sexta-feira, 6 de julho de 2012

O Noivo da Minha Melhor Amiga

Pensei que ia ser bem pior mas me enganei. Na realidade tudo levaria a crer que seria mais uma comédia romântica chata falando sobre os bastidores de um casamento mas ainda bem que os roteiristas deixaram isso bem como pano de fundo. Na realidade o filme não é sobre o casamento da personagem de Kate Hudson mas sim da amizade que ela tem com Rachel (Ginnifer Goodwin). Lendo algumas críticas vi que alguns pensaram tratar-se de um roteiro que mostrava como as amizades entre mulheres são superficiais e sujeitas a traição e enganação. Não vi dessa forma. Na realidade, apesar do tema traição estar presente, vi muito mais uma mulher lutando contra seus próprios sentimentos em prol da felicidade da amiga do que qualquer outra coisa. Além disso essa coisa de afirmar que amizade entre homens é mais sincera do que entre mulheres é pura bobagem. Há pessoas traidoras e ruins tanto do lado dos homens quanto das mulheres. 

O elenco é irregular. Kate Hudson transpora energia o que constrata muito bem com Ginnifer Goodwin, fazendo justamente o oposto dela. Já o elenco masculino é bem mais fraco. Colin Egglesfield que faz o objeto de desejo das garotas é muito sem expressão. Sua postura em cena é quase opaca, o que traz problemas pois em alguns momentos fica complicado acreditar que um sujeito tão sem sal seja tão disputado pelas personagens principais. John Krasinski faz o tipo "amigo apaixonado" e consegue ter alguns boas cenas de humor, embora seja em certo momento totalmente descartado do triângulo amoroso (de forma até cruel diria). Enfim é isso. Não é um grande filme mas não aborrece e levanta até questões interessantes, como a ética que deve existir em relacionamentos de amizade.  

O Noivo da Minha Melhor Amiga (Something Borrowed, Estados Unidos, 2011) Direção: Luke Greenfield / Roteiro: Jennie Snyder baseado na novela de Emily Grifin / Elenco: Ginnifer Goodwin, Kate Hudson, Colin Egglesfield / Sinopse: Dentro de um grupo de amigos muito unidos se forma um triângulo amoroso com o noivo de duas grandes amigas.  

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Assalto ao Banco Central

Para minha surpresa não achei o filme ruim. De certa forma fui com expectativas baixas mas acabei assistindo a uma produção correta no final das contas. O roteiro segue as premissas básicas do fato real (a cavação do túnel, a empresa de fachada, o plano) mas também tem aspectos ficcionais (na realidade foram segundo li na net mais de 36 pessoas envolvidas e não apenas aquelas mostradas no filme). Não me admira que um plano com tanta gente tenha dado errado em termos. Aos poucos como era de se prever foram caindo um a um os assaltantes. Outra coisa a se considerar é que embora não deixe de lado a "brasilidade" (Palavreado pesado, certos momentos de humor bem brasileiros e uma pequena dose de erotismo) o filme não nega a influência dos filmes policiais americanos (principalmente no personagem de Lima Duarte, com aquela situação que já conhecemos - a do tira prestes a se aposentar que acaba indo investigar o caso de sua vida).
 
O filme é entretenimento acima de tudo. Não há muita preocupação em ser historicamente correto (até porque os eventos ainda estão ocorrendo, inclusive grande parte do dinheiro nunca foi recuperado) e nesse aspecto não achei mal. O Marcos Paulo entregou um filme, como eu já disse, adequado, correto. Pensei que seria bem ruim mas me surpreendi positivamente. Em termos de produções nacionais recentes "Assalto ao Banco Central" não é decepcionante, pelo contrário, visto sob um certo ponto de vista pode ser uma boa opção para o cinéfilo.  
 
Assalto ao Banco Central (Idem, Brasil, 2011) Direção: Marcos Paulo / Roteiro: Lúcio Manfredi, Rene Belmonte / Elenco: Milhem Cortaz, Lima Duarte, Eriberto Leão / Sinopse: um grupo de assaltantes decide executar um plano ousado: roubar o prédio do Banco Central do Brasil.  
 
Pablo Aluísio.

O Enigma de Andrômeda

Assisti hoje esse clássico da ficção dirigido pelo mestre Robert Wise. É a tal coisa, um filme como esse hoje dificilmente se sairia bem nas bilheterias já que seu roteiro é totalmente focado dentro de um centro de controle de contaminação com os diálogos centrados numa linguagem que se propõe a ser científica. Eu não sou muito fã do Michael Crichton porque não o considero um escritor de ficção científica de grande qualidade, na realidade ele era no fundo um escritor de contos fantásticos à la anos 50, como bem provam seus maiores sucessos (como Jurassick Park). Era um escritor chegado num exagero.

Assim até fiquei surpreso com o equilíbrio que esse "Enigma de Andrômeda" possui. Não há excessos demais e ele tenta de todas as formas se manter numa linha mais científica (embora todos saibamos que é tudo puro escapismo intelectual pseudocientífica). O filme é bom, prende a atenção e é bem interpretado. Claro que como toda ficção científica de longa data seus efeitos estão totalmente datados hoje em dia, mas nem isso compromete graças à excelente direção de Wise. Ele mantém bem o clima de suspense e consegue deixar o espectador interessado na busca de entender esse novo organismo chamado Andrômeda. Não aconselho o filme a pessoas que não gostam de muito bate papo técnico pois é nisso que o filme centra fogo. Caso contrário, se essa for a sua praia, a diversão certamente será garantida.

O Enigma de Andrômeda (The Andromeda Strain, Estados Unidos, 1971) Direção: Robert Wise / Roteiro: Nelson Gidding baseado no livro de Michael Crichton / Elenco: James Olson, Arthur Hill, David Wayne / Sinopse: Um grupo de cientistas investiga uma série de mortes causadas por um vírus misterioso para a ciência. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Homem Que Queria Ser Rei

Realmente é uma produção de encher os olhos sob a sempre preciosa direção de John Huston. O roteiro e o argumento levam a várias reflexões. A primeira e mais óbvia é o limite da ganância humana. No filme dois trambiqueiros e ladrões resolvem ir a uma região esquecida e selvagem para literalmente fazer fortuna em cima da ignorância daquele povo. Para tanto não medem esforços ao enganar, roubar e fraudar. O ápice surge justamente quando Connery (em ótima interpretação) é confundido com um Deus, que seria filho do lendário Alexandre, o Grande, que conquistou a mesma região séculos antes. O mais curioso é que o larápio é pego justamente quando tenta ser ético e trabalhar em prol do povo local. Maior ironia do que essa desconheço na história do cinema.

Ao lado de Connery dois outros ótimos atores se destacam. Michael Caine, como seu companheiro de trambiques, está em excelente forma, indo do trágico ao cômico em segundos. Esse papel dele inclusive tem certa semelhança com Zulu, um belo filme sobre o colonialismo inglês em terras distantes. Além da mesma época o figurino é praticamente o mesmo, por isso ao ver Caine vestido com uniforme militar britânico me lembrei imediatamente de seu papel em Zulu. Outro destaque é o sempre competente Christopher Plummer, aqui sob pesada maquiagem de caracterização. Enfim, "O Homem Que Queria Ser Rei" demonstra bem o talento do grande John Huston em conduzir, fotografar e dirigir excelentes filmes. Um talento que faz falta hoje em dia.

O Homem Que Queria Ser Rei (The Man Who Would Be King, Estados Unidos, 1975) Direção: John Huston / Roteiro: John Huston, Gladys Hill / Elenco: Sean Connery, Michael Caine, Christopher Plummer / Sinopse: Aventureiro inglês é confundido com uma divindade por um povo nativo que o coroa Rei.

Pablo Aluísio.

O Último Mestre do Ar

Elenco: Nenhum grande ator ou atriz em cena. Nada de muito relevante nesse quesito. O garotinho Avatar tem boa desenvoltura corporal mas como ator é uma nulidade completa. Não consegue criar empatia com o público e definitivamente atuação não é com ele. Os atores que interpretam os vilões são todos caricatos e canastrões (e parecem todos indianos para minha surpresa!). Direção: Esse é o filme mais diferenciado de M. Night Shyamalan. Na realidade ele deixa de ser autoral (como aconteceu em seus filmes anteriores) para entregar um filme feito sob encomenda ao estúdio. Parece que depois da bomba "Fim dos Tempos" ele deu um tempo em suas idéias infelizes (e bobocas).  

Produção: Luxuosa e de bom gosto para falar a verdade. Não poderia ser diferente de um filme que tem pretensão de se tornar um blockbuster. Além de M. Night Shyamalan o filme tem também na produção Kathleen Kennedy (que produziu muitos filmes de Spielberg em seu auge). Talvez por isso o filme tenha custado uma fortuna (150 milhões de dólares que não foram recuperados na bilheteria). Nada a reclamar também em relação aos efeitos especiais (embora esperasse que fossem explorados mais). Argumento e roteiro: Só para quem gosta desse tipo de animação. A idéia central me lembrou "O Senhor dos Anéis", mas com sabor oriental. Assim como em SDA há diferentes nações, batalhas homéricas entre eles e um personagem que parece ser a salvação para todo esse caos. O roteiro não inventa e por isso faz o arroz com feijão para explicar esse universo aos que nunca viram a animação (como no meu caso). Nesse aspecto ele até cumpre bem esse papel.  

O Último Mestre do Ar (The Last Airbender, Estados Unidos, 2010) Direção: M. Night Shyamalan / Roteiro: M. Night Shyamalan / Elenco: Noah Ringer, Nicola Peltz, Jackson Rathbone / A estória segue os passos de Aang, um jovem sucessor de uma longa linha de Avatars, seres que são predestinados a grandes feitos em suas vidas.

 Pablo Aluísio.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Corações Perdidos

Doug Riley (James Gandolfini) e Lois (Melissa Leo) formam um casal atormentado pela morte da filha. Ao acaso Doug acaba conhecendo a jovem Mallory (Kristen Stewart), que vive como prostituta nas ruas e em bares fazendo strip tease. Identificando na garota a própria imagem de sua filha morta, Doug resolve lhe ajudar de alguma forma. "Corações Perdidos" é um bom drama moderno. Há pelos menos dois grandes intérpretes em cena, Gandolfini e Melissa Leo. Eles trazem uma carga emocional muito forte ao roteiro que naturalmente já tem fortes tintas, lidando com temas complicados e pesados, como a morte e a redenção na vida das pessoas. Infelizmente se nota ao assistir ao filme o desnível de atuação entre o ótimo James Gandolfini e a fraca Kristen Stewart. Um roteiro tão complexo como esse, que trata sobre tantas emoções fortes não encontrou em Stewart uma atriz à altura. Ela falha em vários momentos, deixando geralmente o talentoso Gandolfini em situação complicada nas cenas mais dramáticas, tendo que carregar o filme nas costas em várias ocasiões. Kristen Stewart ainda é muito imatura como atriz. Ela ainda precisaria de alguns anos para enfrentar de forma adequada um roteiro desses. Mesmo que seu personagem ajude (uma adolescente que se prostitui nos bares de strippers de New Orleans) ela nunca consegue ser convincente no filme. 

Outro fato que chama atenção é a aceitação difícil do argumento da produção. Mesmo sentindo enormemente a perda de sua filha, quem em sã consciência iria "adotar" uma garota como aquela? Além da barra pesada, de se prostituir e se drogar, a personagem da Kristen é agressiva, boca suja e não transparece nenhuma simpatia! Eu sinceramente acredito que na vida real ninguém iria se envolver em algo assim tão perigoso mesmo como forma de superar o trauma da morte de sua filha adolescente. De qualquer forma, apesar de todos esses problemas "Corações Perdidos" ainda vale a sessão. Se não chega a empolgar pelo menos também não aborrece.  

Corações Perdidos (Welcome to the Riley's, Estados Unidos, 2010) Direção: Jake Scott / Roteiro: Ken Hixon / Elenco: Kristen Stewart, Melissa Leo, James Gandolfini, Lance E. Nichols, David Jensen, Kathy Lamkin, Eisa Davis, Russell Steinberg / Sinopse: Doug Riley (James Gandolfini) e Lois (Melissa Leo) formam um casal atormentado pela morte da filha. Ao acaso Doug acaba conhecendo a jovem Mallory (Kristen Stewart), que vive como prostituta nas ruas e em bares fazendo strip tease. Identificando na garota a própria imagem de sua filha morta, Doug resolve lhe ajudar de alguma forma. 

Pablo Aluísio.

Rambo III

John Rambo (Sylvester Stallone) é enviado ao Afeganistão numa missão não oficial para libertar o seu antigo mentor, o Coronel Trautman (Richard Crenna) que agora se encontra prisioneiro das tropas de ocupação soviética naquele país. "Rambo III" é a esperada continuação da saga do super soldado Rambo. Sem dúvida é um dos mais fracos exemplares da franquia. O roteiro escrito por Stallone foca totalmente em cenas completamente inverossímeis de ação e se esquece de todo o resto. A essência do personagem, que foi parcialmente captada no primeiro filme, aqui se perde completamente. Rambo se torna literalmente um exército de um homem só. Ele enfrenta todo o exército soviético sozinho e praticamente os liquida nos desertos do Afeganistão. O filme é exagerado ao extremo e com isso perde toda e qualquer credibilidade. Só para relembrar: Rambo invade uma base militar russa, mata vários soldados, liberta Trautman e não satisfeito solta ainda todos os demais prisioneiros do local. Consegue escapar de um cerco, rouba um helicóptero soviético de última geração, sofre um desastre com ele (mas não se machuca), corre pelo deserto e enfrenta no muque uma coluna de tanques do exército russo! O pior porém acontece nas cenas finais quando rouba um tanque russo e com ele dá uma "trombada" de frente com um outro helicóptero inimigo (e novamente sobrevive sem maiores problemas).

É ou não é um amontoados de absurdos? O que será que deu na cabeça do Stallone em escrever tantas cenas impossíveis? Para piorar o filme levou uma rasteira da história. Nele acompanhamos a aliança entre Rambo e os rebeldes afegãos, mostrados como heróis da liberdade contra o invasor soviético. O problema é que esses mesmos rebeldes iriam dar origem ao regime brutal dos Talibãs anos depois quando os russos finalmente deixaram o Afeganistão de lado, ou seja, Rambo aqui se alia com um grupo que anos depois seria uma das bases de sustentação de grupos terroristas como a Al-Qaeda (o próprio Bin Laden tinha no Afeganistão uma de suas bases mais sólidas). Acredito que por isso Rambo III seja um dos filmes ideologicamente mais incorretos da história do cinema americano. Talvez por essa razão Stallone nem o cite mais atualmente provavelmente por se sentir constrangido pelo roteiro que escreveu. Enfim, "Rambo III" é aquele tipo de produção que entornou o caldo, transformando o personagem em uma mera caricatura, tudo sob uma verniz ideológica muito infeliz.

Rambo III (Idem, Estados Unidos, 1988) Direção: Peter MacDonald / Roteiro: Sylvester Stallone, Sheldon Lettich baseados no personagem criado por David Morrell / Elenco: Sylvester Stallone, Richard Crenna, Marc De Jonge / Sinopse: John Rambo (Sylvester Stallone) é enviado ao Afeganistão numa missão não oficial para libertar o seu antigo mentor, o Coronel Trautman (Richard Crenna) que agora se encontra prisioneiro das tropas de ocupação soviética naquele país.

Pablo Aluísio.

Chico Xavier, O Filme

Cinebiografia do médium brasileiro Chico Xavier. Alegando poder psicografar cartas de pessoas falecidas, Chico Xavier construiu uma rede de caridade e apoio a pessoas humildes. Bom filme, bem digno. Como cinema em si achei o roteiro até bem escrito. A escolha de ir contando a história do Chico ao mesmo tempo em que trechos do programa "Pinga Fogo" da extinta TV Tupi são exibidos foi uma boa opção. Não cansa o espectador e traz uma agilidade e versatilidade no decorrer do filme. Os atores estão muito bem, em especial Nelson Xavier que faz uma caracterização muito boa. Como o Chico Xavier é um nome muito conhecido do público em geral era até mesmo complicado interpretá-lo a contento, mas o Nelson consegue isso. Nesse aspecto não há o que reclamar. Ator talentoso já tinha feito algo semelhante com outro ícone da cultura brasileira, Lampião. 

 A única crítica que tenho a fazer do filme é o posicionamento que o diretor toma em relação ao personagem principal. Não há o menor sinal de questionamento sobre a espiritualidade de Chico ou sua capacidade de realmente incorporar almas de pessoas mortas e psicografar suas mensagens. A existência dos espíritos em sua vida é encarada no filme como fato, onde não existem dúvidas. Seria melhor que o filme fosse menos parcial, que deixasse uma margem de dúvida para que o espectador formasse suas próprias conclusões. Essa mesma coisa aconteceu com o outro filme médium, Bezerra de Menezes. Do jeito que ficou parece um filme de adeptos do espiritismo para adeptos do espiritismo. Seria melhor que fosse diferente, até porque a obra de Chico Xavier e sua dedicação a obras de caridade e ajuda aos mais necessitados vale por si só, independente da crença e da fé de cada um. De qualquer forma, apesar disso, é um bom momento do cinema nacional.  

Chico Xavier, O Filme (Chico Xavier, Brasil, 2010) Direção: Daniel Filho / Roteiro: Marcos Bernstein / Elenco: Nelson Xavier, Ângelo Antônio, Matheus Costa / Sinopse: Cinebiografia do médium brasileiro Chico Xavier. Alegando poder psicografar cartas de pessoas falecidas, Chico Xavier construiu uma rede de caridade e apoio a pessoas humildes.  

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Perfume - A História de um Assassino

Baseado no Best-Seller homônimo do escritor alemão Patrick Süskind, com o título original - Das Parfum, die Geschichte eines Mörders - o longa - "O Perfume, A História de Um Assassino" - nos apresenta a impressionante história de Jean-Baptiste Grenouille (Ben Whishaw), um rapaz que nasceu em Paris no século XVIII, literalmente na rua e na podridão de um fétido mercado de peixes. Depois de perder sua mãe, Grenouille é criado num orfanato onde descobre que é destituído de cheiro próprio. Aos poucos o tresloucado vai descobrindo que possui um poder singular e raro: um poderoso e inigualável olfato. Depois de sofrer em vários lugares na condição de um trabalhador semi-escravo, Grenouille passa a trabalhar com o perfumista Giuseppe Baldini (Dustin Hoffman) que o ensina todos os truques da produção de perfumes, mas principalmente o segredo de eternizar as suas fragâncias. As idéias bizarras e criminosas começam a povoar a mente do rapaz. Depois de desvencilhar-se de Baldini, Grenouille passa a materializar o sonho de guardar o cheiro de cada ninfeta, em plena beleza física. Mas para isso precisa eliminá-las sucessivamente, retirando de seus corpos as substâncias necessárias para fazer as suas tão sonhadas fragâncias. 

O filme é uma viagem lisérgica pelo mundo dos diferentes olores que invadem o olfato de Grenouille, dando sentido a sua vida. Dos cinco sentidos humanos, para ele só existe o olfato, que representa a janela de sua própria alma que se abre para o mundo. São os impulsos idiossincrásicos de um louco misantropo em direção aos corpos cheirosos, virgens e lívidos das meninas ruivas. Seus olhos injetados traduzem para seu olfato diferentes aromas em forma de desejo. É a definição mais fiel dos sentimentos mais profanos - e também mais sagrados. Toda a sensualidade feminina é percebida pelo olfato magnífico do frio assassino. Sua aparência é suja, grotesca e fétida. Para ele a vida só tem um sentido: encapsular o cheiro de cada ninfa em vidros de perfumes, guardando-os para sempre. "O Perfume"... faz uma espécie de investigação escatológica e bizarra - e porque não poética - dos limites da loucura, das amarguras e dos desejos inconfessáveis do ser humano. O filme é deliciosamente perverso, perfumado, sujo e sensual. Além disso, a magistral direção do alemão Tom Tykwer, deixa clara que lá no fundo o ar blasé e lacônico do assassino é muito mais assustador que seus próprios crimes. A feérica e voluptuosa cena final nos faz lembrar um quadro vivo e surrealista do mestre Salvador Dali. Um ótimo filme que tem como ponto alto, a fotografia, a direção de arte e os figurinos. Nota 9  

Perfume - A história de um Assassino (Das Parfum - Die Geschichte eines Mörders / Perfume: The Story of a Murderer, Alemanha / França / Espanha, 2006) Direção: Tom Tykwer / Roteiro: Andrew Birkin, Bernd Eichinger, Tom Tykwer baseados no livro "Das Parfum" de Patrick Süskind / Elenco: Ben Whishaw, Dustin Hoffman, Alan Rickman / Sinopse: Jean-Baptiste Grenouille (Ben Whishaw) possui o olfato bem mais apurado do que as demais pessoas. Por essa razão acaba encontrando uma profissão bem de acordo com seu talento natural - a de criador de perfumes finos e raros. Sua obsessão por aromas porém o levará a um caminho perigoso e mortal.   

Telmo Vilela Jr.

O Ritual

Acabei de chegar do cinema onde fui assistir esse "O Ritual". Minhas expectativas eram bem otimistas e devo confessar que elas foram plenamente satisfeitas. Aqui está um caso raro de filme que trata sobre o tema exorcismo de forma adulta, sem exageros ou palhaçadas (como o recente "O Último Exorcismo"). O roteiro escrito a partir do livro de Matt Baglio é sutil, muito inteligente e trata a batalha entre fé e ceticismo de uma forma muito bem elaborada. Fiquei o filme inteiro concentrado e interessado, o que não é muito habitual em filmes recentes de terror. O que torna tudo especial aqui é justamente o fato dos dois envolvidos no ritual de exorcismo (o padre Lucas - interpretado com raro brilhantismo por Anthony Hopkins - e seu aprendiz Michael Kovak) terem tidos ambos crises de fé. Se fossem religiosos plenamente convencidos de sua fé o filme perderia grande parte de seu interesse. 

Muito se disse que o filme não tem cenas fortes de exorcismo. Isso é verdade apenas em parte. Achei a cena final muito bem escrita (e interpretada) e sinceramente me causou muito mais impacto do que aqueles montes de efeitos especiais gratuitos que estamos acostumados a ver. Tudo é tratado em um plano bem mais imaginativo (e eficiente). Isso porque grande parte do duelo é travado em um nível muito mais intelectual e teológico (embora cenas de alto impacto físico também estejam presentes). A direção de Mikael Håfström é discreta, mas firme. Seu trabalho me animou tanto que pretendo ver em breve seu filme anterior (Conspiração Xangai). Enfim, "O Ritual" é sem dúvida um filme muito bom, acima da média. 

O Ritual (The Rite, Estados Unidos, 2011) Direção: Mikael Håfström / Roteiro: Michael Petroni baseado no livro de Matt Baglio / Elenco: Anthony Hopkins, Alice Braga, Ciarán Hinds, Rutger Hauer, Chris Marquette, Toby Jones, Franco Nero, Torrey DeVitto / Sinopse: Um seminarista chamado Michael Kovak (Colin O’Donoghue) tem sérias dúvidas sobre sua própria fé até encontrar-se com o Padre Lucas (Anthony Hopkins), um dos sacerdotes autorizados pelo Vaticano para a prática do exorcismo.  

Pablo Aluísio.