sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Museu de Cera

"Museu de Cera" é um clássico do terror. Na trama temos Henry Jarrod (Vincent Price), um artesão talentoso, que transforma bonecos de cera em retratos quase perfeitos de personagens históricos. Maria Antonieta, Joana d'Arc e Abraham Lincoln são algumas da figuras históricas que ele esculpiu em cera para serem exibidas em seu próprio museu. Seu sócio porém tem outros planos. Ele está de olho no dinheiro do seguro. Por essa razão resolve promover um grande incêndio, algo que deixa Jarrod severamente ferido e deformado pelas chamas. Agora, recuperado, ele parte para sua vingança pessoal contra todos que fizeram esse atentado contra sua arte e sua vida. Esse filme é um dos clássicos de terror mais lembrados da carreira de Vincent Price. O enredo gira em torno desse artista muito diferente, um mestre em criar figuras de cera com extrema fidelidade, a tal ponto de levar a todos a pensarem se estão mesmo na presença de uma peça de cera ou de um ser humano real. Após entrar em atrito com seu desonesto sócio, um sujeito que só pensa em queimar todo o museu de cera para receber o seguro, Henry Jarrod (Vincent Price) vê suas pretensões de ser um grande artista queimarem em um inferno em chamas. Deformado pelo fogo e transformado em um ser de aparência repugnante (o que contrasta enormemente com a beleza de sua arte) ele ainda não se sente pronto a abandonar suas ambições artísticas.

Após se vingar daqueles que o destruíram ele resolve voltar. Como é um artesão em recriar rostos e formas humanas cria uma máscara para esconder as deformidades de sua própria face, arranja um novo sócio e abre um novo museu de cera, só que essa vez bem diferente, com uma seção especializada em horrores que refaz todas as cenas dos maiores crimes da história. O que é desconhecido do público é que Henry Jarrod perdeu sua capacidade de criar figuras em cera após ter suas mãos queimadas no incêndio. Assim ele decide usar outra técnica para produzir suas novas "obras de arte" - isso mesmo, corpos humanos de verdade! Essa produção foi alvo de um remake há poucos anos, mas aquele roteiro tinha pouco a ver com essa produção original. Aqui o foco é todo voltado para as ambições de um artista que só pretendia refazer o belo em cera, mas que pelas circunstâncias de sua vida trágica teve que abraçar o grotesco e o horror!

Vincent Price usa uma bem feita máscara, que dá ao seu personagem uma face monstruosa. O ator usa de seu charme e elegância naturais para interpretar o gentil artista que no fundo esconde um terrível segredo. Charles Bronson também está no elenco interpretando Igor, o assistente mudo e com problemas mentais de Jarrod. Completando o elenco ainda temos Carolyn Jones, que se imortalizou como a Morticia Frump Addams da série de grande sucesso na TV americana, "A Família Addams". Tecnicamente o filme é muito bem realizado, com cenários bem construídos. Também foi um dos primeiros filmes da história a usar uma rudimentar tecnologia 3D. Você vai perceber bem isso em algumas cenas que parecem gratuitas, como a do animador com bolinhas de pingue-pongue que as fica atirando propositalmente em direção à tela. A única coisa que não me agradou muito do ponto de vista técnico nesse "House of Wax" foi sua trilha sonora incidental. Com uma linha de flauta irritante em sua melodia ela acabou atrapalhando um pouco justamente nos momentos mais tensos da estória. Mesmo assim, não é algo com se preocupar, pois não chega a ser um problema. No fundo é apenas fruto de uma época. Enfim, de maneira em geral é um terror muito bom, com aquele charme nostálgico que só melhorou com os anos. Não é de se admirar que seja um filme tão cultuado pelos fãs de terror até os dias de hoje!

Museu de Cera (House of Wax, Estados Unidos, 1953) Estúdio: Warner Bros / Direção: André De Toth / Roteiro: Crane Wilbur, Charles Belden / Elenco: Vincent Price, Carolyn Jones, Charles Bronson, Phyllis Kirk / Sinopse:  Talentoso artista, especializado em fazer bonecos de cera de pessoas famosas da história, acaba ficando deformado por causa de um incêndio causado por seu sócio. Ao sobreviver as chamas decide então promover sua vingança contra todos aqueles que lhe fizeram mal no passado.

Pablo Aluísio.

O Pior Calhambeque do Mundo

Título no Brasil: O Pior Calhambeque do Mundo
Título Original: The Wackiest Ship in the Army
Ano de Produção: 1960
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Richard Murphy
Roteiro: Richard Murphy, Herb Margolis
Elenco: Jack Lemmon, Ricky Nelson, John Lund, Chips Rafferty, Tom Tully, Warren Berlinger

Sinopse:
Durante a II Guerra Mundial a Marinha dos Estados Unidos decide colocar de volta à ativa um velho submarino que já estava indo para a sucata. Sua missão passa a ser executar um plano secreto em pleno mar territorial do Japão.

Comentários:
O filme, devo confessar, é menos engraçado do que deveria ser (ou pelo menos do que me lembrava!). O que é curioso pois me lembro de tê-lo assistido uma vez na Sessão da Tarde durante os anos 70 e minhas lembranças eram de um filme bem mais divertido do que me pareceu nessa nova revisão. Provavelmente seja mais engraçado mesmo para um adolescente do que para uma pessoa mais velha. Agora, se tem algo que continua bem válido, é a carismática presença do ator Jack Lemmon. Esse tinha o tom da simpatia, do bom humor. Ele compensa qualquer falha maior do roteiro apenas com sua presença em cena. E para quem gosta do pop / rock mais inocente dos anos 50 e 60 o filme ainda tem a presença do cantor e ídolo adolescente da época Ricky Nelson. Com Elvis Presley longe, servindo o exército americano na Alemanha, ele chegou a disputar popularidade entre os mais jovens com o próprio Rei do Rock, quem diria... No mais o filme vale por algumas piadas e as boas cenas realizadas em alto mar, só que aqui com submarinos clássicos da II Guerra Mundial, fazendo papel de velhas banheiras do oceano. Os admiradores de história militar certamente não ficarão muito contentes com isso.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A Noite do Iguana

Mais um excelente filme assinado pelo mestre John Huston. O projeto foi inicialmente desenvolvido para ser estrelado por Marlon Brando, mas esse desistiu de assumir o personagem do reverendo perturbado por estar envolvido em muitos problemas pessoais na época. Uma pena pois o filme parecia muito adequado a ele já que o roteiro era baseado em mais uma peça do genial Tennessee Williams. Como se sabe esse grande autor da dramaturgia americana gostava de colocar todos os seus personagens em situações quase banais, mas que seduzia o espectador basicamente pela grande força de seus diálogos inteligentes e instigantes, discutindo as grandes questões universais. A fórmula havia dado tão certo em outros grandes textos de Williams e voltava a funcionar maravilhosamente bem aqui, tudo abrilhantado pelas ótimas atuações de Richard Burton (em grande forma profissional) e Ava Gardner (praticamente uma força da natureza). Dois grandes astros do cinema americano, bem populares, que a despeito da fama aceitaram interpretar esses personagens um tanto marginais no meu ponto de vista. Não era algo fácil de se fazer, ainda mais partindo de atores que tinham que manter uma certa imagem limpa para a sociedade. Atravessar a linha oposta poderia significar muito em termos de bilheteria. Eles porém foram em frente.

A trama se passa em uma pousada decadente localizada em um distante vilarejo. É lá que vai parar o Reverendo Shannon (Richard Burton). Em crise de fé, ele acaba tendo que lidar com as três fortes mulheres que convivem no local. A primeira é Maxine (Ava Gardner). Independente, liberada sexualmente, não consegue transpor esse espírito livre para sua personalidade emocional que muitas vezes se revela sem força. Sue Lyon (a atriz que ficou famosa internacionalmente em “Lolita”) interpreta Charlotte Goodall, uma jovem sexualmente atraente que não se importa muito com as consequências de suas atitudes irresponsáveis. Por fim há Hannah Jelkes (Deborah Kerr), uma artista que deseja viver de sua arte, misturando geralmente sua obra com sua própria vida pessoal. “A Noite do Iguana” não nega sua origem teatral em nenhum momento. A força do filme vem justamente dos diálogos que vão dissecando as pequenas e grandes hipocrisias da sociedade como um todo. Um filme belamente bem escrito que merece ser redescoberto pelos amantes da sétima arte.

A Noite do Iguana (The Night of the Iguana, Estados Unidos, 1964) Direção: John Huston / Roteiro: Anthony Veiller, baseado na peça escrita por Tennessee Williams / Elenco: Richard Burton, Ava Gardner, Deborah Kerr, Sue Lyon, Grayson Hall / Sinopse: Em uma pousada decadente de um balneário isolado quatro personagens se enfrentam entre si, discutindo sobre as pequenas e grandes questões da existência humana. Filme vencedor do Oscar na categoria de Melhor Figurino. Também indicado nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Atriz Coadjuvante (Grayson Hall).

Pablo Aluísio.

Nas Garras do Ódio

Título no Brasil: Nas Garras do Ódio
Título Original: The Nanny
Ano de Produção: 1965
País: Inglaterra
Estúdio: Hammer Films
Direção: Seth Holt
Roteiro: Jimmy Sangster
Elenco: Bette Davis, Wendy Craig, Jill Bennett, James Villiers, William Dix, Pamela Franklin

Sinopse:
Baseado na novela de suspense escrita por Marryam Modell, o filme conta a história de antipatia que um garotinho nutre pela mulher que foi babá de sua mãe e que continuou a morar com a família, mesmo após muitos anos. O menino é problemático e acusa a babá de ter matado sua irmã.

Comentários:
Um combinação interessante. A Hammer Films, produtora especializada em filmes de terror como Drácula, etc, contratou a atriz  Bette Davis nos anos 1960 para atuar nessa produção de suspense. O roteiro mostra uma família bem disfuncional. A mãe sofre de depressão e não consegue lidar com os problemas do dia a dia. O marido é um sujeito distante que não aguenta passar muito tempo naquela casa e o filho, bem, o filho é o mais problemático de todos. Rebelde, mimado, ofensivo, ele odeia a babá da sua mãe (interpretada por Davis) que continuou morando com ela, mesmo já adulta e casada. O menino afirma que ela matou sua irmã em circunstâncias mal esclarecidas. Assim o roteiro deixa tudo no ar: o garoto seria apenas um moleque mal criado, mentiroso e infernal ou estaria mesmo dizendo a verdade? Bette Davis, já na velhice, como sempre, tem muita dignidade em cena. Com uma maquiagem que lhe deu grossas sobrancelhas ela parece sempre calma, paciente e gentil, mas essa seria sua personalidade verdadeira ou apenas uma máscara para esconder os mais inconfessáveis desejos de cometer crimes? Assista ao filme para descobrir.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A Última Sessão de Cinema

O tema desse filme é a desilusão. Basta conhecer a história que o filme conta para entender a nuance desse roteiro. Entre a 2ª Guerra Mundial e a Guerra da Coreia, dois jovens que vivem em Anarene, uma pequena cidade no Texas, precisam enfrentar os desafios da vida adulta. Eles se parecem fisicamente, mas mentalmente e emocionalmente, vivem em diferentes planos, sendo que enquanto Duane (Jeff Bridges) é agressivo, Sonny (Timothy Bottoms) é bem mais sensível. Boa parte do tempo deles é passado no pequeno cinema da cidade e no salão de sinuca. Enquanto Duane tenta se firmar frequentando festas de embalo, Sonny é iniciado no sexo por Ruth Popper, a frustrada esposa do seu treinador. Porém, independente do que aconteça, a cidade está morrendo silenciosamente e lentamente enquanto a vida deles tomam rumos inesperados.

O roteiro do filme sempre foi bastante elogiado por ter inovado em sua narrativa, que é mais baseada em episódios esporádicos do que numa linha de narração mais tradicional. Os jovens do filme aos poucos vão entendendo que fazem parte de um círculo sem fim, que se repete de geração em geração. O clima de melancolia está em todas as cenas, trazendo uma sensação de tédio e desespero ao espectador. É uma produção que revista hoje em dia soa bem desconfortável, seca, sem qualquer tipo de facilitação para aquele que se atreve a ver a obra.

Até hoje é considerada a obra prima do diretor Peter Bogdanovich - e com toda a razão. É em essência um filme fundamentado em ótimas atuações e diálogos precisos. Nâo é para menos que seus dois Oscars foram pelo trabalho do elenco. Ben Johnson venceu o prêmio de melhor ator coadjuvante e Cloris Leachman de melhor atriz coadjuvante. Além deles, brilha também a intensidade da atuação de Jeff Bridges, ainda bem jovem, mas já demonstrando que tinha muito talento e, é claro, Cybill Shepherd, que está linda, também muito jovem e carismática. Curiosamente ela só se tornaria uma verdadeira estrela com a série "A Gata e o Rato" na TV americana durante os anos 80. Enfim, um verdadeiro clássico cult, muito rico em desenvolver as nuances e complexidades psicológicas de seus personagens. Para ver e entender melhor os rumos do cinema independente americano durante os anos 1970.

A Última Sessão de Cinema (The Last Picture Show, Estados Unidos, 1971) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Peter Bogdanovich / Roteiro: Larry McMurtry, Peter Bogdanovich / Elenco: Timothy Bottoms, Jeff Bridges, Cybill Shepherd, Ben Johnson, Ellen Burstin, Cloris Leachman / Sinopse: O filme conta a história de jovens em uma pequena cidade decadente do interior do Texas. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor ator coadjuvante (Ben Johnson) e melhor atriz coadjuvante (Cloris Leachman).

Pablo Aluísio. 

O Profundo Mar Azul

Título no Brasil: O Profundo Mar Azul
Título Original: The Deep Blue Sea
Ano de Produção: 1955
País: Inglaterra
Estúdio: London Film Productions
Direção: Anatole Litvak
Roteiro: Terence Rattigan
Elenco: Vivien Leigh, Kenneth More, Eric Portman, Emlyn Williams, Moira Lister, Arthur Hill

Sinopse:
O filme "O Profundo Mar Azul" nos mostra a história de Hester Collyer (Vivien Leigh), uma mulher reprimida que embora tente seguir os padrões sociais vigentes em relação ao casamento, acaba sucumbindo aos seus desejos mais inconfessáveis. Ao trair seu marido, acaba sendo acusada de adultério, caindo em uma espécie de marasmo social onde acaba sofrendo todos os tipos de preconceitos possíveis e imagináveis.

Comentários:
Mais um excelente drama da carreira de Vivien Leigh que infelizmente ainda se mostra um tanto desconhecido do grande público nos dias atuais. Baseado na peça teatral de Terence Rattigan (que assina o roteiro), o projeto nasceu justamente quando a própria Leigh assistiu a peça original em Londres em 1953. Ela imediatamente entrou em contato com o autor e comprou os direitos da obra para ser levada ao cinema. A atriz, muito sensível e corajosa, queria enfocar a situação das mulheres que sofriam preconceitos dentro da sociedade inglesa após se divorciarem de seus maridos. O peso se tornava ainda mais insuportável quando elas eram, sob o ponto de vista da sociedade, as culpadas pelo fim do casamento. O interessante é que o roteiro, extremamente bem escrito, tenta demonstrar que na realidade não existem culpados nesse tipo de problema conjugal, pois se a mulher realmente procura os braços de um outro homem isso significa apenas que o casamento como laço de amor e paixão já estava destruído. Ótimos diálogos e atuação sensível de Vivien Leigh deixam ainda mais interessante a produção. Um tema que ainda continua atual, mesmo tantas décadas depois de seu lançamento original. Um clássico dramático imperdível. Filme indicado ao BAFTA Awards nas categorias de melhor roteiro e melhor ator (Kenneth More).

Pablo Aluísio.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Anna Karenina

Clássico do cinema estrelado pela atriz Vivien Leigh. A história é baseada na literatura russa, no famoso livro escrito por Liev Tolstói. No enredo Stefan e Dolly Oblonsky aparentemente formam um casal feliz, mas por baixo dessa fachada as brigas são constantes. Para contornar a situação conjugal complicada Stefan entra em contato com Anna Karenina (Leigh), sua irmã, para ir até Moscou. Na viagem entre São Petersburgo e Moscou, Karenina acaba conhecendo outro casal, a condessa e o conde Vronsky. O que começa como uma simples amizade no trem em que viajam, acaba virando algo mais entre Karenina e o coronel e conde russo. Gostei dessa adaptação cinematográfica do best-seller. É uma produção inglesa que teve grande repercussão em seu lançamento por causa da bela presença da atriz Vivien Leigh, na época ainda colhendo os frutos de seu grande filme, "E o Vento Levou". A atriz surge em cena com os cabelos levemente cacheados, bem escurecidos, em figurino e joias de luxo, além de seu habitual carisma e talento. A direção parece perdidamente apaixonada por ela, pois o filme tem longos planos focando apenas seu rosto em close, usando belamente a fotografia em preto e branco para contrastar seu belo rosto iluminado com um fundo escuro e misterioso. O único brilho que surge no meio da escuridão é a de seu colar de diamantes e pedras preciosas. Um belo efeito que dá um toque muito sensual e glamoroso ao filme em si.

O enredo é clássico, mas há uma tentativa de transformar o perigoso caso de amor em uma ode ao sentimento proibido, seja pelas convenções sociais, seja pelos valores morais e religiosos. No final as mais românticas vão ficar devidamente satisfeitas pois o filme tem drama, romance e também cenas de bailes, com roupas da época e muito luxo. Tudo embalado em muito romantismo à moda antiga. Para o público masculino a sessão também valerá a pena, pois chegará à conclusão de que a Vivien Leigh era realmente uma graça, como atriz e como personalidade.

Anna Karenina (Anna Karenina, Inglaterra, 1948) Estúdio: London Film Productions / Direção: Julien Duvivier / Roteiro: Jean Anouilh, Guy Morgan, baseados na obra de Leo Tolstoy / Elenco: Vivien Leigh, Ralph Richardson, Kieron Moore / Sinopse: Adaptação do famoso livro da literatura russa que recria a era da sociedade daquele país nos tempos da dinastia Romanov.

Pablo Aluísio.


Capricho

Mais um momento menor da filmografia da atriz Doris Day, aqui em uma fase mais avançada em sua carreira, já caminhando para o final da década de 1960 que de certa forma iria marcar também o fim de sua fase de maior popularidade na indústria do cinema americano. O seu estilo não iria sobreviver ao chamado verão do amor, quando o movimento hippie tomou conta da cultura e da contracultura dos Estados Unidos. Dentro desse contexto pouca coisa era mais fora de moda e ultrapassada do que as personagens que Doris Day interpretava nas telas. Para os jovens da época ela aparecia apenas como uma estrela dos tempos de seus pais, tempos mais inocentes. A história era bem na linha de seus filmes do passado. Patricia Foster (Doris Day) é a executiva de uma indústria de cosméticos francesa sediada em Paris que é enviada até os Estados Unidos para espionar o que os concorrentes estão inventando para o mercado mundial. Lá acaba tendo que lidar com um gerente metido a galã que deseja conquistá-la, para por sua vez, também roubar os segredos da antiga empresa em que Foster trabalhou.

De certa maneira eu esperava muito mais dessa comédia dos anos 60. O filme foi dirigido pelo ótimo Frank Tashlin, que realizou os melhores filmes de Jerry Lewis, também era protagonizado pela estrela Doris Day. Para completar tinha um roteiro esperto, que transformava a personagem de Doris em uma espiã industrial dentro de uma grande empresa americana de cosméticos. Tudo parecia se encaixar bem mas... infelizmente o filme é bem fraco, com medo de ousar, ir além! Essa foi uma das últimas aparições de Doris Day no cinema - mais dois filmes e ela encerraria sua carreira de uma vez por todas. Doris que estava tão brilhante em tantos filmes ao lado de Rock Hudson aqui está visivelmente no controle remoto.

O conhecido talento para comédias não se repetiu. Doris Day parece aborrecida com o roteiro que tem em mãos. Ela surge assim declamando seu texto sem nenhum empenho ou motivação. Parece até mesmo entediada em cena. Nunca tinha visto ela tão mal em um filme como aqui! Para resumir seu trabalho é muito abaixo da média e Doris afunda o filme. Para piorar tentaram transformar Richard Harris numa espécie de "Rock Hudson inglês", ou seja, o mesmo personagem de Rock nos filmes ao lado de Doris, a do Playboy que é um verdadeiro conquistador barato que sai dando em cima de todas as garotas que conhece. Isso também não deu certo. No final tudo o que sobra para o espectador é uma grande decepção cinematográfica.

Capricho (Caprice, Estados Unidos, 1967) Estúdio: Twentieth Century Fox / Direção: Frank Tashlin / Roteiro: Jay Jayson, Frank Tashlin / Elenco: Doris Day, Richard Harris, Ray Walston, Jack Kruschen, Edward Mulhare / Sinopse: O filme mostra os bastidores da indústria de cosméticos, onde Patricia Foster (Doris Day) acaba se tornando espiã de importantes segredos industriais.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

À Sombra de um Gigante

Clássico do cinema americano, filme produzido e lançado na década de 1960. Qual é a história do filme? Após o fim da segunda grande guerra mundial, o coronel David 'Mickey' Marcus (Kirk Douglas) volta para a vida civil. Advogado de formação, ele retorna para seu escritório em Nova Iorque, mas é logo procurado por um grupo de judeus que pedem por sua ajuda. Há uma nova nação e um novo exército. É preciso mais do que nunca alguém que tenha experiência de guerra na liderança das forças armadas de Israel. O país criado em cima do território da Palestina é cercado por inimigos por todos os lados e Marcus é chamado para organizar um exército com os jovens idealistas que estavam dispostos a lutar por Israel. Detalhe: eles não não tinham  qualquer tipo de experiência nesse campo ou treinamento militar. Esse filme conta uma história importante na formação do Estado de Israel, quando surgiu a necessidade de criar e estruturar as forças armadas daquela jovem nação. 

Como não havia experiência militar entre os jovens que se mudaram para aquela região após a criação do país, foi necessário a contratação de militares experientes para coordenar e desenvolver todos esses preparativos. O personagem interpretado por Kirk Douglas é justamente um desses homens que vão para Israel para dar os primeiros movimentos na criação de uma força militar poderosa naquela região. Todos os eventos que vemos no filme são inspirados em fatos históricos reais. Depois do que aconteceu na II Guerra, dos tristes e lamentáveis eventos do holocausto, o povo judeu, como era de esperar, precisava agora se armar e se tornar uma potência militar para proteger todos os membros de sua nação. E os militares americanos tiveram um papel importante nessa reestruturação, contribuindo com seus conhecimentos e experiência no campo de batalha. Os resultados foram excelentes, a tal ponto que em poucos anos Israel se tornou a maior potência militar do Oriente Médio. Inclusive seu teste de fogo não iria demorar muito. Em pouco tempo o país entraria em guerra com o Egito e se sairia vencedor desse conflito.

O diretor Melville Shavelson fez um bom trabalho para a United Artists. Por causa do tema a produção contou com a boa vontade de um excelente grupo de atores de Hollywood. Há três astros no filme, todos campeões de bilheteria na época. Além de Kirk Douglas, o elenco ainda trazia o grande John Wayne em um papel coadjuvante e o cantor Frank Sinatra, em um papel ainda menor. E aqui temos aquele velho problema que sempre surgia em filmes com grandes elencos. Não havia espaço para todos. Sempre alguém era desperdiçado em cena. Foi justamente o caso de John Wayne e Frank Sinatra. Seus personagens são até importantes na história, mas os atores não contaram com tempo suficiente para desenvolvê-los bem. De qualquer forma procure relevar esse aspecto. O filme já é importante apenas pelo tema histórico mostrado. Todo o resto são apenas pequenos detalhes cinematográficos.

À Sombra de um Gigante (Cast a Giant Shadow, Estados Unidos, 1966) Estúdio: United Artists / Direção: Melville Shavelson / Roteiro: Melville Shavelson, baseado na obra de Ted Berkman / Elenco: Kirk Douglas, John Wayne, Yul Brynner, Frank Sinatra, Angie Dickinson, Senta Berger / Sinopse: O filme conta a história de um veterano militar americano que é contratado pelo Estado de Israel para ajudar na criação das forças armadas daquele país, em um momento histórico em que Israel estava se formando politicamente.

Pablo Aluísio.

A Patrulha da Esperança

Clássico filme de guerra. Qual é a história? O coronel Pierre Raspeguy (Anthony Quinn) e seus homens ficam cercados por um grande exército de libertação nacional em Dien Bien Phu na Indochina. Depois da derrota, são feitos prisioneiros e após algum tempo são finalmente libertados quando a França desiste de sua intervenção militar no país. De volta à Paris tudo o que o coronel deseja é retornar para o campo de batalha e ele consegue seu objetivo ao ser designado para comandar uma tropa de elite a ser enviada para a Argélia, colônia francesa que luta por sua independência. Filme tecnicamente muito bem realizado, com ótimas sequências de batalha e ação, mas novamente um pouco confuso sob o aspecto político. O filme começa na Indochina, que naquele momento tentava se livrar do poderio e domínio do imperialismo francês. Os soldados liderados por Anthony Quinn estão encurralados e a única saída é a rendição aos inimigos. Depois de algum tempo presos, são finalmente libertados depois que a França se conscientiza que aquela guerra é uma perda inútil de homens, equipamentos e dinheiro. 

O curioso aqui é chamar a atenção para o fato de que após a retirada da França da Indochina, que passaria a se chamar Vietnã, iria se abrir um vácuo de poder na região, o que iria resultar na intervenção dos Estados Unidos. E isso, anos depois, iria dar origem também à Guerra do Vietnã. Um grande desastre militar para os americanos. Depois que voltam para a França, a tropa comandada pelo Coronel  Raspeguy (Anthony Quinn) é novamente enviadas para o front, só que dessa vez na Argélia, e lá começam a combater os argelinos que lutam pela independência de seu país! Pois é, o fato é que esse roteiro tem como protagonistas soldados que estavam sempre lutando pelo imperialismo de Paris contra povos que apenas tinham como objetivo sua libertação desse tipo de colonialismo anacrônico. Assim o roteiro derrapa nesse aspecto, pois tem um viés equivocado, trazendo a mesma visão que iria levar à guerra da Argélia e até mesmo à guerra do Vietnã, duas experiências que França e Estados Unidos jamais iriam esquecer por causa do tamanho do desastre que foi.

Porém, tirando esse aspecto político de lado, o espectador terá um filme de guerra bastante eficiente, com ótimas tomadas de combate como atrativo, em especial a cena final onde rebeldes argelinos e tropas francesas se enfrentam numa montanha com ruínas da época do império romano ao fundo. Nesses tempos o cinema não tinha recursos digitais para recriar esse tipo de combate em computadores e nada do tipo. Tudo era feito de forma real, com centenas de milhares de figurantes, explosões, veículos de guerra, etc. E filmar tudo em lugares desertos tornava a produção ainda mais complicada. Então é isso, "Lost Command" não tem uma visão política correta daquele período histórico, mas se salva pela grandeza de suas cenas de ação e guerra, o que hoje em dia é certamente o que mais irá atrair o fã de cinema clássico.

A Patrulha da Esperança (Lost Command,  Estados Unidos, 1966) Estúdio: Columbia Pictures / Direção: Mark Robson / Roteiro: Jean Lartéguy, Nelson Gidding / Elenco: Anthony Quinn, Alain Delon, George Segal / Sinopse: Militares franceses veteranos da guerra da Indochina são enviados novamente para o campo de batalha, no norte da África, onde forças rebeldes argelinas lutam pela independência de sua nação do imperialsmo francês.

Pablo Aluísio.