domingo, 16 de maio de 2010

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 3

Na segunda edição de seu livro "Elvis" o escritor Albert Goldman defendeu a tese de que Elvis havia se matado em 16 de agosto de 1977. Para o autor essa teoria poderia ser confirmada não apenas pela depressão que acompanhou Elvis em seus últimos anos, como também por seus discos, sempre com faixas melancólicas e tristes. Pessoalmente eu jamais concordei com essa visão. A única coisa que Goldman tinha razão era sobre o repertório de muitos dos discos gravados por Elvis nos anos 70. Realmente há bastante música romântica neles, mas não do romantismo que vinha acompanhando Elvis desde seus primeiros trabalhos. As baladas de Elvis nos anos 50 e 60 eram ternas, com temas geralmente falando sobre o amor adolescente, o amor na juventude.

Já nos discos dos anos 70 a coisa muda de estilo. Aqui grande parte das baladas falam sobre a angústia, a tristeza e em muitos casos até mesmo o desespero do fim de um amor idealizado, perfeito. Ora, quando se perde o amor de sua vida a tendência é realmente entrar em um estado de desespero mesmo... Assim as letras com que Elvis se identificava nesse período de sua carreira eram bem soturnas, sem esperança, puro torpor. Era algo maravilhoso que havia ficado para trás para sempre. Não tinha mais volta. O amor chegara ao fim, tragicamente.

Havia também espaço para tentativas de reconciliação. Em "For Ol' Times Sake", a segunda música mais importante do disco, ele tentava convencer, em um último esforço, sua amada a voltar para seus braços após um rompimento doloroso. Tudo feito de alma aberta, de maneira sincera. Isso fica bem claro em versos como "Antes que você vá embora e me abandone / Dê uma olhada ao redor e me diga o que você vê / Aqui eu me encontro, como um livro aberto". Um trechos mais significativos dessa balada é a parte em que Elvis cantava: "Então, uma vez mais, em nome dos velhos tempos / Venha e deite sua cabeça sobre meu peito / Por favor, não jogue fora este momento / Nós podemos esquecer o lado ruim e considerar os melhores / Se você não tem nada mais a dizer / Me deixe pelo menos te abraçar uma vez mais, em nome dos velhos tempos".

Elvis tentou voltar para Priscilla inúmeras vezes, mas sempre encontrou resistência na ex-esposa. Em determinado momento ele se despiu de sua vaidade e suplicou para que Priscilla voltasse dizendo "Eu quero minha família de volta!".  Para Albert Goldman tudo isso serviu para destruir ainda mais o ego de Elvis, sua própria auto imagem. Ele de certa maneira se humilhava por um recomeço, mas no final todos os seus esforços foram em vão. Em seus discos Elvis aproveitava para passar mensagens mais do que claras para Priscilla. Enquanto ele tentava de tudo, Priscilla só parecia mais interessada em colocar o divórcio pra frente. Nem pelos velhos tempos ela parecia disposta a voltar para Elvis.

Pablo Aluísio.

sábado, 15 de maio de 2010

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 4

"Sweet Angeline" é uma balada muito triste e chorosa, mas sua melodia melancólica tem seu charme. Essa canção quase não foi gravada por Elvis porque durante essas sessões ele teve muitos problemas de saúde. O abuso de drogas estava cobrando seu preço, atrapalhando o cantor agora no aspecto profissional. Ele apresentou alguns problemas respiratórios que o impediam de trabalhar normalmente. Também se aborreceu com o clima de tédio e descaso que se instalou nos estúdios durante as gravações. Um baixista foi inclusive demitido por tocar deitado no chão, cansado de esperar por Elvis.

Outro fato é que Elvis estava armado. Quando entrou para gravar resolveu retirar duas pistolas da cintura, bem na frente dos outros músicos da banda. Isso criou um certo mal-estar. Ninguém falou nada, mas ficou meio ruim o clima. Diante de tantos problemas a produtividade de Elvis decaiu muito.

Ele que conseguia gravar quase um álbum inteiro numa noite (como nos anos 60) agora encontrava problemas para terminar uma faixa apenas! Era incrível o declínio físico e psicológico que vinha atravessando. "Sweet Angeline" foi gravada talvez em um dos seus piores momentos, por isso ficamos com a sensação de que Elvis está bem indisposto e cansado em sua performance. Não é uma música feliz, o que talvez tenha piorado ainda mais o estado de espírito do cantor.

"Three Corn Patches" era mais alegrinha. Uma canção mais para cima, uma das poucas nesse estilo presentes no disco. Essa era uma velha canção da dupla Leiber e Stoller. Eles tinham firmado uma parceria maravilhosa com Elvis nos anos 50, resultando daí vários sucessos imortais como "Hound Dog", entre outros. O problema é que o Coronel Parker começou a achar que os direitos de suas músicas estavam caros demais. Assim riscou a dupla da carreira de Elvis. Um erro absurdo. Qualidade não tem preço. Assim a gravação dessa faixa foi um verdadeiro reencontro de Elvis com os compositores. Eles não voltaram a se encontrar novamente, mas o fato de Elvis gravar uma de suas músicas demonstravam uma certa gratidão por parte do cantor para com seus velhos parceiros de discografia.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Raised on Rock - Parte 5

Dando continuidade na análise do álbum "Raised On Rock" de 1973 vamos tecer mais alguns comentários sobre as músicas desse disco. Uma das faixas mais lembradas desse repertório é "If You Don't Come Back". Embora alguns observadores tenham dito que se tratava de um genuíno momento da black music na discografia de Elvis, o fato é que a música foi composta pela dupla Jerry Leiber e Mike Stoller. Bom, quem conhece a história de Elvis Presley sabe muito bem que esses compositores estiveram ao lado de Elvis desde os primeiros álbuns na RCA Victor. Era uma parceria antiga.

Depois de uma certa desavença que eles tiveram com o Coronel Parker ficaram anos fora dos discos de Elvis. O retorno - esperado retorno - acabou acontecendo aqui, nesse agradável momento do LP original. Essa criação da dupla é, digamos, um "funk de brancos" (afinal foi escrita por uma dupla de compositores judeus de Nova Iorque). Ela tem uma letra curiosa, quase uma tragicomédia de um homem que simplesmente acorda pela manhã e descobre que sua vida está virada de cabeça para baixo, pois sua esposa o deixou. Dá a se entender, pela linguagem utilizada, que se trata de um casal de negros vivendo em um bairro da periferia. O coro feminino, exclusivamente black das vocalistas de apoio de Elvis, reforça ainda mais esse clima. É um bom momento de Elvis no disco, uma boa gravação, tanto que muitos anos depois da morte do cantor chegou a dar origem até mesmo a uma versão remix (que eu pessoalmente não gostei).

Outra que tem um estilo muito parecido, bem o som do Stax Studios, é "Just a Little Bit". Diria ate´que são músicas irmãs dentro do disco. Essa música tem uma paradinha bem característica, reforçada pela bateria. É aquele tipo de som que gruda na sua mente desde a primeira vez que a ouve. Também por ser tão própria pode criar facilmente uma certa saturação, justamente por causa desse som bem peculiar. É claramente um R&B ao estilo blues. Aqui Elvis voltou ao tempo, mais exatamente a 1959, ano em que a música foi lançada originalmente pelo pianista e compositor negro Rosco Gordon. A gravadora foi a pequena Vee-Jay que alguns anos depois compraria os direitos autorais para os Estados Unidos de um grupo de jovens ingleses desconhecidos de Liverpool. Eles mesmos, os Beatles! Imagine você que ironia do destino!

Pois bem, depois do single original de Rosco, a música voltou a ser gravada mais duas vezes. A primeira por Roy Head em 1965 e a segunda por Little Milton em 1969. Como Elvis sempre foi um ouvinte de rádios de blues e como ele também era um colecionador de discos antigos, era óbvio que já a conhecia de muitos anos. Assim quando entrou em estúdio já estava com essa velha música em seus planos. A versão, apesar dos problemas de saúde que Elvis vinha enfrentando na época de sua gravação, ficou muito boa, praticamente irretocável.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis (1973) - Parte 4

Eu não considero  "Where Do I Go From Here" uma das melhores faixas desse disco, porém aprecio muito seu arranjo que começa intimista, introspectivo, para logo após explodir em termos de grandiosidade no refrão da canção. Muitas pessoas ainda preferem as gravações mais cruas de Elvis, sem os exageros (principalmente de metais) que após as gravações sofriam, com a orquestração colocada pelo produtor Felton Jarvis. No caso dessa música há os dois lados da moeda. Em um primeiro momento tudo soa bem ameno, íntimo, apenas com Elvis e seu grupo de apoio. No momento do refrão podemos perceber bem a mão (pesada, para muitos) de seu produtor na RCA Victor. Faça sua escolha.

"It's Still Here" é a terceira e última música ao estilo "Elvis sozinho ao piano" desse álbum. Essa é uma velha canção composta por Ivory Joe Hunter, um dos preferidos de Elvis. O cantor adorava realmente sentar sozinho ao piano em Graceland para relembrar velhas músicas de Joe Hunter. Curioso que apesar dessa música ser bem triste, o seu autor era conhecido como o "Barão do Boogie" e não raro era apresentado nos programas de rádio da época como "O homem vivo mais feliz da América". Isso porque tinha uma personalidade alegre, extrovertida, contador de piadas, sempre com um sorriso acolhedor no rosto. Sua especialidade nem era esse tipo de balada romântica, melancólica, como essa gravada por Elvis, mas sim o bom e velho rhythm-and-blues. Elvis deveria ter gravado mais algumas das criações desse texano talentoso.

A faixa é bem simples, com Elvis tocando o piano em estúdio, pausando cada sílaba, tudo feito com uma forte carga emocional de sua parte. A letra era obviamente auto referente para Elvis. Conta a história de um homem que foi abandonado, que acreditou quando a mulher amada lhe disse que iria ficar com ele para sempre, mas que logo depois foi traído, com ela quebrando sua promessa da pior forma possível. Em minha visão a letra pegou Elvis de jeito porque havia até mesmo uma referência temporal nela, quando a letra dizia: "Faz um ano que você foi embora / E eu não me esqueci querida / O amor que eu tive por você há tanto tempo / Ainda está aqui". Ora havia exatamente um ano que Priscilla havia ido embora, acabando com seu casamento com Elvis. Coincidências não existem! Elvis não deixaria uma música com algo tão pessoal assim escapar. Foi uma necessidade para ele gravar essa música. Era mais um recado que ele dava para Priscilla através de seus discos. Recado bem direto, é bom salientar.

Por fim para completar o disco a RCA Victor resgatou uma gravação ao vivo de "It's Impossible" para colocar no álbum. Uma sábia decisão pois além da música ser ainda inédita nos discos oficiais de Elvis da época, ainda era brilhantemente interpretada pelo cantor em seu habitat natural, Las Vegas. A música foi gravada no dia 16 de fevereiro de 1972, durante uma de suas temporadas na cidade. Em termos de gravação ela não é tecnicamente perfeita, mas a performance de Elvis compensa qualquer deslize nos problemas de equalização que ocorreram durante seu registro. A versão original da música foi lançada em 1970 por um cantor mexicano chamado Armando Manzanero. Nessa ocasião ela foi lançada com o título de "Somos Novios". A versão em língua inglesa foi composta por Sid Wayne, velho conhecido de Elvis dos tempos das trilhas sonoras dos anos 60. Ele escreveu dezenas de canções para filmes do cantor em Hollywood.  O resultado ficou muito bom, acima de média, merecia inclusive uma versão em estúdio por causa de sua beleza.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis (1973) - Parte 3

O tema desse álbum "Elvis" de 1973 é a melancolia que atravessa praticamente todas as faixas do disco. Uma das baladas onde isso se torna mais evidente é a canção chamada "Love Me, Love The Life I Lead". A letra é bem interessante, um desabafo emocional de um homem que vê sua amada indo embora por causa da vida que ele leva. O refrão é de uma sinceridade atroz, onde Elvis afirma que aquela que deseja ser feliz ao seu lado terá que não apenas amá-lo, mas também amar (ou pelo menos entender) seu estilo de vida! Impossível não perceber a dose de sinceridade de Elvis ao cantar essa letra. Claro, ele não a compôs, mas tudo soa como mais um recado em forma de pedido de desculpas a Priscilla. Fica claro que em algum momento de sua vida Elvis foi criticado pela ex-esposa, muito provavelmente por causa de seus excessos, pelas drogas que consumia, por tudo, por quem ele era e pela vida que levava.

Isso tudo fica claro em trechos como: "Não sou um sábio, tampouco um louco / Mas sou da forma que o bom Deus me fez / Embora eu precise muito de você / Mais do que você possa entender / Preciso também das coisas de que necessito / Não tente me mudar / Se vai me amar, me aceite do jeito que sou / Não posso ser outro homem e não posso deixar de ser livre / Se vai me amar, ame a vida que levo!". Fica óbvio o recado de Elvis para Priscilla nessa música. Infelizmente a canção, embora tenha uma beleza inegável, nunca foi trabalhada por Elvis. É outra que caiu rapidamente no esquecimento, não se destacando em nada dentro da sua discografia. Provavelmente a RCA Victor tenha achado que ela era pessoal demais, longe de ter potencial para fazer sucesso nas paradas.

"(That's What You Get) For Lovin' Me"  eram bem mais leve. Esse era um country simpático, agradável de se ouvir, sem dramas pessoais ou recados desesperados de desculpas. Claro, a letra novamente batia no mesmo tema: a separação de um amor que acabou, que se foi, porém em uma pegada bem mais substancialmente calcada na leveza. Nada de amarguras desnecessárias. Esse tipo de canção lembra um casal do interior dos Estados Unidos que se separa e que depois casualmente se encontra. Ele olha para ela e dispara: "Como pode ver, tudo o que tínhamos se foi. É o que você ganha por me amar!". Meio amargo, não é mesmo? Quase uma acusação! Porém também bem sincero. Essa canção poderia fazer bonito nos palcos, principalmente quando Elvis passava por todas aquelas cidadezinhas interioranas do sul dos Estados Unidos, porém ele também a deixou de lado, nunca chegando a trabalhar nela. Ao invés de revitalizar seu repertório com novas canções preferiu repetir as mesmas versões saturadas de "I Got a Woman" e "CC Rider"... vai entender o que se passava na mente do cantor.

Bom, esse disco como já escrevi antes, trazia algumas faixas com Elvis tocando sozinho ao piano, bem inspirado. Uma dessas faixas gravadas pela RCA Victor nesse momento de rara introspecção foi a bonita  "I Will Be True". É curioso porque quando você ouve o álbum inteiro, sem pular nenhuma faixa, fica com a impressão (puramente metal e inconsciente) de que essa música seria na verdade uma continuação da bela "I'll Take You Home Again, Kathleen", afinal de contas segue basicamente o mesmo esquema: Elvis ao piano, tocando para si mesmo, em momento de inspiração interior extrema. O tema da música? A mesma de sempre. Um homem abandonado, ferido, entristecido pela separação daquela que ele considera o amor de sua vida. Podemos até mesmo visualizar esse solitário ser com lágrimas nos olhos declamando versos como: "Eu serei verdadeiro / Não interessa o que eles possam lhe dizer / Embora você esteja tão distante / Todas as noites eu rezo / Para que um dia eu possa abrir minha porta e você esteja lá!" Pois é, Elvis realmente sonhava com o dia em que Priscilla voltaria para ele, um dia que nunca aconteceu.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Elvis Presley - Elvis (1973) - Parte 2

Durante o lançamento desse disco falou-se muito da faixa  "I'll Take You Home Again, Kathleen". A gravação trazia Elvis ao piano, sozinho, em belo momento de introspecção. Sem querer desmerecer o trabalho de Elvis, o fato é que essa música foi registrada quase por acaso, um ensaio, que aos poucos Elvis foi se empenhando. Era uma antiga canção que Elvis gostava de tocar ao piano desde os anos 50. Ele a tocou bastante inclusive nos tempos do exército, quando estava prestando serviço militar na Alemanha.

O produtor Felton Jarvis reconheceu os esforços de Elvis para soar diferente dentro do estúdio e resolveu intervir o mínimo possível, deixando de lado todos aqueles arranjos orquestrais, que para muitos, soava exagerados, tirando a atenção do ouvinte daquilo que era o mais importante ao se ouvir um disco do cantor, sua bela voz e a emoção que procurava transmitir em cada sílaba, em cada momento da canção. O curioso é que apesar de Elvis apreciar bastante essa música nunca a levou para os palcos, nem para dar uma canja ao piano, como fazia com "Unchained Melody". Qual era o problema? Será que tinha receios de falhar nas teclas? Não sabemos.

A faixa "Don't Think Twice, It's All Right" também foi uma espécie de ensaio que deu certo, que a RCA Victor decidiu aproveitar no álbum. Na verdade tudo se tratava de um momento ao melhor estilo Jam Session, com Elvis interagindo e brincando com a sua banda, a famosa TCB Band (a sigla TCB vinha do lema de Elvis, "Tomando conta dos negócios" que para os mais cínicos era uma auto ironia, pois Elvis nem sempre tomava mesmo conta de seus negócios). Mas enfim, na realidade só depois de muitos anos os fãs puderam ouvir a gravação inteira, com quase 8 minutos de duração. Aqui no disco oficial a RCA aproveitou apenas um pequeno trecho, quase como se fosse uma amostra grátis (ou não tão grátis) do que havia sido gravado mesmo dentro do estúdio.

"Padre" por sua vez era uma baladona ultra sentimental, com aquele tipo de sentimentalismo despudorado que Elvis algumas vezes gostava de trazer aos seus discos, principalmente nos anos 70, quando finalmente se sentiu mais livre para escolher as músicas que iria cantar. A letra, tremendo dramalhão, inicialmente contava a estorinha de um homem que relembrava seu casamento, os momentos felizes no altar e depois na primeira casa em que moravam. Tudo lindo e maravilhoso. Depois disso o drama, o desastre. Ele chorava o fim do casamento pois ela a trocara por um outro homem! Semelhanças demais com a própria vida pessoal de Elvis, não é mesmo? Era um desabafo de um homem traído para com o padre que o havia casado! Ora, ora, quem diria...

Pablo Aluísio e Erick Steve.

Elvis Presley - Elvis (1973) - Parte 1

Esse álbum "Elvis" de 1973 foi o primeiro de estúdio a ser lançado após o sucesso do "Aloha From Hawaii". A trilha sonora do especial de TV via satélite vendeu muito, chegou ao primeiro lugar das paradas e foi um marco na carreira e na discografia de Elvis. Assim havia um clima de fim de festa quando esse disco chegou timidamente nas lojas de discos.em julho daquele ano. A RCA Victor não trabalhou muito por sua divulgação e em razão disso nenhuma das faixas chegou a se tornar um grande sucesso. Era mais uma vez a velha estratégia de reunir gravações esparsas, que estavam arquivadas, para compor um novo título do cantor no mercado.

O curioso é que a RCA resolveu chamar o disco apenas de "Elvis". O problema é que já havia um álbum com esse nome, justamente o segundo da discografia do cantor, lançado em 1956. Por isso ao longo do tempo os próprios fãs acabaram apelidando esse álbum de "The Fool Album", por causa da primeira faixa do lado A, que foi a que teve maior repercussão nas estações de rádio da época. Nada de muito espetacular, foi um sucesso tímido e limitado, como tudo o que dizia respeito a esse LP. Curiosamente a direção de arte que iria ser usada no "Aloha" foi reaproveitada aqui. É uma capa mais bonita do que a do próprio disco oficial do show no Havaí, que para muitos pegou Elvis em um ângulo ruim.

Pois bem, "Elvis" (1973) apresentava dez faixas, o que iria se tornar padrão nessa fase da carreira de Elvis. Ao longo dos anos seus álbuns traziam geralmente 12 músicas (ou até mais em certos casos), mas como Elvis já não vinha mais entrando tanto em estúdio como antigamente a RCA resolveu limitar o número de músicas para dez. Afinal com os problemas que ele vinha enfrentando na sua vida pessoal, a RCA não apostava mais em maratonas de gravações como havia acontecido no começo da década de 1970. Agora as coisas pareciam bem mais complicadas. Elvis sempre surgia com alguma desculpa para não ir gravar. Assim a RCA começou a literalmente economizar em seus novos lançamentos.

O álbum começava com a já citada "Fool". Os primeiros versos soavam tão pessoais que a letra poderia mesmo ter sido composta pelo próprio Elvis. Numa reflexão de arrependimento ele cantava: "Tolo, você não tinha que machucá-la / Tolo, você não tinha que perdê-la / Tolo, você tinha somente que amá-la / Mas agora o amor dela acabou...". Era bem óbvio que Elvis se identificava com esses versos. Ele se culpava de certo modo pelo fim de seu casamento com Priscilla, se colocando como um homem que errou em seu relacionamento, que não foi tão presente e amoroso como deveria ter sido... Um aspecto curioso é que depois do fim do casamento com Priscilla os discos de Elvis iriam apresentar músicas cada vez mais melancólicas, tristes, diria até mesmo depressivas. Tudo fruto do terrível momento emocional pelo qual ele vinha passando.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Elvis Presley - Aloha From Hawaii - Parte 1

Esse álbum duplo "Aloha From Hawaii" foi importante para Elvis por diversos motivos. Comercialmente foi o último LP de sua carreira a chegar ao topo da Billboard Hot 100. Por uma semana foi o disco mais vendido dos Estados Unidos. Também foi relevante por causa do próprio evento em si, colocando Elvis cantando numa transmissão ao vivo para vários países do mundo. Hoje em dia as transmissões ao vivo são banais, vide os grandes jogos de futebol e demais eventos esportivos. Já em 1973 isso era algo reservado para grandes momentos da TV, como a chegada do homem à Lua.

Em termos artísticos o disco também foi muito bem sucedido. Como se tratava de um concerto ao vivo importante, Elvis procurou dar o melhor de si, se empenhando na performance. Certas músicas tiveram a concentração própria de uma gravação de estúdio. Elvis que vinha sendo criticado pelo excesso de brincadeiras em Las Vegas adotou uma postura mais condizente com a importância do concerto. Em "My Way" ele demonstrou bem isso. Embora essa música seja mais associada a Frank Sinatra, que gravou a primeira versão em língua inglesa com grande sucesso, o fato é que Elvis se empenhou bastante em cantá-la corretamente, com cuidado na letra, de complicada memorização. O curioso é que Sinatra não queria gravar a música, pois tinha certos problemas pessoais com Paul Anka. Só depois de muita insistência é que topou fazer a gravação. Nancy Sinatra depois diria que era praticamente um auto retrato de seu pai. O mesmo poderia ser dito de Elvis. A letra igualmente se encaixava em sua trajetória de vida.

Com Elvis a música também ganhou grandiosidade. Por essa época ele queria ter acima de tudo o reconhecimento como grande cantor e grande artista. Por anos ele fora colocado para gravar um material de pouca qualidade, em especial suas trilhas sonoras Made in Hollywood. Depois que o advento dos filmes acabou, quando ele finalmente se viu livre dos contratos com os estúdios de cinema, ela finalmente conseguiu gravar material de qualidade novamente, músicas em que acreditava. Embora "My Way" tenha sido um marco para Sinatra, Elvis não se sentiu constrangido em gravar sua versão. Ele queria também demonstrar o que poderia fazer com a música. 

Para a RCA Victor a inclusão de "My Way" no disco foi excelente. Era a primeira vez que a música na voz de Elvis chegava ao mercado, era inédita em sua discografia. Algo que certamente iria ajudar na promoção do disco como um todo. Aliás é interessante notar que a RCA sempre sugeria novas músicas a ser adicionadas no repertório de seus discos ao vivo. Só assim o colecionador de discos de Elvis se sentia mais encorajado para comprar o LP. Uma jogada de marketing que se revelou certeira.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Aloha From Hawaii - Parte 2

Elvis continuou nessa levada de não levar à sério nenhum de seus grandes sucessos do passado, mesmo no "Aloha From Hawaii". A versão de "Blue Suede Shoes" de Carl Perkins que ouvimos aqui é bem fraca. Aliás nunca ouvi uma boa versão desse clássico do rock dos anos 50 ser bem executada por ele nos anos 70. Talvez a última vez que Elvis a tenha cantado bem tenha sido em Las Vegas em 1969. Ali, na temporada do retorno de Elvis aos palcos depois de muitos anos, ouvimos versões de verdade da música, onde o cantor procurava dar o melhor de si, resgatando seu legado e o título de Rei do Rock. Depois da virada dos anos 70 Elvis continuou a cantá-la, mas em versões cada vez piores, preguiçosas, desleixadas.

Na década de 1970 Elvis foi se voltando mesmo para o country. Seus álbuns ficaram cheios de country music e no palco ele procurou também resgatar essa música mais regional do sul dos Estados Unidos. Nesse álbum do Aloha Elvis trouxe uma novidade ao repertório, o clássico de Hank Williams, a bonita "I'm So Lonesome I Could Cry".

Era a primeira vez que a canção aparecia em um disco do cantor. Ele nunca a havia gravado em estúdio antes. É uma bela aquisição so repertório do disco, o valorizando bastante, principalmente para os colecionadores da época que estavam sempre em busca de novidades na voz de Elvis. A versão original foi gravada em 1949, ou seja, era uma música nostálgica para Elvis, dos tempos em que ele menino ficava ouvindo rádio ao lado da mãe na varanda de sua pequena casa. Elvis a canta respeitosamente, concentrado. Uma bela homenagem a Hank Williams, ícone da country musica, falecido prematuramente.

Outra inédita era "Welcome to My World", bela melodia composta pela dupla John Hathcock e Ray Winkler. Essa faixa (essa mesma versão) acabou sendo utilizada novamente pela RCA Victor alguns anos depois no álbum de mesmo nome. Apenas capricharam numa nova capa (um belo desenho de Elvis) e intitularam o álbum de "Welcome to My World", alcançando um bom resultado comercial. Era uma coletânea, mas disfarçada, para atrair os menos avisados. Essa canção havia sido lançada originalmente em 1962, sendo gravada por diversos cantores ao longo dos anos. A versão que mais fez sucesso foi a de Jim Reeves. A versão de Elvis foi um pouco tardia, mas ainda conveniente e bem-vinda. No geral Elvis apenas pegava carona no sucesso da canção.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Elvis Presley - Aloha From Hawaii - Parte 3

Sempre considerei o som do disco original (vinil americano de 1973) muito abafado. Depois pensei que poderia ser um problema de prensagem da época. As edições posteriores do álbum, tanto em vinil como em CD, porém confirmaram as minhas suspeitas de que na verdade a gravação original é que apresentou falhas. Acredito que a acústica do lugar onde o concerto foi realizado não contribuiu para uma sonoridade melhor. Também pode ter sido algo relacionado ao equipamento de gravação da RCA Victor.

De uma forma ou outra o problema se ouve em todas as faixas, mas fica ainda mais evidente em "Something" de George Harrison. A canção, como todos sabemos, foi lançada no disco "Abbey Road" dos Beatles em 1969. A interpretação de Elvis é boa, mas poderia ter sido mais realçada se o arranjo fosse mais simples, sem tantos exageros, principalmente nos metais. O ponto positivo é que a performance por parte de Elvis demonstrava bem que ele gostava bastante do som dos Beatles, não prosperando aquela velha lenda de que ele tinha uma rixa pessoal com o quarteto inglês.

Já a versão de "You Gave Me a Mountain" de Marty Robbins era o extremo oposto de "Something". Enquanto o clássico dos Beatles ficaria melhor sem tanta orquestração, essa outra necessitava mesmo de um arranjo glamoroso, excessivo, bem de acordo com a letra que era por si só bem dramática e pomposa. A música nunca foi lançada em versão de estúdio na discografia oficial de Elvis. A versão ao vivo acabou sendo a oficial  E a do Aloha é seguramente uma das melhores do cantor, no palco.

O clássico "Johnny B. Goode" de Chuck Berry também foi levado ao repertório do show, justamente para lembrar a todos que Elvis Presley havia sido um dos maiores nomes do surgimento do rock nos Estados Unidos. Primeira geração roqueira, os pioneiros. O destaque vai obviamente para James Burton recriando o famoso solo de guitarra do mestre Berry. Um dos grandes hinos da história do rock porém nunca foi gravada por Elvis em estúdio. Acredito que Elvis sabia que a música era por demais associada a Berry, por isso a utilizou apenas como destaque em concertos.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Aloha From Hawaii - Parte 4

Pode parecer absurdo, mas para quem era fã de Elvis Presley no Brasil durante a década de 1970, a oportunidade de ter o grande sucesso "Burning Love" em sua coleção era mesmo comprando o duplo "Aloha From Hawaii". Acontece que o single original foi mal lançado em nosso país, saindo logo de circulação do mercado.

Com isso o fã brasileiro ouvia bastante "Burning Love" nas rádios, pois a música fez muito sucesso por aqui também, porém tinha muitas dificuldades em ter a canção em sua coleção de discos. Não se encontrava para comprar nas lojas, em lugar nenhum. Ecos de um tempo sem internet, sem nada, onde todos os fãs ficavam à mercê da boa vontade da filial da RCA em nosso país.

Eu considero uma das melhores canções de Elvis em sua fase final de carreira. Tinha uma boa vibração de pop rock, não era country music (logo tinha apelo geral entre o público) e tampouco era uma baladona romântica. "Burning Love" vendeu muito porque de certa maneira trazia o bom e velho Elvis roqueiro de volta. Sua voz também estava muito parecida com a dos primeiros discos, ainda lá nos anos 50, quando ele se tornou o cantor número 1 do mundo. Era também um sinal de que o público queria que Elvis voltasse para um repertório mais alegre, mais para cima, mais vibrante. O bom cantor de baladas românticas sempre era apreciado, porém o Elvis rocker também fazia falta.

E por falar em voltar aos bons anos do rock ´n´ roll, muita gente se surpreendeu pelo fato de Elvis ter trazido para esse seu show no Havaí a canção "Fever". Um blues bem sensual, de 1960, do repertório do aclamado álbum "Elvis is Back!", o primeiro depois de seu retorno aos Estados Unidos, após cumprir seu serviço militar na Alemanha ocupada por tropas americanas. A versão de estúdio obviamente seguia imbatível, uma gravação isenta de falhas, tecnicamente perfeita. Nessa versão ao vivo que ouvimos aqui no "Aloha" tudo segue também corretamente bem. Apenas, se eu fosse criticar algo, seria a pesada orquestração, o arranjo de metais, que para falar a verdade não combinou muito bem com a proposta da canção em si. Mesmo assim passa pelo crivo. É um bom momento do show.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Elvis Presley - Aloha From Hawaii - Parte 5

"Steamroller Blues" de James Taylor também era novidade na discografia de Elvis na época de lançamento original desse álbum. Elvis nunca havia gravado a canção em estúdio antes e por isso quem colecionava seus discos não a conhecia ainda na voz do cantor. Foi colocada na lista de músicas do especial quase na hora final, pois Elvis não havia dito a ninguém da banda que estava disposto a cantá-la. A versão ao vivo ficou muito boa, porém ainda penso que um arranjo mais simples para esse blues contemporâneo iria melhorar ainda mais o que já era bom. Esse arranjo exagerado de metais sempre me incomodou.

"Love Me", por outro lado, era figurinha fácil para os fãs. Um dos destaques do segundo álbum do cantor na RCA Victor, era uma das preferidas de todos os tempos por parte de Elvis. O vocal bem country de Nashville parecia exercer uma fascinação em Elvis, pois o lembrava dos antigos cantores de country and western de sua infância e juventude em Memphis. O tempo foi saturando um pouco a música, mas sua beleza original conseguia resistir a tudo, até mesmo ao uso excessivo dela nas turnês do astro. Além disso qualquer composição da dupla Jerry Leiber e Mike Stoller era muito bem-vinda em seus LPs dos anos 70. Era um retorno nostálgico aos anos de ouro de Elvis. 

Nas mesma linha mais country havia ainda "I Can't Stop Loving You", composição de Don Gibson. Elvis tinha encontrado essa canção por volta de 1969 quando decidiu que ela iria fazer parte de seus primeiros shows em Las Vegas. Depois disso nunca mais deixou de cantá-la ao vivo. Algumas vezes a música sumia de seus concertos, mas logo depois voltava com força total. É fácil entender porque Elvis de certa maneira se apegou a ela. Com uso excessivo de refrão, era uma boa oportunidade de sacudir o público, ainda mais no sul dos Estados Unidos. Além disso sua letra era de fácil memorização. Não é segredo para ninguém que em determinado momento Elvis começou a ter problemas de memorizar certas letras. Esse aqui porém era ideal para o palco. Quase à prova de falhas.

E para lembrar a todos que ali no palco estava um dos principais responsáveis pela popularização e surgimento do rock, ainda nos anos 50, Elvis e banda encaixavam um medley muito significativo nesse aspecto. "Long Tall Sally" / "Whole Lotta Shakin' Goin' On" unia dois clássicos do rock em sua primeira fase. A primeira música havia sido gravada por Elvis em seu segundo disco na RCA, mas tinha se tornado célebre mesmo na voz do estridente (no bom sentido) Little Richard. Ele havia abandonado a carreira de rockstar para se dedicar a uma vida religiosa, se tornando pastor, e tinha grande gratidão em relação a Elvis por ter gravado uma de suas mais populares criações. A segunda canção tinha sido sucesso na voz do "The Killer", também conhecido como Jerry Lee Lewis. Ele havia destruído sua carreira bem no começo quando casou com uma prima menor de idade, com apenas 14 anos. Isso causou escândalo, levando seu piano incendiário para o fundo do poço do esquecimento e do ostracismo.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Aloha From Hawaii - Parte 6

"What Now My Love" era uma versão em língua inglesa de uma música francesa composta por Gilbert Bécaud. Elvis já vinha cantando a canção desde a temporada anterior em Las Vegas, no ano de 1972. Ele adicionou a música como uma forma de renovar um pouco seu repertório, afinal ficar cantando sempre as mesmas músicas pode ser desgastante para qualquer cantor. Novidades sempre são bem-vindas. Que o diga os fãs de Elvis nos anos 70. Para os colecionadores de seus discos essa faixa era uma completa novidade. Uma inédita para ajudar nas vendas.

"I'll Remember You" era outra novidade. Composta por Kui Lee, tinha tudo a ver com o caráter filantrópico do evento, que visava arrecadar fundos para um hospital especializado em câncer nas ilhas havaianas. Para fortalecer isso o próprio Elvis havia feito sua doação, para incentivar o seu público a fazer o mesmo. Esse aspecto sempre foi muito forte em sua personalidade e ele agora trazia esse ato de caridade cristã para sua carreira também, dando o exemplo, impulsionando as doações cada vez mais. Afinal esse era o principal objetivo do concerto realizado no Havaí.

O grande sucesso de 1969, "Suspicious Minds", também não poderia faltar. Composta por Mark James, foi a primeira música de Elvis a chegar ao primeiro lugar da Billboard após anos afastado do topo das paradas musicais. Uma forma de revitalizar seu estilo, mudar, ir por novos caminhos. Era uma faixa com o qual Elvis não se identificava muito pessoalmente, mas que era mais do que apreciada, principalmente por mostrar ao mercado que ele ainda estava no jogo, após seus anos de isolamento em Hollywood, onde praticamente só cantava nas trilhas sonoras, sem ser competitivo com outros grandes nomes da época, como os Beatles.

Já a versão de "Hound Dog" do Aloha é melhor esquecer. Apenas um bilhete, um pequeno lembrete de seus anos gloriosos como roqueiro nos anos 50. Nada memorável, executada com uma certa preguiça por parte de Elvis. A imortal criação da dupla Jerry Leiber e Mike Stoller merecia um melhor tratamento. É curioso porque na primeira temporada de Elvis em Las Vegas ele apresentou uma versão arrasadora ao vivo, só que depois inexplicavelmente a deixou de lado, só trazendo a canção para os palcos em versões fracas como essa. O que aconteceu?

Pablo Aluísio.

domingo, 9 de maio de 2010

Elvis Presley - Aloha From Hawaii - Parte 7

Olhando para trás não podemos deixar de reconhecer que foi uma boa ideia colocar "Also Sprach Zarathustra" de Richard Strauss como tema de abertura dos shows de Elvis nos anos 70. Ficou grandioso, épico e impactante. Quando Elvis voltou a se apresentar ao vivo foi composta uma pequena introdução orquestral para sua entrada no palco. Esse tema pode ser ouvido em discos gravados em 1969, no International Hotel.

Embora breve, esse arranjo de entrada era bem produzido. Só que parecia ainda não digno da altura de um artista como Elvis. Apenas Strauss poderia estar em um nível acima. Muitos criticam, porque afinal a canção teria sido tema do clássico de ficção "2001 - Uma Odisseia no Espaço" do mestre Stanley Kubrick. Não estaria associada diretamente a Elvis. Penso de outra forma, acho que ficou muito bem encaixada. Ideal para o shows do cantor.

Outra música inédita dentro da discografia de Elvis em 1973 era essa "It's Over" de autoria da dupla Roy Orbison e Joe Melson, Interessante é que seria uma boa canção para ser gravada em estúdio, contando com todo aquele arranjo de metais bem típico de Felton Jarvis. Elvis porém não se deu ao trabalho, priorizando a execução da canção ao vivo mesmo. Esse tipo de música servia muito bem aos propósitos de Elvis em mostrar toda a potência de sua voz. Nos anos 70 ele inegavelmente procurou por esse tipo de canção, que tivesse um certo tipo de apoteose final. Era bem o momento propício para ele soltar seu vozeirão a plenos pulmões.

Já "See See Rider" não era mais nenhuma novidade para os colecionadores de seus LPs. A música já tinha sido lançada antes no bom álbum "On Stage - February 1970". Assim era já naquela época destituída de maior interesse pelos fãs que compravam seus discos. No selo do vinil original a música foi novamente creditada a Elvis, ou pelo menos seu arranjo. Como já sabemos essa é uma música bem antiga, feita antes do nascimento de Elvis por autores cujos nomes se perderam no tempo. Mesmo assim a RCA Victor decidiu valorizar um pouco o trabalho de Elvis na elaboração de seu arranjo para o palco, o creditando como autor. Valeu pela boa intenção e reconhecimento.

Pablo Aluísio. 

Elvis Presley - Aloha From Hawaii - Parte 8

Eu sempre vou identificar esse álbum com a música "An American Trilogy". Na verdade um medley triplo criado por Mickey Newbury que tencionava revitalizar músicas históricas, algumas provenientes de cultos religiosos, outras que foram populares nos campos de batalha, durante a guerra civil dos Estados Unidos. Elvis, patriota como era e um homem muito religioso, procurava assim por uma identidade musical em seus concertos realizados durante os anos 70.

Como era de complexa execução, essa canção acabou sendo vital para mostrar e identificar os melhores shows de Elvis nesse período de sua carreira. Quando Elvis estava bem, costumava dar tudo de si nela, quando estava mal, isso se refletia como nunca no palco. O interessante é que era mesmo uma música de show, sendo que Elvis não teve a preocupação de gravar uma versão de estúdio para ser lançada em seus álbuns. Parecia que ela funcionava muito melhor com o calor do público, dando resposta ao cantor ali, na hora, ao vivo.

Bem, não poderia deixar de registrar também que nunca gostei da versão que Elvis apresentou de "A Big Hunk O' Love" nesse concerto. Acredito que os arranjos excessivos de metais a descaracterizaram demais. Um rock da primeira fase da carreira de Elvis, deveria ter sido mais fiel aos arranjos originais. Nada de trombetas ou trombones. Não deu certo! Curioso que Felton Jarvis sempre foi criticado por isso, por pesar demais a mão em certos arranjos. Aqui ele poderia ter maneirado mais, deixando a orquestra de lado, incentivando mais os instrumentos mais típicos do rock dos anos 50, a saber, violão, guitarra, baixo e bateria. Nada mais era preciso. O produtor definitivamente errou!

Por fim, finalizando a análise, temos que aqui tecer alguns comentários sobre "Can't Help Falling in Love". A coisa toda aconteceu meio ao acaso. De repente a música romântica do filme "Feitiço Havaiano" acabou se tornando a nota final de todos os seus shows. Funcionava bem, era uma despedida de Elvis que deixava o público querendo mais. Só penso que Jarvis novamente deveria ter trazido mais da trilha sonora original. Eu sempre gostei muito dos arranjos originais do disco de 1961. Tudo soava quase como uma canção de ninar, por mais terno que isso possa parecer. Teria ficado muito bonito em seus concertos, não tenho dúvidas sobre isso.

Pablo Aluísio.