quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Marlon Brando - Hollywood Boulevard - Parte 16

A estrela de Marlon Brando começou a se apagar no início da década de 1960. Durante exatos dez anos Brando foi um dos campeões de bilheteria em Hollywood. Seu nome sempre estava no Top 10 dos astros mais populares. A partir de 1960 porém seus filmes começaram a fracassar. O ponto de virada aconteceu com o faroeste "A Face Oculta". Essa produção era uma aposta certeira rumo ao sucesso por parte da Paramount Pictures, mas Brando brigou logo nos primeiros dias com o diretor e depois de muitos problemas ele mesmo assumiu a direção. Acontece que Brando nunca havia dirigido um filme antes na carreira. O resultado era previsível. O orçamento estourou, os gastos ficaram fora do controle e Brando não conseguiu dar uma forma ideal do ponto de vista comercial ao filme. O resultado foi que o público não comprou a ideia e assim o ator teve seu primeiro grande fracasso de bilheteria.

As coisas só pioraram depois disso. Brando começou a encarar os estúdios como verdadeiros inimigos e passou a recusar roteiros sugeridos pelas companhias. Ao invés de estrelar grandes produções, ele optou pelos pequenos filmes, de diretores iniciantes, cujos roteiros dificilmente fariam sucesso nas bilheterias. Uma exceção foi exatamente o remake de um antigo filme estrelado por Clark Gable chamado "O Grande Motim". Brando que poderia ter atuado em um dos maiores filmes de todos os tempos (Lawrence da Arábia) recusou o convite do diretor David Lean para literalmente afundar em um filme cuja produção nos mares do sul do Pacífico se revelou um enorme desastre financeiro. A MGM perdeu milhões com esse fracasso e nem pensou duas vezes antes de culpar o próprio Marlon Brando pelo prejuízo que teve.

Nos anos seguintes Brando foi colecionando fracassos comerciais: "Quando Irmãos se Defrontam", "Dois Farristas Irresistíveis", "Morituri" e "Caçada Humana" não foram bem de bilheteria. Em pouco mais de quatro anos Brando se tornou um dos atores menos bem sucedidos da indústria. Seu nome foi caindo na lista dos astros mais rentáveis. Ele que sempre havia ficado entre os "10 mais" agora não conseguia ficar nem entre os 40 mais bem sucedidos! A imprensa, que nunca havia gostado muito de Brando, começou a bater. Ele foi chamado de decadente, fracassado, careca, gordo e outras ofensas que só serviam para afundá-lo ainda mais dentro da indústria do cinema.

Em 1967 pintou uma boa oportunidade de se reerguer. Brando soube que Charles Chaplin iria dirigir uma comédia chamada "A Condessa de Hong Kong". Marlon sabia que ele não tinha um bom timing para o humor, mas mesmo assim estava disposto a não perder a oportunidade de trabalhar ao lado de um dos grandes gênios da sétima arte, Chaplin. O problema é que o roteiro não era bom e Chaplin, já bem envelhecido, não tinha mais a mesma genialidade de seu auge. Para piorar Brando não gostou dos métodos de trabalho do veterano e nem de sua pessoa. Em sua autobiografia Brando destroçou Chaplin o chamado de uma das pessoas "mais sádicas e cruéis que havia conhecido em toda a sua vida". Isso porque Chaplin humilhava seu próprio filho, na frente de todos, durante as filmagens.

Assim as previsões pessimistas logo se confirmaram. Quando chegou aos cinemas o filme fracassou de forma monumental. Brando nem quis defender o filme pois sabia que ele não era bom. Tinha um humor ultrapassado, um enredo sem graça e uma produção fraca. Nas próprias palavras do ator o filme "A Condessa de Hong Kong" acabou se transformando em um de seus "maiores desastres". Foi embaraçoso para todo mundo. Quando todos pensavam que Brando havia chegado ao fundo do poço ele ainda caiu mais em "Candy" e "Queimada"! Os filmes não foram apenas novos fracassos, mas também eram muito ruins! O próprio Brando reconhecia isso. Na verdade Marlon Brando só iria reencontrar o caminho do sucesso quando soube que a Paramount iria filmar o romance "O Poderoso Chefão" de Mario Puzo. Se conseguisse o papel do mafioso Corleone poderia ter uma nova chance na carreira. Ele sabia que tinha que interpretar o personagem de qualquer jeito... mas essa é obviamente uma outra história...

Pablo Aluísio.

22 comentários:

  1. Cinema Clássico
    Marlon Brando - A História de um Mito - Parte 7
    Pablo Aluísio.

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  2. Como a vida é misteriosa. Dez anos de fracasso total e, inesperadamente, se torna o Don Corleone, o paradigma do que seria um verdadeiro mafioso, até pra componentes da verdadeira Máfia.
    Serge Renine.

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  3. Verdade. O Marlon Brando teve muita sorte mesmo. Depois do Corleone aí sim a carreira dele renasceu e fez com que ele tivesse prestígio até o fim de seus dias. Foi um renascimento.

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  4. Marlon Brando não era flor que se cheirasse. Ele debochava dos produtores e tinha muitos inimigos em Hollywood. Inclusive entre atores e atrizes. E conforme você vai destruindo o meio social em que vive as pessoas começam a sabotar seus planos. Brando brigou com todo mundo e com isso ganhou antipatia geral na capital do cinema. Era um sujeito complicado de se lidar, mas também era um gênio da atuação.

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  5. Boa observação Lord Erick. Ele tinha mesmo muitos atritos em Hollywood. Só para citar alguns, basta lembrar que ele demitiu o Stanley Kubrick de um de seus filmes, brigou com o John Wayne a ponto desse dizer que queria dar um soco na cara dele, falou mal do Charles Chaplin que respondeu afirmando que nunca mais iria trabalhar ao seu lado, ofendeu James Dean, comparou Marilyn Monroe com uma puta e por aí vai... Quando um artista se comporta assim acaba queimando seu próprio filme e fica isolado.

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    1. Pra dar um soco na cara do John Wayne ele precisaria de um banquinho.

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  6. Rsrs

    Enfrentar o John Wayne de frente ia ser difícil. Os dois sempre se detestaram em Hollywood. Brando era progressista, Wayne era um conservador ao velho estilo. Brando democrata, Wayne republicano. Os dois viviam trocando farpas pela imprensa.

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  7. Do alto de minha elegância suprema vou resumir o Marlon Brando. Como ator era um gênio. Como homem era um imbecil. E tenho dito.

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  8. Dom Pablo, só uma observação a mais: O Marlon Brando ficou 12 anos na merda. De 1060 a 1972 quando chegou nos cinemas O Poderoso Padrinho, ou algo assim, kkkkkkk

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  9. Lord, seres humanos são assim mesmo. A mediocridade convive, muitas vezes, com a genialidade. Somos seres complexos. E essa do "Poderoso Padrinho" foi ótima. rsrs. Velhos cinéfilos entenderão... rsrs

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  10. D'accord. Aucun de ces acteurs de Hollywoood n'était un dieux!

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  11. OK, vamos praticar um pouco de francês... rsrs

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  12. Marlon Brando n'était pas un dieu. C'était un homme. Avec défauts et qualités.

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  13. Há um equivoco aí. "Candy", de fato, é péssimo. Mas "Queimada" é um bom filme e Brando o adorava. Está em sua autobiografia "Canções Que Minha Mãe Me Ensinou"

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    1. Talvez não tenha feito muito sucesso comercial - Queimada era um filme um tanto hermético - mas é um dos filmes políticos mais profundos já feitos na história do Cinema. É lembrado até hoje. Quanto à Caçada humana, passou há muito tempo, mas não acho que foi um fracasso, em nenhum sentido. Foi feito por um grande diretor, Arthur Penn, um dos maiores (entre outros, da obra prima Milagre de Anne Sullivan) Foi um grande sucesso comercial, na época. Outro filme, com Marlon Brando, esquecido pelo Sr.Pablo Aluísio, e que fez muito sucesso, foi O Último tango em Paris, do Bertolucci. E, se não estiver fazendo confusão, um outro filme com Marlon Brando que fez muito sucesso, mesmo que talvez ele não fosse o protagonista, foi Don Juan de Marco, assim como um filme de guerra, denso, passado na Ásia, de Coppola. A mim me pareceu que Brando não quis ser, em nenhum desses filmes, o protagonista. Mas recebeu um salário como se o fosse...

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    2. O Último Tango em Paris foi lançado depois de O Poderoso Chefão.

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  14. O foco do texto não é tanto analisar os filmes do ponto de vista artístico, mas comercial. "Queimada" não fez sucesso e foi massacrado pela crítica.

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    1. Eu não sei, mas me parece que a intenção do filme (de Pontecorvo e de Brando) não foi produzir um sucesso comercial. Quis atingir um certo público - e o conseguiu.

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  15. E lendo a autobiografia do Brando eu não o vejo defendendo o filme como uma grande obra cinematográfica. A minha impressão é de que ele gostou mais do processo de fazer o filme, por causa do diretor, do que propriamente do filme em si.

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  16. Estão falando de Queimada. Eu assisti há muitos anos. Não gostei muito não, sinceramente falando.

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