quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 3

Elvis Presley - On Stage, February 1970 - Parte 3
Fechando o Lado A do vinil temos "The Wonder of You". Esse era o tipo de música que Elvis vinha procurando para apresentar ao vivo, principalmente em palcos como o de Las Vegas, onde esse tipo de exuberância orquestral era praticamente um pré-requisito para qualquer artista se dar bem e ser aclamado por público e crítica. O curioso é que a música em si era antiga, gravada e lançada no final da década de 1950 pelo cantor pop Ray Peterson, justamente na época em que Elvis estava servindo o exército americano numa base na Alemanha. Não há maiores informações sobre se Elvis a teria conhecido na Europa ou na sua volta aos Estados Unidos em 1960, até porque naqueles tempos não havia ainda a facilidade de comunicação e divulgação que temos hoje em dia, mas o fato é que a música conquistou o cantor, tanto que ele pensou em gravá-la durante as sessões no American Studios em Memphis, no ano anterior. A canção chegou inclusive a ser selecionada, o novo arranjo elaborado e até ensaiado pela banda, mas no final passou mesmo em branco. Elvis jamais a gravaria em estúdio. 

O arranjo composto porém não seria desperdiçado. Já nos primeiros ensaios de sua segunda temporada Elvis resolveu inclui-la no repertório, ainda mais agora que a RCA Victor estava em busca de músicas inéditas dentro da discografia de Elvis. O próprio Felton Jarvis diria a Elvis que o "On Stage" seria na verdade um álbum de gravações inéditas, só que nas versões live, ao vivo. Assim com tudo certo a bela faixa foi incluída. Considero essa performance impecável, tanto por parte de Elvis como por parte da TCB Band. É fato que eles sabiam que estavam gravando músicas para o novo LP de Presley e por essa razão foram perfeccionistas na execução da música. Acertaram em cheio. A gravação que foi incluída nesse disco foi a registrada pela RCA em 19 de fevereiro de 1970. Assim que desceu do palco Elvis mandou um recado para seu produtor, para que essa versão fosse a escolhida para o álbum pois ele bem sabia que ela havia ficado simplesmente maravilhosa. Uma das melhores interpretações ao vivo de Elvis em toda a sua carreira.

Virando o vinil, para o Lado B, ouvimos os primeiros acordes de "Polk Salad Annie". Essa canção é uma das mais sui generis da carreira de Elvis. O autor, Tony Joe White, foi criado nas regiões pantanosas da Louisiana e assim escreveu essa letra, meio maliciosa, sobre uma garota pobre do sul, que tinha hábitos alimentares bem regionais. Usando de gírias de sua região natal ele criou esse enredo meio nonsense, algo que no final das contas nunca fez muito sentido ou foi de fácil entendimento para os ouvintes de outras regiões dos Estados Unidos. Por essa mesma razão sua letra soava incompreensível para quem não era do sul. Assim, sempre que Elvis a cantava, usava uma pequena introdução tentando explicar do que se tratava. Na maioria das vezes não adiantava nada, mas o que valia era a boa intenção. Em uma época em que o psicodelismo imperava, com letras que não faziam nenhum sentido, até que Elvis poderia dispensar esse tipo de preciosismo, já que para falar a verdade ninguém estava muito se importando mesmo com a letra da música. 

O que salvava "Polk Salad Annie" era o seu embalo, o ritmo e as coreografias que Elvis apresentava no palco. E por falar em misturas e misturebas, Elvis também resolveu jogar em um mesmo caldeirão movimentos que tinha aprendido com mestres em artes marciais e o estilo dançante da canção, resultando tudo em algo novo. Nesses primeiros concertos Elvis ainda se esmerava em dar o melhor de si, as melhores performances, mas com o passar dos anos a execução de "Polk Salad Annie" foi se tornando mais displicente, quase uma gozação por parte de Elvis nos shows. De uma forma ou outra o que não se pode negar é que a música era ótima para concertos ao vivo! Por outro lado Elvis nunca gravou uma versão oficial com sua banda em estúdio. Era desnecessário. "Polk Salad Annie" afinal era pura festa e diversão.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Closing Night - February 1970

Quem é fã da velha geração sabe que até alguns anos atrás a única oportunidade de se ouvir Elvis ao vivo era através de seus discos oficiais que eram lançados comercialmente no Brasil. Numa época em que não havia internet o fã ficava restrito ao que era disponibilizado pela gravadora nas lojas. Muitas vezes o disco era lançado na época e nunca mais relançado deixando todos os fãs com as mãos abanando. Isso aconteceu com muitos LPs de Elvis. A grande maioria de seus títulos oficiais só foram lançados nos anos 60 e 70 e nunca mais chegaram nas lojas comuns. Esse infelizmente foi o destino de grande parte de seus discos dos anos 70. Para o fã brasileiro da era pré internet a única chance de se chegar a ouvir um disco oficial nessa situação era ter a sorte de encontrá-lo perdido em algum sebo ou então comprá-lo de outro colecionador. Além do preço exorbitante tínhamos de conviver com o mal estado desses discos, fruto natural de anos e anos de uso pelos seus antigos donos. Porém houve honrosas exceções nesse estado de coisas.

Em 1986 a RCA Brasil, em um raro gesto de generosidade, lançou o LP "On Stage - February 1970" nas lojas! Nem é preciso dizer que tal lançamento foi um verdadeiro choque para os fãs brasileiros. Não era todo dia que se conseguia encontrar nas lojas de vinis um LP oficial de Elvis dos anos 70, tinindo de novo. Todos estavam acostumados apenas com a velhas e cansadas coletâneas como "Disco de Ouro" e outros derivativos, sem nada de atraente para o colecionador desse cantor. O evento foi tão marcante que até hoje me lembro da primeira vez que ouvi o On Stage. Foi um marco. Apenas dez músicas gravadas ao vivo em Las Vegas na segunda temporada do astro. Elvis demonstrava grande poder vocal, pleno domínio de palco, ótima interatividade com os fãs e um repertório novo e contagiante. Embora fosse um jovem fã dos anos 80 penso que essa também foi a sensação dos fãs que o ouviram pela primeira vez nos anos 70. Hoje com a popularização da internet e com a proliferação e divulgação sem limites de seus discos, uma sensação como essa que senti nos anos 80 soa banal e fora de contexto para o fã jovem atual, porém de certa forma me sinto privilegiado de ter vivenciado algo assim.

Sempre considerei "On Stage" um dos trabalhos mais coesos da carreira de Elvis. Tal como foi concebido o disco é redondo e flui com extrema naturalidade, embora saibamos que ele é fruto de montagem, inclusive de apresentações diferentes do cantor. Sempre o terei entre os meus preferidos, fazendo eternamente parte da minha lista dos melhores registros de Elvis ao vivo em sua carreira. Pois bem, 21 anos depois de ouvir pela primeira vez o "On Stage" chegou em minhas mãos o CD bootleg "Closing Night - February 1970". O contexto obviamente é completamente diverso. O que antes era raro e complicado de se encontrar hoje está ao alcance da mão (ou melhor dizendo, do mouse) de qualquer garoto pré-adolescente. Basta um click e o CD está disponível para ouvir por qualquer pessoa. Embora ainda hoje tenhamos colecionadores que primem pelo material original (ou seja, aquele que compra o CD pela mesma net e espera pela chegada em sua casa do produto) chegaremos em breve ao estado em que não se necessitará mais de um suporte material para a música, que simplesmente viajará pelo espaço virtual sem qualquer tipo de limitação, algo completamente fora de imaginação para um garoto dos anos 80 que tinha a audácia de tentar colecionar a discografia de Elvis naquela época.

Porém como tudo na vida temos também o lado negativo. Não existe mais a sensação de descoberta que tive ao ouvir pela primeira vez o "On Stage", embora ao ouvir o bootleg em questão tenha constatado que o brilhantismo de Elvis no palco ainda está lá, sem nenhum sinal de ofuscamento, mesmo após anos e anos de repetição. Isso era mais do que óbvio. As três primeiras temporadas de Elvis em Las Vegas (a primeira em 1969 e as duas de 1970) são fantásticas. Embora Elvis tenha feito alguns shows abaixo da média nessa última, em todos os registros das demais apresentações sempre escutei um cantor no auge, focado nos concertos, cantando de forma impecável, apresentações dignas de seu mito. Os diversos problemas de sua vida pessoal ainda não tinham adentrado no palco. Elvis esbanjava versatilidade, disposição e interesse. O repertório era novo e empolgante e o astro dava o melhor de si. São momentos majestosos. Por essa razão Closing Night - February 1970 é extremamente necessário ao fã do cantor. Não há versões medíocres aqui. O CD pode ser dividido em três partes:

A primeira traz o show do dia 23 de fevereiro de 1970. A segunda parte traz parte dos ensaios realizados por Elvis no dia 18 desse mesmo mês e por fim a terceira e última parte traz a entrevista coletiva dada por Elvis antes de seu primeiro concerto em Houston no Texas. O concerto do dia 23 é tecnicamente excelente. Três ótimas versões abrem o show: All Shook Up, I Got a Woman e Long Tall Sally. O primeiro grande destaque dessa primeira parte vem logo a seguir: Elvis apresenta uma ótima versão ao vivo de Don´t Cry Daddy. A execução é bem mais rápida que sua versão de estúdio o que acaba trazendo maior leveza ao conjunto. Não há dúvidas que tudo se traduz em um ótimo momento. Outra versão digna de nota é a de Kentucky Rain. É outra representante ao vivo de um dos melhores registros em estúdio da carreira de Elvis. Embora a música pudesse trazer problemas em sua execução ao vivo para Elvis e banda, eles se saem extremamente bem no saldo final, o que demonstrava o grande apuro técnico da TCB Band naquele momento.

O concerto segue sem grandes sobressaltos e surpresas. Elvis está bem em praticamente todas as faixas. Brinca um pouco na doce Sweet Caroline, apresenta uma ótima Polk Salad Annie (novidade e grande sucesso da temporada) e generosamente vai ai piano cantar um medley delicioso de Blueberry Hill / Lawdy Miss Clawdy (onde Elvis tenta de forma divertida e desastrada tocar Blueberry Hill até o fim e desiste logo, emendando para uma boa versão de Lawdy, Miss Clawdy). Como se não bastasse até traz uma homenagem ao seu grande hit do passado, It´s Now Or Never (aqui com arranjo bem mais simples e eficaz do que as posteriores que contariam com as péssimas introduções vocais de Sherril Nielsen). De quebra Elvis ainda se arrisca a tirar algumas notas de sua guitarra elétrica na faixa One Night. A parte do show se encerra com competentes versões de Suspicious Minds (muitos anos antes de cair na mesmice) e Can´t Help Falling In Love (com sua linda melodia de sempre). A segunda parte do CD traz algumas curiosidades interessantes.

A primeira delas é a versão de Walk A Mile In My Shoes do dia 18. A principal curiosidade dessa versão é o momento em que Elvis perde o fio da meada da música e passa batido na sua parte. Depois disso ele até ameaça perder o controle e cair na risada mas se recupera bem e termina a canção sem maiores imprevistos. Na parte de ensaios ouvimos duas versões da marcante The Wonder Of You. Na primeira tentativa Elvis erra a letra e se diverte. Mesmo com esse ligeiro contratempo não há como negar a grandiosidade dessa canção, uma das mais vibrantes e robustas do repertório de Presley. No segundo registro banda e vocais tentam se encontrar nos ensaios, Elvis comparece com seu tradicional talento. Embora incompleta podemos ouvir com clareza a famosa apoteose final, marca registrada da música. A terceira e última parte do CD traz partes da entrevista que Elvis concedeu momentos antes da série de seis concertos que realizou em Houston. Embora interessante fica um pouco fora do contexto, mesmo que o show tenha ocorrido em cima da temporada de Vegas. Ficaria melhor situada em um CD sobre Houston mas enfim... Elvis se mostra simpático, comenta amenidades, fala se seus anos na Sun e faz sua parte na promoção dos concertos - que seriam grandes sucessos de bilheteria, abrindo as portas para suas futuras turnês pelo país nos anos 70. Enfim, o CD Closing Night - February 1970 é extremamente recomendado. Com ele o legado do antigo vinil On Stage - February 1970 está bem preservado e representado.

Elvis Presley - Closing Night - February 1970: Selo: Madison - Músicas: All Shook Up - I Got a Woman - Long Tall Sally - Don´t Cry Daddy - Hound Dog - Love Me Tender - Kentucky Rain - Let It Be Me - I Can´t Stop Loving You - CC Rider - Sweet Caroline - Polk Salad Annie - Intrumental Intermezzo - Introductions Of Vocalists, Band Orchestra - Blueberry Hill / Lawdy Miss Clawdy - Heartbreak Hotel - One Night - It´s Now Or Never - Suspicious Minds - Can´t Help Falling in Love - 1970 Bonus Tracks: Walk a Mile In My Shoes - The Wonder Of You - The Wonder Of You - Press Conference Houston, Texas. Data de gravação: 23 de fevereiro de 1970, Las Vegas.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Tyrone Power - Jesse James

Ao lado de Billy The Kid, Jesse James foi provavelmente o  personagem histórico mais romanceado e explorado pela literatura em torno da mitologia do velho oeste. Na vida real foi um bandido cruel e impiedoso, mas nas páginas dos livros e romances - e também nos roteiros para o cinema - ganhou inúmeras camadas novas em sua personalidade. Aspectos e até nuances de virtudes que o Jesse James jamais teve em sua curta vida foram colocados pelos autores desses livros.

Nessa produção de 1939 o famoso pistoleiro e criminoso foi interpretado pelo galã Tyrone Power. Já na época de lançamento original do filme os críticos chamaram a atenção para o fato de que a escolha de Tyrone Power não era muito acertada. Ele era o típico galã com roupas e cabelos impecáveis, sempre muito polido e bem vestido. Pouca coisa tinha a ver com um bandoleiro violento do oeste selvagem.

Talvez por isso o roteiro tenha tentado se manter fiel aos eventos históricos. O estúdio chegou a contratar historiadores especializados em Jesse James para manter tudo numa certa coerência com os fatos reais. No começo do filme ainda se tenta justificar a entrada de Jesse James no mundo do crime, mas depois ele se assume como tal, vivendo de forma fora da lei sem maiores remorsos ou arrependimentos. O crime se torna sua vida e sua vida entra definitivamente nesse lado marginal da sociedade da época. Ele é não apenas um ladrão de trens, mas também um assaltante de crimes menores, tudo mostrado sem grande maquiagem para parecer mais bonzinho do que foi. Embora os esforços dos roteiristas tenham sido louváveis, não podemos negar também que o lado mais romântico, tirado dos livros de bolso sobre Jesse James, também seguem presentes no roteiro.

O chefão da Fox Darryl F. Zanuck cuidou pessoalmente da produção, fazendo questão que o filme tivesse tudo do bom e do melhor que Hollywood poderia oferecer naquela época. O filme é considerado um dos mais caros já feitos no gênero western, com cuidados envolvendo figurinos, cenários, objetos da época, como carruagens, etc. O resultado é excelente e tudo fica ainda mais realçado pela bonita fotografia em preto e branco.

Jesse James (Idem, EUA, 1939) Direção: Henry King / Roteiro: Nunnally Johnson, Gene Fowler, Curtis Kenyon, Hal Long / Elenco: Tyrone Power, Henry Fonda, Nancy Kelly, Randolph Scott, Donald Meek, John Carradine / Sinopse: Cinebiografia do famoso criminoso Jesse James (Tyrone Power) que ao lado de seu irmão Frank James (Henry Fonda) assaltava bancos, trens e diligências no velho oeste.

Pablo Aluísio. 

Henry Fonda - A Vingança de Frank James

Esse western é a continuação do filme anterior, "Jesse James" com Tyrone Power. Aqui a história começa exatamente onde o primeiro filme terminou, com Jesse James sendo morto pelas costas e de forma covarde por Robert Ford. Depois desse crime seu irmão, Frank James (Henry Fonda), decide que é a hora dele promover a vingança pela morte do pistoleiro.

O roteiro é muito bom, diria até excelente. O roteirista Sam Hellman fou um dos melhores escritores da era de ouro de Hollywood, só que historicamente falando praticamente nada do que se vê na tela realmente aconteceu. Na história real o assassino Robert Ford foi morto em um saloon por um desconhecido que queria ter a "honra" de ter matado aquele que matou Jesses James. Como se pode perceber nada a ver com o enredo de ficção desse filme.

Isso porém não deve desanimar o fã de faroestes. Afinal o que vale mesmo é a obra cinematográfica por si mesma. A história é importante, mas nem sempre funciona nas telas. Um pouco de romantização é necessária.  No filme o próprio Frank James toma as rédeas da vingança, elaborando um plano para liquidar Robert Ford. Para isso ele chega a contar com velhos companheiros de cavalgadas, dos tempos em que a quadrilha de Jesse James varria o oeste, roubando bancos, trens e diligências que cruzassem seu caminho. Até hoje historiadores discutem sobre a real importância de Frank James no antigo bando do irmão após sua morte, porém todos são unânimes em dizer que Frank nada teve a ver com a morte de Ford.

Claro que um bom elenco ajuda bastante. Aqui temos o maravilhoso Henry Fonda como Frank James. No filme anterior ele era apenas um coadjuvante de luxo e aqui assume o papel principal. Inegavelmente o Frank James de Fonda foi muito mais convincente do que o Jesse James de Tyrone Power, um galã ao velho estilo de Hollywood que não convencia muito como um bandido do velho oeste. Com Fonda isso não aconteceu. O ator imprimiu ao seu papel um estilo mais rústico de ser. Um homem criado no interior, com aquele senso de vingança bem peculiar. Nada soa falso ou forçado em sua atuação. Penso que foi um dos melhores trabalhos de toda a carreira do grande Henry Fonda. Um ator excepcional que realmente marcou época na história do cinema americano.

A Vingança de Frank James / A Volta de Frank James (The Return of Frank James, EUA, 1940) Direção: Friz Lang / Roteiro: Sam Hellman / Elenco: Henry Fonda, Gene Tierney, Jackie Cooper, Henry Hull, John Carradine / Sinopse: Após o assassinato de seu irmão Jesse James (Tyrone Power) o pistoleiro Frank James (Henry Fonda) decide ir atrás de seu assassino, Robert Ford (John Carradine).

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Com Lágrimas na Voz

Título no Brasil: Com Lágrimas na Voz
Título Original: The Helen Morgan Story
Ano de Lançamento: 1957
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Michael Curtiz
Roteiro: Oscar Saul, Dean Riesner
Elenco: Ann Blyth, Paul Newman, Richard Carlson, Gene Evans, Alan King, Cara Williams

Sinopse:
O filme conta a história da cantora norte-americana Helen Morgan. De origem humilde e sofrida, ela vai aos poucos abrindo as portas para o sucesso com seu grande talento. Após muito esforço artístico finalmente chega à fama e à fortuna, apenas para perder tudo depois para o álcool e para suas péssimas escolhas pessoais.

Comentários:
No começo de sua carreira as comparações com James Dean incomodaram muito Paul Newman. Certo, eram dois atores da mesma geração, inclusive tiveram a mesma formação dramática no Actors Studio de Nova Iorque, mas no fundo, no fundo, tinham pouca coisa a ver. E Newman sabia que tentar ser o "novo James Dean" seria uma cilada. Assim colocou o ego de lado e foi atrás de bons roteiros. Queria ser bom ator e não apenas um astro jovem de Hollywood. E estava disposto a atuar em filmes com excelentes histórias, mesmo que para isso tivesse que atuar em um papel mais secundário. É o que vemos aqui. Um bom drama sobre a vida de uma artista que sucumbe ás armadilhas da fama e do sucesso. Com direção firme de Michael Curtiz e excelente atuação da atriz Ann Blyth, que foi injustamente esnobada pelo Oscar, esse é um drama envolvente e emocional, tudo na medida certa. Bons tempos eram esses em que o cinema contava histórias de dramas trágicos de pessoas amarguradas e infelizes por suas escolhas. Certamente a sétima arte era muito mais profunda e complexa nesse aspecto. Arte mesmo, de verdade. 

Pablo Aluísio.

Dois Farristas Irresistíveis

Título no Brasil: Dois Farristas Irresistíveis
Título Original: Bedtime Story
Ano de Lançamento: 1964
País: Estados Unidos
Estúdio: Universal Pictures
Direção: Ralph Levy
Roteiro: Stanley Shapiro, Paul Henning
Elenco: Marlon Brando, David Niven, Shirley Jones, Dody Goodman, Aram Stephan, Parley Baer

Sinopse:
Dois golpistas que vivem de enganar mulheres mais velhas e ricas, solitárias, entram em conflito em uma praia badalada na costa do Mediterrâneo. Será que o vigarista mais velho, culto e de alta classe sairá vencedor ou será que o jovem golpista, de pequenos truques, sairá vitorioso nessa aposta?

Comentários:
Ao longo de sua carreira Marlon Brando tentou ir para outros gêneros cinematográficos. Principalmente nos anos 1960 ele se permitiu se arriscar em certas aventuras cinematográficas, como por exemplo, tentar atuar em comédias. Isso não foi necessariamente algo bom para ele pois esses filmes não faziam sucesso. O público não queria ver Brando tentando o humor. De qualquer maneira, como ele próprio deixou claro em sua autobiografia, embora esse filme não tenha sido um dos melhores de sua carreira (ficou muito longe disso) e nem tenha feito sucesso nas bilheterias, foi por outro lado um prazer trabalhar nele, principalmente porque Brando adorava o estilo de fina ironia do ator David Niven. Juntos, eles se deram muito bem e embora Brando não fosse um comediante, aprendeu muito com o trabalho de Niven. Revisto hoje em dia, devo confessar que o humor envelheceu muito, mas o filme, de modo em geral, ainda funciona como uma curiosidade de ver Brando tentando ser engraçado. Ele não era, mas valeu o esforço de tentar fazer algo diferente em sua filmografia. 

Pablo Aluísio.

domingo, 3 de dezembro de 2023

Alexandre I da Rússia

Muito se fala sobre Napoleão Bonaparte e suas conquistas. A questão histórica importante porém é que Napoleão foi vencido e ao final das intermináveis guerras napoleônicas terminou como um derrotado, tanto no campo de batalha como na política. Os vencedores nem sempre são muito lembrados. É o caso do Czar Alexandre I da Rússia que ajudou a destruir os planos de Napoleão em conquistar todo o mundo ocidental. Alexandre nasceu no berço da luxuosa corte da grande imperatriz Catarina. Desde criança ele se tornou um preferido dela, a ponto de Catarina ter caprichado em sua educação, o enviando para estudar fora da Rússia. Ela queria um sucessor educado, preparado e capaz para após sua morte guiar o Império russo.

Ele, apesar de fazer parte de uma das elites nobres mais absolutistas da história, acabou tendo uma educação liberal, baseada em muitos dos preceitos e filósofos da França revolucionária. Talvez essa formação iluminista explique vários momentos de seu reinado. De qualquer forma Alexandre I subiu ao trono russo em 1801, após a morte de seu pai. O Czar Paulo foi morto com requintes de crueldade, teve seu crânio esmagado por conspiradores. Alexandre ficou chocado com isso. Pior, o povo russo começou a desconfiar que ele próprio teria feito parte da conspiração. De qualquer forma a Rússia precisava de um novo Czar e Alexandre assumiu o trono, ainda bem jovem. Ele inicialmente revelou-se ser um grande administrador, abrindo escolas por toda a Rússia, ampliando o sistema educacional para formar uma geração de pensadores e intelectuais. Nesse aspecto Alexandre inspirou-se em sua própria história pessoal. O acesso que ele teve aos melhores professores e mestres do mundo o levou em frente para que toda criança russa tivesse também uma educação de qualidade.

Antes porém de levar seus planos administrativos internos adiante estourou as diversas guerras napoleônicas por toda a Europa. É interessante notar que no começo Alexandre I manteve uma certa simpatia por Napoleão Bonaparte e seus ideais. Afinal o imperador francês era fruto da revolução francesa e tendo uma formação iluminista, Alexandre logo simpatizou com a sua causa. Isso porém não durou muito. Sob a verniz de liberal e defensor dos valores revolucionários, Napoleão nutria um desejo de conquista sem fim. No fundo ele queria destruir todas as aristocracias da Europa sem exceção. E isso o colocava em rota de colisão contra o Czar russo. O destino foi selado quando Napoleão resolveu invadir a Rússia. Sua campanha porém foi um desastre. Além da corajosa defesa do exército russo, a própria natureza impiedosa tratou de destruir os planos do imperador francês. A neve, a lama e as terras que pareciam não ter fim foram matando as tropas de Napoleão, tanto de fome como de frio. Na verdade a invasão da Rússia significou o fim das guerras de expansão do violento tirano francês. Após a derrota na Rússia, Napoleão nunca mais seria o mesmo. O curioso é que a guerra também mudou a personalidade de Alexandre. Se no começo de seu reinado ele mostrou-se um homem antenado com os ideais iluministas, no fim de sua vida, tornou-se bem mais conservador e religioso, valorizando o passado e as tradições da sociedade russa.

Nos anos finais de sua vida ele enfrentou problemas internos e externos. Em vários momentos pensou em abdicar, principalmente após a morte de sua filha querida a quem era muito próximo. Durante uma estadia no mar de Azov, o Czar Alexandre caiu doente. Ele havia contraído Malária, uma doença muito séria, sem possibilidade de cura na época. Aos poucos foi declinando até morrer em 1825 com apenas 47 anos de idade. O grande legado de Alexandre I foi ter derrotado Napoleão Bonaparte. Suas iniciativas em melhorar a vida do povo russo também depõem em seu favor. De qualquer forma uma coisa parece certa: pelas conquistas e vitórias Alexandre I deveria ser bem mais lembrado nos dias de hoje.

Pablo Aluísio.

Napoleão Bonaparte - Destruição e Morte no Campo de Batalha

Como quase todos os tiranos, o imperador francês Napoleão Bonaparte também tinha acessos de plena loucura. Além de ser um megalomaníaco clássico, daqueles que não admitiam qualquer oposição aos seus lunáticos planos de dominação do mundo ocidental (sim, tal como Hitler, ele também desejava dominar todo o mundo), Napoleão nutria pouco ou nenhum respeito para com a vida humana. Seus soldados sentiram isso na pele. Ao decidir invadir a Rússia Czarista, Napoleão enviou milhões de homens para terras desconhecidas, geladas, inóspitas, ao mesmo tempo em que não disponibilizou o que era necessário para ganhar um conflito daquelas proporções. Historiadores modernos concordam que as tropas de Napoleão ficaram perdidas, a esmo, no meio do deserto gelado, sem apoio em termos de mantimentos e provisões. Muitos morreram de fome e frio. Cem mil morreram nessas batalhas.

E qual era a posição do louco Napoleão sobre isso? Ele na verdade só lamentava a derrota militar e não as vidas perdidas. Os soldados eram apenas peões em sua estratégia de aniquilar todos os que se colocavam em sua frente. O mais curioso é que sendo um imperador tirano absolutista, o próprio Napoleão era fruto da Revolução Francesa que tinha como principal objetivo justamente acabar com esse tipo de liderança. Era obviamente uma contradição enorme. A Revolução que foi instaurada para depor todos os tiranos acabou levando ao poder um dos mais sanguinários e tirânicos líderes da Europa daquela época.

Com ares de psicopata, Napoleão tinha um carisma fora do comum, fazendo com que o povo francês abraçasse suas loucuras militares. O saldo foi terrível. Milhões de mortos por toda a Europa, fome, peste, caos e desordem em uma proporção poucas vezes vista. Quando o Papa da época morreu Napoleão decretou: "Morreu o último Papa!". Ele odiava o catolicismo e a religião. Na verdade ele queria destruir a religião, Para bancar suas campanhas militares mandou saquear os tesouros do Vaticano. Também houve muita destruição nos arquivos da Igreja Católica. Documentos históricos preciosos que faziam parte do acervo da Igreja simplesmente foram destruídos por militares comandados por Napoleão. 

Durante suas campanhas militares Napoleão Bonaparte enfrentou muitos inimigos. Praticamente todas as coroas da Europa se uniram para destrui-lo nos campos de batalha. Porém duas monarquias trariam sua ruína. Rússia e Inglaterra, que poucas vezes na História tinham se aliado, agora lutavam contra um inimigo comum, o próprio Napoleão. Em solo russo Napoleão enfrentaria seu maior desastre. Suas tropas morreram de fome e frio na imensidão sem fim da Mãe Rússia. O Imperador russo Alexandre I adotou a tática da terra arrasada. O povo russo deveria recuar para o interior, destruindo tudo o que ficava para trás. Sem ter onde alimentar seu exército Napoleão se viu cercado em uma armadilha mortal. E quando o severo inverno russo chegou não sobrou mais nada para sobreviver tão longe da França.

Com os ingleses a situação foi ainda pior. Napoleão Bonaparte não tinha como invadir a Inglaterra já que essa era uma ilha, com poderosa marinha de guerra defendendo sua território. Os ingleses não ficaram por aí. Desembarcaram no continente europeu para enfrentar Napoleão diretamente e o venceram na batalha de Waterloo onde o imperador francês foi definitivamente derrotado. Depois, conforme a ciência provou com análises de seu cabelo, começou um plano de envenenamento por arsênico que fez com que o imperador francês fosse morrendo aos poucos. Os ingleses não queriam construir a história de um mártir. Por isso Napoleão Bonaparte foi definhando até seu final trágico, isolado e esquecido numa ilha distante da Europa. 

Pablo Aluísio.

sábado, 2 de dezembro de 2023

Napoleão Bonaparte e Alexandre I

Napoleão Bonaparte não tinha muito respeito pela vida humana. Basta estudar suas guerras para bem entender isso. Também era um sujeito contraditório. Fruto da revolução francesa queria no fundo se tornar um monarca, um imperador, como os do passado, do velho regime. Por isso tinha uma certa atração doentia pelos representantes do absolutismo do passado, como o Czar da Rússia Alexandre I.

Após literalmente levar uma primeira derrota no campo de batalha, Alexandre entrou em contato diplomático com Napoleão. Queria encontrá-lo pessoalmente. Bonaparte prontamente aceitou e eles se encontraram em território neutro. O mais estranho dessa reunião é que Napoleão ficou encantando com o jovem imperador russo. Chegou a dizer que se ele fosse uma mulher teria se tornado sua amante! Ficou impressionado com o porte nobre do líder russo. 

Alexandre era alto, jovem e muito inteligente. O encontro entre os dois resultou em uma aliança contra a Inglaterra, mas o Czar russo sabia que mais cedo ou mais tarde teria que enfrentar o imperador francês no campo de batalha, algo que efetivamente aconteceu porque Napoleão decidiu invadir a Rússia, o que causou sua ruína, já que a campanha foi um desastre. Corroídos pela fome e frio muitos soldados franceses (milhares deles na verdade) morreram na longa e penosa marcha de retirada durante o rigoroso inverno russo.

Pois é, o jovem (e para Napoleão) inexperiente Czar destruiu os exércitos do general francês que era considerado imbatível no campo de batalha. Um feito histórico único! Depois de perder nos campos congelados sem fim da Mãe Rússia, Napoleão perdeu a fama de ser imbatível, de ser perfeito no caminho de suas conquistas. Ele não era fenomenal, era apenas um homem e como tal poderia ser mesmo derrotado, como bem provou Alexandre I e seu bravo exército.

Em determinado momento desse encontro ate gentil entre os dois imperadores, Alexandre teria comentado com Napoleão que não queria entrar em uma guerra com ele, pois teria que destrui-lo e que caso isso acontecesse iria marchar sobre Paris com suas tropas. Napoleão riu, bebeu um pouco de vinho e disse que isso jamais aconteceria. Ele estava errado e Alexandre estava sendo profético pois foi algo que realmente aconteceria. Após vencer Bonaparte e seu exército, Alexandre realmente rumou para Paris e entrou na cidade por uma ponte que até hoje leva seu nome. Para deixar claro que os russos não estavam ali para massacrar a elite francesa ele desceu de seu cavalo e mandou anunciar que iria dar um baile para os franceses. E nessa noite ele conquistou grande parte dos ricos da França. Na ocasião Alexandre deixou claro que jamais destruiria Paris pois a considerava uma das mais belas cidades do mundo! Promessa que cumpriu. 

Napoleão e Alexandre não viveriam muito. O Czar russo morreria no retorno de um campo de batalha. Após uma longa cavalgada ele sentiu-se mal. Imediatamente seus médicos decidiram levar ele de volta a São Petersburgo, mas Alexandre não resistiu. Morreu dentro de uma carruagem em uma estrada cheia de lama. Napoleão, por sua vez, foi exilado para uma distante ilha controlada pelos ingleses. Ele foi sendo envenenado aos poucos com arsênico. Passou suas últimas semanas muito doente, por causa do veneno. Falecendo pouco depois. 

Pablo Aluísio.

Marcados: A História do Racismo nos Estados Unidos

Título no Brasil: Marcados: A História do Racismo nos Estados Unidos 
Título Original: Stamped from the Beginning
Ano de Lançamento: 2023
País: Estados Unidos
Estúdio: Netflix
Direção: Roger Ross Williams
Roteiro: Ibram X. Kendi, David Teague
Elenco: Lynae Vanee, Angela Davis, Ibram X. Kendi

Sinopse:
Esse documentário traz um painel geral da escravidão nos Estados Unidos, desde os seus primórdios, passando pelos reflexos modernos dessa situação nos dias de hoje onde impera o racismo dentro da sociedade americana em praticamente todos os setores. 

Comentários:
Até que começa bem, fazendo um panorama histórico do surgimento da escravidão nos Estados Unidos. Vemos aspectos referentes ao tráfico negreiro, onde negros africanos eram levados para os Estados Unidos para trabalharem como escravos nas grandes plantações de algodão do sul. Depois há outra boa referência histórica mostrando a hipocrisia de muitos dos chamados "pais fundadores da nação". Escreveram a constituição americana com muito uso da palavra liberdade. Só que é a diferença entre a teoria e a prática. Na vida diária eram homens brancos ricos, donos de fazendas, com milhares de escravos. E muitos deles abusaram sexualmente das mulheres negras escravizadas em suas propriedades. Um horror! De qualquer forma o que começa bem, logo perde o foco e a partir de determinado momento virá apenas peça de propaganda de um viés político. A partir daí realmente o conteúdo me fez perder interesse. 

Pablo Aluísio.