sábado, 11 de fevereiro de 2012

Morte Sobre o Nilo

Assim como os livros de James Bond os livros escritos por Agatha Christie seguiam uma fórmula básica. No caso dessa autora ela geralmente reunia várias pessoas suspeitas em um ambiente fechado (como um barco ou trem) e colocava o leitor na situação de tentar descobrir quem seria o assassino. É exatamente isso que temos aqui nesse "Morte sobre o Nilo". Vários personagens se tornam suspeitos da morte de uma rica herdeira que misteriosamente é morta durante um cruzeiro turístico pelo Egito. O filme em si é muito interessante, tem ótimas cenas externas (filmadas no templo de Karnak e nas pirâmides de Gizé) e um elenco de encher os olhos de qualquer cinéfilo.

O destaque obviamente vai para o grande ator Peter Ustinov que aqui interpreta um dos personagens mais famosos da escritora, o inspetor Hercule Poirot (que todos pensam ser francês mas que é belga na verdade). Ustinov domina a cena, tentando descobrir quem teria cometido o crime. Nunca assisti uma atuação fraca de Ustinov e aqui não seria exceção. Ao lado dele, o auxiliando, temos outro grande ator, David Niven. Já envelhecido, prestes a se aposentar o ator ainda tinha uma bela presença de cena. Entre as atrizes o filme traz uma Mia Farrow fazendo mais uma personagem perturbada e a grande diva Bette Davis, discreta, elegante e atuando ao lado da também excelente Maggie Smith. Enfim, só pela oportunidade de ver tanta gente talentosa junta já vale a existência do filme. Assista, se divirta e tente descobrir o quebra cabeça da trama.

Morte Sobre o Nilo (Death on the Nile, Inglaterra, Estados Unidos, 1978) Direção de John Guillermin / Elenco: Peter Ustinov, Bette Davis, David Niven, Mia Farrow / Sinopse: Grupo de ricos em turismo pelo Egito acabam entrando em um cruzeiro pelo Rio Nilo aonde um assassinato é cometido. Todos no navio tem algum motivo para ter matado a vítima. Quem teria afinal feito o terrível crime? Baseado na famosa obra de Agatha Christie.

Pablo Aluísio.

Meia Noite em Paris

Achei esse um dos filmes mais acessíveis da carreira de Woody Allen. Ao contrário das produções mais intelectuais do diretor aqui tudo soa como algo inofensivo, simples, diria que "Meia Noite em Paris" é o produto mais pop do cineasta. Curtinho, levinho, muito bonito e com direção e roteiro redondinhos não me admira em nada que tenha sido a melhor bilheteria do diretor. Diria que basicamente estamos na presença de um "De Volta Para o Futuro para intelectuais (ou pseudo intelectuais)", um filme para ser exibido em shopping center sem exigir muito do espectador. Ao lado dos encontros do personagens com nomes famosos do passado em Paris (em boa atuação de Owen Wilson, cheio de maneirismos do próprio Alllen) há uma estorinha de turistas americanos curtindo a cidade luz. Nada muito aprofundado, bem básico, assim como também são os célebres do passado que surgem no decorrer do filme. 

De certa forma Dali, Picasso, Fritzgerald e outros são mostrados em caracterizações bem clichês - e de forma bem rasa, algumas vezes com diálogos bem didáticos para informar aos espectadores quem são aqueles que surgem em cena. Algumas vezes funciona e em outras não, virando o mais puro e rasteiro clichê (como Dalí que é retratado como um maluco delirante). É a tal coisa, se o espectador entrar e comprar a idéia de Allen vai curtir mesmo que em nível superficial. Aliás se eu tenho uma crítica a "Meia Noite em Paris" é justamente essa: é um filme superficial e bonitinho demais onde o diretor abusou de imagens e estereótipos em excesso para agradar o povão. Parece que o diretor, que sempre foi um artista ousado e inovador, preferiu puxar o freio de mão para agradar às massas sem perder sua imagem de intelectual de Nova Iorque. O tiro saiu pela culatra na minha opinião. Prefiro o Allen complexado e neurótico do que esse aqui embalado para consumo rápido em praça de alimentação de shopping center. Se fosse resumir diria que "Meia Noite em Paris" é o fast food de Woody Allen, ou melhor dizendo, um croissant para turista americano de bermudão.  

Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, Estados Unidos, Espanha, 2011) Direção: Woody Allen / Roteiro:: Woody Allen / Elenco: Owen Wilson, Rachel McAdams, Kathy Bates / Sinopse: Americano em férias em Paris acaba encontrando grandes nomes do passado em suas andanças noturnas pela cidade luz.  

Pablo Aluísio.

Ironclad - Sangue e Honra

"Ironclad - Sangue e Honra" é uma violenta aventura medieval. O filme começa muito bem, todo se baseando no reinado de João Sem Terra, famoso monarca inglês que foi forçado a assinar a chamada Magna Carta (uma das primeiras declarações de direitos individuais da história). Até aí tudo bem. O problema é que o Rei resolve ignorar tudo o que assinou e assim um grupo de rebeldes tenta novamente organizar uma rebelião contra o Rei. Dito assim pode-se pensar que o filme é rico em argumento mas não. Em menos de 30 minutos os rebeldes se fixam nas trincheiras do castelo de Rochester e o tema do filme, que poderia ser bem amplo, acaba se resumindo nessa situação de castelo sitiado pelas forças reais (que contam com a ajuda de mercenários dinamarqueses). 

Como toda situação de cerco somos apresentados a todas as táticas da época para tomar o castelo. Nesse ponto o filme se concentra nessa situação e a violência corre solta. É um dos filmes medievais mais violentos que já vi, beirando o gore. Cavalheiros são decepados, cortados, torturados, queimados, etc, etc. O banho de sangue toma conta da tela. No elenco o ponto alto fica, como era de se esperar, com Paul Giamatti no papel de João Sem Terra. Ele está alucinado em cena (no aspecto positivo do termo). No saldo geral vale a pena assistir, apesar de que saí com a sensação de que poderia ser muito, muito melhor. 

Ironclad - Sangue e Honra (Ironclad, Estados Unidos, 2011) Direção: Jonathan English / Roteiro: Jonathan English / Elenco: Paul Giamatti, Jason Flemyng, Brian Cox / Sinopse: Um grupo de rebeldes são sitiados durante o reinado de João Sem Terra na Idade Média. Roteiro levemente inspirado em fatos históricos reais.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Amor e Outras Drogas

Jamie (Jake Gyllenhaal) é um astuto representante de vendas de uma grande indústria de medicamentos. Em seu cotidiano ele se vê impelido a vender seu produto a todo custo, usando de todos os meios para que os médicos e os hospitais a que visita adotem as drogas que ele vende como padrão. Como recebe por comissão sua vida financeira depende diretamente disso. Numa dessas vendas acaba conhecendo Maggie (Anne Hathaway), uma charmosa jovem que no momento não está interessada em se relacionar com ninguém. Atitude que Jamie tentará mudar. "Amor e Outras Drogas" é uma comédia romântica que passeia por diversos estilos cinematográficos. Começa com um roteiro bem humorado, com doses generosas de cinismo e situações de duplo sentido. Depois vira um soft porn com muitas cenas de nudez, explorando de todas as formas o sex appeal do casal central. Por fim e pela terceira vez o filme tenta mudar novamente virando dessa vez um drama pesado onde os personagem vão ter que lidar com uma terrível situação. 

Em nenhum desses gêneros o filme chega a acertar direito, o roteiro está sempre fora de foco, procurando se encontrar mas nunca chega a um bom termo. A produção joga o tempo todo com a indústria farmacêutica. O personagem principal Jamie é no começo do longa um vendedor que só pensa no lado financeiro do mundo das drogas prescritas. Nunca se importa com o outro lado, a dos doentes e das pessoas que necessitam desses remédios para sobreviver. Para ele as drogas são apenas um meio para ganhar muito dinheiro e só. Apenas quando se vê atirado no outro lado é que ele cria real consciência do que efetivamente está lidando. O roteiro parece querer reforçar a crítica contra a indústria e o lado desumano da comercialização de medicamentos mas não desenvolve o tema a contento, se concentrando muito mais no lado romântico do casal. Faltou um pouco mais de trato nesse aspecto. Além disso some-se a isso o fato do filme ser longo além do necessário (para falar a verdade longo demais para uma estória que no fundo é simples). No final provavelmente vai desagradar a quem procura apenas uma comédia romântica leve e também aos que procuravam por algo com mais conteúdo. Esse problema é típico de filmes que atiram para todos os lados como esse "Amor e Outras Drogas".  

Amor e Outras Drogas (Love and Other Drugs, Estados Unidos, 2010) Direção: Edward Zwick / Roteiro: Edward Zwick, Charles Randolph, Marshall Herskovitz, Jamie Reidy / Elenco: Jake Gyllenhaal, Anne Hathaway, Oliver Platt, Hank Azaria, Josh Gad, Gabriel Macht / Sinopse: Jamie (Jake Gyllenhaal) é um astuto representante de vendas de uma grande indústria de medicamentos. Em seu cotidiano ele se vê impelido a vender seu produto a todo custo, usando de todos os meios para que os médicos e os hospitais a que visita adotem as drogas que ele vende como padrão. Como recebe por comissão sua vida financeira depende diretamente disso. Numa dessas vendas acaba conhecendo Maggie (Anne Hathaway), uma charmosa jovem que no momento não está interessada em se relacionar com ninguém. Atitude que Jamie tentará mudar.  

Pablo Aluísio.

Bronco Billy

Bronco Billy é basicamente uma homenagem a três coisas. Primeiro é uma homenagem ao mundo do circo, à vida daqueles que ganham seu sustento trabalhando cidade após cidade, levando esse secular entretenimento aos lugares mais remotos. Clint Eastwood não esconde que de certa forma homenageia aqui o famoso Buffalo Bill que fez fama e fortuna com seu show itinerante do velho oeste no começo do século passado (Buffalo Bill tem inclusive um ótimo filme enfocando sua vida, estrelado por Paul Newman). Outra homenagem que Clint faz com seu filme é em relação à mitologia do western. Ele brinca com sua própria imagem de cowboy no cinema. Achei excelente esse bom humor por parte dele em se auto parodiar. Por fim, e o mais importante, Clint homenageia o direito de cada um realizar seus sonhos. 

A cena que define Bronco Billy é aquela em que o personagem de Clint explica para sua companheira que ele tinha sido a vida inteira um mero vendedor de sapatos da cidade grande até que um dia resolveu largar tudo para correr atrás de seus sonhos. No caso o sonho que ele almejava desde a infância era a de ser um cowboy de verdade (igual aos que via no cinema quando criança). Eu achei tão lírica essa situação que valeu pelo filme inteiro. Enfim, ótima diversão para todas as idades e que mostra bem que o talento de Clint Eastwood como cineasta vem de longe!  

Bronco Billy (Bronco Billy, Estados Unidos, 1980) Direção: Clint Eastwood / Roteiro: Dennis Hackin / Elenco: Clint Eastwood, Sondra Locke, Geofrey Lewis / Sinopse: Bronco Billy (Clint Eastwood) tem um pequeno circo itinerante onde apresenta por cidadezinhas do interior dos EUA seu show de faroeste ao lado de seu grupo de artistas. Após ter a lona de seu circo incendiada em um acidente Bronco tem uma grande idéia para levantar seu show novamente.  

Pablo Aluísio.

Apollo 18

Uma tremenda bobagem. Poderia resumir esse Apollo 18 assim, dessa maneira simples. De todos os formatos que andaram surgindo nos últimos anos esse que chamo de "falso documentário" (existem outras denominações por aí) é um dos piores. É engraçado porque eles geralmente seguem o mesmo caminho: tentam virar hits na internet, semeiam informações falsas e depois tentam vender tudo como se fosse verdade. Na época de "A Bruxa de Blair" isso ainda era uma novidade e tanto (e deu muito certo como demonstra sua bilheteria) mas hoje em dia tentar servir um prato requentado tantas vezes soa desnecessário. 

Além desse aspecto "Apollo 18" tem um sério problema: é muito bobo o roteiro. Para quem cresceu vendo os roteiros bem elaborados da série clássica Star Trek ter que encarar uma bobagem dessas é dose pra leão. Em pouco mais de 60 minutos o filme nos enrola com pseudo papo de cunho técnico fajuto para dar alguma veracidade ao que ocorre na tela. Mas tudo vai por água abaixo, os atores são fracos, as imagens repetitivas logo cansam e o irritante áudio de má qualidade nos enche a paciência. A velha estorinha de ETs do mal já deu o que tinha que dar. Pra falar a verdade teria sido muito melhor se realizassem um documentário real sobre a Apollo 17, essa sim uma missão verdadeira. Já a Apollo 18 foi pura perda de tempo e dinheiro. 

Apollo 18 (Apollo 18, Estados Unidos, 2011) Direção: Gonzalo López-Gallego / Roteiro: Brian Miller / Elenco: Warren Christie, Lloyd Owen, Ryan Robbins / Sinopse: Imagens secretas do governo americano são descobertas mostrando os terríveis acontecimentos com a tripulação da missão Apollo 18.0

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Um Método Perigoso

"Um Método Perigoso" lida com a complicada relação entre os famosos Carl Jung (Michael Fassbander) e Sigmund Freud (Vigo Mortensens). O que havia começado como uma relação fraternal, quase de pai para filho, acaba desandando quando Jung ousa colocar em dúvida as bases das teorias de Freud. Para piorar ainda mais o relacionamento entre ambos logo vem à tona o fato de Jung ter se relacionado sexualmente com uma de suas pacientes, Sabina Spielrein (Keira Knightley). Um fato totalmente condenado por Freud. Realizar um filme assim é muito complicado pois se corre o risco do resultado final soar complicado demais para os leigos ou excessivamente superficial para os estudiosos das obras de Freud e Jung. Hoje em dia a própria psicanálise anda no fio da navalha pois o avanço dos remédios contra certos males da mente progrediu tanto que não é raro médicos da área desacreditarem totalmente tudo o que Freud e Jung produziram ao longo da vida. Se não for para debater a validade das teses de Freud e Jung então para que realizar esse tipo de filme?

De qualquer forma com esse material o diretor só tinha dois caminhos mesmo a seguir: ou realizar um filme ao estilo "novelão", sensacionalista, enfocando a vida sexual de Jung ou então algo mais cerebral, focado melhor nas divergências entre os dois pensadores. Infelizmente ao invés de escolher apenas um caminho e investir nele o diretor David Cronenberg tentou seguir os dois caminhos ao mesmo tempo, sem se ater a nenhum deles, transformando o resultado final bem superficial em ambos os lados. Nem desenvolve bem a conturbada relação Jung / Freud e nem muito menos consegue impor maior densidade dramática ao que acontece com as aventuras de alcova de Jung. Desse jeito acabou aborrecendo e decepcionando justamente tanto os especialistas quanto os leigos. Enfim, "Um Método Perigoso" é um filme esquizofrênico no final das contas e o pior dos pecados, bem superficial.

Um Método Perigoso (A Dangerous Method, Reino Unido, 2011) Direção: David Cronenberg / Roteiro: Christopher Hampton baseado no livro de John Kerr / Elenco: Keira Knightley, Viggo Mortensen, Michael Fassbender, Vincent Cassel / Sinopse: "Um Método Perigoso" lida com a complicada relação entre os famosos Carl Jung (Michael Fassbander) e Sigmund Freud (Vigo Mortensens). O que havia começado como uma relação fraternal, quase de pai para filho, acaba desandando quando Jung ousa colocar em dúvida as bases das teorias de Freud. Para piorar ainda mais o relacionamento entre ambos logo vem à tona o fato de Jung ter se relacionado sexualmente com uma de suas pacientes, Sabina Spielrein (Keira Knightley). Um fato totalmente condenado por Freud.

Pablo Aluísio.

O Psicólogo

Eu não sei bem o porquê mas ultimamente os filmes do Kevin Spacey estão saindo diretamente para o mercado de DVD no Brasil não tendo chances de serem exibidos nos cinemas. Uma pena já que ele tem apresentado ótimas interpretações como no caso desse "O Psicólogo" (um título estranho embora literal - Shrink é uma gíria para a profissão - e que na minha opinião seria mais adequado "O Psicanalista"). Kevin aqui faz o profissional do título, um sujeito que perdeu sua esposa (o roteiro não entra em maiores detalhes apenas afirma que ela se matou) e que por essa razão literalmente perde a vontade de viver. O curioso é que enquanto ele vive essa crise tem que aconselhar uma fauna de bacanas ricos mais confusos do que ele mesmo (entre eles um Robin Williams em participação especial). O contraste entre uma pessoa que não consegue superar nem suas próprias crises pessoais mas que ao mesmo tempo ganha a vida aconselhando os outros sobre suas vidas é uma das coisas mais irônicas que vi ultimamente no cinema americano. A ironia de "Shrink" é aquela que nasce da acidez, do desconforto, da inadequação. Seu roteiro, extremamente inteligente, nos deixa inquietos durante todo o filme.

Como sempre Kevin Spacey se esbalda em cada cena. Fumando um cigarro de maconha atrás do outro ele acaba se aconselhando, vejam só que ironia, com o seu traficante pessoal, um jovem que lhe vende todas as variedades de ervas possíveis (algumas com nomes hilários). Esse vendedor de drogas é vivido pelo bom ator Jesse Plemons (quem acompanha "Friday Night Lights" o conhece muito bem) e ironicamente se chama "Jesus". Fora isso vamos acompanhando várias estórias paralelas de personagens que acabam se cruzando durante o decorrer do filme. Enfim "Shrink" é muito bem interpretado, tem um roteiro que passeia da ironia à melancolia e certamente vai satisfazer as expectativas de um público mais inteligente e exigente. Recomendo bastante.

O Psicólogo (Shrink, Estados Unidos, 2009) Direção: Jonas Pate / Roteiro: Thomas Moffett, Henry Reardon / Elenco: Kevin Spacey, Mark Webber, Keke Palmer / Sinopse: Psicólogo de pessoas extremante ricas não consegue mais lidar com a dor da perda de sua esposa. Deprimido entra em profunda crise existencial.

Pablo Aluísio.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Direito de Amar

Para quem acha que a boa fase do ator Colin Firth se resume à sua ótima atuação em "O Discurso do Rei" precisa assistir a esse bom drama psicológico chamado "Direito de Amar". Basicamente o filme enfoca a depressão suicida que se abate sobre um professor homossexual na década de 1960 após a morte de seu companheiro em um acidente de carro. O papel principal é um presente para todo e qualquer ator. Firth está excepcional na pele do sofrido personagem. Envolto em convenções sociais que o inibem de ser plenamente feliz ele se vê envolto em um momento depressivo e melancólico sem possibilidade de expressar todos esses sentimentos. Gostei bastante do roteiro principalmente por causa de seu ritmo lento, triste, melancólico, pausado, sem pressa, tudo de acordo com o estado depressivo do personagem principal. Além disso o contraste entre a personalidade tímida do professor e sua necessidade de satisfazer aos seus desejos mais ocultos e inconfessáveis criam um clima de tensão que acrescenta muito ao argumento do filme em si.

O elenco todo está particularmente inspirado, principalmente a dupla central. Colin Firth venceu o BAFTA por essa atuação, sendo indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro. Já sua parceira em cena, Julianne Moore, brilha como uma dona de casa infeliz e sem objetivos na vida além de tentar conquistar o amor de sua vida, que nunca será correspondido pois é gay. Sua delicada atuação também foi indicada ao Globo de Ouro. Aliás ambos os atores estão em uma ótima fase em suas respectivas carreiras uma vez que continuaram a participar de excelentes filmes após "Direito de Amar" chegando inclusive a receberem novas indicações e premiações por seus trabalhos posteriores, (Firth por "O Discurso do Rei" e Moore por "Minhas Mães e Meu Pai"). Mais um motivo para conferir esse talentoso encontro. Na direção o filme traz o estreante Tom Ford, o que não deixa de impressionar, uma vez que o filme é muito bem dirigido, sem sinais de falhas, o que seria natural de esperar de alguém que está pela primeira vez dirigindo um filme. Enfim, "Direito de Amar" é sensível, bem conduzido e acima de tudo marcante, seja qual for sua orientação sexual. Recomendo o filme a todos.

Direito de Amar (A Single Man, Estados Unidos, 2009) Direção: Tom Ford / Roteiro:Tom Ford baseado no romance de Christopher Isherwood / Elenco: Colin Firth, Julianne Moore, Matthew Goode / Sinopse: George´(Colin Firth) é um professor que passa por uma crise depressiva após seu companheiro de longa data morrer em um acidente de carro. Para superar a terrível fase ele conta com o apoio de Charley (Julianne Moore) que nutre sentimentos por ele, mesmo sabendo que nunca será correspondida.

Pablo Aluísio.

Imortais

Fui assistir a esse filme com o fiasco de "Fúria de Titãs" na cabeça. Por isso não tinha a menor fé em nada - pensei que seria mais um lixo Hollywoodiano. Para minha surpresa acabei achando interessante. Talvez por estar com expectativas quase a zero acabei ao final achando um blockbuster decente. Obviamente não aconselho aos estudiosos de mitologia grega, esses ficarão desapontados. O roteiro toma enormes liberdades com os mitos originais. Teseu, por exemplo, virou um rebeldinho revoltado, sem consistência. Monstros famosos como o Minotauro foram relegados a um simples grandalhão com máscara de touro feito de gravetos e por aí vai. O que salva "Imortais" do desastre é em primeiro lugar a linda direção de arte do filme e em segundo a presença sempre muito bem-vinda do ator Mickey Rourke. O filme é o que gosto de chamar de produção de luxo. Claro que praticamente todo ele foi gerado digitalmente mas mesmo assim achei tudo de muito bom gosto, sua fotografia em tons dourados, as cores gritantes das capas e uniformes. Até mesmo o figurino, que foi tachado de brega e excessivo em algumas resenhas, acabou me agradando.

Já Mickey Rourke é um capítulo à parte. Esse é o tipo de ator forjado no Actors Studio que consegue sobreviver a (quase) tudo. Não escondo de ninguém que sou admirador de carteirinha dele. Aqui temos o típico caso de ator maior que o filme. Seu personagem, o rei Hyperion, não é nem melhor e nem pior que outros vilões que enchem os blockbusters americanos todos os anos, a diferença é que Rourke declama até os mais simples diálogos com cuidado, capricho, e isso é sem dúvida uma grande diferença com os canastrões de hoje em dia. E por falar em canastrão o tal de Henry Cavill (que faz Teseu) é de uma nulidade gritante. Sem carisma, mono facial e sem graça quase leva tudo a perder. Se não fosse Rourke segurando as pontas o quesito atuação do filme seria simplesmente desastroso. Enfim, gostei de Rourke, da direção de arte e do bom gosto. Desgostei do Cavill, dos deuses (medíocres) e dos Titãs (esses últimos parecem zumbis de quinta categoria). Apesar de tudo no fim das contas vale uma espiadinha.

Imortais (Immortals, Estados Unidos, 2011) Direção de Tarsem Singh / Roteiro: Charley Parlapanides, Vlas Parlapanides / Elenco: Henry Cavill, Mickey Rourke, John Hurt / Sinopse: Teseu é um mortal que é escolhido por Zeus para liderar uma guerra contra o tirânico rei Hyperion que está em busca de uma arma capaz de destruir toda a humanidade.

Pablo Aluísio.