Em 1965 Elvis Presley completou trinta anos de idade. Foi um momento significativo. Ele havia passado por muita coisa mas infelizmente sua carreira se encontrava em um beco sem saída. Era certo que ele e o Coronel Parker se equivocaram em apostar todas as suas fichas no cinema. Elvis parou de fazer shows ao vivo e de gravar material de qualidade. Tudo o que sobrara aos fãs eram suas trilhas sonoras Made in Hollywood. Os filmes não ajudavam pois eram em sua maioria comédias românticas embaladas com muita música pop sem qualidade. A questão é que, assim como Elvis, seus fãs também estavam com trinta anos e não iriam se empolgar mais com filmes adolescentes. O resultado disso foi que Elvis foi perdendo fãs aos montes. Os mais jovens estavam gostando do rock inglês e os mais velhos, aqueles mesmos que o seguiam desde os primórdios, ficavam embaraçados com a ruindade do material musical apresentado por Elvis por essa época.
Um exemplo da perda de popularidade de Elvis em 1965 veio das revistas que eram publicadas cujo assunto principal era ele mesmo, Elvis. Muitas delas fecharam as portas e outras perderam mais da metade dos assinantes. Até a internacional Elvis Monthly quase encerra suas atividades. Os fãs clubes tradicionais também debandaram por falta de movimento. Muitos que surgiram nos anos 50 simplesmente deixaram de existir. Os fãs estavam mais velhos e não havia renovação pois os jovens não estavam mais ouvindo Elvis. Não havia mais material de relevância para se comentar e ninguém queria pagar mico elogiando coisas como "Kissin Cousins". Some-se a isso o fato de que uma coisa é ser fã aos 14, 15 anos, outra completamente diferente é ser fã aos 30. Os fãs adultos de Elvis não aguentavam mais tanta mediocridade. Eles ainda compravam os discos por causa da força de seu nome mas os discos decepcionavam completamente. Assim ao invés de irem em reuniões de fãs clubes preferiam ficar em casa cuidando do bebê.
E dentro do cenário musical a posição de Elvis não era nada boa. Em revistas especializadas de rock Elvis era ignorado. Nem uma linha era escrita sobre suas medíocres trilhas sonoras e quando eram tratados eram enfocadas com um tom de melancolia, ao estilo, "Elvis é ótimo mas seus discos recentes são realmente horríveis". Nesse ponto o leitor pode se perguntar porque Elvis não reagiu e retomou os rumos de sua própria carreira? Bom, em primeiro lugar ele queria fazer cinema, era um sonho que ele almejava desde muito jovem, talvez desde a época em que era lanterninha de cinema. Ele iria tentar até o fim, custe o que custasse. Em segundo lugar Elvis se isolou. Em determinado momento da carreira ele decretou que não mais leria críticas negativas ao seu trabalho e ficava enfurecido com quem lhe apresentava algum jornal ou artigo em que algo feito por ele era detonado!
Assim Elvis vendou seus próprios olhos. Não leu as chacotas e críticas que eram feitas em cima de porcarias como "Harum Scarum" e ignorou completamente a opinião daqueles que lhe tentavam abrir os olhos. Elvis estava tão distante do que acontecia ao redor que ao se apresentar no set de "Harum Scarum" (mais um lixo da MGM) ele pensou seriamente que estava prestes a dar um grande passo em sua carreira de ator. Ficou pensando que seguiria os passos do grande mito Rodolfo Valentino, enquanto a equipe técnica ria em suas costas. Ele chegou ao ponto de falar em Oscar de melhor ator, imagine você! Se ele tivesse tido contato com o que foi dito de coisas como "Kissin Cousins" teria rejeitado fazer "Harum Scarum", simplesmente porque era praticamente a mesma equipe técnica do filme anterior, a mesma pobreza de orçamento e a mesma mediocridade de roteiro. Ao invés disso entrou de corpo e alma naquele que seria seu pior filme!
Outro erro por parte de Elvis quando completou seus trinta anos de idade foi se convencer que ele era o maior e que ninguém poderia lhe derrubar. Adotou uma atitude de arrogância em relação aos outros artistas e sempre procurava desmerecer o trabalho dos novos artistas que estavam surgindo dentro do cenário musical. Quando foi presenteado com um disco dos Beatles (o grupo que estava arrasando com ele nas paradas) fez pouco caso e disse não haver nada demais ali, a não ser uma ou outra música de que gostava. Para ele os Beatles iriam passar rapidamente e não fariam nenhuma diferença em sua carreira. Elvis se equivocou e não percebeu que o bravo rock estava renascendo e curtia uma de suas fases mais inspiradas e produtivas. Mas ao invés de embarcar na onda, gravando discos de grandes compositores da época e se lançar em turnês internacionais (coisa que os Beatles vinham fazendo) Elvis preferiu se enfurnar nos estúdios da MGM com um figurino de árabe de araque.
Mas o tempo e principalmente os números ruins de vendas que viriam iriam finalmente abrir seus olhos, mesmo que antes ele tivesse que literalmente ir até o fundo do poço, mas essa é uma outra história...
Pablo Aluísio.
Elvis Presley
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