Em rara entrevista após o lançamento de Roustabout (Carrossel de Emoções) Elvis defendeu seus filmes e sua carreira no cinema: "Intelectuais me dizem que tenho que progredir como ator, tomar desafios e tudo o mais. Eu gostaria de progredir, mas aprendi a não ir além dos meus limites. Talvez um dia eu faça um filme de arte ou algo parecido, mas não agora. Já fiz onze filmes e todos deram dinheiro e foram bem nas bilheterias. Eu seria um tolo se mudasse o rumo da minha carreira". Anos depois ele se arrependeria dessas declarações...
Em fevereiro de 1964 a A RCA lançou o single "Kissin Cousins / It Hurts Me". A música "Kissin Cousins" foi lançada para promover o filme "Com Caipira não se Brinca". Já "It Hurts Me" de autoria da dupla Byers e Daniels acabou se tornando mais uma de suas belas canções que foram pessimamente lançadas pela RCA sem promoção alguma. Sabe aquela música que só não fez sucesso porque foi lançada na época errada e da forma errada? Pois esse é o caso dessa belíssima balada que foi gravada em 1964, na última sessão sem ser de trilhas até maio de 1966. Qualidades artísticas não lhe faltavam mas seu lançamento foi completamente equivocado. Lançada no auge da Beatlemania, renegada ao obscuro lado B de um single sem importância, acabou afundando na lista dos mais vendidos da Billboard. Alcançou apenas o 29º lugar nas paradas. Uma pena, pois Elvis a canta com convicção e possui ótima letra. A versão do especial de 1968 é igualmente boa. O segredo dessa música é que ela conseguiu ser bonita sem ser piegas.
Embora seus discos estivessem derrapando nas paradas de sucessos, o próprio Elvis não parecia muito interessado com o que estava acontecendo. Por essa época ele começou a freqüentar uma academia espiritualista em Pasadena (Califórnia), fundada em 1952 por Paramahansa Yogananda, o autor de "Autobigrafia de um Yogue". Esse "Shangrilá" ficava no topo de uma montanha, onde havia um hotel, e pelos gramados mulheres caminhavam vestidas com sáris coloridos. Existia também um jardim para meditação, que Elvis imediatamente duplicou em Graceland. No sopé da montanha havia uma cidadezinha totalmente cercada, onde ficavam os alojamentos dos irmãos e irmãs que viviam em celibato, em perpétua meditação. Quando soube que essa área lhe era proibida, Elvis não resistiu ao impulso de se declarar um celibatário e conhecer o misterioso lugar.
Nessa montanha ele conheceu uma moça que se dizia chamar Daya Mata e que era uma das discípulas de Paramahansa. No primeiro encontro que teve com ela Elvis pediu que lhe ensinasse os segredos da Kriya Yoga, o último degrau da escala de auto realização. Daya Mata lhe aconselhou humildade, paciência e perseverança. Em troca Elvis ofereceu dinheiro, que ela aceitou agradecida em nome da fundação espiritualista.
Mas nem toda a espiritualidade foi capaz de fazer com que Elvis controlasse seu terrível temperamento. Até mesmo quando acabava de sair de uma sessão com Daya Mata, Elvis era capaz de atos de irracional violência. Uma vez ele estava voltando para casa e passou por um posto de gasolina na encosta da montanha, onde dois empregados estavam boxeando de brincadeira. Elvis ordenou que sua limusine entrasse no posto e, abrindo sua janela, fez um discurso para os brigões, dizendo a eles que deviam abraçar o amor e não a hostilidade. Assim que o carro arrancou, um dos sujeitos lhe fez o clássico sinal de "vá se f*", isto é, o dedo médio erguido com a mão fechada. Instantaneamente o carro brecou, Elvis desceu, aproximou-se do primeiro empregado e lhe aplicou um golpe de Karatê que o jogou longe. Em seguida sacou seu revólver 38 do coldre sob o braço e estava pronto para atirar no segundo sujeito, quando Hamburguer James chegou correndo e gritando: "Me dá essa arma!". Automaticamente, Elvis virou-se e entregou o revólver ao seu valete real. Num segundo, todos estavam de volta ao carro, que saiu em disparada.
Pablo Aluísio.
Sobre esse episódio da briga no posto eu li no livro da Priscila, Elvis and Me, que com o golpe de caratê o Elvis arrancou o maço de cigarros da camisa do seu oponente e como todos sabiam que o Elvis não primava pela precisão nos golpes de caratê, achavam engraçado quando depois, já em Graceland, ele contava tudo como se fosse feito de propósito. Sobre o revolver lá não fala não fala nada.
ResponderExcluirEsse texto de cima foi em parte extraído da revista "Elvis Documento Histórico" que foi lançada aqui no Brasil em 1985. Justamente a parte em que conta esse evento. Como foi escrita resolvi não alterar mas é como você bem observou existem outras versões do que de fato aconteceu. Abraços, Pablo Aluísio.
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ResponderExcluirOlá, Pablo Aluísio! Considero essa revista "Elvis - Documento Histórico", lançada pela Somtrês em 1988 a melhor revista (não livro) já publicada sobre Elvis, no Brasil. Já tive várias. A primeira adquiri numa banca no bairro Bom Retiro-SP. As outras, comprei pela internet e presenteei várias pessoas. Ainda tenho uma muito bem conservada. O texto envelheceu um pouquinho em algumas partes, como por exemplo ao frisar bastante o termo "televisão colorida". Mas, continua sendo a melhor revista sobre Elvis, em minha opinião. Abraços, Francisco Garcia.
ResponderExcluirA primeira edição que tive dessa revista comprei em 1985. De todas as edições era a que tinha a melhor capa, celebrando os 50 anos de Elvis. O texto é muito bem escrito, embora exista aqueles que acham que o autor (Lu Gomes) foi muito sensacionalista e agressivo em determinadas partes. Isso aconteceu em parte porque o texto na verdade é uma adaptação do livro de Albert Goldman, "Elvis".
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