terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Good Times (1974)

Como as primeiras sessões no Stax Studios deixaram a desejar em termos de quantidade de músicas gravadas, Elvis retornou ao mesmo local para gravar mais canções para sua gravadora. O disco Good Times traz grande parte desse material. Formado por músicas gravadas em julho e dezembro de 1973 o álbum se distancia bastante da sonoridade do Raised On Rock e assume um tom nitidamente country. Basicamente Good Times é uma reunião de canções nesse gênero, que a partir desse ponto teria cada vez mais força em seu repertório de estúdio.

Apesar de sua boa sonoridade Good Times não conseguiu se destacar na principal parada da Billboard, alcançando uma desapontadora posição 90 entre os mais vendidos. As razões para essa baixa posição - uma dos mais fracos desempenhos de Elvis nas charts durante os anos 70 - são várias e não podem ser resumidas em apenas um fator. Uma delas foi a pouca publicidade feita pela RCA no momento de seu lançamento. Apostando mais no circuito onde Elvis era mais popular (o sul dos EUA) a gravadora acabou negligenciando o disco nos grandes centros urbanos, o que o levou a ser praticamente ignorado do público em geral. Além disso nenhuma canção tem Good Times tinha grande potencial para virar hit (com exceção de My Boy que conseguiu se sobressair e fazer sucesso, inclusive no Brasil).

De maneira geral o álbum era formado realmente por um grupo de músicas mais intimistas e nem um pouco comerciais. A vendagem baixa se fez sentir no Brasil onde o disco sequer foi lançado. A própria faixa My Boy, que faria sucesso por aqui, acabou sendo incluída no disco seguinte, Promised Land, esse bem mais comercial. De qualquer forma, mesmo não fazendo o sucesso esperado Good Times caiu nas graças dos fãs de Elvis após sua morte e hoje é devidamente reconhecido, ganhando recentemente uma merecida edição com muitos takes pelo selo FTD. Essas são as canções do disco "Good Times" (CPL1 0475):

TAKE GOOD CARE OF HER ( Warren / Kent) - Outra canção em que Elvis coloca seus grupos vocais em primeiro plano. Aliás o cantor nunca perdeu mesmo seu complexo de cantor gospel. A canção tem bom desenvolvimento e acompanhamento, mas não consegue se sobressair ou se destacar dentro do vasto catálogo do Rei do Rock nos anos 70. Gravada no dia 21 de julho de 1973 nos estúdios Stax de Memphis não obteve grande sucesso quando lançada no lado B do single "I've Got You Thing About You Baby" em janeiro de 1974.

LOVING ARMS (Tom Jans) – Linda canção que é praticamente desconhecida até mesmo pelos fãs de Elvis. Melancólica e introspectiva na medida certa, "Loving Arms," traz uma belíssima interpretação de Presley. A ausência quase completa de refrão demonstra de forma inequívoca como sua melodia é bem escrita. Um dos grandes momentos de Elvis em estúdio durante a primeira metade dos anos 70. Assim como "Take Good Care Of Her" essa também foi lançada como lado B de um single, "My Boy", só que dessa vez apenas na Inglaterra (nos Estados Unidos "My Boy" foi lançada com "Thinking About You"no lado B). Gravada no dia 13 de dezembro de 1973 no Stax Studios, nas mesmas sessões que deram origem também ao disco "Promised Land".

I GOT A FEELING IN MY BODY (Dennis Linde) – Canção de Linde, autor de "Burning Love," que tentou em vão repetir o sucesso do grande hit de Elvis nos anos 70. A música tem muito balanço e energia, mas curiosamente não foi bem aproveitada por Elvis nos palcos, aonde sem dúvida teria melhor sorte. Já sua versão em estúdio passou batida entre as outras canções desse disco. A guitarra de Burton segue um arranjo bem em voga durante aqueles anos, que inclusive lembra muito alguns temas escritos para seriados televisivos dos anos 70. Diferente, mas na média. Gravada nas sessões de dezembro de 1973 em Memphis.

IF THAT ISN'T LOVE (Dotie R) – Música de rotina que não traz nada de muito relevante. Sem dúvida não contribuiu muito para alavancar as vendas desse disco de Elvis, que diga-se de passagem, conseguiu chegar apenas na 90º posição da parada nacional da Billboard em março de 1974. As vendas foram tão desanimadoras que o LP não chegou nem mesmo a ser lançado no Brasil em sua época de lançamento. Aliás o ano de 1974 foi terrível para os fãs brasileiros de Elvis, pois todos os discos lançados por ele nesse ano permaneceram inéditos em nosso país por longos anos. Quem quisesse ouvir as novas músicas inéditas do rei teria que importar dos EUA, o que não era fácil naqueles tempos. Parece que a negligência da gravadora do cantor vem de longa data no Brasil. Em 1992, porém, finalmente "Good Times" foi oficialmente lançado em nossas lojas. Nada menos do que um atraso de 18 anos! Antes tarde do que nunca.

SHE WEARS MY RING (Felice e Boulderaux Bryant) – Mais uma música que não acrescenta muito. Tanto que foi utilizada na edição original do LP para fechar o antigo lado A do disco. Não significa que seja apenas um "tapa buraco", mas sim que dentro do conjunto dessas canções fica bem abaixo do esperado ou do nível das demais presentes nesse trabalho de Elvis. Apesar de tudo deve ser retirada do limbo em que se encontra para ser novamente reavaliada pelos fãs. Foi a música que encerrou as sessões de dezembro de 1973, sendo rapidamente esquecida e ignorada.

I'VE GOT THING ABOUT YOU BABY (Tony Joe White) – Do mesmo autor de "Polk Salad Annie", é um dos pontos altos do disco. Lançada como single e considerada a música de trabalho do disco foi praticamente ignorada por Elvis em suas apresentações ao vivo (novamente!). Em consequência disso o single não alcançou uma boa posição na parada Billboard, alcançando apenas um fraco 39º lugar entre os mais vendidos. Aliás a partir de 1973 Elvis inovou muito pouco em seus números ao vivo, seguindo quase sempre um repertório básico com poucas alterações em seu set list. Um desperdício sem dúvida, pois é outro bom momento com fluência melódica agradável e excelente acompanhamento vocal que ficaria perfeito para levantar e chacoalhar a plateia. Curiosidade: na capa do single lançado em janeiro de 1974 havia o anúncio de um especial de páscoa com Elvis na TV! Esse programa nunca foi feito, sendo cancelado pouco depois que o single chegou às lojas, pela mesma pessoa que mandou colocar a publicidade na capa, o Coronel Tom Parker.

MY BOY (Claude Francois / JP Bourtayre) – Versão inglesa escrita por Bill Martin e Phil Couter para a famosa música francesa "Parce Que T'aime, Mon Enfant" . Obviamente pelo conteúdo da letra Elvis estava se identificando com o tema central da canção. Outro fator que certamente levou Elvis a gravá-la foi a oportunidade de interpretar uma canção que dava espaço para ele demonstrar sua virtuose vocal. Nos Estados Unidos só foi lançada um ano depois em single com "Thinking About You" no lado B, essa aliás do disco "Promised Land", chegando ao Top 20, uma boa posição para Elvis nessa época. No Brasil aconteceu uma coisa curiosa: como já escrevi antes, o disco "Good Times" não foi lançado por aqui em 1974, porém no começo de 75 "My Boy" estourou nas rádios nacionais e se tornou um grande sucesso. A RCA Brasil então teve que correr e numa desastrada tentativa de lançar a música em nosso país a colocou abrindo o lado B do disco "Promised Land" numa manobra única em todo o mundo. Só mesmo Elvis Presley para fazer sucesso com uma canção que nem sequer chegou a ser lançada nas lojas a tempo!

SPANISH EYES (Kaempfert / Singleton / Snyder) – Para quem gravou "It's Now or Never" ou "Surrender" não traz grandes novidades. Apenas mostra que Elvis continuava interessado em atingir outros públicos e outras nacionalidades, em especial a comunidade latina dos Estados Unidos. Elvis sempre teve essa aproximação com ritmos europeus e sempre que era possível tentava gravar ou apresentar alguma música que pudesse servir de identificação para essas pessoas. Com bom ritmo, letra e vocalização, "Spanish Eyes" só não conseguiu maior repercussão por pura falta de divulgação por parte da RCA, do Coronel e do próprio Elvis. Uma versão, sem acompanhamento vocal nenhum, foi ainda lançada no disco "Memories of Elvis".

TALK ABOUT GOOD TIMES (Les Reed) – Outro ótimo momento do disco, numa canção que já havia sido lançada antes por Chuck Berry na primeira metade dos anos 60. Ao contrário da versão de Berry, que traz muitas guitarras estridentes, Elvis resolveu mudar o enfoque para uma batida bem mais country e contida. Inclusive orientou pessoalmente seus músicos para que a canção tivesse um arranjo bem mais sofisticada e regional. O resultado ficou acima das expectativas e se transformou em mais um dos pontos altos do disco. O único senão talvez seja pelo conteúdo da música, que de certa forma tenta novamente enquadrar Elvis apenas como um artista centrado meramente na pura nostalgia. Apesar desse pequeno pecado, "Talk About Good Times" é um sopro de alegria e ar fresco no material excessivamente romântico apresentado por Elvis durante esse período.

GOOD TIME CHARLIE'S GOT THE BLUES (Danny O'Keefe) – Para o guitarrista James Burton este foi um dos seus maiores momentos ao lado de Elvis Presley. Lindamente executada, com ótimo arranjo, bem superior a muitas canções do restante de "Good Times", "Good Time Charlie's Got The Blues" é uma pequena pérola perdida no fundo do mar da discografia de Elvis. Mesmo que em certos trechos seja extremamente melancólica e triste, a canção sobreviveu dignamente ao tempo e hoje é um exemplo perfeito do grande entrosamento que havia entre Elvis e a TCB Band. Além de todos esses méritos, a faixa ainda traz Elvis com sobriedade e perfeito domínio vocal em toda a duração da música. Fecha o disco com chave de ouro. Excelente.

Elvis Presley - Good Times (1974): Elvis Presley (voz e violão) / James Burton (guitarra) / Johnny Cristopher (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putnam (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / David Briggs (piano e orgão) / Per-Erik "Pete" Hallin (piano e orgão) / J.D.Summer and the Stamps (vocais) / Voice (vocal) / Dennis Linde (guitarra) / Alan Rush (guitarra) / Rob Galbraith (percussão) / Bob Ogdin (piano) / Randy Cullers (orgão) / Kathy Westmoreland, Mary Greene, Mary Holladay, Susan Pilknton (vocais) / Produzido e arranjado por Felton Jarvis / Gravado no Stax Recording Studio, Memphis, nos dias 21 e 22 de julho e 10 a 16 de dezembro de 1973 / Data de lançamento: Março de 1974 / Melhor posição alcançada nas charts: #90 (EUA) e #42 (UK).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Spanish Eyes

Quando eu comecei a colecionar Bootlegs há muito tempo atrás as gravadoras desse tipo de lançamento lançavam um LP com um nome de fantasia qualquer e depois disso simplesmente desapareciam! Naquele tempo não havia nada parecido com o que acontece hoje. Veja o caso desse selo "Fort Baxter". Eles não só lançaram vários títulos como também não fizeram nenhuma questão em se esconderem, pelo contrário! O que realmente aconteceu foi a promoção dos títulos, de forma tranquila, sem maiores problemas. Sem nenhuma preocupação eles criaram uma verdadeira linha alternativa de CDs de Elvis Presley. Os tempos realmente mudaram!

Isso levanta muitas questões, inclusive sobre a verdadeira situação jurídica desses selos. Certamente não fazem jus ao velho espírito pirata que imperava nesse tipo de lançamento nos tempos passados. Entre os grandes colecionadores sempre houve o boato de que quem realmente estaria por trás desses selos é a própria EPE! Isso seria muito conveniente, se formos pensar bem. Existem gravações que não conseguiriam vender bem no mercado comum. Para eles a única e melhor saída seria mesmo vender tudo com o "maldito", mas interessante, conveniente e prestigiado, rótulo de "bootlegs"! É mais chique, atrai mais o velho consumidor, quem compra pensa que adquiriu um grande tesouro! Será mesmo?

Não vou entrar muito nessa questão, apenas lancei o questionamento. Madison, Fort Baxter, isso tudo pode ser apenas rótulos de aluguel para os donos da EPE. Seria uma válvula de escape para títulos anticomerciais, principalmente de "audiences" (gravações feitas na plateia), pois alguns desses são tão toscos que a EPE não o lançariam comercialmente. O que seria um pouco melhor seria lançado pela FTD e o resto por selos obscuros, "alternativos" e o mais importante de tudo, altamente convenientes. Nem precisa pagar impostos! Piratas não pagam impostos! Não disse que tudo era muito conveniente?! O mundo é dos espertos meu caro Watson!

Deixemos isso para trás. Vamos agora escrever um pouco sobre esse CD, Spanish Eyes do selo Fort Baxter. Quando escrevi no primeiro artigo sobre Live Pearl Harbor, muita gente me escreveu pedindo que na próxima análise eu me concentrasse em títulos mais acessíveis e menos raros. Então escolhi esse show, que de raro não tem nada, mas que é bom, tem qualidade, e traz coisas interessantes a se debater. Também atendi a todos que me pediram que fizesse análises de Bootlegs ao vivo dos anos 70. Então como o pedido de vocês é uma ordem para mim, cá estou eu para satisfazer a todos que me escreveram.

O CD foi gravado em Lake Tahoe no dia 24 de maio de 1974 no midnight show. Essa temporada de Elvis é ainda bem desconhecida pois poucos CDs foram lançados com apenas alguns shows. Tenho os três soundboards gravados nessa ocasião. Deles, Spanish Eyes é o melhor. O que foi gravado no dia seguinte, chamado And The King for The Dessert traz um Elvis pouco interessado no show e o outro, de título A Profile, The King On Stage é na minha opinião meio banal, mesmo que seja um pouco valorizado demais por alguns fãs. Exagero puro! Coisa de marinheiro de primeira viagem!

Eu realmente muitas vezes me sinto solidário com Elvis. Veja, um artista do nível de Elvis se apresentando em hotéis cassinos sempre me pareceu um erro dos grandes por parte do Coronel. Então Elvis se tornou um dos maiores ídolos do século XX para terminar seus dias cantando para um público cafona como esse que visitava um lugar desses?! Que chato! Deveria ser mesmo muito ruim e tedioso ficar cantando para um público tão careta como esse, você se esforçando lá no palco e na sua frente um bando de gente jantando! Putz... fala sério...

O Coronel preferia mesmo ganhar suas migalhas em lugares como esse! Ao invés de levar Elvis pelo mundo afora ele preferia deixar o "Rei do Rock" se afundar nesses cassinos enquanto ficava jogando o dinheiro dele fora nas roletas! E ainda tem gente que acha o máximo esse tipo de situação, que acha que Elvis estava fazendo grandes avanços em sua carreira se apresentando em lugares como Lake Tahoe. Coitado do Elvis. Vamos encarar a realidade. Só podia ficar mortalmente entediado mesmo, que tipo de desafio uma apresentação como essa iria significar? Com a palavra os que defendem essa "estratégia genial" de Tom Parker...isso claro se existir alguém assim!

O show é na rotina. Pouca coisa muda. Elvis estava tão condicionado a fazer apresentações iguais nessa época que muito provavelmente ele ficava no controle remoto. Pelo menos aqui não há nada que cause arrepios ou que o destaque dos demais títulos por algo inadequado feito por Elvis no palco. Ele está na média, não comete nenhum vexame, não sai no braço com fãs peruanos, não fala palavrões, não aparece altamente "desnorteado", não sai nem um milímetro de uma apresentação altamente convencional. Mas...peraí... você pode estar se perguntando, então por que fazer uma análise de algo assim tão sem destaque? Ora, por isso mesmo, que tal avaliar o que Elvis fazia na média durante aquele período? Deixemos os tabloides sensacionalistas de lado, vamos dar uma espiadinha no Elvis profissional acima de tudo que ia sim marcar ponto, que ia sim fazer um show sem grandes surpresas... enfim, que tal dar uma olhada em Elvis, operário padrão?

O que será de nós ao sentarmos para ouvir um novo bootleg e perceber que ele vai trazer o mesmo e velho repertório de sempre?! Alguém aguenta ainda ouvir a dobradinha See See Rider / I Got A Woman ?! Quantas vezes Elvis utilizou essa abertura em seus shows? Mil vezes, um milhão de vezes?! É capaz... Elvis deveria ter se tocado de certas coisas. Essa abertura foi criada em suas primeiras temporadas, a de 1969 e a de 1970. Mas aqui estamos em 1974 com a mesma abertura? Poxa, alguém deveria ter dado um toque em Elvis, que tal mudar um pouquinho para a coisa ficar menos repetitiva?

Elvis está nitidamente entediado no começo do concerto. Em See See Rider ele transparece com nitidez que realmente está no controle remoto. Sem pique e animação Elvis vai indo... sem um pingo de empolgação! Até parece um funcionário público chegando para trabalhar e bater o ponto. Fraco, muito fraco. Só demonstra um pouco (pouquinho mesmo) de ânimo quando algumas fãs gritam... Na hora que ele vai contar: "One, Two..." na parte final dessa canção, seu desânimo é total e completo. Em I Got a Woman a coisa se repete. A mesma brincadeira na hora do "Well...well...well...", os mesmos risinhos do puxa saco Charlie Hodge (esse cara era muito chato...) e apenas um comentário rápido dele ao afirmar brincando que a plateia estava cheio de "maníacos (ou maníacas, dependendo do ponto de vista) sexuais". Infelizmente Elvis conseguia ser repetitivo até mesmo nas piadinhas...

O mais curioso nessa apresentação é que Elvis até que canta corretamente seus velhos sucessos. A versão de Love Me não é nada demais mas também não é medíocre. Tryn To Get You tem até uma certa dignidade, muitas vezes não presente em outras versões dos anos 70. Aqui Elvis até se anima a soltar o vozeirão e promove uma pequena (na verdade mínima) mudança na letra! All Shook Up vai pelo mesmo caminho. Apesar de James Burton estar errando os mini solos que acompanham a canção de forma vergonhosa, Elvis mantém o interesse, mesmo que na terça parte final da canção adote a velha postura "Puxa... estou de saco cheio...". É uma pena. Love Me Tender também traz pequenas mudanças na letra em seus versos iniciais. Elvis brinca com suas echarpes azuis (certamente estava nesse momento distribuindo esses panos que até hoje são adorados e venerados por fãs talibãs). Até Hound Dog fica na média. O que estraga mesmo é esse arranjo discoteca dos anos 70... com aquele toque de guitarra ultra, hiper ultrapassado. Fever traz Elvis a meia voz. Ele dá um enorme grito no meio da música, como que imitando uma fã: "Elvisssss.....". Talvez ele tenha gritado para acordar e espantar o sono ou então para acordar a plateia cafona que deveria estar assistindo o show, não sabemos, de qualquer forma o público realmente parece não ter achado muita graça. No finalzinho da canção o espírito Karatê-Sam baixa em Elvis e ele começa a utilizar aquele vocabulário típico dos lutadores...haja saco... Depois disso Elvis, penosamente, entediadíssimo, parte para o repertório mais contemporâneo de sua carreira.

Certamente não vou aqui comentar música a música. Todas as demais canções desse concerto são altamente convencionais, altamente. E quando digo convencional não estou elogiando Elvis ou algo parecido. Estou apenas afirmando que as músicas, além de serem muito manjadas já naqueles tempos de 1974, ainda trazem Elvis em uma noite pouca inspirada! Não disse que faria uma análise em cima de um momento "funcionário público" de Elvis Presley? Então...

Três canções apenas fazem com que nosso cérebro seja ligado por breves momentos. São essas canções que valem a pena, que qualificam Spanish Eyes como o melhor desse pior. Vamos a elas. No meio de inúmeros momentos e versões "três vias com carimbo" (ou seja, altamente burocráticas do burocrático Elvis) encontramos pequenas pérolas perdidas. Spanish Eyes, que dá nome ao CD é o primeiro bom momento. Após oferecê-la Elvis inicia uma bela, bela mesmo, versão dessa canção. Claro que essa música nunca foi unanimidade entre os fãs do cantor. Muitos a acusam inclusive de ser brega, cucaracha e outras definições nada lisonjeiras. Mas vamos deixar o colonialismo cultural de lado e apreciar esse bom momento. Até os metais (altamente exagerados) empolgam... depois de ouvir essa versão (de preferência acompanhado de um belo Cuba Libre) duvido que você não se sinta em algum bueiro mexicano atrás de algumas maravilhosas "señoritas"...(sinceramente...esse meu portunhol me mata!)

Deixando o inferninho mexicano de lado Elvis nos leva direto para a igreja do lugar! Isso mesmo! A segunda boa versão desse CD é justamente a sacra Why Me Lord. Não poderia ser diferente. Eu sinceramente acho que Elvis deveria pensar consigo mesmo: "Estou aqui no meio dessa p... de deserto. Fazendo um show altamente meia boca, talvez tenha chegado o momento de louvar ao Senhor de forma decente!". É isso mesmo. Elvis sempre, sempre renascia quando cantava gospel. O cantor simplesmente se transformava, o que era tédio virava concentração, o que era desleixo virava atenção e o que era desânimo virava emoção verdadeira. Uma pena que Elvis só mostrava sinais de vida em momentos raros como esse! No restante da apresentação apenas Help Me se salva, outra que também é misto quente indecente entre country music e gospel sacros... vai entender...

Defina Help Me! É country? É gospel? Citando meu amigo Pablo em recente artigo realmente não saberia definir com exatidão que tipo de música é essa! A única certeza é que Elvis estava pedindo ajuda mesmo, implorando aos céus para suportar tanta mesmice em sua carreira estagnada! Depois de Aloha Elvis entrou numa rotina que duraria até o fim de seus dias. Muitos shows, muitas vezes passando pelas mesmas cidades, discos ao vivo, discos ocasionais de estúdio, pouca renovação...pouca inovação! Elvis, que em muitas vezes em sua longa carreira já tinha entrado em ciclos repetitivos (como as trilhas sonoras dos anos 60) novamente estava dentro de um! Sem desafios ele foi ficando cada vez mais velho e desiludido... o resto da história já sabemos. Enfim, Help Me é o último bom momento do CD. Depois dele Elvis joga o paletó na cadeira e vai tomar um cafezinho com seu camaradas de repartição...

Aliás, permita escrever, Elvis tinha mesmo que pedir ajuda a um estilista também! Algumas jumpsuits que ele usou nessa temporada realmente eram um terror estético. Repare na foto em que ele está se apresentando em Lake Tahoe. As melhores roupas de palco de Elvis sempre foram aquelas do começo dos anos 70, muito mais simples, despojadas, e claro, mais elegantes. Depois Elvis parece que entrou em uma disputa pessoal com Liberace para ver quem se apresentava com o traje mais exótico (para não dizer brega)! A tênue linha entre elegância e breguice certamente foi rompida por Elvis nesse período, como aliás bem observou Priscilla Presley em seu livro "Elvis e Eu".

Elvis também estava bem gordinho nessa temporada. Certamente o cantor perdeu a linha durante essa época. Em 1974 Elvis teve grandes aumentos de peso, tanto que foi durante esses shows que a aparência dele começou a chamar muito a atenção. O cantor se apresentava pálido, gordo e cansado. Seu cabelo também não ajudava muito o que fazia muitos fãs mais desavisados levantarem a hipótese (absurda é claro) de que ele estaria usando perucas durante esses concertos. A única parte positiva era que no tocante a sua voz Elvis ia melhorando a cada dia, trazendo belas interpretações (isso quando não deixava o tédio lhe dominar por completo!).

Vale a pena ter Spanish Eyes na coleção? Depende. É o que sempre digo: se você é um jovem fã de Elvis deixe esse tipo de lançamento de lado. Procure ouvir os discos oficiais de Elvis, por uma simples razão: nada do que você vá encontrar em Cds como esse você não vai ouvir (e melhor) nos títulos oficiais. Digo como fà de longa data: se você não for uma pessoa muito interessada em Elvis, se você se contenta em só adquirir o melhor do cantor, então os discos oficiais ao vivo dele já estão de bom tamanho! Bootlegs são a sobra mesmo, claro que existem shows interessantes, claro que existem gravações raras, mas isso só vai lhe interessar em um segundo momento, depois que você já tiver ouvido seus melhores registros (os oficiais). Em que vai lhe adiantar ficar ouvindo milhares de versões praticamente iguais de See See Rider ou I Got a Woman nos anos 70? Em nada. O que foi lançado oficialmente pela RCA já traz um belo retrato do que Elvis foi nos palcos durante os anos 70. O resto é preciosismo e repetição Ad Nauseam... vai por mim!

Erick Steve e Pablo Aluísio.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Raised On Rock (1973)

Em julho de 1973 Elvis finalmente aceitou gravar material novo. O local escolhido foi um estúdio de gravação de Memphis chamado Stax Studios. Esse selo era bem conhecido pelas inúmeros discos de soul e R&B que vinham sendo lançados desde o final da década de 50. Era material essencialmente negro e como Elvis sempre gostou da sonoridade black a escolha caiu como uma luva para ele. O cantor não gravava em Memphis desde 1969 e as expectativas eram grandes quando finalmente começaram as sessões. Inicialmente a intenção do produtor Felton Jarvis era gravar um vasto material e realizar uma nova maratona de gravações. Para isso reservaram seis noites no Stax. Embora a ideia fosse muito boa, Jarvis esqueceu de levar em conta a própria situação pessoal de Elvis nessa época. A realidade era que o cantor vinha enfrentando cada vez mais problemas, principalmente de saúde.

As dificuldades surgiram logo no primeiro dia. Elvis chegou seis horas atrasado no estúdio e acabou encontrando uma banda exausta de tanto esperar. O clima certamente não era dos melhores e ele logo percebeu isso. Embora a intenção da produção fosse gravar vasto material, Elvis mostrou-se pouco produtivo nessa ocasião e o problema se repetiu nos demais dias. Elvis não conseguia mais apresentar o antigo pique de antes, se limitando a gravar poucas músicas de cada vez. Muito disperso, sem se focar nas músicas selecionadas, Elvis foi gradativamente perdendo o interesse. O pior aconteceu alguns dias depois quando após gravar apenas uma canção Elvis se encheu e foi embora, deixando a programação pelo meio do caminho, decidindo impulsivamente abandonar definitivamente as sessões. Elvis, que era um dos mais produtivos artistas de sua época, agora enfrentava vários problemas pessoais que interferiam diretamente em seu trabalho. Como a RCA ainda não tinha material suficiente para a composição de um álbum levou seus equipamentos para a casa dele em Palm Springs dois meses depois, onde após finalizar três faixas o disco finalmente ficou completo.

O resultado final chegou nas lojas em outubro de 1973. Apesar das inúmeras dificuldades em sua gravação o LP mostrou-se coeso e de boa qualidade. A faixa título, de autoria de Mark James, já demonstrava ser bastante original e singular dentro da discografia de Elvis, tendo personalidade própria e uma sonoridade bem diferenciada. Outro grande destaque do álbum vinha de For Ol Times Sake, com um belo e rico arranjo de cordas. As duas inclusive seriam lançadas em single um mês antes do lançamento do disco. Até mesmo as faixas gravadas em Palm Springs como I Miss You e Are You Sincere mantinham um bom nível técnico.

Raised On Rock também marcou o reencontro de Elvis com sua antiga dupla de compositores, Leiber e Stoller. Eles estavam afastados da carreira do cantor desde os anos 60, quando o Coronel Parker os colocou de lado, por serem "caros" demais e isso apesar de terem compostos alguns dos maiores sucessos da carreira de Elvis! De qualquer forma lá estava Elvis de volta aos microfones para interpretar mais uma vez canções da dupla. As duas escolhidas, If You Don´t Come Back e Three Corn Patches, não eram músicas excepcionais ou fora de série, porém tinham seus méritos. If You Don´t Come Back, por exemplo, tinha um balanço essencialmente black que combinava muito bem com o clima do Stax de uma maneira em geral. A seleção fechava com um country agradável, Girl Of Mine, e uma música antiga escrita por Eddy Arnold, chamada Sweet Angeline. Assim Raised On Rock acabou cumprindo seu papel, colocando material novo no mercado e de quebra trazendo um pequeno sopro de inovação na discografia oficial de Elvis.

RAISED ON ROCK (Mark James) - Canção título do disco. Foi lançada em single junto com "For Ol'Times Sake" em Setembro de 1973. A letra feita pelo ótimo compositor Mark James faz um balanço emocional dos anos iniciais do Rock'n'Roll. A harmonia também é bastante original, transformando o conjunto em um belo momento da carreira de Elvis Presley.

ARE YOU SINCERE (Wayne Walker) - Música gravada na casa de Elvis em Palm Springs em Setembro de 1973. Participaram desta "sessão", o guitarrista James Burton, o grupo vocal Voice, o amigo e músico Charlie Hodge, o baixista Thomas Hensley e o engenheiro de som Rick Ruggieri. Depois as gravações sofreram acréscimos de instrumentos providenciados por Felton Jarvis.

FIND OUT WHAT'S HAPPENING (Jerry Crutchfield) - Música cujo arranjo segue um estilo por demais utilizado nos anos 70. Em destaque a vocalização feminina, que contou com a ótima e subestimada Kathy Westmoreland. Bom momento do disco.

I MISS YOU (J.D.Summer) - Outra gravada em Palm Springs. Elvis conta aqui com a preciosa colaboração do grupo vocal formado por ele chamado Voice. Elvis reuniu alguns músicos que estavam desempregados e formou um grupo vocal gospel para acompanhá-lo em shows e nas gravações. Esta música marca a estréia do grupo em gravações de estúdio.

GIRL OF MINE (Reed / Mason) - Country muito popular nos Estados Unidos. Esta canção deixa transparecer todo o esgotamento físico e emocional de Elvis. Tão exausto ele estava durante as sessões de gravação deste disco que neste dia (24 de julho) ele só conseguiu gravar uma música. Nos anos 60 Elvis gravava um LP inteiro em uma noite e agora, doente e exausto só conseguiu completar uma canção. A verdade era que seu estilo de vida, os shows, as viagens, os compromissos sem fim, a tensão insuportável dos camarins, a histeria dos fãs e a solidão dos quartos de hotéis estavam destruindo a saúde de Elvis Presley.

FOR OL'TIMES SAKE (Tony Joe White) - Lado B do single "Raised On Rock". Uma das músicas românticas mais bonitas e bem arranjadas da carreira de Elvis. O destaque fica com o ótimo arranjo de cordas executado por Burton, Christopher, Young e Dennis Linde (autor do grande sucesso de Elvis "Burning Love").

IF YOU DON'T COME BACK (Leiber / Stoller) - Canção que marca o reencontro de Elvis com os compositores Jerry Leiber e Mike Stoller. Esta união legou ao século XX as melhores canções de Rock'n'Roll da história como "Jailhouse Rock", "Trouble","Hound Dog" e várias outras. Aqui Elvis faz a mágica acontecer mais uma vez, pois esta e "Three Corn Patches" são as melhores canções do disco. Elvis até renasce quando canta estas músicas voltando novamente ao pique e ao entusiasmo dos anos 50.

JUST A LITTLE BIT (Rosco Gordon) - Sucesso do começo dos anos 60. Se Elvis estava exausto depois de tantos compromissos, seus músicos também estavam. Muitos deles acompanhavam o Rei na estrada e estavam à beira de um colapso nervoso. O baixista Tommy Cogbill começou a tocar deitado no chão, o que acarretou numa reprimenda enérgica do produtor Jarvis. Além disso o baterista Al Jackson começou a beber dentro do estúdio o que acabou levando o produtor Felton Jarvis a demiti-lo. Realmente o clima não estava dos melhores.

SWEET ANGELINE (Eddy Arnold / Martini / Morrow) - Esta música só foi completada por Elvis depois, pois ele não teve tempo suficiente para completá-la. Assim em Setembro de 1973 Elvis reuniu-se com James Burton e mais alguns músicos em sua casa em Palm Springs para terminar a gravação desta canção. Apesar de toda a dificuldade a canção se tornou uma das mais belas da discografia de Presley durante os anos 70. Muito bonita, com melodia atraente esta canção é um dos pontos altos do disco.

THREE CORN PATCHES (Leiber / Stoller) - Canção que fecha o disco. Mais uma maravilhosa composição de Leiber e Stoller. Elvis Presley perdeu muito com o afastamento da dupla durante os anos 60. Tudo culpa do Coronel Parker que só visava o lucro e nunca a qualidade. Esta e outras atitudes acabaram levando Elvis a desprezar seu empresário, inclusive o demitindo em uma ocasião. Porém já era tarde demais, o estrago já estava feito e Presley acabou o readmitindo, pois o Coronel cobrou uma verdadeira fortuna para acabar a sociedade entre ambos.

Elvis Presley - Raised On Rock (1973): Elvis Presley (vocal) / James Burton (guitarra) / Reggie Young (guitarra) / Dennis Linde (guitarra) / Bobby Manual (guitarra) / Johnny Christopher (guitarra) / Tommy Cogbill (baixo) / Donald Dunn (baixo) / Thomas Hensley (baixo) / Jerry Carrigan (bateria) / Ronnie Tutt (bateria) / Al Jackson (bateria) / Bobby Wood (piano) / Don Summer (piano) / Bobby Emons (orgão) / J.D.Summer and The Stamps (vocais) / Voice (vocais) / Kathy Westmoreland, Mary Greene, Mary Holladay, Ginger Holladay (vocais) / Al Pachucki (engenheiro) / Felton Jarvis (Produção e Arranjo) / Gravado nos dias 21 a 25 de julho de 1973, Stax Recording Studios, Memphis - 22 e 23 de setembro de 1973, Palm Springs / Data de lançamento: outubro de 1973 / Melhor Posição nas Paradas: #50 (EUA).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis (1973)

Tentando ainda pegar carona no sucesso de Aloha From Hawaii a RCA lançou apenas alguns meses depois da trilha do especial de TV esse disco intitulado simplesmente de "Elvis". Como esse também era o nome de seu segundo LP lançado em 1956 os fãs acabaram batizando informalmente o novo disco de "The Fool Album" por causa da música de trabalho "Fool". Para compor "Elvis" o produtor Felton Jarvis fez uma colcha de retalhos sonora, misturando canções de sessões diferentes de Elvis, jam sessions e registros ao vivo. Como muitas vezes aconteceu na discografia de Elvis esse também foi um LP composto meio na improvisação, misturando faixas que nada tinham em comum. A estrutura dele basicamente é formada por várias canções que tinham sido inicialmente gravadas com a finalidade de compor a trilha sonora do filme Elvis On Tour e algumas canções que sobraram das sessões de Nashville em 1971.

Esse é o caso da faixa principal do disco, a música "Fool". Gravada em março de 1972 em Hollywood, foi produzida visando a inclusão na trilha de Elvis On Tour, porém com o cancelamento desse disco a canção ficou mais de um ano arquivada esperando o momento de ser lançada no mercado. Inicialmente foi (mal) aproveitada como lado B do single Steamroller Blues. Depois finalmente ganhou destaque abrindo o primeiro disco de inéditas de Elvis em 1973. A RCA inclusive se empenhou em sua promoção, disponibilizando até mesmo um single especial duplo (com a música em ambos os lados) para ser distribuído exclusivamente às emissoras de rádios. Apesar do esforço a música nunca emplacou completamente, não conseguindo se firmar entre os grandes sucessos da carreira de Elvis. "Where do I Go From Here" também é outra proveniente da nunca lançada trilha sonora de Elvis On Tour. Também gravada em março de 1972 ficou bastante tempo arquivada antes de ganhar a luz do dia. Não é uma das mais inspiradas canções da carreira de Elvis mas tem suas qualidades. Das sessões de 1971 em Nashville, o produtor Felton Jarvis ainda desenterrou "Love Me, Love The Lead I Life", uma faixa extremamente melancólica e sentimental. Com o lançamento dela e do country "For Lovin Me" praticamente se esgotou o lote de músicas dessa produtiva maratona de gravação.

Como Elvis vinha cada vez mais se destacando nos concertos ao vivo, Felton resolveu incluir uma faixa gravada em Las Vegas, na temporada realizada em fevereiro de 1972. Essa música, "It´s Impossible", é um dos pontos altos do disco, pois conta com uma interpretação perfeita por parte do cantor. Como sempre o grupo vocal também se destaca, conseguindo ser sutil e marcante na mesma medida. Uma das maiores curiosidades do "The Fool Album" foi a inclusão de 3 músicas gravadas informalmente por Elvis em fevereiro de 1971 na cidade de Nashville: "It´s Still Here", "I Will Be True" e "I´ll Take You Home Again Kathleen". Inicialmente registradas mais como um aquecimento antes das gravações principais, as faixas acabaram caindo nas graças do produtor por serem extremamente inspiradas e por contar com um Elvis bem disposto, tocando piano, praticamente se auto acompanhando solitário dentro do estúdio. Essas eram músicas antigas de que Elvis gostava muito, quase sempre as tocando em Graceland. "I´ll Take You Home Again Kathleen", por exemplo, foi escrita em 1912, ganhando uma versão popular em 1957 na voz de Slim Whitman e "I Will Be True" era de autoria de Ivory Joe Hunter, um dos compositores preferidos de Elvis.

Um dos grandes destaques do "The Fool Album" é uma outra gravação informal, na realidade uma longa Jam Session, onde Elvis cantou o clássico de Bob Dylan, "Don´t Think Twice, It´s All Right". Infelizmente, apesar de sua oportuna inclusão, Felton Jarvis a editou aqui para uma quase mini versão da gravação inteira, que o grande público só iria conhecer muitos anos depois. A impressão que passa é que o produtor não acreditou muito na gravação e a colocou apenas timidamente no disco oficial, como uma maneira do importante registro não passar em branco na discografia oficial de Elvis Presley. O LP se completa com uma música menor, Padre. Outra canção gravada em Nashville em 1971, que nunca alcançou maior destaque dentro da carreira do cantor. Lançado em julho de 1973, "Elvis" ou "The Fool Album" não conseguiu se destacar nas paradas, fazendo timidamente parte das principais listas de vendas. De qualquer forma o lançamento serviu para oficializar algumas interessantes gravações de Elvis que jaziam injustamente em um verdadeiro limbo musical. Eias as canções do disco:

FOOL (James Last / Carl Sigman) - Esta canção foi gravada em março de 1972 em Hollywood para ser usada na trilha sonora do filme "Elvis On Tour" (Elvis Triunfal, 1972). Porém a RCA desistiu de lançar este disco e ao invés disto investiu nos LPs gravados ao vivo "Madison Square Garden" e "Aloha From Hawaii". Assim esta canção foi arquivada e só foi lançada em março de 1973, como lado B do single "Steamroller Blues" (música gravada ao vivo no "Aloha From Hawaii"). Se tornou mais tarde carro chefe deste disco o que deixou Elvis surpreso.

WHERE DO I GO FROM HERE (Williams) - Outra que deveria fazer parte da trilha de "Elvis On Tour" (Elvis triunfal, 1972). Foi também gravada em março de 1972, em Hollywood e nunca usada. Felton Jarvis a achou perdida nos arquivos da RCA e a incluiu neste LP. Nessas mesmas sessões foram gravadas as canções de um dos singles mais vendidos da carreira de Elvis: "Burning Love / It's A Matter of Time".

LOVE ME, LOVE THE LIFE I LEAD (Macauley / Greenaway) - Canção romântica bem ao estilo de Presley da primeira metade dos anos 70. Esta música foi gravada em maio de 1971 em Nashville. Foi a última canção gravada por Elvis naquelas exaustivas sessões. Naquela ocasião o cantor gravou mais de trinta canções que dariam origem a diversos LPs como "He Touched Me" (premiado disco de música Gospel), "Elvis Now" (um de seus discos mais populares dos anos 70) e "Elvis Sings the Wonderfull World Of Christmas" (tentativa mal sucedida da RCA de reviver o clássico "Elvis Christmas Album" ).

IT'S STILL HERE (Hunter) - Elvis ao piano. Canção gravada em 19 de fevereiro de 1971 em Nashville. Os músicos presentes a esta sessão lembram que Elvis chegou muito inspirado na manhã deste dia e gravou três canções de uma só vez ao piano, sozinho, sem acompanhamento. O interessante é que o horário preferido de Elvis para gravar era durante as madrugadas e esta gravação feita logo pela manhã foi uma quebra no seu "Modus Operandi".

IT'S IMPOSSIBLE (Manzanero / Wayne) - Gravada ao vivo em Las Vegas no dia 16 de fevereiro de 1972. É outro grande exemplo do talento de Elvis gravado nos palcos de Nevada. A canção havia se tornado sucesso na voz do cantor Perry Como, mas se imortalizou mesmo na voz do Rei. Ela foi gravada nos trabalhos iniciais do premiado filme "Elvis On Tour" (Elvis triunfal, 1972), mas como a RCA desistiu da trilha sonora do mesmo, ela ficou arquivada até Felton Jarvis a trazer à tona novamente e nos revelar mais um grande momento da carreira de Elvis Presley.

FOR LOVIN' ME (Gordon Lightfoot) - Country que foi sucesso na voz de Peter, Paul and Mary nos anos sessenta. A versão de Elvis foi gravada no dia 15 de março de 1971. Aqui o cantor exercita uma linha vocal do qual ele admirava muito. Em 1970 iria ser lançado um disco de Presley só com estes tipos de música: "Elvis Country - I'm 10.000 years old".

PADRE (LaRue / Webster / Romans) - Uma das músicas preferidas de Elvis Presley. Pode-se inclusive notar a extrema empolgação de Elvis nesta faixa. A versão original foi um velho sucesso dos anos 50 e que foi regravada nos anos 70 por Marty Robbins. A versão de Elvis foi gravada no dia 15 de maio de 1971 em Nashville.

I'LL TAKE YOU HOME AGAIN, KATHLEEN (adaptado por Elvis) - Esta é outra das canções que Elvis gravou ao piano na manhã do dia 19 de fevereiro de 1971. Sozinho ao piano Elvis Presley dá uma prova de seu enorme talento. Esta canção faz parte do folclore norte americano e sua primeira versão data de 1912, na voz de Will Oakland, seguida da versão de Slim Whitman lançada em 1957 pelo selo Imperial.

I WILL BE TRUE (Hunter) - A terceira música de Elvis gravada na manhã do dia 19. Esta e It's Still Here são versões do Rei do Rock para velhas canções de Ivory Joe Hunter. Sempre Elvis gravava canções antigas e lhes dava um novo tratamento. Os arranjos e as adaptações destas três músicas foram creditadas inteiramente a Elvis Presley.

DON'T THINK TWICE, IT'S ALL RIGHT (Bob Dylan) - Sucesso escrito por Bob Dylan que se tornou famosa nas vozes de Peter, Paul and Mary em 1963 e The Four Seasons em 1965. O cantor e compositor Bob Dylan sempre foi um fã declarado de Elvis, tanto que ele afirmou na revista Rolling Stone:"Sempre quis que Elvis Presley gravasse minhas músicas e ele gravou "Tomorrow is a Long Time", é o disco que guardo com maior carinho".

Elvis Presley - Elvis (1973): Elvis Presley (vocal e piano) / James Burton (guitarra) / Chip Young (guitarra) / Charlie Hodge (violão) / Norbert Putnam (baixo) / Jerry Carrigan (percussão e bateria) / Kenneth Buttrey (bateria) / David Briggs (piano) / Joe Moscheo (piano) / Glen Spreen (Orgão) / Charlie McCoy (orgão, harmônica e percussão) / The Imperials (vocais) / June Page, Millie Kirkham, Temple Riser e Ginger Holladay (Vocais) / Al Pachucki (engenheiro de Som) / Produzido e arranjado por Felton Jarvis / Gravado no dia 15 de março de 1971, RCA's Studios B, Nashville - 15 a 21 de maio de 1971, RCA's Studios B, Nashville - 16 de fevereiro de 1972, Las Vegas Hilton - 27 a 29 de março de 1972, RCA's Studios C, Hollywood / Data de lançamento: julho de 1973. / Melhor posição nas paradas: #52 (EUA) e #16 (UK).

Pablo Aluísio.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Aloha From Hawaii (1973)

Nos dias de hoje uma transmissão via satélite soa banal, faz parte do cotidiano dos canais de TV e não desperta a atenção ou admiração de mais ninguém. Isso porém não era o cenário tecnológico em 1973. Naquele ano as transmissões ao vivo eram caras, complicadas e uma novidade reservada apenas para grandes eventos. Aloha From Hawaii foi um desses eventos de repercussão em nível mundial que mereceram uma cobertura dessa magnitude. Uma apresentação de Elvis Presley transmitida para vários países ao redor do mundo, com ampla cobertura da imprensa. A ideia foi desenvolvida pelos produtores Joan Deary e Marty Pasetta. Como Elvis era um nome conhecido nos quatro cantos do mundo e como ele não havia feito nenhuma turnê mundial logo se tornou o nome mais adequado para a transmissão de um concerto ao vivo ao redor do globo.

Embora inicialmente a ideia tenha sido genial sua execução esbarrou em alguns problemas que iriam surgir no momento da venda do especial para as TVs mundiais. O primeiro grande empecilho foi justamente o local onde seria realizado o show. O Havaí é localizado em um região do planeta cujo fuso horário simplesmente não bate com o fuso horário dos países que estavam mais interessados na transmissão (EUA e Europa). Em contrapartida caía como uma luva para os países orientais próximos ao Japão e redondezas. Embora as emissoras americanas e europeias tenham tentado mudar o local de realização do Aloha os produtores não voltaram atrás em suas convicções, até porque não haveria muito sentido em mudar o local já que o evento era beneficiente em prol do centro Kui Lee, que obviamente era localizado nas ilhas havaianas. Em vista disso o especial só foi realmente transmitido ao vivo para os seguintes países: Japão, Austrália, Nova Zelândia, Filipinas, Coreia e Vietnã. Europa e EUA só assistiram o tape quase um mês depois da transmissão. No Brasil o especial passou em brancas nuvens, sequer sendo exibido na época.

O concerto foi realizado no Honolulu International Center com público estimado em 5 mil pessoas, um número bem abaixo do que Elvis estava acostumado a se apresentar em suas turnês. O problema realmente foi que não havia mais espaço para um público maior. O local não era muito adequado para grandes plateias. Elvis realizou uma apresentação tecnicamente perfeita, com pequenas e pontuais falhas que nada afetaram em relação ao conjunto do que foi apresentado. Certamente para ele tudo era uma grande novidade e como sabia que o especial de TV seria exibido em vários países procurou cantar da melhor forma possível, limitando ao máximo as brincadeiras que estava acostumado a fazer nos shows pelos EUA. Para muitos esse seria inclusive o grande problema do Aloha From Hawaii, com um Elvis sério e concentrado demais. Realmente para quem estava acostumado com seus shows habituais o Aloha acabou soando um pouco formal além da conta. Por outro lado para quem apreciava belas interpretações por parte de Elvis certamente encontrou nesse concerto um prato cheio, pois ele esteve impecável em várias das músicas apresentadas.

A trilha sonora foi lançada em álbum duplo, o que não prejudicou em suas vendas pois o LP logo chegou ao primeiro lugar das paradas americanas. Aloha inclusive foi o último disco da carreira de Elvis a ocupar o topo da principal lista da parada Billboard. Um grande sucesso de vendas que se tornou um novo e muito bem-vindo êxito comercial para o cantor. Sua arte final era bem trabalhada, com um grande mapa mundial em sua parte interna onde se poderia ler em vários idiomas a frase "Amamos a Elvis" (em bom português luso é bom frisar). Sua capa porém recebeu críticas ao longo dos anos pois a foto de Elvis não o mostrava em seu melhor ângulo. Isso de certa forma era algo menor. Musicalmente o álbum trazia várias novidades para os colecionadores que só tinham acesso aos seus LPs oficiais: My Way, I'll Remember You, You Gave Me A Mountain, Something, Steamroller Blues, It´s Over, I'm So Lonesome I Could Cry, Welcome To My World e What Now My Love apareciam pela primeira vez na discografia de Elvis, para deleite dos fãs.

Durante muitos anos se afirmou que o Aloha From Hawaii foi o primeiro evento ao vivo a bater a audiência da chegada do homem à lua. Isso é uma verdade apenas em termos pois tudo depende do método a se adotar para medir o número final de sua audiência. Se essa audiência for medida levando-se em conta todos os países que assistiram ao show, mesmo que posteriormente à transmissão ao vivo (como aconteceu com o público americano e europeu) então teremos um público realmente maior do que foi alcançado na transmissão da Apolo 11. Caso contrário, se levarmos em conta apenas os países da Oceania e Ásia que efetivamente assistiram Elvis ao vivo então certamente esse número não foi superado. De qualquer forma isso tem uma importância relativa nos dias de hoje. O que realmente importa foi que o Aloha From Hawaii acabou se tornando um marco, um divisor de águas na carreira de Elvis. Para muitos ele marcou o final de um dos períodos mais criativos do artista (que havia começado em 1969). Uma coisa porém é certa: Aloha From Hawaii foi realmente um grande momento da vida e obra de Elvis Presley, um concerto que entrou para a história.

Elvis Presley - Aloha From Hawaii (1973)
Also Sprach Zarathustra
See See Rider
Burning Love
Something
You Gave Me A Mountain
Steamroller Blues
My Way
Love Me
Johnny B. Goode
It's Over
Blue Suede Shoes
I'm So Lonesome I Could Cry
I Can't Stop Loving You
Hound Dog
What Now My Love
Fever
Welcome To My World
Suspicious Minds
I'll Remember You
Long Tall Sally / Whole Lot-ta Shakin' Goin' On
An American Trilogy
A Big Hunk O'Love
Can't Help Falling In Love

Elvis Presley - Aloha From Hawaii (1973): Elvis Presley (voz e violão) / James Burton (guitarra) / John Wilknson (guitarra) / Charlie Hodge (violão e vocais) / Jerry Scheff (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Glen Hardin (piano) / J.D.Summer and the Stamps (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Kathy Westmoreland (vocais) / Joe Guercio Orquestra / Produzido por Marty Pasetta, Elvis Presley e Joan Deary / Arranjado por Felton Jarvis e Elvis Presley / Gravado ao vivo no H.I.C. Arena, Honolulu, Hawaii, no dia 14 de janeiro de 1973 / Data de Lançamento: fevereiro de 1973 / Melhor posição nas charts: #1 (EUA) e #11 (UK).

Pablo Aluísio.

Elvis Triunfal

Com a boa repercussão do documentário "Elvis é Assim" (That´s The Way It Is, 1970) a MGM resolveu repetir a dose e produzir mais um documentário mostrando Elvis Presley nos palcos. Para não se tornar algo totalmente igual ao filme anterior porém o foco foi mudado. Ao invés de mostrar Presley em Las Vegas como na produção de 1970 a equipe da MGM resolveu seguir o cantor pelos Estados Unidos afora. Os diretores Robert Abel e Pierre Adidge colocaram o pé na estrada junto com Elvis e banda e foram registrar in loco o corre corre das concorridas turnês de Elvis pelos grandes centros do país. Usando de câmeras mais leves e de fácil deslocamento eles conseguiram captar bem o clima que antecedia os grandes concertos de Elvis. Se apresentando em grandes estádios o filme traz um rico material desses belos momentos ao vivo do astro. Além dos concertos os diretores ainda filmaram Elvis nos estúdios, em ensaios, sendo recebido pelos fãs por onde passava, mostrando um artista em um dos melhores momentos de sua carreira. O único erro maior dos diretores foi não terem registrado o concerto de Elvis no Madison Square Garden, uma apresentação histórica que parou Nova Iorque e que contou com grandes nomes na platéia prestigiando Elvis (inclusive os ex beatles John Lennon e George Harrison). Ao invés do Madison optou-se por captar momentos de shows diversos que Elvis foi realizando nessa mesma turnê.

Obviamente que um documentário como esse é especialmente indicado aos fãs de Elvis Presley mas para os cinéfilos em geral "Elvis On Tour" é também recomendado por alguns motivos básicos. O principal deles foi a participação de Martiin Scorsese no projeto. O famoso diretor participou do complicado processo de edição do filme. Com tanto material filmado - em algumas cenas seis câmeras filmavam ao mesmo tempo Elvis e seu grupo - foi necessário organizar tudo e Scorsese participou ativamente desse processo. O resultado se vê na tela, uma ótima montagem e edição de imagens que colaboraram bastante para o filme se tornar um sucesso de crítica e público na época de seu lançamento. O reconhecimento veio na noite de entrega do Globo de Ouro quando "Elvis Triunfal" foi premiado como o melhor documentário do ano. Mais um êxito na carreira de Elvis Presley nos cinemas naquele que ironicamente se tornaria seu último filme.

Elvis Triunfal (Elvis On Tour, EUA, 1972) Direção: Robert Abel, Pierre Adidge / Roteiro: Robert Abel, Pierre Adidge / Elenco: Elvis Presley, TCB Band, Joe Esposito, Charlie Hodge / Sinopse: Documentário que mostra a turnê que o cantor Elvis Presley realizou pelos Estados Unidos no ano de 1972. Vencedor do Globo de Ouro de melhor documentário.

Pablo Aluísio.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Elvis as Recorded at Madison Square Garden (1972)

Esse disco foi lançado para celebrar a passagem de Elvis Presley por Nova Iorque em 1972. Na ocasião o cantor se apresentou em quatro concertos no Madison Square Garden, um dos locais mais prestigiados dos EUA, onde apenas grandes astros se apresentavam. Por essa época a carreira de Elvis se concentrava em suas temporadas na cidade de Las Vegas e nas extensas turnês que realizava, atravessando o país de costa a costa. Os shows em NYC nada mais eram do que a abertura de uma série de apresentações que Elvis realizaria no meio do ano. Em pouco mais de um mês Elvis cumpriria uma apertada agenda que incluiria ainda aparições em várias outras cidades, com destaque para uma outra série de concorridos concertos em outra grande metrópole americana, Chicago.

O que deveria ser apenas uma passagem por Nova Iorque acabou se tornando um evento da mídia, pois os jornais não deixaram por menos e fizeram uma extensa cobertura dos concertos de Elvis na Big Apple. Não era para menos, Elvis era um notório ausente no circuito de shows da cidade. Dificilmente se conseguia entender como um astro do porte de Elvis Presley nunca havia antes se apresentado numa das mais importantes cidades do mundo. As turnês eram visivelmente agendadas em cidades do interior, em locais muitas vezes nada condizentes com a fama e o status que Elvis ostentava. De qualquer forma agora Elvis estava na cidade e isso definitivamente causou um grande rebuliço entre os meios de comunicação. Até mesmo uma entrevista coletiva foi agendada para o cantor, algo que era extremamente raro para Elvis e sua equipe. Bem humorado, Presley não se fez de rogado e no meio das brincadeiras falou sobre sua carreira, a volta aos palcos e tentou explicar a razão de ter demorado tanto tempo para realizar shows na cidade. "Estávamos procurando um local adequado" - brincou.

O disco retrata bem o bom momento em que Elvis vinha atravessando. Existe consenso entre os biógrafos e estudiosos sobre o assunto que um dos períodos mais ricos e férteis da carreira de Elvis Presley vai justamente de sua volta aos palcos em 1969 até mais ou menos 1973, no Aloha. Nesses anos Elvis realizou ótimos concertos, gravou excelentes canções e voltou aos primeiros postos das paradas de sucesso. No Madison Square Garden temos um dos picos de criatividade de Elvis nos palcos. O repertório, bastante coeso e diversificado; a banda, extremamente entrosada e Elvis, com pleno domínio vocal, constituíram uma forte base no qual se fundou o enorme sucesso das apresentações do astro em Nova Iorque. Elvis lotou o Madison Square por quatro vezes seguidas e foi prestigiado na plateia com as presenças de grandes mitos da música como John Lennon e George Harrison, que não perderam a oportunidade de conferir o concerto de seu grande ídolo.

Tão boa foi a repercussão de uma maneira geral que mudou até mesmo os planos da RCA Victor. Inicialmente a gravadora havia posicionado seus equipamentos para gravar o concerto e aproveitar apenas algumas músicas para serem encaixadas na trilha sonora do filme Elvis On Tour. O sucesso porém foi tão positivo que os executivos resolveram cancelar a trilha e lançar o mais rapidamente possível o LP com a apresentação. A ideia deu certo e Elvis conseguiu uma excelente vendagem, se tornando o disco um dos mais representativos de sua carreira. A decisão foi acertada sem dúvida, principalmente em relação aos fãs que não puderam comparecer ao evento, além de trazer para os fãs internacionais a chance de ouvir pela primeira vez várias faixas inéditas dentro da discografia de Elvis, como por exemplo The Impossible Dream, For The Good Times e até mesmo An American Trilogy (cujo single não havia sido lançado em todos os países ao redor do mundo).

Recentemente uma séria de fotos inéditas desses concertos foram encontradas, gerando novamente um grande interesse pelo fato na mídia mundial. Nelas podemos perceber como o evento foi grandioso. Infelizmente nenhum registro fílmico oficial foi realizado, nessa que foi uma das decisões mais infelizes da carreira de Elvis pois os realizadores decidiram que o show não seria filmado profissionalmente. O que existe atualmente são apenas imagens amadoras ou semi amadoras que nos dão apenas uma pálida ideia da performance de Elvis. Nem mesmo as pretensas imagens feitas pelas emissoras de TV de Nova Iorque conseguem reparar o estrago feito de não ter se realizado um plano profissional de filmagem dos concertos. De qualquer forma o disco oficial está aí e nos deixou a música realizada nesse dia como um testemunho do grande astro que Elvis foi. Certamente nem mesmo a Big Apple resistiu ao seu grande talento.

Elvis Presley - Elvis as Recorded at Madison Square Garden (1972)
01. Also Sprach Zarathustra
02. That's All Right
03. Proud Mary
04. Never Been To Spain
05. You Don't Have To Say You Love Me
06. You've Lost That Lovin' Feelin'
07. Polk Salad Annie
08. Love Me
09. All Shook Up
10. Heartbreak Hotel
11. Teddy Bear/Don't Be Cruel
12. Love Me Tender
13. The Impossible Dream
14. Introductions by Elvis
15. Hound Dog
16. Suspicious Minds
17. For The Good Times
18. American Trilogy
19. Funny How Time Slips Away
20. I Can't Stop Loving You
21. Can't Help Falling In Love
22. Closing Vamp

Elvis Presley - Elvis as Recorded at Madison Square Garden (1972): Elvis Presley (voz e violão) / James Burton (guitarra) / John Wilknson (guitarra) / Charlie Hodge (violão e vocais) / Jerry Scheff (baixo) / Ronnie Tutt (bateria) / Glen Hardin (piano) / J.D.Summer and the Stamps (vocais) / The Sweet Inspirations (vocais) / Kathy Westmoreland (vocais) / Joe Guercio Orquestra / Harry Jenkins e Joan Deary (produção e arranjo) / Data de Gravação: 10 de junho de 1972, 8:30 pm / Local de Gravação: Madison Square Garden, Nova Iorque / Data de Lançamento: junho de 1972 / Melhor posição nas charts: #11 (EUA) e #3 (UK).

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - He Touched Me (1972)

He Touched Me foi o terceiro e último álbum gospel da carreira de Elvis Presley. Lançado em 1972 o disco foi premiado com o prêmio Grammy na categoria "Melhor Interpretação Inspirativa" ainda naquele ano. Apesar de laureado pela academia musical He Touched Me não se tornou uma unanimidade entre os especialistas. Ao contrário dos discos evangélicos anteriores de Elvis esse não foi gravado em uma sessão exclusiva mas sim no meio da maratona de maio de 1971, sendo completado meio às pressas no mês seguinte em Nashville. Tanta correria e rapidez de certa forma acabaram prejudicando em parte o desenvolvimento do disco, cujo projeto deveria ter sido melhor trabalhado.

Um reflexo disso acabou aparecendo depois quando todos o ouviram pela primeira vez. Por causa da correria em finalizar o LP o produtor Felton Jarvis não conseguiu providenciar um arranjo mais original para as faixas do disco. Dessa forma quando surgiu nas lojas os principais críticos de música dos EUA foram quase unânimes em acusar o disco de simplesmente copiar linha a linha o arranjo e as harmonias das gravações originais. De certa forma havia razão por parte dos jornalistas e da crítica em geral. He Touched Me sofre bastante nesse aspecto. A impressão que nos passa é que realmente tudo foi gravado na pressa de finalizar o número de canções planejadas a tempo. Também pudera, Elvis vinha cumprindo uma extensa e apertada agenda de shows e temporadas ao vivo que acabavam sendo incompatíveis com as chamadas maratonas de gravação, como essa de 1971, praticamente a última grande sessão em estúdio da carreira de Elvis.

O álbum é puxado pela faixa título, na realidade um sucesso gospel de Bill Gaither, famoso compositor, músico e pregador americano. A canção é um spiritual ideal para o grupo The Imperials brilhar. O cantor por sua vez deve ter se sentido muito bem gravando essa faixa pois ela foi escrita  especificamente para ser executada por um quarteto gospel e não é segredo para ninguém que um dos maiores sonhos de Elvis era justamente esse, participar como vocalista de um grupo como o The Imperials (aqui brilhantemente o acompanhando). I´ve Got a Confidence, a faixa seguinte, demonstra a falta de um trabalho mais consistente de arranjo. A música mais parece uma jam session descompromissada.

Os grandes destaques do álbum realmente são as faixas Amazing Grace (clássico absoluto do repertório gospel americano, aqui muito bem executado por Elvis e seu grupo feminino de apoio), Bossom Of Abraham (com seu balanço que não deixa margens de dúvidas de onde proveio o Rock n Roll) e I, John (que acabou ganhando uma divertida cena no documentário Elvis On Tour). Enfim, He Touched Me é um disco que tem belos méritos e se peca por não ter sido muito original em seus arranjos se redime pela intensa dedicação de Elvis em dar o melhor de si nas músicas. No saldo final acaba sendo salvo do inferno de discos ruins da carreira de Elvis, o que por si só já é um grande milagre, amém.

Elvis Presley - He Touched Me (1972)
01. He Touched Me
02. I've Got Confidence
03. Amazing Grace
04. Seeing Is Believing
05. He is My Everything
06. Bosom of Abraham
07. An Evening Prayer
08. Lead Me, Guide Me
09. There Is No God But God
10. A Thing Called Love
11. I, John
12. Reach Out to Jesus

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Elvis On Tour The Rehearsals

Quando esse CD foi lançado eu escrevi aqui mesmo em nosso site o seguinte: "Todos sabem que Elvis On Tour possui um rico acervo de material inédito, não só de imagens gravadas para o filme e que nunca foram utilizadas, mas também de músicas e versões que estão arquivadas há anos pela gravadora de Elvis. Esse é só um exemplo do que nunca foi mostrado antes. São ensaios feitos por Elvis dentro do projeto Standing Room Only, que depois foi renomeado para Elvis On Tour. Mas é sempre bom ressaltar que isso é apenas uma pálida amostra do que está por vir nos próximos anos. Esperamos que o tão aguardado e prometido DVD venha com grande parte desses arquivos perdidos. Só nos resta esperar e torcer!" Um ano depois ainda estamos em compasso de espera. De qualquer forma esse CD é a prova viva de que muito material de excelente qualidade ainda está por aí, ou efetivamente arquivado pela EPE e pela BMG ou então esquecido em algum depósito da MGM, apenas esperando para finalmente sair à tona!

Porém isso não é tudo, fora essas duas hipóteses, existe uma terceira via que cada vez mais tem se destacado na divulgação dessas imagens e registros. Enquanto as empresas oficiais que cuidam do acervo de Elvis não lançam quase nada de forma legal, vai o mercado paralelo ficando cada vez mais organizado e sofisticado e com o auxílio da Internet temos tido acesso a várias imagens desse projeto, cenas essas que muitos nem sequer sabem como surgiram ou como apareceram na web! Quem são essas pessoas que, pela primeira vez, resolveram colocar essas imagens na net? Certamente, temendo um processo por violação de direitos autorais, muitos colecionadores procuram o anonimato e disponibilizam apenas alguns trechos desse filme. Apesar de muitos que apenas distribuem esse material assumirem uma posição de terem sido os que primeiro colocaram esses tapes pela net, sabemos muito bem que são apenas os atravessadores disso. Os verdadeiros colecionadores, aqueles que conseguiram os originais, as masters dos fotogramas no mercado negro, nunca irão aparecer de forma ostensiva. É a velha história, quando as pessoas que deveriam promover esse tipo de lançamento se omitem ou escondem esse material dos fãs em geral, acabam na verdade, com essa atitude, promovendo e abrindo espaço para que outros entrem nesse vácuo deixado e lancem eles mesmos, fragmentos desse acervo de forma ilícita.

Processo muito semelhante aconteceu com o especial "Elvis In Concert" de 1977. Desde o começo, a empresa que cuida dos direitos de Elvis, tentou varrer para debaixo do tapete esse programa de TV. A razão absurda apresentada seria a de que o especial iria macular a imagem de Elvis! Isso só vem demonstrar a imensa futilidade e falta de percepção da obra de Elvis por parte daqueles que hoje controlam o acervo do cantor. Como se pode ignorar um material desses e de tamanha importância histórica apenas porque Elvis não apresentava um bom aspecto físico? Esse tipo de atitude e de postura sempre me deixou bastante atônito! Os efeitos dessa omissão proposital da EPE são conhecidos de todos, pois o especial não deixou de chegar nas mãos dos fãs, a verdade é que ele chegou sim, porém de forma ilegal em cópias piratas. O que foi pior no final das contas? Com a tecnologia de nosso tempo não há como negar ou ignorar a existência de um projeto como esse, que repito, é muito importante, pois traz Elvis em seus últimos shows pelos EUA. Com "Elvis On Tour" temos uma situação parecida. Lançar o filme tal como foi apresentado nos cinemas em 1972 não irá trazer grandes novidades, principalmente para aqueles que sempre se empenharam em enriquecer suas coleções particulares.

Para esse tipo de público um DVD apenas com o filme seria banal demais. Por quê não resgatar todos os momentos perdidos que fizeram parte desse filme? O próprio diretor Martin Scorsese, que participou da montagem do documentário, sempre deixou claro em entrevistas que muito material foi descartado e não entrou na montagem final. Não estou falando de pequenos trechos, de filmagens rápidas de ensaios, nada disso, o que ele quis deixar claro é que existem shows inteiros filmados! Mas afinal aonde foi parar todo esse material? Talvez a péssima situação financeira da MGM nos últimos anos tenha colaborado para agravar esse quadro. Talvez a existência de grande parte desse material seja simplesmente ignorada pela própria empresa, ou ainda que muito provavelmente a MGM tenha um arquivo em más condições, podendo até mesmo grande parte desses registros ter se deteriorado pela passagem do tempo, quem sabe toda a verdade? Uma das hipóteses mais comentadas seria aquela em que afirma que os próprios funcionários dessa companhia teriam repassado a colecionadores esses trechos arquivados. Muito do que se vê e se conhece hoje desse projeto pode ter sido adquirido justamente dessa forma. Afinal espera-se de tudo de funcionários em uma empresa à beira da falência. Mesmo que grande parte dos direitos da MGM tenham sido repassados à frente para pagar suas contas, temos que entender que o que foi negociado foi a versão oficial do filme e não seus trechos não utilizados. Esses continuaram perdidos nos labirintos que formam os arquivos de uma companhia com quase 100 anos de existência! Imagine só a imensidão, o mar de películas fechadas e arquivadas em seus imensos depósitos! São exatamente essas cenas, que não entraram no corte final do filme, que possuem importância hoje para os fãs de Elvis. Outra coisa muito comentada: todo projeto de Elvis, após sua conclusão, era repassado para o Coronel Parker. O empresário então arquivava todo o material.

Teria a parte inédita, não utilizada, desse filme, também sido repassado a Parker? Ou será que simplesmente lhe foi dada pela produtora a versão oficial do filme e nada mais? Parker sabia certamente do valor desse tipo de coisa, principalmente após a morte de Elvis. Teria ele guardado algo a sete chaves do "Elvis On Tour"? O Coronel sempre estava fazendo insinuações sobre coisas inéditas que tinha sobre a carreira de Elvis. Infelizmente ele nunca resolveu provar suas afirmações. Quando morreu ficou a dúvida: O Coronel realmente tinha seu próprio tesouro de coisas inéditas ou só estava querendo fazer média com a EPE? Com sua morte tudo ficou em aberto e sem resposta. Vamos supor que tudo seja verdade, que o Coronel realmente possuía o que sempre afirmou ter em suas mãos, caso isso seja verdadeiro o que teria acontecido com esse "tesouro perdido" que foi arquivado pelo Coronel por anos e anos? Há uma corrente de autores que afirma que Parker guardou tudo para depois ter uma "carta na manga" e a utilizar como uma eventual garantia futura contra o espólio de Elvis, principalmente depois que ele perdeu grande parte dos direitos autorais sobre a obra do cantor, após aquele processo movido contra ele por Priscilla e a EPE! Jogador inveterado como era, Parker realmente nunca iria ficar sem um coringa escondido na manga para utilizar contra Priscilla ou quem quer que seja. Afinal estamos falando de Tom Parker, uma das pessoas mais astutas que já viveram no show business. E o que aconteceu com todo esse suposto material inédito guardado pelo Coronel após sua morte? Teria alguma pessoa envolvida com o espólio do Coronel passado trechos inéditos à frente?

Essas cenas inéditas de "Elvis On Tour" estariam vindo também dos arquivos de Tom Parker? Tudo entra no campo das especulações. Toda essa exposição serve para demonstrar ao fã como é complexo e vasto falar sobre o material inédito do projeto "Elvis on Tour". Isso dá margem a muita especulação, muitas teorias de conspiração! Para falar a verdade o "Elvis On Tour" acabou se tornando mesmo o "Santo Graal" da carreira de Elvis. Isso só vai acabar quando a EPE resolver colocar no mercado um DVD com tudo o que se especula existir e com tudo o que já é bem conhecido por todos! Até lá as visões, cada vez mais especulativas e contraditórias, irão prosperar. Não seria aqui o momento também para dissertar sobre o que já é ou não conhecido pelos fãs, o que já vazou ou não. Esse assunto é por demais extenso e fugiria ao tema proposto nessa análise. Sem dúvida posso até mesmo tratar com maiores detalhes sobre isso em artigos futuros, mas não nesse momento.

Temos agora que nos concentrar e nos focar especificamente no CD Elvis On Tour The Rehearsals, sem dúvida um ótimo lançamento do selo FTD (Follow That Dream). Comecemos pela Direção de Arte do CD. A capa traz um close do rosto de Elvis durante as sessões de gravação que deram origem ao disco. Sem dúvida é uma escolha interessante pois não deixa de ser tecnicamente simples, mas que de qualquer forma demonstra a inequívoca escolha por algo mais simplório e direto, sem superproduções. Qualquer fã irá associar rapidamente o conteúdo do disco com essa foto, pois certamente todos irão lembrar em poucos segundos das cenas de "Elvis On Tour", quando Elvis aparece cantando "Separate Ways". Não tem a virtuosidade de uma capa feita por Klaus Voorman e nem muito menos o classicismo de um Pietro Alfieri, responsável por tantas capas interessantes, inclusive da própria carreira de Elvis. É uma capa direta, sem maiores retoques ou firulas. Obviamente foi produzida para deixar claro para o consumidor do que se trata. Aliás esse direcionismo é encontrado também no título do disco, "Elvis On Tour - Os ensaios". Direto, simples, rápido e o mais importante, eficiente. Aliás vou aproveitar para abrir um parêntese aqui. Certamente um dos grandes pecados dentro da discografia de Elvis, principalmente durante os anos 70, reside justamente na fraca direção de arte de seus álbuns. São capas derivativas, sem grande cuidado técnico. Aliás, a bem da verdade, é até mesmo muito fácil de explicar porque as capas de Elvis durante os anos 70 são tão fracas do ponto artístico. O Coronel Parker impôs um regime de austeridade incrível. Nas capas de Elvis dos anos 60, principalmente de trilhas sonoras, logo notamos muitas fotos, ótimas contracapas, muita cor e alegria. Nos anos 70 as capas são simplíssimas, impessoais, burocráticas e tristes e as contracapas são, muitas vezes, pateticamente pobres do ponto de vista artístico. Veja o caso de dois discos de 1975, "Promised Land" e "Elvis Today".

Nada de maiores detalhes, apenas a lista seca das músicas sem nem ao menos a confecção de um design interessante. Muitas vezes a capa produzida para um projeto era aproveitado para outro e o pior, nada tinha a ver com o disco original para a qual elas foram confeccionadas. O caso mais conhecido é a do disco gravado no Madison Square Garden, cuja capa foi reaproveitada da nunca lançada trilha sonora do filme "Elvis On Tour". Veja a que ponto chegava o pão durismo de Tom Parker! Outro exemplo é a capa do disco "Elvis" de 1973, que nada mais era do que a capa não utilizada para o "Aloha From Hawaii". Esse último disco aliás possui uma capa original medonha, com um Elvis balofo e um satélite pessimamente montado sobre uma foto do planeta terra! Para piorar a ideia apelativa e fora de contexto ainda ousaram utilizar uma das mais infelizes fotos de Elvis já tiradas! A capa original do álbum duplo "Aloha" era tão feia que quando o disco foi relançado em CD resolveram fazer uma melhor, mais bonita. Um terrível atentado estético, certamente. Além de capas feias e pobres o Coronel Parker às vezes decidia que nem era preciso desenhar uma contracapa! Então ele simplesmente mandava aproveitar a capa para repeti-la na contracapa, como em "Raised On Rock". Enfim, a velha questão de se cortar os custos onde não se deveria. Enquanto outros grupos e cantores da época contratavam artistas plásticos renomados para elaborarem e criarem verdadeiras obras de arte para seus discos, Parker economizava seus níqueis. Passada essa análise inicial vamos agora nos ater às faixas do CD. Uma primeira constatação:

A Qualidade de Som é das melhores. Não poderia ser diferente, até mesmo em razão das circunstâncias em que o CD foi gravado. Os registros foram feitos por Elvis e banda no estúdio C da RCA e por essa razão aqui o ouvinte não vai encontrar muitos dos problemas de qualidade de áudio que ocorrem em outros títulos do selo Follow That Dream. São gravações profissionais, cercadas de todos os cuidados técnicos que se encontram nos grandes estúdios. Na verdade as existências dessas 19 canções se devem única e exclusivamente ao filme documentário "Elvis On Tour". Se não fosse pela necessidade que os diretores do filme sentiram em mostrar Elvis dentro dos estúdios ou ter material extra para uma eventual trilha sonora dificilmente Elvis teria participado dessa "sessão". Até mesmo porque todos sabem que Elvis odiava ensaiar! O repertório é o mesmo que ele utilizava nos palcos, sem grandes novidades. Um dos grandes interesses desse título talvez seja justamente esse, ouvir músicas exaustivamente tocadas por Elvis nas turnês sendo executadas dentro dos estúdios. Praticamente todas elas entraram no repertório de shows de Elvis nas primeiras apresentações em Las Vegas e nunca mais deixaram a set list dos concertos do cantor.

É o caso de Proud Mary, See See Rider, Polk Salad Annie, A Big Hunk O'Love ou até mesmo Johnny B. Goode. Muitos especialistas inclusive afirmam, com certa dose de razão, que praticamente todas as apresentações de Elvis durante os anos 70 derivariam insistentemente desses primeiros shows em Vegas. Realmente, se formos analisar bem, as temporadas de 69, 70, 71, e no mais tardar 72, iriam imperar de forma definitiva no que Elvis iria apresentar até o final de sua vida, com ocasionais e pontuais exceções. Por essa razão muitos autores afirmam que Elvis estacionou em seus últimos anos. Os shows eram praticamente iguais, as músicas muito raramente variavam e sem mudanças significativas Elvis ficou nos anos seguintes repetindo o mesmo repertório de seus primeiros shows no International Hotel (depois mudado para Hilton). E dentro dessa repetição insistente, poucas canções são mais representativas desse estado de coisas do que as acima citadas. Depois que surgiram, nunca mais foram descartadas por Elvis. Algumas ficaram fora dos concertos em determinadas épocas mas não tardavam a voltar depois. Várias são as razões que levavam Elvis a repetir ano após ano a mesma seleção musical. Além da facilidade que isso trazia para ele, sempre preocupado em não esquecer as letras das novas músicas, o próprio público também pouco colaborava para incentivar Elvis e banda a tomar novos rumos, produzir coisas diferentes. Preso dentro dessa situação Elvis pouco inovou em seus anos finais. Como o CD foi gravado em 1972 podemos perceber ainda algumas novidades de repertório, mesmo notando que Elvis começava, mesmo nesse ano, a se repetir, como podemos perceber na lista das canções presentes aqui.

A primeira faixa do CD, Proud Mary, por exemplo, pouco difere das versões ao vivo de que tanto conhecemos. Elvis está bem empenhado e o grupo a toca corretamente, mas é só. Praticamente igual à versão do disco "On Stage, February 1970", sem nenhuma novidade. Uma pena que Elvis não tenha aproveitado para trazer algo novo, diferente. Certamente se tivesse agido assim o interesse por essa faixa seria maior. Infelizmente ao invés de inovar, muitas vezes ele ficava entediado facilmente, como podemos perceber logo após. Polk Salad Annie já traz Elvis um pouco desligado e desinteressado de tudo à sua volta. Sutilmente Elvis vai levando ela meio que no controle remoto. Nas partes em que seu tédio é mais visível Elvis vai murmurando a letra. Nem no final eletrizante Elvis se empolga e termina a canção com um indisfarçável ar de preguiça ao bocejar "blablablablablabla...." Difícil segurar o riso ao perceber como Elvis estava de saco cheio nessa gravação! A seguinte, See See Rider, é tecnicamente semelhante também às primeiras versões da temporada de 1970. Fico admirado em perceber como Elvis não se cansou dessa música! Foram anos e anos cantando "See See Rider", em centenas de shows, praticamente sem interrupção! Em 1972 ele já teria interpretado exaustivamente essa canção dezenas e dezenas de vezes e mesmo assim continuou com ela nos anos seguintes, muitas vezes sem demonstrar sinais de aborrecimento. Talvez ela tenha sido ideal para abrir os shows por ser empolgante, contagiante e o mais importante para Elvis, ter uma letra de fácil assimilação, até porque ninguém quer começar um concerto errando a letra da música de abertura, logo de cara! Enfim, essa versão de "See See Rider" é perfeita e impecável. Vale muito ouvi-la em estúdio.

Então chegamos em Johnny B. Goode. Sinceramente, muitos críticos crucificam Elvis Presley e afirmam que ele teria tomado um rumo fácil em seus anos finais, vivendo basicamente da nostalgia de seus fãs! E o que dizer de um artista como Chuck Berry? (autor dessa canção). Posso afirmar, sem medo de ser injusto, que Berry, apesar de ser um talento inigualável, vive praticamente de suas canções dos anos 50 até hoje! Se isso não for estagnação não sei mais o que poderia ser! Vamos ser corretos em um ponto: pode até ser que Elvis realmente tenha ficado parado no tempo em seus shows, sem grandes inovações, vivendo realmente basicamente de suas velhas canções. Mas esse estado de coisas nem sempre pode ser transferida para sua carreira nos estúdios. Em seus discos Elvis procurou trazer muito material inédito, tanto que muitas vezes era criticado por confundir qualidade com quantidade! Os discos de Elvis em estúdio dos anos 70 registram um cantor antenado com novos compositores e novas tendências musicais (claro que restritas em sua área de atuação e estilo). Elvis e seu produtor Felton Jarvis procuraram andar em uma tênue linha que não separasse os novos sons e o legado do passado glorioso do próprio Elvis. Seguir em frente sem esquecer o caminho já percorrido.

E se todas essas músicas anteriores representam uma certa falta de renovação por parte de Elvis, as que vêm a seguir demonstram exatamente o contrário, pois são as novidades, as faixas inéditas que Elvis tinha para apresentar em sua carreira naquele momento. Burning Love era a primeira preciosidade. Muitos afirmam que Elvis tinha um certo pé atrás em relação à música. Em um primeiro momento realmente Elvis não a quis gravar. Achou a canção um pouco fora do contexto do material que ele vinha gravando na época. Mas ele acabou sendo incentivado não só por seu produtor como também pelos outros músicos presentes. No final a música acabou se tornando seu grande hit nos 70's. Essa versão que ouvimos no "Elvis On Tour - Rehearsals" é mais contida, com menos energia por parte não só de Elvis como da banda também. Naquela ocasião a canção era recentíssima dentro do repertório de Elvis e ele obviamente estava ainda se acertando durante os ensaios. A única singularidade dessa versão surge no finalzinho da faixa: Elvis tira uma pequena brincadeira com a vocalização feminina.

Always On My Mind vem logo a seguir. Essa música foi o melhor e maior exemplo de sucesso póstumo da carreira de Elvis. Burning Love foi o single mais vendido de Elvis durante os anos 70 e Always on My Mind? Não chegou nem ao Top 100 da Billboard. Como explicar tamanho sucesso nos dias de hoje? O caminho de Always on My Mind foi muito curioso. Inicialmente ela foi gravada para fazer parte do disco Standind Room Only, trilha sonora do segundo documentário feito por Elvis nos anos 70. Depois de gravar cenas de Elvis gravando essa e Separate Ways para o filme, a trilha foi cancelada por Felton Jarvis. O nome do filme foi mudado para Elvis On Tour e Always on My Mind foi renegada a um lado B de um single do Rei nos anos 70. O Lado A, Separate Ways, conseguiu entrar no Top 20 da Billboard mas "Always" foi totalmente ignorada pelo público. O Coronel ainda a utilizou para lançar um disco de preço promocional de mesmo nome do single e depois disso Always on My Mind foi completamente esquecida. Detalhe mais do que curioso: Nunca foi lançada no Brasil durante a carreira de Elvis. O tempo passa, Elvis morre e a música continua completamente obscura e perdida dentro da vasta discografia de Elvis. Só os fãs mais conceituados a conhecem, não por sua falta de qualidade, nada disso, muito pelo contrário, mas por ter sido tão mal lançada na época. Hoje muitas pessoas que assistem Elvis On Tour em sua versão original estranham muito o fato de aparecer Elvis cantando Separate Ways e não Always on My Mind. Isso demonstra que ela nunca foi uma música de ponta durante a carreira de Elvis. Aliás sequer foi utilizada por ele durante os shows dos anos 70!

Pois bem, passam-se muitos anos até que o grupo Pet Shop Boys lança uma versão de Always on My Mind que estoura em todas as rádios do mundo todo. A música fica conhecidíssima e sua melodia se torna muito, mas muito popular. Em uma entrevista na BBC de Londres um dos vocalistas do Pet afirma que a música é na realidade uma versão de uma antiga canção de Elvis Presley. Mas ninguém a conhecia, pois muitas pessoas, no máximo, se lembravam da versão de Brenda Lee. Os radialistas ingleses começam a procurar a tal versão de Elvis e começam tocar a Always on My Mind do Rei do Rock nas rádios, muitas vezes em dobradinha com a versão do Pet Shop Boys. A RCA corre e relança a canção dessa vez com toda a campanha de marketing a que ela tem direito. Nasce o maior de todos os hits póstumos de Elvis Presley. Para terminar a consagração Priscilla Presley escolhe a canção como tema da minissérie "Elvis e Eu". A metamorfose estava completa. "Always on My Mind" se tornava assim a canção super popular que todos conhecem nos dias de hoje. Como diria Paul McCartney essa música teve que percorrer um longo e suntuoso caminho (The Long and Winding Road, título de uma das mais belas canções dos Beatles) para se tornar o que ela hoje é. Essa versão que está nesse CD é de excelente nível.

Separate Ways que vem para fechar o disco demonstra a grande qualidade do material gravado por Elvis na época. Com um arranjo fabuloso e uma grande performance do cantor, ela é certamente uma das mais biográficas canções já interpretadas por Elvis. A letra caiu como uma luva e retrata fielmente os problemas pessoais dele em seu casamento. Como todos sabemos, o divórcio de sua esposa Priscilla colocou Elvis em um caminho sem volta de autodestruição. O intérprete estava se separando de Priscilla, dando início a um período extremamente conturbado de sua vida. O grande momento desse CD, porém, não vem dessas novas canções de Elvis, como "Always On My Mind" ou "Separate Ways", mas sim de um antigo clássico, um tanto esquecido, mas de uma beleza ímpar, que ganha uma nova leitura. Quem já ouviu o CD sabe do que estou falando.

Trata-se de uma versão de Young and Beautifull, balada dos anos 50, mais especificamente do filme "Jailhouse Rock", que ganha um tratamento todo especial por parte de Elvis e banda. Antes de mais nada é bom deixar claro que se trata de um ensaio, como o próprio nome do disco deixa claro, isso é até óbvio, mas a despeito disso não podemos ficar menos do que surpresos com a qualidade final da faixa. A canção começa meio sem querer, Elvis cantarola suavemente a introdução da música e o resto da TCB começa o acompanhamento. Após um pequeno deslize, em que Elvis se confunde com a letra, ele vai muito bem na execução até seu final. Infelizmente Elvis não a incluiu efetivamente em seu repertório de shows nos anos 70. Ao invés disso ele continuava a preferir incluir pela centésima vez nos concertos músicas como Love Me, Hound Dog ou Lawdy Miss Clawdy, todas presentes no disco também. Sinceramente, tem coisa mais chata que esse arranjo de "Hound Dog"?! A música perde seu sentido original, seu arranjo marcante, e se torna uma paródia de si mesma, que inclusive foi até mesmo usada em shows a exaustão, chegando a aparecer em discos oficiais ao vivo. É mais uma versão medíocre de seus antigos clássicos, daquelas que mal ultrapassavam mais do que um minuto de duração. Elvis certamente poderia passar sem essa. "Lawdy, Miss Clawdy" tem mais dignidade, sendo muito mais fiel à gravação dos anos 50, mas mesmo assim não traz nenhuma novidade mais digna de nota! Por fim "Love Me" é totalmente de rotina. Você já ouviu esse arranjo e essa execução um milhão de vezes antes em milhões de discos diversos de Elvis ao vivo. Por essa razão pode pular essa faixa sem problemas.

As demais faixas do CD não trazem grande novidade. For The Good Times e Funny How Times Slips Away são apenas interessantes. A segunda, pela própria beleza da melodia é muito superior à primeira, que também é rotineira e sem surpresas. El Paso que está creditada entre as duas nem sequer merecia essa distinção. Aqui é um arremedo de ensaio, Elvis só canta o comecinho e o resto da faixa fica no lenga lenga dos músicos tentando acertar seus instrumentos. Desculpe mas isso não deveria ter sido creditado no CD, isso nem sequer é um faixa de verdade, é um arremedo sem importância. Soa até mesmo como pegadinha, o consumidor lê no encarte "El Paso" e pensa que é algo inédito, uma música que ele não tem em sua coleção e por isso decide comprar o CD. Imagine a cara de decepção do sujeito quando coloca o CD para tocar e ouve isso. A FTD aqui pisou na bola feio. Chamem urgentemente o Procon! Resumindo: um minuto e seis segundos de enrolação e nada mais!

Com Help Me Make it Through The Night e Release Me acontece uma coisa interessante: as versões são superiores às oficiais. Com o clássico de Kris Kristoferson isso é até fácil de entender o porquê! Existe o consenso de que a versão do disco "Elvis Now" é muito mal gravada e interpretada. Qualquer outra versão com o mínimo de fluidez e desenvolvimento iria superá-la facilmente. Basta ouvir os primeiros acordes para todos entenderem a razão dessa minha afirmação. Essa versão desse CD é muito mais interessante, mais leve, com Elvis mais à vontade. Na versão oficial Elvis soa cansado (e cansativo), a faixa tem uma sonorização esquisita e abafada demais e o grupo apenas se arrasta lentamente e tediosamente ao lado de Elvis. Uma pena que o cantor não tenha naquela ocasião gravado uma levada bem mais leve e menos chata como aquela que ouvimos. Já com "Release Me" a razão é diferente, diversa. Não que a faixa ao vivo, oficial, do disco "On Stage" não seja boa, nada disso. Ela é excelente. O que acontece é que como essa é gravada em estúdio tem muito mais qualidade sonora e de arranjo. Ouçam como ela é muito mais suave, tem muito mais ritmo, enfim como ela é agradável. Nas gravações ao vivo existe toda aquela produção inerente aos concertos para causar impacto no público. Todos aqueles arranjos de metais, muitas vezes super exagerados! Mas ouça essa versão. Nada disso está presente. Elvis, a banda TCB e os vocalistas de apoio estão totalmente entrosados, estão ótimos. Repare como até mesmo o grupo vocal de Elvis está bem mais discreto e oportuno.

Já em relação aos tapes de The First Time I Saw Your Face e Never Been To Spain acontece justamente o contrário pois elas são bem piores do que às versões oficiais. O caso de "The First Time" é bem exemplificativo disso. A versão original é irretocável e perfeita. Tentar chegar perto de sua grande qualidade seria muito complicado para Elvis e seus músicos. Extremamente bem produzida a canção era de difícil reprodução, não só em estúdio mas também e principalmente nas versões ao vivo. O próprio início da canção já começa de forma esquisita com uma introdução que inexiste na master definitiva. Depois dessa derrapagem inicial a música se normaliza mas em nenhum momento consegue se igualar à versão oficial que saiu em single. Sua velocidade original está acelerada, com isso a música perde algumas de suas características mais conhecidas como a suavidade e a melodia sutil. Do jeito que está fica mais para uma boa marcha do que para sua linda linha melódica original. Se "First" está rápida demais, "Never Been To Spain" está excessivamente lenta. Talvez isso nem seja um ponto totalmente negativo porque assim ela estará fazendo jus ao seu ritmo que é o blues. De qualquer forma fica a sensação de que ela poderia ser bem melhor. Talvez por ser apenas um ensaio Elvis fique no piloto automático. É compreensível.

Enfim, o CD FTD Elvis On Tour The Rehearsals é bastante interessante. Ele certamente não é o melhor lançamento desse selo e nem tampouco fica entre os piores. Seus pontos fortes se concentram na boa qualidade sonora, na coesão contextual e histórica das faixas, da seleção em si, e no bom trabalho de resgate que ele nos proporciona. Além disso é muito interessante para quem já não aguenta mais ouvir músicas como See See Rider ou Proud Mary ao vivo. Apesar de tudo não deixa de ser prazeroso ouvir todos esses momentos em estúdio. Seu principal ponto negativo talvez provenha da falta de grandes novidades, da ausência de versões que nos surpreendam mais. Ele passa longe de ser totalmente burocrático como outros lançamentos desse selo como por exemplo "Summer Festival" e nem tampouco é tão revelador como outros da série, mas certamente marca pontos interessantes principalmente por fazer parte de um projeto que tem muito ainda a revelar. Não é ainda o que todos esperamos, mas é, como o próprio título do CD sugere, um ensaio do que ainda está por vir. Quem viver verá!

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Elvis Presley - Elvis On Tour (1972)

No verão de 1972 Elvis foi informado pelo coronel Parker que a MGM estava interessada em filmar um documentário que mostrasse suas concorridas turnês pelas cidades dos Estados Unidos. A direção seria entregue a um dos maiores documentaristas em atividade e o aclamado diretor de cinema Martin Scorsese iria coordenar parte dos trabalhos de edição e montagem. Em Las Vegas, nesse mesmo mês, Elvis se encontrou pessoalmente com os produtores Pierre Adidge e Bob Abel. A conversa foi muito franca, tanto do lado de Elvis como dos produtores que lhe disseram abertamente: "Depois do sucesso do filme Woodstock entendemos Ter chegado o momento de filmar um documentário mostrando a origem de tudo isso, desse movimento social: você! Não gostamos de That's The Way It Is e seus filmes dos anos 60 foram tão ruins que ficamos até surpresos em como a MGM conseguiu comercializá-los. Apreciamos seu trabalho atual, mas preferimos as músicas que você cantava nos anos 50" Elvis, por sua vez, disse que não se sentiu muito à vontade nos estúdios da MGM durante as gravações de "That's The Way It Is" por causa das enormes câmeras de cinema que foram instaladas durante as filmagens, atrapalhando o movimento e a espontaneidade dele e do seu grupo de apoio.

A conversa se prolongou e foi muito produtiva, os realizadores prometeram a Elvis que ele seria filmado por câmeras especiais, do tipo portátil e que seu raio de ação não seria limitado por falta de espaço como no caso de "That's The Way It Is". Pierre Adidge disse a Elvis, com seu forte sotaque francês, que esse filme seria produzido com a utilização do que havia de mais moderno em termos de edição de filmagem. Tudo seria de primeira linha. Elvis deveria se mostrar de forma autêntica, agir de maneira habitual e espontânea, e não se importar com a equipe de filmagem que iria acompanhá-lo para todos os lugares. A intenção era filmar Elvis não só no palco, mas também nos camarins, no contato com os fãs, interagindo com os músicos, sem roteiros ou scripts pré determinados, tudo o que se queria captar era a verdadeira essência do mito Elvis Presley. Para tanto a equipe da MGM já começaria a gravar algumas cenas como teste nos seus próximos shows e iria acompanhá-lo nos estúdios da RCA em sua próxima sessão de gravação onde ele iria registrar novas músicas - entre elas uma tal de "Always On My Mind" e outra de um novo compositor, uma canção que Elvis tinha ouvido e que não tinha muita certeza se deveria gravá-la: "Burning Love"!

A parte da direção musical ficaria inteiramente sob controle de Elvis e de seu produtor Felton Jarvis, sem intervenção do pessoal da MGM. Três dias depois Elvis se reuniu com a TCB Band e os avisou que sua próxima turnê seria filmada para o cinema. Elvis resolveu providenciar uma mudança no repertório com a introdução de novas canções nos shows. Trabalho duro pela frente!. Enquanto a RCA lançava o single "American Trilogy" - com "The First Time Ever I Saw Your Face" no lado B - Elvis começava sua turnê no leste do país, com a MGM gravando tudo o que acontecia nessa primeira rodada de shows. Elvis foi filmado dentro do avião, antes dos shows, conversando com fãs, enfim, todo o delírio que acontecia ao redor de uma turnê do rei do rock foi registrado pelo pessoal do estúdio. Mais de 250 pessoas da equipe de filmagem acompanharam Elvis e banda nesses quinze shows realizados em várias cidades, como Buffalo, Indianapolis, Detroit, Dayton, Hampton Roads, Knoxville, Charlotte, Macon e Jacksonville. Segundo alguns membros da equipe que participaram do time da MGM mais de 40 horas de material foram filmados para "Standing Room Only" – o nome original do filme, depois mudado para "Elvis On Tour" (Elvis Triunfal no Brasil) – mas que nunca foram mostrados ao público. Shows inteiros foram filmados e não aproveitados, ficando no chão da sala de edição de Martin Scorsese.

Esse precioso material pode um dia ser lançado, mas atualmente jaz nos arquivos dos estúdios MGM em Hollywood. Sem dúvida muita coisa foi gravada, mas a principal apresentação de Elvis nessa turnê ficou de fora!!! Talvez o pior erro cometido pelos produtores de "Elvis On Tour" foi não Ter filmado os shows de Elvis no Madison Square Garden em Nova Iorque. Até hoje a MGM não consegue dar uma resposta satisfatória por ter deixado passar essa apresentação – uma das mais importantes da carreira de Elvis – em branco. Como é que cometeram uma bobeada dessas? Durante a coletiva à imprensa em NY os jornalistas perguntaram a Elvis e ao Coronel porque não iriam ser filmados seus shows no MSQ? Os dois saíram pela tangente e não souberam responder a pergunta!!! – até mesmo porque essa era uma decisão da Metro e não de Elvis e nem do Coronel Tom Parker. Ninguém sabe ao certo porque essa infeliz decisão de não filmar em Nova Iorque foi tomada.

A última coisa a ser gravada para esse documentário foi uma entrevista particular que Elvis deu nos estúdios da MGM para os realizadores da película. A intenção era usar esses trechos falados entre as imagens com cenas dos shows, mas essa ideia foi abandonada depois. Essa entrevista que continua em grande parte inédita até hoje é um raro registro onde Elvis falou sobre tudo: a origem de sua música, seus ídolos de infância, sobre sua vida pessoal etc. Desse rico material só foi aproveitado um pequeno trecho em áudio, de alguns segundos, que foi utilizado durante as cenas de Elvis na TV americana nos anos 50.

A revista Rolling Stone não poupou elogios e afirmou que "Finalmente havia sido lançado o primeiro filme de Elvis Presley". O coronel Parker já estava por essa época em negociações com a TV para a realização de um grande especial com Elvis, que iria ser transmitido via satélite para o mundo. Por isso pressionou os produtores para lançarem "Elvis On Tour" logo, pois caso contrário o filme iria acabar se transformando em concorrência para o especial de TV. O pior aconteceu com a trilha sonora do filme. Parker simplesmente resolveu cancelar seu lançamento, pois ele estava mesmo apostando em dois outros projetos de discos gravados ao vivo – um no Madison Square Garden e outro do especial via satélite – e por essa razão se tornava inviável o lançamento de mais um disco ao vivo. Três discos iguais, com apresentações ao vivo de Elvis, seriam demais para o mercado! Mas uma coisa é certa: todo esse trabalho acabou valendo muito a pena. Quando foram anunciados os nomes dos filmes que iriam concorrer ao Globo de Ouro - o segundo mais prestigiado prêmio da indústria cinematográfica dos Estados Unidos, atrás apenas do Oscar - "Elvis On Tour" estava presente na lista, disputando na categoria de "melhor documentário do ano".

Elvis, bastante nervoso, acompanhou a noite de premiação de sua suíte no Las Vegas Hilton. Quando o mestre de cerimônias finalmente leu o nome do ganhador de melhor documentário do ano de 1972 – "Elvis On Tour" de Pierre Adidge e Bob Abel – Elvis deu um pulo da poltrona e simplesmente explodiu de felicidade! Não havia espaço dentro da suíte para tamanha comemoração por parte de Elvis e dos caras da Máfia de Memphis! O Rei também não deixou barato e nessa mesma noite deu uma das maiores festas que Las Vegas já presenciou! Todos correram para cumprimentá-lo e lhes dar os parabéns. Elvis não se conteve de tanta alegria e entre abraços, lágrimas e risos anunciou com muito orgulho que finalmente havia vencido o Globo de Ouro. Era a primeira vez que um filme de Elvis Presley ganhava um prêmio dessa importância. Foi uma das maiores glórias de sua já tão gloriosa carreira. Elvis estava mais do que nunca... Triunfal!

Pablo Aluísio.