quarta-feira, 11 de março de 2009

Elvis Presley - Elvis Spring Tours 77

Esse CD do selo FTD vem para desmistificar vários mitos criados em torno de Elvis Presley. O primeiro deles é aquele que afirma que, em 1977, Elvis não conseguia mais apresentar um bom concerto ou se animar em um palco. Não há nenhum sinal de vacilo vocal ou falta de energia nas faixas que são ouvidas aqui, muito pelo contrário, em todas elas Elvis procura dar o melhor de si e demonstrar que ainda podia empolgar uma plateia e disponibilizar para todos um belo show, com muito rock de primeira qualidade, belas baladas românticas e muita animação e energia. Afirmar tudo o que escrevi aqui não significa negar ou tentar ignorar todos seus problemas físicos e emocionais, não é isso, mas sim dar a César o que é de César. Elvis está bem em praticamente todos os registros, se há algum deslize em alguma faixa, eles são pontuais e não prejudicam o conjunto ou a qualidade do material. Em poucas palavras: Elvis ainda continuava um grande artista, com pleno domínio de palco em seus momentos finais.

No aspecto puramente técnico, as canções não apresentam uma qualidade que vá satisfazer os ouvidos mais exigentes. Aqui devemos primar nem tanto pela excelência de som, mas sim pela excelência histórica de se ouvir Elvis nos palcos, no mesmo ano de sua morte. Há problemas de equalização, de mixagem e de balanceamento dos instrumentos e na voz de Elvis, mas isso é normal, até mesmo pela própria subcategoria em que CDs como esses são enquadrados. Ninguém vai exigir de um lançamento desses todos os cuidados que foram utilizados em seus discos oficiais. O foco aqui é outro completamente diferente. Se o ouvinte passar por cima de todos esses problemas, certamente vai chegar a conclusão que ouvir algumas dessas músicas é sempre um prazer renovado. O CD começa com três faixas retiradas de um mesmo show realizado no dia 26 de março de 1977 na cidade de Norman.

A primeira, That's All Right, é providencial. Nada melhor que abrir o CD com a música que começou tudo. Após uma pequena introdução de violão tocada pelo próprio Elvis, o grupo entra à toda e apresenta uma grande versão, totalmente coesa e praticamente perfeita do ponto de vista técnico. Após conversar um pouco com Charlie Hodge e a plateia, Elvis começa Are You Lonesome Tonight? e como quase sempre acontecia nos registros dessa música ao vivo, ele aproveita para brincar um pouco e rir, principalmente na parte falada da música. Parece uma tradição, quando chegava nessa parte da canção era quase certeza Elvis perder o controle e começar a gargalhar. Aqui com a ajuda de Charlie tudo desanda, Elvis novamente ri muito e se diverte, mas depois se recupera e leva a canção até o final. Blue Christmas é a próxima. Esse registro é especialmente interessante porque essa música nem era muito utilizada por Elvis em seus shows. Inclusive pode-se perceber claramente que ela nem mesmo estava programada e Elvis a inclui em cima da hora. Mas isso certamente não era problema para a TCB Band que chega com competência e nos presenteia com uma versão excelente. As duas faixas seguintes foram gravadas no show do dia 27 em Abilene.

São duas músicas dos anos 50. A primeira, Trying To Get To You, foi utilizada a exaustão por Elvis nos palcos durante os anos 70. Essa canção sempre proporcionou boas versões para Elvis, sempre deu a ele a chance de demonstrar seu pleno controle e domínio vocal. Após ouvi-la na íntegra não há outra conclusão a não ser que ela está isenta de maiores máculas e é praticamente perfeita (tirando uma pequena brincadeira feita por ele, que passa muito longe de prejudicá-la). Em cima Elvis entra logo com Lawdy Miss Clawdy, outro grande clássico de seus anos iniciais. Aqui Elvis aparente estar bastante empolgado, improvisando em cima do solo de piano. Talvez o único senão seja a exagerada participação no finalzinho da música por parte do acompanhamento vocal, mas nada que vá prejudicar o resultado final. Fever, que vem logo a seguir, é uma versão excelente. Tudo o que ela poderia ter sido em shows mais importantes como o Aloha e não foi. Elvis, relaxado e brincando, proporciona um belo entrosamento com a banda e responde de imediato a empolgação do público. Outra faixa impecável. Única do show do dia 30 de março, realizado em Alexandria, presente no disco, uma pena.

A nostalgia prossegue com Heartbreak Hotel, seu primeiro grande sucesso internacional. Em seus últimos anos Elvis ganhou fama por não tratar seus velhos hits com a seriedade e o respeito merecidos, principalmente nos palcos. Esse mito tem sua razão de ser, principalmente por causa das mini versões de um minuto de duração de algumas de suas maiores músicas, mas isso nem sempre acontecia, como bem podemos notar nessa versão aqui presente. Elvis a canta corretamente, ainda que em certos trechos tire uma onda, mas a banda apresenta um bom acompanhamento, respeitando o arranjo das primeiras versões ao vivo de 1969. Gravada em Saginaw no show do dia 25 de abril. If You Love Me entra em seguida e vem para demonstrar o material mais recente de sua carreira. Essa versão não é tão boa como a oficial que aparece no disco Moody Blue, mas é na média. De todas as faixas, essa talvez seja a mais prejudicada pelo desnível de equalização existente entre Elvis, a banda e os vocais femininos de apoio. Faltou maior rigor técnico por parte daqueles que estavam gravando a apresentação. Vale pela importância. O Sole Mio / It's Now or Never traz novamente todos os problemas técnicos da faixa anterior, pois ambas foram gravadas no mesmo dia 26 de abril em Kalamazoo. Apesar da boa vontade de Elvis em promover Sherril Nielsen, acho que a introdução poderia ter sido suprimida sem maiores traumas. A Hot Horns certamente também é outro problema nessa faixa, pois o arranjo é excessivo e abusa de efeitos sonoros para passar a imagem de grandiosidade. Tudo ficou altamente excessivo no final das contas.

Little Sister vem logo a seguir. Essa versão foi retirada do show em Ann Arbor no dia 24 de abril. Bem mais extensa que suas irmãs do mesmo período a canção se torna uma boa surpresa e quando mal nos recuperamos de seu final somos arremessados imediatamente para um delicioso medley com as imortais Teddy Bear / Don't Be Cruel, mesma fusão que Elvis vinha utilizando já há tempos, mas que nunca perdia o frescor e a beleza. São canções imortais certamente, daquelas que Elvis nunca iria se livrar mesmo. A parte final do Medley é muito legal, com Elvis animado e novamente se divertindo para valer! Enfim, uma versão sem novidades, mas muito boa. Do mesmo show ainda temos Help Me. Há versões melhores do que esta certamente. Aqui Elvis já aparece um pouco cansado, o que se nota nitidamente no último verso quando ele se segura e se preserva, provavelmente se poupando para o resto da apresentação (a compare com a versão de Memphis de 1974 para ter uma ideia do momento em que Elvis realmente pisa no freio). A versão de Blue Suede Shoes do show do dia 26 de março em Norman que vem a seguir é fantástica. Depois de a negligenciar durante muitos anos, Elvis acata a sugestão que lhe é passada no palco e apresenta uma versão energética e de um pique ímpar. Pena que ela dure muito pouco. Mas isso não é problema pois somos compensados logo após, pois antes que percebamos como ela foi fugaz, outra boa versão entra nas caixas: é mais uma dos 50's, light e mínima, mas outro de seus clássicos de rock, Hound Dog, versão que mal chega a pouco mais de um minuto, mas que diverte principalmente pela bateria e pelos demais efeitos percussivos.

Pensou que a volta aos anos 50 tinha acabado? Que nada! Logo após Jailhouse Rock nos chega numa outra versão que não foge à regra: pouca duração e apenas o básico, o feijão com arroz, porém com um diferencial interessante: a própria empolgação de Elvis. Com ela chega ao final a sucessão de seus sucessos roqueiros dos anos 50, pelo menos por enquanto. Polk Salad Annie dá seus primeiros sinais e logo nos primeiros momentos descobrimos que estamos na presença de uma versão especial. Muito mais movimentada e bem arranjada, a Polk Salad Annie de 1977 nada fica a dever a suas predecessoras do começo da década. Primeira constatação importante: Elvis está a mil! O grupo fecha com ele e capricha no apoio que não lhe falta em nenhum momento da execução de seu grande hit! Até mesmo o naipe de metais se mostra altamente feliz nessa noite. Aliás esse show de Milwaukee é muito interessante, muito recomendado para quem quiser ouvi-lo na íntegra. Infelizmente para esse CD só utilizaram essa versão, o que deixará todos com água na boca certamente. Elvis vai no comando da animação e segura muito bem a vibração ao lado de seus músicos, lá pelo meio ele desliza levemente e perde um pouco de fôlego, para logo se recuperar e encerrar a música com tudo! O final dessa versão é a melhor que já ouvi dessa música! Elvis e a TCB Band colocando pra quebrar mesmo e botando abaixo o ginásio. Apoteose pouca é bobagem! Nota 10!

Já a seguinte, Bridge Over Troubled Water, versão gravada em Duluth no dia 29 de abril de 1977, apresenta problemas. Parece que esqueceram de avisar ao pianista que está é uma canção suave e intimista. Mal começa a canção e ele dispara alucinadamente, fazendo com que Elvis literalmente corra atrás! A canção está totalmente fora de seu ritmo normal, parece que Elvis fica todo o tempo da música tentando se acertar com o resto da banda, tudo ficando muito confuso. A orquestra e a banda de Elvis também não conseguem chegar num denominador comum! Certamente canções ao vivo são mais rápidas que as de estúdio, isso é natural e todo músico sabe disso, mas essa versão de Bridge Over Trouble Water mais parece uma maratona, onde a pressa e o desentrosamento imperam! Em vista de tudo isso não se poderia de jeito nenhum alcançar um resultado satisfatório. Pior faixa do CD. Porém nem tudo está perdido, como bem demonstra uma grata surpresa gravada no mesmo show que vem logo a seguir, Big Boss Man, outra que Elvis não costumava muito apresentar ao vivo. Aqui Elvis e banda nos apresenta uma versão muito agradável, fluída, de fácil assimilação. Músicas como essa dão a nítida impressão que em determinados concertos Elvis poderia também trazer um sopro de renovação em seu muitas vezes cansado repertório. Big Boss Man está acima da média nessa apresentação, tanto em aspectos artísticos como em aspectos técnicos. Gravada no show do dia 29, é uma bela surpresa e uma doce exceção!

Fairytale, faixa do disco Elvis Today, traz um Elvis novamente com o freio de mão puxado. Única canção do show dele em Chicago presente no CD. Particularmente nunca gostei muito dessa apresentação e essa faixa é uma boa amostra do que rolou naquela noite na cidade dos ventos! Embora a cante corretamente, Elvis visivelmente se posiciona e se contém, com pequenas exceções no meio da faixa. No final Elvis não se arrisca e deixa o vocal de apoio assumir o controle. Melhor mesmo poupar a voz para outra ocasião! Mistery Train / Tiger Man gravada no show em Saginaw também demonstra um Elvis mais contido. A versão é muito boa também, mas lhe falta maior pique, aqui quem brilha certamente é o grupo de Elvis, James Burton na guitarra principalmente. Elvis apenas dá o tom para que seus músicos brilhem, tanto individualmente em belos solos (inclusive de bateria) como em conjunto. Última dos velhos tempos presente no CD. Unchained Melody é uma preciosidade absoluta! Aqui temos a versão que Elvis gravou no dia 24 em Ann Arbor. Não há maiores novidades e todos já a conhecem bem, inclusive de outros discos. Momento especial na carreira de Elvis.

Litlle Darlin vem apenas para cumprir tabela e preparar o desfecho final do disco. Essa é a versão do mesmo show da faixa anterior. Também sem maiores novidades. Finalmente de todo esse revival chegamos ao final com chave de ouro: My Way. Essa é a versão do show em Saginaw e está entre as melhores que Elvis gravou. Apesar da versão do Aloha From Hawaii ser considerada a melhor pelos especialistas, principalmente pela sua perfeição técnica, fico com essa! Nessa época Elvis vinha apresentando belas versões dessa canção, vide a do show em Rapid City, por exemplo. Mesmo todas sendo de alto nível, a versão de Saginaw tem um diferencial que a lhe coloca em posição de superioridade perante as demais: Elvis está muito mais envolvido nela, muito mais ligado emocionalmente! Apesar de sempre ter ouvido ela em outros bootlegs, essa é a melhor em termos de qualidade sonora que já ouvi. Com ela Elvis fecha o CD de forma magistral.

Resumo da ópera: o velho mito de que Elvis não conseguia mais comover ou emocionar, que estava tão gordo que mal se segurava em pé, que estava tão dopado que não conseguia mais levar uma apresentação até seu final, deve ser revisto. Tudo está aí, para quem quiser ouvir. O raciocínio é simples: o CD foi gravado em 1977, último ano de vida do cantor, e prova que se houve problemas em sua vida, certamente eles não conseguiram apagar o brilho de Elvis nos palcos da vida! Alguns dessas versões em nada ficam a dever ao material que ele gravou nos anos anteriores. Certamente ele passou por situações aflitivas, de saúde, emocionais, mas ainda era Elvis Presley quando adentrava em um palco, ainda era o Rei do Rock'n'Roll que todos conhecemos. Para constatar isso basta apenas ouvir atentamente! Fazendo isso você certamente vai entender porque uma canção vale mesmo mais do que mil palavras!

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Let It Roll

Alguns títulos de Elvis Presley são simpáticos. Veja bem, eles não irão mudar sua vida, não vão causar grandes surpresas em colecionadores de longa data, eles não vão mudar o conceito que você tem de Elvis Presley, nada disso. Eles apenas são bons lançamentos, com bom gosto em seu aspecto visual e na escolha do repertório e vai somar, mesmo que timidamente, em sua coleção apenas como um CD interessante e agradável. Eles são apenas títulos simpáticos. É justamente esse o caso desse CD do selo Madison denominado Let It Roll. Não há entre suas faixas nenhuma grande novidade, apesar do CD ter sido produzido inteiramente com takes alternativos de estúdio de Elvis durante os anos 60 e 70. Quase todos esses registros já tinham sido lançados antes em outros CDs, mas o selo Madison resolveu unir um belíssimo repertório com um grande apuro visual em seu encarte, o que acaba gerando pontos em seu favor. Aliás é bom que se diga que a produção visual e a direção de arte da capa e encartes internos é de alto nível. Interessante como lançamentos como esse, meros bootlegs, podem colocar facilmente à nocaute as produções artísticas dos discos oficiais de Elvis. Já escrevi aqui mais de uma vez sobre a pobreza artística das capas dos discos oficiais de Elvis nos anos 70 e volto a repetir que, quando me deparo com um título tão bem produzido como esse, realmente fico não menos do que surpreso. Quem dera os LPs oficiais de Elvis tivessem tido uma direção de tamanho bom gosto como essa!

"Let It Roll" é um CD que traz versões de estúdio não aproveitadas por Elvis na época. Essas faixas que foram descartadas são denominadas de "takes alternativos", ou seja, bem poderiam ter sido consideradas as oficiais caso assim fossem escolhidas pelos produtores de Elvis na época. Mas não o foram. Muitas delas foram arquivadas e ficaram longos anos longe do público. Talvez se o mito Elvis não tivesse tanta força como tem atualmente elas simplesmente seriam perdidas para sempre. Porém como o nome do cantor é cada vez mais forte e presente, gerando muita curiosidade das novas gerações, pessoas que eram encarregadas do armazenamento desses takes resolveram trazer tudo à tona e lançar todo o material em CDs oficiais e não oficiais. Aqui o período enfocado é o final dos anos 60 e grande parte dos anos 70 (indo mais ou menos até meados dessa década). Considerada por muitos a melhor fase de Elvis Presley em sua carreira, esse período foi aquele em que o artista resolveu realmente crescer como intérprete e artista, deixando os temas juvenis de suas trilhas para trás para se dedicar de corpo e alma a um material bem mais adulto e maduro. Se antes Elvis cantava sobre romances adolescentes agora ele estava realmente interpretando canções que falavam mais diretamente com pessoas de sua real faixa etária, com todos os seus problemas, sem fantasias de pré adolescentes no meio. Realmente não havia mais como Elvis ficar cantando pérolas fantasiosas de aborrescentes com quase quarenta anos de idade! Se continuasse naquele caminho das trilhas infantiloides ele certamente ficaria patético em pouco tempo. Felizmente os anos 70 para Elvis Presley começaram mesmo em 1969 no American Studios como bem demonstram os diversos takes de "Wihout Love" presentes no disco.

Essa canção é geralmente associada como "aquela música que Elvis sempre tentou gravar e nunca conseguiu". Segundo alguns autores desde os tempos da Sun Elvis tentava chegar numa versão que o agradasse sem contudo conseguir. Aqui temos os takes 1,2,3,4 e 5. O take 1 demonstra Elvis sussurrando a faixa baixinho com a banda ensaiando e afinando os instrumentos ao fundo. Finalmente entra o piano e começa o take 1 que dura poucos segundos. O take 2 é bem mais completo porém também não vai muito longe, mesmo Elvis a cantando corretamente. O que estraga esse take é um erro, quase imperceptível, do guitarrista na primeira fase da faixa. Apesar disso Elvis segue em frente, talvez para pegar o gancho certo da faixa ou talvez por não ter notado o pequeno erro do instrumentista de seu grupo musical. Apesar de tudo o que se nota é que, desde os primeiros takes, Elvis está seguro e com pleno controle da situação. A velha tese de que essa música teria se transformado no verdadeiro terror para Elvis nos estúdios durante sua longa carreira cai por terra rapidamente pois ele não demonstra o menor sinal de dificuldades em executá-la. Aliás é bom que se diga que não é certo e nem confirmado com absoluta certeza ser essa a música que Elvis tentou e não conseguiu gravar durante seus primeiros registros na Sun Records.

Promised Land mais uma vez rouba o show, sendo o centro das atenções. Aqui o take não captura o clima das gravações, a faixa começa a mil e demonstra uma grande semelhança com sua versão oficial. Tecnicamente está ótima embora se perceba algumas variações no vocal de Elvis, principalmente por seu riso incontido logo no comecinho da versão. Após o solo de James Burton Elvis perde por poucos segundos o tempo exato da canção mas segue em frente! Não há grandes surpresas, existem mínimas diferenças de bateria (algumas ideias muito boas que infelizmente ficaram de fora da gravação master) e um solo praticamente idêntico ao oficial o que de certa forma coloca por terra a afirmação de Burton de que o solo dessa canção teria sido praticamente improvisado! As duas versões demonstram claramente que não, embora existam certas diferenças e nuances no solo final.

A master My Way, lançada na caixa Walk a Mile in My Shows quebra um pouco o clima do disco! Aqui não há nenhum espaço para improvisos ou brincadeiras, o take é pra valer e embora essa faixa nunca tenha sido lançada na discografia oficial de Elvis pré 77, podemos facilmente reconhecer a perfeição técnica dessa versão. Uma das grandes interpretações da carreira de Elvis, embora não tenha encontrado nenhum espaço em sua carreira oficial. Se My Way é um símbolo de perfeccionismo e profissionalismo por parte do cantor a seguinte, na verdade uma Jam Session, vem de encontro aos anseios daqueles que querem compartilhar um pouco o humor de Elvis dentro dos estúdios. Johnny B.Good não passa de um ensaio descompromissado e Holly Night sequer deveria ter sido creditada pois não passa de uma gozação de Elvis em cima das músicas natalinas que ele era forçado a gravar pelo Coronel Parker e pela RCA. Elvis está até mesmo um pouco alterado além da conta, muito acima e além da animação corrente e costumeira que estamos tão familiarizados ao ouvir nesse tipo de registro. O cantor realmente passa nítida impressão de estar um pouco "alto" demais! De qualquer maneira vale o bom astral.

Patch Up, canção que nunca simpatizei, aparece em seguida e pouco acrescenta. A única nota relevante é saber que a faixa é muito bem executada, sem brincadeiras fora de hora, erros ou equívocos por parte de Elvis e banda. Para quem gosta da canção é uma boa pedida, para quem não curte o melhor mesmo é manter distância. Já Help Me é bem melhor. Embora creditada como "Live Multi Track" a canção fica bem na média, bem na regularidade das versões que Elvis apresentava na época. Essa canção também quebra um pouco o ritmo do CD pois é uma faixa ao vivo, o que destoa muito das outras versões (praticamente todas de estúdio). Sobre ela ainda tecerei algumas observações importantes logo abaixo.

It's Midnight que inclusive abre o CD apresenta duas faixas. A primeira nada mais é do que um mero ensaio, altamente recomendado para aqueles que gostam de ouvir os bastidores das gravações de Elvis em estúdio. Aqui temos os dois principais componentes do grupo de Elvis ensaiando. Em primeiro plano o grupo vocal tenta acertar a nota certa, tudo acompanhando pelo grupo musical que também tenta se achar. Em um segundo momento Elvis vai tentando achar, não só o tom certo da canção como também memorizar alguns trechos da música. Ao lado de J.D.Summer Elvis vai tentando se encontrar na música. Ao fundo muito barulho das vocalistas. Finalmente depois de alguns momentos Elvis interrompe o que estava fazendo e chama a atenção delas para que assim possam começar as gravações. O clima é descontraído, leve, com Elvis sempre de bom humor, o que desmente muitas biografias que sempre o colocam como um ser sorumbático e necrosado durante as sessões do Stax. Basta ouvir um pouquinho do que acontecia dentro dos estúdios para perceber que nada estaria mais longe da verdade! Elvis brinca, se diverte, solta piadinhas, faz brincadeiras. Não há o menor sinal de depressão ou melancolia, muito pelo contrário. Se há um grande mérito desses registros é realmente colocar por terra a imagem de um Elvis Presley desabando de decadente dentro dos estúdios de gravação durante os anos 70.

Bossom of Abraham, praticamente perfeita e completa, vem para fazer entender a todos porque o Gospel é uma das vertentes que deram origem ao Rock'n'Roll. Percebam que a vocalização é praticamente idêntica àquela usada nos primórdios do surgimento do bravo Rock'n'roll. A única notável diferença seria encontrada mesmo apenas no teor das letras, essas bem mais mundanas e seculares do que as de teor religioso. Porém isso não importa e nem desqualifica a teoria de que o novo idioma musical que nascia era realmente uma grande mistura de sons, gêneros e sonoridades que pairavam no ar no velho Delta do Mississippi. Já no passar dos anos ambos os gêneros iriam nitidamente se distanciar. O Rock'n'Roll iria se unificar cada vez mais ao pop, principalmente após a ida de Elvis para o exército e o Gospel, mesmo fiel às suas origens vocais das capelas, iria absorver cada vez mais outros gêneros regionais do Sul como o Country and Western e as baladas sentimentais. O exemplo mais perfeito disso é justamente Help Me. Percebam sua letra. Ao mesmo tempo em que o autor, em primeira pessoa, pede forças ao senhor (Lord, Help me walk another mile, just one more mile;) ele adota uma postura nitidamente melancólica e sentimental das mais conhecidas canções country e regionais do período! Mais eclética impossível. O ritmo pouco lembra os corais vocais dos cultos evangélicos, mas está presente, mesmo que de forma um tanto quanto tímida. Na realidade é outra das músicas de Elvis que não se enquadram em classificações restritas, sendo na realidade uma grande e colorida colcha de retalhos sonora.

Always On My Mind aparece em versões interessantes, bastante peculiares. Geralmente quem é fã há muito tempo de Elvis acaba ficando um pouco exausto de seus grandes sucessos e procura se dedicar mais aos seus momentos menos conhecidos e populares. Essa canção curiosamente já esteve nos dois lados da balança. Em um primeiro momento foi negligenciada a um obscuro lado B nos anos 70 e praticamente não causou qualquer impacto na carreira do cantor. Mas depois que Priscilla Presley a elegeu como tema principal do seriado "Elvis e Eu" a coisa mudou completamente de figura. De lado B a música foi catapultada para o Olimpo onde reinam seus grandes hits, seus maiores sucessos! Não é de se admirar que hoje, depois de ter sido executada exaustivamente, muitos colecionadores torçam o nariz para ela. Mas não vamos tomar esse caminho, a canção é uma das melhores melodias da carreira de Elvis, além de trazer uma letra nitidamente autobiográfica (impossível não fazer a conexão entre o pedido de desculpas implícita em seus versos e o fracasso do casamento entre Elvis e sua esposa). Aqui temos um ótimo momento para uma reavaliação equilibrada dessa linda canção. E por falar em lindas canções, melodias divinas, nada mais chama nossa atenção do que a harmonia de I'm Leavin. Se uma palavra define esse momento sem dúvida o termo correto nesse instante seria "elegância"! De uma sobriedade poucas vezes vista na carreira de Elvis Presley, I'm Leavin sempre vai figurar entre as mais divinas melodias da carreira do cantor. Um dos pontos altos do CD, sem a menor sombra de dúvidas.

Resumindo: o CD é muito válido. Além de colocar canções coadjuvantes do repertório de Elvis em primeiro plano ainda consegue manter, em praticamente todas as faixas, um belo nível técnico no aspecto de sua qualidade sonora. Também é recomendado para os admiradores dos bastidores das gravações de Elvis pois traz bons registros de seu humor durante as mesmas e o mais importante, de forma contextualizada ao repertório em si e sem exageros e arroubos inadequados. O conjunto não traz surpresas mas até que se mostra coeso em seu resultado final. Vale a pena ser adquirido e ouvido. Sua coleção vai agradecer.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 10 de março de 2009

Elvis Presley - Southern Nights

Em 1975 Elvis Presley completou quarenta anos de idade. Apesar de ser algo normal e natural para qualquer ser humano, Elvis encarou a nova idade como uma grande tragédia em sua vida. Nos dias de hoje fica até mesmo difícil entender como alguém ficaria tão abalado apenas pelo fato de superar a barreira dos quarenta, mas para Elvis esse fato só significava uma coisa: ele estava ficando velho! Velho demais para sobreviver como artista! Não importava o fato de existirem muitos ídolos numa faixa etária maior do que essa, como o próprio Frank Sinatra, nem importava a famosa frase de que "a vida começa aos quarenta", isso não tinha importância para ele. Para Elvis Presley completar 40 anos era traumatizante, o simples fato de romper a linha dos 40 já era demais para ele! Como ele se veria agora?

Como um dos maiores símbolos jovens da história da cultura pop iria agora encarar essa maturidade inegável? Pelo jeito, nada bem. Elvis encarou a chegada de seu 40º aniversário da pior maneira possível. Trancou-se em casa, ficou deprimido e abatido, se recusou a atender telefonemas no dia 8 de janeiro e evitou a todo custo aparecer em público. Além disso se convenceu que estava com o rosto envelhecido demais, implicando totalmente com as características bolsas de envelhecimento abaixo de seus olhos (coisa que logo procurou corrigir fazendo uma cirurgia plástica em poucos meses). Nesse dia Elvis não parou de se lastimar com seus amigos mais próximos e de se olhar no espelho, "Imagine, 40 anos! Estou acabado! Não sou mais um garoto!" ficava repetindo insistentemente o cantor pelos corredores de Graceland. Em sua cabeça isso significa que seus fãs iriam deixá-lo pois ninguém seria mais admirador de um velho astro idoso! Elvis ficou tão abalado que não conseguia mais pensar em nada, estava sempre perguntando aos seus amigos: "Será que os fãs ainda vão gostar de mim quando eu estiver velho?!". Para Red West desabafou: "Red, estou acabado! Não consigo mais me imaginar como um ídolo de ninguém. Estou próximo do fim!".

Red West relembrou anos depois: "Depois de um tempo aquele dramalhão de Elvis começou a encher o saco! Quando mais falávamos para ele não se preocupar, mais ele se lastimava! Definitivamente foi uma chatice sem tamanho ficar ao lado dele em seu 40º aniversário!" Apesar de todos deixarem claro que essa preocupação não tinha sentido, Elvis não se convencia do contrário. Quando se defrontava com esse tipo de situação Elvis se isolava, trancava-se em casa e se recusava a ver pessoas estranhas ao seu círculo íntimo. E foi o que fez. No dia de 8 de janeiro, enquanto os fãs de todo o mundo lhe mandavam cartões e mensagens de congratulações, Elvis se fechava mais ainda, em total reclusão. Ele havia se convencido que completar 40 anos era uma verdadeira desgraça na sua vida pessoal e ponto final, ninguém nesse mundo iria convencê-lo do contrário. Quem não queria nem saber dessa bobagem toda era o Coronel Parker. De seu escritório ele já tinha planejado todos os shows de Elvis em sua próxima turnê. Quarentão ou não, Tom Parker não queria nem saber, Elvis teria que sair de Graceland para uma série de apresentações. O fato era que nem Elvis poderia viver trancado em casa, se corroendo por ter feito 40 anos, para Parker ele logo teria que colocar o pé na estrada novamente para cumprir seus contratos. Ultimamente Elvis vinha cada vez mais se queixando das longas viagens, do desconforto de viver de cidade em cidade, de ter que se apresentar em um ou dois shows diários. Elvis sentia-se esgotado após tantos anos de concertos.

Ele chegou inclusive, em muitas ocasiões, a deixar claro que aquele tipo de vida já não lhe trazia mais grande prazer e que já pensava em um futuro próximo ir diminuindo o ritmo de trabalho. Em vista dessas reclamações e do fato dele estar deprimido por ter feito 40 anos, o Coronel Parker acabou cedendo um pouco e seguindo o conselho de Joe Esposito resolveu agendar uma série de shows no Sul mesmo, pois além das cidades serem relativamente próximas de Memphis, Elvis não teria que se esforçar demais pois aquele também era o reduto mais fiel de seus fãs. Diante dessas pessoas Elvis seria sempre bem recebido, seja qual fosse sua atual condição de saúde ou de estado de espírito. Elvis estaria em casa, ou pelo menos perto de casa, ali no quintal de Memphis. E foi justamente nessa primeira turnê como quarentão que esse CD foi gravado. Embora Elvis estivesse passando por um momento ruim (pelo menos na sua forma de ver), o cantor procurou apresentar belos concertos e ampliou consideravelmente o leque de opções de seu repertório, atendendo inclusive aos reclamos de críticos e músicos que lamentavam cada vez mais a falta de uma maior renovação nas canções apresentadas ao vivo. Realmente, desde a ótima temporada de agosto de 1970, onde muita coisa nova foi acrescentada aos concertos, pouca coisa mudara em mais de 4 anos de shows ininterruptos. Já era hora mesmo de promover algumas mudanças, mesmo que fossem tímidas. De qualquer maneira, toda e qualquer nova música adicionada aos concertos já era um sopro de ar fresco em suas rotineiras apresentações. E assim, depois de cumprir uma temporada em Las Vegas, Elvis caiu na estrada para realizar mais uma turnê de primavera. Apesar de tudo, dos 40 anos, das lamúrias, das choradeiras, das lengalengas do cantor e da extensa agenda de compromissos, essas apresentações até que ocorreram numa calma muito bem-vinda para o quarentão Elvis Presley. O CD traz canções gravadas nas cidades de Atlanta, Huntsville, Mobile, Houston, Jackson, Memphis, Lake Charles e Macon.

O conceito de Southern Nights (em português, "noites sulistas") nasceu da necessidade por parte de Ernst Jorgensen em lançar todos os bons momentos de Elvis durante esses concertos realizados na primeira metade de 1975. O próprio Ernst justificou o lançamento de mais esse título inédito afirmando em entrevista: "Nosso objetivo no selo FTD é realmente lançar soundboards que cubram efetivamente todo o período de shows realizados por Elvis entre 1969 e 1977. Nossa intenção é que todas as temporadas em Las Vegas e todas as principais excursões venham a ser representadas nesse selo com pelo menos um título. Em alguns casos realmente basta o lançamento de apenas um CD que traga registros desses períodos. Existem temporadas e excursões realizadas por Elvis em que ele pouco inovou em seu repertório básico, sem grandes novidades. Porém existem também períodos ricos em novas canções, versões fabulosas ou pequenos grandes momentos de Elvis que merecem ser lançados! Quando lançamos Dixieland Rocks percebemos que estávamos na presença de um momento muito fértil e próspero da carreira de Elvis e sentimos a necessidade de voltar à essa fase para realmente não deixar nada de importante para trás. Essas excursões, realizadas na primavera de 1975, nos chamam atenção por sua rica diversidade. Para se ter uma idéia o repertório básico utilizado por Elvis nesses concertos consistia em mais de 40 músicas! Mesmo tendo lançado "Dixieland Rocks" com o que consideramos o melhor, sentimos que muita coisa de ótima qualidade ficou realmente de fora. Daí nasceu a idéia de lançarmos Southern Nights."

Seguindo essa linha de raciocínio, Ernst resolveu fazer uma verdadeira nova "coletânea" das duas primeiras excursões de Elvis em 1975. Retirando faixas de um ou outro concerto, Ernst foi completando o trabalho iniciado com "Dixieland Rocks" do mesmo selo FTD. Embora seja uma interessante ideia de resgate, esse tipo de lançamento também traz certos problemas como a diversidade de qualidade sonora e técnica entre as versões, que embora unidas aqui, foram gravadas em momentos e ocasiões diferentes. Isso se torna bem mais nítido quando ouvimos a montanha russa da seleção musical de "Southern Nights". Em um mesmo CD ouvimos registros com alto nível sonoro, outros apenas razoáveis e finalmente aqueles bem abaixo da crítica. De qualquer forma não há ainda como lançar todos esses shows diferentes na íntegra. Além de ser comercialmente inviável os lançamentos se tornariam excessivamente repetidos, pois apesar de toda a diversidade de repertório nessa primavera de 1975, os concertos de maneira geral pouco se diferenciavam entre si. A ideia de uma coletânea de temporadas e excursões realmente parece ser o único caminho viável para um selo como o FTD. No vácuo desse tipo de lançamento é que se constrói todo o mundo paralelo dos Bootlegs, com vasto material lançado todos os anos, trazendo aí sim, muitas vezes, os concertos na íntegra. Mas essa é uma outra história que ainda iremos tratar em futuros artigos. Vamos nos concentrar agora no CD Southern Nights, ótimo lançamento do selo FTD.

O CD começa com quatro versões retiradas das apresentações que Elvis realizou em Atlanta entre o final de abril e começo de maio de 1975. Do show do dia 30 de abril Ernst resolveu aproveitar That's All Right, It's Now Or Never e Help Me. Já do concerto realizado no dia 2 de maio foi acrescentada a canção Steamroller Blues. Se Nashville pode ser considerada a capital cultural do sul dos EUA, Atlanta, na Georgia, é a verdadeira potência econômica da região. Sua importância é tamanha para a economia daqueles Estados que ela é considerada a verdadeira força motriz do Sul. Não poderia ser diferente, pois essa cidade abriga a sede de algumas das maiores multinacionais do mundo, como por exemplo, a própria Coca-Cola. Tal polo comercial e financeiro nunca poderia ser ignorado pelo Coronel Tom Parker, até porque ele sempre considerava os shows de Elvis nessa cidade os mais importantes nessas turnês pelo Sul. A repercussão dos concertos em Atlanta seria sentida em todos os demais shows. Um concerto ruim em Atlanta significava um certo risco para o resto da turnê, pois um erro de Elvis nos palcos dessa cidade seria comentado e conhecido em todos os lugares e cidades sulistas. Por outro lado boas apresentações por parte de Elvis aqui sempre iriam gerar a repercussão oposta, ou seja, muita publicidade positiva nas cidades que ele visitaria depois. Se havia uma cidade vital nessas turnês de Elvis por todos esses Estados do sul, essa cidade se chamava Atlanta. O que Elvis faria ou deixaria de fazer em seus concertos em Atlanta iriam repercutir em todos os rincões do velho Sul norte-americano. Infelizmente, apesar de toda essa importância, Ernst Jorgensen não procurou destacar muito esses concertos. Ao invés de trazer mais faixas gravadas em Atlanta ele preferiu prestigiar as apresentações de Elvis em Huntsville nesse CD. De qualquer forma, mesmo com poucas versões presentes podemos ao menos ter uma idéia mais precisa de como Elvis estava nesses shows.

Os primeiros acordes de That's All Right são ouvidos e logo podemos perceber que, se levarmos essa versão como paradigma da apresentação, podemos facilmente chegar à conclusão de que Elvis estava bem nesses shows, principalmente porque esse CD nos traz sua voz com bastante nitidez e clareza. O arranjo é tradicional e sem surpresas. Já It's Now Or Never traz algumas novidades. A primeira coisa que notamos com facilidade é a mudança de sua velocidade normal e de sua linha melódica, fazendo com que ela fique bem mais lenta e terna. Um de seus maiores hits, "It's Now Or Never" seria cada vez mais presente em seu repertório nos anos finais, inclusive contando com os solos do vocalista Sherril Nielsen. E por falar nele, Help Me do disco "Promised Land", vem logo a seguir. Aqui temos um dueto entre Elvis e Nielsen. A combinação é interessante, pois sendo um barítono, Elvis se encaixa perfeitamente num "duelo" de vozes com seu colega de palco. Porém, se ficarmos atentos, vamos chegar facilmente à conclusão de que os melhores momentos da canção são justamente aqueles em que Elvis aparece sozinho ao microfone. Sua voz se sobressai com maior destaque e podemos nitidamente perceber que sua sensibilidade está realmente à flor da pele! De qualquer maneira não podemos deixar de reconhecer que essa é, sem dúvida, uma versão de alto nível. Infelizmente a parte "Atlanta" do CD conta com pouquíssimos registros nesse CD. Steamroller Blues, canção gravada dois dias depois, vem para encerrar a participação de Elvis na cidade da Georgia. Essa faixa é extremamente bem executada, com Elvis e banda totalmente entrosados. Segue muito de perto da versão do disco "Aloha From Hawaii", exceto com alguns solos mais destacados de piano e baixo. Mesmo assim não é algo que fuja muito do que já estamos acostumados a ouvir nas outras versões desse blues.

Depois de encerrar as quatro músicas gravadas em Atlanta o CD apresenta, de forma dispersa, vários momentos diversos de apresentações diferentes. Infelizmente Ernst as embaralhou completamente e para seguir uma certa lógica vou ignorar a ordem das canções do CD para organizá-las de acordo com o local e a data em que foram gravadas. Pura questão de organização. Vamos agora analisar as canções que foram gravadas em Macon no mesmo Estado da Georgia. Tenho certeza que você agora se lembrou do famoso verso de introdução de "I washed my hands in muddy water" que diz: "I was born in Macon, Georgia / They kept my daddy over in Macon jail...". Lembrou? Pois bem, continuemos, vamos seguir em frente com a análise. A versão Promised Land desse CD vem para confirmar um fato que se repete em vários outros shows de Elvis Presley nos anos 70. Embora essa canção de Chuck Berry tenha se traduzido em um dos maiores momentos da carreira de Elvis em estúdio naquela década, com uma versão fantástica e impecável, notamos que, com raríssimas exceções, as versões ao vivo desse rock sofrem de praticamente o mesmo mal: a falta de pique, garra e envolvimento por parte de Elvis ao cantá-la! Aqui o cantor se arrasta, não consegue entrar em sincronia com a banda e coloca seu vocal no controle remoto. Uma pena. A forma como foi gravada também não ajuda em nada, pois os teclados estão em primeiro plano, sendo que eles apenas são partes periféricas da canção e não deveriam ser expostos de forma tão destacada, superando e abafando até mesmo o resto da banda. Esse erro técnico no momento da gravação é facilmente explicado pois esse é um registro semiprofissional, sem os cuidados necessários e balanceamento correto entre os vocais e demais instrumentos.

Em decorrência disso notamos outro grande problema ao ouvir a versão: a orquestra simplesmente desapareceu na mixagem final! Para quem não gosta dos arranjos de metais isso pode até soar como um aspecto positivo, mas a descaracteriza como ela foi realmente pensada pelos arranjadores que estavam envolvidos na carreira de Elvis na época. Como nota favorável temos apenas a presença bem marcante dos solos de guitarra, que ao contrário dos metais, não desaparecem e cumprem excelente papel. Infelizmente James Burton também não está muito empolgado e sua participação soa burocrática. Não o culpo, se Elvis não se envolve em nenhum trecho da canção, por que ele se empenharia? Essa versão foi gravada no show realizado em Macon, Georgia, no dia 24 de abril. A outra canção presente nesse CD do mesmo show, Big Boss Man, parece confirmar que Elvis estava realmente pouco empolgado, embora nessa segunda canção ele esteja bem mais ligado na canção. O problema de faixas como Big Boss Man e Promised Land era que Elvis simplesmente não levava mais a sério esse tipo de música. Geralmente elas eram usadas apenas para evitar que o show caísse na monotonia. Uma forma de despertar e balançar o público para evitar que a apresentação ficasse muito parada. Acredito que se Elvis apenas fosse cantar o que lhe agradava nessa fase de sua vida ele certamente iria interpretar uma balada atrás da outra durante os shows, coisa que afinal de contas acabou fazendo em sua carreira dentro dos estúdios no final de sua vida. E por falar em baladas românticas, melancólicas e tristes, a retenção do show em Macon acontece justamente com It's Midnight. Aqui Elvis parece confirmar a tese de que ele realmente não estava mais preocupado em fazer boas versões de seus rocks mais conhecidos mas até que se empenhava, e muito, em disponibilizar belas versões de suas baladas românticas. Mesmo fora de seu ritmo normal, mesmo estando acelerada, "It's Midnight" mostra um Elvis finalmente envolvido na interpretação. Ao contrário das canções anteriores do mesmo show em Macon, aqui Elvis se mostra presente e não apenas cumprindo tabela. Embora seja outro erro técnico de gravação, a marcante presença da vocalização feminina, outra vez em primeiro plano, valoriza o belo vocal de Kathy Westmoreland. Belíssima voz e maravilhoso complemento a essa bela canção da fase final de Elvis.

Grande parte desse CD foi gravado em uma cidade de porte médio do sul, chamada Huntsville, localizada no norte do Alabama e bem na fronteira do Estado com o vizinho Tennessee, em cinco diferentes concertos realizados por Elvis nessa turnê. Essas apresentações nos dão uma idéia do ritmo acelerado e da estafante rotina de shows a que Elvis era submetido. Em apenas três dias ele subiu ao palco cinco vezes, sendo o primeiro show feito no dia 30, e mais quatro apresentações nos dois dias seguintes, sendo realizados dois concertos por dia, com Elvis se apresentando às duas e meia da tarde e depois subindo novamente ao palco para mais um show noturno às oito e trinta da noite. Todas essas apresentações foram realizados no mesmo local, o Von Braun Civic Center com capacidade para oito mil pessoas (o nome do ginásio se explica, pois a cidade sempre teve um passado muito ligado ao projeto espacial dos EUA). Aqui também temos uma ideia de como funcionava a mentalidade circense do empresário de Elvis, Tom Parker. Quando chegavam em uma cidade como essa, Tom Parker e seu assistente pessoal ficavam de olho, acompanhando o ritmo das vendas de ingressos. Se o show fosse esgotado e ainda houvesse público suficiente para uma nova apresentação o Coronel Parker não perdia tempo! Ora, se ainda havia público interessado em ver Elvis ao vivo não havia tempo (e dinheiro) a perder, o Coronel sempre arranjava um jeito. Ele logo providenciava uma maneira de não deixar a oportunidade de lucrar ainda mais passar por suas mãos. O plano inicial era de Elvis realizar apenas três shows noturnos na cidade. Porém como a procura de ingressos foi muito grande, o Coronel logo marcou mais duas apresentações no turno da tarde! Isso causava um sério problema para Elvis, porque assim ele praticamente ficava sem dormir, pois era justamente nesse horário vespertino que ele costumava dormir e descansar entre as apresentações. Mas para Tom Parker isso não tinha nenhuma importância, ele rapidamente marcava os shows e colocava suas velhas táticas de promoção em ação. Sua forma de vender os shows de Elvis não tinha mudado nada em mais de vinte anos ao lado do cantor.

O mais incrível é saber que a velha tática de promoção de Parker ainda se revelava eficaz nessas ocasiões. Basta ver o sucesso de público desses shows. Nada mudava e o empresário de Elvis sempre repetia a mesma estratégia, cidade após cidade. O Coronel alugava horários nas rádios locais para tocar exclusivamente músicas de Elvis, espalhava posters e até mesmo balões pela cidade, e anunciava seu show até mesmo em carros com alto falantes pela cidade e arredores. Se houvesse um circo na cidade o Coronel não perdia tempo e logo contratava uns malabaristas para promover o show de Elvis nas principais vias da cidade. Era uma loucura que sempre funcionava. O importante mesmo era faturar em cima do interesse de uma apresentação de um grande astro como Elvis Presley numa cidade como Huntsville, que muitas vezes ficava fora do circuito de concertos de grandes artistas da época. Talvez essa fosse realmente uma coisa correta que o Coronel fazia, levar Elvis para lugares que muitas vezes eram ignorados por outros astros. Levar o artista aonde o povo está! De qualquer forma esse tipo de atitude empresarial de Tom Parker se revelou acertada, pelo menos nessa ocasião. Vamos agora analisar as canções desses shows. O primeiro concerto em Huntsville foi realizado na noite do dia 30 de maio, mas infelizmente nada dessa apresentação inicial foi aproveitada no CD. Em compensação o segundo concerto foi muito bem explorada por Ernst Jorgensen. Desse show, realizado na tarde do dia posterior, foram retirados as seguintes músicas: Trouble, T-R-O-U-B-L-E, Hawaiian Wedding Song, Blue Suede Shoes e For The Good Times. Na primeira faixa desse show vespertino que ouvimos aqui, Elvis começa fazendo uma introdução da canção T-R-O-U-B-L-E: "We have a new record out, ladys and gentlemen, that has been out 2 or 3 weeks now, that’s called, T.R.O.U.B.L.E." mas logo muda de caminho e começa uma pequena versão de Trouble, velho sucesso de seu filme King Creole. Essa micro versão dura menos do que um minuto e nem deveria ter sido creditada na lista das músicas do CD.

Elvis logo a encerra de forma repentina (muito provavelmente por não se lembrar mais de sua letra) e começa finalmente a apresentar T-R-O-U-B-L-E, carro chefe de seu último disco, "Elvis Today". Embora comece bem a canção, lá pelo meio da canção surge um problema muito freqüente para Elvis em concertos dos anos finais de sua carreira, o esquecimento ou confusão nas letras. Aqui Elvis se enrola, ri, fica um pouco confuso mas resolve seguir adiante, aos trancos e barrancos! De qualquer forma, depois desse pequeno deslize (e outros erros que surgem no decorrer da faixa), Elvis se recupera bem e leva a canção de forma correta até o final, que também é bem interessante e foge um pouco da master oficial que conhecemos de estúdio. É uma versão apenas razoável e demonstra que apesar de sofrer às vezes com o esquecimento das letras, Elvis poderia se recuperar facilmente e disponibilizar material com certa qualidade quando se esforçava para isso. Pelo menos aqui ele está muito melhor do que na versão de Promised Land que já ouvimos (outro carro chefe presente nesse CD). A agradável Hawaiian Wedding Song surge logo a seguir e aqui Elvis apresenta uma bela versão, correta e sem máculas. Ele se desculpa com a plateia, que pede Blue Hawaii, e sai pela tangente apresentando essa canção do mesmo filme e com uma letra bem mais fácil para ele se recordar. Infelizmente ela é seguida de mais uma versão medíocre de Blue Suede Shoes dos anos 70. Novamente temos uma versão que dura pouco mais de um minuto, com Elvis não a levando a sério em nenhum momento e que, como já escrevi antes, só servia mesmo para acordar a plateia e chamar a atenção de todos que aquele que estava ali no palco era o mesmo Rei do Rock que virou a cultura mundial de ponta cabeça durante os anos 50. A canção é isso, um mero (e bem burocrático) memorando!

O melhor momento desse primeiro show em Huntsville vem com For The Good Times. Essa versão, além de ser bem rara, ainda traz um belo momento de Elvis, com vocalização sóbria e equilibrada e com um entrosamento quase perfeito com seu grupo. Sua semelhança e fidelidade de execução realmente é espantosa, pois está bem próxima da versão oficial. Elvis está sutil, concentrado e empenhando em fazer uma bela versão. O resultado não poderia ser outro: o melhor registro do CD até esse momento. Embora esse show da tarde seja bem na média, com poucos momentos realmente interessantes e que saiam do comum, ele ainda é considerado o melhor feito por Elvis naqueles três dias estacionado em Huntsville. Depois do primeiro contato com o público Elvis foi perdendo gradualmente o interesse nos shows seguintes, tanto que apenas duas canções do show noturno foram aproveitadas nesse CD. A primeira é I Can't Stop Loving You. Embora alguns tenham tratado essa versão com adjetivos exagerados como "maravilhosa" e "poderosa", temos que cair na real e chegar a conclusão que ela está bem na média de todas as outras versões que Elvis produziu dessa música. Aliás ela já estava totalmente saturada por essa época, tanto que Elvis a descartaria rapidamente a partir desse momento, talvez por não aguentar mais cantá-la em outras e repetidas vezes! Razoável, bem executada, tecnicamente boa, porém banal e rotineira.

Isso definitivamente não é o que acontece com I'm Leavin'. Que música maravilhosa, fantástica e bela! Essa canção é tão bonita que ainda me lembro da primeira vez que a ouvi, lá nos distantes anos 80! Definitivamente um das mais belas harmonias já cantadas por Elvis Presley. O registro dessa versão ao vivo é precioso por inúmeros motivos. O primeiro deles é o fato de Elvis quase nunca a apresentar em seus shows! Uma canção tão fantástica deveria ter sido mais explorada por Elvis em seus concertos ao vivo, mas nunca ganhou um papel de maior destaque ou se firmou em seu repertório de forma definitiva. Só podemos lamentar esse fato. Outro fator que torna essa versão especial é sua qualidade técnica. Podemos ouvir com certa nitidez todos os instrumentos, a orquestra, a banda TCB (com destaque especial para a bateria) e o vocal de apoio. Não é uma maravilha, até porque se trata de um soundboard, porém estamos bem próximos de uma qualidade técnica de alto nível sonoro. Por fim, o último fator que a torna especial é a própria interpretação de Elvis durante sua apresentação. Bem distante de sua postura de desinteresse e tédio que o acometia quando cantava seus antigos rocks, aqui Elvis se entrega totalmente ao lirismo ímpar da música. O resultado final é brilhante e a faixa é a melhor, sem nenhuma sombra de dúvidas, de todo o CD. Embora o restante do material de Huntsville não traga mais nada de novo e nem remotamente tão interessante como "I'm Leavin'", podemos ainda destacar algumas versões interessantes.

Release Me gravada na tarde do dia 1º de junho é uma delas. Embora não fosse nenhuma novidade, ainda era uma estranha no ninho no repertório de Elvis nesse ano de 1975. Aqui Elvis desacelera a velocidade normal da canção, o que a prejudica, pois seu ritmo correto, que foi utilizado na versão master do disco "On Stage", é muito mais satisfatório. A sensação que Elvis passa aqui é de estar com pouca vontade de levar em frente e terminar a música. Vale como registro. A outra canção retirada desse mesmo show da tarde é o clássico Heartbreak Hotel. Aqui Elvis repete o velho erro que quase sempre o acometia quando apresentava seus velhos sucessos dos anos 50. Ele se mostra pouco interessado, pouco envolvido, quase como se estivesse segurando o riso e na parte da execução se limita a murmurar preguiçosamente a letra. Elvis deveria ter mudado um pouco esse tipo de postura, não só em respeito ao seu público, como também ao seu passado, pois se não fossem todos esses clássicos ele certamente não estaria ali fazendo mais um show com lotação esgotada. De qualquer maneira o ponto positivo desse penúltimo show de Elvis em Huntsville é que ele apresenta uma boa sonoridade. Tecnicamente perfeita não é, nenhum CD ao vivo do selo FTD é perfeito no aspecto puramente de qualidade sonora, mas podemos perceber que pelo menos esse concerto em particular foi suficientemente bem registrado. Por fim chegamos nas três últimas canções retiradas das apresentações realizadas por Elvis nessa cidade, a saber: Polk Salad Annie, I'll Remember You e Little Darlin'.

Antes de iniciar Polk Salad Annie Elvis começa a canção Burning Love, porém a interrompe logo nos primeiros versos. A situação fica um pouco embaraçosa, principalmente depois que ele tenta se lembrar da letra e não consegue. Então sua vocalista começa a lhe passar a letra do primeiro verso, Elvis se enche um pouco daquela coisa toda e parte logo para Polk Salad Annie. Aqui podemos perceber que Elvis, depois de cinco shows seguidos, já estava um pouco de saco cheio. Ele nem insiste em tentar terminar (ou melhor dizendo começar) Burning Love, ele simplesmente a descarta! Aliás verdade seja dita, Burning Love nunca foi parte de sua lista de músicas preferidas, tanto que ele foi praticamente levado a gravá-la em estúdio e depois que ela se tornou um grande hit ele se viu na obrigação de apresentá-la nos concertos, mas quase sempre sem muito envolvimento e emoção. A versão de Polk Salad Annie desse último concerto em Huntsville é muito boa e interessante. Percebe-se claramente que Elvis se empenha em cantar direito, até mesmo para acabar com a má impressão deixada pelo fiasco de "Burning Love". Como as versões dessa época Elvis não apresentam a introdução falada e parte logo para a segunda parte da canção. Enfim, mais uma versão de "Polk Salad Annie" para a sua coleção das milhares de outras. O destaque maior fica mesmo com a participação da banda TCB e principalmente pelos solos do baixista Jerry Scheff (que chegou a tocar com os Doors em seu último disco, "L.A. Woman").

I'll Remember You, conhecida canção de seu show Aloha From Hawaii (como ele mesmo deixa claro no começo da execução) aparece de psraquedas no show. Essa música nem sempre foi muito utilizada por Elvis, porém as versões Off Aloha que conhecemos sempre mantiveram um nível satisfatório, tanto nos aspectos puramente técnicos como também de interpretação por parte de Elvis, sem dúvida era uma melodia que muito lhe agradava, tanto que sempre procurava apresentar belas versões para seu público. A última canção retirada dos shows em Huntsville é Little Darlin'. Essa canção era nova no repertório de Elvis e foi incluída por ser um símbolo dos anos dourados. Aqui Elvis certamente se posicionava como um artista nostálgico e o alvo era certo quando apresentava músicas como essa: seus antigos fãs dos anos 50. O mais interessante de quase todas as versões dessa canção é que Elvis quase nunca a levava muito à sério, sempre rindo ou tentando conter o riso, além disso ele sempre aproveitava a deixa para tirar uma onda em cima do arranjo "bons tempos" da famosa baladinha. Depois disso Ernst resolveu acrescentar as despedidas finais de Elvis para o público em Huntsville. O cantor agradece e é muito celebrado pelo público. Infelizmente um dos grandes pecados desse CD é justamente a desorganização em que as faixas foram colocadas, misturando canções gravadas em shows e apresentações diferentes! Deveria ter sido respeitado a ordem cronológica dos concertos, porém Ernst escolheu o caminho mais fácil de juntar tudo num só balaio para causar a falsa impressão de se estar ouvindo um show completo e não uma coletânea de momentos diversos de turnês específicas. De qualquer forma essa canção encerra a parte Huntsville do CD. São ao total doze canções retiradas desses quatro shows (lembrando que o CD não traz nenhuma faixa da estreia de Elvis nessa cidade).

Para quem quiser conhecer um pouco melhor esses concertos aconselho adquirir o Bootleg Huntsville'75 USA. Depois de explorar bem os shows realizados em Atlanta, Macon e principalmente Huntsville (que formam o esqueleto básico desse CD), Ernst Jorgensen resolveu completar o CD pincelando pequenos momentos de outras apresentações. De seu show em Mobile, por exemplo, Ernst resgatou uma versão de Bridge Over Troubled Water. Embora muito distante das versões da segunda temporada de 1970, consideradas as melhores de toda sua carreira, essa faixa é certamente razoavelmente bem executada e traz um Elvis inspirado em certos momentos. A velocidade da canção está bem fora de seu ritmo normal e apresenta oscilações rítmicas que soam, às vezes, desconfortáveis. Além disso ela não é tão bem gravada como tantas outras que conhecemos. Por outro lado Elvis parece estar envolvido, apesar de se segurar em alguns momentos para não forçar a voz. Apesar de todos esses pequenos problemas a versão ainda consegue se manter em um nível um pouco acima da média.

Do concerto realizado em Memphis no dia 10 de junho de 1975, Ernst resgata uma boa versão de Fairytale. Qualquer canção que fugisse do velho repertório cansado de Elvis por essa época era muito bem-vinda. Essa canção foi incluída para promover o último disco de Elvis, "Elvis Today" ("Elvis today, yesterday...however...tomorrow..." como brinca o cantor antes de começar a faixa). Aqui também notamos a guinada de direção que Elvis, de certo modo, promoveu em sua carreira de estúdio. Saem os rocks (tão presentes nos anos 50), as músicas pops (tão presentes nas trilhas sonoras) e entra as baladas e o country! Obviamente que em uma turnê no sul dos EUA Elvis tinha que caprichar nesse ritmo tipicamente regional, fato confirmado com Jambalaya gravada na pequena Lake Charles no dia 2 de maio! Aliás a inclusão de Jambalaya era muito oportuna, visto que ele estava na Louisiana, Estado vital na história de Hank Williams, cantor e mito do gênero gountry, morto precocemente. Pena que a versão dure pouco mais de trinta segundos!

A última versão pincelada de outros shows para completar o CD é Help Me Make it Throught The Night. Ela vem apenas para confirmar o que escrevi antes, da preferência visível demonstrada por Elvis pelas baladas countrys. A música tinha sido lançada três anos antes no disco "Elvis Now" e nunca conseguiu se firmar com maior frequência dentro do repertório de Elvis. A versão em estúdio deixa um pouco a desejar e essa versão ao vivo também. Apesar de ser bem raro para o fã médio ter essa música gravada nos palcos, percebemos nitidamente que ela é apenas razoável, sem grandes destaques. Elvis, apesar de rir um pouco no começo da execução, procura ser profissional no resto da faixa e a canta de forma correta. O fato é que podemos perceber que essa canção não funcionava muito bem ao vivo, pois era de levada mais intimista e calma, pouco apropriada para grandes concertos. De uma forma ou outra ela seria descartada pouco depois.

Conclusão final: Aconselho esse título especialmente para os fãs dos anos 70. Depois do Aloha From Hawaii Elvis entrou em uma etapa de sua carreira artística caracterizada por uma rotina, muitas vezes cansativa e tediosa, de shows ao vivo. Nenhuma dessas temporadas em Las Vegas ou turnês pelos EUA representavam mais qualquer tipo de desafio para Elvis Presley, porém mesmo estando de certo modo preso dentro dessa situação de muitos shows e pouca renovação musical, ele ainda se empenhava em fazer boas apresentações e concertos, como esses que ouvimos aqui. Obviamente todos esses registros foram selecionados a dedo por Ernst Jorgensen, certamente eles nos trazem apenas o que de melhor Elvis apresentou para seu público, mas isso já é suficiente para termos uma ideia de sua vida artística no período. Para quem quiser se aprofundar nessas apresentações o melhor caminho a seguir mesmo é o dos lançamentos não oficiais, os conhecidos Bootlegs, tanto soundboards (gravados diretamente da mesa de som usada nos concertos) como audiences (gravados pelos próprios fãs que assistiram ao show, diretamente da plateia), porém como já escrevi aqui antes, essa é uma outra história... Até a próxima, prezado leitor.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - A Minnesota Moment

Quando o selo FTD anunciou que lançaria mais um CD gravado ao vivo por Elvis em 1976 muitos fãs reclamaram. Bom, eu sou do tempo em que os fãs reclamavam quando não era lançado nada de novo e não quando se lançava material em demasia, mas enfim, os tempos são outros. O argumento dos insatisfeitos com o lançamento desse A Minnesota Moment era de que já havia sido lançado CDs demais desse ano, que nem pode ser considerado um dos mais brilhantes da carreira de Elvis. Em certo sentido eles tem razão. Embora haja um certo "excesso" de soundboards de 76 o fato é que em muitos deles ouvimos um Elvis Presley passando por dificuldades em realizar bons concertos, com problemas de voz e saúde e mostrando cansaço nos concertos. A Minnesota Moment é infelizmente um título que confirma essa regra.

Elvis está visivelmente fora de ritmo, cansado, demonstrando pouco interesse e empolgação. Sua voz também não brilha como em tantos outros bons momentos que conhecemos. Ao ouvir esse concerto de Minneapolis percebemos como Elvis precisava urgentemente de uma pausa na vida da estrada. Em alguns trechos das canções a voz dele simplesmente se omite, passando trechos inteiros em branco. Nas canções dos anos 50, que sempre necessitam de um pique a mais, Elvis escorrega e deixa praticamente todo o trabalho duro para a banda e seus vocalistas de apoio. Ele soa tão incrivelmente exausto e desinteressado que nem brinca com o público entre as músicas. A versão de Early Morning Rain, por exemplo, é simplesmente ridícula. Posso dizer que esse é um dos registros mais fracos de Elvis no palco que conheço. Péssimo.

Em termos de qualidade sonora também se nota vários problemas. O Soundboard não foi bem gravado, o grupo está abafado e muitos instrumentos estão simplesmente inaudíveis. O ponto positivo é que de certa forma assim a voz de Elvis se destaca mas como já escrevi antes, como esse show é nem um pouco brilhante, quase nada resta para se elogiar. As canções gravadas em Dayton são bem melhores, Elvis pelo menos demonstra interesse, o que já é uma grande coisa. Não são tecnicamente boas mas se compararmos com a preguiçosa performance em Minneapolis as faixas são bem superiores. Talvez seja o momento do selo FTD procurar outros caminhos, explorar novos aspectos da carreira de Elvis e dar um tempo em gravações medianas ou fracas como essa. O ano de 1976 realmente deve ser deixado um pouco de lado principalmente após o lançamento desse e do anterior, também extremamente decepcionante, América. Vamos aguardar por bons lançamentos daqui para frente então.

Elvis Presley - FTD A Minnesota Moment 
01. Also Sprach Zarathustra
02. See See Rider
03. I Got A Woman/Amen
04. Love Me
05. If You Love Me
06. You Gave Me A Mountain
07. Jailhouse Rock
08. All Shook Up
09. Teddy Bear/Don't Be Cruel
10. And I Love You So
11. Fever
12. Steamroller Blues
13. Introductions/Early Mornin' Rain
14. What'd I Say/Johnny B. Goode
15. Love Letters
16. School Days (Dayton, Oct. 26)
17. Hurt (Dayton, Oct. 26)
18. Hound Dog
19. One Night
20. It's Now Or Never
21. Mystery Train/Tiger Man
22. Funny How Time Slips Away
23. Can't Help Falling In Love
24. Fairytale (Sioux Falls, Oct. 18)
25. America (Sioux Falls, Oct. 18)
26. Hawaiian Wedding Song (Dayton, Oct. 26)
27. Blue Christmas (Dayton, Oct. 26)
28. That's All Right (Dayton, Oct. 26)

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Elvis Presley - Unchained Melody

Elvis Presley estava tão deteriorado em 1977 como lemos em algumas biografias? Essa é uma pergunta chave e começo meu texto justamente com ela. Hoje os registros de Elvis nesse fatídico ano estão à disposição de todos. Praticamente cada show do cantor está devidamente documentado em áudio, seja em gravações realizadas por seus próprios fãs, seja por espertos engenheiros de som que não deixaram passar a oportunidade de registrar os concertos do cantor, além é claro de todas as gravações ao vivo feitas pela própria RCA Victor na época. Ao ouvir todo esse grande acervo musical, que teve a grandeza de plastificar para a eternidade o trabalho desenvolvido por Elvis em seus anos finais, chego a conclusão que, no que diz respeito a aspectos puramente profissionais, existe muito exagero nas descrições de um Elvis mal se contendo em pé, praticamente se arrastando pelos palcos pelo qual passou em seu ano final. Não é bem por aí. Embora realmente existam concertos em que Elvis aparenta estar cansado ou até mesmo fora de ritmo, temos que reconhecer que, em grande parte do tempo ele se mostrava tão profissional quanto possível e procurava dar sempre o melhor de si, mesmo sob condições adversas de saúde. Muitos não levam em conta, por exemplo, a inacreditável maratona de apresentações a que ele submeteu, sendo claro que qualquer pessoa sentiria ou deixaria transparecer durante os shows certo cansaço e por que não exaustão! Então é isso, simplificações sempre devem ser evitadas. Diante das condições que sofria posso até mesmo afirmar que Elvis estava muito bem. Claro, havia toda a série de problemas que tão bem conhecemos, mas pense um pouco: Quantos profissionais conseguiriam manter sua capacidade de trabalho com tantos problemas de saúde e pessoais como os que Elvis vinha enfrentando? Certamente muito poucos. Por essa razão eu convido todos a ouvir com atenção esses últimos registros. Que tal tirarmos nossas próprias conclusões? Convite aceito, vamos ao CD, mais um belo lançamento do selo FTD.

O ano de 1977 começou para Elvis com compromissos em estúdio. Felton Jarvis planejava levar Elvis de volta à Nashville para novas gravações. O grupo foi reunido, o estúdio ficou pronto para as sessões mas Elvis nunca apareceu. Isso desapontou muito seu produtor pois ele estava convencido que gravar em Graceland era sempre uma má ideia. Além de não ser adequado e não contar com as condições técnicas necessárias o fato de se gravar canções em casa soava amador demais em sua visão. Gravar em Graceland era tão precário que bem no meio da música a gravação poderia ser arruinada pelo toque do telefone ou pelos latidos do cachorro como bem podemos ouvir no FTD "The Jungle Room Sessions". Felton Jarvis tinha plena razão, levar Elvis ao estúdio de Nashville era não só necessário como imperativo antes de se lançar um novo álbum. Para Jarvis as gravações de Graceland tinham de ser mescladas com gravações realmente profissionais feitas nos estúdios adequados daquela cidade. Porém, infelizmente, o tão sonhado álbum "profissional" idealizado por Felton Jarvis ficou apenas no projeto. Apesar de ter concordado com a RCA em ir gravar na cidade de Nashville logo após seu aniversário e ter garantido a Felton que estaria no estúdio para gravar novas canções, Elvis simplesmente não apareceu para cumprir suas promessas. Provavelmente Elvis não apareceu por estar realmente exausto. Em 1976 ele cumpriu uma maratona de shows impressionante. Apesar de realizar uma temporada apenas mediana em Las Vegas no final daquele ano o cantor não entrou férias durante as festas de fim de ano. Novamente se apresentou durante o réveillon e praticamente passou o dia de ano novo dentro de seu avião cruzando os céus dos EUA. Isso vem para reforçar ainda mais o que escrevi antes: o excesso de compromissos, um atrás do outro, debilitaria qualquer artista, tenha ele ou não problemas de saúde como os que Elvis vinha enfrentando em 1977. De qualquer forma as sessões foram canceladas por tempo indeterminado e Elvis saiu em turnê.

A grande maioria das canções desse CD foi gravada justamente em Charlotte na Carolina do Norte durante essa sua primeira turnê em 1977. Essa é uma típica cidade do interior dos EUA, sendo considerada naqueles anos de médio porte. Elvis assim pelo menos estaria um pouco fora da rota das pequeninas cidadezinhas no qual colocou seus sapatos de camurça azul durante os anos 70. Isso por si só já era um avanço. Aliás essa turnê, a primeira que Elvis realizou em 1977, foi bastante interessante. Apesar de ter sido um curto compromisso Elvis fez boas apresentações. Nessa cidade Elvis fez dois concertos, os últimos da turnê, com uma plateia estimada em 12.000 pessoas. Esse dado por si só já é bastante curioso. Isso porque essa foi uma turnê de altos e baixos em termos de bilheteria. Em Columbia, só para termos uma idéia, Elvis levou mais de 20 mil pessoas ao seu show. Em compensação em West Palm Beach Elvis levou apenas 5 mil pessoas ao seu concerto, sem dúvida um número nada razoável para Elvis fora de Las Vegas! [1]. Claro que temos inclusive de levar em consideração a estrutura física dos próprios locais onde os shows foram realizados, mas de qualquer forma não deixa de ser uma montanha russa em termos de vendas de ingressos. Numa noite Elvis levantava uma ótima bilheteria para já no dia seguinte receber uma plateia bem mais modesta. De qualquer forma seus dois últimos shows em Charlotte foram bem recompensadores nesse aspecto. Pois foi aqui que a maioria das canções desse CD foram gravadas há mais de trinta anos. As demais músicas que foram inseridas por Ernst, por sua vez, já era bem conhecidas dos fãs e colecionadores. O show em Charlotte do dia 21 de fevereiro, por exemplo, já tinha sido lançado antes no conhecido bootleg "Moody Blue & Other Great Perfomances".

Outro CD, "Cajun Tornado" do selo Madison, também já tinha trazido à tona algumas canções dessa mesma apresentação [2]. Enfim, podemos perceber claramente que essa "coletânea" de gravações ao vivo do selo FTD nem é assim uma grande novidade, mesmo trazendo grande parte do show do dia anterior nessa mesma cidade. A falta de novidades também fica bem nítida ao compararmos os dois concertos. As duas apresentações são extremamente semelhantes e carecem de grande diferença. Apesar de tudo isso, não podemos deixar de levar em consideração que lançamentos ao vivo com Elvis Presley nunca são em demasia, ainda mais para quem é fã de longa data. Devo confessar que sempre gostei muito dos CDs gravados em shows realizados por Elvis no ano de 1977. Deles, Spring Tours do selo FTD ainda é o melhor na minha opinião. Melhor até do que a trilha sonora do especial Elvis in Concert [3]. Por essa razão é um grande prazer tecer diversos comentários sobre mais um lançamento do selo FTD enfocando o trabalho de Elvis nos palcos durante seu último ano de vida. A primeira constatação é que, assim como sua vida pessoal, o concerto é uma montanha russa com altos e baixos e vamos percebendo isso com clareza durante toda a audição. Logo na primeira canção já temos uma pequena ideia do que estar por vir. O CD infelizmente começa com Love Me. Por que infelizmente? Simples. Essa é uma das mais fracas versões de Love Me que já ouvi. Elvis parece estar sem fôlego, cansado, desinteressado. Em certos momentos o cantor parece mesmo com preguiça de cantar os versos (realmente alguns passam em branco mesmo, com Elvis perdendo a deixa para sua parte!). O grupo vocal se esforça, tenta cobrir os buracos, mas não há como disfarçar. Ao ouvir essa primeira música ficamos com a impressão que o resto do concerto vai ser um desastre. Afinal se Elvis está tão mal assim no comecinho do show imagine o resto! Ainda bem que o concerto de Charlotte, onde as primeiras quatorze faixas desse CD foram gravadas, ainda tem muito a oferecer.

As coisas começam a melhorar exatamente na faixa a seguir. Fairytale é um country agradável, simples porém bastante interessante para Elvis, principalmente quando ele saía em turnê por pequenas cidades do Sul. Claro que em nenhuma hipótese seu público iria esquecer que estava diante de um grande pioneiro do Rock, porém quanto mais concessões fossem feitas para os sulistas, melhor. Esse aliás é um ponto pouco entendido por pessoas que escrevem sobre os anos finais de Elvis. Muito já foi escrito sobre o fato do cantor ter virado as costas para o ritmo que o consagrou mundialmente. É uma simplificação. Temos que ter em mente o contexto histórico de um intérprete sulista cantando para um público também sulista. Como ignorar Nashville e toda sua tradição country ainda mais quando a cidade foi tão marcante para Elvis em estúdio? Simplesmente impossível. Todos que afirmam que Elvis virou um cantor chato e country no fundo apenas desconhecem toda sua carreira. É fato que Elvis cantou canções da terra em todos os períodos de seu estrelado, até mesmo na sua fase mais rocker. De fato, a próxima canção apresentada por Elvis, You Gave Me A Mountain, de certa forma serviria muito mais de munição para os críticos do cantor. Afinal, onde já se viu um artista denominado "Rei do Rock" apresentar tamanho dramalhão? A canção, para muitos, é considerada extremamente dissonante do legado artístico do astro. Outra simplificação boba. Certamente ela realmente possui uma estrutura rítmica que evoca grandiosidade excessiva de arranjo (principalmente metais) para se impor e causar impacto! Clichê? Pode ser, porém seu grande mérito é sem dúvida o fato de proporcionar belíssimas oportunidades para que Elvis soltasse o vozeirão! "Mountain" é uma música barroca, vamos dizer assim. É excessiva, descabelada, despudorada, porém nunca irrelevante. Aqui temos uma bela versão do cantor, não há dúvidas. Bem executada com Elvis apresentando uma seriedade cada vez menos presente em seus últimos momentos.

E para os eternos "órfãos" dos anos 50, Jailhouse Rock vem logo a seguir. Interessante que "Jailhouse" acabou sendo muito presente no último ano de vida de Elvis. Certamente essas versões apresentadas por Elvis pouco, ou nada, tinham da mitológica gravação dos anos 50. Aliás Elvis demonstrava duas coisas quando apresentava Jailhouse Rock em seus últimos concertos. Primeiro que o pique e a forma original de interpretá-la tinham realmente ficado para sempre em um passado distante, para ser mais exato em 1957. Essa canção, que sempre foi considerada um dos maiores registros de Elvis em estúdio durante os mais gloriosos anos de sua carreira, acabou virando, infelizmente, apenas uma pálida lembrança nos palcos durante os anos 70. A segunda constatação a que chegamos é que esse novo arranjo, típico da última década da carreira de Elvis, de certa forma estragava seu ritmo e arranjo originais a deixando desfigurada. E por falar em estragar antigos clássicos, nada era mais equivocado do que a introdução inicial de Sherril Nielsen em O Sole Mio / It's Now Or Never. Interessante é o fato de saber que Elvis adorava a vocalização de seu cantor de apoio. Aliás o Voice, grupo exclusivamente vocal formado por músicos que estavam desempregados naquela época foi pensado, formado e arranjado inteiramente por Elvis. Então se alguém é culpado aqui é o próprio Rei do Rock. No tocante a interpretação de Elvis temos que constatar que ele aqui está mais desinteressado e entediado do que o habitual. Perceba como Elvis pouco se importa em disponibilizar uma boa interpretação, muito pelo contrário. Elvis perde a deixa várias vezes, resmunga alguns versos e solta risadinhas durante toda a execução, não se sabendo se ele está rindo de alguma piada ou da própria música em si. Esse tipo de comportamento, inofensivo de uma forma geral, acabava dando farta munição para seus críticos. Não era outro o argumento daqueles que atacavam Elvis em seus últimos anos ou que o chamavam de "uma paródia de si mesmo"! Para esses articulistas a atitude de Elvis em não levar alguns de seus antigos grandes sucessos como "It's Now Or Never" a sério, só servia mesmo para confirmar a tão falada "decadência" do cantor. Não chegaremos a tanto.

Na verdade Elvis, muitas vezes, nem mesmo se levava a sério. Era mais um aspecto de sua personalidade, tanto nos estúdios como no palco. Definitivamente era mais uma postura do que um sintoma de que algo estava seriamente errado com ele. De qualquer forma temos que reconhecer que essa é realmente uma versão muito fraca, tanto do ponto de vista do grupo Voice como de Elvis, sendo que o arranjo também nada acrescenta, haja vista o já tão reconhecido exagero por parte dos metais, o que levou um jornalista da época a perguntar de forma irônica em seu artigo se "as cornetas no show de Elvis estavam lá apenas para estourar nossos tímpanos ou exerciam alguma outra função?" Apesar da ironia não deixa de ser uma pequena verdade. Little Sister demonstra um Elvis à vontade no palco. Brincando e interagindo com a plateia ele até que disponibiliza uma boa versão da canção, praticamente completa e bem executada. Apesar de brincar muito antes de começar a cantar Elvis até que se segura e a canta bem. Aliás fazendo uma rápida comparação com duas outras versões bem conhecidas dos fãs chegamos facilmente a conclusão que essa realmente é uma das melhores. No álbum Elvis in Concert, por exemplo, temos uma versão gravada em Omaha no show do dia 19 bem mais inferior, pesada (no sentido de ser arrastada), sem fluidez e que dura pouco tempo. Aqui nem o som consegue soar melhor.[4] A outra versão bem conhecida é a do FTD Spring Tours 77. Embora seja melhor do que a do disco In Concert, essa versão peca por ter pouco pique, pouca garra. Enfim, a Little Sister desse álbum se mantém bem acima da média. Teddy Bear / Don't Be Cruel vem logo após para confirmar a saturação de seus antigos clássicos executados durante os anos 70. Embora as melodias fossem imortais e mantivessem o velho brilho o cantor nem sempre se esforçava. Elvis parece disperso, distraído, pouquíssimo envolvido. Em certos trechos novamente notamos toda sua má vontade: excesso de risinhos, trechos passando em branco, vocalistas de apoio tentando dar conta do recado e Elvis totalmente desinteressado. Nem os acordes mais do que clássicos de "Don't Be Cruel" conseguem animar o cantor. Como um fã incondicional dos anos 50 realmente fico muito chateado com o suposto desprezo que Elvis dispensava para todas essas canções que um dia mudaram o mundo e o transformaram no mito que ele foi.

Sinceramente acredito que se Elvis não estava mais no velho espírito roqueiro que as dispensasse de uma vez e se concentrasse mais em canções como My Way, que vem logo a seguir. Aqui temos uma bela versão, corretamente interpretada. De todas as canções essa talvez fosse a mais sintomática do que Elvis vinha passando em sua vida pessoal. O recado estava dado, Elvis certamente se identificou com o teor e conteúdo da letra, trazendo em sua interpretação certamente uma forte dose de verdade sobre o que pensava, sonhava e sentia o antigo ídolo de uma geração, agora prestes a enfrentar seu destino de uma vez por todas. Depois de seu final apoteótico caímos na faixa denominada Moody Blue (intro only). Sinceramente não entendo certas atitudes de Ernst, por exemplo. Já que o concerto não está completo por que afinal de contas apresentar um trecho como esse, que nada acrescenta e só depõe contra Elvis e seu estado? Aqui temos o cantor perdido, sem saber a letra de sua nova canção, levemente constrangido, insinuando uma piadinha atrás da outra para disfarçar o fato de não conseguir executar uma canção como Moody Blue. Enfim, totalmente desnecessária. Quer um conselho? passe adiante, direto para a faixa seguinte. Agindo assim não estarás perdendo absolutamente nada. How Great Thou Art e Hurt, as duas canções que vem logo a seguir, nos chama a atenção para um vício muito comum em certos intérpretes. É aquilo que denomino "Overact", um estrangeirismo que significa interpretar com extremo exagero, com a única finalidade de se causar impacto em quem ouve a música. Um leigo diria que seria o ato de um cantor "gritar" para impressionar a plateia ao invés de "cantar" com sentimento verdadeiro. Isso é muito comum hoje em dia, principalmente na nova geração de cantoras que estão por aí. É um vício muito comum, que só "impressiona os impressionáveis" como diria um grande amigo que tenho. Pois Elvis também peca em certos registros que ouvimos. De suas canções essas duas eram as que mais sofriam desse tipo de problema. Principalmente no final da vida percebemos que Elvis muitas vezes exagerava, estourando as caixas de som. Aqui até que temos uma certa moderação por parte do cantor, coisa que certamente não acontece quando ouvimos certos bootlegs em que Elvis realmente perde o tom certo.

Hurt está contida e bela, com Elvis dispensando risinhos na parte falada (o que já é um ponto positivo) e levando a canção até um final razoável com direito a um pequeno bis do verso final (com leve "overact", é bom frisar). Já How Great Thou Art sofre nesse aspecto um pouco mais. Até hoje não consegui achar uma versão melhor do que a que está no álbum oficial gravado ao vivo em Memphis em 1974. Algumas outras versões são ruins, outras exageradas, sendo que o tom certo, exato e líquido, foi realmente encontrado naquele disco (não me causa surpresa o prêmio Grammy por interpretação tão inspirada). Já essa versão que está presente nesse CD fica na média, nem medíocre e nem muito menos brilhante. Posso até mesmo afirmar que apesar do "grito" dado por Elvis na evocação divina ele claramente se poupa e se posiciona na defensiva, poupando a voz. Estaria a plateia bem mais apática do que costume aqui nessa apresentação? Complicado chegar a uma conclusão pois bem sabemos que o melhor tipo de CD para se saber com exatidão como estava o estado mercurial de um público são justamente aqueles gravados no meio do público (os já citados "audiences"). A próxima música apresentada, Hound Dog, é medíocre. Ponto final. Poderia exclamar ou desenvolver o tema, porém como avaliar uma interpretação tão preguiçosa e sem envolvimento como essa? O único mérito parte de seu grupo, visivelmente encobrindo as falhas de Elvis em sua descuidada performance. Felizmente Elvis se reabilita com Unchained Melody logo em seguida. Como sempre uma bela versão, mesmo que Elvis a interrompa de forma desnecessária. De qualquer forma ele recomeça sua famosa virtuose ao piano! Virtuose?! Será mesmo?! Temos que levar essa expressão em seus devidos termos. É certo que Elvis não era um grande instrumentista. Tocava violão e guitarra apenas razoavelmente, chegou a estudar baixo elétrico durante os anos sessenta e ao piano conseguia tirar algumas notas.

Não era um músico que dominava a técnica em graus elevados, era um instrumentista apenas amador para dizer a verdade. Em "Unchained" temos uma boa amostra de Elvis ao piano. Notas simples, com trechos repetitivos, nada muito espantoso. Se há um grande mérito nessas versões dessa canção ele se resume ao fato de Elvis realmente tentar apresentar algo de novo, algo inovador (mesmo que a música em si não fosse inovadora, haja vista ter sido lançada anos antes!). Certamente me refiro mais ao fato de Elvis quebrar um pouco a estrutura de seus concertos pois só o fato de se sentar para tocar piano já era uma grande novidade para quem acompanhava suas performances. Can't Help Falling In Love vem, como sempre, para encerrar a parte do CD que traz o concerto de Elvis Presley em Charlotte. Essa que talvez tenha sido uma das poucas reminiscências dos trágicos anos em Hollywood aparece em uma versão que pode ser qualificada de mediana para medíocre. Apesar de muitos alegarem problemas técnicos a verdade parece ser simplesmente o fato de ouvirmos um Elvis exausto e totalmente sem fôlego para sequer acompanhar seu grupo. A maior parte da canção traz um Elvis sufocado e ausente, sendo que dessa vez temos nitidamente um cantor fora de ritmo, enquadramento e sintonia. O grupo vocal tenta tapar os buracos, mas não há como encobrir o sol com uma peneira. Elvis parece que desperta no meio da música para novamente desaparecer depois. Um dos mais fracos momentos do artista que já ouvi em minha vida. Um triste epílogo para esse show, que quero frisar não é ruim, mas sim rotineiro. Fica na média do que Elvis vinha apresentando naquela turnê.

(Bonus Tracks - Other Shows on the Tour): Depois das versões do show em Charlotte chegamos finalmente nas versões pinceladas por Ernst para completar o CD. Aqui ele resgata canções de Elvis em outros concertos, todas já lançadas anteriormente em diversos bootlegs. Sem grandes novidades essa "salada" fica como um tira gosto para que o freguês corra atrás do restante do material em sua íntegra, pois como todos sabemos a "ocasião faz o colecionador". Também cumpre o papel de "oficializar" o que já estava por aí há anos nas mãos dos colecionadores conceituados. Para os marinheiros de primeira viagem certamente são pequenas pérolas perdidas que vão despertar grande emoção. Veja o caso de Moody Blue. Não é todo dia que o fã comum tem oportunidade de ouvir uma versão ao vivo dessa música. Gravada também em Charlotte, mas no show do dia 21 de fevereiro, ela já tinha sido lançada antes no CD "Moody Blue & Other Great Perfomances". Aqui, como se trata de uma nova música, Elvis pede desculpas e utiliza da letra no palco para não errar. Bom, não pega bem, mas como o que nos interessa mesmo é ouvir a gravação em si, isso realmente não tem a menor importância. Elvis se empenha e apresenta uma boa versão, sem grandes erros (exceto uma pequena falha na terça parte final da música!). Mas, mesmo errando com a letra em mãos (como pode acontecer uma coisa dessas?) Elvis consegue levar bem até seu final. É uma novidade dentro do cansado repertório e por isso leva todos os méritos, independente de falhas de execução e letra. Enfim desconsideremos tudo, mesmo que ela seja tocada um pouco fora de sua velocidade normal, isso também não importa, pois o que vale aqui é ouvir Moody Blue ao vivo e só. Blueberry Hill e Love Letters foram gravadas no mesmo concerto realizado em St. Petersburg (uma cidadezinha nos EUA e não a famosa cidade russa). A curiosidade sobre a primeira é o fato de Elvis tocar algumas notas ao piano de sua introdução. Detalhe: já tínhamos ouvido algo nesse estilo no CD "Electrifying" do selo Bilko em 1997 [5].

A segunda canção, Love Letters, foi umas das raras músicas gravadas duas vezes por Elvis em estúdio durante sua carreira. Definitivamente a primeira versão, dos anos 60, ainda é a melhor na minha visão. Mesmo que não tenha tanta fluidez, a melodia e a interpretação de Elvis nesse primeiro registro nunca foi superada depois. A versão dos anos 70, apesar de ter dado título a um disco de inéditas de Elvis, não consegue trazer maiores inovações ao da primeira versão. É apenas uma releitura tardia (e para muitos inútil) de uma música que já tinha encontrado a versão definitiva na voz de Presley. Nesse registro ao vivo Elvis promove estranhas entonações, que apesar de curiosas, não contribuem para enriquecê-la de qualquer forma. Não resta dúvidas que podemos encontrar outros registros de palco bem melhores do que esse. Nessa altura todos sabemos do apreço de Elvis por canções religiosas. Where No One Stands Alone aparece aqui em rara versão ao vivo apenas para confirmar esse fato. A canção surgiu na discografia de Elvis no disco How Great Thou Art em 1967. Esse trabalho sacro foi extremamente importante para Elvis por causa do contexto histórico em que foi lançado. Naquele ano Elvis vinha de um longo declínio artístico, em baixa, com todos os críticos questionando sua verdadeira relevância musical. Os filmes e suas trilhas sonoras tinham, sem dúvida, aberto uma fenda no prestígio de Elvis como artista. How Great Thou Art foi um oásis de qualidade em um período de deserto criativo dos projetos que Elvis vinha apresentando ao seu público. Com ele Elvis ganharia o Grammy, prêmio pelo qual já havia sido indicado muitas vezes, sem obter vitórias, porém. A canção "Where No One Stands Alone", na verdade uma releitura da original de Mosie Lister, de certa forma não se destacou tanto assim dentro do conjunto desse trabalho, porém parece que fincou raízes profundas no espírito religioso de Elvis. Algumas peculiaridades chamam nossa atenção na versão de 1967. A primeira é a qualidade dos arranjos, com destaque para uma bonita dobradinha "piano e órgão".

Além disso Elvis exibe um belo vocal, extremamente concentrado e entrosado com os vocalistas de apoio. Dez anos depois Elvis a relembrou, meio que por acaso, durante sua apresentação na cidade de Montgomery, nesse mesmo mês de fevereiro de 1977. Elvis avisa que "nunca apresentou essa música no palco antes em sua vida". Após falar algumas palavras sobre as canções gospel e apresentar os vocalistas J.D. Sunmer e Nielsen do Voice, Elvis inicia sua versão ao vivo. Infelizmente não temos aqui uma versão tecnicamente isenta de falhas. O registro apresenta a marca dos tempos. No quesito puramente de talento Elvis se supera. Percebemos nitidamente como Elvis está envolvido, a cantando de forma envolvente e carismática, mesmo que demonstrando, em certos trechos, uma pequena, mas perceptível, perda de fôlego. Infelizmente essa versão ao vivo não tem também a preciosa qualidade de arranjo do disco original de 1967, como por exemplo a ausência do órgão típico desse tipo de canção, sendo substituído apenas pelo piano. Mas isso não lhe tira seus inegáveis méritos musicais. Acredito inclusive que o CD deveria levar como título o nome dessa canção e não Unchained Melody, que era bem mais comum nos concertos durante essa fase. Aqui temos sem dúvida o melhor momento do CD, não só pela boa e bela interpretação de Presley como também pela raridade envolvida em se ouvir o cantor a apresentando em seu ano final. Release Me e Trying To Get To You foram gravadas em Columbia no dia 18 de fevereiro de 1977. Após mais um piadinha Elvis dá a deixa para o grupo, que meio desencontrado é certo, dá início a uma versão lenta demais e para falar a verdade muito preguiçosa e desanimada. Dessa vez a culpa talvez nem seja do cantor mas sim de seu grupo de apoio que está letárgico. Tente ouvi-la e depois compará-la com a versão do "On Stage - February 1970". A diferença é abissal, algo como comparar um arranjo cheio de energia e vitalidade com um momento de sonolência lírica. Bem abaixo da média, apesar de Elvis não errar a letra e não soltar nenhuma brincadeira em sua execução. Já Trying To Get To You está na média. Nem muito inspirada e nem muito menos medíocre. Apesar de ser uma canção dos anos 50 Elvis pelo menos demonstrava certo respeito quando a cantava ao vivo, coisa que quase nunca acontecia com seus rocks clássicos, por exemplo.

Depois delas retornamos novamente ao concerto de Charlotte realizado no dia 21 para encerrar o CD com duas canções retiradas dessa mesma apresentação. A primeira delas, Reconsider Baby, nos chega em uma versão que já é bem conhecida, certamente. Considero esse blues, quando bem tocado e cantado, à prova de falhas. Aqui por exemplo temos um dos pontos altos desse CD. Se em Release Me temos um desempenho medíocre da banda de Elvis aqui temos um show do guitarrista James Burton que nos proporciona um excelente solo de seu instrumento, substituindo à altura o sax de Boots Randolph da versão original. Se tenho uma crítica a lhe fazer é o fato da música ter uma duração pequena, porém isso não importa no saldo final, pois a performance de Elvis fica aqui bem próximo de seus melhores momentos nos palcos durante 77. Após um blues visceral como Reconsider somos levados para o lado mais sacro da veia musical de Elvis Presley. Se em Where No One Stands Alone Elvis está visivelmente envolvido e concentrado, em Why Me Lord, a terceira versão gospel do CD, Elvis está mais disposto a brincar com J.D. Sunmer do que a cantar de forma extremamente profissional. As brincadeiras em Why Me Lord já vinham de longa data. Quase sempre Elvis aproveitava para se divertir um pouco. Aqui, apesar de se conter um pouco mais, Elvis a interrompe apenas para começar com suas conhecidas brincadeirinhas, fazendo uma vozinha fina, muito engraçada. J.D. não se contém e começa a rir. Quando pensamos que a versão está perdida Elvis a reconduz para um final precioso - o que só vem a demonstrar que mesmo nos momentos em que exibia seu ótimo bom humor Elvis podia passar sentimentos reais de fervor religioso. Até porque sua fé nunca foi motivo de controvérsia entre os autores.

Conclusão: Estamos na presença de mais uma coletânea de canções ao vivo. Assim como ocorreu em outros títulos (como por exemplo, Southern Nights) Ernst segue o mesmo esquema básico: grande parte de um show em particular, acrescidas de canções interessantes retiradas de outros concertos. O mais curioso é notar que, por simples raciocínio lógico, chegamos facilmente à conclusão de que temos material bastante farto desse período, até porque foram necessários pelo menos outros quatro soundboards para completá-lo. Assim cai por terra as afirmações que tudo o que havia de inédito sobre Elvis já foi lançado ou está prestes a chegar ao fim. Quem já ouviu obscuras versões de registros inéditos sabe do que estou falando. Mesmo que em sua estrutura Ersnt esteja chegando a um modelo básico notamos que novidades serão pinceladas gradualmente. De certa forma Unchained Melody segue o roteiro de outros lançamentos como já citei. Assim como Huntsville foi o tronco básico pelo qual foi erguido "Southern Nights" aqui temos a mesma função sendo exercida pelo concerto de Elvis em Charlotte no dia 20 de fevereiro de 1977. É um bom lançamento, indispensável para quem aprecia os anos 70 e o trabalho desenvolvido por Elvis nos palcos durante essa fase de sua carreira. Quanto mais registros tivermos acesso maior será nossa percepção do que realmente estava ocorrendo com o cantor, tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal - até porque em se tratando de Elvis Presley estas duas vias convergiam sempre para o mesmo lugar. Agindo assim, sem a necessidade de sermos levados pelas opiniões de terceiros, como biógrafos e autores, formaremos nossas próprias convicções, o que sem dúvida é o fator mais relevante nesse tipo de experiência.

Notas:
[1] Esse show de Elvis pode ser ouvido no ótimo bootleg "Coming On Strong".
[2] O CD "Cajun Tornado" trazia Reconsider Baby, Moody Blue, Release Me e Can't Help Falling In Love, todas gravadas no dia 21 em Charlotte.
[3] Gravado respectivamente em Rapid City e Omaha para a CBS.
[4] Recomendo os bootlegs "Candid Elvis on Camera" e "Softly As I Leave You" com os shows na íntegra de Omaha.
[5] CD que traz vários ensaios e partes de shows de Elvis realizados em 1970.

Pablo Aluísio.