terça-feira, 25 de março de 2008

Stálin e a URSS

Acredito que atualmente os jovens nem saibam o que significa a sigla URSS, CCCP na língua original. E que realmente essas letras queriam dizer? União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Foi a maior experiência concreta de se colocar as ideias de Karl Marx comandando os rumos de um grande país (o maior em extensão territorial) que unia diversas nações sob o comando de ferro da Rússia comunista. A URSS era uma criação política centralizadora e artificial. Sob o peso do poderio bélico russo diversas nações, com línguas e costumes diferentes, foram colocadas sob o regime socialista. Havia desde grandes países como Ucrânia, até pequenos países muçulmanos ao sul, de povos orientais ao leste e republiquetas europeias, todas debaixo da opressão do regime soviético.

A propriedade privada foi abolida. Todos os meios de produção passaram a ser do Estado. A iniciativa privada foi descartada. Empresas e companhias passavam a pertencer a União Soviética. Toda a economia seria planejada por burocratas de Moscou. A vida de todas as pessoas passavam a pertencer ao Estado máximo. Os poderes legislativos e o judiciário deixaram de ser independentes. Todos deveriam ficar sob estrito controle do poder executivo forte, representado por um líder supremo. A união de todos os poderes, como bem sabemos, é o que define o surgimento de uma ditadura. Esse ditador com poderes máximos seria também o líder do único partido político existente, o Partido Comunista. Direitos individuais deixaram de existir. Havia controle dos meios de comunicação, dos jornais, da televisão. Todos eram controlados pelo Estado. A censura era política de Estado. As artes igualmente ficavam sob domínio absoluto do governo central. O mesmo era direcionado para livros, revistas e qualquer outro sistema de imprensa. Nenhuma crítica ao líder supremo era tolerada e qualquer desvio nesse aspecto era considerado crime punido com prisão perpétua ou morte.O destino de quem ousava discordar do governo soviético era a fria e distante Sibéria, onde muitos morriam congelados, executados ou de inanição.

Se Lênin foi um arquiteto inicial desse regime de poder, sem qualquer tipo de respeito pela vida humana, seu sucessor, Josef Stálin, conseguiu lhe superar. Ele nasceu em um lugar remoto dentro do vasto Império Russo, em Góri, na Geórgia. O pai era alcoólatra e violento, constantemente batendo na esposa e nos filhos. Desde criança Stálin descobriu que não havia perdão em sua casa paterna, essa era uma palavra inexistente no vocabulário do pai, algo que ele levaria para sua vida política. Sua mãe viu que não haveria esperanças para ele, então o matriculou numa escola religiosa da Igreja Ortodoxa. Talvez lá o jovem Stalin tomasse gosto pela vida sacerdotal.

Não foi isso que ele quis. Sua sorte foi que naquela escola ele acabou tendo uma educação primorosa que o transformou em um jovem intelectual. As imagens de um Stálin rude e iletrado não correspondem à verdade dos fatos. Ele tinha grande conhecimento de literatura marxista, a tal ponto que muitas vezes causou embaraços no próprio Lênin que jamais confiou nele. Quando esse morreu abriu-se a sucessão para saber quem seria o novo líder da União Soviética. O sucessor natural seria Leon Trótsky, considerado um grande pensador e ideólogo do comunismo russo. Escritor, intelectual e versátil, ele era seguramente uma excelente opção. Stálin, que havia subido aos mais altos graus do partido por causa de sua militância socialista, do dia a dia, da prática diária das ruas, via o oposto disso. Achava que Trótsky não tinha a vivência prática para levar aquela nação em frente. Usando do modo de agir de seu pai resolveu a questão na base da pura violência. Seus opositores, aliados de Trótsky, foram mortos e depois o próprio Leon foi caçado e morto a golpes de picareta no México, para onde havia fugido com medo de Stálin.

A partir desse ponto não houve mais limites para seu poder. Ele exterminou todos os inimigos políticos, implantou um regime policial de puro terror e começou a eliminar qualquer foco de oposição. Completamente paranoico Stálin mandou matar altos membros do Partido Comunista, suas famílias e parentes. Dentro do exército eliminou qualquer um que representasse uma ameaça, o que custaria caro depois quando Hitler invadiu a União Soviética na Segunda Guerra Mundial. Seus mais competentes oficiais já tinham sido executados. Mesmo assim o Exército Vermelho superou esses problemas e acabou destruindo a Alemanha Nazista. Quando a Guerra acabou, Stálin estava feliz e glorificado pelo povo russo. Ele criou uma rede de culto à sua própria personalidade que o colocou em uma posição de pai da pátria, maior russo de toda a história! Era maior do que um herói nacional, era quase a personificação de um semi Deus do socialismo. Um homem perfeito, isento de falhas e erros. Sua biografia (completamente manipulada pelos membros do Partido) era ensinada nas escolas e universidades como matéria obrigatória. Ele era o exemplo máximo a seguir. Nas escolas os livros citavam o camarada Stálin em todos os assuntos, mesmo se fossem sobre ciência e assuntos que o próprio Stálin sequer conhecia. Tudo ao redor parecia remeter ao ditador. Em cada esquina havia uma enorme estátua do amado líder ou um enorme cartaz de propaganda com seu rosto. Até hoje o regime Stalinista é estudado por causa da imensa propaganda política que foi criada. O termo Stalinista passou a ser usado como sinônimo de culto à personalidade dentro da ciência política.

Stálin porém queria mais. As mortes continuaram e estima-se que ele foi responsável por milhões de assassinatos políticos. Stálin também implantou uma enorme rede de espionagem dentro da sociedade, onde cada um poderia denunciar seu vizinho por "atitudes anti revolucionárias". Isso criou um clima de terror dentro das cidades, com prisões arbitrárias e sem julgamento. Isolado em seu quartel general o velho ditador ia a cada dia ficando mais paranoico a ponto de confessar a um assessor: "Estou acabado, não confio em mais ninguém, nem em mim mesmo!". Ele terminou seus dias completamente isolado a sozinho, já que havia mandado matar praticamente todos os seus parentes, com medo de conspirações que só existiam em sua mente perturbada. Stalin morreu de um derrame em seu escritório no Kremlin. Ao cair no chão ele ficou sem atendimento por longo tempo porque seus próprios guardas tinham medo de entrar no escritório para saber o que se passava lá dentro. Seus crimes foram denunciados com extrema coragem por Nikita Khrushchov que o sucedeu. Ele expôs em plena reunião do Partido Comunista quem foi realmente Josef Stalin, um verdadeiro assassino de massas, que causou destruição e morte por onde passou. Um verdadeiro louco homicida no poder. E qual é a grande lição que a URSS trouxe para todos? A de que o poder absoluto corrompe o homem. Apenas poderes separados conseguem delimitar o poder político. Fora disso só existe barbárie e morte sistemática promovida por um Estado sem freios. Todas as ditaduras são corrompidas. Apesar de todos os seus problemas, apenas a democracia resguarda a liberdade e o progresso de uma nação. 

Pablo Aluísio.

11 comentários:

  1. História Política
    Stálin e a URSS
    Pablo Aluísio.

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  2. "comando de ferro" Eu tenho horror à essas pessoas ditas comnistas, esquerdistas, socialistas, petistas, etc. É uma gente asquerosa, sem empatia, corrupta e despótica como ninguém consegue ser. Essa raça deve ser exterminada da face da terra. Por isso, apesar das inúmeras tontices dele, eu me sinto em dívida eterna para com o Bolsonaro por ter nos livrado do Lula e do PT, essa corja de ladrões infames. Pra combater esses monstros só um "louco" como o Bolsonaro. Ainda bem que deu certo.
    Serge Renine.

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  3. Bom, curiosamente eu tive a inspiração de escrever esse texto justamente para esses seguidores do Bolsonaro que pedem e suplicam por ditadura militar, pedindo intervenção militar, fechamento do congresso, do STF, etc. Usei um exemplo justamente da esquerda, que eles tanto dizem combater. É uma lição de história para todos eles. Ditadura no Brasil, nunca mais. Isso nunca deu certo na história.

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    1. Pra não dizer que ditadura nunca deu certo, deu uma vez, quando Júlio Cesar formou o primeiro triunvirato, com Pompeu e Crasso, e isso possibilitou a construção do império romano, que durou mais de 300 anos. Mas isso foi numa outra época em que o mundo se resumia a alguns reinos que dominavam o planeta e só em Roma e na Grécia se praticava a democracia e a alternância de poder. Mesmo assim o Júlio Cesar foi assassinado por isso e o império romano só foi consolidado pelo seu sobrinho neto Otaviano, depois chamado de Augustus, que já pegou uma terra relativamente "pacificada" pelo seu valente tio avô e ele, Otaviano, era um homem de extrema habilidade poíitca e noção de cidadania, tanto que foi chamado pelos romanos de "o pai do povo".
      Hoje em dia, nesse mundo globalizado, ditadura é impraticável e indesejável, tanto com a esquerda quanto com a direita, duas faces da mesma moeda.

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  4. No direito romano clássico a figura do "ditador" era previsto em lei, porém o escolhido se tornaria ditador apenas por um breve período e de acordo com circunstâncias excepcionais. A República romana funcionou muito bem por séculos e depois foi substituída pelo império, a real ditadura de imperadores insanos. Essa segunda marcou a queda e destruição do império romano.

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  5. Belo texto, com palavras precisas, Pablo. Stalin foi um monstro, a verdadeira personificação do demônio. Mandou milhares para as Gulags

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  6. Continuando... Como eu sempre digo, o comunismo foi a maior mentira do século XX. Não se pode construir um "edifício social" sem que haja liberdade de expressão e liberdade de ir e vir. Não se governa através de uma ditadura insana e perversa como foram as ditaduras de Stalin na Rússia e Mao na China. Isto é inaceitável e desumano. O ser humano é livre por natureza e não consegue ser governado por tutelas, seja de esquerda ou de direita. Esses golpes militares, tão adorados pelos governantes da América do Sul, não cabe mais nem ser discutido. É anacrônico e cheira a mofo. Enquanto os países mais desenvolvidos marcham rumo a novos horizontes, uma parte do povo brasileiro sai às ruas pedindo a volta do AI-5. Duvido que essa gente sequer desconfie o que realmente foi o AI-5. O mundo está precisando de paz, amor, respeito ao próximo e liberdade. Chega dessas ideias estapafúrdias de intervenção militar, este pensamento ficou velho, sem graça e fora de moda.

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  7. Pois é Telmo, um grande absurdo! Eu vejo essa gente pedindo intervenção militar, pedindo ditadura e fico impressionado com a ignorância... Ir em frente de quartel pedir ditadura militar?! O que essas pessoas tem na cabeça?! Quem disse que militar brasileiro é melhor do que qualquer outra pessoa? Estão aí os exemplos de generais nomeando filhas por puro nepotismo descarado, quem disse que esses militares são as pessoas mais honestas do mundo? Essa gente é tola e muitos deles idiotas ao extremo.

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  8. Exatamente Pablo. Será que essas pessoas que clamam pela volta de uma ditadura militar, desconfia que de cara, ficará sem Internet? Ou eles acham que os regimes se exceção vão deixar os veículos de comunicação agirem livremente como são hoje? O maior inimigo de um ditador é um povo linkado com o mundo e bem informado. Por isso que na história de todas as ditaduras, que aparecerem até hoje no mundo, a Imprensa foi s primeira instituição a ser explodida.

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  9. Essas pessoas esquecem que a volta da ditadura militar iguala o Brasil à países com regimes ditatoriais, como Venezuela ou Cuba. Ou seja, os apoiadores do Bolsonaro, criticam tanto os esquerdistas por adorarem esses dois países, que estão fazendo tudo para transformar o Brasil em um deles... Kkkkk... Ironia maior não existe.

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    1. 'Por isso que na história de todas as ditaduras, que aparecerem até hoje no mundo, a Imprensa foi s primeira instituição a ser explodida."

      A vantagem de hoje Telmo é que além da imprensa dita "tradicional, ou oficial", temos a internet com suas redes sociais. Calar a todos ficou muito mais difícil.
      Serge Renine.

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