quarta-feira, 10 de abril de 2024

Maratona da Morte

Título no Brasil: Maratona da Morte
Título Original: Marathon Man
Ano de Lançamento: 1976
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: John Schlesinger
Roteiro: William Goldman
Elenco: Dustin Hoffman, Laurence Olivier, Roy Scheider, William Devane, Marthe Keller, Fritz Weaver

Sinopse:
Thomas 'Babe' Levy (Dustin Hoffman) é um jovem universitário comum do curso de história que adora esportes e se prepara para disputar uma maratona. Sua vida vira ao avesso depois que ele descobre que está envolvido, de forma completamente involuntária, em uma grande conspiração internacional de espionagem envolvendo inclusive nazistas, criminosos de guerra. Filme indicado ao Oscar na categoria de melhor ator coadjuvante (Laurence Olivier).

Comentários:
Quando fez esse filme o ator Dustin Hoffman estava no auge de sua carreira do cinema. Ao lado de Al Pacino e Robert De Niro ele era considerado um dos grandes nomes da nova geração de atores em Hollywood. O interessante é que todos eles pareciam homens comuns, nada semelhantes aos grandes galãs do passado. Um claro sinal do realismo que o cinema norte-americano abraçou na década de 1970. E isso definitivamente era muito bom. Esse filme assim tenta mostrar o lado da espionagem internacional que abalava a vida das pessoas normais, que não estavam envolvidas diretamente nesse meio de espiões, segredos de Estado, etc. E nesse aspecto o filme realmente funcionava muito bem. O tema iria seguir em frente, mas esse pode ser considerado um dos filmes pioneiros nessa temática. Tem bom ritmo e o roteiro lida muito bem com o suspense envolvido em toda a situação. Também vale destacar o trabalho do veterano Laurence Olivier, naquele que pode ser considerado o seu último grande papel no cinema. Enfim, está mais do que recomendada essa pequena obra-prima dos anos 70. 

Pablo Aluísio.

Robin e Marian

Título no Brasil: Robin e Marian
Título Original: Robin and Marian
Ano de Produção: 1976
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Richard Lester
Roteiro: James Goldman
Elenco: Sean Connery, Audrey Hepburn, Robert Shaw, Richard Harris, Nicol Williamson, Denholm Elliott

Sinopse:
Na velhice, o famoso Robin Hood (Sean Connery) tenta levar uma vida comum ao lado de sua mulher, Marian (Audrey Hepburn), só que o seu passado de aventuras e luta contra a tirania sempre voltam para cobrar seu preço.

Comentários:
Foi uma das primeiras tentativas de buscar uma certa realidade na lenda de Robin Hood. Como se sabe o personagem ficou marcado na memória do cinema como o aventureiro de roupa verde no famoso filme de Errol Flynn. Aqui você não encontrará nada parecido. O Robin é um homem já velho, tentando apenas viver um dia de cada vez, tentando ser feliz ao lado do amor de sua vida. a doce e bondosa Marian. Curiosamente por ter essa temática tão inovadora, o filme acabou sendo criticado na época de seu lançamento original. Uma falta de visão maior dos críticos. Já que nos anos seguintes o filme faria escola e sempre que Robin Hood era levado novamente ao cinema havia uma dose de realismo envolvido. Nada de apostar apenas em aventuras sem desenvolver todos os personagens dessa lenda medieval. Assim temos que reconhecer a importância dessa produção, por causa de seu roteiro que ousou fazer diferente. Outro ponto forte, bem óbvio, é o excelente elenco, contando não apenas com Sean Connery no papel de Robin Hood, mas também com a grande dama do cinema americano em sua era de ouro, Audrey Hepburn. E o que dizer de Richard Harris no papel do Rei Ricardo Coração de Leão? Simplesmente maravilhoso!

Pablo Aluísio. 

terça-feira, 9 de abril de 2024

Dias de Ira

Título no Brasil: Dias de Ira
Título Original: I Giorni Dell'ira
Ano de Produção: 1967
País: Itália, Alemanha
Estúdio: Corona Filmproduktion, Divina-Film
Direção: Tonino Valerii
Roteiro: Ron Barker, Ernesto Gastaldi
Elenco: Lee Van Cleef, Giuliano Gemma, Walter Rilla

Sinopse:
Quando garoto, Scott (Gemma) foi abandonado por sua mãe. Agora para sobreviver ele faz uma série de trabalhos que ninguém quer na pequena cidade de Clifton. Ele recolhe e esvazia latrinas, varre casas e saloons e cuida dos cavalos em um estábulo próximo. Sua sorte começa a mudar quando chega na cidade o temido pistoleiro e fora-da-lei Frank Talby (Lee Van Cleef) que simpatiza com o jovem. Depois de o conhecer melhor resolve tornar o humilde Scott seu aprendiz na arte de sobreviver no velho oeste. Ao lado dele sai em busca de um antigo carregamento de ouro no valor de 50 mil dólares que desapareceu antes dele ser preso anos atrás.

Comentários:
Gostei bastante desse bom western Spaguetti chamado "Dias de Ira". Obviamente todos os ingredientes que fizeram a fórmula dos filmes italianos de faroeste darem certo estão lá. O roteiro baseado em vingança, os tiroteios criativos, a violência estilizada e a trilha sonora evocativa, sempre repetida à exaustão, para criar aquele clima que todos conhecemos. O atrativo maior dessa produção vem do fato de trazer dois ídolos do spaguetti em apenas um filme, Lee Van Cleef e Giuliano Gemma. Cleef repete seu tipo habitual, a do pistoleiro durão que não abre concessões e nem aceita ser passado para trás. Ele tem uma ótima cena quando aceita o desafio de participar de um duelo sobre o cavalo contra um assassino profissional que foi contratado justamente para matá-lo. Em outra é arrastado por três cavalos no meio do deserto. São cenas que certamente fazem a alegria dos admiradores desse tipo de fita. Já Giuliano Gemma também está muito bem no papel de pobre coitado que resolve ir à desforra contra todos aqueles que o humilhavam no passado (ele tinha uma certa predileção por esse tipo de personagem). Em suma, um faroeste acima da média feito na bota que vai agradar em cheio aos que curtem um bom e velho western spaguetti.

Pablo Aluísio.

Cavaleiro Misterioso

Título no Brasil: Cavaleiro Misterioso
Título Original: Stranger on Horseback
Ano de Produção: 1955
País: Estados Unidos
Estúdio: Robert Goldstein Productions
Direção: Jacques Tourneur
Roteiro: Herb Meadow, Don Martin
Elenco: Joel McCrea, Miroslava, Kevin McCarthy

Sinopse:
O juiz Richard 'Rick' Thorne (Joel McCrea) se considera um homem íntegro e honesto. Para isso ele captura um jovem acusado de assassinato e pretende levar o rapaz até o tribunal na capital do estado. Sua viagem porém não será nada fácil pois o acusado é filho de um rico barão do gado da região que fará de tudo para que ele seja solto das mãos do homem da lei.

Comentários:
Um filme de faroeste americano dirigido por um parisiense? No mínimo estranho! Certamente western não era o forte do francês Jacques Tourneur que tinha mais intimidade com filmes de capa e espada ao estilo "O Gavião e a Flecha" e "A Vingança dos Piratas", produções dirigidas por ele que alcançaram belas bilheterias na época. O produtor Robert Goldstein por sua vez não pensava assim e queria há muitos anos que Tourneur trouxesse sua sofisticação europeia para o velho oeste americano e o resultado foi justamente esse "Stranger on Horseback", um western que se mostra bem diferente do que era realizado nos anos 50 nos Estados Unidos. Como todo europeu o diretor também quis explorar mais seus personagens, trazendo conflitos internos e profundidade psicológica a todos eles. Claro que havia um limite para se aprofundar nisso, por causa do mercado, e Tourneur se mostrou sensato no resultado final. Considero uma pequena obra prima que anda bem esquecida. De qualquer maneira nunca é tarde para se redescobrir esse faroeste com sabor de croissant.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Le Mans / 24 Horas de Le Mans

Esse é um curioso filme da filmografia do Steve McQueen. O fato é que ele era louco por corridas e carros velozes, assim quando estava no auge de seu sucesso resolveu bancar um projeto pessoal: realizar um filme durante as 24 horas de Le Mans (uma das corridas mais famosas da Europa). Embora tenha sido aconselhado a não estrelar o filme, Steve bateu o pé e levou uma enorme equipe de Hollywood para filmar o grande evento esportivo. O problema é que em sua ansiedade de fazer o filme McQueen esqueceu de que todo filme tem que ter um roteiro e não basta apenas filmar carros à toda velocidade.

Aí é que está todo o problema de Le Mans... O filme praticamente não tem  um roteiro! Tampouco você vai encontrar uma história, um enredo, mais bem elaborado para acompanhar... De fato o resultado final está mais próximo de um documentário, com tomadas e mais tomadas dos carros de corrida do que propriamente um filme convencional, com personagens, script, falas, interpretação dos atores, etc. É tudo fruto da paixão do ator por velocidade e nada muito além disso. Ele queria registrar em película os carros coloridos, a emoção do público, o clima em torno da corrida. Não estava preocupado em atuar e nem nada do tipo.

O que ficou de mais importante dessa produção dos anos 70 foi o registro histórico dos carros, dos pilotos e das equipes da época em que o filme foi feito. Por isso os fãs do esporte vão gostar mais do que os fãs de cinema. Esses terão pouco a apreciar. Tudo se passa nas próprias 24 horas de Le Mans. Tudo o que se vê durante o filme inteiro é a própria corrida e nada mais. É praticamente um documentário da corrida. Para não dizer que McQueen não interpreta nada, ele tem duas cenas onde troca diálogos rápidos com outros personagens (que nem mesmo possuem nomes!). Porém tecnicamente, do ponto de vista das filmagens, temos que admitir que o filme é muito bem editado e tem ótimas sequências de pista... mas também só tem isso. Enfim, o resultado de tudo é que o filme não agradou ao público em geral, foi um tremendo fracasso de bilheteria e o McQueen perdeu uma verdadeira fortuna com essa ideia. Foi um resultado esperado, já que os produtores o advertiram. Ele porém pagou para ver e deu no que deu. 

Le Mans / 24 Horas de Le Mans (Le Mans, Estados Unidos, 1971) Direção: Lee H. Katzin / Roteiro: Harry Kleiner / Elenco: Steve McQueen, Siegfried Rauch, Elga Andersen / Sinopse: O filme mostra em tom quase documental um piloto participando da corrida denominada 24 Horas de Le Mans. Tudo filmado com cenas reais capturadas no Circuit des 24 Heures du Mans, Le Mans, Sarthe, na França. Filme indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Trilha Sonora Incidental (Michel Legrand),

 Pablo Aluísio.


Torrentes de Ódio

Título no Brasil: Torrentes de Ódio
Título Original: Scudda Hoo! Scudda Hay!
Ano de Produção: 1948
País: Estados Unidos
Estúdio: Twentieth Century Fox
Direção: F. Hugh Herbert
Roteiro: F. Hugh Herbert
Elenco: June Haver, Lon McCallister, Walter Brennan, Marilyn Monroe

Sinopse:
Um peão decide se organizar na vida, pois está apaixonado pela filha de seu patrão. Para mostrar que tem futuro resolve comprar um par de mulas para transporte, algo que lhe dará muita dor de cabeça depois, mas ele está decidido a dar certo para conquistar o amor de sua vida.

Comentários:
Outro filme do comecinho da carreira de Marilyn Monroe em que você terá que prestar muita atenção para encontrar a atriz em cena. Infelizmente a maior parte de sua participação foi parar no chão da sala de edição do estúdio mas ainda podemos ver a loira descendo as escadas de uma igreja no domingo pela manhã, acenando e dizendo sua única linha de diálogo no filme inteiro: "Oi Rad!" Por essa razão não é raro muitos jornalistas cometerem a burrice de dizer que essa foi a primeira aparição de Marilyn Monroe no cinema (como já comentamos em resenhas de filmes anteriores de Marilyn, esse tipo de afirmação simplesmente não procede). O elenco também traz outra curiosidade, a presença da também aspirante à fama Natalie Wood, que interpreta Eufraznee 'Bean' McGill (que nome hein?). Hoje em dia sua presença e a de Marilyn se tornaram os grandes atrativos do filme. No geral o filme não é lá grande coisa (como Marilyn ou sem ela). Se trata mesmo de uma diversão ligeira, um filme de rotina dentro da indústria de cinema dos anos 40. Não há qualquer sinal de que aquela garota quase figurante das escadas da capela um dia iria se tornar um mito da sétima arte. Vale como curiosidade histórica e apenas isso.

Pablo Aluísio.

domingo, 7 de abril de 2024

Henrique VIII e o rompimento com a Igreja

A mensagem reformista de Lutero chegaria às igrejas inglesas? Essa era uma dúvida recorrente na Inglaterra do século XVI. O monarca inglês, que viria a se tornar símbolo do absolutismo real, se considerava um bom católico, um fiel seguidor do Papado romano. Ele inclusive havia escrito textos de teologia reafirmando a autoridade do Papa em Roma em todas as terras e colônias de seu reino. Em 1521 o Rei Henrique VIII escreveu um ambicioso tratado em defesa da fé católica. O texto foi tão veemente que ele inclusive foi homenageado pelo Papa Leão X com o título de defensor da fé verdadeira.

Porém Henrique também tinha um outro lado. Ao mesmo tempo em que aparecia como monarca conservador e tradicional, ele mantinha uma vida persoal devassa, com muitas concubinas e mulheres. Ele era casado com a católica fervorosa Catarina de Aragão. O problema é que ela não lhe dava o tão aguardado herdeiro masculino ao trono. E ele não poderia se separar dela por causa do dogma católico da impossibilidade da dissolução matrimonial do casamento. Baseado no texto do novo evangelho em que Jesus dizia que não cabia aos homens separar aquilo que Deus uniu, o divórcio era inaceitável para a Igreja Católica.

Henrique então partiu para uma ofensiva diplomática feroz para que seu casamento fosse anulado. O Papa Clemente VII avaliou os argumentos do rei inglês e depois de algum tempo negou seu pedido. Henrique VIII ficou furioso. Afinal ele era um monarca absolutista, que tudo podia. Ninguém, nem o Papa, poderia lhe dizer não! Foi então dentro dessa crise pessoal que ele decidiu romper completamente com a Igreja. O Papa contra atacou, declarando que ele era a partir daquele momento um excomungado. A crise se espalhou por toda a Inglaterra. Como um rei que havia defendido a fé católica iria voltar atrás de seus próprios escritos? Na época havia um ditado muito popular que afirmava que "palavra de rei não volta atrás".

Só que nesse caso ela voltou. Henrique confiscou todos os bens e propriedades da Igreja Católica na Inglaterra. Ele mandou prender e matar padres e bispos que se recusavam a seguir sua autoridade. Na crise religiosa sem precedentes decidiu que iria formar uma nova igreja, não baseada nas ideias de Lutero, mas sim nas suas próprias ideias. Deu o nome dessa nova igreja de Anglicana. Os bens e igrejas que tinham sido confiscadas seriam agora dessa nova religião. Ele também proclamou que a partir daquele momento ele seria a autoridade máxima da igreja que estava criando, situação que até hoje prevalece. Ordenou que membros do clero recém nomeados iriam criar a doutrina da nova religião. E depois de todo esse caos se auto proclamou como Líder máximo de sua própria fé. Ele seria o seu próprio Papa. Seu primeiro ato como tal foi declarar nulo seu primeiro casamento. O interessante de tudo é que apesar de todo o rompimento, de todos os casamentos que viriam (seis no total) ele jamais conseguiria seu tão sonhado herdeiro masculino. A coroa iria ser passada para sua filha Elizabeth I, filha de Ana Bolena, que inclusive seria executada por ordens do Rei. Enfim, Henrique VIII rompeu com tudo e com todos, mas jamais conseguiu aquilo que mais queria.

Pablo Aluísio. 

A Torre de Londres

A Torre de Londres
A Torre de Londres é um castelo situado bem no coração de Londres. Foi construído pelo Rei Normando Guilherme, o Conquistador. Ele era considerado um estrangeiro invasor daquelas terras, um viking cruel e sanguinário e para mostrar que seu poder  havido chegado para ficar, mandou erguer esse castelo. Com o tempo o lugar iria se notabilizar pelas pessoas que ali foram presas e mortas ao longo dos séculos. Também se tornou uma masmorra de torturas na era medieval e um lugar de muito sofrimento para seus prisioneiros. 

Entre os mais famosos encarcerados da Torre de Londres podemos citar dois príncipes herdeiros que seriam os legítimos sucessores do trono, mas que foram mortos dentro da Torre de Londres pelo perverso monarca Ricardo III. Ele era o tio dos dois garotos e estava exercendo a regência enquanto eles não atingiam a maioridade. Depois mudou de ideia e resolveu matar os meninos. Sem eles, era seria o rei até a sua morte. Ricardo III iria passar para a posteridade tal como retratado por William Shakespeare, ou seja, corcunda, malvado e sem alma, um verdadeiro vilão. 

Ana Bolena também foi executada na Torre de Londres a mando de Henrique VIII, seu marido. Ela não conseguia dar o tão cobiçado filho homem para o Rei. Indignado e envenenado por intrigas e boatos de que Bolena seria infiel, Henrique mandou que sua cabeça fosse cortada na Torre. Outros morreram no mesmo lugar, mortos pelo mesmo Henrique VIII, entre eles Thomas More que não aceitou o rompimento da coroa inglesa com a Igreja Católica. Como não voltou atrás, o Rei mandou cortar sua cabeça! 

Depois de séculos de torturas e execuções dos inimigos da coroa, a Torre de Londres acabou virando Zoo nos tempos em que foi administrado pelo herói de guerra Duque de Welllington, o mesmo que havia enfrentado bravamente Napoleão Bonaparte. Ele queria revitalizar o castelo e por essa razão mandou retirar todos os animais que ali viviam. Hoje a Torre de Londres é um ponto de turismo na capital inglesa. Muitos dos turistas sequer sabem das terríveis histórias que aconteceram atrás daquelas grandes torres de pedra branca. 

Pablo Aluísio. 

sábado, 6 de abril de 2024

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 4

Elvis Presley - That's the Way It Is - Parte 4
E a surrada agulha segue deslizante no velho disco de vinil original da época... Então ouvimos os primeiros acordes da faixa "You Don't Have To Say You Love Me". Em relação a essa canção eu sempre tive a mesma opinião, mesmo após tantos anos passados desde a primeira vez que a ouvi. A primeira convicção é que se trata de uma bela balada romântica, despudoradamente apaixonada com aquele sabor latino que todos conhecemos tão bem. Percebe-se desde os primeiros acordes que seu compositor não teve qualquer vergonha de se atirar nesse tipo de sentimento. Seus versos são bem claros sobre isso. A outra certeza que tenho é que a versão oficial que saiu no álbum "That´s The Way It Is" é mal gravada mesmo. Até lamento dizer isso, mas é a pura verdade. Inclusive expressei exatamente essa opinião quando escrevi pela primeira vez sobre a faixa alguns anos atrás. 

Na ocasião eu coloquei minhas impressões no texto e afirmei: "A versão de Presley é mais uma representante da feliz fusão de Elvis com a música da Itália como It's Now or Never, No More e Surrender. O astro era fã do cantor Mario Lanza, o que talvez explique esta aproximação com este tipo de canção. De qualquer forma, apesar de toda essa importância histórica, não consigo deixar de ficar decepcionado com a má qualidade da gravação original de 1970. A master mais parece um ensaio descompromissado de tão mal gravada. Certamente Elvis não está em um bom momento, na realidade é fácil perceber que ele na realidade está se comportando como se estivesse em um ensaio, nada mais do que isso. Porém o produtor Felton Jarvis resolveu escolher esse Take como o master oficial o que deixou todos surpresos mesmo. Repare como até a vocalização de Elvis está ruim pois ele está com a boca excessivamente salivada, coisa que nenhum artista de seu nível deixaria passar em uma gravação oficial. Alguns autores até mesmo chegam a afirmar que ele estaria com um chiclete na boca na hora da gravação! Particularmente não acredito nisso, não vamos chegar a tanto. Apenas é uma versão abaixo da média. Se alguém errou aqui não foi Elvis, mas sim Felton Jarvis que a escolheu para compor o disco oficial. Foi uma péssima escolha." Historicamente a faixa tem uma trajetória interessante. Ela foi originalmente lançada com grande sucesso pelo cantor italiano Pino Donaggio com o título original de "Io Che Non Vivo Senza Te" em 1964 pelo selo Odeon. O cantor inglês Dusty Springfield em 1966 fez a primeira versão em língua inglesa, versão esta lançada pelo selo Philips. Certamente foi essa segunda versão a grande fonte de inspiração para Elvis fazer sua versão. Pena que não saiu tão boa.

"You've Lost That Lovin' Feelin'" é uma criação do casal Barry Mann e Cynthia Weil. Sem dúvida uma das músicas mais populares e bem sucedidas comercialmente da história. O curioso é que sua criação demonstrava de certa forma como funcionava a indústria fonográfica da época. O produtor Phil Spector conheceu por acaso a dupla vocal branca The Righteous Brothers durante um festival de música. Spector estava em busca de novos talentos para seu selo musical recém fundado chamado Philles Records. Até aquele momento Spector tinha gravado uma série de bons compactos (singles) de artistas negros em seu selo, porém nenhum deles tinha realmente estourado nas paradas. Assim o produtor foi atrás de artistas brancos e encontrou o que queria ao ver o Righteous Brothers. Assim ele os contratou, depois ligou para a dupla de compositores Mann e Well para que eles escrevessem um novo tema para seus novos contratados. Assim nasceu "You've Lost That Lovin' Feelin'", uma canção feita para fazer sucesso. Lançada inicialmente em outubro de 1965 o plano de Spector deu mais do que certo. A música se tornou um hit absoluto, chegando ao primeiro lugar entre os mais vendidos em todas as paradas musicais, tanto dos Estados Unidos como na Europa. Para muitos críticos o produtor havia chegado na perfeição da técnica que ele próprio havia criado, conhecida como "Wall of Sound". O interessante é que anos depois o próprio Phil Spector declarou que adoraria ouvir Elvis cantando a música que havia produzido. 

O problema é que em 1965 Elvis estava preso a contratos com companhias cinematográficas que muito certamente não autorizariam ele a gravar uma canção que não fosse das suas próprias editoras musicais. Assim, ao invés de gravar obras primas como "You've Lost That Lovin' Feelin'" Elvis passou aquele ano gravando trilhas sonoras bem fracas como "Harum Scarum" e "Girl Happy". A oportunidade porém pintou novamente em 1970 quando Elvis foi a Las Vegas para gravar um novo filme. O conteúdo era simples: mostrar Elvis ao vivo nos palcos da cidade. Para isso Elvis precisava de um repertório cheio de grandes canções e assim "You've Lost That Lovin' Feelin'" entrou na trilha do documentário "That´s The Way It Is". Uma ótima decisão. A versão de Elvis, mesmo gravada ao vivo, tem um sentimento e uma alma fora do comum. Elvis sabia que estava sendo imortalizado em película naquele momento e resolveu caprichar. O resultado ficou ótimo, excepcional. A canção retornaria à discografia de Elvis alguns anos depois no álbum "Elvis as Recorded at Madison Square Garden", mas devemos ser sinceros, a primeira versão é bem melhor. No Madison Elvis e banda aceleram muito o ritmo da música, a prejudicando um pouco.

Pablo Aluísio. 

The Beatles - With The Beatles - Parte 4

The Beatles - With The Beatles - Parte 4
Esse álbum "With The Beatles" tem uma sonoridade tão agradável de se ouvir. Mesmo após tantos anos ainda considero um prazer colocar esse álbum para apreciar as músicas. O grupo também parecia extremamente entrosado, efeito, é claro, de uma banda que vivia na estrada fazendo shows ao vivo. A prática, já dizia o sábio, leva à perfeição. A excelente qualidade do conjunto, do repertório das músicas, começava já desde a primeira faixa. 

Bastava colocar a agulha no LP, no vinil, para começar a ouvir os primeiros acordes. "It Won't Be Long" é um reflexo desse entrosamento do quarteto. Eles gravaram essa música, que pode até ser considerada um pouco complicada de tocar, em poucos takes. Sua estrutura rítmica sui generis levou um crítico americano a dizer que a canção tinha "cadências eólicas". A estranha designação virou uma piada dentro da banda, entre os próprios Beatles. John e Paul, autores da música, não tinham a menor ideia do que isso significava. 

Brincando sobre o fato Paul ironizou, muitos anos depois, dizendo que a crítica não fazia o menor sentido e que ele, mesmo após anos de carreira, continuava sem saber do que se tratava! Durante uma entrevista nos anos 80 John Lennon ironizou o crítico que escreveu que a música tinha as tais "cadências Eólicas" dizendo que quando ouviu essa expressão pela primeira vez pensara que era algum tipo de pássaro exótico! Brincadeiras à parte, é inegável reconhecer que se trata de uma excelente gravação do grupo. Eles estavam tinindo nos estúdios Abbey Road quando gravaram essa canção.

Já "Please Mister Postman" era um cover do som da Motown. Quem diria, os ingleses brancos revisitando a música negra americana. Eles curtiam muito a sonoridade dos artistas da gravadora de Detroit. A música já vinha sendo apresentada pelo grupo desde os primeiros shows na Alemanha, em Hamburgo, sendo por isso uma opção natural para compor esse segundo álbum dos Beatles. Seria mais fácil de gravá-la após tantos anos e era uma maneira de agradar os americanos, pois o empresário Brian Epstein já estava de olho no mercado dos Estados Unidos. Se os Beatles conquistassem seu lugar ao sol dentro da terra do Tio Sam nada mais poderia parar seu sucesso. Algo que se confirmaria no ano seguinte quando o grupo finalmente aterrissou no país de forma gloriosa para dar o pontapé inicial na Beatlemania que conquistaria o mundo.

Pablo Aluísio.