quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Elvis Presley - King Creole - Parte 1

Falando sinceramente Elvis Presley nunca contou com a boa vontade dos críticos de cinema ao longo de sua carreira. Via de regra seus filmes e suas atuações eram criticadas severamente pelos especialistas da sétima arte. Porém como toda regra tem exceção, em "Balada Sangrenta" (King Creole, 1958) ele finalmente recebeu elogios. As razões são muitas e até bem diferentes entre si. "King Creole" era cinema puro, cinema de qualidade. O fato do protagonista ser interpretado por um rockstar era um mero detalhe. Penso que os fãs de cinema sempre rejeitaram quando ídolos da música tentaram fazer sucesso nesse campo cultural. Havia uma barreira entre as artes. Quem era do cinema estava dentro. Quem era do mundo da música teria que suar para provar seu valor.

Só que ficou mesmo complicado tecer a lenha nesse filme, principalmente quando se tinha Michael Curtiz como diretor. Ele era um símbolo da era de ouro do cinema americano. Dirigiu dezenas de grandes filmes, entre eles "Casablanca", considerada uma obra-prima absoluta das telas. Arrasar com "King Creole" significava arrasar também com Michael Curtiz e isso definitivamente estava fora de cogitação entre os críticos e entre os cinéfilos. Assim eles todos tiveram que reconhecer os méritos do filme, mesmo que para isso precisassem engolir Elvis Presley no elenco.

E a trilha sonora do filme? Outra surpresa maravilhosa. O puro Rock foi deixado um pouco de lado, ou melhor dizendo, as faixas fortes ainda estariam presentes no disco, mas com outra sonoridade. Não havia mais como a banda tradicional de Elvis dar conta dos arranjos, por isso um grupo enorme de músicos foi contratado pela RCA Victor. A maioria deles eram músicos de jazz, de New Orleans. Justamente o tipo de artista que essas músicas pediam. De fato essa sessão de gravação foi a mais peculirar e ímpar da carreira de Elvis até aquele momento. Um tipo de som que ele nunca havia feito antes em sua vida.

E apesar de ser uma espécie de novato nesse tipo de sonoridade, Elvis se deu bem. Ele apenas entendeu que deveria continuar a ser o mesmo cantor de antes. Os arranjos de metais ao seu lado seriam apenas um bônus. E não deixava de ser curioso também que não fazia muito tempo Elvis havia criticado sutilmente o jazz numa entrevista. O jornalista perguntara a ele se gostava de jazz. Elvis respondeu que não. Não iria falar mal do estilo musical, mas que na verdade não ouvia jazz, não gostava e não o entendia muito bem. É de se estranhar que de todos os ritmos musicais Elvis tenha implicado logo com o jazz. Em Memphis esse tipo de música era até bem comum. Só que Elvis parecia bem mais à vontade cantando gospel, blues ou country. O jazz definitivamente não fazia a cabeça daquele jovem de vinte e poucos anos. Porém lá estava ele nos estúdios da RCA Victor, gravando o seu disco mais jazzístico de sua carreira.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

James Stewart e o Western - Parte 3

Em 1946 James Stewart estrelou um dos filmes mais importantes de sua carreira: "A Felicidade Não Se Compra". Dirigido pelo mestre Frank Capra essa produção foi um marco no cinema americano, um dos clássicos mais amados da história de Hollywood. James Stewart foi indicado ao Oscar, assim como o próprio filme que injustamente não foi premiado naquele ano apesar de ter sido indicado aos principais prêmios da noite. Essa ainda hoje é considerada uma das maiores injustiças da academia, em todos os tempos.

Outro filme que marcou demais a carreira de James Stewart nessa mesma época foi "Festim Diabólico", de outro grande mestre e gênio da sétima arte, o diretor Alfred Hitchcock. O filme tinha uma trama absolutamente inovadora, além de uma linguagem dita por muitos como revolucionária, onde Stewart tinha que lidar com longos planos sem interrupção. Era praticamente um teatro filmado, com diálogos complexos e trama bem elaborada.  Essa parceria entre James Stewart e Alfred Hitchcock iria legar para a história do cinema alguns dos melhores filmes da era de ouro de Hollywood. O mestre do suspense achava Stewart o ator ideal para interpretar o homem comum, que se via em situações excepcionais.

Depois de tantos clássicos absolutos da sétima arte era de se supor que Stewart iria seguir em frente nesse tipo de produção, mas ele resolveu dar uma pausa para rodar dois faroestes em seguida. O primeiro foi "Winchester '73" de Anthony Mann. Trabalhar ao lado desse cineasta era ao mesmo tempo uma oportunidade de atuar em grandes filmes, mas também de ter grandes dores de cabeça. Isso porque Mann era um sujeito perfeccionista que exigia dose extra de paciência para os atores que trabalhavam ao seu lado. Juntos fizeram grandes filmes, mas também tiveram grandes brigas no set de filmagens. Era uma luta criativa, acima de tudo. Dois aspectos se destacam nesse faroeste: seu roteiro fora dos padrões, com várias histórias sendo contadas, tendo como referencial um rifle e o excelente elenco de apoio que contava com atores e futuros astros como Rock Hudson, Tony Curtis e Shelley Winters.

Depois desse faroeste que foi sucesso de público e crítica, James Stewart voltou ao velho oeste na produção seguinte. O filme se chamou "Flechas de Fogo" do especialista em filmes de western Delmer Daves. Ao lado de Jeff Chandler e Debra Paget, Stewart atuou nessa produção mais convencional, que contava uma história passada durante as chamadas guerras indígenas. Nesse roteiro James Stewart atuava como um cowboy que encontrava um índio muito ferido no meio das pradarias. Ao ajudá-lo acabava se tornando amigo dos indígenas da região. Em plena guerra entre os nativos e a cavalaria americana, ele se colocava à disposição para negociar um tratado de paz. Um bom faroeste, ainda hoje bem lembrado pelos fãs do gênero.

Pablo Aluísio. 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Monsieur Verdoux

Título no Brasil: Monsieur Verdoux
Título Original: Monsieur Verdoux
Ano de Lançamento: 1947
País: Estados Unidos
Estúdio: Charles Chaplin Productions
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Mady Correll, Allison Roddan, Robert Lewis, Martha Raye, Isobel Elsom

Sinopse:
Após trabalhar 30 anos como bancário, Monsieur Verdoux (Charles Chaplin) é demitido do banco onde trabalha. Desesperado e desempregado, ele passa a seduzir mulheres mais velhas, ricas e solitárias. Ele planeja ficar com suas fortunas pessoais. Assim, o bancário honesto e digno do passado logo se torna um criminoso. Um assassino de mulheres. Filme com roteiro baseado em uma história real.

Comentários:
Orson Welles deu a ideia para Chaplin dirigir e atuar nesse filme. Tudo era baseado na história de um assassino conhecido em Paris como o Barba Azul. Ele cometeu seus crimes durante a primeira guerra mundial. Não foi um bom conselho de Orson Welles para Chaplin. O público não queria ver o ator que havia atuado por tanto tempo como o adorado Carlitos na pele de um criminoso, um assassino frio. A recepção, tanto de público como de crítica, foi a pior possível. Chegou-se ao ponto do filme ser boicotado. Apesar de ter defendido seu filme com veemência na imprensa, Chaplin não conseguiu salvar Monsieur Verdoux do fracasso comercial. Ele acreditava pessoalmente que o filme seria interessante. Uma mudança de ares no tipo de personagem que encarnava no cinema. A verdade é que o público não queria essa mudança. Nessa mesma época, ele foi também acusado de patrocinar atos antiamericanos, de ser um comunista. Ele ficou tão irritado com tudo o que aconteceu, que decidiu ir embora dos Estados Unidos. Decidiu que iria passar sua velhice na distante e fria Suíça, onde não teria que responder processos que o acusavam de ser um membro do partido socialista. E assim foi feito, apesar de sua boa qualidade, esse filme é considerado um de seus grandes fracassos comerciais. Só com o passar dos anos é que ele finalmente foi sendo reconhecido por seus méritos cinematográficos. Antes tarde do que nunca.

Pablo Aluísio.

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Pinóquio por Guillermo del Toro

Pinóquio por Guillermo del Toro
Do momento em que o diretor Guillermo del Toro decidiu fazer esse filme até o dia em que ele chegou ao público levou-se longos 15 anos de produção. Isso dá uma ideia do trabalho árduo que foi feito para que esse filme fosse finalizado. Fazer mais uma versão de Pinóquio seria banal, por isso del Toro decidiu ir por outro caminho. Ele optou por realizar o filme na antiga técnica de stop motion, uma tradicional linha de animação que estava há muitos anos deixada de lado justamente por causa do grande trabalho a ser realizado. Cenas que duram apenas alguns segundos levavam verdadeiros dias para ficarem prontas. O cineasta teve que importar artistas e animadores especializados nesta técnica de outros países. No total, foram criadas 60 equipes independentes, cada uma com a função de criar uma determinada sequência. O resultado de tanto primor técnico se vê na tela. O filme é realmente tecnicamente perfeito, impecável em todos os aspectos. 

Entretanto esse novo filme do Pinóquio não se resume apenas a um grande feito do aspecto técnico cinematográfico, mas também no roteiro. O diretor Guillermo del Toro resolveu mesclar histórias do livro original com novas ideias que ele introduziu na narrativa. E disso resultou uma história muito boa, inclusive com nuances políticas sobre o fascismo na Itália. Esse é um filme que tem muita alma e coração, falando sobre relações humanas, principalmente entre pai e filho. A perda de um ente querido e a tentativa de reencontrar algum sentido na vida depois disso também são temas tratados. O filme está  concorrendo ao Oscar de melhor animação deste ano e, se vencer, não será uma surpresa pra ninguém. Pelo contrário, será um prêmio mais do que merecido e justo.

Pinóquio por Guillermo del Toro (Guillermo del Toro's Pinocchio, Estados Unidos, México, França, 2022) Direção: Guillermo del Toro, Mark Gustafson / Roteiro: Guillermo del Toro, Patrick McHale / Elenco: Ewan McGregor, Cate Blanchett, Christoph Waltz, John Turturro, Ron Perlman, Tilda Swinton, David Bradley, Gregory Mann / Sinopse: Nova versão da antiga história do boneco de madeira que queria ser um menino de verdade. Baseado no livro original escrito por Carlo Collodi.

Pablo Aluísio.

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Três Cristos

Nesse filme, o ator Richard Gere interpreta um psiquiatra que vai trabalhar em uma instituição onde ele pretende realizar uma pesquisa com pacientes esquizofrênicos e paranoicos. Seu foco se concentra em 3 doentes mentais que acreditam que são Jesus Cristo. O que aconteceria se o médico os reunisse em um ambiente fechado, onde eles poderiam falar o que bem entendessem sobre os outros "messias"? Como eles iriam interagir com outros pacientes que também acreditam que são Jesus? Assim a narrativa desse filme se desenvolve, mostrando os avanços e recuos desta pesquisa, inclusive revelando aspectos tristes e até mesmo violentos dessa aproximação entre os 3 "Cristos". 

Filmes dessa temática costumam ser muito bons e esse aqui não foge a essa regra. Eu me interessei por absolutamente tudo o que vi nesse filme. A estranha personificação de um personagem histórico e religioso por doentes mentais. E a forma como a mente humana pode seguir por caminhos até mesmo misteriosos para a ciência como um todo. O filme é baseado numa história real, o que aumenta ainda mais o interesse em tudo o que se vê na tela. Os atores são excelentes, com destaque para o próprio Richard Gere, que está muito digno em seu papel. O ator Peter Dinklage, que todos conhecem de Game of Thrones, também desenvolve um belo trabalho nesse filme relevante. Enfim, uma história para se pensar um pouco mais sobre a condição da saúde mental dos internos em instituições psiquiátricas e o que pesquisas podem revelar sobre eles.

Três Cristos (Three Christs, Estados Unidos, 2017) Direção: Jon Avnet / Roteiro: Eric Nazarian, Jon Avnet / Elenco: Richard Gere, Peter Dinklage, Bradley Whitford / Sinopse: Psiquiatra vai trabalhar em uma instituição onde ele pretende realizar uma pesquisa com pacientes esquizofrênicos e paranoicos. Seu foco se concentra em 3 doentes mentais que acreditam que são Jesus Cristo. 

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Gary Cooper no Velho Oeste - Parte 2

Demorou um tempo para que Gary Cooper finalmente se tornasse um astro de cinema, com seu nome estampado em cartazes dos filmes e tudo o mais que estrelas tinham direito. Apenas alguns meses depois ele finalmente foi alçado a essa posição pela Paramount Pictures. O filme se chamava "Bandoleiro Romântico" (Arizona Bound). Era um faroeste de matinê, mas com toques de romantismo, como bem deixava claro o título da produção no Brasil. Cooper interpretava um cowboy chamado Dave Saulter. Ele vagava pelo velho oeste até chegar em uma pequena cidadezinha (velha fórmula dos filmes de western americano). 

Para seu azar chegava na cidade no mesmo dia em que estava sendo roubado do banco local um carregamento de ouro em uma diligência. Claro que tanto ouro assim chamaria a atenção de ladrões e bandoleiros. Cooper assim assumia a figura do mocinho bem intencionado, que salvava inclusive a sua nova amada, interpretada pela bela Betty Jewel, até que conseguisse recuperar o ouro roubado, prendendo todos os bandidos. Filme de praxe, bem de acordo com o que era produzido naqueles tempos. Acabou fazendo sucesso de bilheteria, firmando Cooper como nome comercialmente viável para os estúdios. Nascia mais um cowboy heroico das telas.

Em Hollywood, era normal a assinatura de um contrato com os estúdios com prazo de validade de 7 anos. Esse contrato poderia ter cláusula de exclusividade ou não, dependendo da habilidade do agente de cada ator. Ele assinou um contrato desse tipo com a Paramount e outros ao longo dos anos pois seus filmes renderiam ótimos bilheterias, se transformando em um astro de cinema da velha Hollywood.  Com o dinheiro, comprou uma bela mansão em Beverly Hills, um bairro que se tornaria exclusivo de pessoas que trabalhavam no mundo do cinema. Ele mandou aumentar a piscina para o padrão olímpico, pois adorava nadar. Também construiu um estábulo nos fundos da casa, pois investiu em sua própria criação de cavalos. Não confiava muito nos cavalos de estúdio e tinha medo de sofrer algum acidente mais sério nas cenas de ação, assim começou a ter sua própria criação de cavalos puro-sangue, todos importados da Arábia Saudita. Nessa casa ele viveria até o fim de seus dias. 

Os atores trabalhavam muito. Mal saíam das filmagens de um filme e já estavam em outro. Tudo feito de forma industrializada, a toque de caixa. Logo após "Bandoleiro Romântico" Cooper atuou em um drama chamado "Filhos do Divórcio". Ele não era o ator principal do filme (coube essa honra à atriz Clara Bow), mas tinha importância dentro da trama pois interpretava Edward D. 'Ted' Larrabee, um homem cujo coração estava dividido entre duas mulheres, uma delas o amor de sua adolescência. Seu personagem também tinha nuances psicológicas interessantes para um filme dessa época, pois no fundo não queria se casar por causa dos problemas que vivenciou como filho no casamento fracassado de seus próprios pais.

Pablo Aluísio.

Randolph Scott e o Velho Oeste - Parte 10

Depois do sucesso comercial de "O Último dos Moicanos" o ator Randolph Scott deu um tempo nas fitas de faroeste. E isso surpreendeu muita gente já que todos esperavam que ele iria cair com tudo no gênero para aproveitar o sucesso. Apenas algum tempo depois é que ele voltaria a usar chapéu de cowboy, botas e esporas para montar seu belo cavalo branco. Isso voltaria a acontecer em "A Heroína do Texas" (The Texans), boa produção dirigida pelo cineasta  James P. Hogan. O que chamava bastante a atenção aqui é que todas as atenções do roteiro iam para a mocinha do filme e não para o herói. Algo raro em um estilo cinematográfico tão voltado para o público masculino. Era algo novo e inovador, algo que poucos tinham feito em Hollywood naquele período histórico do cinema americano.

A estrelinha do filme, a atriz Joan Bennett, foi até mesmo creditada na frente do astro Randolph Scott. isso mostrava também como ele poderia ser generoso com as colegas de profisssão. Ele vinha de um sucesso de bilheteria e poderia muito bem calçar seu ego de astro de western em Hollywood e exigir seu nome em primeiro lugar nos créditos do filme. Porém não fez isso. Foi bem humilde e companheiro, sendo usado até mesmo como escada da jovem atriz. A sinopse era padrão: "Após a Guerra Civil, um ex-soldado confederado enfrentava novas batalhas, incluindo os membros de uma quadrilha de bandidos que tentavam roubar uma jovem indefesa".

Após esse filme Scott atuou em um drama chamado "Almas sem Rumo". Um bom filme, mas também um pouco cheio de clichês melodramáticos típicos daquele período. Isso porém logo foi esquecido porque ele voltaria ao velho oeste em um grande clássico do cinema, "Jesse James". Esse é considerado um dos melhores filmes de western já feitos. Dirigido pelo ótimo Henry King, trazendo um excelente elenco que contava com Tyrone Power e Henry Fonda como os irmãos foras-da-lei James, esse é um daqueles filmes que até hoje são debatidos e reprisados por fãs de faroeste clássico em sua era de ouro.

Em uma produção com tantos astros e estrelas, Randolph Scott acabou sendo escalado para um personagem secundário, porém não menos importante. Will Wright. Porém o mais importante desse filme é que o ator percebeu que o segredo para fazer fortuna em Hollywood era produzir seus próprios filmes. Ele teve a ideia, justamente nesse set de filmagens, de começar a ele mesmo produzir uma série de filmes de cowboy, algo que o tornaria um dos atores mais ricos de Hollywood nos anos seguintes.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

As Vidas de Marilyn Monroe - Parte 31

O casamento de Marilyn com o marido Joe DiMaggio durou muito pouco tempo. Ele queria uma mulher tradicional que fosse uma dona de casa que cuidasse dele. Que fizesse seu prato de jantar enquanto ele assistia a filmes de Faroeste na TV. Ou seja, ele queria uma típica matrona italiana, coisa que Marilyn jamais foi na vida e que ela não tinha a menor intenção de ser algum dia. Pior do que isso, ele queria que Marilyn abandonasse sua carreira no cinema. Era o maior absurdo que ela poderia ouvir. Logo ela que havia lutado tanto para ser atriz. Marilyn também não gostava dos amigos de Joe DiMaggio. Uns caras que pareciam ter saído de algum fichário da máfia italiana. Eles iam para a casa dela e pediam cervejas enquanto jogavam cartas. Faziam dela uma garçonete! 

Não demorou muito e Marilyn se aborreceu de tudo e de todos. Ela estava prestes a atuar no filme "No Mundo da Fantasia", que iria exigir muito dela em termos artísticos. Tinha que decorar suas falas, atuar dramaticamente e ainda dançar e cantar no filme que tentava reviver o estilo dos antigos clássicos musicais do cinema americano. Então se tornou uma situação intolerável para a atriz ter que trabalhar o dia todo e voltar para casa e encontrar aquele bando de italianos que queriam tratá-la como uma garota qualquer. Numa noite ela se aborreceu totalmente com a situação e colocou todos para fora da casa dela. Colocou todos para correr!

O casamento de Marilyn Monroe com Joe também afundou por causa da agressão física que ela sofreu após o marido testemunhar sua cena clássica, sendo filmada nas ruas em Nova Iorque para o filme "O Pecado Mora ao Lado". A sequência das saias voando pelo ar do metrô, com sua calcinha sendo vista por todos foi intolerável para Joe. Quando eles voltaram para seu apartamento, ele a agrediu fisicamente. Aquilo foi o fim de tudo. Marilyn deu um basta! Entrou em contato com seu advogado e enviou as papéis de divórcio pelo correio. Joe nunca mais!

O curioso é que Joe jamais deixarei de pegar no pé dela, sempre à espreita, esperando uma nova chance. Quando ela faleceu foi ele que providenciou tudo. Quem cuidou de seu funeral. E durante 30 anos, manteve as flores no túmulo de Marilyn Monroe, até sua própria morte. Ele jamais a esqueceu. Quando procurado por repórteres e jornalistas para escrever um livro, ele recusava dizendo que sabia o que eles queriam. Eles queriam saber detalhes privados da vida de Marilyn Monroe, algo que ele jamais faria. E realmente cumpriu o que prometeu, nunca escreveu um livro, nem deu entrevistas sobre a famosa ex-esposa.

Pablo Aluísio.

Paul Newman - Hollywood Boulevard - Parte 1

A estreia de um jovem Paul Newman no cinema se deu justamente nesse épico  improvável de 1954, "O Cálice Sagrado". Vestido com os típicos trajes da época romana, Newman era certamente o ator errado no filme errado. Para quem vinha de uma sólida formação no Actor´s Studio aquele filme ao estilo sandálias e areia não lhe fazia jus em nada. Ele interpreta um escravo grego, bom artesão, que acaba se envolvendo de forma plenamente casual com o cálice usado por Jesus Cristo em sua última ceia ao lado dos doze apóstolos. O filme jamais convence, ficando abaixo da média das produções bíblicas dos anos 50 do tipo "Sansão e Dalila" com Victor Mature.

Para piorar o que já era bem ruim, Paul Newman acaba completamente ofuscado por Jack Palance que interpreta Simão, o mago, um personagem citado na própria bíblia, um farsante, mistura de mágico com ilusionista, que enganava as pessoas na antiguidade, se fazendo passar por algo que ele não era. Há ainda a bela Pier Angeli, uma atriz que ficou mais conhecida por ter sido o grande amor de James Dean do que por qualquer outra coisa. Era uma starlet, nada talentosa em termos dramáticos, que conseguia chamar a atenção por causa de sua beleza exótica, bem italiana.

O diretor Saville também estava pouco preocupado com fidelidade histórica e trouxe ao filme uma estranha direção de arte, com cenários pouco comuns para o cinema da época. São em última análise cenários teatrais estilizados, usando aspectos pós-modernistas em seu conceito, que ficaram mais do que deslocados dentro do filme. Philip Johnson, o diretor de arte, desenhou uma cidade antiga que em nada lembrava a Jerusalém dos grandes filmes épicos. Olhando sob um certo ponto de vista isso poderia até ter sido interessante mas a realidade é que simplesmente não funciona, deixando uma sensação de algo falso ao espectador.

A crítica não gostou e muito menos Paul Newman que em um gesto de profunda humildade reconheceu seu erro escrevendo um pedido de desculpas ao seu público em um jornal de Nova Iorque. No texto Newman reconhecia que sua atuação tinha sido ruim e que ele poderia fazer melhor. Também confessava que não havia gostado nem do roteiro e nem da proposta do filme, e que só depois quando conferiu nas telas pode se conscientizar e entender o quanto estava ruim tudo aquilo. Para o público em geral tinha sido mesmo uma decepção, uma vez que Newman estava sendo apontado como a grande revelação de Hollywood. Mas tudo bem, bola pra frente. No final Paul Newman tranquilizava a todos dizendo que iria melhorar em sua próxima atuação, promessa que aliás cumpriu.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

O Lobo Viking

O Lobo Viking
Um grupo de Vikings fazendo um saque na Normandia acaba encontrando um estranho animal em uma abadia isolada. Eles resolvem trazer o bicho para casa, mas no meio da viagem, ele acaba atacando todos os guerreiros do barco Viking. Um massacre! Mil anos depois tudo vira lenda a ser passada oralmente de geração em geração. Entretanto ataques dessas estranhas criaturas começam a acontecer em uma pequena cidade no interior gelado da Noruega. E tudo leva a crer que não se trata de um lobo comum. Pesquisas demonstram que não poderia ser um lobo qualquer, pois suas presas e suas marcas deixadas nas vítimas são grandes demais. Uma policial desta cidadezinha começa a investigar e acaba descobrindo algo realmente surpreendente. 

Pelo visto a Noruega virou mesmo um polo de produção de filmes de cultura pop. Como podemos ver no caso desse novo filme, que acabou sendo um dos filmes mais vistos da Netflix nesta semana. Devo dizer que é um filme legal, apesar de alguns deslizes pontuais. Acredito que o monstro clássico do lobisomem sempre poderá gerar bons filmes, desde que surjam boas ideias originais por trás de seu ressurgimento nas telas. Eu também gostei bastante do desenho do monstro aqui, parecendo mais um lobo sarnento, um bicho rabugento bem nojento. Tem que ser assim mesmo! No começo, os ataques só surgem em uma visão subjetiva, mas depois o monstro aparece melhor, em closes mais bem elaborados. A computação digital está boa e o filme, de maneira geral, é um pop pipoca bem satisfatório. Conta com um roteiro básico, mas eficiente, deixando até mesmo uma porta aberta para futuras continuações. Você quer algo mais cultura pop do que isso?

O Lobo Viking (Vikingulven, Noruega, 2022) Direção: Stig Svendsen / Roteiro: Espen Aukan, Stig Svendsen / Elenco: Liv Mjönes, Elli Rhiannon, Müller Osborne, Arthur Hakalahti / Sinopse: Jovens são atacados por uma estranha fera em uma Floresta do interior da Noruega. E tudo parece ter uma ligação com uma antiga lenda dos tempos dos Vikings.

Pablo Aluísio.