dos membros da Academia.

Rocketman
Merecia maior reconhecimento por parte da Academia. Porém acabou vencendo um Oscar importante, o de Melhor Música, para "I'm Gonna Love Me Again". Foi uma forma de reconhecer a importância da obra e da carreira de Elton John. Ele que mesmo sendo um superstar tanto trabalhou em trilhas sonoras para filmes ao longo dos anos merecia essa homenagem. Seu parceiro de tantos anos na composição, o ótimo Bernie Taupin, também foi agraciado. Palmas para eles.

O Escândalo
Esnobado nas categorias mais importantes. Acabou levando o Oscar de Melhor Maquiagem e Penteados (para o trio Kazu Hiro, Anne Morgan e Vivian Baker). Na minha opinião aqui aconteceu algo curioso. Claro que a maquiagem do filme foi muito bem feita, mas o resultado ficou esquisito. As atrizes perderam aspectos de suas faces originais, criando no espectador um sentimento estranho, como se elas fossem bonecas de plástico do tipo Barbie. Eu achei que foi algo desnecessário. Preferia lidar com a beleza natural de todas essas mulheres.

Indústria Americana
O filme venceu na categoria de Melhor Documentário. Era o favorito, então a categoria foi sem maiores surpresas. Muita gente falou do documentário brasileiro "Democracia em Vertigem", mas esse não tinha chances. Na bolsa de aposta de Londres ele estava em último lugar. Também não ajudaram as críticas afirmando que o filme era pura propaganda política de um partido brasileiro. A desonestidade intelectual de seu roteiro também foi um ponto negativo. Esse é um ponto de vista que concordo. Propagandas políticas, com roteiros que distorcem a realidade dos fatos históricos, não merecem mesmo vencer prêmios importantes como o Oscar. Deixem isso apenas para obras de arte puramente cinematográficas. O Brasil merece seu Oscar, mas que ele venha por um filme digno.

Pablo Aluísio.

Medo Profundo 2

O primeiro filme custou pouco e faturou muito bem, rompendo a marca dos 100 milhões de dólares nas bilheterias. Para um pequeno filme de terror e suspense com tubarões estava bom demais! Assim o estúdio se apressou para lançar mais um filme. Menos de dois anos depois do primeiro, já chegava aos cinemas essa sequência. A fórmula segue basicamente a mesma. Garotas bonitas que se metem em problemas quando decidem mergulhar em águas perigosas. O diferencial é que no primeiro filme eram duas jovens, agora são quatro (mais comida para os predadores). Outra mudança foi que o mergulho agora é dentro de uma caverna no México. No lugar há ruínas de um antigo templo Maia. As relíquias arqueológicas estão submersas. Mergulho em cavernas é considerado extremamente perigoso, mas as meninas não pensam sobre isso e vão em busca de aventuras. Claro, tudo vai dar muito errado, ainda mais ao descobrirem que o lugar está infestado de tubarões brancos, cegos, das profundezas. Altamente vorazes, eles começam a perseguir as moças com fúria.

Esse diretor inglês chamado Johannes Roberts tem se especializado em filmes como esse. Ele não apenas dirigiu o primeiro "Medo Profundo", como também um bom filme de terror ao velho estilo, o interessante "Do Outro Lado da Porta". Outro filme dele que gostei foi "Os Estranhos: Caçada Noturna". Ele é bom nesse nicho. E pensar que um de seus primeiros filmes foi o trash  "A Fúria de Simuroc", onde uma ave gigante atacava uma pobre família. Pelo visto ele melhorou muito desde então. Enfim, fica aqui a dica desse segundo filme. Assim como o primeiro, esse também me agradou bastante.

Medo Profundo 2: O Segundo Ataque (47 Meters Down: Uncaged, Estados Unidos, 2019) Direção: Johannes Roberts / Roteiro: Ernest Riera, Johannes Roberts / Elenco: Sophie Nélisse, Corinne Foxx, Brianne Tju / Sinopse: Quatro garotas americanas são atacadas por tubarões gigantes dentro de uma caverna no México. No lugar há diversas ruínas de um secular templo da civilização perdida Maia.

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Joias Brutas

Adam Sandler assinou com a Netflix para atuar em quatro filmes na plataforma. Os primeiros filmes não fugiram muito do que ele está acostumado a fazer no cinema. Esse "Joias Brutas", por outro lado, se diferencia de tudo o que ele já fez em sua carreira. Passa longe de ser uma comédia e traz a melhor atuação de Sandler em toda a sua longa filmografia. É sintomático que por anos o nome de Adam Sandler tenha sido associado a filmes ruins. E ele de fato abusou muito nesse requisito, atuando em coisas medonhas. Porém temos aqui uma pequena redenção pessoal, mostrando que ele de fato sabe atuar bem. Sandler não apenas dá conta do seu personagem, como surpreende em seu trabalho como ator.

Aqui nesse filme ele interpreta um vendedor de joias em Nova Iorque. Howard Ratner (Adam Sandler) é uma espécie de borrão de um tipo de comerciante judeu muito popular na cidade. O sujeito parece também apresentar todos os defeitos possíveis em um homem de sua idade. É basicamente um enrolão e um enrolado. Enrolão porque vai enrolando seus credores - alguns deles bem perigosos - até os limites da insanidade. Ele deve muito e para muita gente, mas sempre tem uma desculpinha para se safar. E nesse processo ele também se torna um enrolado, tentando fazer um negócio para cobrir outro, enquanto vai se perdendo nas inúmeras confusões em que se enfia. Chega a ser engraçado, mas naquela situação em que se dá um sorriso nervoso.

E essa sucessão de problemas também vai para sua vida pessoal. Ele tem uma amante fixa, que mantém em um apartamento, tudo bancado por ele. E tudo isso feito debaixo do nariz da esposa e filhos. Ele definitivamente tem pouco ou nenhum caráter. Porém de todos os seus pecados o pior é o vício em apostas. Completamente descontrolado, ele aposta valores altos em jogos da NBA. E isso vai fazendo com que todos percam a paciência com ele. Inclusive esse caminho vai levá-lo a um beco sem saída. O filme é tenso, mantém um nervosismo próprio durante toda a história. A ansiedade e o nervosismo do protagonista passa para o roteiro e isso faz um diferencial e tanto. A edição é ágil, indo para um lugar, para o outro, sem parar. É a própria vida do personagem principal. E a explosão de violência na cena final é o clímax que já era esperado após tanta tensão. Eu nunca pensei que iria escrever isso, mas em muitos momentos o Adam Sandler me lembrou o Al Pacino em seus bons momentos. Quem diria que algo assim um dia iria acontecer? Enfim, um filme muito bom. Bem trabalhado, bem roteirizado, com excelentes atuações. Entra no rol das melhores coisas já produzidas pela Netflix.

Joias Brutas (Uncut Gems, Estados Unidos, 2019) Direção: Benny Safdie, Josh Safdie / Roteiro: Ronald Bronstein, Josh Safdie / Elenco: Adam Sandler, Julia Fox, Idina Menzel / Sinopse: O filme conta a história de um vendedor judeu de joias de Nova Iorque. Sua vida e seus negócios são completamente caóticos. Filme premiado pelo Film Independent Spirit Awards, na categoria de Melhor Ator (Adam Sandler) e Melhor Direção.

Pablo Aluísio.

O Segredo da Câmara Escura

Título no Brasil: O Segredo da Câmara Escura
Título Original: Le Secret de la Chambre Noire
Ano de Produção: 2016
País: França, Bélgica
Estúdio: Film-In-Evolution, Balthazar Productions
Direção: Kiyoshi Kurosawa
Roteiro: Kiyoshi Kurosawa, Catherine Paillé
Elenco: Tahar Rahim, Constance Rousseau, Olivier Gourmet, Mathieu Amalric, Valérie Sibilia, Fabrice Adde

Sinopse:
O jovem Jean (Tahar Rahim) é contratado para trabalhar como assistente no estúdio de fotografia de Stéphane (Gourmet). Ele é um especialista em recriar velhas técnicas do século XVIII. Tudo se passa numa velha mansão, com uma atmosfera gótica e sinistra.

Comentários:
Filme francês de suspense psicológico dirigido por um japonês. Essa estranha mistura de elementos até que resultou em um filme bem interessante. Todos sabemos que o cinema europeu (e o francês, em particular) tem seu próprio ritmo. Tudo se desenvolve lentamente, nada de pressa. É um estilo bem diferente do que vemos em filmes americanos. Esse aqui também apresenta essa peculiaridade. A partir do momento em que um jovem começa a trabalhar com um fotografo especializado em recriar técnicas que eram usadas em fotos antigas, coisas estranhas começam a acontecer. Ele é torturado pela morte da esposa e tem um relacionamento de conflito com sua filha, que é também sua principal modelo nas fotos. Essas precisam de uma exposição que dura horas para ficarem boas. E isso é cansativo e torturante. Aos poucos o velho mestre em fotos do passado, passa a ter alucinações com a esposa falecida. De duas uma, ou a morta realmente está rondando as sombras da velha mansão ou ele está intoxicado com o mercúrio que precisa usar nas velhas máquinas de fotografia de séculos passados. Não vá esperando por grandes sustos, etc. O cinema praticado aqui é bem sutil, jogando o tempo todo com a imaginação do espectador, nem sempre tendo a obrigação de explicar nada do que se vê na tela. É algo bem mais sensorial.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Morra, Smoochy, Morra

Título no Brasil: Morra, Smoochy, Morra
Título Original: Death to Smoochy
Ano de Produção: 2002
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Danny DeVito
Roteiro: Adam Resnick
Elenco: Robin Williams, Edward Norton, Danny DeVito, Catherine Keener, Jon Stewart, Pam Ferris

Sinopse:
Popular entre as crianças no passado, Rainbow Randolph (Robin Williams) agora está acabado. Ele se envolveu com apostas, gângsters e todo tipo de negócio sujo. E a imprensa descobriu tudo, destruindo sua carreira. Agora as crianças abraçam outro ídolo infantil, o Smoochy (Edward Norton), o que desperta a fúria de Rainbow!

Comentários:
Robin Williams teve excelentes momentos no cinema durante os anos 80. Só que a partir dos anos 90 as coisas foram parando para ele. Robin teve problemas sérios com cocaína e quase parou de fazer filmes. Ele ainda teve uma pequena sobrevida na carreira, mas também colecionou fracassos comerciais nessa fase. Um desses filmes que naufragaram nas bilheterias foi esse "Morra, Smoochy, Morra". A produção que havia consumido 50 milhões de dólares de custo conseguiu nas bilheterias arrecadar apenas 8 milhões. Um prejuízo e tanto para um filme que ninguém se interessou em ver. E o humor do filme é meio estranho realmente. Robin interpreta um animador infantil de TV chamado Rainbow Randolph. É um sujeitinho estranho. Ao mesmo tempo em que anima as crianças, tem uma vida obscura por trás. Quando ele é trocado por um cara vestido com uma roupa de rinoceronte roxo de nome Smoochy, ele tenta matar o novo ídolo das crianças. Enfim, um roteiro que não se decide entre ser uma comédia meio boba ou um filme barra-pesada sobre inveja e assassinato. A direção ficou com Danny De Vito, o baixinho que todos conhecemos de tantas comédias dos anos 80. Seu trabalho até que não ficou de todo ruim, pois o humor negro do filme tem lá seus bons momentos. O problema é que o público simplesmente não comprou a ideia do filme e aí não teve jeito. Foi prejuízo comercial na certa. Só lamento que um ator tão bom como Edward Norton não tenha tido maior êxito nesse gênero. Como sempre ela está muito bem, trazendo uma ingenuidade bem abobada (e adequada) ao seu personagem.

Pablo Aluísio.