segunda-feira, 4 de julho de 2022

As vidas de Marilyn Monroe - Parte 22

Uma das pessoas mais importantes na vida de Marilyn Monroe foi Johnny Hyde. Ele era um figurão de Hollywood, um sujeito muito rico que ficou perdidamente apaixonado pela atriz. Quando Hyde colocou os olhos pela primeira vez em Marilyn ela realmente não era ainda ninguém dentro da indústria. Apenas uma das centenas de  de aspirantes a atriz tentando arranjar algum trabalho dentro dos estúdios de cinema. Certamente era uma garota bonita, ainda bastante jovem, mas como ela havia muitas outras. Hyde era um sujeito muito mais velho do que ela, mas isso não importou pois foi amor à primeira vista. Ele ficou apaixonado como um adolescente na época escolar. Uma paixão devastadora!

Quando conheceu Marilyn, Hyde perdeu o juízo. Resolveu se separar da esposa, abandonou sua família e resolveu se dedicar de corpo e alma a Marilyn. Ela tinha muito a ganhar com esse relacionamento, mas sempre foi muito honesta com Hyde. Desde o começo deixou claro que não o amava como ele a amava. Não havia reciprocidade. Marilyn também jamais quis enganar Hyde dando a ele falsas esperanças. Mesmo assim, implorando por migalhas emocionais, Hyde resolveu apostar tudo o que tinha em Marilyn. Usou todo o seu poder financeiro e prestígio pessoal para conseguir papéis para a jovem atriz. Ele não escondia que era apaixonado por ela a ninguém. Com muito esforço conseguiu que John Huston escalasse Marilyn para seu novo filme que iria se chamar "O Segredo das Jóias". Foi a primeira vitória de Hyde em sua cruzada para transformar Marilyn em uma estrela de Hollywood.

Só havia mais um problema para Hyde, além do pouco retorno que Marilyn lhe dava em termos de afeição e amor: ele estava com um sério problema de coração. Os médicos lhe diziam que ele teria poucos meses de vida pela frente. Isso deixou um estado ainda maior de emergência em seu plano de ajudar Marilyn de todas as formas possíveis. Tão estafado ficou que acabou sofrendo uma parada cardíaca. Foi internado às pressas e só escapou da morte por causa do atendimento de emergência dos médicos que o atenderam. O pior porém veio depois. Marilyn não o visitou no hospital apesar dos inúmeros pedidos e ligações de Hyde para que ela o fosse visitar em seu leito. Quando encontrou com a professora de atuação de Marilyn, Natasha Lytess, desabafou: "Natasha, por que Marilyn não vem me visitar? O que está acontecendo? Eu fiz tudo por ela até hoje! Pode haver mulher mais ingrata do que Marilyn? Estou decepcionado... decepcionado..."

Mesmo com o apelo, Marilyn não foi ao hospital. Quando decidiu que finalmente iria lhe visitar aconteceu o pior: o coração de Hyde não resistiu e ele faleceu durante a madrugada. A morte de Hyde abalou Marilyn seriamente, principalmente pelas circunstâncias que ocorreram. Muitos a culparam por ele ter largado sua esposa e filhos e tudo mais. Marilyn ficou mal. Em seu enterro ela foi aconselhada por seu empresário para que não fosse ao funeral, porque a ex-esposa de Hyde e seus filhos estariam presentes, mas ela não ouviu os conselhos e compareceu ao último adeus de Hyde. Poucos dias depois resolveu se matar, tomando um monte de comprimidos. Quem a salvou da morte foi sua colega de quarto, uma starlet alemã com quem ela dividia o apartamento. Foi a primeira de muitas tentativas de suicídio de Marilyn... O detalhe mais preocupante porém vinha do fato de que Marilyn não tinha nem 25 anos de idade nesse momento em que decidiu acabar com sua própria vida! A tempestade estava apenas começando...

Pablo Aluísio.

Crônicas de Marlon Brando - Parte 22

Da geração de talentosos atores jovens surgidos na década de 1950, três se destacaram, tanto em termos de público como de crítica: Marlon Brando, James Dean e Montgomery Clift. Assim que surgiram logo chamaram a atenção. Era considerado o trio rebelde máximo do cinema americano. Brando não tinha muita consideração para com James Dean. Em certos aspectos apenas o considerava como um imitador. Quando se encontraram pessoalmente Brando deixou isso bem claro a Dean, dizendo: "Pare de me imitar! Encontre seu próprio caminho!". Apesar de magoado, James Dean parece ter seguido seu conselho, começando a partir daí a criar um estilo pessoal que não mais apenas seguisse o jeito de ser de seu ídolo na época, Marlon Brando.

Com o tempo James Dean foi se distanciando da enorme influência que Brando havia exercido sobre o seu jeito de atuar. O próprio Brando reconheceu isso em seu livro de memórias. Ele escreveu: "James Dean queria minha aprovação. Queria que eu convalidasse o que ele estava fazendo. No começo me pareceu apenas que ele queria me imitar. Depois começou a seguir uma linha própria. Ele acabou se tornando um bom ator. Infelizmente morreu cedo demais para desenvolver todo o seu talento!". Ao longo daqueles anos ambos se encontraram casualmente em festas em Hollywood. Brando não se sentia à vontade na presença de James Dean, o considerando um sujeito instável, nervoso e ansioso demais para se estar ao lado. De certa forma Marlon Brando não admirava Dean e nem tampouco o queria por perto. Brando acreditava que depois de alguns anos eles provavelmente criariam algum tipo de amizade sincera, mas não houve tempo para isso. James Dean se espatifou em um acidente de carro muito jovem ainda, com apenas 24 anos de idade!

Em relação a Montgomery Clift as suas impressões eram bem diferentes. Brando sabia que Clift era um ator maravilhoso, cheio de recursos dramáticos que ele próprio queria ter. Ao longo do tempo ambos sempre eram comparados pela imprensa americana. Isso foi criando uma rivalidade dentro da mente de Brando. Ele sempre queria superar Clift, seja qual fosse o filme em que atuasse. Além disso ficou muito envaidecido quando Clift declarou a um jornal de Los Angeles: "Marlon Brando é um dos maiores atores vivos. Ele consegue grandes interpretações, mesmo quando atua em filmes que não estão à sua altura. Ele faz muito, geralmente com material de segunda!". Ou seja, Clift disse que mesmo quando o filme era ruim a presença de Brando compensava tudo.

O curioso é que eles tinham os mesmos agentes, tanto em Nova Iorque como em Los Angeles, mas pouco se conheciam pessoalmente, se encontrando apenas em raras ocasiões. Quando Brando e Clift foram contratados para atuar no mesmo filme, "Os Deuses Vencidos", finalmente se encontraram face a face em um hotel de Paris. Ao se sentar com Clift à mesa durante o jantar, Brando deixou de lado seu estilo mais egocêntrico para confessar o que sentia em relação a ele e seu trabalho. Acabou dizendo para Monty o que havia guardado por anos ao dizer: "Venha cá, sente-se aqui perto, eu quero te confessar uma coisa. Eu adoro seu trabalho! Você é o único ator que procuro superar em Hollywood. Você é a minha pedra angular, aquele que tento me espelhar e superar! Sua atuação em "Um Lugar ao Sol" foi maravilhosa, a melhor que vi em muitos anos! Clift você é genial!".

Os elogios foram tão diretos que deixaram Montgomery Clift sem jeito. "Marlon... como poderia agradecer essas palavras?" - perguntou o ator que pessoalmente era bem tímido e modesto com seu trabalho. Curiosamente Brando acabou ficando extremamente entristecido ao perceber também que aquele grande ator estava aos poucos se auto destruindo com drogas e bebidas. Em pouco tempo Montgomery Clift morreria o que deixaria Brando desolado. "Ele foi um dos grandes que conheci em minha vida! Só que ele tinha também muitos problemas pessoais. Eu quis ajudar, assim como também quis ajudar minha mãe, que também tinha problemas com bebidas. Com os anos aprendi que ninguém pode salvar alguém de si mesmo!" - chegou Brando a confessar após a morte do colega que tanto admirava. Ele lamentaria até o fim de sua vida a morte precoce e sem sentido de Montgomery Clift. E no final de tudo o único sobrevivente daquele trio fantástico foi justamente o próprio Marlon Brando que teve a oportunidade de envelhecer, viver muitos anos e relembrar de todos eles em seu livro de memórias, publicado alguns anos antes de sua morte em julho de 2004.

Pablo Aluísio.

domingo, 3 de julho de 2022

Crônicas de um Cinéfilo - Parte 8

Em meus anos de formação de cinéfilo eu tive um ator preferido. Era Mickey Rourke. Nos anos 80 ele foi considerado o legítimo sucessor de Marlon Brando e James Dean. Era considerado um cara rebelde, barba por fazer, topete despenteado. E realmente o começo da carreira de Rourke foi fenomenal, só com grandes filmes! Um filmão atrás do outro. Hoje em dia, claro, ele tem uma outra imagem, é considerado um ator decadente, com várias bombas na carreira, mas essa não era a sua imagem nos anos 80.

Eu vi os primeiros filmes de Rourke na TV. Seu grande sucesso no Brasil havia sido "Nove Semanas e Meia de Amor" que ficou meses em cartaz em São Paulo. Era considerado um cut movie. Eu gostava desse filme, mas não o considerava uma obra-prima do ator. Melhores eram "O Selvagem da Motocicleta" e "O Ano do Dragão". Outros bons dramas dessa fase foram "Quando os Jovens se Tornam Adultos" e "Nos Calcanhares da Máfia". Filmes que vi na TV nos anos 80. Porém nenhum deles poderia se comparar ao filme maior de Rourke nos anos 80.

Estou falando de "Coração Satânico", a obra-prima dirigida por Alan Parker, com Mickey Rourke e Robert De Niro. O filme se passava nos anos 50. Rourke interpretava um detetive particular que ia atrás de um cantor de jazz há muitos anos desaparecido chamado Johnny Favorite. Esse filme é dos melhores que já vi em minha vida. Todo passado em New Orleans, uma cidade infestada de voodu e magia negra. Poderia ser definido como um filme de terror, com nuances de cinema noir, mas era muito mais do que isso!

Infelizmente depois do auge, a queda. Rourke quis voltar para o boxe. Ele acabou com o rosto deformado. Vieram cirurgias desastrosas. Ele que era considerado um dos bonitões do cinema perdeu seu visual. Nessa época de começo de queda ainda fez um bom filme pouco conhecido chamado "Homeboy". Outro excelente foi "Barfly". Só que os anos 80 acabaram e com eles a melhor fase da carreira de Mickey Rourke que um dia chegou a ser considerado o novo Marlon Brando!

Pablo Aluísio.

Beethoven e sua Amada Imortal

Quando Ludwig van Beethoven morreu, uma carta misteriosa, nunca enviada, foi encontrada entre seus pertences. Ela era endereçada para uma mulher que o compositor chamava de "Amada Imortal". Quem teria sido ela? Até hoje historiadores e biógrafos do gênio musical não sabem a resposta definitiva. É uma daquelas questões que apenas seu autor poderia explicar. A verdade foi ao túmulo e lá ficará pela eternidade.

O filme "Minha Amada Imortal" de 1994, por outro lado, tentou responder a essa pergunta. Revi nesse fim de semana por mera curiosidade. Estou lendo uma biografia de Beethoven e quis fazer uma comparação entre a literatura e o cinema. O que posso dizer é que essa produção dos anos 90, apesar de seu inegável bom gosto e elenco valoroso, com direito a palmas para Gary Oldman no papel principal, não conseguiu responder bem à essa questão. Em busca de um certo sensacionalismo romantizado se perdeu a chance de se fazer um novo "Amadeus".

O roteiro do filme foi baseado em um romance que nunca pretendeu ser historicamente preciso. O escritor Bernard Rose nunca quis responder com precisão histórica sobre a identidade da amada imortal do genial músico. Ele apenas especulou, deu asas à imaginação e mais do que isso, apostou numa daquelas reviravoltas para surpreender seu leitor. Em termos precisos o romance foi um pouco longe demais. Afinal o que poderia ser mais chocante do que descobrir que sua amada era na verdade a esposa de seu irmão, uma mulher que ele publicamente detestava e que teria levado ao tribunal por anos a fio em busca da guarda de seu sobrinho Karl?
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Pura especulação romanceada. E como se tudo isso ainda não bastasse Rose vai além, deixando claro que Karl na verdade não era sobrinho de Beethoven, mas sim seu filho. Claro, no filme essa questão ganha pontos no aspecto dramático, mas historicamente essa tese tem mesmo pés de barro. Muito provavelmente o grande amor de Beethoven tenha sido mesmo a condessa húngara Anna Marie Erdödy que no filme está muito bem interpretada pela atriz Isabella Rossellini. Essa sim teria sido sua companheira, amiga e amante. Ficando ao seu lado mesmo nos piores momentos quando ele ficou completamente surdo, sem conseguir ouvir nenhuma nota musical de suas obras inesquecíveis. Por isso assista ao filme com reservas. Entenda que aqui a reviravolta deve ser confinada aos efeitos puramente cinematográficos. "Minha Amada Imortal" é até um bom filme, mas a pura verdade é que jamais conseguiria se igualar ao verdadeiro Ludwig van Beethoven, um autêntico gênio monumental (e temperamental também, é bom frisar).

Pablo Aluísio.

sábado, 2 de julho de 2022

Elvis Presley - Good Rockin' Tonight / I Don't Care if The Sun Don't Shine

O segundo single de Elvis Presley pela Sun Records foi lançado em setembro de 1954. Curiosamente muitos críticos de música e arte chegam a considerar a canção "Good Rockin Tonight" o primeiro rock´n´roll genuíno da história da música. Pessoalmente não chegaria a tanto uma vez que as raízes R&B ainda estão bem presentes. A canção foi gravada originalmente pelo próprio autor Roy Brown em 1947. Brown era de New Orleans, provavelmente a cidade mais musical de todos os EUA. Lá se respira musicalidade em cada esquina, em cada canto. Nas ruas, nos bares, em concertos ao vivo, a cidade parece respirar notas musicais a cada hora do dia.

A versão de Elvis surge quando a música já era bem conhecida em Memphis e no sul - mas não tanto nas cidades do norte e oeste o que talvez explique a forte identidade que ligam Elvis à canção nessas regiões. Sam Phillips queria que Elvis a gravasse pois seria uma boa oportunidade de tocá-la ao vivo em shows por causa de sua vibração contagiante. Por essa época o cantor já havia se apresentado pela primeira vez de forma profissional. Além de seu minúsculo repertório Elvis contava com seu carisma à prova de falhas em cada show que realizou. Esqueça os grandes shows apoteóticos que vem à mente quando se pensa em Elvis Presley. No comecinho de sua vida na estrada Elvis se apresentava em qualquer lugar que lhe desse uma chance. Valia de tudo, clubes noturnos pequenos, pátios de escolas, festivais e até em cima de carrocerias de caminhão. O importante era ser visto e ouvido pelo maior número de pessoas possível.

Ouvindo o registro não podemos ficar menos do que admirados. Na gravação participaram apenas Elvis, Scotty Moore e Bill Black novamente. O resultado é acima de qualquer crítica. Elvis, no auge da juventude, esbanja personalidade e carisma em cada nota musical. Tecnicamente todos também estão extremamente bem. Não há como se comparar a versão de Roy Brown com a de Elvis. São coisas distintas, completamente diferentes. Os arranjos originais eram basicamente formados por metais, bem de acordo com o som de New Orleans. Elvis virou a música ao avesso. Sua versão é visceral, empolgante e com uma sonoridade completamente renovada. Em termos de vocalização também não há o que comparar. Brown era talentoso mas um cantor limitado. Já Elvis cantava com o coração. A versão de Elvis Presley pode sim ser considerada um dos primeiros Rocks da história - mas não a original de Brown.

"Good Rockin Tonight" na voz de Elvis Presley foi lançada pela Sun Records sob o registro de catálogo "Sun 210" em setembro de 1954 com "I Don't Care If The Sun Don't Shine" no lado B. Era o segundo compacto simples de Elvis que chegava nas lojas do Sul, dois meses após o lançamento de "That's All Right / Blue Moon Of Kentucky". Depois de seu lançamento a canção virou um ícone da primeira geração do Rock. Um símbolo que nunca mais foi esquecido, tanto que muitos artistas iriam prestar seu tributo a esse momento tão raro e importante nas décadas posteriores! Entre as mais conhecidas versões está a que Paul McCartney produziu em sua turnê New World Tour. Uma versão belíssima desta canção, que inclusive conseguiu capturar toda a sua essência roqueira. Em conclusão o que ficou realmente na história do rock foi a versão de Elvis Presley. A despeito da importância da gravação original de Roy Brown nada se compara à energia e a espontaneidade incomparáveis que Elvis Presley injetou na música. Um momento único em sua carreira.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - That´s All Right / Blue Moon Of Kentucky

Os fãs já sabem mas não custa repetir: esse foi o primeiro single comercial da carreira de Elvis Presley. Eu gosto de usar a expressão "comercial" justamente para não confundir com o primeiro acetato que Elvis gravou na Sun, "My Happiness". Aquele era um disquinho amador, feito para matar a curiosidade do próprio Elvis que queria ouvir como ficaria sua voz em um disco. É interessante, mas praticamente todos os jornalistas (principalmente os marujos de primeira viagem) costumam sempre confundir. Escrevem que "That´s All Right (Mama)" foi o primeiro disquinho de Elvis e ele o gravou para sua querida mãe. Obviamente estão trocando completamente as bolas. Confundem os discos e ainda por cima levantam uma lenda antiga que hoje em dia não tem mais razão de ser. Elvis não gravou "My Happiness" para dar de presente para a mãe. Gladys Presley nem sequer fazia aniversário naquele mês, então é tudo lenda. Uma lenda muito tocante, bonita, mas uma simples lenda, nada mais.

Assim vamos começar a falar sobre a discografia de Elvis pelo seu primeiro single que efetivamente foi gravado para chegar nas lojas ao consumidor. Estamos falando da primeira metade dos anos 1950 numa região considerada atrasada daquele país. Imaginem o que era gravar um single naqueles tempos e o mais complicado: distribuir ele em lojas afastadas, promover as canções em rádios para só depois tentar vender o show do novato cantor. Não era fácil. Assim Elvis tinha que literalmente acertar o alvo logo no comecinho da carreira. Se ninguém se interessasse ou então se ninguém gostasse era o fim e ele voltaria a dirigir caminhão, simples assim. O talento porém falou mais alto e no caso de Elvis Presley tocou fundo em quem ouviu as canções. Era um trio básico em estúdio (Elvis, Scotty e Bill) mas eles soaram como se fossem mais pessoas. Créditos? Todos para Sam Phillips, um produtor subestimado. Seus efeitos de ecos nas músicas criavam um efeito tão perfeito, maravilhoso que preenchia qualquer lacuna que o ouvinte sentisse. Coisa de gênio, claro. Hoje em dia cópias originais são uma verdadeira preciosidade, disputadas em leilões. E pensar que na época de seu lançamento os compactos custavam poucos centavos - nem chegava a 1 dólar, imagine você.

O lado A do single trazia a boa "That´s All Right" (Mama), de autoria do compositor Arthur Grudup. Na época a música foi considerado um bom country, mas obviamente hoje seu status é bem diferente, sendo considerada música histórica! Foi a primeira canção interpretada pelo cantor a ser lançada comercialmente pela pequena gravadora de Sam Cornelius Phillips, a Sun Records. Foi gravada no dia 7 de julho de 1954 por um simples caminhoneiro do Tennessee que ganhou uma chance de provar seu talento graças a interferência da secretária de Phillips, Marion Keisker, que insistiu com o patrão para que ele proporcionasse uma chance para o "jovem de Costeletas". Elvis virou a versão de "Big Boy" pelo o avesso e criou as bases estéticas do Rock'n'Roll! O Rock não é só a mistura de vários ritmos americanos, mas também uma postura positiva e satírica diante da vida e Elvis foi o primeiro a se expressar desta forma criando o "Rockabilly". "That's All Right (mama)" pode ser considerada uma das dez canções mais importantes da história da música pop do século XX. Em 2003 foi eleita a música mais inovadora da história.

No lado B o ouvinte da época tinha "Blue Moon Of Kentucky" de Bill Monroe. Originalmente foi lançada no ano de 1948 pelo próprio autor Bill Monroe, considerado o "pai do Bluegrass". O pequeno single trazia o selo Columbia e teve uma repercussão restrita às paradas ligadas ao gênero country and western do sul dos Estados Unidos. De qualquer forma ela acabou chamando atenção e ficou sempre em evidência, sendo muito tocada em estações de rádio da região. Certamente virou uma das preferidas também de um garoto de apenas 13 anos que sempre estava sintonizando suas velhas estações country em busca de novidades. O nome do garoto em questão? Nem é preciso dizer.

O single "Sun 209" fez sucesso nas estações de rádios de Memphis. Sam tinha bons contatos com DJs dos principais programas. Na primeira vez que tocou no rádio, Elvis ficou tão nervoso que decidiu ir ao cinema. Como era tímido provavelmente tinha receios da reação de amigos e parentes. Para sua surpresa todos gostaram. Era a materialização do velho sonho de se tornar cantor nascendo para aquele garotinho que ouvia Bill Monroe no rádio. "Blue Moon of Kentucky" foi gravada em julho de 1954 contando apenas com Elvis no violão, Scotty Moore na guitarra e Bill Black no baixo. Não houve bateria! O produtor Sam Phillips providenciou tudo, trazendo essa pequena banda para atuar ao lado do jovem talento.  Para quem não acredita em sonhos impossíveis, "Blue Moon Of Kentucky" veio para registrar para a história o momento do aparecimento de um dos maiores fenômenos da música popular mundial, um sonho que se tornou possível para Elvis Presley, pois ele acreditou em sua materialização com convicção. Pois é, "Sonhos são como deuses, nós temos que acreditar neles" já dizia a conhecida frase.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Randolph Scott e o Velho Oeste - Parte 1

Um dos atores mais populares do auge do western americano foi Randolph Scott. Ele nasceu no estado sulista da Virginia, numa pequena cidade chamada Orange County, bem distante de Hollywood e sua indústria. Scott era filho de uma família tradicional da cidade. Seus pais eram pessoas respeitadas na região, considerados excelentes profissionais em suas respectivas áreas. Assim Scott teve uma infância tranquila e sem traumas.

Quando o ator morreu em 1987 um amigo de infância relembrou aqueles velhos tempos: "A América era um lugar muito bom para se viver. Não havia tantos imigrantes estrangeiros e todos se conheciam. Randolph foi um sujeito bem normal. Honesto, com muitas amizades. Não tínhamos nada de ruim a falar sobre seu respeito".

Nada poderia dizer em seus primeiros anos que ele iria se tornar um astro em Hollywood. Durante sua vida Randolph Scott se preparou mesmo para se formar em engenharia. Atuar nem era considerado algo respeitoso naqueles tempos. Para muitos era uma profissão para vagabundos e pessoas sem formação educacional. O cinema, que começava a se tornar cada vez mais popular, seria um instrumento para mudar essa mentalidade com o passar dos anos, mas quando Scott se mudou para a Califórnia, ainda havia muito preconceito e estigma contra profissionais da atuação.

Randolph Scott não foi para a Califórnia para se tornar um astro de cinema. Na verdade quando ele chegou em Los Angeles pela primeira vez era apenas um estudante universitário. Ele havia se mudado para dar continuidade aos seus estudos, uma vez que já naquela época (estamos falando da década de 1920) as melhores universidades do país se situavam naquele estado. Assim que pisou os pés em Hollywood pela primeira vez - atraído obviamente pelo glamour do lugar - o jovem Scott ficou completamente fisgado pelos estúdios, pelos astros e estrelas e pela (remota) possibilidade de ganhar a vida fazendo filmes! Não seria o máximo? O problema é que Randolph não tinha qualquer preparo para atuar. Ele nunca estudara arte dramática e nem havia feito teatro. Para Hollywood porém isso não era o mais importante. Para conseguir uma figuração tudo o que bastava era saber montar um cavalo e se parecer com um pioneiro do velho oeste - dois requisitos que o jovem Randolph Scott tinha de sobra. Uma nova era estava prestes a começar no western americano.

Pablo Aluísio.

Os Filmes de Faroeste de John Wayne - Parte 1

John Wayne nasceu na pequena e distante cidadezinha de Winterset, no estado rural americano de Iowa, em 26 de maio de 1907. Seu nome de batismo era Marion Robert Morrison. É interessante notar que ele nasceu em uma região e em uma cidade que muito se parecia com as cidades do velho oeste onde seus personagens iriam aparecer em seus filmes futuramente. Mais do que isso, no momento em que Wayne nasceu a realidade do velho oeste estava sendo mudada pela chegada da tecnologia e dos avanços dos tempos modernos, mas isso em uma escala ainda não muito perceptível.

Assim John Wayne poderia dizer, como sempre fazia aliás, que havia nascido de verdade numa cidade do velho oeste americano, tal como os pioneiros fundaram na colonização do oeste americano. Andar a cavalo, dirigir uma carruagem e portar armas era algo comum naquela localidade. Em nenhum momento Marion se sentiria fora de seu habitat natural nos filmes em que atuaria em Hollywood porque sua cidade natal se parecia demais com o cenário deles. Na verdade Wayne era tão consciente disso que admitia que pouco fez para se inserir naquela realidade dos filmes, já que tudo ali lembrava sua própria infância. "Era como estar em Iowa" - diria depois.

O pai de John Wayne se chamava Clyde Leonard Morrison, Era um imigrante. Ele nasceu na Inglaterra e foi para os Estados Unidos estudar. Descendente de irlandeses ele foi inicialmente para Nova Iorque, mas percebeu que teria melhores oportunidades em Iowa. Assim que chegou pegou o primeiro trem para o oeste. Lá se formou em farmácia e começou a trabalhar como farmacêutico. Depois conheceu Mary Alberta Brown, uma americana. Ela seria a mãe de John Wayne.

A família de John Wayne era de classe média baixa, mas nada lhes faltava. Havia uma boa casa, uma vizinhança muito amigável e tranquilidade reinante. Não havia violência e nem desemprego. Bastava ter disposição para aprender um ofício e começar a trabalhar. Logo os frutos viriam. Era um bom lugar para se viver. A cidade era próspera e tranquila, mas seu pai foi acometido por uma doença pulmonar. Seu médico o aconselhou a procurar um clima mais ameno, pois caso contrário ele poderia desenvolver alguma pneumonia, o que seria fatal. Assim Clyde juntou sua família e resolveu partir rumo à Califórnia. Seu plano era se tornar rancheiro no sul do estado, numa fazenda de criação de cavalos. Foi nela que o ainda adolescente John Wayne passaria grande parte de sua juventude.

Pablo Aluísio.