sábado, 17 de março de 2012

Barfly

"Barfly" (literalmente "mosca de bar") foi baseado nos escritos do autor maldito Charles Bukowski. Seu foco se concentra nos chamados "losers" da sociedade americana, os pobres, os marginalizados, os alcoólatras, as prostitutas e os moradores de rua. Ele própria definiu Barfly como uma crônica de muitas de suas noites de bebedeiras na juventude. Aqui Mickey Rourke encarna o próprio alter ego de Bukowski em uma caracterização brilhante que injustamente não foi indicada ao Oscar! Ele se despe de qualquer inibição e surge em cena barbado, gordo, decadente, bêbado. Contracenando com ele a grande atriz Faye Dunaway em delicada atuação. O filme tem um clima de melancolia e falta de esperanças que incomoda mas ao mesmo tempo consegue criar lirismo e afeição do espectador com os personagens, por mais complicados que eles sejam. 

Mickey Rourke para melhor atuar passou a frequentar o submundo de Los Angeles bem antes do começo das filmagens. Também procurou conhecer o autor. Em entrevista Mickey explicou que teve um certo receio em encontrar-se pessoalmente com Bukowski pois podia não ir com sua cara e isso prejudicaria sua atuação e o filme em si. Mas depois ponderou e decidiu que seria melhor o encontrar cara a cara. Depois de apresentações formais Rourke então o chamou para tomar todas num boteco perto do set de filmagens e assim acabaram se aproximando. Não demorou para que uma simpatia mútua surgisse entre eles. O filme foi dirigido pelo mestre Barbet Schroeder que já havia mostrado seu grande talento em vários filmes de grande sensibilidade emocional. Sua direção é concisa mas marcante. "Barfly" é uma produção indispensável para quem admira o trabalho de Mickey Rourke, um filme que é uma das maiores obras primas de sua filmografia. Imperdível.  

Barfly (Barfly, Estados Unidos, 1987) Direção: Barbet Schroeder / Roteiro: Charles Bukowski / Elenco: Mickey Rourke, Faye Dunaway, Alice Krige, Jack Nance, J.C. Quinn / Sinopse: Henry Chinaski (Mickey Rourke) é um alcoólatra que passeia pela noite de Los Angeles frequentando os lugares mais obscuros do submundo da cidade. Lá conhece e se apaixona por Wanda Wilcox ( Faye Dunaway) que tem um estilo de vida que se parece demais com seu próprio jeito de ser.  

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Serpico

Frank Serpico (Al Pacino) é um jovem policial que é transferido para uma corporação da polícia de Nova Iorque onde impera a corrupção e a fraude. Tendo sempre uma postura ética sua forma de atuar e agir logo entra em confronto com seus colegas policiais. Disposto a revelar a situação em seu trabalho, Serpico começa a ser hostilizado e ameaçado pelos tiras corruptos de sua unidade. "Serpico" faz parte de uma série de filmes americanos que na década de 70 tocaram em temas polêmicos e controversos. O foco aqui é na corrupção policial que imperava em Nova Iorque na época. Pequenos e grandes golpes eram comuns entre a força policial. A onda de crimes ia desde extorsão até mesmo assassinatos encomendados. Tentando ser um policial honesto, Serpico foi diretamente ameaçado pela banda podre do regimento do qual fazia parte. 

O filme é baseado em fatos reais. Até hoje o verdadeiro Frank Serpico vive no serviço de proteção às testemunhas, isso porque ele ajudou efetivamente a condenar vários policiais corruptos de Nova Iorque. Nem é preciso dizer que isso automaticamente o transformou em um alvo ambulante, colecionando inúmeras ameaças de morte ao longo de sua vida. "Serpico" consagrou o talento de Al Pacino. De fato essa foi uma das fases mais brilhantes de sua carreira. Ele acabara de fazer "O Poderoso Chefão" onde sua atuação foi unanimemente elogiada e estava prestes a filmar sua continuação, também igualmente maravilhosa. Além disso nos anos seguintes novas atuações magníficas surgiriam em sequência: "Um Dia de Cão", "Justiça Para Todos" e "Parceiros da Noite". Uma sucessão de grandes filmes e inspiradas atuações. Para dirigir um tema tão instigante e desafiador a Paramount escalou o cineasta Sidney Lumet (falecido em 2011). O diretor procurou por uma linha narrativa quase jornalística, justamente para lembrar constantemente ao espectador de que se tratava de um filme fundado numa história verídica acontecida há pouco tempo. Aliás a questão envolvendo "Serpico" ainda estava na ordem do dia quando as filmagens começaram e muitos membros da equipe temiam até mesmo sofrer algum tipo de represália pelo tema do filme. No final tudo correu bem. Al Pacino foi premiado com o Globo de Ouro por sua atuação e a produção foi indicada a várias categorias da Academia, entre elas, melhor ator e melhor roteiro adaptado. Um merecido reconhecimento a um simples policial de Nova Iorque que só queria ser honesto e correto. 

Serpico (Serpico, Estados Unidos, 1973) Direção: Sidney Lumet / Roteiro: Waldo Salt, Norman Wexler baseados no livro "Serpico" de Peter Maas / Elenco: Al Pacino, John Randolph, Jack Kahoe / Sinopse: Frank Serpico (Al Pacino) é um jovem policial que é transferido para uma corporação da polícia de Nova Iorque onde impera a corrupção e a fraude. Tendo sempre uma postura ética sua forma de atuar e agir logo entra em confronto com a banda podre da polícia de Nova Iorque.  

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Homens em Fúria

Justiça seja feita: achei "Stone - Homens em Fúria" um bom filme, realmente bom. Depois de tantas críticas negativas pensei que o filme fosse ruim mas não, pelo menos na minha ótica o roteiro é muito bem escrito, as atuações, tanto de De Niro quanto de Norton, não caem no marasmo e a trama em si é bem construída com desenvolvimento satisfatório. Talvez nas mãos de um diretor mais competente e experiente a atuação dos dois atores teria rendido mais, porém isso é apenas uma suposição pois de maneira geral o diretor John Curran (o mesmo de "Despertar de Uma Paixão) entregou um trabalho coeso, bem feito. Não sei até que ponto o fato de gostar de De Niro influenciou essa minha opinião. Acontece que tenho assistido tantos filmes medíocres de sua carreira nos últimos anos que qualquer coisa que seja ao menos mediano com esse ator me enche os olhos. Algo parecido já havia acontecido com "Estão Todos Bem". Não são filmes excepcionais, maravilhosos, tais como aqueles que ele fez no passado, mas pelo menos conseguem passar pequenos momentos de boas atuações dele.

O único ponto fraco indiscutível de Stone é a atuação pouco inspirada de Milla Jovovich. Ela definitivamente não convence em nenhum momento. Jovovich mostra bem os danos que podem ser causados a certos filmes pela equivocada escalação de profissionais que na realidade nem formação dramática possuem. Milla nunca foi atriz, é em essência uma modelo com conexões na indústria cinematográfica. Seu agente é muito influente no meio e por isso ela consegue ser escalada em produções como essa o que é um erro grasso. A filmografia de Milla é composta por obras que nem são filmes para falar a verdade, coisas como "Resident Evil" definitivamente não são cinema e sim videogame. Até aí tudo bem mas escalar uma modelo dessas para contracenar com Robert De Niro e Edward Norton só pode ser uma piada de humor negro. Ela pode ser aceitável matando zumbis digitais mas aqui em um roteiro que exige boas atuações soa desproporcional. Apesar de sua presença insignificante em cena os danos são minorados. No saldo final "Homens em Fúria" consegue superar tudo isso para se tornar um bom filme, sem a menor sombra de dúvidas.

Homens em Fúria (Stone, Estados Unidos, 2010) Direção: John Curran / Roteiro: Angus MacLachlan / Elenco: Edward Norton, Milla Jovovich, Robert De Niro / Sinopse: Jack (Robert De Niro) é um agente da condicional que nas portas de sua aposentadoria tem que lidar com o problemático presidiário Gerald (Edward Norton) e sua esposa Lucetta (Milla Jovovich).

Pablo Aluísio.

O Poderoso Chefão

Nesse ano "O Poderoso Chefão" completa 40 anos. Um dos grandes clássicos da história do cinema americano o filme segue inspirando cineastas e conquistando novas gerações. Baseado na obra imortal do escritor Mario Puzo o filme resistiu muito bem ao tempo mesmo revendo nos dias atuais sob uma ótica mais contemporânea. E pensar que o projeto quase foi arquivado pela Paramount por achá-lo fora de moda e sem chances de trazer grande retorno de bilheteria. Apenas a persistência pessoal do produtor Robert Evans salvou o filme, pois insistiu muito na idéia de trazer do papel para a tela a saga da família Corleone. Até a escalação do elenco gerou brigas internas dentro do estúdio. A simples menção do nome de Marlon Brando já causava arrepios na direção da Paramount. O ator era considerado naquele momento um astro decadente que havia arruinado sua carreira com brigas e confusões nos sets de filmagens pelos quais passou. Além de seu temperamento imprevisível Brando já não era mais visto como sinônimo de bilheteria há muito tempo pois suas últimas produções tinham se tornado grandes fracassos de público e crítica. 

A Paramount definitivamente não queria nem ouvir falar no nome do ator. Foi Evans que comprou a briga e apostou em Brando novamente. Ele inclusive teve que se passar por uma verdadeira humilhação para um nome de seu porte: fazer um teste de câmera para o papel, algo só destinado para novatos e inexperientes atores em começo de carreira. Como estava desesperado para voltar ao primeiro time Brando topou a situação, encheu as bochechas de algodão e mostrou sua visão pessoal de Vito Corleone para os chefões do estúdio. O resultado veio logo após quando todos ficaram maravilhados com o resultado. Certamente não havia mais dúvida e Brando foi contratado. Visto hoje em dia o filme se mostra muito atual e resistente ao tempo. Um de seus trunfos vem justamente da brilhante interpretação de Brando. Como conta em seu livro o ator não interpretou Corleone como um facínora e criminoso mas apenas como um pai de família que fez o que tinha que ser feito para proteger seus filhos. Brando inclusive chega a afirmar que Corleone seria mais ético e honesto do que muito executivo de multinacional que coloca os interesses de sua empresa acima do bem comum de todos. Sua postura de respeito com o personagem se mostrou muito acertada. No final todos ficaram gratificados. 

"O Poderoso Chefão" que foi realizado ao custo de meros seis milhões de dólares rendeu mais de trezentos milhões em bilheteria. Além disso foi premiado com os Oscars de Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Filme e Roteiro Adaptado e foi indicado aos de Ator Coadjuvante (James Caan, Robert Duvall e Al Pacino), Figurino, Direção, Edição, Trilha Sonora e Som. Um êxito sem precedentes. O Oscar de melhor ator para Marlon Brando aliás foi recusado por ele por causa do tratamento indigno que o cinema americano dava aos povos indígenas. O ator mandou uma atriz interpretar uma jovem índia na noite de entrega do prêmio, fato que causou muitas reações, inclusive de membros da Academia como John Wayne que quis entrar no palco para acabar com aquilo que em sua visão era uma "verdadeira palhaçada"! Quem pode entender os gênios como Brando afinal? Enfim escrever sobre "The Godfather" é secundário. O mais importante mesmo é assistir a essa grande obra prima de nosso tempo.  

O Poderoso Chefão (The Godfather, Estados Unidos, 1972) Direção: Francis Ford Coppola / Roteiro: Francis Ford Coppola, Mario Puzo / Elenco: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, John Cazale, Richard Conte, Robert Duvall, Diane Keaton. / Sinopse: "O Poderoso Chefão" conta a saga de uma família de imigrantes italianos liderados pelo grande patriarca Dom Vito Corleone (Marlon Brando).  

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Possuída

Eu já assisti muito filme esquisito na minha vida mas como esse aqui tá difícil. O roteiro é uma das maiores misturebas que já vi, atira para todos os lados, passeia por todos os gêneros e no final não consegue acertar o alvo em nada. Começa com ecos de "Amytiville" (a casa com passado obscuro, o ranger das portas, pegadas misteriosas pela casa, a família com medo), depois vira "Cemitério Maldito" (montes de sepultamento dos nativos americanos, objetos indígenas estranhos, florestas assustadoras) e termina como uma produçãozinha B ao estilo dos anos 50 (nem vou revelar do que se trata de tão absurdo que é o clímax).

Saber que Kevin Costner foi um dos maiores astros do cinema e vê-lo em um filme como esse me deu uma certa melancolia. A produção é nitidamente modesta (tanto que praticamente não existem efeitos visuais, mas apenas sonoros), com economia em locações, elenco e tudo mais. Na maioria das cenas não se vê absolutamente nada, ficando tudo escuro, mas em compensação ouve-se de tudo, desde gemidos, gritos de macacos a elefante com dor de barriga. Pelo visto não é apenas o roteiro que é mistureba, mas os efeitos sonoros também. O diretor trocou os altos custos de efeitos especiais por jogos de luz e sonoplastia. Não deu muito certo. Também esqueçam o péssimo título "Possuída" já que não é do sobrenatural do que se trata o filme, mas algo bem mais tosco. Enfim, filme fraco, confuso, que promete muito ao longo de sua duração mas que no final só consegue entregar muito pouco.

Possuída (The New Daughter, Estados Unidos, 2009) Direção: Luiso Berdejo / Roteiro: John Travis, John Connolly / Elenco: Kevin Costner, Ivana Baquero, Samantha Mathis / Sinopse: Ao se mudar para uma nova casa o pai de família John James (Kevin Costner) percebe que há algo de muito errado com sua nova morada.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 13 de março de 2012

Condenação Brutal

Pois é, "Lock Up" foi o adeus de Stallone aos melhores anos de sua carreira. Na década de 1980 o ator colecionou um sucesso atrás do outro, liderou a lista das maiores bilheterias e ganhou o título de maior cachê de Hollywood. Revisto hoje esse "Condenação Brutal" (que em Portugal recebeu o estranho título de "Stallone Prisioneiro") envelheceu um pouco. O roteiro é simples, tudo é armado seguindo a fórmula que deu certo em outros filmes do ator, principalmente Rocky e Rambo (ou seja seus personagens são provocados até o limite para depois reagirem com fúria). Quem é fã desse estilo de cinema certamente não terá do que reclamar.

A diferença aqui é que Stallone é prisioneiro de uma cadeia cujo diretor sádico (Donald Sutherland) quer se vingar dele por um evento que os ligou no passado. Esse tipo de filme de prisão acabou virando um subgênero cinematográfico e todos os ingredientes que já conhecemos estão aqui (os prisioneiros durões, os guardas corruptos e masoquistas, a lei da selva que impera entre os detentos, o diretor torturador, etc, etc). O grande problema de "Condenação Brutal" na minha opinião nem é tanto essa falta de maiores surpresas mas sim seu final. Muito anticlimático, tenta resolver vários problemas de forma muito simplista (e irreal). Talvez se o roteirista tivesse sido mais ousado o filme teria marcado mais. Como ficou o filme serviu apenas como mais um veículo promocional do ator.

Condenação Brutal (Lock Up, Estados Unidos, 1989) Direção: John Flynn / Roteiro: Richard Smith, Jeb Stuart / Elenco: Sylvester Stallone, Donald Sutherland, John Amos / Sinopse: Frank Leone (Sylvester Stallone) é um prisioneiro que tem que lidar com um diretor sádico (Donald Sutherland) que quer vingança contra ele por causa de um evento ocorrido no passado.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Red Tails

Esquadrilha da força aérea americana formada apenas por pilotos negros durante a II Guerra Mundial tenta provar seu valor em missões perigosas e vitais para o esforço de guerra aliada. "Red Tails" (em português "caudas vermelhas" pois os aviões desse esquadrão pintavam suas caudas dessa cor) é a nova produção de George Lucas. Esse é um filme que tenta a todo custo reviver os clássicos filmes de aviação realizados nas décadas de 40 e 50. Embora seja assinado pelo diretor Anthony Hemingway ninguém duvida que é um projeto pessoal de Lucas que se envolveu em todos os aspectos da produção mas optou por não assinar a direção (talvez por receio após sofrer tantas críticas na nova trilogia de "Star Wars"). O pior de tudo é saber que mesmo não colocando a cara para bater Lucas erra e muito aqui - e de certa forma repete todos os seus erros recentes em termos de direção e roteiro. "Red Tails" é do ponto de vista técnico simplesmente irretocável. A produção é de primeira, todas as cenas recriadas digitalmente dos combates aéreos são extremamente bem feitas, nada há o que criticar nesse aspecto. A Industrial Light and Magic, braço da Lucasfilm para efeitos especiais, continua em um nível absurdo de qualidade.

O problema de "Red Tails" é outro, o que incomoda aqui é a falta de um roteiro melhor que fuja de clichês, de uma direção mais bem elaborada de atores e o mais importante, de uma alma ao filme. "Red Tails" em certos momentos mais parece um daqueles videogames de última geração. Em essência tudo é muito vazio, sem coração, sem alma. O espectador não consegue criar vínculo com os personagens que sempre são muito rasos e nada desenvolvidos. Lembrou dos novos filmes de "Star Wars"? Pois tudo se repete novamente aqui. O argumento é bem intencionado, vai de encontro com o politicamente correto tão em moda hoje em dia e aposta numa ação afirmativa que tenta dar o devido reconhecimento e valor de pilotos negros que lutaram nos céus da Itália. Tudo isso é muito louvável mas o bom cinema não vive apenas de boas intenções. Tem que haver mais, tem que priorizar não apenas o aspecto técnico do filme mas seu lado humano também. Os pilotos de "Red Tails" são meros soldadinhos de chumbo. O espectador perde o interesse por eles logo. Uma pena. Enfim, espero que George Lucas volte a fazer cinema de carne e osso um dia. Apenas belos efeitos digitais já não bastam para qualificar um filme como bom atualmente.

Red Tails (Red Tails, Estados Unidos, 2012) Direção: Anthony Hemingway / Roteiro: John Ridley, Aaron McGruder / Elenco: Cuba Gooding Jr., Gerald McRaney, David Oyelowo / Sinopse: Esquadrilha da força aérea americana formada apenas por pilotos negros durante a II Guerra Mundial tenta provar seu valor em missões perigosas e vitais para o esforço de guerra aliada.

Pablo Aluísio.

domingo, 11 de março de 2012

Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme

Eu não levava muita fé nesse "Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme". Isso porque já faz tanto tempo desde o lançamento do Wall Street original em 1987 que o público atual dificilmente se lembraria do fio da meada daquela estória. É o que eu denomino de continuação tardia, tardia demais é bom frisar. Além disso o projeto desde que foi anunciado sempre me pareceu apenas uma tentativa de ressuscitar a decadente carreira de Michael Douglas no cinema, ainda mais agora já que ele já está com idade avançada e sofrendo de uma doença grave. Eu pensei sinceramente que tudo seria uma nulidade, um ato de desespero de Douglas e Stone atrás do sucesso há muito perdido. Confesso que me enganei em termos. Esse novo Wall Street até que é digno, bem escrito, um bom filme afinal. Para falar a verdade tem mais conteúdo do que o primeiro, que se focava demais apenas nos aspectos técnicos do mundo financeiro. Esse aqui também tem disso mas o roteiro é muito mais humano e a família de Gordon Gekko ganha mais destaque. Ele não é apenas um tubarão unidimensional de Wall Street. Dessa vez Oliver Stone trouxe mais profundidade ao personagem Gekko. Ele é mostrado em cena com problemas familiares, problemas de relacionamento e isso no final trouxe muito ao resultado final.

No Wall Street de 1987 o roteiro centrava fogo no relacionamento entre Gekko e um pupilo (interpretado por Charlie Sheen que aqui no 2 faz uma pontinha bem humorada). Naquele ano Charlie Sheen estava sendo apontado como um novo Tom Cruise, ele vinha do sucesso "Platoon" do mesmo diretor Oliver Stone e era um ator mais do que promissor. Depois como todos sabemos ele afundou sua carreira com drogas e prostitutas. Já o elenco aqui está muito bem, com destaque para Michael Douglas e a gracinha Carey Mulligan (que despontou para o sucesso com o filme "Educação") O ponto fraco no quesito atuação porém é novamente de Shia LaBeouf, que não adianta tentar pois é um ator muito fraco, chegando a comprometer o filme em certos momentos. Em papel central tudo o que ele consegue em cena é confirmar sua fama de profissional medíocre. De qualquer forma Oliver Stone (em aparições à la Hitchcock) segura as pontas nessas horas. A fina ironia de tudo nessa continuação fora de hora porém é saber que apesar do filme falar sobre dinheiro o tempo todo, ele mesmo não conseguiu fazer grana nas bilheterias pois seu resultado comercial foi considerado pífio. Com esse resultado Hollywood deve finalmente enterrar a franquia. Por essa nem Gordon Gekko esperava...

Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme (Wall Street: Money Never Sleeps, Estados Unidos, 2010) Direção: Oliver Stone / Roteiro: Allan Loeb, Stephen Schiff / Elenco: Shia LaBeouf, Michael Douglas, Carey Mulligan / Sinopse: Após cumprir pena de prisão por crimes contra o sistema financeiro, Gordon Gekko (Michael Douglas) tenta se reerguer no mundo de Wall Street reconstruindo seu império na bolsa de valores.

Pablo Aluísio.