Algumas bandas de rock não conseguiram sobreviver a certos discos. O Pink Floyd, por exemplo, saiu destruído de “The Final Cut”, a mais louca egotrip da vida de Roger Waters. Essa história na realidade começa com o álbum anterior da banda, o famoso “The Wall”. Nesse projeto Roger Waters já tinha dominado completamente o poder dentro do grupo. Ele fazia as composições, os arranjos e se enfurecia com qualquer sugestão que não fosse de seu agrado. Por essa época ele passou a hostilizar abertamente o tecladista Richard Wright, que enfrentava problemas pessoais e de saúde. Sua dependência química o impedia de ser um membro mais produtivo e assim Waters se viu no direito de literalmente o expulsar do grupo, embora ele fosse um dos fundadores do Pink Floyd. Mesmo com tantos problemas “The Wall” se tornou um enorme sucesso popular, louvado e reverenciado pela crítica especializada trazendo assim um enorme poder a Waters dentro do grupo, que a partir daí não poderia mais ser contestado. Os executivos da gravadora só tinham ouvidos a ele e assim o músico começou a se sentir o verdadeiro “dono” do Pink Floyd. Quando começaram as sessões de “The Final Cut” os demais membros restantes do Floyd encontraram um Roger Waters ainda mais alucinado, egocêntrico, centralizador, agindo como um verdadeiro ditador, nem um pouco disposto a ouvir os demais integrantes. Assim como havia feito em “The Wall” ele começou a destratar na frente de todos o guitarrista David Gilmour e o baterista Nick Mason. Sua opinião sobre a forma como as músicas deveriam ser gravadas tinham ganhado status de lei dentro do estúdio. As brigas eram enormes e violentas e Waters não queria ouvir mais ninguém. Ele trouxe todo o repertório do disco já previamente composto, avisou aos demais membros que iria cantar todas as músicas e teria a direção musical completa do novo álbum. Aos demais só restava seguir suas instruções ao pé da letra. Obviamente que Mason e Gilmour se uniram contra tamanha dominação. Não adiantou muito.
“The Final Cut” foi gravado praticamente como um disco solo de Roger Waters. Aproveitando algumas canções do “The Wall” que tinham sido arquivadas com material novo que ele compôs, Waters criou uma homenagem ao seu pai que havia morrido durante a II Guerra Mundial. A própria capa era significativa nesse ponto, reproduzindo as medalhas que seu pai havia recebido por bravura no campo de batalha. Tratando os demais membros do Floyd como seus meros empregadinhos, Waters teve mais uma vez a certeza que estava gravando outra obra prima suprema do rock progressivo inglês. Estava enganado. O disco se mostrou desastroso, considerado um dos piores do grupo em muitos anos. O vocal de Waters surgia mais insuportável do que nunca e como ele havia colocado Gilmour para escanteio o resultado final em termos de instrumentação e arranjos soavam ridículos. Desesperado pela péssima reação de público e crítica, Waters surpreendeu a todos com o anúncio do fim do Pink Floyd! A declaração era um absurdo pois Wright, Gilmour e Mason jamais tinham sido consultados sobre isso! O que se seguiu foi a implosão do Pink Floyd. Gilmour, Mason e Wright de um lado e Waters do outro. Eles foram à imprensa para informar que o grupo seguia em frente, agora sem Roger Waters. Como não poderia deixar de ser tudo foi parar nos tribunais com todos processando a todos. Seria o fim da maior banda de rock progressivo da história? Felizmente não. Os três integrantes unidos venceram Waters no processo em que se discutia a propriedade do nome Pink Floyd. Apesar de Waters pensar que era o proprietário e dono da marca a justiça decidiu que ela pertenceria na verdade aos três remanescentes membros do conjunto. Ainda bem, pois começava ali uma nova fase, mais democrática e mais igualitária, com David Gilmour como líder. Sim, Roger Waters tentou destruir a banda com “The Final Cut” mas eles conseguiram sobreviver, mais uma vez.
Pink Floyd - The Final Cut (1983)
The Post War Dream
Your Possible Pasts
One of the Few
The Hero's Return
The Gunner's Dream
Paranoid Eyes
Get Your Filthy Hands Off My Desert
The Fletcher Memorial Home
Southampton Dock
The Final Cut
Not Now John
Two Suns in the Sunset
Pablo Aluísio.
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