terça-feira, 26 de março de 2019

Rock Hudson - O Começo da Carreira

Quando Rock Hudson deu baixa na Marinha Americana, onde havia servido durante a Segunda Guerra Mundial, ele retornou para a vida civil e como muitos outros como ele viu-se no momento decisivo em que tinha que decidir o que iria fazer do resto de sua vida. A vida militar havia chegado ao final e agora ele tinha que determinar um rumo para seu futuro. Há muitos anos Rock tinha um velho sonho de se tornar ator. Seria realmente maravilhoso ganhar a vida fazendo aquilo de que gostava. Quando era apenas um rapaz do meio oeste jamais contou esse desejo para ninguém, porém quando a guerra acabou ele se viu livre para fazer o que bem entendesse de sua vida. Rock serviu em um cruzador e quando esse chegou na baía de San Francisco foi recebido por uma grande festa ao som de sentimentais canções cantadas por Doris Day. Em sua autobiografia Rock recorda que jamais esqueceu esse dia pois em poucos anos ele próprio, aquele marinheiro completamente desconhecido, estaria estrelando filmes ao lado de Doris Day - quem naquela altura poderia dizer que algo assim um dia aconteceria? A primeira providência de Rock ao pisar em solo americano novamente foi ir embora em direção a Los Angeles, onde estava Hollywood, a terra onde ele tencionava realizar seus sonhos. A Universal tinha uma excelente escola de treinamento para atores iniciantes, onde belos e jovens rapazes eram treinados pelo estúdio para se tornarem futuros astros e campeões de bilheteria.

Assim numa manhã Rock pintou pela primeira vez diante dos portões da Universal. Ele já havia assinado com um agente, Henry Wilson, e tinha firmes esperanças que seria aceito para a escola. O que importava para os recrutadores da Universal naquela época nem era o fato dos aspirantes a atores terem realmente talento dramático. Na visão do presidente do estúdio o que vinha em primeiro lugar era a boa aparência, depois com o tempo, estudo e dedicação, o talento para atuar despontaria. No primeiro dia de teste Rock participou de uma sessão de fotos. O que se procurava era alguém que tivesse um ótimo perfil, que fosse alto, elegante e que incorporasse a essência do chamado "galã de cinema americano". Para sua sorte Rock se enquadrava em todos os padrões estéticos. Era alto, tinha um rosto perfeito para a câmera e um estilo que combinava muito bem com o que a Universal vinha procurando. Quem deu o aval para que Rock fosse contratado imediatamente foi o diretor Raoul Walsh. Ele sabia que Rock precisava de muito estudo e lapidação para se tornar um bom ator, mas seu ótimo visual não poderia ser dispensado. Walsh disse ao recrutador do estúdio: "Contrate esse Rock Hudson. Ele parece um herói americano das telas. Depois vamos lapidar melhor o rapaz".

Rock foi contratado naquela mesma tarde, com um pequeno salário de 1.200 dólares, algo que o deixou impressionado. Acostumado com o soldo de marinheiro aquilo era realmente fantástico, um sinal de que seu velho sonho em ser ator de cinema um dia poderia se concretizar. Para mostrar que Rock ficava ótima em cena Raoul Walsh resolveu aproveitar ele em uma ponta de seu novo filme, "Sangue, Suor e Lágrimas". Colocou Rock em um uniforme da força aérea e ficou realmente muito satisfeito com o resultado. A um assistente de direção confidenciou: "Esse jovem Rock Hudson vai ser um astro, pode ter certeza, olha a estampa dele, realmente impressionante!". Depois dessa sua primeira experiência como ator, Rock foi enviado para o centro de treinamento de novos talentos da Universal onde acabou conhecendo outros alunos, entre eles algumas futuras estrelas como Tony Curtis, Jeff Chandler e Tab Hunter.

A partir do momento em que virou um ator sob contrato da Universal tudo mudou. Suas roupas, os locais que deveria ou não frequentar, com quem sairia ou que tipo de atitude deveria adotar em público, seria determinado pelo estúdio. Rock começou a frequentar festas em Hollywood, onde seria apresentado pela imprensa pelo setor de relações públicas. Como não tinha uma namorada, a Universal determinou que deveria sair com outras alunas do departamento de treinamento da empresa. Assim Rock saía com outras aspirantes à atriz, que estavam como ele tentando alcançar o estrelato. Era uma forma de promoção dupla, tanto para ele como para suas lindas acompanhantes. Na vida pessoal Rock se tornou grande amigo de George Nader. Ele era um atlético e jovem promissor ator que nas horas vagas gostava de escrever livros de ficção científica. Nader se tornou muito próximo de Rock porque assim como o amigo também tinha um segredo a esconder da Universal: era gay e morava há anos com Mark, seu companheiro de longa data. Rock Hudson e George Nader jamais tiveram um relacionamento amoroso, mas sua amizade duraria até o fim de suas vidas. Quando morreu, Rock nomeou George e Mark como seus herdeiros, provando que aquela singela amizade nascida nos corredores da Universal seria o começo de um grande elo de ligação pessoal entre todos eles.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 25 de março de 2019

Rock Hudson - Rock e a Universal

Enquanto Rock Hudson ia se firmando dentro da Universal, ele começou a desenvolver duas paixões que jamais o abandonariam até o fim de sua vida: colecionar discos e viajar. Rock gastava um valor enorme de seu salário na compra de discos, de todos os gêneros, que colecionou com grande dedicação até sua morte. Era um aficcionado por música. Certa vez declarou: "Não consigo viver sem música. É como o ar que respiro. Mal chego do estúdio depois de um dia de trabalho duro e a primeira coisa que faço é ligar meu toca-discos". De fato Rock não curtia um novo invento que estava chegando em todos os lares durante os anos 1950, a TV, mas se esbaldava nos fins de semana, comprando todos os vinis que encontrava pela frente. Era de fato um colecionador voraz, desses que pagam pequenas fortunas por discos raros, com selos diferentes ou edições limitadas. Esse hobby encontrou alguns contratempos ao longo da vida. Quando estava no complicado processo de divórcio de sua primeira e única esposa, ela em um acesso de fúria começou a quebrar os raros exemplares que Rock havia movido montanhas para comprar.  Suas cópias raras de Ella Fitzgerald e Duke Ellington ficaram em pedacinhos em questões de minutos. Talvez por isso Rock tenha jurado aos amigos mais próximos que jamais se casaria novamente, promessa que aliás cumpriu com afinco.

Além de colecionar vinis, Rock adorava viajar pelo mundo. Assim que virou um astro em Hollywood ele começou a cruzar os céus e os mares para conhecer outras culturas, outros países. A primeira viagem que fez e o encantou foi na Itália. Rock voltaria para lá várias vezes, inclusive algumas a trabalho quando filmou filmes na região, mas nada superaria o prazer de conhecer velhos castelos e vilas medievais. Rock não era um turista tradicional, desses que compram pacotes fechados de viagem. Ele queria também sentir a emoção da aventura. Assim não raro alugava um carro em algum país europeu e saía viajando pelas estradas, sem rumo certo. Rock certa vez realizou uma longa viagem de automóvel que começou em Portugal, atravessou a Espanha, França e terminou quase nas fronteiras da cortina de ferro, a barreira erguida pela União Soviética separando os países socialistas do resto da Europa. Ele até tentou aprender algumas línguas, mas depois de várias tentativas de aprender francês reconheceu que não era sua praia. Rock se considerava velho demais para se tornar um bom aluno de língua estrangeira.

Obviamente que sua vida pessoal e privada continuava fechada a sete chaves. Nas entrevistas promocionais Rock se mostrava simpático, alegre, e diplomaticamente fechado. Como se soube muitos anos depois Rock escondeu por décadas suas verdadeiras preferências sexuais, afinal ele era gay. Aos poucos porém isso foi deixando de ser um problema para ele, do ponto de vista estritamente pessoal. A publicação do livro "Sexual Behavior in the Human Male" de Alfred C. Kinsey, foi o ponto chave na aceitação de sua homossexualidade. Por anos Rock viveu com culpa e vergonha, se sentindo inferior ou uma aberração. O livro do professor Kinsey colocava muitos mitos ao chão. Assim o fato de ser gay não poderia ser mais considerado uma doença ou um desvio de caráter. O cientista havia concluído com suas pesquisas que a homossexualidade era algo natural na natureza. Muitos animais seguiam essa tendência e não havia nada de errado nisso. Para completar, ele afirmava em seus estudos que praticamente todos os seres humanos tinham uma tendência natural para gostar de outros humanos do mesmo gênero. Poucos eram absolutamente heterossexuais. Havia uma escala que ia da homossexualidade absoluta até a heterossexualidade completa. Os seres humanos geralmente ficavam no meio dessa escala, indo para um lado ou para o outro. Rock e a comunidade gay da Califórnia receberam com alívio essas conclusões. Afinal naquela época ser gay era algo completamente condenável, tanto do ponto de vista legal, social e até científico. Kinsey deu uma nova visão sobre o tema. Claro que Rock não iria se assumir publicamente, afinal ele interpretava galãs nos filmes e se o fato de ser gay viesse a público ele seria ridicularizado. Dentro de sua alma porém ele se sentia aliviado.

Já profissionalmente as coisas caminhavam bem. Todo fim de ano a Universal publicava uma lista de atores demitidos, dos quais ela não tinha mais interesse em continuar sob contrato. Era um momento de tensão para os jovens aspirantes a astro do estúdio. Rock temia ser demitido, mas para sua felicidade continuou dentro do cast da empresa. Outro de sua mesma turma que ganhou novo contrato foi o futuro astro Tony Curtis. Agora Rock poderia respirar mais aliviado. Como era um tipo grande, alto e forte, lembrando os pioneiros que foram para o oeste em busca de uma nova vida, Rock foi imediatamente escalado para contracenar com James Stewart e Shelley Winters no faroeste "Winchester '73". A direção seria do grande diretor do gênero Anthony Mann. O papel de Rock não era muito significante, mas tinha o espaço suficiente para que ele se mostrasse bem na tela, além disso havia bons diálogos para declamar. Era o começo de uma nova virada profissional em sua vida no cinema.

Pablo Aluísio.

Rock Hudson - Rock e as ondas!

Duas semanas antes do começo das filmagens de "Sublime Obsessão" Rock Hudson resolveu surfar com amigos em um das praias mais bonitas da Calfórnia. O que parecia um programa inofensivo de domingo virou um pesadelo na vida do ator. Uma das ondas jogou Rock contra as rochas da praia. O astro foi salvo pelos amigos Mark e George que o levaram imediatamente ao hospital. O diagnóstico foi terrível - Rock havia fraturado o braço e teria que passar por uma cirurgia ficando em recuperação por no mínimo seis semanas. Tanto tempo o tiraria de "Sublime Obsessão" o primeiro grande filme que faria, seu primeiro papel principal ao lado de uma atriz premiada e um diretor de primeira linha, Douglas Sirk. Não fazer o filme seria o mesmo que perder a grande chance de sua carreira - uma chance que provavelmente não aconteceria mais.

No meio da crise Rock implorou aos médicos uma solução mais rápida. A equipe que o atendeu lhe informou então que ele poderia deixar a cirurgia de lado, apenas isolando o local fraturado mas isso teria consequências sérias para ele nos anos seguintes - perderia parte da mobilidade de seu braço e o tratamento inadequado iria prejudicar suas articulações. Rock não pensou duas vezes e pediu pelo simples isolamento do local para não perder a chance de participar de "Sublime Obsessão".

E assim foi feito. Dentro da Universal ainda existiu uma certa resistência em Rock estrelar o filme por causa do acidente. Mas o ator conseguiu o apoio de um executivo influente que tinha se tornado seu caso mais recente. Com tudo pronto finalmente Rock conseguiu estrelar aquele que seria o primeiro grande filme de sua carreira, o primeiro que estrelaria como ator principal e que teria ótima bilheteria. A partir daí Rock Hudson iria emplacar uma incrível sucessão de sucessos que o transformaria em astro de primeira grandeza em Hollywood. Rock perdeu realmente parte da mobilidade de seu braço como os médicos lhe avisaram mas no fundo tudo valeu a pena. Ele literalmente deu o braço a torcer para se tornar um grande superstar.

Pablo Aluísio.

domingo, 24 de março de 2019

A Luz é Para Todos

Philip Schuyler Green (Gregory Peck) é um jornalista e escritor californiano que vai até Nova Iorque em busca de um recomeço em sua vida. Viúvo, com um filho pequeno, morando com sua mãe, ele acaba arranjando emprego em uma conhecida revista liberal da cidade. Sua primeira pauta de artigo é o antissemitismo na América. O editor o convence a escrever uma série de textos mostrando as lutas dos judeus contra o preconceito nos EUA. Em busca de uma matéria diferente Green tem uma ideia ousada. Como quase ninguém o conhece em Nova Iorque ele decide se passar por um judeu, para assim sentir na pele o antissemitismo declarado e escondido dentro da sociedade americana.

Assim que espalha que é judeu ele logo começa a sentir a diferença. Nem todos os restaurantes aceitam reservas em seu nome, seu filho começa a ser hostilizado na escola e ele próprio acaba descobrindo para sua grande surpresa e espanto traços de preconceito em sua própria namorada, uma mulher com o qual tem planos de se casar! Até dentro da própria revista onde trabalha descobre que há uma política de não empregar candidatos em busca de trabalho que fossem judeus. Um quadro alarmante que o deixa completamente perplexo!

Esse filme "A Luz é Para Todos" é na verdade um manifesto escrito de próprio punho pelo diretor Elia Kazan (que não foi creditado como roteirista)  sobre o preconceito contra judeus dentro dos Estados Unidos. Como ele próprio era judeu transpôs para as telas muitas das situações que vivenciou em seu dia a dia, tudo mesclado ao material original escrito por Laura Z. Hobson. O produtor do filme, Darryl F. Zanuck, o chefão da Fox na época, também era judeu o que ajudou ainda mais na divulgação da mensagem que o filme tenta passar. Uma das melhores cenas do filme acontece justamente quando o personagem de Peck tenta explicar ao seu jovem filho o que é conceitualmente um judeu!

A inocência do garoto em suas perguntas acaba expondo de certa forma até mesmo a complicada definição do que seria realmente um judeu em vista da sociedade humana. Uma religião? Uma raça? Kazan, de forma inteligente deixa tudo no ar. Em outro momento interessante do filme trava-se um diálogo muito espirituoso entre um cientista judeu (obviamente inspirado na figura de Einstein) e o jornalista interpretado por Gregory Peck. Em determinado momento o sábio e espirituoso físico explica a Peck que se ser judeu for uma questão de mera religião então ele próprio não seria mais judeu, uma vez que em suas convicções pessoais, como brilhante cientista, desconfiava até mesmo da existência de um Deus, seja ele judeu ou cristão. Em conclusão podemos dizer que "A Luz é Para Todos" é um belo filme da carreira de Elia Kazan. Um pouco panfletário, é verdade, mas mesmo assim uma obra que levanta muitos questionamentos e perguntas relevantes.  

A Luz é Para Todos (Gentleman's Agreement, EUA, 1947) Direção: Elia Kazan / Roteiro: Moss Hart, Elia Kazan (não creditado), baseados na obra escrita por Laura Z. Hobson / Elenco: Gregory Peck, Dorothy McGuire, John Garfieldm, Celeste Holm / Sinopse: Jornalista (Peck) se faz passar por judeu para sentir na pele os preconceitos e desafios que os judeus sentem no dia a dia dentro da sociedade americana. Vencedor do Oscar nas categorias de melhor filme (Darryl F. Zanuck), melhor diretor (Elia Kazan) e melhor atriz coadjuvante (Celeste Holm). Vencedor do Globo de Ouro nas categorias de melhor filme - drama, melhor diretor e melhor atriz coadjuvante (Celeste Holm).

Pablo Aluísio.

sábado, 23 de março de 2019

Mergulho no Inferno

Em plena Segunda Guerra Mundial o Tenente Ward Stewart (Tyrone Power) se sente muito satisfeito fazendo parte de uma esquadra de navios de guerra de longo alcance mas é transferido para um submarino americano chamado USS Corsair. Ao mesmo tempo em que vê mudanças em sua vida profissional começa a se apaixonar pela bela professora Jean Hewlett (Anne Baxter), mal sabendo que ela é, na verdade, comprometida justamente com o capitão do submarino para onde ele foi designado. As coisas pioram quando tudo é revelado! Antes porém de resolverem esse problema amoroso os marinheiros precisarão sair vivos de uma arriscada missão de ataque a uma base naval alemã perto da costa norte-americana.

Filme de guerra que mescla com doses certas um pouco de ação, romance e aventura. Tyrone Power, um dos maiores galãs da época, empresta todo seu carisma para seu personagem, um jovem tenente que tenta a todo custo conquistar uma bonita professorinha de uma escola só para moças. Há boas cenas dele tentando conquistar a garota, tudo claro dentro dos rígidos padrões morais daqueles anos. A produção é claramente financiada e ajudada pelas forças armadas americanas, especialmente a Marinha americana que cedeu sua base naval em New London, Connecticut, para as filmagens. Assim tudo o que vemos fazia realmente parte da esquadra, até mesmo os figurantes.

Por ser um filme claramente realizado para ajudar no esforço de guerra o espectador deve relevar um certo tom ufanista que o roteiro nem tenta esconder. Nos letreiros finais, por exemplo, temos até mesmo um apelo em forma de propaganda para que os espectadores comprassem no próprio cinema os chamados bônus de guerra! De qualquer maneira, a despeito disso, não há como negar o bom resultado final desse filme. Tecnicamente gostei muito também, as cenas submarinas são convincentes e o ataque final a uma base alemã na costa dos Estados Unidos é bem realizada e cheia de boas ideias, como a do bravo comandante dando instruções para sua tripulação na torre do submarino parcialmente submerso. No fim o que temos mesmo é uma obra cinematográfica que vai satisfazer todos os seus desejos de assistir a um bom filme de guerra clássico.

Mergulho no Inferno (Crash Dive, Estados Unidos, 1943) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Archie Mayo / Roteiro: Jo Swerling, W.R. Burnett / Elenco: Tyrone Power, Anne Baxter, Dana Andrews / Sinopse: O filme conta a história de um militar da marinha americana durante a segunda grande guerra mundial, seus problemas pessoais e os desafios de sua profissão no mar.

Pablo Aluísio.

Ratos do Deserto

Norte da África. Segunda Guerra Mundial. As tropas do eixo comandadas pelo brilhante general Erwin von Rommel (James Mason) tentam destruir os últimos batalhões de resistência aliada entrincheirados em Tobruk. O capitão inglês 'Tammy' MacRoberts (Richard Burton) é enviado para o campo de batalha para liderar um regimento australiano que tem como missão deter o avanço dos tanques do Afrika Korps alemão. Disciplinador e austero com seus comandados, ele logo se torna uma figura de destaque no meio do histórico conflito. Conseguirá ser bem sucedido em seu plano de defesa? Para quem gosta de filmes sobre a II Guerra Mundial esse "Ratos do Deserto" é um prato cheio. O roteiro explora uma das mais famosas e sangrentas batalhas de toda a guerra, a luta pelo controle do norte da África, uma região hostil, complicada, onde uma luta feroz entre alemães e ingleses se desenvolve. Eles travam uma queda de braço que entrou para a história. O capítulo de enfrentamento entre alemães e ingleses nas areias do deserto no norte da África certamente é um dos momentos mais estudados e lembrados de toda a guerra. Choque de titãs!

O elenco conta com dois grandes atores. James Mason está excelente como Rommel. Sua atuação não é apenas grandiosa no que diz respeito ao estilo do general mas também fisicamente, pois ele está muito parecido com o militar alemão. Richard Burton também se destaca em seu papel. Seu personagem encontra um dilema pessoal quando encontra um velho professor de sua adolescência lutando como um mero soldado raso em seu pelotão. Os diálogos que travam mostram bem como o roteiro é bem escrito, caprichado mesmo. Outro destaque é o talento demonstrado por Robert Wise, um grande cineasta. Ele procura ser realista mas também abre espaço para cenas que são visualmente impressionantes como a dos soldados caminhando em direção ao horizonte, enquanto olham para as explosões que os esperam, se refletindo nas nuvens do céu. Esse momento tem um grande impacto para o espectador pois vemos a fragilidade daqueles homens em frente a um conflito de dimensões épicas. Outra cena tecnicamente perfeita acontece quando Rommel ordena um ataque bem no meio de uma tempestade no deserto. Ele pretende literalmente camuflar seus tanques no meio do caos causado pela areia. Em conclusão podemos dizer que "Ratos do Deserto" merece o status de ser considerado um dos melhores filmes de guerra já feitos pelo cinema americano. É um filme realmente excepcional em todos os aspectos.

Ratos do Deserto (The Desert Rats, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Robert Wise / Roteiro: Richard Murphy / Elenco: Richard Burton, James Mason, Robert Newton / Sinopse: O filme resgata a acirrada batalha travada entre ingleses e alemães no norte da África durante a segunda guerra mundial.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 22 de março de 2019

A Espada de Damasco

Aventura das mil e uma noites produzida pelos estúdios Universal. Aqui não há grande segredo. A Universal realizava esse tipo de filme para as matinês, para um público jovem que frequentava o cinema no período matutino. Os filmes eram produções B, de baixo orçamento, com excesso de princesas, lutas de capa e espada e muita fantasia. Tudo isso se pode encontrar em "A Espada de Damasco". Na história Rock Hudson interpreta um jovem do deserto que vê seu pai ser assassinado por guardas do Califa de Bagdá. Jurando vingança vai até a cidade e lá conhece um comerciante que acaba lhe vendendo uma antiguidade, uma espada milenar que tem poderes mágicos, tornando aquele que a possuir literalmente invencível.

Não há como negar que esse tipo de produção soa totalmente datada nos dias de hoje. Nada é muito bem cuidado em termos de cenário, figurino, roteiro e diálogos. Tudo aparenta ser bem falso, filmado com pouco dinheiro no quintal dos estúdios Universal. É um tipo de aventura ligeira que hoje em dia aparente ser por demais inocente e até sem muito nexo. Em um produção infanto juvenil como essa "A Espada de Damasco" pouco coisa é ainda relevante nos dias de hoje mas gostaria de destacar o trabalho da simpática atriz Piper Laurie que empresta muito carisma ao resultado final. Fazendo uma princesa pouco convencional ela mantém o mínimo interesse em um argumento de teatro infantil. Em suma "A Espada de Damasco" não se sustenta nos dias de hoje, envelheceu e se tornou obsoleto. Só vale mesmo pela curiosidade de conhecer como eram os filmes das "Mil e Uma Noites" da Universal na década de 1950. Aqui realmente apenas a nostalgia e o saudosismo salvam o filme em uma revisão atual. O resto está ultrapassado pelo tempo.

A Espada de Damasco (The Golden Blade, EUA, 1953) Direção: Nathan Juran / Roteiro: John Rich / Elenco: Rock Hudson, Piper Laurie, Gene Evans / Sinopse: Na história Harun (Rock Hudson) é um jovem do deserto que vê seu pai ser assassinado por guardas do Califa de Bagdá. Jurando vingança vai até a cidade e lá conhece um comerciante que acaba lhe vendendo uma antiguidade, uma espada milenar que tem poderes mágicos, tornando aquele que a possuir literalmente invencível.

Pablo Aluísio.

Oh, Marieta!

A atriz Jeanette MacDonald tinha formação de cantora lírica e em determinado momento de sua carreira viu os estúdios se interessarem em produzir filmes musicais com ela, onde poderia soltar sua voz bem no estilo da ópera clássica, mas com uma verniz mais popular, para consumo das massas. Esse "Oh, Marieta!" foi um de seus sucessos de bilheteria. A historia começa na França de Luís XV. Jeanette MacDonald interpreta uma moça da nobreza que é destinada a se casar com um nobre bem mais velho do que ela. Obviamente a mocinha não quer de jeito nenhum se envolver nesse tipo de casamento arranjado. Só que naqueles tempos os casamentos eram determinados pelo rei e quando ele era desobedecido a pessoa tinha que fugir para não ser presa.

Assim a jovem nobre se disfarça de Marieta, uma identidade falsa. Se fazendo passar por uma mulher que é enviada para a colônia francesa da Louisiana ela finalmente consegue escapar de um destino infeliz, de um casamento forjado, sem amor. Só que a vida na América não será nada fácil, uma vez que seu navio é atacado por piratas durante a travessia, jogando Marieta numa série de eventos inesperados. Bom, o filme é um musical muito antigo, com aquela ingenuidade bem típica dos anos 30. É uma fita leve, que procura ser divertida a todo custo. Jeanette MacDonald tinha carisma suficiente para levar o filme em frente. Pena que ela teve vida breve, morrendo ainda muito jovem, de um ataque cardíaco. Provavelmente se tivesse vivido mais, tendo feito mais filmes, seria mais lembrada nos dias de hoje.

Oh, Marieta! (Naughty Marietta, Estados Unidos, 1935) Direção: Robert Z. Leonard, W.S. Van Dyke / Roteiro: Rida Johnson Young, John Lee Mahin / Elenco: Jeanette MacDonald, Nelson Eddy, Frank Morgan / Sinopse: Durante o reinado de Luís XV, jovem da nobreza francesa decide fugir, por causa de um casamento arranjado para ela. Assim ela embarca para o novo mundo, para a América, em busca de seus sonhos.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de março de 2019

E o Sangue Semeou a Terra

Argumento e Roteiro: O filme mostra as lutas de um grupo de pioneiros que adentram o Oeste americano em busca de terras para lá se estabelecerem. No caminho encontram tribos de índios selvagens e comerciantes de provisões desonestos. O roteiro se foca bastante na briga entre o líder da caravana, Glyn McLyntock (James Stewart), e um comerciante desonesto que recebe por um carregamento de alimentos mas não o entrega no acampamento dos pioneiros na montanha conforme havia sido contratado. Para evitar que seu grupo morra de fome Glyn resolve pegar suas provisões à força, o que gera uma série de conflitos na região. A estória e o roteiro em si são simples e o filme curto, mas tudo muito bem realizado.

Elenco: O destaque fica obviamente com James Stewart em mais um de seus personagens íntegros e honestos. Curiosamente seu Glyn McLyntock também tem um passado nebuloso quando era um assaltante das fronteiras distantes. A caravana de carroças com os pioneiros se torna assim sua redenção pessoal rumo a uma nova vida. Outro ator que chama atenção no elenco é Rock Hudson. Em começo de carreira, ele aqui interpreta um jogador e aventureiro, Trey Wilson. Seu figurino é exótico, com roupas e chapéu em cores incomuns, como lilás. Tudo bem diferente do que estamos acostumados a ver em personagens de filmes de western. Como era muito jovem ainda, sua atuação se mostra muito fraca e vacilante. Rock está sempre com um sorriso no rosto, não importando a situação. Realmente o ator era ainda muito inexperiente e deixa transparecer isso em suas cenas.

Produção: Um dos pontos altos do filme. Apesar de ter cenas feitas em estúdio “E o Sangue Semeou a Terra” foi praticamente quase todo rodado em locações distantes. O Estado americano escolhido para as filmagens foi o bonito Oregon, com muitas montanhas nevadas e rios exuberantes, entre eles o Rio Columbia onde as cenas com o barco “The Queen River” foram realizadas. Já a montanha Hood se destaca por sua beleza natural, sempre ao fundo das cenas. Tudo muito bonito para o espectador se deliciar com as lindas paisagens naturais.

Direção: “E o Sangue Semeou a Terra” foi mais uma bem sucedida parceria entre James Stewart e o diretor Anthony Mann. Aqui eles repetem de certa forma a fórmula que havia dado tão certo em “Winchester 73”, um dos maiores sucessos de bilheteria da dupla. O curioso é que apesar de ambos terem trabalhado em muitos filmes, eles geralmente brigavam bastante durante as filmagens. Não que se odiassem ou algo assim, mas o fato é que criaram uma relação tão próxima de amizade que geralmente diziam o que pensavam um ao outro, sem rodeios. Isso inevitavelmente criavam atritos entre eles. Aqui em “O Sangue Semeou a Terra” o diretor surge acima de tudo econômico e eficiente. Conta sua estória da melhor forma possível mas sem exageros ou afetações. O resultado se mostra muito bom no final das contas.

E o Sangue Semeou a Terra (Bend of the River, EUA, 1952) Direção: Anthony Mann / Roteiro: Borden Chase, baseado no livro de William Gulick / Elenco: James Stewart, Rock Hudson, Arthur Kennedy, Jay C. Flippen, Julie Adams / Sinopse: O filme narra as lutas de um grupo de pioneiros que vão para o Oeste selvagem em uma caravana de carroças com a intenção de começar uma nova vida em terras distantes. Para vencer em sua jornada, eles terão que lutar contra tribos indígenas hostis e comerciantes de provisões desonestos.

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 20 de março de 2019

Caravana do Ouro

Título no Brasil: Caravana do Ouro
Título Original: Virginia City
Ano de Produção: 1940
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Michael Curtiz
Roteiro: Robert Buckner
Elenco: Errol Flynn, Randolph Scott, Humphrey Bogart, Miriam Hopkins

Sinopse:
Na fase final da Guerra Civil Americana, os confederados sofrem pela falta de recursos, dinheiro e equipamentos. A única solução é encontrar de forma urgente uma nova fonte de ouro. Ela existe em Virginia City, Nevada, porém a região está dominada pelas tropas da União. O alto comando do exército sulista decide então enviar o Capitão Vance Irby (Randolph Scott) para liderar uma caravana que traga o ouro até Richmond. A União por sua vez envia o Major Kerry Bradford (Errol Flynn) para deter os planos dos rebeldes. Começa a partir daí um jogo de traições, falsas pistas e acobertamentos envolvendo o valioso carregamento.

Comentários:
"Virginia City" é uma obra pouco lembrada do mestre Michael Curtiz. Com roteiro mais bem elaborado do que o habitual, envolvendo uma curiosa trama de espionagem protagonizada por dois militares se fazendo passar por espiões e agentes infiltrados, o filme acabou sendo considerado complexo demais para o público ao qual se destinava. Hoje em dia ganha muito em novas revisões, justamente por causa da bem arquitetada estória. Outro ponto que chama logo a atenção é o elenco, com três grandes mitos da história de Hollywood. O primeiro é Errol Flynn, eterna estrela das produções dirigidas por Michael Curtiz na Warner. Seu personagem tem ares de Robin Hood, a perícia de um Capitão Blood e a valentia do General Custer. De maneira em geral apesar de ser o protagonista do enredo é o personagem menos interessantes do filme, apenas uma mistura pouco criativa de vários outros papéis desempenhados por Flynn ao longo de sua carreira. 

Já o Capitão confederado Vance Irby, interpretado por Randolph Scott, é muito mais bem desenvolvido. Comandante de uma prisão militar no começo do filme, ele é enviado pessoalmente pelo presidente Jeff Davis para trazer o ouro para os cofres sulistas numa última e desesperada tentativa de vencer uma guerra que naquela altura já parecia estar perdida, pois como bem explica um dos generais rebeldes: "Guerras são vencidas com dinheiro e não apenas com bravura e honra". Randolph Scott está completamente à vontade, até porque o western sempre foi o seu gênero preferido no cinema. Humphrey Bogart surge em cena como John Murrell, líder de um grupo de bandoleiros que está de olho no ouro. É muito divertido assistir Bogart nesse papel porque ele é muito sui generis em sua carreira. Com um bigodinho bem estranho, ele mal pôde ser reconhecido por causa de sua caracterização. Além disso é um personagem bem coadjuvante, o único vilão verdadeiro da trama, que só foi aceito pelo ator por causa de sua amizade e gratidão para com Curtiz, cineasta a quem tinha enorme respeito. Então é isso, "Caravana do Ouro" é de fato um ótimo faroeste que merece ser desempoeirado após ficar tantos anos esquecido embaixo das areias do tempo.

Pablo Aluísio.