domingo, 14 de agosto de 2022

The Old Man

The Old Man
Essa nova série apresenta um atrativo especial para os cinéfilos, a presença do ator Jeff Bridges no elenco. Ao longo do tempo houve um certo preconceito quando atores de cinema migravam para a televisão, mais isso faz parte do passado. Atualmente as séries estão em um nível tão bom que não é nenhum demérito para a carreira de qualquer ator fazer parte de séries, muito pelo contrário. Essa nova série parece ser bem promissora e eu apostaria minhas fichas nela. Abaixo segue comentários sobre os episódios que assisti até o momento. 

The Old Man 1.01 - I
Nesse primeiro episódio temos esse velho homem, como sugere o título original em inglês, que vive solitário em uma casa isolada do campo, perto de uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos. Ao seu lado vivem apenas dois cães de guarda que ele usa para se proteger e dar o alerta de qualquer invasão em sua propriedade. No começo pensamos que ele é apenas um homem com algum tipo de  paranoia de perseguição, mas seus cuidados logo se revelam verdadeiros quando um homem invade sua casa no meio da noite. O sujeito armado estaria ali a mando de alguém do seu passado. Fica bem claro que ele quer executar o velho homem. Assim começa esse primeiro episódio que eu achei muito coeso, muito interessante, promissor, que ainda não revelou totalmente o passado de seu protagonista, mas que ao longo dos episódios o fará com certeza. Jeff Bridges continua ótimo e a sua presença nessa série já é motivo suficiente para acompanhá-la.  / The Old Man 1.01 - I (Estados Unidos, 2022) Direção: Jon Watts / Roteiro: Jonathan E. Steinberg / Elenco: Jeff Bridges, John Lithgow, E.J. Bonilla.

The Old Man 1.02 - II
Nesse episódio descobrimos mais sobre o passado desse velho homem. Ele esteve envolvido em operações militares no Afeganistão quando a União Soviética invadiu aquele país, no começo dos anos 1980. Foi um brilhante comandante militar. E um assassino de rara eficácia. Sangue frio e grande precisão na arte de matar o inimigo. No presente, ele segue em fuga e acaba encontrando uma mulher madura e solitária. Poderia ele, nessa altura de sua vida, começar um romance a sério com uma mulher como ela? É uma dúvida que fica na mente de todos. Mesmo assim, esses momentos trazem algum tipo de tranquilidade e paz para ele. Algo raro, principalmente quando você está sendo caçado por assassinos profissionais pagos pelo governo dos Estados Unidos. / The Old Man 1.02 - II (Estados Unidos, 2022) Direção: Jon Watts / Elenco: Jeff Bridges, John Lithgow, Alia Shawkat.

The Old Man 1.03 - III
Não deixa de ser um pouco preocupante o fato de uma série que já em seu terceiro episódio demonstra sinais de repetição e saturação. Pois é justamente a conclusão que tirei após assistir a esse novo episódio. O roteiro é praticamente uma derivação, sem muitas novidades, dos roteiros anteriores. Situações se repetem. O personagem de velho Jeff Bridges, tenta escapar enquanto o governo vai atrás dele de forma impiedosa. Até mesmo um assassino profissional é contratado para lhe matar. E não falta o flashback tentando explicar de onde viria tanta ira por parte do ente governamental. Assim, a sensação que tive foi de assistir mais um episódio que é mais do mesmo. Ainda assim, pela expectativa de melhorar, vou seguir em frente por mais alguns episódios. Espero que mude a situação. / The Old Man 1.03 - III (Estados Unidos, 2022) Direção: Greg Yaitanes / Elenco: Jeff Bridges, John Lithgow, Alia Shawkat.

The Old Man - Episódios Finais
Como termina a série The Old Man? Ou melhor colocando... como termina a primeira temporada? Tenho notícias não muito boas para quem vinha acompanhando. O sétimo e último episódio dessa temporada termina de forma bem inconclusiva, jogando praticamene tudo para a próxima temporada, isso se ela for produzida, pois nada foi confirmado ainda. É um velho problema dessa série onde os roteiros se arrastam até o limite. Nesse último episódio o personagem de Jeff Bridges precisa decidir se vai se entregar ao seu velho desafeto desde os tempos do Afeganistão para salvar a vida de sua filha. E nada é mostrado pois na última cena ele chega em uma penintenciária, o que talvez indique que seja lá que esteja seu inimigo. Entretanto só podemos especular, pois o roteiro, mais um vez, não conclui nada. Acho que fico por aqui. Mesmo se houver uma segunda temporada não vou ver. Não curto séries que enrolam demais e não contam sua história.

Pablo Aluísio.

sábado, 13 de agosto de 2022

The Boys - Terceira Temporada

The Boys - Terceira Temporada
Terceira temporada da série The Boys lançada em junho de 2022.  Essa nova temporada contará com 8 episódios, explorando os desdobramentos da história em que super-heróis não são sinônimo de virtude e nem de heroísmo, bem ao contrário disso, são pessoas rasteiras, sem nenhum caráter. Estarei escrevendo sobre cada episódio, a partir do momento que for assistindo. Segue abaixo a série de reviews de cada episódio.

The Boys 3.01 - Payback
Nesse primeiro episódio da terceira temporada temos algumas inovações, entre elas o fato de que alguns personagens agora trabalham em uma espécie de agência governamental dos Estados Unidos, cuja principal função é justamente fiscalizar o trabalho dos super dentro da sociedade. E a mudança chega também entre os 7, com a ascensão de Luz Estrela ao comando do grupo ao lado do Capitão Pátria que fica extremamente irritado com isso. Já Billy Butcher corre atrás do segredo da morte de um antigo super chamado Soldier Boy, pois isso pode revelar a fórmula para destruir o Capitão Pátria. / The Boys 3.01 - Payback (Estados Unidos, 2022) Direção: Philip Sgriccia / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr.

The Boys 3.02 - The Only Man in the Sky
Butcher decide tomar a fórmula que transforma pessoas comuns em super. Ele acaba desenvolvendo poderes que podem ser comparados até mesmo ao Capitão Pátria, imagine o perigo de um troço desse na mão dele. Butcher vai usar toda a sua fúria e raiva contra os super sem pensar duas vezes. Enquanto isso a grande festa de aniversário do Capitão Pátria se transforma em um show de falsidade na TV, uma vez que o Capitão Pátria está extremamente irritado com a morte de Tempesta e com o fato de não ser mais o líder supremo dos 7. Durante o programa ele perde o controle e acaba de certo modo deixando de lado aquela falsa imagem de bonzinho, iniciando um discurso totalmente feroz contra as pessoas em geral, revelando assim sua verdadeira personalidade. Pelo visto a máscara do Capitão Pátria finalmente caiu e em público, diante de milhares de pessoas! / The Boys 3.02 - The Only Man in the Sky (Estados Unidos, 2022) Direção: Philip Sgriccia / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr.

The Boys 3.03 - Barbary Coast
O Capitão Pátria se safa de seu discurso escroto. Ele havia desabafado em um evento da agência. No meio de milhares de pessoas, falou o que quis, mas acabou sendo absorvido pela opinião pública, que considerou sua sinceridade um valor a se preservar. Pior do que isso, o Capitão Pátria começa a dar em cima da Luz Estrelas e diz publicamente na TV que eles agora são namorados. Nada mais absurdo do que isso. Já Butcher decide ir atrás do segredo da arma que matou o Soldier Boy. Ele acaba arrancando uma informação preciosa. Ele descobre que a arma foi desenvolvida pelos russos. E ele logo planeja uma forma de ir até a Rússia em busca do artefato. Mas será que isso tudo é verdade? Será que está história se mantém firme mesmo? A descobrir nos próximos episódios. / The Boys 3.03 - Barbary Coast (Estados Unidos, 2022) Direção: Julian Holmes / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr.

The Boys 3.04 - Glorious Five Year Plan
O Capitão Pátria segue sua jornada de vilão travestido de herói. Além de forçar um romance inexistente com a Luz Estrela, ele ainda consegue uma vitória inacreditável. Ele destrói praticamente o antigo CEO da empresa que controlava os heróis. E usa a própria filha dele. Uma traição, vil. Esse sujeito, obviamente, não está para brincadeira. Outro evento muito marcante desse episódio ocorre quando o Soldier Boy é descongelado, e ressurge. Ora, não precisa ser especialista em quadrinhos para entender que o Soldier Boy é uma sátira em relação ao Capitão América da Marvel. Um patriota à beira do facismo. Outro super-herói altamente escroto. O mundo que se vire. / The Boys 3.04 - Glorious Five Year Plan (Estados Unidos, 2022) Direção: Julian Holmes / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr.

The Boys 3.05 - The Last Time to Look on This World of Lies
Como vencer o Capitão Pátria? Ele é tipo o Superman desse universo. Nenhum outro super-herói conseguiria vencê-lo. Só que, ao contrário do Superman, que é um ser digno e honrado, o Capitão Pátria nada mais é do que um escroto. Então, a trupe vai em busca de algo que o destrua. Acaba encontrando a solução justamente em outro super-herói. É um super-herói do passado. Chamado Soldier Boy. É muito forte, parece sobreviver a ação do tempo. Neste episódio, ele está de volta à ativa. A primeira coisa que faz é se vingar de uma heroína que o traiu no passado. Ela o entregou aos russos, e ele ficou prisioneiro por longos anos. Sofreu todos os tipos de torturas e abusos. Ainda assim, sobreviveu. Agora quero a desforra, quer a vingança. E nesse episódio, ele se vinga dela. Literalmente a explode, fazendo com que seus pedaços voem em aos ares. O Soldier Boy está de volta! / The Boys 3.05 - The Last Time to Look on This World of Lies (Estados Unidos, 2022) Direção: Nelson Cragg / Elenco: Karl Urban, Jack Quaid, Antony Starr.

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Clint Eastwood e o Western - Parte 1

Depois de John Wayne o grande nome do western como gênero cinematográfica inegavelmente foi Clint Eastwood. Isso é curioso por vários motivos. Clint não participou da chamada era de ouro do faroeste americano, que ocorreu por volta dos anos 40 e 50. Ele só veio a surgir um pouco depois, quando o western já era considerado pelos críticos como um estilo de cinema ultrapassado, superado. Contra todas essas visões pessimistas Clint começou a estrelar seus filmes de western, na Itália e nos Estados Unidos. Com isso acabou se tornando um dos maiores astros da sétima arte.

O ator nasceu na Califórnia, em San Francisco, no ano de 1930. Sim, ele até teria idade para despontar nos anos 50, quando já tinha vinte anos, porém a carreira para Clint demorou um pouco a decolar. Hoje em dia ele é aclamado não apenas como um ator de sucesso, mas também como um cineasta extremamente talentoso, indicado várias vezes ao Oscar. E tudo começou com atuações em pequenas produções, filmes modestos, que serviram para, em um primeiro momento, apresentar Clint ao público espectador de cinema e TV.

O primeiro filme de sua carreira foi um filme de terror trash, uma produção B chamada "A Revanche do Monstro". Um daqueles filmes nada promissores que passavam em cinemas poeirentos do interior dos Estados Unidos. O curioso sobre esse comecinho de sua carreira como ator é que Clint foi pegando os trabalhos que eram oferecidos, sem se importar muito com a qualidade dos filmes. Algo comum e esperado para quem não tinha experiência e precisava essencialmente arranjar algum trabalho como ator para sobreviver.

Assim, ainda em 1955, lá estava o jovem Clint Eastwood envolvido em outro filme trash com monstros chamado "Tarântula!" Como era de praxe em filmes desse estilo na época tudo acontecia quando um inseto (uma aranha) era exposta a radiação! Depois disso ela começava a crescer sem parar, se transformando em um monstro de 9 metros de altura! Uma bobagem divertida daqueles tempos mais inocentes. A direção era do cineasta Jack Arnold, que foi o primeiro a enxergar em Clint um cowboy das telas. Conta-se que ele encarou o jovem ator durante um intervalo e disparou: "Ei, você deveria estar em um filme de western! Tem jeito para isso!". Um conselho e uma dica que Clint jamais esqueceria.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Zulu

“Zulu” é um desses filmes que ajudam o espectador a entender o processo de colonização promovido pelos ingleses ao redor do mundo, durante a era vitoriana. No filme acompanhamos o aspecto militar desse sistema. O enredo se passa durante o conflito entre o Reino Zulu (denominação um tanto difusa e vaga, usada pelos ingleses para designar uma série de tribos localizadas na África do Sul) e as tropas britânicas estacionadas naquela região. Não se sabe bem a razão, mas o fato foi que a partir de um determinado momento os Zulus decidiram combater a presença do branco europeu em suas terras. E isso aconteceu depois de anos de paz entre eles.

Até aquele momento havia uma certa harmonia na região. A disputa territorial ficou conhecida como Guerra Anglo-Zulu. A tragédia humana foi terrível, pois a guerra ocasionou milhares de mortes para ambos os lados. Obviamente as tropas do império britânica eram muito mais bem armadas e organizadas que as forças das tribos nativas. Foi claramente um choque de civilizações. Do ponto de vista dos europeus todos aqueles povos armados de lanças e escudos rudimentares eram incivilizados e primitivos. Em caso de guerra deveriam ser eliminados sumariamente. 

O filme apresenta um ótimo elenco, com o melhor que o cinema inglês tinha a oferecer naquele período. O protagonista é interpretado por Michael Caine. No filme ele atua como um oficial britânico que é designado para servir na distante colônia africana, poucos dias antes do conflito se deflagrar. Sua postura, com uniforme intocável e limpo, acaba contrastando na tela violentamente com o primitivismo dos guerreiros Zulus. Esses eram guerreiros bravos e destemidos, mas não tinham uma tecnologia bélica à altura para enfrentar os disciplinados ingleses. Sequer conheciam as armas de fogo, lutando apenas com seus primitivos instrumentos de guerra. Estavam em maior número, mas os ingleses tinham também muitos pontos a seu favor nessa guerra sangrenta.

“Zulu” foi muit bem recebido pela crítica, principalmente por sua narrativa objetiva e imparcial. Aliás a narração em off foi executada pelo grande ator Richard Burton, que anos depois iria ele próprio estrelar um filme sobre o mesmo tema, mas mostrando os fatos que ocorreram antes da chacina tribal. Tudo o que aconteceu nesse massacre em 1879 deixou duas grandes lições para o Império Britânico. O primeiro foi que não importava o grau de civilização dos nativos locais de suas colônias, pois o inimigo jamais poderia ser subestimado. A segunda foi a de que o Império deveria adotar uma postura mais diplomática com as tribos locais para evitar justamente tudo o que ocorreu nesse evento histórico. Em conclusão, temos aqui um excelente filme para quem estiver interessado em conhecer melhor a colonização promovida pelo Império Britânico na época do longo reinado da Rainha Vitória.

Zulu (Zulu, Inglaterra, 1964) Direção: Cy Endfield / Roteiro: John Prebble, Cy Endfield / Elenco: Michael Caine, Richard Burton (narração), Stanley Baker, Jack Hawkins, Ulla Jacobsson, James Booth / Sinopse: Jovem oficial é enviado para uma região remota da África do Sul onde tribos do chamado Reino Zulu começam a se rebelar contra a presença britânica na região. Uma grande guerra está prestes a começar e ele, sem querer, acaba vivenciando esse trágico momento histórico. Filme indicado ao BAFTA Awards na categoria de Melhor Direção de Arte (Ernest Archer).

Pablo Aluísio. 

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Elvis

Título no Brasil: Elvis
Título Original: Elvis
Ano de Lançamento: 2022
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros.
Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann, Sam Bromell
Elenco: Tom Hanks, Austin Butler, Olivia DeJonge, Helen Thomson, Richard Roxburgh, Kelvin Harrison Jr.

Sinopse:
Em seus últimos momentos de vida, o Coronel Tom Parker (Tom Hanks) relembra seus anos ao lado de Elvis Presley (Austin Butler). Acima de tudo ele quer deixar claro que não foi um dos responsáveis pela morte do artista, mas que sim o levou ao sucesso que alcançou!

Comentários:
Finalmente assisti a esse filme que tem sido tão badalado e falado nas últimas semanas. Depois de conferir cheguei na conclusão de que não é tudo aquilo que se disse sobre ele. Não é um filme ruim, longe disso, mas também vamos convir que não é nenhuma maravilha da perfeição. O roteiro é superficial, apressado e se atropela em sua ansiedade. Eu até gostei da ideia de colocar o Coronel Tom Parker como um narrador não confiável, um homem envelhecido que através de suas memórias tenta se defender das acusações de que ele teria sido um dos responsáveis pela morte de Elvis. Esse roteiro baseado em lembranças, trazendo um longo flashback, justifica inclusive as omissões e erros na história e na cronologia. Um homem idoso, no final de sua vida, não iria lembrar tudo com perfeição. O problema vem mesmo da superficialidade de não se aprofundar em nada. A pressa é a inimiga da perfeição.

Baz Luhrmann, um diretor qie gosta de luxo e exageros estéticos, se mostra à vontade nas cenas de palco, já nos momentos mais dramáticos deixa a desejar. Profundidade emocional dos personagens não é o seu forte. Austin Butler segue no mesmo caminho, se saindo bem nos momentos em que interpreta o jovem Elvis no palco. Quando chega os anos 70, a maquiagem fica esquisita e ele apenas passa raspando nos momentos mais dramáticos. Em termos de atuação gostei muito mais de Tom Hanks. A experiência do veterano e talentoso ator fez a diferença, mesmo com o sotaque incomum. Entre aspectos positivos e negativos, o filme consegue segurar a atenção, sendo um interessante cartão de apresentação para o público mais jovem, justificando de certa maneira seu dinamismo. Já para quem é fã de longa data de Elvis não tem jeito, o filme vai soar bem superficial mesmo.

Pablo Aluísio.

Elvis Presley - Elvis (1956) - Parte 5

Na primeira vez que escrevi sobre "How Do You Think I Feel" eu afirmei que essa música tinha claros contornos latinos em sua harmonia. Há algum tempo li que seu autor, Webb Pierce, estava em férias no México quando a compôs. Assim tudo fica devidamente explicado. Quando o disco foi lançado originalmente em 1956 ninguém deu muita atenção para essa faixa. Nenhum crítico perdeu seu tempo em analisá-la devidamente, até porque o álbum já tinha tantos clássicos do rock para chamar a atenção.

Ficar na sombra foi uma vocação natural para essa gravação. De minha parte gosto de sua sonoridade. O arranjo é simples, nada parecido com o que se ouviria anos depois em trilhas sonoras como "Fun in Acapulco" (O Seresteiro de Acapulco de 1963), mas mantinha um arranjo agradável aos ouvidos. Também acabou se tornando uma música exclusiva de estúdio, nunca cantada por Elvis nos palcos.

O compositor Joe Thomas criou a ótima "Anyplace is Paradise". Essa faixa poderia ter sido melhor trabalhada pela RCA Victor pois em minha visão tinha muito potencial para se tornar um hit nos anos 50. Só que a gravadora de Elvis não pensou dessa forma e a música foi relegada a ser um autêntico "Lado B" da discografia do cantor. Isso porém não a desmereceu em nada. O grupo de Elvis aqui se destaca, em especial o guitarrista Scotty Moore, que teve uma excelente oportunidade para desfilar seu repertório de solos. Outro destaque é o piano de Marvin Hughes. Nos tempos da Sun Records não havia piano nas gravações. Quando Elvis foi para a RCA Victor o produtor Steve Sholes determinou que uma banda completa iria ficar à disposição de Elvis. Isso trouxe um conjunto de belos arranjos para seus discos. Ficou muito bom, mais encorpado, mais bem trabalhado.

Certa vez, durante uma entrevista, Raul Seixas citou "Paralyzed" como uma de suas músicas preferidas de Elvis. O roqueiro brasileiro entendia mesmo da discografia de seu ídolo, pois só quem era familiarizado muito bem com seus discos dos anos 50 poderia citar essa faixa com tamanha convicção. O que podemos ainda dizer sobre essa canção? È uma das letras mais maliciosas de Elvis, isso numa época em que estavam pegando em seu pé por causa de seus rebolados na TV. Ela foi gravada nos estúdios logo depois da baladona "Old Shep". Depois de todo aquele drama nostálgico Elvis procurou por algo mais relaxante, para deixar o stress de lado. E a música serviu perfeitamente aos seus propósitos. O Elvis que ouvimos aqui parece completamente à vontade para cantá-la.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Audie Murphy e o Western - Parte 4

"Caminho da Perdição", o último filme de Audie Murphy na década de 1940, era um drama sobre delinquentes juvenis dirigido por Kurt Neumann. O elenco era formado praticamente todo por jovens desconhecidos, a única exceção era a presença de Jane Wyatt. Passava longe de ser um grande filme, indo mais para o lado do cinema B, porém serviu como mais um teste para Murphy como ator. De quebra ele conseguiu mais publicidade, mesmo que esse drama não fosse grande coisa. O simples fato de trazê-lo no poster já era um bom começo.

A década de 1950 começou e finalmente Audie Murphy encontrou seu caminho em Hollywood. O filme se chamava "Duelo Sangrento" e era a produção ideal que Murphy tanto esperava. Nesse western que tinha o título original de "The Kid from Texas", Murphy interpretava nada mais, nada menos do que um dos personagens históricos mais famosos da mitologia do velho oeste, o pistoleiro William Bonney, mais conhecido como 'Billy the Kid'. É curioso que quando a Universal contratou o diretor Kurt Neumann para dirigir o faroeste esse indicou ao estúdio o próprio Audie Murphy com quem havia trabalhado no filme anterior. Não haveria ninguém melhor para atuar como Kid.

A crítica de um modo geral gostou do filme. Para muitos seria um "bom pequeno filme". Outra atração é que ele foi lançado em cores, considerado ainda na época como um sinal de capricho, de que a produção era realmente boa e que o estúdio confiava no sucesso. Historicamente o filme não era muito preciso. Billy The Kid não nasceu no Texas, como fazia supor o roteiro, ele havia nascido em Nova Iorque. Porém de uma maneira em geral aspectos históricos da história de Kid foram mantidos, como seu envolvimento na guerra do condado de Lincoln.

Nesse mesmo ano Audie Murphy surgiria nas telas com mais um western intitulado no Brasil de "Serras Sangrentas". Originalmente o filme se chamava "Sierra" e era dirigido por Alfred E. Green. Baseado na novela escrita por Stuart Hardy, a estória mostrava a luta de pai e filho tentando sobreviver nas montanhas em uma época em que a lei e a ordem eram apenas esperanças vãs de surgir naquelas regiões perdidas do velho oeste. Curiosamente esse faroeste era estrelado por uma atriz, a bela Wanda Hendrix. Audie Murphy era apenas o segundo nome do elenco, mostrando que ele estava disposto a ceder espaço em prol de atuar em bons filmes, com roteiros mais bem escritos.

Pablo Aluísio.

O Rebelde

Título no Brasil: O Rebelde
Título Original: The Rebel
Ano de Produção: 1959 - 1961
País: Estados Unidos
Estúdio: American Broadcasting Company (ABC)
Direção: Irvin Kershner, Bernard L. Kowalski
Roteiro: Andrew J. Fenady, Nick Adams
Elenco: Nick Adams, Ross Sturlin, Chuck Hamilton

Sinopse:
Johnny Yuma (Nick Adams) é um bravo jovem, ex-soldado do Exército Confederado, à deriva através de uma existência aparentemente sem sentido na década de 1860, no velho oeste. A guerra civil chegou ao final e ele ainda não encontrou seu lugar no mundo. Para sobreviver começa a trabalhar como segurança de caravanas contra ataques de tribos selvagens hostis e cowboy de aluguel para fazendeiros da região. Seu grande sonho é um dia comprar um rancho para criar gado e viver dele até o fim de seus dias.

Comentários:
O ator Nick Adams (1931 - 1968) ficou mais famoso em Hollywood por suas amizades do que propriamente por seu talento dramático. Ele inicialmente fez parte da turminha de Jimmy Dean nos anos 1950 e após sua morte ficou muito próximo e amigo de outro mito, só que dessa vez da música, o rei do rock Elvis Presley. Para esse último serviu não apenas de colega de profissão mas também como guia orientador de atuação, uma vez que Elvis não tinha nenhuma experiência como ator e precisava de alguém que lhe desse dicas de como atuar bem. Dentro de sua carreira o auge para Nick Adams veio quando foi indicado ao Oscar por sua atuação em "O Crime é Homicídio". Depois disso infelizmente as ofertas foram ficando cada vez mais raras e para não ficar sem trabalho Adams resolveu aderir à televisão. O problema é que havia uma mentalidade preconceituosa entre astros de cinema daquela época que dizia que quando um ator ia para a TV ele estava acabado no cinema. Nick também pensava assim e sentia-se frustrado por ter que aparecer em um seriado de faroeste transmitido pela ABC no horário vespertino (visando obviamente ganhar a audiência do público mais jovem). 

De fato ele até chegou a se empolgar durante um certo período, colaborando na criação e nos roteiros dos episódios, mas isso era pouco para suas ambições profissionais. Uma bobagem sem tamanho mas que retratava a forma de pensar dos atores daquele tempo. O seriado fez sucesso, tanto que ficou três temporadas no ar, mas em 1961 Adams achou que era de voltar para o cinema. Seu retorno porém não deu certo e o ator ficou sem a série e nem bons filmes para estrelar (para se ter uma ideia chegou até mesmo a aparecer em produções trash de terror para sobreviver). Talvez a queda tenha sido demais para ele e sete anos depois o ator seria encontrado morto por uma overdose de drogas em seu apartamento. Um triste fim para esse cowboy das matinês que embalou e levou diversão para a garotada no começo dos anos 1960 nos Estados Unidos.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

A Ponte do Rio Kwai

"A Ponte do Rio Kwai" é considerado um dos maiores clássicos de guerra da história de Hollywood. Dirigido pelo mestre David Lean, o filme mantém seu status de grande obra cinematográfica mesmo após tantos anos de seu lançamento original. O enredo (parcialmente inspirado em fatos reais) mostra um regimento do exército inglês que é feito prisioneiro pelos japoneses durante a II Guerra Mundial. Os soldados e oficiais passam então a servir como mão de obra escrava para a construção de pontes e estradas de ferro para o Japão imperial. Quando um novo grupo de prisioneiros ingleses é enviado para o Rio Kwai com o objetivo de construir uma ponte para passagem férrea, um corajoso e orgulhoso coronel britânico, Mr. Nicholson (interpretado pelo ótimo Alec Guiness), começa a criar problemas para o Coronel japonês Saito (Sessue Hayakawa), responsável pela obra. O oficial inglês exige que a convenção de Genebra seja cumprida à risca, enquanto Saito não está disposto a abrir mão de seus métodos violentos e até sádicos de lidar com prisioneiros inimigos de guerra. Após o primeiro conflito de opiniões o Coronel inglês é enviado para o "buraco", uma minúscula caixa exposta ao sol ardente da região. Apesar da tortura ele não dá o braço a torcer. Ao mesmo tempo seus homens deixam claro que não irão se submeter a nenhum tipo de ordem enquanto os seus próprios termos não forem aceitos. Começa então um jogo psicológico entre ingleses e japoneses pelo controle da situação.

O outro personagem central do filme é interpretado pelo ator William Holden. Ele dá vida a um oficial da Marinha americana que também está feito prisioneiro de Saito. Ao contrário do Coronel Nicholson porém ele quer mesmo é colocar em prática um ousado plano de fuga para escapar daquele inferno. O Rio Kwai se situava na Birmânia, um pequeno país do sudeste asiático, assolado por doenças tropicais. A maioria dos prisioneiros acabavam morrendo de doenças típicas daquelas florestas, o que aumentava ainda mais o desespero de ser um prisioneiro de guerra do Japão. David Lean não mostra impaciência e nem pressa em desenvolver a trama de seu filme. Esse cineasta se caracterizou por tecer uma narrativa bem sofisticada para todos os filmes que dirigiu. Esse aqui não é exceção.

O curioso é que o personagem de Guiness acaba desenvolvendo um sentimento dúbio para com os japoneses. demonstrando a eles não apenas a fibra do soldado inglês como também sua capacidade de vencer desafios nos momentos mais conturbados. Em suas próprias palavras ele quer humilhar os japoneses construindo uma ponte firme e forte que dure gerações. Isso acaba deixando seus colegas oficiais meio que surpresos, já que construir uma ponte tecnicamente perfeita seria também ajudar, mesmo que de forma indireta, o inimigo! O clímax, a cena final, explora excepcionalmente bem essa dualidade pois o Coronel de Guiness fica dividido em cumprir as ordens de destruir a ponte ou ao contrário disso preservar aquela obra que para ele se torna motivo de orgulho pessoal. Como se pode perceber Lean nunca era óbvio com seus personagens, procurando sempre extrair uma personalidade complexa de cada um deles. Coisa de gênio da sétima arte realmente. "The Bridge on the River Kwai" é mais uma prova de seu talento e legado inigualáveis.

A Ponte do Rio Kwai (The Bridge on the River Kwai, Estados Unidos, Inglaterra, 1957) Direção: David Lean / Roteiro: Carl Foreman, baseado no livro de Pierre Boulle / Elenco: William Holden, Alec Guinness, Sessue Hayakawa, Jack Hawkins / Sinopse: Um grupo de prisioneiros ingleses durante a II Guerra Mundial é levado pelos japoneses até uma floresta da Birmânia com o objetivo de construir uma ponte que será usada pelas tropas imperiais. Logo começa a haver um choque de personalidades entre o Coronel Inglês Nicholson (Guiness) e o Coronel japonês, o disciplinador Saito (Hayakawa). Filme vencedor do Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Ator (Alec Guinness), Melhor Direção (David Lean), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia (Jack Hildyard), Melhor Edição (Peter Taylor) e Melhor Música (Malcolm Arnold). Indicado ao Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Sessue Hayakawa). Também vencedor do Globo de Ouro nas categorias de Melhor Fiime - Drama, Melhor Ator (Alec Guinness) e Melhor Direção (David Lean).

Pablo Aluísio. 

Balas ou Votos

Título no Brasil: Balas ou Votos
Título Original: Bullets or Ballots
Ano de Produção: 1936
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Brothers
Direção: William Keighley
Roteiro: Seton I. Miller, Martin Mooney
Elenco: Edward G. Robinson, Humphrey Bogart, Joan Blondell, Barton MacLane, Frank McHugh, Joe King

Sinopse:
Após a nomeação do novo comissário de polícia de Nova Iorque, o ex-detetive Johnny Blake (Edward G. Robinson) afirma ter provas que ele no passado foi corrompido pelo gângster 'Bugs' Fenner (Humphrey Bogart), causando tensão e violência pelas ruas da cidade.

Comentários:
Um filme de gângster dos anos 30 com Edward G. Robinson e Humphrey Bogart já é motivo suficiente para qualquer cinéfilo se interessar. Afinal os dois atores foram os mais expressivos astros desse subgênero policial cinematográfico. Some-se a isso o fato de que o criminoso (da vida real) Bugsy Siegel ter ficado muito incomodado com o personagem de Bogart chamado 'Bugs' Fenner e você terá o cardápio completo. Na verdade o gângster retratado nas telas era mesmo uma provocação, uma paródia de Bugsy, naquele período organizando a jogatina do que seria Las Vegas nos anos seguintes. Membro da máfia, ele era conhecido por subornar autoridades públicas, principalmente policiais. Por isso era no mínimo constrangedor ter um filme o retratando fazendo nas telas o que fazia em sua vida de crimes. Boatos na época diziam que ele iria explodir os cinemas onde estava sendo exibido o filme, mas provavelmente recuou por causa das reações indignadas do público. Já Bogart diria anos depois que depois que o filme chegou nos cinemas ele passou a ser mais cuidadoso em sua vida pessoal. Afinal aquela era a era em que os gângsters reinavam e um passo em falso poderia significar a morte certa.

Pablo Aluísio.